Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL: da teoria à prática e-book TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL: da teoria à prática e-book Introdução ........................................................................... 3 Visão geral do desenvolvimento da Terapia Cognitivo-Comportamental ................................ 4 Status empírico: a Terapia Cognitivo-Comportamental é eficaz? .................................. 8 Um modelo cognitivo para além da psicopatologia .............. 9 A personalidade e os modos ................................................... 9 Processamento das informações ......................................... 11 Sistema de crenças ................................................................ 15 Do comportamento adaptativo aos transtornos mentais ..................................... 19 O superordenado .................................................................... 26 Conceitualização cognitiva .............................................. 28 Conceitualização cognitiva por Neufeld e Cavenage .......... 30 Diagrama de Conceitualização Cognitiva Baseado nos Pontos Fortes ................................. 32 Uma visão global do tratamento em TCC ......................... 33 Relação terapêutica na TCC ............................................. 37 Estratégias e técnicas ...................................................... 41 Novos direcionamentos no campo da TCC ............................................................ 44 Terapia Cognitiva Orientada para a Recuperação ............... 45 Terapia Cognitivo-Comportamental Baseada em Processos ........................................................ 46 Considerações finais ........................................................ 47 Sobre este e-book ............................................................. 47 Referências ..................................................................... 49 3 A Terapia Cognitiva (TC), frequentemente denominada de Terapia Cognitivo-Compor- tamental (TCC), foi desenvolvida por Aaron T. Beck nas décadas de 1960 e 1970 (J. S. Beck, 2022). Ela pode ser compreendida como uma “uma abordagem psicoterapêuti- ca ativa, focada no problema e sensível ao tempo, que se concentra na mudança cog- nitiva e de comportamento e aceitação” (Wenzel, 2021, p. xvi). Nos últimos 50 anos, a TCC tem sido considerada um dos mais importantes progressos no tratamento de diversas condições psicopatológicas fundamentado por um extenso e consistente agrupamento de evidências da sua eficácia (Hofmann, 2021). O e-book Terapia Cognitivo-Comportamental: da teoria à prática tem como objetivo geral ampliar a democratização dos conhecimentos provenientes do campo da TCC. O leitor terá acesso a temáticas e estudos empíricos relacionados, porém de modo não exaustivo. Além disso, será apresentado um sintético panorama histórico do de- senvolvimento da TCC, os dados da evidência da sua eficácia, o modelo cognitivo, a conceitualização cognitiva, a relação terapêutica, a estrutura da sessão, o plano de ação, as principais estratégias e técnicas utilizadas e, por fim, os progressos e inova- ções no campo da TCC. Após a finalização da leitura, espera-se que os leitores alcancem uma ampla e relevan- te compreensão da fundamentação teórica, da aplicação clínica e do campo empírico de uma das abordagens terapêuticas que mais se desenvolve e possui relevância no campo das psicoterapias. Desejamos uma ótima leitura! INTRODUÇÃO 4 Na década de 1960, duas teorias predominavam no campo da Psicologia com alto po- der de influência: a teoria psicodinâmica e a da aprendizagem (Leahy & Martell, 2021). Contudo, transformações emergiram com o desenvolvimento de novos conceitos e de produções científicas, o que resultou em uma maior atenção para os processos cog- nitivos humanos e possibilitou a formação de um movimento denominado de “revolu- ção cognitiva” (Dozois, Dobson, & Rnic, 2019). Por exemplo, a investigação de Albert Bandura sobre os modelos de processamento de informações e aprendizagem vicária e as pesquisas na área da linguagem provocaram o surgimento de questionamentos acerca do quanto era suficiente o modelo comportamental tradicional vigente para a compreensão do comportamento humano (Dozois et al., 2019; Knapp & Beck, 2008). Nesse sentido, influenciado pelo contexto científico e clínico da época, destaca-se o médico psiquiatra norte-americano Aaron T. Beck (Knapp & Beck, 2008). Na década de 1960, duas teorias predominavam no campo da Psicologia com alto po- der de influência: a teoria psicodinâmica e a da aprendizagem (Leahy & Martell, 2021). Contudo, transformações emergiram com o desenvolvimento de novos conceitos e de produções científicas, o que resultou em uma maior atenção para os processos cog- nitivos humanos e possibilitou a formação de um movimento denominado de “revolu- ção cognitiva” (Dozois, Dobson, & Rnic, 2019). Por exemplo, a investigação de Albert Bandura sobre os modelos de processamento de informações e aprendizagem vicária e as pesquisas na área da linguagem provocaram o surgimento de questionamentos acerca do quanto era suficiente o modelo comportamental tradicional vigente para a compreensão do comportamento humano (Dozois et al., 2019; Knapp & Beck, 2008). Nesse sentido, influenciado pelo contexto científico e clínico da época, destaca-se o médico psiquiatra norte-americano Aaron T. Beck (Knapp & Beck, 2008). No final da década de 1950, o Dr. Beck realizou a tentativa de obtenção da validação empírica das proposições adotadas pela psicanálise para que este campo pudesse ter uma maior aceitação pela comunidade científica. Assim, passou a investigar se a de- pressão tinha como causa a presença de uma hostilidade invertida (J. S. Beck, 2022). A depressão era compreendida como uma raiva que o indivíduo possuía direcionada para si, manifestada por autocríticas, expectativas negativas, humor deprimido e de- sejos suicidas, que tinham como origem uma repressão de experiências emocionais de raiva direcionada ao outro (A. T. Beck, 2019). Ao analisar os sonhos dos pacientes VISÃO GERAL DO DESENVOLVIMENTO DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL 5 deprimidos, Dr. Beck identificou que os indivíduos com esta condição psicopatológica possuíam sonhos com um menor quantitativo de conteúdos hostis e um maior número de temáticas referentes às perdas, fracassos e privações. Estes temas presentes nos sonhos eram similares aos pensamentos dos clientes quando estavam conscientes. Ademais, outras investigações acerca de conceitos que estavam na base da psicaná- lise, como, por exemplo, inconsciente, lembranças infantis e transferência, revelaram significativas fragilidades (A. T. Beck, 2019). Acrescenta-se ao processo de averigua- ção do Dr. Beck, a identificação de uma nova categoria de pensamentos, revelando que os fatores cognitivos associados à depressão eram ignorados pela psicanálise (A. T. Beck, 2019; Dozois, Dobson & Rnic, 2019). Após pacientes relatarem a existência de cognições específicas concomitantes aos da associação livre, foram constatados pensamentos denominados de automáticos que estavam relacionados ao afeto e aos comportamentos dos indivíduos (A. T. Beck, 2019; J. S. Beck, 2021). A partir disso, Dr. Beck modificou o formato das sessões, retirando os pacientes do divã e propondo que profissional e clientes passassem a realizar atendimentos mais colaborativos com a identificação e avaliação dos pensamentos automáticos negativos, pois tinham ca- racterísticas irrealistas e desadaptativas (A. T. Beck, 2019; J. S. Beck, 2022). No final da década de 1950, o Dr. Beck realizou a tentativa de obtenção da validação empírica das proposições adotadas pela psicanálise para que este campo pudesse ter uma maior aceitação pela comunidade científica. Assim, passou a investigar se a depres- 6 são tinha como causa a presença de uma hostilidade invertida (J. S. Beck, 2022). A de- pressão era compreendida como umaraiva que o indivíduo possuía direcionada para si, manifestada por autocríticas, expectativas negativas, humor deprimido e desejos suicidas, que tinham como origem uma repressão de experiências emocionais de rai- va direcionada ao outro (A. T. Beck, 2019). Ao analisar os sonhos dos pacientes depri- midos, Dr. Beck identificou que os indivíduos com esta condição psicopatológica pos- suíam sonhos com um menor quantitativo de conteúdos hostis e um maior número de temáticas referentes às perdas, fracassos e privações. Estes temas presentes nos sonhos eram similares aos pensamentos dos clientes quando estavam conscientes. Ademais, outras investigações acerca de conceitos que estavam na base da psicaná- lise, como, por exemplo, inconsciente, lembranças infantis e transferência, revelaram significativas fragilidades (A. T. Beck, 2019). Acrescenta-se ao processo de averigua- ção do Dr. Beck, a identificação de uma nova categoria de pensamentos, revelando que os fatores cognitivos associados à depressão eram ignorados pela psicanálise (A. T. Beck, 2019; Dozois, Dobson & Rnic, 2019). Após pacientes relatarem a existência de cognições específicas concomitantes aos da associação livre, foram constatados pensamentos denominados de automáticos que estavam relacionados ao afeto e aos comportamentos dos indivíduos (A. T. Beck, 2019; J. S. Beck, 2021). A partir disso, Dr. Beck modificou o formato das sessões, retirando os pacientes do divã e propondo que profissional e clientes passassem a realizar atendimentos mais colaborativos com a identificação e avaliação dos pensamentos automáticos negativos, pois tinham ca- racterísticas irrealistas e desadaptativas (A. T. Beck, 2019; J. S. Beck, 2022). Posteriormente, Dr. Beck juntamente com seus colaboradores verificaram a existên- cia de um sistema de crenças que, quando desencadeado por uma situação particu- lar, ativaria uma interpretação, comumente na forma de um pensamento automático, sendo o conteúdo deste dependente do transtorno mental do indivíduo. Simultanea- mente, com a formulação de uma teoria, o médico psiquiatra também avançava na elaboração de uma nova abordagem terapêutica (A. T. Beck, 2019; J. S. Beck, 2022). O resultado dos anos de investigação foram as publicações de artigos e livros, como a obra intitulada Depression: Causes and treatment (A. T. Beck, 1967), na qual há a des- crição do modelo cognitivo e da terapia da depressão, sendo uma referência essencial no campo da TCC. 7 No final da década de 1970, Dr. Beck e seus colegas da Universidade de Pensilvânia passaram a investigar diversas condições, como ansiedade, transtornos de persona- lidade, abuso de substâncias, entre outros. A Teoria Cognitiva foi sendo formulada ao englobar aspectos teóricos e práticos de acordo com cada transtorno mental especí- fico. Além disso, foram efetuadas adaptações dos tratamentos e realizados ensaios clínicos controlados randomizados (J. S. Beck, 2022). Com o passar dos anos, a TCC tornou-se uma das psicoterapias mais utilizadas para o tratamento de um amplo con- junto de transtornos psiquiátricos, problemas psicológicos e clínicos que contenham elementos psicológicos (J. S. Beck, 2021; Hofmann, 2021). 8 Desde o início da formulação da sua base teórica, estudos científicos têm sido realiza- dos com a finalidade de examinar a eficácia da TCC. Nos últimos anos, uma numerosa quantidade de relatos de investigações permanece sendo publicada, principalmen- te ensaios clínicos randomizados e meta-análises, para evidenciar os efeitos dessa abordagem em variadas condições, populações e contextos (J. S. Beck, 2022; Vrijsen, Kleine, Becker, Wenzel & Smits, 2021). Longe de apresentar uma lista vasta dos resultados encontrados, algumas pesquisas merecem destaque. Uma revisão de meta-análises realizada por Hofmann, Asnaani, Vonk, Sawyer e Fang (2012) demonstrou que a TCC possui uma base de evidências muito forte na redução dos sintomas, melhora no funcionamento dos pacientes e remissão de uma extensa gama de transtornos mentais, tendo resultados mais sig- nificativos para os casos de transtornos de ansiedade, transtornos somatoformes (atualmente são denominados de transtornos de sintomas somáticos e transtornos relacionados pela American Psychiatric Association (2014), bulimia, problemas de controle da raiva e estresse geral. Além dos referidos achados apoiarem o estabelecimento da TCC como tratamento de primeira linha para transtornos mentais (Vrijsen et al., 2021), estudos também têm de- monstrado que ela pode ser eficaz em proporcionar benefícios que podem prevenir ou reduzir a gravidade de episódios futuros (J. S. Beck, 2022). Por exemplo, recentemen- te, Fordham et al. (2021) examinou a consistência do efeito da TCC, e os resultados demonstraram a ocorrência de melhorias na qualidade de vida relacionada à saúde em pessoas com condições físicas (p. ex. dores abdominais, relacionadas à leucemia e torácicas inespecíficas e osteoartrite) e mentais (p. ex. ansiedade e depressão). Esses resultados foram mantidos após 12 meses de conclusão do tratamento (For- dham et al., 2021). STATUS EMPÍRICO: A TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL É EFICAZ? 9 A personalidade humana é moldada a partir da interação de fatores genéticos, epige- néticos, biológicos, temperamentais e do ambiente (Figura 1). Essa interação influen- cia o desenvolvimento e a manifestação de estratégias comportamentais destinadas a cumprir metas biológicas essenciais de sobrevivência e de reprodução, ou seja, de adaptação (A. T. Beck, Davis & Freeman, 2017; J. S. Beck, Broder & Hindman, 2016). Em busca do processo adaptativo, a personalidade é constituída por suborganizações internas específicas denominadas de modos, a fim de promover um ajuste entre as demandas externas provenientes de contextos específicos (p. ex., situações que en- volvem oportunidades, desafios e obstáculos no ambiente, incluindo questões socio- culturais) e as questões internas individuais (p. ex. desejos, necessidades e impulsos) (A. T. Beck et al., 2017; A. T. Beck, Finkel, & Beck, 2020). Para exercer o seu papel, o modo ao ser ativado incita a operação síncrona de estruturas cognitivas complexas relativamente duradouras, chamadas de esquemas, que integram os componentes modais de cognição, afeto, motivação e comportamento (Figura 2). (A. T. Beck, 1996; A. T. Beck et al., 2017) UM MODELO COGNITIVO PARA ALÉM DA PSICOPATOLOGIA A PERSONALIDADE E OS MODOS Figura 1. Estrutura da Personalidade 10 Os esquemas são desenvolvidos durante os períodos iniciais de vida e, com o decor- rer dos anos, podem se consolidar a partir das experiências individuais (A. T. Beck & Dozois, 2011). Além disso, eles possuem características específicas, como: a) per- meabilidade, capacidade de possibilitarem a inserção de novas informações, ou seja, qualidade de serem receptíveis à mudança; b) acomodação, capacidade de proporcio- nar a integração de novas informações às estruturas existentes, modificando os seus conteúdos; c) densidade, com a probabilidade de ocorrer ativações dos esquemas, estes podem ficar mais ou menos densos; d) nível de carga emocional, refere-se à pro- pensão dos esquemas em serem ativados, às suas sensibilidades e poder, sendo que ao serem muito energizados, eles se tornam rapidamente ativados e, por consequên- cia, passam a controlar o processamento de informações e e) amplitude, podendo ser mais amplo ou mais específico no que se refere aos seus conteúdos (A. T. Beck & Haigh, 2014; Knapp, 2004; Knapp & Beck, 2008). Figura 2. Estrutura do Modo* *representação gráfica do modo adaptada de Beck (1996) 11 Em geral, os modos, por meio dos esquemas, são responsáveis pelo percurso que tem como princípio a recepção de um estímulo ambiental (interno ou externo) e como o fim uma manifestação comportamental (A. T. Beck et al., 2017, 2020). Automatica- mente, em resposta aos dados sensoriais presentes em uma determinada situação, a primeira função ativada nomodo é a cognição. Essa função é composta por atribuição de significado, expectativas, memórias e crenças, e marca o início do processamento das informações (Figura 3). Esse processo ocorre por meio de uma estrutura cogni- tiva básica chamada de protoesquemas. Esses protoesquemas têm a capacidade de monitorar, detectar e abstrair, com poucos recursos, os estímulos que podem ser de interesse para o indivíduo, como eventos que sinalizam ameaças, ganhos ou perdas pessoais. No entanto, essa abordagem inicial implica em uma preliminar atribuição de significado que pode ser suscetível a erros de interpretação (A. T. Beck & Haigh, 2014). PROCESSAMENTO DAS INFORMAÇÕES Figura 3. Processamento das informações 12 Essa rápida avaliação acerca do contexto diz respeito a um nível superficial de cogni- ção denominado de pensamentos automáticos. Estes não são resultantes de delibe- ração ou raciocínio e, em sua grande maioria, não são percebidos de modo conscien- te, pois ocorrem de forma rápida, involuntária e automática (Knapp, 2004). Ademais, em decorrência dos significados atribuídos, os protoesquemas (Figura 3) podem ati- var neste momento os componentes modais afeto e comportamento (A. T. Beck & Haigh, 2014). Os protoesquemas relevam o papel dos pensamentos nas respostas emocionais e comportamentais das pessoas, ou seja, a situação em si não define precisamente como os indivíduos se sentem e o que fazem (J. S. Beck, 2022). Conse- quentemente, conforme mencionado, em função dessa primeira etapa do processa- mento das informações ter uma alta probabilidade de ocorrência de erros cognitivos, vieses frequentes no nível dos pensamentos automáticos, comumente conhecidos como distorções cognitivas, foram identificados e classificados (Leahy, 2018). Confi- ra na Tabela 1: Lista de verificação de distorções cognitivas (Leahy, 2018) Leitura mental: você imagina que sabe o que as pessoas pensam sem ter evidências suficientes dos seus pensamentos. Por exemplo: “Ele acha que eu sou um perdedor”. Adivinhação do futuro: você prevê o futuro – que as coisas vão piorar ou que há perigos pela frente. Por exemplo, “Vou ser reprovado no exame” ou “Não vou conseguir o emprego”. Catastrofização: você acredita que o que aconteceu ou vai acontecer é tão terrível e insuportável que não conseguirá aguentar. Por exemplo: “Seria terrível se eu fracassasse”. Rotulação: você atribui traços negativos globais a si mesmo e aos outros. Por exemplo: “Sou indesejável” ou “Ele é uma pessoa imprestável”. Tabela 1. Distorções Cognitivas 13 Lista de verificação de distorções cognitivas (Leahy, 2018) Desqualificação dos aspectos positivos: você alega que as realizações positivas, suas ou alheias, são triviais. Por exemplo: “Isso é o que se espera que as esposas façam – portanto, não conta quando ela é gentil comigo” ou “Esses sucessos foram fáceis, portanto, não têm importância”. Filtro negativo: você foca quase que exclusivamente nos aspectos negativos e raramente nota os positivos. Por exemplo: “Veja só todas as pessoas que não gostam de mim”. Supergeneralização: você percebe um padrão global de aspectos negativos com base em um único incidente. Por exemplo: “Isso geralmente acontece comigo. Parece que eu fracasso em muitas coisas”. Pensamento dicotômico: você vê eventos, ou pessoas, em termos de tudo-ou-nada. Por exem- plo: “Sou rejeitado por todos” ou “Isso foi uma perda de tempo”. Afirmações do tipo “deveria”: você interpreta os eventos em termos de como as coisas deve- riam ser, em vez de simplesmente se concentrar no que elas são. Por exemplo: “Eu deveria me sair bem. Caso contrário, sou um fracasso”. Personalização: você atribui a si mesmo uma culpa desproporcional por eventos negativos e não consegue ver que determinados eventos também são provocados por outros. Por exemplo: “Meu casamento acabou porque eu falhei”. Atribuição de culpa: você se concentra na outra pessoa como fonte de seus sentimentos nega- tivos e se recusa a assumir a responsabilidade pela mudança. Por exemplo: “Ela é culpada por como estou me sentindo agora” ou “Meus pais são os causadores de todos os meus problemas”. Comparações injustas: você interpreta os eventos em termos de padrões irrealistas, comparan- do-se com outras pessoas que se saem melhor do que você, e então se considera inferior a elas. Por exemplo: “Ela é mais bem-sucedida do que eu” ou “Os outros se saíram melhor do que eu na prova”. 14 Lista de verificação de distorções cognitivas (Leahy, 2018) Orientação para o remorso: você se concentra na ideia de que poderia ter se saído melhor no passado, em vez de focar no que pode fazer melhor agora. Por exemplo: “Eu poderia ter conse- guido um emprego melhor se tivesse tentado” ou “Eu não deveria ter dito aquilo”. E se...?: você faz uma série de perguntas do tipo “e se” alguma coisa acontecer, e nunca fica satisfeito com as respostas. Por exemplo: “Sim, mas e se eu ficar ansioso?” ou “E se eu não conseguir respirar?”. Raciocínio emocional: você deixa os sentimentos guiarem sua interpretação da realidade. Por exemplo: “Sinto-me deprimida; consequentemente, meu casamento não está dando certo”. Incapacidade de refutar: você rejeita qualquer evidência ou argumento que possa contradizer seus pensamentos negativos. Por exemplo, quando você pensa: “Não sou digna de amor”, rejeita como irrelevante qualquer evidência de que as pessoas gostam de você. Consequentemente, seu pensamento não pode ser refutado. Outro exemplo: “Esse não é o problema real. Há proble- mas mais profundos. Existem outros fatores”. Foco no julgamento: você avalia a si próprio, os outros e os eventos em termos de preto-ou-bran- co (bom-mau, superior-inferior), em vez de simplesmente descrever, aceitar ou compreender. Você está continuamente se avaliando e avaliando os outros segundo padrões arbitrários e achando que você e os outros deixam a desejar. Você está focado no julgamento dos outros e de si mesmo. Por exemplo: “Não tive um bom desempenho na faculdade” ou “Se eu for aprender tênis, não vou me sair bem” ou “Olhe como ela tem sucesso. Eu não tenho sucesso”. Fonte: Retirado de (Leahy, 2018) 15 Contudo, os pensamentos automáticos não explicam alguns aspectos importantes dos processos cognitivos, como, por exemplo, a justificativa para uma pessoa realizar uma interpretação diferente da outra em uma mesma situação ou a razão de um único indivíduo ter interpretações distintas para situações iguais em períodos diferentes (J. S. Beck, 2022). O motivo está relacionado aos esquemas, especificamente aos conte- údos destes que são denominados de crenças. Exemplos de crenças são suposições, expectativas, regras e avaliações (A. T. Beck & Haigh, 2014). As crenças são definidas como representações internas provenientes dos dados re- cebidos do processamento das informações (J. S. Beck, 2022; Knapp, 2004). Isto sig- nifica que quando o indivíduo recebe um grande número de estímulos do meio (ex- terno ou interno), e estes vão sendo classificados em categorias brutas por meio dos protoesquemas no decorrer do tempo, as interpretações atribuídas às situações se acumulam e se transformam em generalizações, as quais qualificamos como crenças (A. T. Beck et al., 2017). Além de se relacionarem com a avaliação dos contextos, elas são baseadas pela eficácia da percepção individual, pelo autoconceito, memórias de experiências de aprendizagem anteriores, atitudes e normas socioculturais (A. T. Beck et al., 2020). Consequentemente, os esquemas podem conter conteúdos (crenças) diversos em relação à visão de si mesmo, do mundo exterior/outros e do futuro, o que A. T. Beck e Alford (2011) denominaram de tríade cognitiva (Figura 4). SISTEMA DE CRENÇAS 16 Ademais, as crenças podem assumir dois formatos: serem básicas (crenças nuclea- res ou centrais) e serem condicionais (crenças intermediárias) (Figura 5) (A. T. Beck, Davis & Freeman, 2017). Figura 4. Tríade cognitiva Figura 5. Níveis de cognição Fonte:De “Terapia Cognitivo-Comportamental na prática psiquiátrica” de P. Knapp, 2004, Porto Alegre: Artmed, p. 22. 17 De acordo com J. S. Beck (2022), as crenças nucleares são ideias mais centrais que os indivíduos possuem sobre si, os outros e o mundo. Os indivíduos as desenvolvem desde a infância e sua formação sofre influência da predisposição genética, da inte- ração com pessoas relevantes e dos significados que são atribuídos das experiências e circunstâncias da vida. As crenças nucleares podem ser classificadas em adaptati- vas, caracterizadas como realistas e funcionais e não extremas, e disfuncionais, qua- lificadas como rígidas e absolutas, mantidas pelo processamento das informações desadaptativo. Veja exemplos de crenças nucleares adaptativas e disfuncionais na Tabela 2. Crenças Nucleares Adaptativas Eficiência Valor Amabilidade Crenças Nucleares Disfuncionais Desemparo Desvalor Desamor • “Fundamentalmente, estou à altura das outras pessoas”. • “Sou capaz de realizar razoavelmente a maioria das coisas, proteger-me e cuidar de mim”. • “Sou razoavelmente competente, eficien- te, no controle, bem-sucedido e útil”. • “Sou razoavelmente digno, adequado, moral, bom e generoso”. • “Sou razoavelmente afável, agradável, desejável, atraente, querido e interessado”. • “Sou suficientemente bom [para ser amado pelas outras pessoas]”. • “É improvável que eu seja abandonado ou rejeitado ou termine sozinho”. • “Sou inútil comparado aos outros”. • “Sou incompetente, incapaz, desampa- rado, inútil e carente; não consigo lidar com as coisas”. • “Não sou capaz de me proteger”. • “Sou inferior, um fracasso, um perdedor, defeituoso, inútil”. • “Sou imoral, moralmente mau, um peca- dor, desprezível e inaceitável”. • “Sou perigoso, tóxico, louco e mal”. • “Não mereço viver”. • “Sou alguém impossível de ser amado, desagradável, indesejável, pouco atraente”. • “[Não vou ser aceito ou amado pelas outras pessoas porque] sou diferente, um nerd, mau, defeituoso, não sou suficiente- mente bom, não tenho nada a oferecer e tem alguma coisa errada comigo”. • “Certamente serei rejeitado, abandonado e ficarei sozinho”. Tabela 2. Classificação de Crenças Nucleares Fonte: Retirado e adaptado de J. S. Beck (2022) 18 No que se refere às crenças intermediárias, elas consistem em atitudes, regras e pres- supostos (J. S. Beck, 2022). Esse tipo de crenças pressupõe que, desde que certas regras, normas e atitudes sejam realizadas, não acontecerão problemas e o indivíduo permanecerá estável e produtivo. Caso o contrário, ele torna-se vulnerável quando as crenças nucleares disfuncionais são ativadas (Knapp, 2004). Ademais, as crenças in- termediárias interferem no processamento das informações, ou seja, na interpretação de uma situação, e guiam a conduta da pessoa (J. S. Beck, 2022; Sayago & Dornelles, 2011). Veja na Tabela 3 alguns exemplos de crenças intermediárias indicadas pela J. S. Beck (2022): Crenças Intermediárias Atitude: “É terrível falhar.” Regra: “Devo desistir se um desafio parecer muito grande.” Pressupostos: “Se eu tentar fazer alguma coisa difícil, vou fracassar. Se eu evitar fazê-la, vai ficar tudo bem.” Tabela 2. Classificação de Crenças Intermediárias Fonte: J. S. Beck (2022) 19 De acordo com o que foi mencionado, os esquemas, juntamente com seus conteúdos (crenças), desempenham um papel significativo na influência sobre a triagem, codifi- cação, categorização e interpretação dos estímulos presentes nas situações. Esses esquemas têm a capacidade de ordenar novas informações nos próprios esquemas, além de realizar a recuperação das informações armazenadas no componente cog- nitivo do modo (Figura 2) quando este está ativado, integrando-se a ele. Além disso, comumente, os esquemas cognitivos ativam os emocionais que constituem o compo- nente modal afeto, implicando nas experiências subjetivas de emoções, como a raiva, alegria, tristeza, medo, etc. O afeto é de extrema importância, pois revela o quanto e como é significativo os eventos vivenciados, promove a comunicação com o meio, possui funções positivas (p. ex., a tristeza pode sinalizar para pessoa que ela precisa suprir ou agir funcionalmente para lidar com a perda existente) e está associado à memória e ao processo de motivação. Ademais, as emoções, quando atingem alta intensidade, podem ocasionar dificuldades para o indivíduo ter consciência das suas cognições (A. T. Beck, 1996; A. T. Beck et al., 2020; J. S. Beck, 2022). A motivação, como outro elemento central do modo, geralmente ocorre de forma au- tomática e espontânea. Isso acontece ao envolver a presença de impulsos originados de esquemas iniciais da vida, abrangendo aspectos significativos para o indivíduo, tais como proteção (reação de luta e fuga), sobrevivência, alimentação, amor e a ne- cessidade de estabelecer vínculos sociais (A. T. Beck, 1996; A. T. Beck et al., 2020). Apesar da motivação comumente estar condizente com a resposta comportamental consecutiva, que integra a última função da personalidade ativada do modo, o com- portamento pode ser divergente do impulso. Por exemplo, considere uma pessoa que está prestes a agir de maneira assertiva durante uma conversa com um amigo. Nesse contexto, a crença intermediária dessa pessoa pode ser ativada, sugerindo que agir de forma assertiva desencadeará uma resposta emocional intensa de raiva na ou- tra pessoa, algo que ela considera intolerável. Nessas circunstâncias, a manifestação comportamental funcional é suprimida (A. T. Beck et al., 2020). Em suma, um modo específico pode ser ativado e ter o status de adaptativo se as funções da personalidade (cognição, afeto, motivação e comportamento) operam de forma síncrona para responder funcionalmente e estabelecer o equilíbrio entre as de- DO COMPORTAMENTO ADAPTATIVO AOS TRANSTORNOS MENTAIS 20 mandas internas e as externas (A. T. Beck et al., 2017, 2020). Por exemplo, quando um homem se depara com diversas situações em que a esposa eleva o tom de voz duran- te as conversas, seu modo adaptativo relacionado a conflitos interpessoais pode ser ativado. Desse modo, pode ter o pensamento automático “Minha esposa está falando muito alto comigo nos últimos dias”, com a crença intermediária “Se eu tento resol- ver os problemas do casal, o relacionamento pode melhorar” e a crença nuclear “É improvável que eu seja abandonado” subjacentes. Além disso, simultaneamente, ele pode vivenciar uma resposta afetiva positiva e tranquila. Além disso, a resposta mo- tivacional de se aproximar da esposa e a resposta comportamental de acolhimento e de conversa para solucionar problemas podem ser manifestadas. Veja na Figura 6 a interação entre os elementos mencionados que constituem o modelo cognitivo. Figura 6. Modelo Cognitivo Fonte: De “Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática” de J. S. Beck, 2022, Porto Alegre: Artmed, p. 36. 21 Contudo, embora os erros comuns da vida diária não sejam um problema significativo para os indivíduos, prejuízos no componente cognitivo podem resultar em uma vulne- rabilidade para desenvolver quadro de transtornos mentais (A. T. Beck, John, & Beck, 2021). Veja quais são os erros que podem ocorrer no componente modal da cognição que, possivelmente, ocasionam a ativação persististe e o status de desadaptação do modo (A. T. Beck et al., 2020; A. T. Beck & Haigh, 2014): a) alta frequência e níveis extremos de vieses atencionais; b) alta frequência e níveis extremos de vieses no processamento de informações; c) tendenciosidades nas crenças; d) falhas nas expectativas futuras e nas memórias. Todos os erros na cognição podem dificultar o processo de adaptação e reforçar a manutenção do status de desadaptação do modo ativado (A. T. Beck, 1996; A. T. Beck et al., 2020). Veja a seguir quatro exemplos sobre o processo de ativação de mo- dos, que revelam a existência de um continuum da adaptabilidade para condições psicopatológicas.Ressalta-se que, apesar de ser apresentado um percurso que vai da cognição para a reação comportamental, a trajetória é bidirecional, pois a resposta comportamental pode implicar em modificações cognitivas, o que resultará na manu- tenção de ciclos comportamentais habitualmente observados em certos transtornos mentais (A. T. Beck et al., 2020; A. T. Beck, Grant, Inverso, Brinen, & Perivoliotis, 2021; John & Beck, 2021). 22 Modo de ganho: funcionalmente, este modo possui a característica de ser sensível às situações que envolvem recompensas para o indivíduo e sua ativação ocorre pela pre- sença de cognições qualificadas como positivas e pela expectativa da obtenção de satisfação. Além disso, há uma reação emocional de prazer, uma reação motivacional que envolve um impulso para gasto de energia em atividades hedônicas e uma reação comportamental manifestada pelo engajamento em ações que, geralmente, resultam em emoções agradáveis e com consequências funcionais. Entretanto, quando há um desequilíbrio entre as necessidades internas e as demandas externas, o indivíduo pode ficar vulnerável às condições psicopatologias. Em decorrência da ativação de cognições tendenciosas com avaliações exageradas do ganho situacional, ou seja, há um excesso na antecipação do prazer, o modo de ganho pode se tornar desadaptativo ao permanecer persistentemente ativado e/ou ter um grau alto de ativação, pois ati- vará reações motivacionais e comportamentais excessivas de gasto de energia para encontrar prazer (p. ex., comportamento hiperativo). Tais padrões de comportamento podem ser verificados em pessoas propensas a apresentar mania, dependências e trabalho excessivo (A. T. Beck, John, et al., 2021; John & Beck, 2021). Figura 7. Modo de Ganho* *representação gráfica adaptada da Fig. 1 de (A. T. Beck, John, et al., 2021) 23 Modo de perda: de forma oposta ao modo de ganho, funcionalmente, o modo de per- da abrange expectativas realistas de dor (p. ex., perspectiva de sentir sofrimento em situações que podem envolver perdas ou erros). Reações associadas às cognições são as emocionais com a presença de afeto negativo. Quanto as reações motivacio- nais, elas envolvem impulsos automáticos a fim de conservar recursos individuais ou de proteger a autoestima para evitar o sofrimento. Por fim, em concordância com o componente motivação, as reações comportamentais incluem ações de retraimento e isolamento. Todavia, se vieses atencionais, no processamento das informações e nas interpretações estão presentes, esquemas disfuncionais podem ser ativados e contro- lam todo o processo cognitivo. As reações emocionais que integram o modo podem abarcar humor deprimido, culpa excessiva, insatisfação, desesperança, redução e/ou falta de prazer e o rebaixamento expressivo da autoestima. Consequentemente, as respostas motivacionais e comportamentais são disfuncionais e recorrentes e, possi- velmente, abrangem impulsos intensos e comportamentos recorrentes e excessivos relacionados a uma inatividade e a um retraimento. Toda essa sequência configura, portanto, o modo de perda desadaptativo, regularmente identificado em pessoas com depressão (A. T. Beck, John, et al., 2021; John & Beck, 2021). Figura 8. Modo de Perda* *representação gráfica adaptada da Fig. 1 de (A. T. Beck, John, et al., 2021) 24 Modo de ameaça: quando o modo de ameaça é funcional, cognições são ativadas sobre os riscos associados aos eventos que incluem desafios para o indivíduo. A pos- sibilidade da existência de adversidades ativa as emoções de medo e de ansiedade. Em outras palavras, essa situação motiva a pessoa a evitar determinados contextos visando autoproteção. Isso pode resultar em respostas comportamentais de fuga ou na adoção de estratégias de enfrentamento, com o objetivo de reduzir ou eliminar as possíveis consequências negativas. No modo de ameaça desadaptativo ativado, os indivíduos apresentam tendenciosidades no componente cognitivo (p. ex. eles exage- ram na percepção das situações de ameaça e de perigo e/ou não se veem capazes de lidar funcionamento com elas). De forma congruente, ocorrem reações emocionais intensas de ansiedade e de medo, impulsos motivacionais para evitar a dor e mani- festações comportamentais de escapar das situações temidas, o que pode reforçar a ativação do modo. Indivíduos com transtornos de ansiedade, como fobias espe- cíficas, ansiedade social, ansiedade de separação e pânico, transtorno de estresse pós-traumático e transtorno obsessivo-compulsivo podem ter o modo desadaptativo de ameaça constantemente ativado (A. T. Beck, John, et al., 2021; John & Beck, 2021). Figura 9. Modo de Ameaça* *representação gráfica adaptada da Fig. 1 de (A. T. Beck, John, et al., 2021) 25 Modo de ofensa: o modo adaptativo de ofensa, ao ser ativado, é constituído por cog- nições que envolvem conteúdos acerca de ter sido desrespeitado, desconsiderado, ou ofendido, e que se está vulnerável. Concomitantemente, podem ser ativadas as respostas emocionais de raiva, a motivação de revidar para nivelar o relacionamento, ou eliminar a injustiça percebida, e as reações comportamentais de retaliar. Por ou- tro lado, quando o modo desadaptativo de ofensa é ativado, os esquemas cognitivos disfuncionais, com tendenciosidades excessivas em seus conteúdos (por ex., “eu sou profundamente frágil” ou “eu estou exposto e suscetível ao controle do outro” ou “as pessoas me desprezam” ou “as pessoas não me respeitam e não me consideram”), controlam e produzem vieses atencionais e vieses no processamento das informa- ções, o que implica em excessivas e persistentes percepções de ter sido atacado e ofendido. Dessa forma, podem ser ativadas intensas reações emocionais, como raiva, ódio e fúria. Motivações automáticas e espontâneas de contra-atacar podem surgir, buscando equilibrar os danos pessoais causados ou restaurar a integridade do eu. Isso pode se manifestar em comportamentos de ataque desproporcionais em relação aos fatos do acontecimento. Em outras palavras, mesmo que a ofensa tenha ocorrido de forma intencional, a reação comportamental pode ser excessiva e não condizen- te com o nível de agressão, desconsideração ou hostilidade envolvidos. Além disso, pode não ter ocorrido verdadeiramente uma ofensa. Essa operação de forma síncrona dos componentes modais pode ser verificada em pacientes portadores de transtor- nos agressivos que retaliam outras pessoas, principalmente diante de pequenas ofen- sas que lhe são direcionadas (A. T. Beck, John, et al., 2021; John & Beck, 2021). 26 Figura 10. Modo de Ofensa* *representação gráfica adaptada da Fig. 1 de (A. T. Beck, John, et al., 2021) O SUPERORDENADO Embora os processos associados à ativação do modo, envolvendo a sequência cog- nição, afeto, motivação e comportamento, apresentados até aqui, sejam automáticos, existe uma função de nível superior denominada de processamento superodernado ou processamento reflexivo (A. T. Beck et al., 2020) ou, simplemente, superordenado (A. T. Beck, John, et al., 2021), que é consciente e sobreposta ao modo (Figura 3). Uma das funções do superordenado é de supervisão, ou seja, de corrigir os possíveis erros (interpretações errôneas, tendenciosidades e conclusões precipitadas) que po- dem existir em decorrência dos processos cognitivos automáticos do modo (p. ex., pensamentos automáticos). Logo, ele promove que o indivíduo reflita acerca da ade- quação das cognições, o que possibilita a ocorrência de teste de realidade, resolução de problemas, tomada de decisão, deliberação e raciocínio, implicando na atuação sobre o componente modal motivação (p. ex, desejos automáticos). Especificamente, quando o indivíduo de forma deliberada e consciente avalia a necessidade de ma- 27 nifestar uma resposta adaptativa a uma situação, o processamento superodernado opera para restringir ou desinibir o comportamento. Portanto, essa função sobreposta ao modo tem a finalidade central de promover a adaptação nosindivíduos (A. T. Beck et al., 2020; A. T. Beck, John, et al., 2021). Fortalecer os processos que envolvem o superodernado é essencial para bloquear a ativação de um modo desadaptativo ou inibir os impulsos motivacionais que podem estar em concordância com as respostas comportamentais disfuncionais. Além dis- so, regularmente, nos indivíduos que possuem seus modos adaptativos ativados, o superodernado está disponível. Assim, ativar modos adaptativos rapidamente e fre- quentemente revela ser um direcionamento clinicamente importante para promover melhorias terapêuticas. 28 A conceitualização cognitiva, também conhecida como formulação do caso, é defini- da por Kuyken, Padesky e Dudley (2010) como um processo em que o terapeuta e o cliente trabalham de forma colaborativa para descrever e compreender os problemas que o último apresenta. Sinteticamente, seu papel é ser um guia para que a terapia alcance dois objetivos abrangentes: aliviar o sofrimento dos clientes e desenvolver a resiliência. Detalhadamente, J. S. Beck (2022) ressalta que a conceitualização cogniti- va contribui para: a) o entendimento dos clientes, seus pontos fortes e fracos, suas as- pirações e desafios; b) o reconhecimento de como eles desenvolveram um transtorno mental com pensamentos disfuncionais e comportamentos desadaptativos; c) o for- talecimento da relação entre terapeuta e cliente; d) o direcionamento do planejamento do tratamento tanto dentro quanto entre as sessões de terapia; e) a seleção das in- tervenções mais apropriadas de acordo com as demandas do cliente; f) a orientação das adaptações que podem ser necessárias e g) a superação do pontos de bloqueios na terapia. Existem três princípios orientadores da conceitualização cognitiva que possibilitam uma abordagem que é flexível, mas sistemática: 1) níveis de conceitualização; 2) em- pirismo colaborativo e 3) incorporação dos pontos fortes do cliente. Veja na Tabela 4 maiores detalhes sobre cada um dos princípios. CONCEITUALIZAÇÃO COGNITIVA Níveis de conceitualização Empirismo Foco nos pontos fortes A partir da descrição das dificuldades atuais do cliente, a conceitualização possui a finalidade de prover estruturas explanatórias que envolvem os fatores desencadeantes, ciclos de manu- tenção e/ou elementos predisponentes e protetores. A conceitualização deve ser construída conjuntamente entre o terapeuta e o cliente, integrando a experiência do cliente com teoria e pesquisa apropriadas em um processo esclarecedor de formulação e testagem de hipóteses. É necessário identificar e incorporar os pontos fortes do cliente para que seja aplicado os recursos existentes do mesmo às suas dificuldades atuais e para fortalecer a sua consciência, além de utilizar os pontos fortes para desenvolver a resiliência no cliente. Tabela 4. Princípios orientadores da conceitualização cognitiva Fonte: Retirado e adaptado de Kuyken et al. (2010) 29 Segundo Neufeld e Cavenage (2010), para que a conceitualização cognitiva seja efi- caz, o terapeuta deve investigar e ter dados sobre o cliente (seu diagnóstico, proble- mas atuais, juntamente com os fatores estressores associados dos mesmos, suas predisposições genéticas e familiares e seu sistema de crenças). J. S. Beck (2022) também indica a necessidade de se coletar dados sobre as estratégias comportamen- tais do cliente e os fatores de manutenção. Além disso, a autora destaca que o proces- so de construção da conceitualização deve ter início desde o primeiro o contato com o cliente e que, com o decorrer das sessões, ela é aprimorada. Ademais, após a formulação do caso, é preciso que o terapeuta verifique se este se adequa ao cliente. Ao longo do tempo, o profissional de modo contínuo coleta mais dados, resume para o cliente, verifica as hipóteses elaboradas acerca do caso e mo- difica a conceitualização, caso necessário. Conforme mencionado, é preciso que em todo o processo o terapeuta compartilhe a conceitualização com o cliente e solicite feedback, o que possibilita uma conceitualização mais apurada, uma aliança terapêu- tica mais forte e um tratamento mais eficaz. Existem algumas propostas de sistema de conceitualização na literatura. Neste e-book, resumidamente, você conhecerá um pouco mais da recomendação realizada por Neufeld e Cavenage (2010). Além disso, terá acesso sobre um novo diagrama de conceitualização cognitiva que enfatiza os pontos fortes do cliente. 30 CONCEITUALIZAÇÃO COGNITIVA POR NEUFELD E CAVENAGE Essa proposta (Neufeld & Cavenage, 2010) não se trata de um modelo novo de formu- lação de caso. Contudo, consiste em uma sequência de sugestões que tem como ob- jetivo ajudar os terapeutas, principalmente os que estão iniciando a carreira, a desen- volverem habilidades importantes para essa tarefa relevante no processo terapêutico. 1ª Etapa: realizar a psicoeducação sobre o modelo cognitivo é o primeiro passo para o alcance de uma conceitualização cognitiva eficaz. O terapeuta deve dedicar um tem- po significativo nessa tarefa e verificar se o cliente compreendeu o modelo e a inter- -relação entre os componentes (cognição, afeto, motivação e comportamento) antes de iniciar o processo de compreensão da conceitualização do sistema de crenças do cliente. Além disso, nesse primeiro momento, o terapeuta deve dar início ao preenchi- mento do diagrama de conceitualização com os dados coletados em sessão. 2ª Etapa: feito pelo terapeuta, refere-se ao levantamento de situações, pensamentos, emoções, comportamentos e reações fisiológicas no cotidiano do cliente. No que diz respeito aos pensamentos, é importante diferenciar as cognições e ficar atento a al- guns tipos em especial (p. ex., expectativas que o cliente tem sobre si, os outros/o mundo e o futuro, autoavaliações e auto-observações, atribuições e categorizações de pessoas e eventos). Desse modo, é essencial identificar e promover o aprendizado, pelo cliente, dos seus pensamentos automáticos. Quanto ao afeto, é indicado que o terapeuta identifique as emoções e as explique ao cliente, além de abordar as altera- ções fisiológicas que acompanham cada emoção. É necessário também que sejam coletados dados acerca de todas as ações ou a falta de ação nas quais o cliente se engaje, englobando comportamentos de enfrentamento, de evitação, fuga, entre ou- tros. Portanto, para esta segunda etapa, Neufeld e Cavenage (2010) sugere que seja preenchido o Mapa de Situações por Área da Vida para Conceitualização Cognitiva de Caso, que contém os dados mencionados de acordo com as diversas áreas de vida do cliente, como trabalho, saúde, vida cotidiana e relacionamento amoroso, social, familiar, e com filhos. 31 3ª Etapa: após o levantamento suficiente dos dados, inicia-se o preenchimento do Dia- grama de Conceitualização Cognitiva. O modelo tradicional proposto por (J. S. Beck, 2022) é composto por diversos elementos, entre eles estão: história de vida relevante e precipitantes, crenças nucleares, crenças intermediárias, estratégias de enfrenta- mento e elementos que envolvem situações (pensamento automático, significado do pensamento automático, emoções e comportamentos). 4ª Etapa: após o registro de algumas situações no Diagrama de Conceitualização Cog- nitiva, solicita-se que o cliente identifique o que as situações registradas têm em co- mum, buscando-se o sentido/significado dos pensamentos automáticos. Essa etapa revela ser essencial para o alcance dos objetivos dos passos futuros no processo da conceitualização cognitiva. Desse modo, é importante verificar com o cliente se os significados são coerentes para ele, se são representativos da sua vida ou se é específico para uma certa área da vida. Neufeld e Cavenage (2010) ressaltam que promover a identificação dos significados dos pensamentos automáticos possibilita que o cliente comece a ter uma maior compreensão do quanto ele costuma realizar determinadas interpretações e os efeitos delas na sua vida. 5ª Etapa: o próximo passo é realizara identificação das crenças centrais, intermedi- árias e estratégias compensatórias. Para isso, podem ser utilizadas diversas estraté- gias e técnicas terapêuticas, como flecha descendente e questionamento socrático. Ainda sobre esta etapa, Neufeld e Cavenage (2010) enfatizam que, após a identifi- cação dos elementos mencionados, o indicativo é que seja realizado um processo de checagem e de reflexão com o cliente, solicitando que ele pense sobre todos os aspectos levantados e que avalie o quanto acredita que tais aspectos são verdadeira- mente representativos de seu funcionamento. 6ª Etapa: o terapeuta deve solicitar ao cliente a identificação e reflexão acerca da natureza cíclica do funcionamento do seu sistema de crenças. Por fim, sugere-se que o profissional normalize a visão sobre os conteúdos levantados a fim de aliviar sen- timento de culpa que o cliente possa vir a ter diante da maior consciência acerca do modo que funciona, por exemplo. É necessário deixar claro que se trata de uma parce- la do total que representa a forma de pensar, agir e se comportar. Além disso, vale res- saltar que realizar a conceitualização possibilitará uma maior eficácia da terapia. Essa última etapa é apenas um fechamento parcial da conceitualização cognitiva, pois ela continua a ser realizada ao longo do tratamento. 32 Conjuntamente com o diagrama tradicional, pode ser preenchido também o DCC-PF. Esse diagrama possibilita que o terapeuta e o cliente tenham maior foco sobre os pa- drões de cognições úteis e os comportamentos funcionais do cliente, além da relação entre: a) os acontecimentos relevantes e as crenças nucleares adaptativas; b) cren- ças nucleares adaptativas e o significado dos pensamentos automáticos; c) crenças nucleares adaptativas, crenças intermediárias associadas e estratégias de enfrenta- mento adaptativas e d) situações, pensamentos automáticos adaptativos e compor- tamentos adaptativos (J. S. Beck, 2022). Supõe-se que a proposta do DCC-PF esteja de acordo com as novas atualizações do modelo cognitivo da TCC, especificamente a Teoria dos Modos e a Terapia Cognitiva Orientada para à Recuperação (CT-R). DIAGRAMA DE CONCEITUALIZAÇÃO COGNITIVA BASEADO NOS PONTOS FORTES 33 Segundo (J. S. Beck, 2022), o tratamento em TCC é composto por 14 princípios. Confira: Princípio nº 1: os planos de tratamento na TC estão baseados em uma conceitualiza- ção cognitiva em desenvolvimento contínuo. Conforme descrito na sessão anterior, os terapeutas devem basear a conceitualização do caso nos dados que os clientes fornecem na avaliação, realizando uma formulação cognitiva do caso que envolve as cognições-chave, as estratégias comportamentais e fatores de manutenção que ca- racterizam o transtorno envolvido. Ademais, é importante incorporar na conceitualiza- ção os pontos fortes, qualidades positivas e recursos dos clientes. Todo esse proces- so é aprimorado continuamente durante a terapia à medida que novas informações são coletadas e utilizadas para o planejamento do tratamento. Princípio nº 2: a TCC requer uma aliança terapêutica sólida. O terapeuta deve dedicar tempo suficiente para desenvolver uma relação terapêutica que envolva o cliente de modo que os dois trabalhem efetivamente como uma equipe. Além disso, a relação terapêutica pode ser utilizada para promover evidências de determinadas crenças que o cliente possa ter. De um modo geral, para construir uma aliança sólida com o cliente, é necessário utilizar habilidades eficazes com as da abordagem rogeriana, bem como investigar a reação do cliente ao plano de tratamento, tomar decisões de modo co- laborativo, dar justificativas para aplicação de intervenções, utilizar autoexposições, solicitar feedback durante e ao final das sessões e dedicar-se significativamente para alcançar os objetivos terapêuticos, fazendo o cliente reconhecer tal esforço. . UMA VISÃO GLOBAL DO TRATAMENTO EM TCC 34 Princípio nº 3: a TCC monitora continuamente o progresso do cliente. É crucial adotar diversas abordagens para compreender o progresso terapêutico. Isso inclui a utiliza- ção de listas de sintomas, solicitação de feedback, monitoramento da rotina, avalia- ção do funcionamento geral e do avanço em direção aos objetivos terapêuticos. Além disso, é fundamental avaliar a satisfação com a terapia, a conexão com o terapeuta e o bem-estar geral. Essas práticas são essenciais para identificar fatores que possam influenciar as mudanças terapêuticas, permitindo ajustes necessários no tratamento, se for o caso. Princípio nº 4: a TCC é culturalmente adaptada e adapta o tratamento ao indivíduo. Apesar da TCC ter sido elaborada no contexto norte-americano, os clientes com di- ferentes raças, etnias, classe socioeconômica, cultura, orientação sexual, identida- de de gênero, idades, entre outras especificidades contextuais, possuem melhores resultados quando os terapeutas possuem consciência das particularidades e são culturalmente responsivos. Essa sensibilidade deve ser aplicada em todas as fases da terapia, incluindo a conceitualização cognitiva do caso, a construção da relação terapêutica e o planejamento do tratamento. Torna-se imperativo que os terapeutas estejam dispostos a adaptar o tratamento de acordo com as necessidades individuais de cada pessoa. Princípio nº 5: a TCC enfatiza o positivo. Ampliar o foco para as emoções e as cogni- ções positivas dos clientes. É importante para reduzir os sintomas dos clientes, mas também para promover maior esperança e engajá-los em atividades mais significati- vas para suas vidas. Princípio nº 6: a TCC enfatiza a colaboração e a participação ativa. O terapeuta e o cliente devem trabalhar em equipe e atuar ativamente para a melhora do cliente. Para isso, a tomada de decisões é conjunta no que diz respeito ao que vai ser realizado em cada sessão e o que será feito entre as sessões, por exemplo. Princípio nº 7: a TCC é aspiracional, baseada em valores e orientada para os obje- tivos. Desde o primeiro contato, o terapeuta deve coletar dados do cliente sobre os valores (o que é importante em sua vida), as aspirações (como ele quer ser, como quer que a vida seja) e os objetivos específicos do tratamento (o que pretende alcançar como resultado da terapia). 35 Princípio nº 8: a TCC inicialmente enfatiza o presente. De um modo geral, a TCC foca no que precisa ser desenvolvido de habilidades pelo cliente para promover uma melhora do seu quadro. Contudo, o foco pode ser o passado em alguns contextos. Por exemplo, quando o cliente tem o desejo explícito e significativo em abordar so- bre questões passadas, quando o trabalho sobre aspectos futuros é insuficiente para produzir mudanças no quadro atual, ou quando a decisão é tomada de forma colabo- rativa entre terapeuta e cliente. O passado pode ser o foco quando terapeuta e clien- te compreendem que elementos passados são relevantes para maior entendimento da origem ou manutenção das crenças e estratégias comportamentais disfuncionais atuais. Princípio nº 9: a TCC é educativa. A TCC necessita ser compreensível para o cliente. Isso engloba as estruturas das sessões, o modelo cognitivo, a conceitualização cogni- tiva, as técnicas e estratégias propostas, a relação terapêutica, o feedbeck, o plano de ação, entre outros. Essa característica possibilita ao cliente ter uma melhor adesão à terapia e a adoção de uma atitude mais colaborativa em todo o processo terapêutico. Princípio nº 10: a TCC é atenta ao tempo do tratamento. De um modo geral, a TCC é uma terapia de curta duração. Contudo, para alguns clientes o período de tratamento será maior, de acordo com sua condição psicopatológica, por exemplo. Apesar de ter como proposta uma duração breve, busca-se alcançar objetivos gerais, como: ajudar os clientes a se recuperarem dos transtornos mentais, trabalhar na realização de seus valores, aspirações e objetivos, resolver suas questões mais urgentes, promover sa- tisfação e prazer na vida e, por fim, adquirir habilidadespara alcançar maior resiliência e evitar recaídas. 36 Princípio nº 11: as sessões de TCC são estruturadas. Para que a terapia tenha uma maior eficiência em ajudar os clientes a se sentirem melhor em um curto período, a TCC adota sessões em um formato padrão, que consiste em: 1. reestabelecer a aliança terapêutica; 2. revisar o Plano de Ação; 3. coletar dados para que terapeuta e cliente em conjunto definam e priorizem a pauta da sessão; 4. discussão dos problemas ou objetivos na pauta que, geralmente, conduz para elaboração do Plano de Ação; 5. Realizar um resumo da sessão e certificar que o Plano de Ação é razoável; 6. Solicitar e responder ao feedback do paciente sobre a sessão. Princípio nº 12: a TCC utiliza a descoberta guiada e ensina os clientes a responderem às suas cognições disfuncionais. Ao longo da sessão, principalmente no momento da discussão dos problemas e objetivos, o terapeuta auxilia o cliente a identificar seus pensamentos disfuncionais e a avaliar a validade e a utilidade destes por meio de uma análise cuidadosa de evidências que direciona para a formulação e adoção de respos- tas às cognições desadaptativas. Princípio nº 13: a TCC inclui Planos de Ação (tarefa de casa da terapia). De um modo geral, os Planos de Ação são oriundos da discussão de cada objetivo ou problema na pauta, devendo ser elaborado de forma cautelosa, levando em consideração fatores, como: a natureza do problema, a conceitualização do caso, aspectos práticos como tempo, energia e oportunidade do cliente, e especificidades, como o nível de motiva- ção e concentração do cliente, além das suas preferências. Dessa forma, os planos de ação possuem metas. Entre estas estão: identificar e avaliar os pensamentos automá- ticos considerados obstáculos para o alcance dos objetivos terapêuticos do cliente, implementar resoluções para os problemas e obstáculos que podem ocorrer entre as sessões e praticar habilidades que foram trabalhadas na sessão. Princípio nº 14: a TCC utiliza uma variedade de técnicas para mudar o pensamento, o humor e o comportamento. Ao considerar a conceitualização cognitiva do caso, é possível selecionar um conjunto de técnicas e estratégias a fim promover a melhora do cliente, com a conquista dos objetivos da terapia. Para isso, podem ser utilizadas 37 diversas técnicas adaptadas de muitas modalidades psicoterapêuticas, como Terapia de Aceitação e Compromisso, Terapia Comportamental, Terapia Focada na Compai- xão, Terapia Centrada na Pessoa, Psicoterapia Psicodinâmica e Terapia do Esquema. RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA TCC A relação terapêutica pode ser compreendida como uma troca entre terapeuta e clien- te. Sua finalidade é promover o compartilhamento de pensamentos, crenças e emo- ções para aumentar a probabilidade de mudanças de vida. Para isso, a relação pre- cisa envolver uma atmosfera segura, aberta e sem julgamentos (Kazantzis, Datillio, & Dobson, 2017). Contudo, ela se difere do conceito de aliança terapêutica, sendo esta uma coalizão que se constrói na própria relação terapêutica, com a formação de um vínculo afetivo de apego positivo. (Kazantzis et al., 2017; Wenzel, 2021b). J. S. Beck (2022) instituiu quatro diretrizes principais para estabelecer uma relação terapêutica: 1) em todas as sessões, o terapeuta deve tratar todos o cliente da forma como gostaria de ser tratado; 2) ser um ser humano bom e auxiliar o cliente a se sentir seguro; 3) ter maior consciência sobre a normalidade dos clientes apresentarem desa- fios e 4) tanto terapeuta quanto cliente devem possuir expectativas razoáveis sobre o tratamento e o papel de cada um. Para isso, é necessário o desenvolvimento de habi- lidades básicas de aconselhamento por parte do terapeuta, como: empatia, aceitação do cliente, validação, compreensão acurada, acolhimento genuíno, interesse, valoriza- ção positiva, zelo, encorajamento, dar reforços positivos, realizar uma apresentação positiva sobre o cliente, ter compaixão e usar do humor. 38 De acordo com Wenzel (2021), especificamente na TCC, existem alguns recursos que foram desenvolvidos, em parte, com o desígnio de proporcionar uma relação terapêu- tica que possibilite mudanças positivas eficazes na vida dos clientes. Veja alguns dos recursos mais relevantes: • Colaboração: conforme mencionado, a colaboração entre cliente e terapeuta é um princípio fundamental da TCC. Os dois atores trabalham em uma espécie de equi- pe, tomando decisões conjuntas, desde o processo de conceitualização até a fina- lização da terapia, percorrendo pelo Plano de Ação, estruturação da sessão e uso de estratégias e técnicas, entre outros. Desse modo, por se tratar de abordagem terapêutica ativa, a ação conjunta do terapeuta e do cliente garante que as sessões sejam focadas, eficientes e produtivas. Por fim, por meio do estabelecimento de uma postura colaborativa, almeja-se que os clientes sintam que sua contribuição é valorizada e que trabalham com um profissional que investe em seu bem-estar e progresso. • Solicitação de feedback: realizar a solicitação regular de feedback do cliente é im- prescindível na TCC. Comumente, dois momentos da sessão são relevantes para o feedback: 1) no início da sessão atual, quando o terapeuta requisita um feedba- ck para fazer uma ponte com sessão anterior e 2) no final da sessão, quando é demandado um resumo final do que foi trabalhado no atendimento em questão. Em ambos os casos, Wenzel (2021b) sugere que os terapeutas, ao solicitarem um feedback, avancem em direção para o aprendizado que o cliente conquistou. Isso permitirá que seja revelado aspectos das mudanças terapêuticas e possibilitará 39 uma intervenção para que se solidifique o novo conhecimento do cliente. Exem- plos de perguntas indicadas pela autora são: “O que você tirou da sessão anterior que, em última análise, fez a diferença em sua vida?” ou “O que você aprendeu hoje que espera observar ou viver entre as sessões?”. Essas perguntas fornecem informações acerca da relação terapêutica, que pode envolver um fortalecimento benéfico para o tratamento ou rupturas, o que necessitará de reestabelecimento e aprimoramento. Além disso, regularmente, é necessário que o terapeuta verifique sua compreensão acerca do que é relatado pelo cliente para se certificar da pre- sença de dados precisos para, assim, avançar com o uso de estratégias e técnicas coerentes ao caso. Um exemplo de pergunta indicado pela Wenzel (2021) é: “O que estou ouvindo você dizer é [insira o sentimento ou ideia que o cliente expressou/ relatou]. Eu estou correto?”. Por fim, o terapeuta deve verificar com os clientes se o entendimento dele foi equivocado sobre algo que foi dito ou se o cliente ao longo da sessão experienciou alguma emoção desagradável ou algo lhe pareceu aversivo ou desencorajador. Realizar questionamentos desse tipo possibilitará a correção de erros que podem prejudicar a relação terapêutica e transmitirá ao cliente que o terapeuta possui disposição para escutá-lo honestamente e de forma acolhedora, mesmo quando se trata de possíveis prejuízos na relação dos dois. • Respeito pelas diferenças individuais: os terapeutas devem respeitar as diferen- ças individuais, ou seja, as características psicológicas que tornam cada pessoa única. Tal respeito valoriza as forças e tendências pessoais que influenciam no contexto do cliente para perceber o eu, os outros, o mundo e o futuro. Desse modo, a relação terapêutica será fortalecida, pois poderá aumentar a compreensão de um olhar acolhedor e de aceitação por parte do terapeuta, possibilitando a concor- dância do cliente sobre um novo olhar acerca da visão que possui sobre sua vida. Ademais, J. S. Beck (2022) destaca a relevância do terapeuta ter flexibilidade, pois é preciso adaptar a relação terapêutica para cada cliente, tornando-a singular, prin- cipalmente ao considerar fatores como questões socioculturais. • Descoberta guiada: Wenzel (2021) destaca um problema conceitual no campo daTCC relacionado à descoberta guiada, considerando-a tanto um construto quanto uma estratégia. Esse conceito refere-se ao processo no qual os terapeutas ques- tionam os clientes para identificar seus principais pensamentos e crenças asso- ciados ao modo como se sentem em situações específicas. Por outro lado, tam- bém abrange um processo de questionamento socrático, direcionado a auxiliar 40 o cliente a adotar uma perspectiva mais adaptativa em relação a uma situação. Para Wenzel (2021), a descoberta guiada visa alcançar dois objetivos essenciais. Primeiramente, ela auxilia na identificação dos significados mais fundamentais associados às situações que desencadeiam reações emocionais significativas. Em segundo lugar, busca orientar o questionamento de modo a alcançar uma in- terpretação realista e útil dos eventos da vida. Esse processo envolve a relação terapêutica, à medida que o terapeuta demonstra curiosidade sobre a experiência subjetiva do cliente. Além disso, transmite esperança, indicando a possibilidade de redução do sofrimento. A descoberta guiada facilita a compreensão do cliente de que há uma verdade ou coerência em sua vivência de determinados eventos e, por fim, promove maior confiança na terapia para redução ou resolução dos proble- mas que o levaram a buscar ajuda. 41 ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS De modo não exaustivo, confira algumas das estratégias e técnicas da TCC, com base em A. T. Beck et al. (2017) e (J. S. Beck, 2022). ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS EM TCC 1. Descoberta guiada: permite que o paciente reconheça padrões disfuncionais este- reotipados de interpretação. Esta pode assumir a forma de diálogo socrático, no qual o terapeuta faz questionamentos cognitivos para reunir dados e ajudar o cliente a observar níveis mais profundos de significado. 2. Psicoeducação sobre processos cognitivos e modos de pensamentos, sentimentos e comportamento, assim como objetivos e necessidades normais. 3. Registro, planilha e/ou representação gráfica, incluindo situações, pensamentos automáticos, emoções, evidências e pensamentos alternativos. 4. Rotulação de inferências imprecisas ou distorções, para conscientizar o paciente sobre o viés ou a falta de razoabilidade de determinados padrões automáticos de pen- samento. Examinar os prós e contras ou as vantagens e desvantagens é outra forma de aumentar a consciência do viés. 5. Descoberta colaborativa. A aplicação da curiosidade na forma de testes compor- tamentais para ajudar o cliente a avaliar a validade ou viabilidade de suas crenças, interpretações e expectativas. 6. Exame de possíveis explicações para o comportamento das pessoas. 7. Situar as experiências em um continuum para traduzir interpretações extremas para termos dimensionais e combater o pensamento dicotômico ou catastrófico. 8. Construção de gráficos em pizza com a responsabilidade por ações e resultados para reduzir as atribuições de controle excessivo. 9. Brainstorming e articulação de crenças e opções positivas, com a finalidade de construir ideias de uma forma positiva ou adaptativa. Essa técnica pode incluir a iden- tificação e avaliação dos pontos fortes e das fontes de resiliência, assim como a dis- 42 10. Análise das informações nos diários de esquemas. Esses registros em diário vi- sam reunir informações específicas relacionadas aos esquemas para abordar uma ou mais funções: (a) armazenar novas observações que contrariem o esquema antigo; (b) comparar a realidade com as previsões relacionadas ao esquema; ou (c) comparar o esquema antigo ao novo ao responder a incidentes cruciais, bem como acumular dados que apoiem o fundamento e a disponibilidade de um novo esquema mais adap- tativo para os pontos fortes. 11. Definição de ideias ou construtos relevantes ao autoconceito ou à atual situação do cliente para aumentar a autocompreensão, a avaliação da multidimensionalidade e a autoaceitação. Coletar dados por meio de instrumentos de avaliação como, por exemplo, medidas de sintomas, inventários, ou outras listas de verificação psicológi- ca, podem ser muito úteis para agregar estrutura e flexibilidade ao construto cognitivo dos clientes. 12. Construção de cartões de enfrentamento para dar um estímulo à memória e orien- tação imediata na forma de interpretações alternativas quando ocorre sofrimento emocional ou em outras situações específicas. 13. Questionamento cognitivo deve ser usada na discussão terapêutica para voltar a atenção para os argumentos cognitivos de incidentes emocionalmente estimulantes. 14. Tomada de decisão ao fazer uma lista dos prós e contras para cada opção a ser utilizada em uma solução de problemas. 15. Registros de atividades, que permitem a identificação retrospectiva e o planeja- mento prospectivo de mudanças, incluindo avaliação dos níveis básicos de ativação e direcionamento dos objetivos, bem como a satisfação com a produtividade diária. 16. Programação de atividades, para aumentar a eficácia pessoal em áreas como emoções positivas (domínio e prazer), independência (desenvolvimento de habilida- des), relações sociais (intencionais, recíprocas) ou propósito (valores ou significados pessoais). 17. Ensaio comportamental, modelação e treinamento de assertividade para o desen- volvimento de habilidades para responder de maneira mais eficaz a situações desafia- doras ou estressantes. 43 18. Treinamento de relaxamento e técnicas de redirecionamento comportamental, para uso quando a ansiedade ou a preocupação aumentam durante os esforços para mudar. 19. Exposição in vivo, organizada para que o terapeuta auxilie o paciente a confrontar um estímulo que tem a probabilidade de desencadear um esquema problemático e apoie o esforço de experimentar e responder efetivamente às cognições problemáti- cas. Alternativamente, a exposição imagética pode ser útil em situações específicas que sejam difíceis de organizar in vivo. 20. Tarefas graduadas, para que o paciente possa vivenciar as mudanças como um processo passo a passo progressivo durante o qual a dificuldade de cada componen- te possa ser ajustada e seu domínio seja alcançado em etapas. 21. Análise da cadeia comportamental para auxiliar o cliente a decompor sequências de problemas e desenvolver ideias para alternativas de resposta em cada etapa da sequência. 22. Manejo do tempo e da rotina, a fim de auxiliar o paciente a definir prioridades no uso de seu tempo, organizando rotinas efetivas para atividades da vida diária e para alocar uma parte realista do tempo em diversos eventos e tarefas. 23. Controle de estímulos – ou a alteração intencional de sinais, para provocar as respostas e os comportamentos desejados e criar condições que desestimulem com- portamentos desadaptativos. 24. Manejo de contingências, para ligar sistematicamente as recompensas ou o refor- ço positivo aos esforços desejados e diminuir os benefícios associados às respostas desadaptativas. 25. Reenquadramento, engajamento em comportamento de valor e autotranquiliza- ção: promover a adoção de atividades prazerosas e autotranquilizadoras, exercícios de relaxamento ou de atenção plena (mindfulness). Por exemplo, o cliente pode ter um foco para uma tarefa atual, para sua experiência imediata, para seu corpo ou res- piração, ou para suas aspirações e planejar trabalhar voltado para essas aspirações. Além disso, pode engajar em atividades valorosas que envolvem os propósitos da vida 44 26. Role-play: estímulo ao desenvolvimento de habilidades em comunicações inter- pessoais, como no “treinamento de assertividade”. Quando o role-play envolve um tema emocionalmente carregado, esquemas disfuncionais costumam ser ativados e ficam disponíveis para modificação. No role-play invertido, o terapeuta pode “mode- lar” o comportamento apropriado e auxiliar o cliente na reflexão sobre o impacto de seus esquemas e estratégias comportamentais. Esse jogo de papéis invertidos é um componente crucial do treinamento da empatia. NOVOS DIRECIONAMENTOSNO CAMPO DA TCC De acordo com (Wenzel, 2021), atualmente, diversos teóricos, pesquisadores e clíni- cos consideram que as psicoterapias baseadas em evidências encontram-se em um movimento denominado de “terceira onda”, que possui duas características relevan- tes: 1) foco na função e não na forma (p. ex., maior destaque para propósitos e conse- quências dos pensamentos ao invés da modificação dos conteúdos dos pensamen- tos e crenças e 2) concentração em processos que envolvem a aceitação e a atenção plena em oposição ao foco excessivo no alcance da mudança cognitiva e comporta- mental e na redução de sintomas. Entretanto, há uma discordância sobre a existência de uma “terceira onda” das psicoterapias com a justificativa de que as abordagens atuais (p. ex., Terapia de Aceitação e Compromisso, Terapia Comportamental Dialéti- ca) envolvem manifestações dos mesmos princípios subjacentes das psicoterapias que foram desenvolvidas anteriormente (p. ex., Terapia Cognitivo-Comportamental e Terapia Racional-Emotiva Comportamental). Apesar da divergência entre as opiniões, Wenzel (2021a) ressalta que o campo contemporâneo da TCC tem sofrido forte influ- ência do desenvolvimento de novos olhares acerca das psicoterapias ao incorporar compreensões e uso de estratégias e técnicas que engloba o contexto, função, acei- tação e atenção plena. Neste e-book, serão ressaltadas duas recentes abordagens no campo da TCC: A Te- rapia Cognitiva Orientada para a Recuperação (CT-R) e a Terapia Cognitivo-comporta- mental Baseada em Processos (PBT). 45 Com base no modelo cognitivo de Beck, juntamente com a Teoria dos Modos, a CT-R (A. T. Beck, Grant, Inverso, Brinen, & Perivoliotis, 2022) foi desenvolvida para tratar indi- víduos que possuem transtornos mentais desafiadores, com condições psicopatológi- cas graves, como, por exemplo, casos com sintomas negativos, delírios, alucinações, desafios de comunicação, trauma, automutilação, comportamento agressivo e uso de drogas. Com uma sobreposição com outras abordagens (p. ex., Terapia de Aceita- ção e Compromisso, Entrevista Motivacional, Terapia Comportamental Dialética, Te- rapia Cognitivo-comportamental, Psicodinâmica, Humanismo e Psicologia Positiva), a CT-R busca desenvolver interesses, habilidades e potencialidades. Desse modo, são inclusos no tratamento a conceitualização de caso, a aprendizagem por meios ex- perienciais, o fortalecimento de crenças e ações positivas e o estabelecimento de uma relação terapêutica positiva consistente. De uma forma geral, a recuperação é a meta principal dessa abordagem. Ela pode ser definida em termos de conexão ou reconexão do indivíduo com outras pessoas e com os valores que o leva em direção à vida que deseja possuir (A. T. Beck et al., 2022). Resumidamente, a CT-R possui cinco componentes essenciais, confira: TERAPIA COGNITIVA ORIENTADA PARA A RECUPERAÇÃO 46 A PBT pode ser entendida como uma abordagem que utiliza, de maneira contextual e específica, os processos baseados em evidências relacionados aos procedimentos que desencadeiam mudanças positivas e significativas no tratamento. Seu objetivo é auxiliar os indivíduos na resolução de problemas e na busca por uma vida mais prós- pera e valiosa (Hofmann & Hayes, 2018). A PBT envolve uma mudança de paradigma, não envolvendo mais o pressuposto de que os sintomas dos clientes estão relacio- nados diretamente às entidades subjacentes e latentes das doenças, conforme é de- fendido pelo DSM-5 (American Psychiatric Association, 2014). Desse modo, é consi- derado uma diversidade de dimensões, como afeto, cognição, comportamento, self e atenção, e níveis, como fatores socioculturais, biológicos e psicológicos. Exemplos de estratégias terapêuticas testadas empiricamente que focam no processo são: manejo de contingências, controle de estímulos, modelagem, autogerenciamento, redução da excitação, enfrentamento e regulação emocional, solução de problemas, exposição, ativação, competência interpessoal, reavaliação cognitiva, modificação de crenças centrais, defusão cognitiva, aceitação psicológica, escolha e explicitação de valores, prática de atenção plena (mindfulness), estimulação da motivação e manejo de crises suicidas (Hayes & Hofmann, 2020). TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL BASEADA EM PROCESSOS 47 Esperamos que o e-book Terapia Cognitivo-Comportamental: da teoria à prática tenha produzido valiosas contribuições para a sua prática profissional. Buscamos sinteti- zar conteúdos fundamentais acerca da TCC. Desse modo, sugerimos a busca pelas produções que constam nas referências, bem como a procura por outros materiais de apoio a fim de obter uma compreensão mais específica sobre as particularidades elementares dessa abordagem teórico-prática. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE ESTE E-BOOK Nilton Correia dos Anjos Filho Doutorando e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Terapeuta Cognitivo-comportamental e Especialista em Saúde Mental pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Pesquisador Membro do Parapais - Grupo de Pesquisa sobre Parentalidade e Desenvolvimento Socioemocional na Infância/UFBA). Carmem Beatriz Neufeld Psicóloga, Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental - LaPICC-USP. Pesquisadora Associada do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - USP. Presidente da Federação Latino Americana de Psicoterapias Cognitivas e Comportamentais - ALAPCCO (2019- 2022). Presidente da Associação de Ensino e Supervisão Baseados em Evidências (2020-2023). SOBRE O AUTOR SOBRE A EDITORA-CHEFE Como citar: Anjos Filho, N. C. dos & Neufeld, C. B (2021, dez.). Ebook Terapia Cognitivo-Comportamental: Da Teoria À Prática. Volume 1: História, Modelo Cognitivo e Conceitualização Cognitiva. Blog da Artmed. [Site]. 48 Este conteúdo foi útil para você? No nosso site, você encontra soluções para continuar se atualizando na área de Psicologia quando e onde quiser. Acesse o site e confira as opções de livros, cursos e programas de atualização para se aprimorar profissionalmente: www.artmed.com.br http://www.artmed.com.br 49 American Psychiatric Association. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 (5 ed). Porto Alegre: Artmed. Beck, A. T. (1967). Depression: Causes and treatment. Philadelphia: University of Pennsylvania Press. Beck, A. T. (1996). Beyond belief: A theory of modes, personality, and psychopathology. In P. M. Salkovskis (Ed.), Frontiers of cognitive therapy (pp. 1–25). New York: The Guilford Press. Beck, A. T. (2019). A 60-Year Evolution of Cognitive Theory and Therapy. Perspectives on Psychological Science, 14(1), 16–20. https://doi.org/10.1177/1745691618804187 Beck, A. T., & Alford, B. A. (2011). Depressão: causas e tratamento (2 ed). Porto Alegre: Artmed. Beck, A. T., Davis, D. D., & Freeman, A. (2017). Terapia cognitiva dos transtornos da personalidade (3rd ed.; A. T. Beck, D. D. Davis, & A. Freeman, Eds.). Porto Alegre: Artmed. Beck, A. T., & Dozois, D. J. A. (2011). Cognitive Therapy: Current Status and Future Directions. Annu. Rev. Med, 62, 397–409. https://doi.org/10.1146/annurev- med-052209-100032 Beck, A. T., Finkel, M. R., & Beck, J. S. (2020). The Theory of Modes: Applications to Schizophrenia and Other Psychological Conditions. Cognitive Therapy and Research, 45(3), 391–400. https://doi.org/10.1007/s10608-020-10098-0 Beck, A. T., Grant, P., Inverso, E., Brinen, A. P., & Perivoliotis, D. (2021). Recovery-oriented cognitive therapy for serious mental health conditions. New York: The Guilford Press. REFERÊNCIAS 50 Beck, A. T., Grant, P., Inverso, E., Brinen, A. P., & Perivoliotis, D. (2022). CT-R - Terapia cognitiva orientada para a recuperação
Compartilhar