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AULA 6 BASES EPISTEMOLÓGICAS, TEÓRICAS E EMPÍRICAS DA PSICOTERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL Profª Andréia Cristina dos Santos Kleinhans 2 INTRODUÇÃO Finalização do tratamento e estudo de caso em terapia cognitiva Uma dúvida frequente dos terapeutas que realizam a supervisão clínica em terapia cognitiva diz respeito a como aplicar a teoria na prática clínica. Alguns questionamentos frequentes são: “como devo proceder na primeira sessão?”; “que material devo utilizar para coletar dados?”; e “devo explicar sobre o modelo cognitivo?”. Outras dúvidas incluem: “em que momento devo iniciar a conceitualização?”; “como desenvolver uma boa formulação de caso?”; e “como devo finalizar o tratamento e conduzir para o encerramento?”. Para essas dúvidas, os autores cognitivistas recomendam que o terapeuta mantenha seus estudos e supervisões clínicas para o adequado aperfeiçoamento da prática psicoterapêutica. Por outra via, aprender por meio de estudo de caso fornece ao clínico boas respostas para essas e outras dúvidas que surgem ao longo do processo terapêutico. Nas aulas anteriores abordamos os aspectos fundamentais da teoria que embasa a prática clínica no âmbito da terapia cognitiva. Para fortalecermos os conhecimentos, trabalharemos, nesta aula, dois exemplos de caso clínicos publicados em livros de autores cognitivistas, bem como artigos da base de dados da Revista Brasileira de Terapia Cognitiva (RBTC). O objetivo desta aula, portanto, é tentar responder aos questionamentos utilizando como ferramenta recortes de casos clínicos. TEMA 1 – TÉRMINO DA TERAPIA A terapia cognitiva apresenta, como já vimos, um delineamento breve. Isso significa que, tão logo o paciente apresente remissão dos sintomas e melhora de seus pontos resilientes e autoconfiança, o terapeuta irá trabalhar para o término do tratamento. J. Beck (1997) comenta que o terapeuta prepara o paciente para o término do tratamento desde a primeira sessão, dessa forma, o paciente tenderá a aceitar o término da terapia de maneira flexível. Sobre a dificuldade em encerrar o tratamento em terapia cognitiva, Dobson e K. Dobson (2010, p.145) comentam: [...] Na realidade clínica, os clientes frequentemente apresentam problemas complexos e crônicos que podem ser melhorados, mas não 3 eliminado em um curto período de tempo. Os terapeutas cognitivo- comportamentais, na prática clínica, relatam que atendem alguns clientes por muito tempo, ou têm encontros “intermitentes”, nos quais enfocam novas preocupações das vidas dos clientes. Esses clientes podem apresentar um problema que responde ao tratamento, e então retornar após alguns meses ou anos com uma preocupação parecida ou similar. Os terapeutas que atendem os clientes por períodos muitos longos sentem-se, às vezes, culpados e com sensação de inadequação, pois seus clientes não melhoram tão rapidamente quanto aqueles dos exemplos dos livros, ou porque retornam para buscar mais ajuda. Além disso, após ter feito grandes esforços para estabelecer a aliança terapêutica e uma boa relação colaborativa com seu cliente, você e ele podem relutar em dizer adeus ao tratamento. Na maioria dos ambientes clínicos, os terapeutas e seus clientes em geral consideram o encerramento da terapia um processo difícil. Com frequência os clientes têm sintomas ou problemas residuais e, em alguns casos, o término do tratamento é abrupto e pode não proporcionar a oportunidade de fazer o trabalho de prevenção de recaída que poderia ser ideal. De fato, o término do tratamento precisa ser considerado desde as primeiras sessões, como afirma J. Beck (1997), entretanto, há situações de rompimento de vínculo terapêutico ou ainda características da personalidade do paciente que o faz abandonar o processo terapêutico logo no início do tratamento. Para casos assim, o terapeuta irá utilizar estratégias que foram previstas no contrato terapêutico realizado no início do tratamento. Alguns exemplos são: ligar para o paciente, enviar mensagens via canais sociais ou respeitar o afastamento sem entrar em contato, é recomendado que a decisão esteja coerente com o que foi acordado. Se a interrupção unilateral acontece com frequência na prática clínica, em outra mão também pode ocorrer a dependência por parte do paciente ao processo terapêutico. Há casos, por exemplo, de condições mentais específicas em que o paciente poderá desenvolver um laço disfuncional com o terapeuta e, para que isso não ocorra, Dobson e K. Dobson (2010, p.145) listam algumas estratégias para identificar e lidar com a dependência: [...]1. Estimule os clientes a terem responsabilidade por seu próprio tratamento. As estratégias podem incluir se assegurar de que eles decidam sobre suas próprias tarefas de casa e criem seus próprios planos de prevenção de recaída. Certifique-se de que ele (e não outras pessoas que participem de sua vida) se responsabilizem pelo tratamento. Por exemplo, alguns adultos jovens dependem dos pais para marcar horário ou para levá-los às sessões. Elimine tais ações durante o tratamento, usando exposição gradual ou administração contingencial. 2. Muitos clientes atribuem sua mudança durante o tratamento a fatores externos, dando “crédito” aos esforços do terapeuta, às medicações ou a mudanças no ambiente. Faça com que os clientes reconheçam que seus próprios esforços os levam a mudança, incluindo a decisão de tomar medicamentos e de tolerar os efeitos colaterais, de ir a terapia, de fazer as tarefas de casa e de 4 envolver-se no difícil trabalho do tratamento, incluindo ideias ou estratégias em que ele pensaram independentemente. 3. Esteja ciente da tendência de alguns clientes de buscar a aprovação do terapeuta. Essa tendência é particularmente verdadeira para os clientes que carecem de eficácia própria ou que estejam inseguros sobre si próprios, ou ansiosos. Pode ser útil identificar essa tendência como um problema na formulação clínica do caso e trabalhar para sua redução. 4. Em geral, quanto mais dependentes os clientes tendem a ser, mais importante é tê-los no comando o tratamento. Esse controle pode incluir mais estruturação das sessões de terapia e o desenvolvimento de tarefas de casa e de planos para a recaída. Também pode incluir a aprendizagem de maneira de administrar a crise ou problemas que não implique contato com o terapeuta. Se os clientes administram crises sozinhos com sucesso, então sua confiança provavelmente aumente. 5. Utilize recursos adicionais a terapia cognitivo-comportamental individual. Os clientes dependem, de maneira ideal, de múltiplos recursos, incluindo aqueles que estejam relativamente separados do sistema de saúde mental. Esses recursos podem incluir aconselhamento vocacional ou serviços de emprego, serviços de lazer e de recreação, aconselhamento nutricional ou outras modalidades de tratamento, tais como tratamento em grupo ou terapia familiar. Por meio desse processo, os clientes aprendem como acessar recurso comunitários contínuos e a reduzir sua dependência da psicoterapia. 6. Leve os clientes gradualmente a “desapegarem-se” da terapia, reduzindo a frequência das sessões, assim como do modo como as sessões são conduzidas. Se os clientes ficam altamente ansiosos por não ter sessões regulares, estimule-os a ver esse fato como um experimento de independência, e planeje uma sessão de seguimento para revisar o experimento. O uso de ligações telefônicas rápidas ou de verificação de entrada de mensagens eletrônicas pode ajudar neste processo. Os clientes sentem-se com frequência, mais confortáveis com a redução da frequência das sessões se receberem informações do tipo “o que fazer se...?” Essas informações podem incluir uma linha telefônica para administração de crise, contatos de emergência ou planos de intervenção de crise. 7. Faça um acordo com o cliente sobre fazer uma pausa temporária no tratamento, com uma sessão e seguimentoplanejada para avaliar a resposta do cliente à falta de tratamento. Desaconselhe-o a assumir outra forma de tratamento se o objetivo da pausa for o de testar a independência do cliente. 8. Permita a discordância. Se você acha que é uma boa ideia terminar o tratamento e seu cliente, não, diga-lhe isso. Se você acredita que continuar o tratamento pode não só ser inútil, mas também prejudicial no que se refere à independência seja franco sobre essa preocupação e estimule seu cliente a fazer uma pausa na terapia. Em alguns casos, pode ser bom indicar seu cliente a outro tipo de serviço ou a um grupo de apoio comunitário. Uma vez identificada a dependência, algumas atividades podem ser propostas para a reflexão. J. Beck (1997) sugere que o paciente faça uma lista de vantagens e desvantagens em espaçar ou diminuir gradativamente as sessões, com o objetivo de o paciente sentir-se encorajado a seguir sem o tratamento. Uma dúvida frequente é sobre quando terminar a terapia. De acordo com Dobson e K. Dobson (2010), é aconselhável conversar sobre o tempo de tratamento quando se inicia o tratamento, assim, a formulação e a conceitualização serão programadas dentro desse prazo. Caso seja necessário 5 maior número de sessões, é importante conversar a respeito do prosseguimento e desenvolver um novo plano de tratamento a partir de então. Ainda segundo as autoras, é eficaz finalizar a terapia quando os objetivos foram atingidos e, sobretudo, “quando os fatores causativos subjacentes hipotéticos mudarem (por exemplo, crenças, esquemas ou situações precipitantes, tais como estresse familiar ou no trabalho)” (Dobson e K. Dobson, 2010, p.156). Há casos de interrupção brusca por parte do paciente, para tais situações as autoras recomendam que o terapeuta procure realizar a supervisão clínica ou, ainda, conversar com um colega para pensar em estratégias funcionais para lidar com essas condições. TEMA 2 – PREVENÇÃO DE RECAÍDA Uma vez que a dupla terapêutica concorda com o espaçamento das sessões, ou seja, sessões quinzenais seguidas de uma sessão por mês, depois uma sessão a cada dois meses, finalizando-se com uma sessão semestral ou anual, é recomendada uma conversa sobre a prevenção de recaída, que poderá ser realizada nas últimas sessões (duas ou três) antes do encerramento. Sobre a prevenção de recaída, as autoras Dobson e K. Dobson (2010, p.157) comentam que: [...] A prevenção de recaída é a fase final da maioria dos tratamentos cognitivos-comportamentais, embora implementá-la requeira a melhoria dos problemas ou sintomas do cliente. A prevenção de recaída inclui uma revisão do tratamento, a criação de um plano para o futuro e a discussão tanto sobre os sentimentos do cliente quanto do terapeuta sobre a finalização da terapia. [...] Em alguns casos, a prevenção da recaída é uma parte da terapia, em particular quando o problema clínico é crônico ou recorrente. Na maioria dos casos, contudo, a prevenção da recaída ocorre nas últimas duas ou três sessões. Os clientes que estiveram em tratamento por um longo período, devido a natureza crônica ou complexa de seus problemas, podem requerer mais ajuda durante essa fase. [...] O ideal é que ambas as partes finalizem a terapia com a sensação de fechamento do tratamento. Assim, mesmo que pareça paradoxal, próximo a conclusão do tratamento é útil prever reveses, o que estimula o realismo e a discussão sobre como administrar problemas futuros. Sempre que ocorrerem reveses na terapia, use-os como oportunidades para novos aprendizados. As autoras reforçam, ainda, sobre a necessidade de os pacientes compreenderem quais são os fatores precipitadores ou gatilhos para determinadas preocupações ou problemas, tão logo o paciente perceba, poderá, por si só, utilizar as estratégias aprendidas ao longo do tratamento. Para as 6 autoras, “uma estratégia é escrever uma lista pessoal de sinais de alarme ou sintomas e estratégias para enfrentá-los, baseada no trabalho terapêutico realizado. Essa lista pode ser mantida em locais em que eles possam recordar ou acessar, se necessário” Dobson e K. Dobson (2010, p. 158). J. Beck (1997, p. 281) trata da importância de trabalhar um possível retrocesso após o término das sessões: [...] o terapeuta prepara, no início, o paciente para retrocessos no tratamento. Quando se aproxima o término, o terapeuta encoraja o paciente a compor um cartão de enfrentamento especificando o que fazer se um retrocesso ocorre após a terapia ter terminado. Eles podem discutir tal cartão na sessão e o paciente pode escrever o cartão na sessão ou como tarefa de casa. É desejável que o paciente procure resolver suas dificuldades por conta própria antes de chamar o terapeuta. Ele pode de fato ser capaz de manejar os problemas ou o retrocesso por conta própria. Se ele é mal sucedido, pelo menos teve uma oportunidade de usar mais uma vez suas habilidades. Se ele de fato precisa de uma outra consulta, o terapeuta pode ajudar o paciente a descobrir o que atrapalhou o seu manejo independentemente do retrocesso ou do problema e eles podem planejar o que o paciente pode fazer de forma diferente no futuro. O terapeuta também poderá combinar sessões de encorajamento após o término do tratamento. Essas sessões são importantes para avaliar o quanto o paciente está utilizando as estratégias aprendidas para a resolução de seus problemas. J. Beck (1997, p. 284) fornece um guia com perguntas para o terapeuta com perguntas como: “quais problemas surgiram?”, “como você os administrou?” e “havia um modo melhor de lidar como eles?”. Outras perguntas importantes sugeridas pela autora são “quais crenças poderiam ser ativadas? Como você lidaria com os pensamentos automáticos/crenças? Como você fará a resolução de problemas?” (J. Beck, 1997, p. 284). Segundo a autora, é recomendado que o terapeuta auxilie o paciente a se perguntar como a aprendizagem da terapia cognitiva poderá auxiliá-lo nas dificuldades que surgirão, lembrando-se de que o paciente poderá entrar em contato com o terapeuta quando sentir que não está conseguindo manejar adequadamente as dificuldades ou, ainda, quando percebe distorções que possam prejudicá-lo. TEMA 3 – DESAFIOS DA CONDUÇÃO DA TERAPIA COGNITIVA Durante o processo terapêutico poderão surgir diversas dificuldades que são conhecidas como desafios clínicos. São listados três conjuntos de desafios que poderão prejudicar o andamento das sessões em terapia cognitiva, por 7 exemplo, dificuldades que se originam do próprio paciente; dificuldades relacionadas ao terapeuta; e outras relacionadas ao âmbito do processo terapêutico (Dobson & K. Dobson, 2010). As dificuldades poderão ser observadas na figura 1, da seguinte forma: Figura 1 – Dificuldades na condução da terapia cognitiva Fonte: Elaborado com base em Dobson e K. Dobson, 2010, p.162-183. Com relação às dificuldades do paciente a não adesão ao tratamento, considera-se um verdadeiro desafio clínico, pois há muitas razões para que ocorra a não adesão. Por exemplo, não comparecimento às sessões, atrasos, não realização das atividades propostas ou simplesmente não entender como a terapia cognitiva poderá auxiliar. Para todas as possibilidades da não adesão ao tratamento, os teóricos cognitivos são categóricos: “se você suspeitar de um padrão na não adesão dos clientes, adote uma posição de observador e tente não reagir negativamente ou personalizar o comportamento de um cliente como uma espécie de reação a você ou como um desafio” (Dobson & K. Dobson, 2010, p. 162). Dobson e K. Dobson (2010) descrevem também várias características de pacientes que poderão gerar dificuldades clínicas, e a passividade ou complacência do paciente é uma delas. Pacientes que não discutem, aceitam todas as orientações, não se atrasam e, principalmente, que tentam agradar excessivamente o terapeuta, são pacientesque podem apresentar dificuldades Dificuldades do paciente • Falta de adesão ao tratamento; • Passividade; • Exigência excessiva e agressividade; • Excesso de humor; • Estilos interpessoais difíceis; • Modelos competitivos para a mudança; • Paciente com comorbidades; • Paciente em crise e emergências. Dificuldades do terapeuta • Dificuldade de adesão ao modelo; • Síndrome do terapeuta impostor; • Stress e ansiedade do terapeuta; • Fadiga e esgotamento do terapeuta. Dificuldades na relação terapeutica • Transferência; • Contratransferência. 8 em lidar com suas responsabilidades diárias. Para os pacientes assim, o terapeuta poderá conversar sobre tais comportamentos e propor atividades para melhorar a autonomia. Por outro lado, pacientes muito exigentes se irritam com frequência a menor mudança por parte do terapeuta. Para pacientes assim, Dobson e K. Dobson (2010, p. 169) comentam: [...] Nesses casos, é importante construir uma aliança terapêutica sólida e considerar o momento do feedback (idealmente, logo depois do comportamento agressivo ou exigente, para minimizar as chances de ter de relembrar o que aconteceu ou para evitar distorções). Também é útil para os terapeutas estabelecer limites muito claros com os clientes exigentes. Por exemplo, a vontade que os novos terapeutas têm de agradar aos clientes pode levar a uma flexibilidade exagerada em relação às consultas ou aos contatos que ocorrem fora do horário da consulta. Em casos de excesso de humor dos pacientes, o terapeuta deverá ficar atento para possível padrão evitativo por meio dessa característica. Se isso ocorrer, tratar o assunto de forma direta e auxiliar o paciente a perceber esse comportamento em outras situações de vida poderá ser terapêutico. Já no caso de pacientes com estilos interpessoais difíceis, como pacientes dependentes ou não comunicativos ou, ainda, intrusivos ou negativos, as autoras listam algumas perguntas norteadoras: [...] Que predições você faz antes da sessão? Você tem vontade de atender o cliente ou espera, secretamente que ele cancele a sessão? Você fica feliz quando a sessão termina? Você se irrita com determinado cliente? Você se preocupa mais com alguns clientes que com outros? Trabalhe para desenvolver sua própria autoconsciência. (Dobson e K. Dobson, 2010, p. 170) Outra dificuldade citada pelas autoras ocorre em casos nos quais o paciente não acredita no modelo de terapia cognitiva. Nessas situações, o terapeuta poderá trabalhar na psicoeducação e nas crenças que o paciente possa ter que o impede de acreditar no modelo de forma integral. Além disso, há pacientes com diversas comorbidades que poderão apresentar maiores dificuldades na adesão ao tratamento. Pacientes com transtorno de personalidade ou ainda que estejam em crises por conta de transtornos complexos associados a fatores de manutenção podem pensar em suicídio e/ou cometê-los, para situações de crise, é importante o trabalho em equipe e com os familiares (Dobson e K. Dobson, 2010). 9 Outras dificuldades que geram desafios clínicos são relacionadas ao terapeuta e, por consequência, à relação terapêutica. O terapeuta poderá sentir- se sobrecarregado, ansioso, fadigado em muitas situações e sentir-se desmotivado, especialmente em casos nos quais trabalha de forma autônoma. Algumas recomendações para os terapeutas são: [...] Atender clientes com problemas variados e com nível de gravidade diferente. Monitorar o modo como você agenda seus clientes mais difíceis, de modo que eles não sejam atendidos em horários consecutivos ou ao final do dia, quando pode ser difícil ter acesso apoio ou ajuda especializada de colegas. Ser realista sobre os limites do que você consegue administrar. Aprender a ser assertivo com supervisores, estudantes, clientes ou outro que esteja propenso a fazer exigência em relação ao seu tempo e energia. Esteja ciente de seus próprios pensamentos distorcidos a respeito dos clientes, e ponha tais pensamentos em questão. Certifique-se de que você tenha uma variedade de atividades na sua semana de trabalho, incluindo um tempo para fazer serviço burocrático, leitura, consultar colegas e sair par almoçar. Participar de atividades educacionais regulares e contínuas, tais como supervisão de pares, oficina e conferências. Ser assertivo com seu supervisor ou gerente sobre sua carga de trabalho. Certificar-se de que você disponha e fazer uso de atividades de cuidado próprio, tais como exercícios regulares cuidado pessoal, hobbies, atividades sociais e férias. (Dobson e K. Dobson, 2010, p. 181) Outras dificuldades citadas são aquelas ligadas à relação terapêutica, como a transferência e a contratransferência, por exemplo. Na terapia cognitiva, a transferência é explicada da seguinte forma: [...] os fenômenos de transferência são vistos como uma reedição, na relação terapêutica, de elementos chave de relacionamentos prévios importantes (p. ex., pais, avós, professores, chefes, amigos). Mas na TCC, o foco não está nos componentes inconscientes da transferência ou nos mecanismos de defesa, mas sim, nas maneiras habituais de pensar e agir que soa repedidos no setting terapêutico. Por exemplo, se um homem tem uma crença nuclear profunda de que deve estar no controle e padrões de comportamento arraigados de controlar os outros, ele pode reproduzir essas mesmas cognições e comportamentos no relacionamento terapêutico. (Wright, Basco e Thase, 2008, p. 42) Outra situação que poderá influenciar no andamento adequado da terapia é o fenômeno da contratransferência, entendido como: [...] A contratransferência ocorre na TCC quando a relação com o paciente ativa no terapeuta pensamentos automáticos e esquemas, e essas cognições têm o potencial de influenciar o processo de terapia. Como os pensamentos automáticos e os esquemas podem operar fora de sua plena consciência, uma boa maneira de identificar possíveis reações, sensações físicas ou resposta comportamentais, que possam ser estimuladas por suas cognições. Os indicadores comuns de que pode estar ocorrendo contratransferência são: ficar com raiva, tenso ou frustrado com o paciente; sentir-se entediado no atendimento; 10 aliviado quando o paciente se atrasa ou cancela a sessão; repetidamente encontra dificuldades para trabalhar com um determinado tipo de doença, conjunto de sintomas ou dimensão de personalidade, ou começa a se sentir especialmente atraído ou inclinado por um determinado paciente. (Wright, Basco e Thase, 2008, p. 43) Para que tais fenômenos não interfiram no processo terapêutico, o terapeuta deverá conversar com um supervisor clínico ao mesmo tempo em que tenta conceitualizar suas dificuldades e desenvolver estratégias (como as citadas anteriormente) para entender suas cognições e trabalhar arduamente na busca do equilíbrio e fortalecimento da aliança terapêutica saudável e colaborativa. TEMA 4 – DEPRESSÃO: UM ESTUDO DE CASO Como vimos nas aulas anteriores, Beck e colaboradores desenvolveram e validaram um protocolo de tratamento para pessoas com o transtorno depressivo, com base em constatações empíricas e uma série de estudos científicos que comprovaram a eficácia do tratamento. Segundo Beck, Rush, Shaw e Emery (1997, p. 19), “o modelo cognitivo da depressão evoluiu de observações clínicas sistemáticas e de testes experimentais. Essa interação de uma abordagem clínica e experimental permitiu um desenvolvimento progressivo do modelo e da psicoterapia derivada dele”. Para os autores, a depressão apresenta o seguinte modelo cognitivo: tríade cognitiva; esquemas; erros cognitivos relacionados ao processamento da informação de forma distorcida. A tríade cognitiva da depressão que inclui a interpretação negativa que o indivíduo faz de seu mundo interno (como se vê), dos outros, e do futuro. Assim sendo, sobre os outros elementos do modelo, os autores descrevem:[...] O modelo cognitivo vê os demais sinais e sintomas da síndrome depressiva como consciências da ativação dos padrões cognitivos negativistas. Por exemplo, se o paciente erroneamente pensa que está sendo rejeitado, reagirá com o mesmo efeito negativo (por exemplo, tristeza, raiva) que ocorre diante da rejeição real. Se acredita erroneamente que é um pária social, sente-se solitário. Os sintomas motivacionais (por exemplo, paralisia da vontade, desejos de fuga e evitação etc.) podem ser explicados como consequências das cognições negativas. A paralisia da vontade resulta do pessimismo e do desamparo do paciente. Se ele antevê um resultado negativo, não irá comprometer-se com um objetivo ou tarefa. Os desejos suicidas podem ser compreendidos como uma expressão extrema do desejo de escapar daquilo que parece ser problemas insolúveis ou uma situação intolerável. A pessoa deprimida pode ver-se como uma carga sem valor 11 e consequentemente acreditar que todos, inclusive ela própria, se sentirão melhor quando estiver morta. A crescente dependência também é compreensível em termos cognitivos. Por perceber-se como inapto e desamparado e por superestimar as dificuldades de tarefas normais, ele espera sair-se mal em suas incumbências. Assim, o paciente tende a buscar ajuda e segurança nos outros, a que considera mais competentes e capazes. Finalmente, o modelo cognitivo também pode explicar os sintomas físicos da depressão. Apatia e baixa energia podem resultar da crença do paciente de estar condenado ao fracasso em todos os seus esforços. Uma visão negativista do futuro (um sentimento de inutilidade) pode levar a “inibições psicomotoras”. (Beck, Rush, Shaw e Emery,1997, p. 20) Os autores descrevem um ciclo vicioso em que o paciente com depressão cai com frequência, por exemplo, o paciente poderá apresentar crenças de desvalorização e isso faz com que se sinta inútil. Ao sentir-se dessa forma, encontra dificuldade em desempenhar as funções de seu dia a dia, o que reforça a ativação da crença e, consequentemente, piora os pensamentos da tríade cognitiva da depressão. A terapia cognitiva, por meio do relacionamento terapêutico bem estabelecido, auxilia na quebra desse círculo vicioso e permite ao paciente a retomada gradativa de suas atividades. Em muitas situações, o terapeuta é orientado a iniciar o treinamento pela mudança dos comportamentos problemáticos, assim, o paciente irá convencer-se aos poucos de que é capaz e poderá lidar com seus pensamentos autoderrotistas (Beck, Rush, Shaw e Emery, 1997). Para o objetivo desta aula, iremos utilizar o diagrama de conceitualização segundo o modelo proposto por J. Beck (1997), para o seguinte caso clínico de depressão: [...] Laís tem 25 anos, é estudante de administração, solteira e mora com os pais. Diz ter um bom relacionamento com a família, entretanto se incomoda com as pressões e comparações que os pais fazem em relação às características positivas do irmão de 22 anos. Relata ter sido uma criança calma, tímida e com dificuldade de se relacionar com os colegas. No Ensino Fundamental não teve dificuldades escolares. Reprovou no colégio no primeiro ano do Ensino Médio. A paciente diz que a primeira vez que apresentou sintomas depressivos foi aos dezoito anos, quando sua melhor amiga mudou de cidade. Nesta ocasião, não procurou tratamento. Refere sentir-se sozinha. Gostaria de ter mais amigos e um relacionamento afetivo mais estável e duradouro. Há um ano se sentiu triste, desanimada e culpada por ter sido reprovada no trabalho de conclusão de curso. Apresentou insônia, choro excessivo e diminuição do apetite, o que resultou em perda de 5 kg. A partir de então, Laís continuou sentindo-se triste, incapaz e com a sensação de que as coisas não estavam bem. No início do ano, foi aprovada como estagiária para trabalhar em uma empresa renomada. Sentiu-se insegura, angustiada e incapaz de assumir tal responsabilidade. Decidiu não começar o estágio por não se sentir preparada e por ter medo de que saibam que nem sequer foi aprovada no trabalho de conclusão de curso de Administração. Foi encaminhada 12 para terapia cognitivo-comportamental e permaneceu em tratamento medicamentoso. (Rodrigues e Horta, 2012, p. 239) Na primeira parte do diagrama de conceitualização, visto anteriormente, tentamos buscar dados para preencher corretamente sobre o diagnóstico do paciente. Nesse exercício, temos a informação de que se trata de um episódio de depressão maior. Na prática clínica, porém, nem sempre o paciente virá com o diagnóstico. Por isso, a coleta de dados do histórico de vida, assim como dos relatos verbais e os escores obtidos em escalas ou instrumentos padronizados poderão ser úteis. Outra questão é que, para o diagnóstico de transtorno de personalidade, é recomendado além dos relatos clínicos, a observação criteriosa e o uso de instrumentos, por exemplo, a escala de crenças de Beck citada por Leahy (2006). Além disso, em caso de hipótese diagnóstica para o transtorno de personalidade, o trabalho multiprofissional será eficaz e beneficiará o paciente. Seguindo pelas informações do diagrama, a paciente apresenta alguns dados relevantes da infância, como timidez e dificuldade de relacionamento com os colegas. Para compreendermos quais as crenças nucleares e intermediárias ativadas, tentamos buscar informações sobre os fatores precipitadores que ocasionaram mudanças ou alterações cognitivas importantes. Para a paciente descrita, um fator precipitador relatado foi a reprovação no trabalho de conclusão do curso. Esse evento estressante, por sua vez, provavelmente ativou as crenças de incapacidade. Outro evento citado foi a mudança da amiga que também pode ter ativado as crenças de desamparo. No recorte de relato clínico, podemos verificar que um fator predisponente citado é a timidez, ao longo dos atendimentos o terapeuta poderá coletar outros dados relevantes a partir do questionário de coleta de histórico. Os fatores predisponentes, como o próprio nome indica, são propensões ou vulnerabilidades que podem culminar em outras dificuldades ao longo da vida. Para fins clínicos, o terapeuta continua a conceitualização ao longo do processo terapêutico e concilia com as metas e a lista de dificuldades do paciente. Os fatores mantenedores apresentados no relato parecem estar ligados à comparação que os pais fazem com relação ao outro filho, embora, aqui, não tenhamos outros fatores mantenedores listados, é importante que o terapeuta levante junto ao paciente tais informações. 13 Sobre os fatores protetores, não há informações claras na vinheta, porém, como vimos anteriormente, é importante que o terapeuta atente para levantar quais são os pontos fortes e conceitualizar também esses pontos. Podemos concluir, dessa forma, que as possíveis (precisam ser testadas ao longo do tratamento) crenças nucleares são o desvalor e o desamparo. Já a crença intermediária tem a ver com afirmações como: “se eu desistir do estágio, então, não me sentirei fracassada” ou, ainda, “se eu aceitar o estágio, então, irão descobrir que reprovei no trabalho de conclusão de curso”. Para essa paciente o planejamento terapêutico poderá incluir: exercícios de ativação comportamental; treino de habilidades sociais; psicoeducação sobre os pensamentos-armadilhas que a levam a se esquivar das situações pelas quais se acha despreparada. TEMA 5 – TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO: UM ESTUDO DE CASO Segundo a quinta edição do DSM-5 (Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais) (APA, 2013), o transtorno obsessivo-compulsivo apresenta- se por meio de obsessões e/ou compulsões que prejudicam a vida do paciente. De acordo com o DSM- 5 (APA, 2013, p. 237), o TOC pode ser entendido assim: [...] As obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação,são experimentados como intrusivos e indesejados e que, na maioria dos indivíduos, causam acentuada ansiedade ou sofrimento.[...] Entre as obsessões comuns, estão pensar repetidas vezes sobre ter prejudicado os outros, sobre contaminações e duvidar sobre ter fechado a porta de casa. As compulsões são comportamentos repetitivos (p. ex., orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que o indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas. Cordioli (2008, p. 15) comenta que “a marca registrada do TOC são as repetições”. O autor explica em seu manual “Vencendo o transtorno obsessivo- compulsivo: manual de terapia cognitivo-comportamental para pacientes e terapeutas” sobre as obsessões e compulsões da seguinte forma: [...] Compulsões são comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos, executados em resposta a obsessões ou em virtude de regras que devem ser seguidas rigidamente. Os exemplos mais comuns são lavar as mãos repetidas vezes, fazer verificações, contar, repetir frases ou número, alinhar, guardar ou armazenar objetos sem utilidade, repetir perguntas etc. As compulsões aliviam momentaneamente a ansiedade que acompanha as obsessões, levando o indivíduo a executá-la toda vez que sua mente é invadida por uma obsessão. Por esse motivo, diz-se que as compulsões têm 14 uma relação funcional (de aliviar a aflição) com as obsessões. E, como são aparentemente bem-sucedidas nessa função o indivíduo é tentado a repeti-las todas as vezes que sua mente é invadida por uma obsessão. Dessa forma, a pessoa se torna prisioneira dos rituais como se fosse a única forma conhecida para aliviar os seus medos, lavando as mãos ou verificando as portas, por exemplo. (Cordioli, 2008, p. 14) Segundo o autor, os tratamentos mais eficazes para o TOC são a associação entre a terapia cognitiva e a terapia de exposição e prevenção de respostas (EPR), juntamente com a medicação psicotrópica para os casos moderados a graves (Cordioli, 2008). A conceitualização e o levantamento dos sintomas em paciente com diagnóstico de TOC inicia a partir do primeiro contato, ou seja, na primeira sessão. O seguinte relato clínico aborda um caso de TOC: [...] Sueli era filha de pais descritos por ela como sendo muito exigentes e pouco afetuosos. É a segunda de quatro filhos, o que veio imediatamente depois dela faleceu quando ela tinha dois anos. Segundo relato da cliente: “Meu irmãozinho morreu por minha causa. Minha avó sempre dizia que [segundo uma crendice popular], irmão mais velho não podia mamar do mesmo peito que o irmão mais novo, pois dessa forma, o mais novo poderia ficar fraquinho e morrer”. Até hoje, acredita que teve culpa na morte de seu irmão e que o bebê a “abandonou”. Sueli tem mais dois irmãos: Antônio, seu irmão mais velho, com quem tem pouco contato, e Fátima, sua irmã mais nova. [...] De acordo com seu relato, ela era criança “diferente das demais. Não gostava de brincar com as outras crianças e sempre foi mais reservada: “Ficava sempre sentada e muito comportada, para que minha mãe notasse que eu era uma boa filha, pois sempre quis ser uma filha perfeita”. Relata que desde cedo já apresentava sintomas de TOC e que chegava a passar horas ajeitando as anáguas de seus vestidos, de modo que todas as dobras ficassem simetricamente iguais. “Não brincava para não amarrotar o vestido que minha mãe me dava, era tão lindo!”. Costumava juntar papéis descartáveis para depois poder fazer roupas para sua boneca. Na escola, sofreu bullying. Era tratada como “diferente, estranha”. A cliente relatou que seus irmãos costumavam chamá-la de “jararaca” e, nessas ocasiões, Sueli se sentia uma pessoa má por se sentir agressiva em relação ao irmão mais velho, sobretudo por acreditar que ele “roubou” seu primeiro namorado. Sueli diz ter sofrido abuso sexual aos 11 anos. Segundo ela, seu primo, Carlos, quem Sueli julgava ser mais forte e maior que ela, sentou-se em suas pernas e ficou tentando acariciá-la. “Ele tentou me beijar à força e passou a mão na minha genitália”. A cliente diz ter sentido muito nojo e ódio, chegando a agredir fisicamente o primo. [...] Aos quinze anos teve seu primeiro namorado. Declarou que julgar um homem pelo seu tamanho e força foi a principal razão para ter aceitado namorar um rapaz mais novo que ela e bem mais fraco. Namorou por dois anos e depois terminou, pois descobriu que seu irmão havia tido um relacionamento homossexual com o seu ex-namorado. Aos dezessete anos, resolveu entrar para o convento. Sueli julgava ter vocação para ser freira e pretendia dedicar sua vida ao estudo da palavra de Deus. Após dois anos no convento, ao notar as outras freiras pareciam notar seus comportamentos “estranhos”, ficou com receio de ser expulsa por conta de seus sintomas de TOC e acabou fugindo. Naquela época, acredita ter entrado em depressão chegando a ter ideações suicidas. Tornou-se, porém, devota de Santa Terezinha e se apegou de amor a ela para conseguir superar esse momento difícil 15 de sua vida. Em virtude de ter saído do convento, Sueli voltou a morar com os pais. Assim, decidiu entrar para universidade, graduando-se em Enfermagem. Conseguiu se formar com muito esforço, não porque fosse burra, mas porque era muito humilhada pelos colegas de classe, e, por isso, costumava passar diversos períodos sem aparecer na faculdade. Sueli diz não ter feito amigos durante sua época de graduação pois a consideravam estranha, chamando-a de “doente”. [...] Sobre o trabalho, Sueli relatou não ter habilidades necessárias nem vocação para a enfermagem, a paciente, comumente, apresentava ideias obsessivas relacionadas à morte de seus pacientes. Nesse período, Sueli começou a ter obsessão pelo demônio: “Costumava ler tudo que encontrasse sobre o diabo. Certa vez, ele se intrometeu em meus pensamentos, para que um paciente muito debilitado morresse. Passados alguns dias, ele veio a óbito e eu tive a certeza de que o demônio se comunicava comigo em pensamentos”. Quando Sueli tinha cinquenta anos, seus pais faleceram; ela acabou morando sozinha, permanecendo assim até hoje. “Meus irmãos se casaram e tiveram filhos, fizeram suas vidas. Eu não quis isso. Eu fiquei ao lado dos meus pais até o fim e não me arrependo nem um pouco. [...] Com relação aos sintomas obsessivos e compulsivos, a cliente apresenta também um quadro de Transtorno de Controle do Impulso (TCI) de comprar compulsivo, chegando a fazer gastos de até R$2.000,00 (dois mil reais) em uma única compra, e colecionismo “mórbido”. Tende a colecionar papeis usados, lixo, fezes de seus três animais de estimação, qualquer objeto na cor azul, unhas cortadas, sua vesícula biliar, retirada em uma operação e qualquer coisa que “possa vir a precisar”. (Rangé e Leite, 2012, p. 341-345). Como pudemos perceber por esse relato de caso, a paciente apresenta diagnóstico de TOC e Transtorno de Controle do Impulso. A comorbidade é uma condição frequente em pacientes com TOC. Nesse caso, os profissionais (médico psiquiatra e terapeuta) poderão optar por intervenções que possam aliviar os sintomas que estejam trazendo prejuízo para a vida da paciente. De acordo com o relato, os dados relevantes para essa paciente eram: a morte do irmão, pais pouco afetuosos e exigentes, abuso sexual e bullying. À medida que a terapia avança, o terapeuta irá levantar os fatores predisponentes, bem como os fatores precipitadores, mantenedores e protetores. Os fatores predisponentes para essa paciente possivelmente estavam ligados à sua criação, pais exigentes, questões de histórico familiar não aparecem no relato, entretanto, o terapeuta irá buscar por meio de coleta dos dados de história de vida. Parece que um fator precipitador para essa paciente foi a morte do irmão, o bullying na escola e o abuso. Os fatores precipitadores podem acontecer em vários momentos de vidado paciente, esses foram os precipitadores relevantes, porém, no decorrer do processo terapêutico é necessário que o clínico continue questionando sobre “por que isso está acontecendo neste momento”. Os fatores mantenedores parecem estar ligados às relações com a família. A paciente 16 apresentava, no entanto, alguns fatores protetores, como a fé em Santa Terezinha, ter cursado um curso superior e ter trabalho. As crenças nucleares dessa paciente eram: “sou doente; sou inadequada; sou incapaz” (Rangé e Leite, 2012, p. 351). Já as crenças intermediárias são: “se eu não for perfeita, vão achar que sou frágil e incapaz; se eu evitar as pessoas, elas não vão me machucar; Se eu perder ou não guardar vou me sentir sozinha, abandonada” (Rangé e Leite, 2012, p. 351). Com a ativação de tais crenças, a paciente realizava estratégias compensatórias como evitar contatos interpessoais; colecionar objetos; apresentar descontrole com as compras e tentar ser perfeita como uma tentativa inconsciente de receber afeto. As metas terapêuticas para esse caso podem ser: psicoeducação sobre o modelo cognitivo; psicoeducação sobre os transtornos; exercícios para diminuir a ansiedade, como relaxamento e respiração; exposição aos sintomas do TOC e do impulso; e prevenção de respostas e rituais do TOC. Todo o planejamento é dividido com o paciente no processo do empirismo colaborativo. 17 REFERÊNCIAS AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders – DSM-5. 5th. ed. Washington: American Psychiatric Association, 2013. BECK, A.; RUSH, J. A.; SHAW, B. F. & EMENY, G. Terapia Cognitiva da Depressão. Porto Alegre: Artmed, 1997. BECK, J. S. Terapia Cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 1997. CORDIOLI, A. Vencendo o transtorno obsessivo-compulsivo: manual da terapia cognitivo comportamental para pacientes e terapeutas. São Paulo, Artmed, 2008. DOBSON, D. & DOBSON, K. S. A terapia cognitivo-comportamental baseada em evidências. Porto alegre: Artmed, 2010. GORENSTEIN, C.; WANG, Y. P. & HUNGERBÜHLER, I. Instrumentos de avaliação em saúde mental. Porto Alegre: Artmed, 2016. KNAPP, P. Princípios fundamentais da terapia cognitiva. In: P. Knapp. Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2004, pp. 19-41. RANGE, B. P & LEITE, P. L. Acumulando coisas pela vida. In: NEUFELD, C. B & COL. Protagonistas em terapias cognitivo-comportamentais: Histórias de vida e de psicoterapia. Porto Alegre: Sinopsys, 2012. SUDAK, D. M. Combinando a Terapia cognitivo-comportamental a medicamentos: uma abordagem baseada em evidência. Porto Alegre: Artmed, 2012. SUDAK, D. M. Terapia cognitivo-comportamental na prática. (Tradução de R. C. Costa). Porto Alegre: Artmed, 2008. WENZEL, A. Inovações em terapia cognitivo-comportamental: intervenções estratégicas para uma prática criativa. Porto Alegre: Artmed, 2018. WRIGHT; BASCO; THASE. Aprendendo a terapia cognitivo- comportamental: Guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2008.
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