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Questionário 02 - Direito Penal Arts. 172 a 179 do CP 01 – O endossante e o avalista podem ser sujeitos ativos do crime de duplicata simulada? Inicialmente, é impossível ao endossante e ao avalista figurarem como sujeitos ati- vos do crime de duplicata simulada, uma vez que não possuem capacidade para pra- ticar o verbo do tipo penal “emitir”. Entretanto, como ressalta Cezar Roberto Bitencourt, se o endossante ou avalista es- tiverem agindo de comum acordo com o autor do crime, responderão eles, conforme a figura do concurso de pessoas do prevista pelo art. 29 do CP, como coautores ou partícipes. 02 – Tião emitiu fatura, triplicata que não correspondia à mercadoria vendida em quantidade. Qual o crime cometido por Tião? Tião cometeu o crime de duplicata simulada, prevista no art. 172 do Código Penal. Pois sua conduta amolda-se perfeitamente no tipo penal. Em apertada síntese o Prof. Luciano Anderson de Souza expõe as condutas necessá- rias para a consumação do crime de duplicata simulada: O sujeito ativo aqui emite documento – fatura, duplicata ou nota de venda – comprobatório de transação comercial – venda ou prestação de serviço – que é ideologicamente falso, pois não cor- responde à operação realizada. [...] O parágrafo único equipara à conduta do caput por meio da atri- buição das mesmas apenas, aquela do agente que falsifica ou adul- tera o Livro de Registro de Duplicatas, previsto no artigo 19, da Lei n. 5.474 de 1968. Trata-se de livro em que o comerciante deve, de forma obrigatória, escriturar todas as duplicatas emitidas, em ordem cronológica, com todos os seus dados de identifica- ção. [...] Para a consumação, não é necessário efetivo prejuízo patrimonial, tratando-se de crime formal, para o qual basta a emissão do título falso. 03 – Tião emitiu fatura duplicada, que não correspondia à mercadoria vendida em quantidade. Aponte a solução jurídica, considerando que: - Ferrerinha apresentou a noticia criminis, afirmando que foi lesado por Tião e que este cometeu o crime tipificado no art. 172 do CP; - na apuração ficou comprovado que, ao emitir a fatura, Tião já tinha a intenção de lesar Ferrerinha. No caso em apreço, está correta a tipificação do crime cometido por Tião. É neces- sário ressaltar que o crime de Duplicata Simulada é formal, consumando-se no mo- mento da emissão do documento ideologicamente falso, sendo o prejuízo sofrido por Ferreirinha mero exaurimento da conduta. 04 – Para ser configurado o crime do art. 172 é necessário que tenha havido a efetiva venda da mercadoria? Sim, o tipo penal ao trazer a seguinte redação “Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.” Torna obrigatória a existência da venda. 05 – Qual a idade que deve ser considerada para caracterização do crime de abuso de incapazes? O crime de Abuso de Incapazes busca resguardar o patrimônio dos incapazes. A de- finição incapacidade, entretanto, excede os limites do direito penal, sendo estabele- cida pelo art. 5º do Código Civil. No que diz respeito a idade, o CC é claro ao estabe- lecer como o marco final da incapacidade o momento em que o sujeito completa 18 anos de idade, logo, é incapaz todo aquele menor de 18 anos. Portanto, a idade a ser considerada para a caracterização do crime de abuso de incapazes é qualquer idade inferior a 18 anos completos. 06 – Tício abusou em proveito próprio, da inexperiência de Ferrerinha, indu- zindo-o à especulação com títulos, sabendo que a operação é ruinosa. Per- gunta-se: qual o delito cometido por Tício, considerando que Ferrerinha ga- nhou dinheiro com a especulação dos títulos? Tício cometeu o crime de Induzimento à Especulação, tipificado pelo art. 174 do CP, não importando a ausência de efetivo prejuízo, uma vez que presentes os requisitos do tipo penal no que diz respeito ao sujeito passivo, a consumação se dá no momento da indução. 07 – É admitida a modalidade culposa no crime de induzimento à especulação? Não! O crime do art. 174 não possui previsão de modalidade culposa. 08 – Ferrerinha aliena seu veículo, afirmando ser fabricado e de modelo de 1985. Apresente a solução jurídica considerando que posteriormente foi des- coberto que o veículo é fabricado e de modelo de 1982, além de estar em pés- simas condições de funcionamento? Ferreirinha deverá responder pelo crime previsto no art. 175, inciso I do CP, Fraude no comércio, uma vez que vendeu como verdadeira ou perfeita mercadoria falsifi- cada ou deteriorada. 09 – Ferrerinha bebeu um verdadeiro porre em um restaurante, sem dispor de recursos para efetuar o pagamento. Tendo saído do restaurante sem pagar, pergunta-se: qual o delito cometido por Ferrerinha? Ferreirinha cometeu o crime previsto no art. 176 do CP, pois, consciente da falta de recursos para pagar a conta, consumiu as bebidas dentro do restaurante. 10 – Ferrerinha fez refeição em restaurante, sem dispor de recursos para efe- tuar o pagamento. Qual o delito cometido, considerando-se que Ferrerinha pa- gou o serviço com cheque sem fundos? Ferreirinha cometeu o crime de fraude no pagamento por meio de cheque, previsto no art. 171, § 2º, inciso VI do CP. 11 – O delito de fraude na fundação da sociedade por ações admite tentativa? A tentativa do crime previsto no art. 177 do CP é fato controverso na doutrina. Opto por seguir o entendimento de Cezar Roberto Bitencourt, ao admitir a possibilidade da tentativa na modalidade comissiva, embora seja difícil a ocorrência desta no mundo fático. Quanto a modalidade omissiva, por óbvio, é impossível a tentativa. 12 – Quando se dá a consumação da fraude à execução? O crime consuma-se no momento em que a execução fraudada se torna inviável pela insolvência do agente, decorrente de qualquer das ações tipificadas. Como se trata de crime material, qualquer das ações praticadas pelo agente será atípica se, a des- peito delas, continuar solvente. Restando-lhe bens suficientes para garantir o juízo, não se poderá falar em crime de fraude à execução. 13 – Qual o objeto material da ação do tipo penal de emissão irregular de co- nhecimento de depósito ou warrant? O objeto material do crime previsto no art. 178 do CP é o conhecimento de depósito ou warrant emitido em desacordo com as disposições legais. Conceitua Cezar Roberto Bitencourt: O conhecimento de depósito é título de propriedade da merca- doria, atribuindo ao portador a disponibilidade da coisa. O war- rant, por sua vez, é título de garantia emitido sobre mercadoria depositada em armazéns-gerais, de acordo com o conhecimento de depósito. Ambos são títulos que circulam mediante en- dosso, e a posse dos dois garante ao possuidor a propriedade da mercadoria neles mencionada. 14 – Qual o pressuposto típico do delito de fraude à execução? Quem pode co- meter este crime? O pressuposto do crime de fraude à execução é a existência de uma ação de execução judicial. Por se tratar de crime próprio, o sujeito ativo somente poderá ser o Execu- tado (devedor) da ação. 15 – Tião, por causa de uma dívida, responde a uma ação de execução. Qual a solução jurídica se, após a penhora de seus bens, Tião os vendeu a Ferrerinha? Tião deverá responder pelo crime de Fraude à execução, previsto no art. 179 do CP, tendo em vista que a alienação dos bens já penhorados é inidônea e possuía o único fim de frustrar a execução da dívida. 16 – Ferrerinha por causa de uma dívida responde a uma ação de execução. Qual a solução jurídica se, ciente da iminência da penhora de seus bens pesso- ais, Ferrerinha vendeu todos os seus bens? Nesse caso há duas possíveis soluções jurídicas, que devem partir da distinção entre alienações legítima e ilícitas. Nesse sentido expõe Cezar Roberto Bitencourt: O agente pode “fraudar a execução” alienando seus bens, desvi- ando-os, destruindo-os ou danificando-os ou, ainda, simulando dí- vidas. “Alienação” é todo atode transferir o domínio de bens a terceiros, abrangendo inclusive a própria cessão de direitos. Convém destacar, contudo, que a alienação, em sede de direito penal, não se presume fraudulenta juris et de jure. Como o di- reito penal não admite presunções de nenhuma natureza, também a finalidade fraudadora da alienação deve ser comprovada. Nem toda alienação tem a finalidade de fraudar eventual credor, mesmo que exista eventual demanda judicial, pois pode ser necessária a alienação, ou economicamente conveniente ao agente. Assim, é fundamental detectar o elemento subjetivo que orientou a eventual alienação. Somente a alienação simulada, a título gratuito ou a preço vil, pode ser considerada, prima facie, fraudulenta. Enfim, a alienação por justo preço não é cri- minosa, desde que realizada sem o propósito de inviabilizar even- tual penhora. Dessa forma, partimos para as duas soluções jurídicas possíveis: 1. Ferreirinha vendeu os bens de maneira legitima, recebendo em contrapres- tação o equivalente em dinheiro, nesse caso não há o que se falar em crime, tendo em vista que a alienação foi legitima e não obsta a execução de suas dívidas, já que seu patrimônio não diminuiu, apenas passou a ser líquido, sendo perfeitamente penhorável. 2. Ferreirinha valeu-se de alienação fraudulenta, desfazendo-se dos bens de maneira gratuita ou por preço extremamente abaixo do valor de mercado, com o único intuito de esvaziar seu patrimônio, frustrando assim a execução. Nesse caso, estará configurado o crime de Fraude à Execução previsto no art. 179 do CP.
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