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AULA 1 - História da psiquiatria

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PSIQUIATRIA I
HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA
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História da psiquiatria
Casos de perturbações mentais estão registrados por toda a História e são, desde as épocas mais remotas, citados por historiadores, poetas, pintores, escultores e médicos. 
Algumas figuras históricas conhecidas: os Imperadores Romanos Calígula e Nero, os reis franceses Clóvis II e Carlos VI, este último chamado de Carlos, o Louco, o qual acreditava ser feito de vidro e que inseria pequenas hastes de ferro em suas roupas a fim de prevenir que se partisse em pedaços. Eduard Einsten, filho do renomado físico Albert Einstein,  o lendário bailarino ucraniano Vaslav Nijinsky, e o prêmio Nobel de Economia Jonh Forbes Nash Jr.,  sofriam de Esquizofrenia.
O famoso pintor Vincent Van Gogh (1853-1890), sofria de crises de instabilidade de seu humor. Diversos historiadores afirmam que Van Gogh sofria "ataques epilépticos" o que para alguns seria o resultado do uso frequente de bebidas contendo absinto (Artemisia absinthium), substância que era utilizada para modificar a atividade cerebral e assim "estimular" atividades artísticas.
Houve diversas tentativas de estabelecer um diagnóstico para a doença de Van Gogh. Atualmente, o mais aceito é o Transtorno do Humor Bipolar, levando-se em consideração os estados depressivos, alternados de episódios eufóricos (ou maníacos) que lhe faziam mergulhar em um estado de humor de grande energia e paixão. Van Gogh cometeu suicídio aos 37 anos de idade.
· A palavra mania quer dizer loucura, então quando fala que tem mania é que você tem loucura no sentido psicótico, então é melhor substituir por ‘hábito’. 
Diversas denominações
· Possuídos por espíritos. 
· Mania ou furor insano. (Século V. AC- Euclides, Sófocles) 
· Sofrimento da alma. Perda das Faculdades Mentais. 
· Louco, lunático, lelé, maniático, tança, vesano, demente. 
· Alienado, insano (Pinel, Esquirol. Atendimento asilar). 
· No Brasil colonial e durante parte do Império, a ordem jurídica era determinada pelas Ordenações do Reino e nelas a loucura possuía várias denominações: "desassisados", "sandeus", "mentecaptos" ou "furiosos"; eram ali contemplados ainda os "desmemoriados" e os "pródigos
· Demente porque as doenças não tinham tratamento, então a doença evoluía e o paciente começava a perder a capacidade cognitiva – memoria, orientação, atenção 
O que é loucura¿ 
· Designa-se por louco aquele indivíduo cuja maneira de ser é “diferente” em comparação com uma outra maneira de ser considerada pela sociedade como “normal”.
· Porém com as diferenças: culturais, sociais, étnicas, filosóficas, religiosas existentes, como se poderia definir o que é um indivíduo normal?
· Nem sempre a loucura foi vista como uma doença ou um problema de integração social
· Assim como a conceituação de loucura, os cuidados dedicados as pessoas com transtorno de comportamento variaram no decorrer dos tempos, sempre influenciados por crenças, costumes, religião.
· Se alguém com 20 anos com as roupas típicas da Índia chegar no Brasil ele vai estar diferente do que é aqui, mas isso não significa que ele está louco, só que vive em uma realidade diferente da nossa. 
A DOENÇA MENTAL NA PRÉ-HISTÓRIA
· O homem primitivo atribuía todas as doenças a ação de forças externas, forças sobrenaturais, maus espíritos, bruxos, demônios e deuses 
· Acredita-se que nessa época as pessoas com distúrbios de comportamento eram atendidas em rituais tribais, para corrigir tal distúrbio. E em casos de insucesso, o indivíduo era abandonado a própria sorte.
ANTIGUIDADE
· Na Grécia e Roma antigas não existiam procedimentos ou espaços sociais destinados aos loucos 
· Os ricos permaneciam em suas residências e os pobres circulavam pelas ruas, onde recebiam caridade pública ou realizavam pequenos serviços 
· A sociedade atribuía as crises de agitação a forças sobrenaturais, decorrentes de possessões demoníacas 
· O individuo louco era visto como um problema familiar e não social 
· Na Grécia de 860 a.C. os sacerdotes recomendavam que os loucos fossem tratados com bondade e que lhes fossem proporcionados atividades físicas para que gastem a energia e fiquem tranquilos 
· Nessa mesma época, médicos, estudiosos tinham grande consideração pelos doentes, estes podiam desfrutar de ar fresco, água pura, luz solar. Mestres, alunos e doentes faziam caminhadas, encenações teatrais para melhorar o “humor”.
· No entanto os pacientes que não reagiam ao tratamento eram submetidos à inanição e a flagelação.
· Eles agrediam a pessoa para que o espírito ruim fosse embora 
· Se não fossem os médicos e sacerdotes não existiria nenhuma intervenção na saúde mental nessa época
IDADE MÉDIA
· Nessa época a loucura era vista com grande tolerância. Acreditava-se que o mundo era todo organizado de acordo com os desígnios de Deus. 
· Os loucos e os miseráveis eram considerados parte da sociedade e alvo de caridade. 
· Os doentes mentais eram chamados de lunáticos (do latim luna=lua), pois acreditava-se que a mente das pessoas era influenciada pelas fases da lua. Eram também considerados pecadores.
· Desfrutavam de relativa liberdade de ir e vir. 
· Doentes mentais mais graves ou agressivos eram acorrentados, escorraçados, submetidos a jejuns prolongados sob a alegação de estarem possuídos pelo “demônio”
· Muitas vezes eram submetidos a rituais religiosos de exorcismo.
IDADE MODERNA 
· Retomada de princípios racionalistas na observação e descrição das doenças mentais, em oposição ao misticismo religioso. 
· Nessa fase com o início do mercantilismo, formação de cidades e concentração da população, começaram a surgir os problemas sociais e sanitários, ocorrendo aumento do número de mendigos
· Pobres e loucos eram vistos como desocupados, como não trabalhavam, não produziam riquezas, eram considerados marginais, improdutivos. 
· Os mendigos eram expulsos das cidades, os doentes mentais e mendigos sem família eram condenados ao isolamento. 
· Nessa época surgem os Hospitais Gerais (instalados nos antigos leprosários), onde eram internados não só os loucos, mas toda população marginalizada na época.
IDADE CONTEMPORÂNEA 
· Final do século XVIII, denúncias contra as internações de doentes mentais junto aos marginais e contra as torturas a que eram submetidos. 
· Abordagem mais humanística ao doente mental. 
· Construção de asilos, porém permaneciam sob formas de violência, com ameaças e privações.
· A loucura passa a ser considerada uma doença, que exigia condições e tratamentos específicos.
· Em 1793, o médico francês Philippe Pinel quebrou as correntes que prendiam os alienados ou insanos. 
· Nessa época avança a descrição das doenças mentais. 
· Século XX, postura mais humanista no tratamento dos doentes mentais, os asilos onde os doentes eram aprisionados foram substituídos pelos Hospitais Psiquiátricos.
· Philippe Pinel fundou os asilos onde os pacientes eram tratados de uma forma mais humanística. 
· Século XX: Freud revela a concepção do homem como um todo mente-corpo e o papel da história pessoal no desenvolvimento dos transtornos emocionais. 
· Compreender a loucura não como defeito biológico.
· 1952: sintetizada em laboratório o primeiro neuroléptico do mundo, a clorpromazina. Era um anestésico que passou a ser usado para outra função. 
· Progressos: 
· Atitude positiva em relação à doença mental 
· Doentes crônicos melhoram 
· O tratamento em casa tornou-se possível 
· Expandem-se tratamentos psicoterápicos 
· Hildegard Peplau – teoria do relacionamento terapêutico enfermeiro-paciente. 
· Enfoque da assistência física (higiene, limpeza) para centrar-se nas relações interpessoais (ambiente terapêutico).
A PSIQUIATRIA NO BRASIL 
· No Brasil, o primeiro manicômio foi fundado por D. Pedro II em 1852, no Rio de Janeiro
Primeiros hospícios públicos para alienados no Brasil
· Local de confinamento da população crescente de desocupados e loucos que vagavam pelas velhas e grandes fazendas e recentes cidades. 
· À partir desse momento vários outros hospícios foram sendo fundados (grandes centros).
· Nas cidades interioranas, os manicômiossó surgiram quando o desenvolvimento e a urbanização lá chegaram. 
· Manicômios eram construídos em locais afastados. 
· Características dos manicômios brasileiros – frequentados em sua maioria pela população mais pobre.
· No Brasil, o atendimento aos loucos era tarefa da Irmandade da Misericórdia e esteve nas mãos da Santa Casa até a proclamação da República em 1889. A partir de 1890, o Hospício Pedro II passa a ser chamado de Hospício Nacional dos Alienados
Diversas denominações..
A partir de 1890, o Hospício Pedro II passa a ser chamado de Hospício Nacional dos Alienados. No século XX, surgem novos nomes: Hospício passa a ser chamado de Hospital. Alienado agora é doente mental, depois será psicopata. O asilado passa a ser interno. Nos ambulatórios ele é egresso, quando oriundo da hospitalização. Torna-se paciente do ambulatório. No consultório ele é paciente, cliente, analisando ou está em terapia. Na perícia é o caso ou o periciando. No serviço público ele é usuário. O mesmo vale para os planos de saúde. Para alguns, ele passa a ser visto como consumidor. Assim, a loucura recebe os nomes de alienação mental, insanidade, depois doença mental, transtorno mental e ultimamente, sofrimento psíquico.
· Era do temor – 1950 a 1970
· Falta de leitos nos hospícios 
· Expansão de leitos privados 
· Estado patrocinando a loucura 
· Os hospitais de luxo “cinco estrelas”, são em sua essência iguais aos hospitais para pobres, porque têm a função de excluir ou invalidar os doentes, afastando-os da sociedade.
· Infraestrutura – péssima 
· Higiene – banhos coletivos 
· Medicação – distribuída sem critério 
· ECT (eletroconvulsoterapia) – castigo 
· Tudo é organizado pensando não no doente, mas na manutenção da ordem interna e na obtenção de lucro (hospitais privados). 
· Internações – superior ao número de leitos. 
· Ociosidade dos internos
· À partir de 1964, o governo começou a contratar incisivamente os hospitais psiquiátricos particulares para atender aos hospitais públicos
· Como o governo pagava pouco pelas diárias, os hospitais reduziram seus custos e pioraram definitivamente as condições de hospedagem e cuidados.
A história da psiquiatria 
· 1960: Franco Basaglia (Itália) questiona a existência dos hospitais psiquiátricos.
· 1978: Aprovado lei proibindo a criação de novos hospícios e sua substituição por pensões protegidas, lares abrigados, hospital-dia, leitos psiquiátricos em hospital geral
· 1987: Primeiro CAPS no Brasil em SP e NAPS em Santos (24 hs)
· 1987-2: em 8 e 9 de dezembro de 1987 – acontece o Encontro de Bauru, evento sobre as politicas públicas voltadas a saúde mental, com debates e discussões entre a comunidade médica. Organizado principalmente por trabalhadores ligados ao sistema manicomial que eram contra as politicas publicas em vigor. Foi escrito o manifesto e assinado por 350 profissionais da área de saúde, a chamada Carta de Bauru. 
· Carta de Bauru 
· Principais reinvindicações: mudar a politica manicomial e garantir direitos básicos aos pacientes 
· Franco da Rocha, quando houve a assinatura da carta: “todos os pacientes na época tinham o cabelo raspado e usavam o mesmo uniforme. A singularidade não era prezada nesse modelo’
· Em 1989 o fechamento de um hospital psiquiátrico em Santos, a Casa de Saúde Anchieta, que chegou a abrigar 500 pacientes em suas dependências e que foi chamada pela imprensa da época de ‘casa dos horrores’. Vizinhos da região relatavam gritos dos pacientes que viviam ali. 
· 1990: Reforma Psiquiátrica Brasileira
· Movimentos dos profissionais e famílias 
· Impasses, tensões, conflitos e desafios 
· Lei proibindo a criação de novos hospitais psiquiátricos e enfatizando o tratamento ambulatorial e a reinserção social do doente junto da família e comunidade e sua reabilitação social, profissional e cívica.
DESINTITUCIONALIZAÇÃO
· 1992: Movimentos sociais aprovam em vários estados brasileiros as primeiras leis que determinam a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma rede integrada de atenção à saúde mental
· 2001: Lei 10.216 que redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária. 
· Proteção e direitos dos doentes mentais 
· Rede de atenção diária (CAPS) 
· Financiamento do MS para serviços abertos e substitutivos dos hospícios.
DESINSTITUCIONALIZAÇÃO
· Deslocar o centro da atenção da instituição para a comunidade, distrito e território
· Desinstitucionalização = Desosopitalização
· Oferecer espaço para que os doentes sejam atendidos fora do hospital 
· Incentivo à desinstitucionalização 
· Ampliação de serviços ambulatoriais 
· Incorporação da saúde mental na ESF 
· Redução de leitos psiquiátricos 
· CAPS 
· Residências Terapêuticas
DOENÇA MENTAL: é o estado que surge quando as pessoas não conseguem desenvolver ou manter-se em funcionamento harmônico para viver com seu grupo cultural ou em sociedade, não conseguindo transformar suas possibilidades em realidade
SAÚDE MENTAL: é o estado de funcionamento harmônico que as pessoas desenvolvem e mantêm, para viver em sociedade, em constante interação com seus semelhantes e meio ambiente.
Critérios definidores de saúde mental
· Atitudes positivas em relação a si próprio 
· Crescimento, desenvolvimento e autorealização 
· Integração e resposta emocional 
· Autonomia e autodeterminação 
· Percepção da realidade 
· Domínio ambiental e competência social

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