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– Introdução Relembrando a estrutura das lipoproteínas Os lipídeos principais do organismo são hidrofóbicos, necessitando formar complexos hiperproteícos para ter a metabolização e caracterização de seus efeitos. Os principais lipídeos do corpo humano são: os triglicerídeos, os ácidos graxos, o colesterol e os fosfolipídios. A lipoproteína é composta por colesterol e triglicerídeos, no núcleo, na camada externa temos colesterol livre, fosfolipídios e proteínas. As proteínas que estão localizadas na periferia são responsáveis pela metabolização dos lipídeos. As lipoproteínas são classificadas em 5 tipos de acordo com a apoproteínas presentes em sua camada externa, de acordo com a densidade (quanto mais proteína maior a densidade e quanto mais triglicerídeos menor a densidade) • Quilomícron – maiores partículas, menos densas, devido ao seu elevado conteúdo de triglicerídeos, sendo originadas da alimentação. → apoproteína B 48 • VLDL – lipoproteínas de muita baixa densidade, tem origem da alimentação ou sintetizadas no fígado → transportam triglicerídeos para os tecidos periféricos • IDL – lipoproteína de densidade intermediária (ela é resultado da perda de triglicerídeos do VLDL nos tecidos periféricos). Essa proteína é rapidamente transformada em LDL no fígado • LDL – proteína de baixa densidade que tem como função carrear colesterol para as células orgânicas, com seu principal componente apoproteína B (arteriogênica) • HDL – lipoproteína de alta densidade, promove a captação de colesterol das células para o fígado Relação entre lipídeos e doença aterosclerótica ➔ LDL • Altos níveis de LDL-c representam importante fator de risco para aterosclerose • Ricas em apo B 100 • A apo B 100 promove modificações oxidativas na molécula de LDL e parece ser o fator principal para o início da aterosclerose. • Partículas pequenas e densas de LDL -c representam riscos maiores cardiovasculares ➔ Triglicerídeos – QM, VLDL e IDL • Frequentemente se associam com níveis reduzidos de HDL-c e produção de LDL-c pequenas e densas • Níveis elevados de triglicerídeos podem promover diretamente a aterosclerose • Associam-se com aumento do fibrinogênio, fatores de coagulação VII, X e aumento da viscosidade sanguínea → aterotrombose ➔ HDL • Níveis baixos de HDL-c constituem importante fator de risco para aterosclerose • Para cada decréscimo de 5 mg/dl de HDL-c abaixo dos valores médios, há um aumento de 25% no risco de IAM • Altas concentrações de HDL, sobretudo, acima de 60 mg/dl constituem proteção cardiovascular ➔ Lipoproteína Lp(a) • Possui uma lipoproteína adicional que é ligada de maneira covalente a apo B que é aterogênica • Tem muita semelhança com plasminogênio que lhe confere propriedades trombogênicas • Fabricados no fígado, seus níveis são determinados por fatores genéticos, sofrendo poucas influências de fatores ambientais (colesterol aumentado endógena) Diagnóstico: 1) Anamnese • Tempo de diagnóstico • Sintomas relacionados a alterações anatômicas e funcionais em órgão alvo • Pesquisar hábitos de vida • Presença de patologias associadas (diabetes e hipotireoidismo) • Uso de medicamentos 2) Exame físico – depósito de lipídeos em diferentes regiões do corpo como olhos, pele e vísceras Xantomas planos → placas amareladas e planas, ligeiramente elevados, localizados em diferentes regiões do corpo. Encontrado em hipercolesterolemias e dislipidemias mistas Xantomas tuberosas → nódulos isolados ou agrupados de diferentes tamanhos, localizados nos cotovelos, joelhos, coxas e nádegas. Encontrada nas hipercolesterolemias e dislipidemias mistas Xantoma tendinosos → nódulos de cor amarelada que se formam ao longo de fáscias e periósteos, localiza-se no dorso das mãos, pés e tensão de aquiles. Encontrado somente nas hipercolesterolemias (não encontrados nas hipertrigliceridemias) Xantomas eruptivos → lesões papulosas, amareladas, envoltas por halo eritematoso, ocorrendo nas nádegas, dorso ou qualquer outra parte. Encontrado nas hipertrigliceridemias Arco corneano → halo de cor branca ao redor da íris, estando associada a elevação de colesterol e triglicerídeos; diagnóstico diferencial com halo senil Hiperlipemia retinal → Observado no fundo do olho, modificações da coloração da retina e de seus vasos, de aspecto opalescente ou leitoso por infiltração de gordura, particularmente triglicerídeos Xantelasma → xantomas planos ao redor dos olhos Comprometimento visceral → infiltração de lipídeos em vísceras como fígado e baço 3) Exames laboratoriais – dosagem de lipídeos séricos → dosagem dos lipídeos plasmáticos • Colesterol total, HDL, LDL e triglicerídeos • Recomenda-se que o Paciente com dieta habitual (não é mais necessário jejum) • Jejum apenas em casos duvidosos: TG > 440 mg/dl, acompanhamento de trigliceridemias, medicações que aumente TG e após pancreatite. Em quem fazer esses testes? ➔ Adultos acima de 20 anos (cada 5 anos) ➔ Todo paciente com Doença arterial coronariana ou doença aterosclerótica → rotineiramente < 5 anos ➔ 2-19 anos se fatores de risco Estratificação de risco cardiovascular: • A diretriz brasileira de 2017 recomenda o escore de risco global e a americana de 2018 recomenda o uso de equações de coortes agrupadas • Pacientes com doenças cardiovasculares prévias já são considerados pacientes de alto risco (não precisa fazer o escore de risco) • Pacientes com hipercolesterolemia grave ou portadores de DM – alto risco • Outros pacientes estimar o risco o < 5% de risco → baixo risco o Entre 5-7,5% - limítrofe ou boderline o Entre 7,5 e 20% - intermediário o Acima de 20% - alto risco Exames laboratoriais → valores de referência Lipídeos Com jejum Sem jejum Categoria Colesterol total < 190 <190 Desejável HDL >40 >40 Desejável Triglicerídeos < 150 <175 Desejável Por categoria de risco cardiovascular (valores iguais para jejum e sem jejum): LDL < 130 Baixo <100 Intermediário <70 Alto <50 Muito alto Não HDL – soma dos colesteróis ruins IDL + LDL + VLDL <160 Baixo <130 Intermediário <100 Alto <80 Muito alto Classificação das dislipidemias 1 – Quanto a origem • Primárias → consequente de distúrbios genéticos • Secundárias → consequência de outras patologias ou uso de medicamentos 2- Quanto ao tipo de lipídeo • Relacionada com triglicerídeos • Relacionada com colesterol • Mistas Dislipidemias primárias relacionadas ao colesterol 1 – Hipercolesterolemia familiar Doença autossômica dominante, com mutação do gene do receptor de LDL, com remoção diminuída do LDL do plasma, defeitos na apo B que prejudicam a ligação aos receptores e ganho de função na pró- proteína PCSK9, as quais aumentam a degradação do receptor de LDL, consequentemente LDL e CT aumentados. Autossômica → falecem antes dos 20 anos Heterozigotos → isquemia miocárdica a partir de 30 anos Xantomas tendinosos são quase patognômicos da doença e quando diagnosticados deve se fazer o screem em todos os parentes de primeiro grau É uma doença tratável com estatinas ou inibidores da proteína PCSK9 Acomete 1/250 pessoas e cursa com doenças ateroscleróticas precoce 2 – Hipercolesterolemia poligênica É a causa mais comum de hipercolesterolemia isolada Catabolismo defeituoso da LDL com aumento de sua produção e outros distúrbios genéticos Pode ocorrer em indivíduos susceptíveis + fatores ambientais Diagnóstico é feito por exclusão da hipercolesterolemia familiar (história familiar ausente + ausência de xantomas tendinosos) 3 – Hipercolesterolemia (hiperlipidemia) familiar combinada Doença autossômica dominante, dislipidemia primária maisfrequente podendo acometer de 5-7% da população com genética indeterminada Fenótipo TG, LDL ou ambos, podendo modificar no mesmo paciente Manifesta-se na idade adulta, xantelasma, associação com obesidade e resistência a insulina Dislipidemias associadas ao HDL 1 – Doença de Tangier Síndrome com várias mutações genéticas não especificadas, com associação de HDL baixo + amigdalas de cor alaranjada (depósito de colesterol) 2 – Hipoalfalipoproteinemia familiar Síndrome autossômica dominante com deficiência parcial de HDL (risco aumentado de doença coronariana prematura) 3 – Deficiência de Apo A1 Ocorre uma diminuição de Apo A1, que participa da síntese de HDL 4 – Deficiência da lecitina-colesterol aciltransferase Síndrome autossômica recessiva, acometimento da córnea, anemia normocítica e insuficiência renal em adultos jovens, além de doença coronariana precoce. Dislipidemias relacionadas aos triglicerídeos 1 – Hipertrigliceridemia familiar Doença autossômica dominante, frequente com prevalência de 0,5-1% na população geral Produção aumentada de VLDL, hipertrigliceridemia sérica usualmente > 500, colesterol normal ou discretamente elevado, geralmente sem xantomas ou xantelasmas Diagnóstico é associado a outras patologias como obesidade, diabetes, hipotireoidismo, ingestão de bebidas alcoólicas ou uso de fármacos. 2 – Quilimicronemia familiar Monogênica, autossômica e recessiva Pacientes com crises recorrentes de dor abdominal e/ou pancreatite, com xantomas eruptivos e inicio na infância. Grandes aumentos de TG > 2000 3 – Disbetalipoproteinemia Mutações no gene apo E, acomete mais homens Acúmulo de QM, VLDL e IDL. Xantomas palmares são muito sugestivos LDL estão diminuídos refletindo o bloqueio da transformação normal dos remanescentes das VLDL em LDL. Xantomas tuberosos ou tuberoeruptivos Pacientes podem apresentar intolerância a glicose ou obesidade Doença aterosclerótica coronariana e demais artérias como nos MMII, claudicação intermitente e gangrena. Dislipidemias secundárias Os pacientes estão susceptíveis as mesmas complicações das dislipidemias primárias como doença aterosclerótica e pancreatite. Importante – diabetes mellitus ocorre aumento de triglicerídeos, com diminuição de HDL e produção de LDL pequenas e densas. O hipotireoidismo aumenta o LDL e consequentemente o risco CV. Tratamento da Hipertrigliceridemia 1) Mudança no estilo de vida • Dieta com redução das gorduras e açúcares simples • Redução do consumo de álcool e abandono do tabagismo • Atividade física regular 2) Medicamentos • Fibratos → eleição na hipertrigliceridemia isolada • Ácido nicotínico → segunda linha ou em associação (efeitos colaterais como rubor) • Ômega 3 → segunda linha ou associação • Estatinas – nas dislipidemias mistas devem ser iniciadas se TG < 500 mg/dl Se estiver maior que esse valor iniciar primeiro os fibratos pelo risco de desenvolver pancreatite aguda Fibratos • Derivados do ácido fibrico atuam na expressão de genes relacionados ao metabolismo diminuído TG, redução da PCR, melhora na sensibilidade à insulina e promove ação antiinflamatória, antiterogênica, antitrombogênica e vasodilatadora. • Os principais são fenofibrato, ciprofibrato e bezafibrato • O fenofibrato é de eleição quando tiver associação com estatina (metabolização hepática diferente da estatina) Hipercolesterolemia – tratamento 1) mudanças no estilo de vida • Dieta com baixo teor de colesterol e gorduras saturadas • Redução do peso corporal • Abandono do tabagismo • Controle de fatores de risco como HAS, glicemias e TG • Atividade física regular 2) Medicamentos • Estatinas → primeira escolha • Inibidores da absorção do colesterol – ezetimiba em associação ou nos intolerantes a estatina • Ácido nicotínico → em associação • Inibidores da PCSK9 → hipercolesterolemia familiar, enzima que reduz a população de receptores de LDL • Sequestrantes de ácidos biliares Estatinas Inibidores da HGM-Coa redutase e síntese endógena de colesterol Rosuvastatina > artovastatina > pitavastatina> sinvastatina > pravastatina Devem ser iniciados nos pacientes de muito alto risco e alto risco rosuvastatina ou artovastatina e também nos pacientes para alcance das metas de LDL Efeitos colaterais ➔ Miotoxicidade (medir CPK > 1000 → retira a droga) ➔ Hepatoxicidade (transaminases até 3x o aumento da normalidade) ➔ Efeito diabetogênico → pitavastatina (não tem efeito diabetogênico) ➔ Outros – fadiga, cefaliea, erupções cutâneas e desconfortos gastrointestinais.
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