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AULA 5 BASES EPISTEMOLÓGICAS, TEÓRICAS E EMPÍRICAS DA PSICOTERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL Profª Andréia Cristina dos Santos Kleinhans 2 INTRODUÇÃO Estrutura das sessões A Terapia Cognitiva é considerada uma abordagem com delineamento breve e que apresenta sessões semiestruturadas (considerando-se a flexibilidade). Além disso, é fortemente desenvolvida com base na aliança terapêutica segura. Esse modelo de terapia foi desenvolvido por Aaron Beck na década de 1950 e hoje é considerado a abordagem mais estudada no mundo e que se apresenta como uma prática baseada em evidência clínica. Nesta aula, veremos o planejamento do tratamento dentro do modelo estruturado de acordo com os axiomas e os princípios da terapia beckiana. Falaremos sobre a sequência e a extensão do tratamento, assim como as orientações para o adequado aproveitamento da sessão. Utilizaremos como base científica as instruções de J. Beck. A autora traz em seu livro importantes informações sobre o início de tratamento, sessões intermediárias e sessões finais. TEMA 1 – ESTRUTURA DA SESSÃO INICIAL E METAS A estrutura da sessão é realizada desde o primeiro encontro com o paciente. J. Beck (1997, p. 41) ressalta a importância de o terapeuta organizar- se com as seguintes metas: [...] Em preparo à primeira sessão, o terapeuta revisa a avaliação inicial do paciente. Um exame diagnóstico completo é essencial para planejar efetivamente um tratamento, pois os tipos de transtornos Eixo I e Eixo II (de acordo com o DSM) ditam como a terapia cognitiva padrão deveria ser variada para o paciente. Atenção aos problemas que o paciente apresenta, funcionamento atual, sintomas e história ajudam o terapeuta a fazer uma conceituação inicial e formular um plano de terapia geral. O terapeuta anota os itens de agenda que ele deseja cobrir durante uma sessão inicial em uma folha de notas de terapia [...] A seguir, apresentam-se as metas do terapeuta para a sessão inicial. 1. Estabelecer confiança e rapport. 2. socializar o paciente na terapia cognitiva. 3. Educar o paciente sobre seu transtorno, sobre o modelo cognitivo e sobre o processo de terapia. 4. Regularizar as dificuldades do paciente e instaurar a esperança. 5. Extrair (e corrigir, caso necessário) as expectativas do paciente com a terapia. 6. Coletar informações adicionais sobre as dificuldades do paciente. 7. Utilizar essas informações para desenvolver uma lista de metas. (Beck, 1997, p. 41) 3 Em seguida, a autora enumera o passo a passo para a estrutura da sessão, dessa vez, abrangendo a lista de metas terapêuticas que a dupla terapêutica irá trabalhar ao longo das sessões. De acordo com Beck (1997, p. 41), a estrutura recomendada inclui os seguintes itens: [...] 1. Estabelecer a agenda (e prover um embasamento lógico para fazer isso). 2. Fazer uma checagem de humor, incluindo escores objetivos. 3. Revisar brevemente o problema presente e obter uma atualização (desde a avaliação). 4. Identificar problemas e estabelecer metas. 5. Educar o paciente sobre o modelo cognitivo. 6. Identificar as expectativas do paciente em relação à terapia. 7. Educar o paciente sobre seu transtorno. 8. Estabelecer a tarefa de casa. 9. Prover um resumo. 10. Obter o feedback. Há consenso entre os passos a serem seguidos para a primeira sessão em terapia, bem como para as sessões intermediárias e sessões finais, embora para as sessões iniciais, em que são acrescentados também os itens sobre psicoeducação sobre o modelo cognitivo e sobre o transtorno, nos demais passos os autores recomendam: 1. cumprimentos; 2. verificação do humor; 3. estabelecer agenda; 4. revisão da tarefa; 5. conduzir o trabalho levando-se em consideração os itens acordados para a agenda da sessão; 6. programação de nova tarefa de casa; e 7. resumo e feedback (J. Beck, 1997; Wright, Basco e Thase, 2008; Dobson e K. Dobson, 2010). Para as sessões finais, o terapeuta irá trabalhar com a prevenção de recaída e preparar o paciente para o término da terapia. Uma parte essencial das primeiras sessões é a de psicoeducar o paciente para o modelo cognitivo como salienta J. Beck (1997, p.47): “uma importante meta geral da terapia cognitiva é ensinar o paciente a tornar-se seu próprio terapeuta cognitivo”. O terapeuta fala sobre o enquadramento tríplice (pensamento, sentimento, comportamento) utilizando o próprio relato fornecido pelo paciente. Sobre ensinar o paciente a ser seu próprio terapeuta, os autores Wright, Basco e Thase (2008, p. 69) comentam que: [...] Existem três razões principais pelas quais aprimorar suas habilidades para ensinar podem ajudar a maximizar sua eficácia como terapeuta cognitivo-comportamental. Primeiro, a TCC baseia-se na ideia de que os pacientes podem aprender habilidades para modificar cognições, controlar os estados de humor e fazer mudanças produtivas em seu comportamento. Seu sucesso como terapeuta reside em parte em quão bem você ensina essas habilidades. Segundo a psicoeducação eficaz durante todo o processo de terapia deve instrumentalizar os pacientes com conhecimento que os ajudará a reduzir o risco de recaída. Finalmente, a TCC é dirigida para ajudar os 4 pacientes a se tornarem seus próprios terapeutas. É preciso educar os pacientes sobre como continuar a utilizar os métodos de autoajuda cognitivos e comportamentais após a conclusão da terapia. Além da psicoeducação sobre o modelo cognitivo, nas sessões iniciais serão abordadas informações sobre o transtorno (quando o paciente vem com o diagnóstico médico), o terapeuta trabalha de forma colaborativa e se certifica de tempo em tempo a compreensão do paciente sobre os assuntos abordados. O processo de psicoeducação é contínuo em terapia cognitiva, sendo utilizado sempre que necessário de maneira maleável. Sobre esse assunto, as autoras Dobson e K. Dobson avaliam que: [...] Alguns clientes que vem para a psicoterapia estão convencidos de que um “desequilíbrio bioquímico” é a causa de seus sintomas. Tal crença tipicamente leva a pensamentos relativos à falta de controle e sentimento de desamparo. Um cliente que comece a entender alguns dos precursores e gatilhos dos sintomas depressivos em geral normalmente também considera como as informações se aplicam a suas próprias situações. Os benefícios da psicoeducação também incluem a sensação de alívio dos clientes pois alguém escreveu sobre seus problemas pesquisou-os e os discutiu, levando a sentimentos de validação, apoio e esperança. Os clientes que são expostos a tais materiais podem fazer frases como “Eu sei que não estou só”, “Meus problemas são mais comuns do que eu pensava” e “Muitas pessoas melhoram com esse tratamento. Por isso, minha tendência é sentir-me melhor depois desta terapia”. (Dobson e K. Dobson, 2010, p. 73) Além da psicoeducação, a dupla terapêutica trabalhará no desenvolvimento das metas terapêuticas. Os autores cognitivistas concordam que o estabelecimento de metas é um importante passo na estrutura da sessão, e há consenso sobre a necessidade de atenção por parte do terapeuta para auxiliar o paciente a construir metas claras, o que nem sempre é um exercício fácil de ser realizado, como comentam os autores J. Beck (1997); Wright, Basco e Thase (2008); Dobson e K. Dobson (2010). Dobson e K. Dobson (2010) detalham oito passos para o estabelecimento de metas. No primeiro passo, as autoras ressaltam que o terapeuta auxilie o paciente a escrever metas coerentes com a lista de problemas, embora o terapeuta possa ajudar a criar metas dentro dos desejos do paciente para a terapia, é necessário pontuar quando as metas terapêuticas estão incongruentes com as dificuldades relatadas. No segundo passo, o terapeuta se atenta para metas que possam aliviar o sofrimento em um curto prazo, para que se aumente a confiança e a concordância com o modelo cognitivo-comportamental.5 Em seguida, no terceiro passo, as autoras comentam que é “importante também estabelecer maneiras de avaliar os resultados, de modo que o cliente saiba quando estes tiverem sido bons” (Dobson e K. Dobson, 2010, p. 57). No passo seguinte, as autoras comentam que muitos pacientes têm grande dificuldade para desenvolver metas claras, em situações como essa, elas recomendam que o terapeuta ajude o paciente a criar as metas de curto prazo. Nos passos seguintes, o terapeuta orienta para a construção de meta que potencialize algo de bom e, por outro lado, minimize algo de ruim. No sexto passo, para a construção das metas, as autoras explicam que as metas podem ser divididas em afetivas, comportamentais, cognitivas, interpessoais e ambientais, e, para cada uma delas, é possível pensar em tarefas simples que atinjam o objetivo. O sétimo passo fala do desenvolvimento de metas especificas, mensuráveis, atingíveis, realistas e que possam ser avaliadas no futuro próximo. Por fim, segundo as autoras, as metas podem ser divididas em imediatas, de curto prazo, médio e longo prazo. Sobre a estrutura e curso da sessão, J. Beck (1997) chama atenção para a possível situação: [...] Se o paciente está tomando medicação para seus problemas psicológicos, se a medicação é indicada ou se ele está atualmente abusando de álcool ou drogas, o terapeuta também acrescenta esses tópicos relevantes à agenda. Antes de descrever um elemento de sessão, é preciso fazer uma advertência. Se o paciente está sem esperanças e apresenta tendência suicida, as metas e a forma da primeira sessão (ou de qualquer sessão) são modificadas. É de importância primordial avaliar o grau de tendência suicida do paciente, descobrir o que o deixa tão sem esperanças e solapar essa desesperança. [...] Intervenção em crise também assume precedência sobretudo o mais quando o paciente está em perigo por parte de outros ou constitui um perigo potencial para outros. (J. Beck, 1997, p. 42) A autora comenta ainda que a construção da confiança e o estabelecimento do rapport se iniciam já na primeira sessão, por meio da escuta atenciosa, comportamento empático, o terapeuta demonstra de forma firme, porém, afetuosa que se preocupa e valoriza o paciente e o seu sofrimento, reafirma que é capacitado para auxiliá-lo por meio da terapia cognitiva. TEMA 2 – CRIANDO A AGENDA DE TERAPIA Estabelecer agenda em Terapia Cognitiva faz parte da estrutura da sessão. A agenda, nesse caso, é o roteiro da sessão a partir das metas 6 terapêuticas e lista de dificuldades desenvolvidas pelo paciente com o auxílio do terapeuta. Muitos terapeutas apresentam certa dificuldade em estabelecer a agenda de sessão, assim, Wright, Basco e Thase (2008, p. 62) orientam para que o estabelecimento da agenda apresente algumas características, a saber: [...] 1. Os tópicos da agenda se relacionam diretamente com as metas gerais da terapia. As agendas das sessões devem ajudá-lo a atingir as metas do tratamento. Se você achar que um tópico da agenda não está ligado às metas gerais da terapia, considere revisar a agenda da sessão ou a lista das metas. Talvez o tópico da agenda seja supérfluo ou tenha relevância limitada para o curso geral da terapia. Por outro lado, a sugestão de um tópico sugerido da agenda poderia apontar para uma meta nova ou reformulada. 2. Os tópicos da agenda são específicos e mensuráveis, tópicos bem-definidos da agenda podem ser, por exemplo: - desenvolver maneiras de enfrentar a irritabilidade do chefe; - reduzir a procrastinação no trabalho; e - conferir o progresso com a tarefa de casa da semana anterior. Tópicos vagos ou excessivamente gerais que exigiriam maior definição ou reformulação podem ser: minha depressão; sentir-se cansado o tempo todo; minha mãe. 3. Os tópicos da agenda podem ser abordados durante uma única sessão, havendo uma probabilidade razoável de que se tire algum benefício. Tente ajudar o paciente a selecionar os tópicos, ou redefinir os tópicos, de modo que o progresso seja possível em uma única sessão. Se o tópico parecer muito grande ou exagerado, pegue uma parte dele para trabalhar na sessão ou refaça o tópico em termos que sejam mais manejáveis. Para ilustrar, um tópico difícil de manejar sugerido para o Janet (“Não quero me sentir rejeitada o tempo todo”) foi reformulado para torná-lo possível de ser trabalhado em uma única sessão (“desenvolver maneiras de enfrentar os sentimentos de rejeição”). 4. Os tópicos da agenda contêm um objetivo atingível. Em vez de ser simplesmente um item de discussão (p. ex., problemas com os filhos, meu casamentos, lidar como estresse), o tópico inclui alguma possível medida de mudança ou leva o terapeuta e o paciente a trabalharem em um plano especifico de ação (p. ex., o que fazer quanto aos problemas de minha filha na escola, discutir menos e dividir algumas atividades com meu marido, reduzir a tensão no trabalho). O estabelecimento da agenda é considerado um pilar no processo da estrutura da sessão, entretanto, os autores ressaltam que estabelecer uma agenda sistematicamente poderá impedir a criatividade e a fluidez do diálogo terapêutico. Nesse caso, segundo os autores, é necessário flexibilizar e prestar atenção no comportamento verbal e não verbal do paciente, caso o terapeuta perceba que o assunto poderá gerar desconforto e quebra de vínculo, é melhor mudar de tópico, por outra via, se um assunto surgir e parecer importante conversar sobre ele, a dupla terapêutica discute sobre a inclusão desse novo tema (Wright, Basco e Thase, 2008). Sobre a importância de fazer a agenda no início da sessão e trabalhar os pontos principais como mencionados anteriormente, Knapp (2004, p. 36) esclarece que: 7 [...] A prática de fazer conjuntamente uma agenda no início de cada sessão com o(s) tópico(s) que ambos consideram mais importantes para serem trabalhados naquele momento específico possibilita extrair o máximo proveito de cada sessão. Uma agenda de comum acordo, no entanto, não previne que o paciente tente adotar mecanismos de resistência ao trabalho terapêutico, como fazer digressões inúteis e despropositadas ao objetivo do tratamento e ao foco da sessão. O terapeuta deve, de forma gentil, mas firme, ajudar o paciente a retornar ao foco da pauta proposta no início da sessão. Quando um tópico importante, que não é emergencial, aparece apenas no final da sessão, quando não há mais tempo (o que também é uma forma de resistência), o assunto é anotado para ser lembrado na elaboração da agenda na próxima sessão. A pergunta explícita no começo da sessão “O que você (ou nós) gostaríamos de trabalhar na sessão de hoje?” cria no paciente o hábito de já pensar antecipadamente naquilo que irá tratar na sessão. O autor sugere uma sequência de perguntas que o paciente poderá fazer a si próprio sobre os temas da agenda. Por exemplo: [...] 1. Em qual problema eu quero trabalhar hoje? 2. Como estou me sentindo esta semana, em comparação com as outras semanas? 3. O que aconteceu esta semana que meu terapeuta deveria saber? 4. O que trabalhamos na última sessão? O que eu aprendi? 5. Alguma questão ficou em aberto? 6. Alguma coisa me incomodou na última sessão? 7. Estou com dificuldade de contar alguma coisa ao terapeuta? 8. O que eu fiz como tarefa/ exercício? O que eu aprendi com a tarefa? (Knapp, 2004, p. 37) Como a terapia cognitiva se baseia na colaboração, sempre que houver um ponto de discordância, o terapeuta poderá solicitar o feedback sobre a opinião do paciente a respeito do assunto. Manter o foco na agenda permite que os princípios da terapia sejam alcançados. As dificuldades que possam surgir no decorrer do processo poderão ser discutidas na supervisão clínica, recomendada para o aprimoramento da prática da terapia cognitiva. TEMA 3 – VERIFICAÇÃO DO HUMOR E TAREFA DE CASA A avaliação dos sintomas e a verificação do humor são uma parteimportante da estrutura da sessão. J. Beck (1997) recomenda que a avaliação dos sintomas seja feita logo no início da sessão. Há um conjunto de instrumentos validados, como escalas, questionários e inventários, que poderão auxiliar o clínico a acompanhar os parâmetros de alteração de humor ou sintomas de diversos transtornos. J. Beck (1997) recomenda o uso das escalas de Beck, entretanto, no Brasil é recomendado que o terapeuta consulte a lista de testes psicológicos com o uso liberado por meio de busca no endereço eletrônico do Conselho Regional 8 e Conselho Federal de Psicologia, isso porque alguns testes se encontram temporariamente indisponíveis, pois precisam passar por validação. Como exemplo, as escalas de Beck (BAI – Inventário Beck para ansiedade; BHS – Inventário Beck de Desesperança; BSI – Inventário Beck de Ideação Suicida). Os autores Gorenstein, Wang e Hungerbühler (2016) lançaram um livro com inúmeras escalas, questionários e inventários de uso gratuito que pode auxiliar o terapeuta na coleta dos sintomas. J. Beck (1997, p. 44) explica que: [...] Se testes objetivos não estão disponíveis, o terapeuta pode escolher dispender algum tempo na primeira sessão, ensinando o paciente a prover uma classificação para seu humor em uma escala de 0 a 100, 0 (zero) significa nenhuma depressão e 100 indica o mais deprimido que você já se sentiu?”) Na transcrição a seguir, o terapeuta terminou de estabelecer o roteiro e está no processo de avaliar o humor do paciente. T: Ok, próximo assunto. Que tal nós começarmos com como você passou esta semana? Posso ver os formulários que você preencheu? (Examina-os). Parece que você ainda está bastante deprimida e ansiosa; esses escores não mudaram muito desde a avaliação. Isso parece certo? P: Sim, eu acho que ainda estou do mesmo jeito. T: (Fornecendo embasamento lógico) Se estiver bem para você, eu gostaria que chegasse à cada sessão alguns minutos mais cedo para que possa preencher estes três formulários. Eles me ajudam a tem uma ideia rápida de como você se sentiu na semana anterior, embora eu também sempre vá pedir que você descreva com suas próprias palavras como passou. Isso está bem para você? P: Sim. O terapeuta anota o resultado somado dos testes objetivos e também rapidamente investiga itens individuais para determinar se os testes apontam algo importante para o roteiro, especialmente observando itens relacionados à falta de esperança e à tendência suicida. Sobre a avaliação do humor, os autores Wright, Basco e Thase (2008) comentam que o terapeuta poderá realizar a avaliação no início da sessão para facilitar o desenvolvimento da agenda de sessão. De acordo com os autores, o terapeuta pode realizar perguntas para que o paciente avalie como se sentiu na última semana, solicitando, em seguida, que compare com o estado do humor da semana que passou. J. Beck (1997) exemplifica da seguinte forma por meio de relato de caso: [...] TERAPEUTA: Olá Sally. Como você está hoje? PACIENTE: Um pouquinho melhor, eu acho. T: Posso dar uma olhada nos seus formulários? Enquanto eu os estou examinando, diga-me como foi a sua semana. P: Bem, eu me senti um pouco menos deprimida, eu acho. Mas muito mais ansiosa. Eu estive tão preocupada com a minha prova de economia que não consegui concentrar-me. T: Nós deveríamos colocar a prova no roteiro? (Socializando o paciente e brevemente especificar um problema a ser discutido posteriormente na sessão.) P: Sim. E eu também tive um problema com a minha colega de quarto. T: Ok, eu anotarei isso para discutirmos também. Alguma coisa mais que eu deveria saber sobre a sua semana? P: Eu acho que 9 não. T: Ok, de volta para a checagem de humor. Esses testes também mostram uma pequena queda na depressão e um aumento de ansiedade. Por que você pensa que está se sentindo menos deprimida? P: Eu me senti um pouquinho mais esperançosa. Eu acho que a terapia poderia ajudar-me. T: (Sutilmente reforçando o modelo cognitivo.) Então você teve pensamentos com “A terapia poderia ajudar” e esses pensamentos a fizeram se sentir mais esperançosa, menos deprimida? P: Sim... E eu pedi à Lisa - ela está na minha aula de química - para estudar comigo. Nós passamos umas duas horas ontem revisando algumas fórmulas. Isso me fez me sentir melhor, também: O que se passou pela sua cabeça quando você estava estudando com ela ontem: Que eu gostei dela. Que eu fiquei feliz de ter pedido e de que ela aceitou estudar junto... Eu entendo um pouco mais agora. T: Então, nós temos dois bons exemplos de porque você se sentiu melhor esta semana. Um, você teve pensamentos esperançosos sobre a terapia. E, dois, você fez algo diferente - estudar com Lisa - e isso me sugere que você deu a si mesma crédito por isso. P: É. T: Você pode ver como nesses dois casos pensar positivamente afetou o modo como você se sentiu esta semana?... Eu estou contente que você esteja um pouquinho melhor. Em alguns minutos vou querer falar sobre a trajetória da melhora, então nós vamos colocar isso no roteiro também. (J. Beck, 1997, p. 60) Junto à avaliação do humor, o terapeuta presta atenção nos possíveis pensamentos de ideação suicida, caso o humor esteja deprimido. A escuta atenciosa (princípio da TC) permite ao terapeuta acompanhar pequenas variações de humor ao longo dos relatos. Outro ponto essencial ressaltado é a necessidade do acompanhamento sobre o uso de medicamentos psicotrópicos, como: “se o paciente está tomando medicação para suas dificuldades psicológicas, o terapeuta verifica brevemente anuência, problemas, efeitos colaterais ou perguntas” (J. Beck, p. 62). Assim como a verificação do humor é componente da sessão em terapia cognitiva, a tarefa de casa também é considerada um item primordial para o seguimento das sessões estruturadas. Um dos objetivos principais da TC é ajudar o paciente a desenvolver novas habilidades e fortalecer seus pontos fortes e resilientes para que consiga lidar de forma flexível com suas dificuldades. Dessa forma, a tarefa de casa permite que o paciente desenvolva e treine maneiras diferentes de pensar, sentir e comportar-se. Sobre as novas aprendizagens estabelecidas por meio da terapia cognitiva, Sudak (2012, p. 25) explica que: a psicoterapia cognitivo-comportamental, pelo fato de ser baseada na aprendizagem de novas habilidades e ferramentas, produziria mudanças nos caminhos neuronais. Essas mudanças seriam mediadas pela expressão dos genes e induziriam mudanças na força sináptica e nos números que poderiam facilitar de forma durável a recuperação. 10 Os autores ressaltam que a tarefa de casa, portanto, permite que novas sinapses cerebrais sejam formadas. Assim sendo, o treino diário fortalece e melhora a comunicação neuronal (J. Beck 1997; Wright, Basco e Thase 2008; Dobson e K. Dobson, 2010). Wright, Basco e Thase (2008, p. 67) falam sobre os propósitos da tarefa de casa no contexto terapêutico: [...] Sua função mais importante é desenvolver habilidades em TCC para lidar com problemas em situação reais. Mas também é usada para dar mais estrutura à terapia, ao fazer da tarefa um item rotineiro de agenda para cada sessão e ao servir como uma ponte entre as sessões. Por exemplo, se foi sugerido na sessão anterior o preenchimento de um registro de pensamentos para uma situação estressante prevista (p. ex., reunir-se com o chefe, tentar enfrentar uma situação social temida ou tentar resolver um conflito com um amigo), essa tarefa seria colocada na agenda para sessão atual. Mesmo se o paciente não completar a tarefa ou tiver dificuldade em realizá-la, geralmente há benefícios em discuti-la. Dobson e K. Dobson (2010, p. 75) afirmam que a atividade de tarefa de casa em psicoterapia cognitiva está relacionada a índices baixos de recaídas em pacientes com depressão leve a moderada. As autoras descrevem dicas para que a tarefa de casa seja realizadacom êxito, dentre elas: [...] 1. Certifique-se de que as decisões relativas ao trabalho de casa sejam colaborativas, e não decididas isoladamente pelo terapeuta ou pelo cliente. 2. Deixe tempo suficientemente livre ao final de cada sessão para discutir e desenvolver tarefas de casa. 3. Certifique-se de que haja compreensão mútua em relação à tarefa. Pode ser útil com que os clientes parafraseiem sua compreensão do que seja a tarefa de casa. 4. Ofereça uma boa lógica para a tarefa de casa, de modo que esteja claro como essa tarefa em particular está relacionada às metas gerais do tratamento. 5. Obtenha um compromisso, de parte do cliente, no que diz respeito à realização da tarefa. 6. A designação da tarefa deve ser específica e clara, e não geral (por exemplo, “pratique o contato olho no olho com três pessoas diferentes por dia”, e não “pratique as habilidades sociais não verbais”). 7. Avalie o sucesso pelos esforços do cliente e pelo processo de tarefas de casa, e não pelos resultados, algo que é coerente com o empirismo colaborativo (por exemplo, se o cliente praticou o contato olho no olho conforme o item 6, tal contato será considerado bem-sucedido, independentemente de as outras pessoas terem respondido positivamente). 8. Certifique-se de que o cliente disponha tanto dos recursos (por exemplo, funcionais, emocionais, motivacionais) para realizar a tarefa de casa. 9. Use os recursos de memória, tais como as folhas de tarefas de casa ou o formulário para prescrição de mudança. Os clientes podem ficar ansiosos na sessão e ter boas intenções de realizar a tarefa, mas genuinamente esquecer exatamente o que deveriam fazer. 10. Faça com que os clientes prognostiquem a probabilidade de que completarão a tarefa de casa. Se for algo próximo de 70%, considere mudá-la ou simplificá-la, ou encontrar uma estratégia que ampliar as chances de realização da tarefa. 11. Certifique-se de que você fará perguntas sobre a tarefa de casa na próxima sessão e reforce verbalmente os esforços dispendidos na 11 realização da tarefa. 12. Considere a possibilidade de designar uma tarefa de casa a você mesmo, a fim de que você possa modelar a realização da tarefa. Sua tarefa de casa inclui acessar material psicoeducacional e encontrar informações relevantes para os problemas do cliente. (Dobson e K. Dobson, 2010, p. 75) Algumas dificuldades podem surgir na realização da tarefa de casa. J. Beck (1997) cita problemas de ordem prática e/ou cognitivos (por parte tanto do paciente como também do terapeuta). Alguns problemas práticos citados incluem: o paciente deixar para fazer a tarefa de casa no último minuto, assim como esquecer o porquê realizar a tarefa de casa irá auxiliá-lo. Outra dificuldade prática que pode surgir é a desorganização. Nesse caso, o terapeuta auxilia o paciente com estratégias colaborativas, no intuito de aumentar a chance de ele preencher a atividade combinada, como criar um diagrama, escrever em uma agenda ou, ainda, enviar uma mensagem para o terapeuta quando concluída a tarefa. Dos problemas psicológicos que podem interferir na prática da tarefa de casa, J. Beck (1997) cita as previsões negativas que o paciente poderá ter sobre a tarefa, além disso, se o paciente superestimar a dificuldade, poderá não realizar a tarefa. Outro empecilho para a realização da tarefa é o perfeccionismo que possivelmente acionará crenças. Para todos os exemplos, J. Beck (1997, p. 264) esclarece que “se o paciente tem dificuldades em fazer sua tarefa de casa, o terapeuta usa esse problema como uma oportunidade para entender melhor o paciente”. TEMA 4 – PONTE ENTRE AS SESSÕES E O COMPASSO A ponte entre as sessões faz parte da estrutura da sessão. O terapeuta aborda temas trabalhados na sessão anterior para perceber a compreensão do paciente e ao mesmo tempo comparar os índices de humor e sintomas. J. Beck (1997, p. 62) explica da seguinte forma: [...] O propósito desse item é fazer uma breve verificação da percepção e entendimento do paciente a respeito da sessão anterior. Saber que será indagado sobre a sessão anterior motiva o paciente a se preparar para a sessão atual pensando sobre a terapia durante a semana. Se o paciente não recorda as suas reações ou os pontos importantes da sessão anterior, o terapeuta e o paciente fazem a resolução de problemas para que o paciente possa lembrar melhor o conteúdo da sessão atual. O terapeuta pode sugerir, por exemplo, que o paciente utilize o Relatório de Ligação de Sessão para se preparar para a sessão seguinte, mentalmente ou por escrito. [...] 1. Sobre o que nós 12 falamos na sessão anterior, o que foi importante? O que você aprendeu? (1 a 3 frases) 2. Houve algo que incomodou você na nossa última sessão? Qualquer coisa que você esteja relutante em dizer? 3. Como foi a sua semana? Como estava o seu humor, comparado a outras semanas? (1 a 3 frases) 4. Alguma coisa aconteceu nesta semana que seja importante discutir? (1 a 3 frases) 5. Que problemas você deseja colocar no roteiro? (1 a 3 frases) 6. Que tarefa de casa você fez? O que você aprendeu? A autora explica ainda que a ponte com a sessão anterior permite que o paciente traga para a agenda da sessão possíveis sentimentos ou percepções desagradáveis. Caso isso ocorra, o terapeuta poderá incluir itens a serem discutidos com intuito de levantar os pensamentos disfuncionais que possam ter surgidos. Cada elemento da estrutura da sessão corrobora com o andamento adequado do processo terapêutico, entretanto, quando isso não ocorre, os autores comentam que houve algum descompasso nas sessões, assim, a estrutura organizada permite o adequado aproveitamento do tempo da sessão com melhores resultados. Wright, Basco e Thase (2008, p. 66) falam sobre os sinais que ocorrem quando há descompasso das sessões: [...] 1. O tempo da terapia é utilizado de maneira ineficiente. Você percebe que há muitas digressões e que as sessões carecem de clareza ou foco preciso. As soluções possíveis incluem: -intensificar a atenção no estabelecimento de uma agenda bem-sintonizada; - solicitar e dar feedback; -revisar as metas gerais da terapia para ver se você está se mantendo no caminho para atingir tais metas; e -revisar uma sessão com um supervisor, para identificar e corrigir interferências. 2. Somente um item da agenda é coberto enquanto dois ou três itens importantes são negligenciados ou se dá a eles atenção apenas superficial. Há algumas ocasiões em que a decisão de passar uma sessão inteira em um item da agenda é o melhor caminho a tomar. Nessa situação, outros itens da agenda podem ser adiados até a próxima sessão. Contudo, um padrão geral de não abordar os itens listados da agenda sugere que você não está pensando adiantado e tomando decisões estratégicas quanto a como utilizar o item da terapia. [...] 3. Você tem dificuldades em tomar decisões de maneira colaborativa sobre o direcionamento da terapia. As decisões quanto ao compasso e ao timing estão sendo tomadas somente por você. O paciente não foi solicitado a dar feedback ou aceita passivamente todas as suas decisões e está satisfeito em deixar você sempre no lugar de condutor. Ou o paciente está controlando boa parte da sessão falando incessantemente sem ouvir ou aceitar seu feedback. Nesse tipo de situação, há um problema de equilíbrio na relação terapêutica. O fluxo e o compasso das sessões são otimizados quando a relação promove a tomada de decisão em conjunto quanto a: a) escolha de tópicos; b) quanto tempo e trabalho são gastos com um tópico; e c) quando passar para um outro tópico.4. A sessão termina sem nenhuma sensação de movimento ou ação que possa levar ao progresso. [...] Você desiste prematuramente de um tópico promissor. Esse problema de compasso é comumente observado em sessões conduzidas por 13 alunos de TCC. [...] 6. Suas habilidades em elaborar as perguntas e manejar as transiçõesda terapia precisa ser mais desenvolvida. Os autores recomendam que o terapeuta aprimore seu treino por meio de supervisões clínicas e práticas de estudos da abordagem. Wright, Basco e Thase (2008) recomendam que o terapeuta preencha a escala de terapia cognitiva que consta no final do livro. A primeira parte da escala levanta se o terapeuta está utilizando os recursos adequadamente no tocante: agenda; feedback; entendimentos; eficácia interpessoal; colaboração e ritmo; e uso eficiente do tempo. Já a segunda parte da escala aborda: conceitualização, estratégia e técnica; foco nas principais cognições ou comportamentos; estratégia para mudança; aplicação de técnicas cognitivo-comportamentais; e tarefa de casa. TEMA 5 – RESUMO DE FINAL DE SESSÃO E FEEDBACK O resumo e a solicitação de feedback são o desfecho da sessão de terapia, e reforça o componente de aprendizagem como visto anteriormente nesta aula. Ao realizar o resumo dos pontos principais da sessão o paciente se organiza para as atividades programadas de forma mais eficiente. Da mesma forma, a prática de solicitar e fornecer feedback fortalece a aliança terapêutica e permite a mudança no rumo terapêutico, caso necessário. J. Beck (1997, p. 72) fornece um modelo de como fazer um resumo final e obtenção de feedback: [...] T: Bem, nós temos apenas alguns minutos restando. Deixe-me resumir o que nos vimos hoje, e então eu perguntarei a você sobre sua reação à sessão. P: Ok. T: Parece que você teve mais pensamentos esperançosos nesta semana e então você se sentiu menos deprimida. Sua ansiedade aumentou, no entanto, porque você fez algumas previsões negativas sobre o seu exame. Contudo, quando nós examinamos as evidências de que você falhará, isso parece tão convincente. E você lembrou de várias boas estratégias para ajudar no seu estudo, algumas das quais você experimentará entre hoje e a nossa próxima sessão. Nós também discutimos o que você deveria relembrar se tiver uma recaída. Finalmente, falamos sobre identificar e avaliar seus pensamentos automáticos, o que é uma habilidade que nós continuaremos praticando em terapia. Isso inclui tudo aproximadamente? P: Sim. T: Alguma coisa que eu disse hoje incomodou você? Alguma coisa que você pensou que eu entendi errado? P: Eu estou um pouquinho preocupada com uma possível recaída. T: Bem, uma recaída é provável e se você de fato verificar que está sentindo-se significativamente pior antes da nossa próxima sessão, gostaria que você me chamasse. Por outro lado, é bem possível que você tenha uma outra semana melhor. P: Espero que sim. T: Nós deveríamos colocar o tópico “recaídas” no roteiro para a próxima semana? P: Sim, eu acho que sim. T: Ok, algo mais incomoda você ou sobressai na sessão de hoje? P: Não, exceto que, antes, eu não resolvi claramente o que eu poderia fazer para ajudar no meu 14 estudo. T: Talvez nós falemos mais sobre isto na próxima semana: Que ideias a prejudicaram para fazer uma boa resolução de problemas por conta própria. Ok? Então nos vemos na semana que vem. Assim como o resumo de sessão, a solicitação do feedback auxilia na estrutura da sessão, uma vez que permite o exercício dos princípios fundamentais em Terapia Cognitiva, ou seja, a terapia é baseada no empirismo colaborativo e na busca contínua do fortalecimento da relação terapêutica. J. Beck (1997, p. 55) comenta que “perguntar ao paciente se houve algo que o incomodou dá a ele a oportunidade de verbalizar e então testar suas conclusões”. A autora comenta ainda que o terapeuta poderá solicitar no relatório de sessão com as seguintes perguntas: [...] 1. O que você vivenciou hoje é importante para você lembrar? 2. Quanto você sentiu que poderia confiar no seu terapeuta hoje? 3. Houve qualquer coisa que incomodou você em relação à terapia hoje? Se houve, o que foi? 4. Quanta tarefa de casa você fez para a terapia hoje? Quão propenso você está a fazer a nova tarefa de casa? 5. O que você deseja certificar-se de abordar na próxima sessão? (J. Beck, 1997, p. 56) Wright, Basco e Thase (2008, p. 65) fornecem aos terapeutas várias dicas para dar o feedback: [...] Dê feedback que ajude os pacientes a se manterem nos itens da agenda. Você pode fazer comentários como “Acho que estamos nos desviando do assunto” ou “Você começou a falar de outro problema; antes de falarmos disso, vamos parar para pensar sobre como queremos usar o resto de nosso tempo hoje”. Dê feedback que melhore a organização, produtividade e criatividade da sessão de terapia. Identifique digressões, mas também preste atenção se parecer que uma descoberta inesperada ou não planejada for promissora. Seja verdadeiro. Estimule, mas não ultrapasse os limites ao elogiar o paciente. Tente fazer comentários construtivos que identifique os pontos fortes ou ganhos e também possam sugerir maiores oportunidades para a mudança. Tenha o cuidado de evitar dar feedback que possa fazer com que os pacientes pensem que você os está julgando negativamente ou não está feliz com seus esforços na terapia. Pode-se fazer um resumo dos principais pontos da sessão como um meio de dar feedback. No entanto, pode se tornar chato se você ficar sempre resumindo o conteúdo da sessão. Geralmente, é suficiente fazer um pequeno resumo uma ou duas vezes por sessão. Utilize o feedback como uma ferramenta de ensino. Seja um bom treinador e avise os pacientes quando estiverem desenvolvendo insight ou habilidades valiosas. Pode-se utilizar comentários como “agora estamos chegando lá” ou “você realmente fez essa tarefa de casa valer a pena” para ressaltar progressos ou aprendizagens que se espera que eles retenham. Em algumas situações, o terapeuta poderá não perceber os comportamentos de insatisfação do paciente, por exemplo, mudar muitas vezes de posição na poltrona ou agitar as pernas ou, ainda, emitir comportamentos de 15 ansiedade. Alguns comportamentos não verbais podem indicar que o paciente não está confortável na sessão, dessa forma, o momento do feedback permite que a dupla terapêutica possa identificar o que está causando o desconforto e trabalhar na busca por soluções para tais situações. Em um relato de caso descrito por J. Beck (1997, p. 56), podemos verificar como lidar com problemas de desconforto ou quebra de vínculo. [...] Ocasionalmente, algum paciente de fato tem uma reação negativa à primeira sessão de terapia. O terapeuta procura especificar o problema e estabelece seu sentido para o paciente. Então ele intervém e/ou marca o problema para intervenção na sessão seguinte, como no exemplo a seguir: T: Agora, houve qualquer coisa em relação a esta sessão que incomodou você: P: Eu não sei... Eu não estou certo de que esta terapia é para mim. T: Você acha que ela ajudará? P: Não, não realmente. Você vê, eu tenho problemas concretos. Não é apenas o meu pensamento. T: Eu fico satisfeito que você tenha me contado. Isso me dá a oportunidade de dizer que eu de fato acredito que você tem problemas concretos. Eu não quis sugerir que você não os tem. Os problemas com o seu chefe e os seus vizinhos e o seu sentimento de solidão... É claro, todos esses são problemas concretos; problemas sobre os quais nós trabalharemos juntos para resolver. Eu não penso que tudo o que nos precisamos fazer é examinar seus pensamentos. Eu peço desculpas se eu passei a você essa impressão. P: Está ok... É apenas que... bem, eu me sinto tão confusa. Eu não sei o que fazer. T: Você está disposta a voltar na próxima semana para que nós possamos trabalhar juntos sobre os sentimentos de confusão? P: Sim, eu acho que sim. T: A tarefa de casa também está contribuindo para este sentimento de confusão? ...Talvez. T: Você gostaria de deixá-la? Nós poderíamos apenas decidir agora que você não faça a tarefa de casa esta semana e nós a faremos juntos na nossa próxima sessão em vez disso. Ou você poderia levar esta folha para casa e decidir em casase você está se sentindo disposta a fazê-la. P: Eu apenas me sentiria culpada se eu a levasse para casa e não fizesse. T: Ok, então planejemos que você não a faça. Alguma outra coisa incomodou você na sessão de hoje? Como podemos perceber no relato de sessão, o terapeuta solicita o feedback ao mesmo tempo em que tenta compreender os pensamentos do paciente relacionados ao desconforto, criando uma oportunidade para fortalecer o vínculo terapêutico e realizar a escuta atenciosa. Para finalizar, é interessante ressaltarmos que o terapeuta usará a estrutura da sessão em terapia cognitiva, mas também buscará flexibilizar conforme as necessidades de cada paciente. A estrutura da sessão é um roteiro que permite o sucesso da terapia, porém, não poderá ser utilizada de maneira rígida ou, ainda, impedir que o paciente se sinta à vontade no setting terapêutico. O roteiro da terapia é realizado em conjunto, o resumo que o terapeuta elabora fará com que o paciente se sinta acolhido e que o terapeuta o ouça de maneira verdadeira. Finalmente, a solicitação do feedback permite a correção de 16 qualquer dificuldade que possa surgir por desatenção por parte do terapeuta ou ainda pela complexidade dos problemas que o paciente possa ter. 17 REFERÊNCIAS BECK, J. S. Terapia Cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 1997. DOBSON, D. E DOBSON, K. S. A terapia cognitivo-comportamental baseada em evidências. Porto alegre: Artmed, 2010. GORENSTEIN, C.; WANG, Y. P. e HUNGERBÜHLER, I. Instrumentos de avaliação em saúde mental. Porto Alegre: Artmed, 2016. SUDAK, D. M. Terapia cognitivo-comportamental na prática. (Tradução de R. C. Costa.). Porto Alegre: Artmed, 2008. ______. Combinando a Terapia cognitivo-comportamental a medicamentos: uma abordagem baseada em evidência. Porto Alegre: Artmed, 2012. WENZEL, A. Inovações em terapia cognitivo-comportamental: intervenções estratégicas para uma prática criativa. Porto Alegre: Artmed, 2018. WRIGHT; BASCO; THASE. Aprendendo a terapia cognitivo- comportamental: Guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2008.
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