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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO IGOR LEONARDO GUERRA GALVÃO COMPETITIVIDADE E ANÁLISE DE RECURSOS INTERNOS: UM ESTUDO EM UMA EMPRESA NORTERIOGRANDENSE ESPECIALIZADA EM ARTIGOS E INSTRUMENTOS MUSICAIS NATAL, RN 2022 IGOR LEONARDO GUERRA GALVÃO COMPETITIVIDADE E ANÁLISE DE RECURSOS INTERNOS: UM ESTUDO EM UMA EMPRESA NORTERIOGRANDENSE ESPECIALIZADA EM ARTIGOS E INSTRUMENTOS MUSICAIS Monografia apresentada ao curso de graduação em Administração, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Administração. Orientador(a): Prof. Dra. Dinara Leslye Macedo e Silva Calazans. NATAL, RN 2022 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas – CCSA Galvão, Igor Leonardo Guerra. Competitividade e análise de recursos internos: um estudo em uma empresa norteriograndense especializada em artigos e instrumentos musicais / Igor Leonardo Guerra Galvão. - 2022. 68f.: il. Monografia (Graduação em Administração) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Administração. Natal, RN, 2022. Orientadora: Prof. Dra. Dinara Leslye Macedo e Silva Calazans. 1. Estratégias - Monografia. 2. Recursos - Monografia. 3. Capacidades - Monografia. 4. Modelo VRIO - Monografia. 5. E-commerce - Monografia. 6. Vantagem competitiva - Monografia. I. Calazans, Dinara Leslye Macedo e Silva. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 005.21 Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355 IGOR LEONARDO GUERRA GALVÃO COMPETITIVIDADE E ANÁLISE DE RECURSOS INTERNOS: UM ESTUDO EM UMA EMPRESA NORTERIOGRANDENSE ESPECIALIZADA EM ARTIGOS E INSTRUMENTOS MUSICAIS Monografia apresentada ao curso de graduação em Administração, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Administração. Aprovada em: ______/______/______ BANCA EXAMINADORA ______________________________________ Prof. Dra. Dinara Leslye Macedo e Silva Calazans Orientadora UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ______________________________________ Prof. Dr. Afrânio Galdino de Araújo Membro interno UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ______________________________________ Prof. MSc. João Florêncio da Costa Júnior Membro interno UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE Dedico este trabalho a minha avó, Maria Salete Marques Guerra, ao meu avô, João de Barros Guerra, o “marujo”, e a minha querida tia Janires Pereira Galvão (In memorian). AGRADECIMENTOS É essencial agradecer a Deus por mais essa etapa concluída com sucesso. Muitas pessoas gostariam de ter essa oportunidade e, eu estou aqui, concluindo mais uma graduação, dessa vez numa área que admiro bastante e no qual pretendo deixar a minha colaboração com o passar dos anos. Não tenho dúvidas que será uma carreira de sucesso, irei trabalhar muito para isso. Foi uma graduação diferente, passei a estudar a noite e a frequentar as aulas após os longos dias de trabalho. Foi novo pra mim, principalmente durante a loucura que foram os anos em que a pandemia se instalou em todo o globo. Foram anos de adaptações. Esses últimos quatro anos também foram de renuncia, mas também de muito aprendizado. Aprendi muito nessa graduação e mais ainda fora dela. Aprendi a otimizar meu tempo como ninguém, nunca valorizei tanto algumas horas de sono ou até mesmo o “intervalo para o almoço”, mas essa correria faz parte do processo. Sou extremamente ativo. Gosto disso. Deixo aqui a minha gratidão a todos que colaboraram com esse trabalho, mas preciso começar agradecendo a minha família, em especial aos meus pais Junio e Niedja, a minha irmã Iasmim, a minha esposa Raquel e a minha linda filha Laura, eles, com toda certeza, são o meu maior combustível diário. Quando a coisa aperta, é neles que eu penso. No final tudo sempre dá certo. Nessa graduação não foi diferente. Muito obrigado, amo vocês. Agradeço também aos inúmeros colegas de graduação e aos discentes que colaboraram com o meu aprendizado durante esses quatro anos, todos, com toda certeza, foram essenciais para que todo esse longo caminho fosse trilhado e, aproveito e já deixo aqui também o meu agradecimento especial à professora Dinara, que sempre foi muito competente e atenciosa comigo, sempre disposta a ajudar e a colaborar no que fosse preciso. No final desse semestre não foi diferente, viu a minha “correria” para encontrar um orientador e, de primeira, topou em me ajudar. Serei sempre grato e admirador do seu trabalho, professora! Muito obrigado. Por fim, dedico esse trabalho ao meu primo Yuri, que desde o início abriu as portas da sua empresa para colaborar com o meu trabalho e sempre esteve disponível e acessível nos momentos que precisei. Obrigado, primão. Também dedico este trabalho aos meus avós João e Salete e a minha tia Janires, que deixaram este plano ao longo desses últimos dois anos, mas que continuam a cuidar de mim lá “de cima”. Essa conquista também é de vocês. “O que eu penso, não muda nada além do meu pensamento. O que eu faço a partir disso, muda tudo.” Leandro Karnal RESUMO Atualmente, para sobreviver em um mercado competitivo, todas as organizações precisam criar estratégias que lhes permitam gerar valor sustentado. O modelo de visão, baseado nos recursos, avalia o desempenho de uma organização através da ótica de gestão e utilização dos seus recursos. Com isso, é a partir da análise interna da organização que se procede à ponderação das implicações competitivas de vários parâmetros relativos aos recursos da instituição, identificando as forças e fraquezas internas. Uma das ferramentas que permitem a análise desses recursos é o modelo VRIO, que permite compreender, sob as condições de valor, de raridade, da imitabilidade e da organização, as relações entre os recursos das empresas e a geração de vantagens competitivas sustentáveis. O VRIO vem a ser um modelo de auxílio à tomada de decisão, do ponto de vista da construção do planejamento estratégico para essa empresa. Partindo dessa metodologia, foram analisados individualmente 15 quinze recursos, classificados entre tangíveis e intangíveis, distribuídos entre 4 (quatro grandes categorias (físicos, organizacionais, humanos e financeiros). O resultado foram que 3 (três) desse recursos geram desvantagens competitivas para a empresa, 1 (um ) gera uma paridade competitiva, enquanto outros 11 (onze) são fontes de vantagem competitiva para a organização. Essas vantagens competitivas corroboraram com o alto potencial competitivo observado na empresa (sob a perspectiva do seu proprietário) diante dos seus concorrentes, através do seu e-commerce e da sua proposta de experiência para cada compra realizada na empresa, seja dos artigos de vestuário ou dos seus instrumentos musicais personalizados. O trabalho propõe a apresentação de dados quantitativos em futuros trabalhos que confrontem a perspectiva do proprietário da empresa e tragam escopo a essa metodologia de análise de competitividade para a empresa. Palavras-chave: Estratégia; Recursos; Capacidades; e VRIO. ABSTRACTCurrently, to survive in a competitive market, all organizations need to create strategies that allow them to generate sustained value. The vision model, based on resources, evaluates the performance of an organization through the perspective of management and use of its resources. With this, it is from the internal analysis of the organization that the competitive implications of several parameters related to the institution's resources are weighed, identifying the internal strengths and weaknesses. One of the tools that allow the analysis of these resources is the VRIO model, which allows understanding, under the conditions of value, rarity, imitability and organization, the relationships between companies' resources and the generation of sustainable competitive advantages. The VRIO becomes a decision-making aid model, from the point of view of building strategic planning for this company. Based on this methodology, 15 fifteen resources were individually analyzed, classified between tangible and intangible, distributed among 4 (four major categories (physical, organizational, human and financial). The result was that 3 (three) of these resources generate competitive disadvantages for the company , 1 (one ) generates a competitive parity, while another 11 (eleven) are sources of competitive advantage for the organization. These competitive advantages corroborate with the high competitive potential observed in the company (from the perspective of its owner) in front of its competitors, through its e-commerce and its proposal of experience for each purchase made in the company, whether of clothing articles or of your personalized musical instruments. The work proposes the presentation of quantitative data in future works that confront the perspective of the owner of the company and bring scope to this methodology of analysis of competitiveness for the company. Keywords: Strategy; Resources; Capabilities; e VRIO. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Logomarca da empresa Blog do Cavaco.................................................. 17 Figura 2 – Produtos do Blog do Cavaco.................................................................... 19 Figura 3 – Figura 4 – Figura 5 – Figura 6 – Processo de Administração Estratégica.................................................... Tipos de Vantagens Competitivas............................................................ Cadeia de Valor Genérica de Porter......................................................... Exemplos de Aplicação do Comércio Eletrônico..................................... 24 25 30 35 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Recursos Tangíveis e Intangíveis............................................................. 26 Quadro 2 – Quadro 3 – Quadro 4 – Quadro 5 – Quadro 6 – Quadro 7 – Quadro 8 – Quadro 9 – Quadro 10 - Quadro 11 - Quadro 12 - Quadro 13 - Quadro 14 - Quadro 15 - Quadro 16 - Quadro 17 - Quadro 18 - Quadro 19 - Quadro 20 - Quadro 21 - Quadro 22 - Quadro 23 - Tipos de Recursos (Humanos, Organizacionais, Físicos e Financeiros).. Perguntas que conduzem a análise das forças e fraquezas internas de uma empresa............................................................................................. Fontes de Imitação Custosa...................................................................... Categorias dos Recursos e suas subdivisões abordadas no roteiro do questionário.............................................................................................. O modelo VRIO....................................................................................... A relação entre o modelo VRIO e as forças e fraquezas de uma empresa..................................................................................................... Implicação competitiva da estrutura física do negócio............................ Implicação competitiva da localização geográfica do negócio................ Implicação competitiva do acesso a matérias-primas do negócio............ Implicação competitiva dos produtos e instrumentos do negócio............ Implicação competitiva da estrutura online do negócio........................... Implicação competitiva da reputação do negócio.................................... Implicação competitiva do planejamento, coordenação e controle do negócio..................................................................................................... Implicação competitiva da cultura organizacional do negócio................ Implicação competitiva da logística do negócio...................................... Implicação competitiva das redes sociais e engajamento do negócio...... Implicação competitiva do marketing do negócio.................................... Implicação competitiva da experiência, conhecimento e habilidades dos funcionários e/ou prestadores de serviços do negócio....................... Implicação competitiva da visão dos colaboradores no negócio............. Implicação competitiva do relacionamento interno do negócio............... Implicação competitiva do investimento e capital financeiro do negócio..................................................................................................... Implicações competitivas para os recursos sob a perspectiva do proprietário do BdC.................................................................................. 27 28 31 38 40 40 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 55 56 57 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS VBR Visão Baseada em Recursos VRIO Valor, Raridade, Imitabilidade e Organização BdC Blog do Cavaco B2B Business to Business B2C Business to Customer C2C Customer to Customer C2B Customer to Business B2G Business to government C2G Citizen to government FB Facebook ADS Adsense NF Nota Fiscal LISTA DE SÍMBOLOS Marca registrada SUMÁRIO 1 1.1 1.2 1.3 1.3.1 1.3.2 1.4 2 2.1 2.2 2.3 2.4 INTRODUÇÃO.................................................................................................. CARACTERIZAÇÃO ORGANIZACIONAL.................................................... CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMÁTICA DA PESQUISA..................... OBJETIVOS DA PESQUISA.............................................................................. OBJETIVO GERAL............................................................................................ OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................... JUSTIFICATIVA DO ESTUDO......................................................................... REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................. ESTRATÉGIA E VANTAGEM COMPETITIVA.............................................. VISÃO BASEADA EM RECURSOS (VBR)..................................................... O MODELO VRIO.............................................................................................. E-COMMERCE............................................................................................. 15 16 20 21 21 21 21 22 22 25 28 33 3 3.1 3.2 3.2.1 3.3 3.3.1 4 4.1 4.2 4.3 4.4 METODOLOGIA.............................................................................................. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA.............................................................. COLETA DE DADOS......................................................................................... INSTRUMENTO DE PESQUISA E SELEÇÃO DO ENTREVISTADO.......... ANÁLISE DE DADOS........................................................................................ APLICANDO O MODELO VRIO......................................................................RESULTADOS................................................................................................... RECURSOS FÍSICOS......................................................................................... RECURSOS ORGANIZACIONAIS................................................................... RECURSOS HUMANOS.................................................................................... RECURSOS FINANCEIROS.............................................................................. 36 36 37 38 39 39 41 41 46 53 55 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 59 6 REFERÊNCIAS................................................................................................. 61 APÊNDICE A – INSTRUMENTO DE PESQUISA....................................... 66 15 1 INTRODUÇÃO O termo “estratégia” tornou-se parte do vocabulário das empresas durante a década de 50, quando a resposta às descontinuidades ambientais ganhava importância e notoriedade. Dicionários da época traziam seu uso no sentido militar, que era definido como “a ciência e a arte do emprego de forças numa guerra” (ANSOFF et al., 1993). Quando se fala em estratégias dentro de uma organização, trata-se dos planos que essa empresa tem, do curto ao longo prazo, com objetos e metas estabelecidas, com o intuito de estabelecer uma vantagem competitiva em relação à concorrência (WHITTINGTON, 1996). Três pontos de vantagem são essenciais para a elaboração de estratégias: 1) A formulação da estratégia, que se refere ao desenvolvimento da mesma, propriamente dito; 2) a implementação da estratégia, que seria colocar em prática aquilo que foi planejado; e 3) o controle estratégico, responsável por controlar se aquilo que foi planejado está sendo executado corretamente e/ou interferir com adaptações na estratégia quando cabível (HENDERSON, 1998). Permitir que a empresa escolha e utilize uma estratégia que gere vantagem competitiva é o objetivo final do processo administrativo estratégico. Uma empresa gera vantagem competitiva quando, por si só, é capaz de gerar maior valor econômico do que suas concorrentes. Esse valor econômico é simplesmente a diferença entre os benefícios percebidos na compra produtos e/ou serviços de uma determinada empresa e o custo econômico total que o cliente obteve com esses produtos e/ou serviços (BARNEY & HESTERLY, 2011). A vantagem competitiva de uma empresa específica pode ser temporária ou sustentável. A primeira é aquela que dura por um curto período. Já a segunda, por outro lado, pode durar mais tempo. As empresas que criam o mesmo valor econômico do que as concorrentes experimentam a chamada paridade competitiva. Já as empresas que geram menos valor competitivo do que a concorrência tem uma desvantagem competitiva (BARNEY & HESTERLY, 2011). Essas desvantagens competitivas também podem ser temporárias ou sustentáveis, dependendo do tempo que as mesmas permaneçam. Empresas, mesmo que de pequeno porte precisam também definir seu público alvo, estabelecer sua missão, visão e valores, para estar pronta para traçar suas metas e objetivos, a fim de implementá-los para alcançar resultados consistentes, pois na maioria dos casos existentes, os clientes são antigos e assíduos, porque confiam no trabalho destes profissionais através de um histórico de estratégias bem sucedidas, seja atuando em um processo ou na 16 postura estratégica que se adotou com o mesmo. Assim, toda estratégia tem que ser analisada e bem definida para o alcance de resultados e fidelização de cliente, caso contrário, será necessária uma adequação na estratégia traçada, sempre de acordo com seu nicho de mercado e a definição da sua razão de ser empresa (BARNEY & HESTERLY, 2011). A gestão estratégica consiste nestas formulações, nas tomadas de decisão e monitoramento da estratégia, visando alcançar objetivos futuros. Para o início desta formulação será necessário analisar dados específicos que identificam a competitividade da empresa, tais como: as oportunidades e ameaças no ambiente externo e pontos fortes e fracos no ambiente interno, com intuito de aproveitar e/ou incentivar aquilo que é identificado como pontos fortes e oportunidades e melhorar e/ou elaborar estratégias para aquilo que for identificado como pontos fracos e ameaças (BARNEY & HESTERLY, 2011). Uma vez identificadas às informações citadas no parágrafo anterior, o gestor passa a pensar sobre a disponibilidade organizacional (Figura 2) com ações de melhorias para eventuais oportunidades estratégicas, elencando as prioridades, em função dos assuntos mais emergentes identificados na análise, ou seja, decidir para onde a empresa deve seguir para sobreviver ou sobressair da situação em que se encontra (BARNEY & HESTERLY, 2011). Neste sentido, a visão baseada em recursos é importante para a gestão estratégica porque é uma perspectiva recente que vê os recursos como o fundamento para a estratégia das empresas. Essa abordagem considera as competências, as capacidades e as habilidades como sendo a base de conhecimento produtivo e organizacional e, por sua vez, a fonte mais importante das vantagens competitivas e da lucratividade das empresas. Uma das ferramentas que permitem a análise desses recursos é o modelo VRIO, que permite compreender, sob as condições de valor, de raridade, da imitabilidade e da organização, as relações entre os recursos das empresas e a geração de vantagens competitivas sustentáveis, ou seja, integra a perspectiva de posicionamento com a visão baseada em recursos, contribuindo para analise do ambiente interno da organização. O VRIO vem a ser um modelo de auxílio à tomada de decisão, do ponto de vista da construção do planejamento estratégico para essa empresa. Partindo desses preceitos, a proposta desse trabalho é analisar, através da aplicação da metodologia VRIO, os recursos de uma empresa especializada em venda de artigos (via e- commerce) de vestuário e instrumentos musicais. 1.1 CARACTERIZAÇÃO ORGANIZACIONAL 17 Nascida em Natal/RN, no dia 05 de maio de 2017, pertencente a um único proprietário, a microempresa “Blog do Cavaco” (BdC), especializada em artigos e instrumentos musicais, em um nicho voltado ao estilo do samba e do pagode, foi resultado de sonhos, persistência, estudos de mercado e, claro, de muito amor pelo samba 1 e pelo cavaco 2 por parte do jovem empreendedor norte-rio-grandense, Yuri Galvão, hoje com 31 anos. “Nascemos da vontade de fortalecer o samba e o pagode através do cavaco. Mas fomos além, e hoje vestir o que te representa é a nossa missão! Vista o Samba, Vista BdC, Vista o Que te Representa!” (Yuri Galvão, empreendedor, informação verbal) O Blog do Cavaco é voltado ao nicho musical, mais especificamente a classe do Samba e Pagode. A empresa repassa uma experiência completa através dos seus produtos e serviços, “mergulhando” no mundo do samba e pagode com os seus admiradores. Sua logomarca faz referência a abertura circular central do corpo (de madeira oca) do cavaco, por onde passam as suas quatro cordas (Figura 1). Figura 1 – Logomarca da empresa Blog do Cavaco Fonte: Site oficial do Blog do Cavaco. Disponível em: https://www.reserva.ink/blogdocavaco. Acesso em: 10 set. 2022 1 Samba - Também conhecido como, samba carioca, é um gênero musical brasileiro que se originou entre as comunidades afro-brasileiras urbanas do Rio de Janeiro no início do século XX. 2 Cavaco - É um instrumento musical de cordas, formado por um corpo de madeira oco e chato, em forma de oito, e composto de quatro cordas. https://www.reserva.ink/blogdocavaco https://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%AAnero_musical https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil https://pt.wikipedia.org/wiki/Afro-brasileiroshttps://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_de_Janeiro https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XX https://pt.wikipedia.org/wiki/Instrumento_musical 18 A empresa está presente nos maiores eventos desse segmento e seus produtos já foram utilizados por diversas celebridades e referências, tanto desse segmento musical no Brasil, como artistas, esportistas e profissionais influentes. O Blog do Cavaco possui um escritório físico, localizado em Natal/RN, base para as tratativas associadas a cadeia produtiva da empresa, entretanto é um negócio inteiramente digital, que funciona através do seu e-commerce e das suas redes sociais (Instagram, Facebook, Youtube e Whatsapp). A empresa vende mais de 90 estampas de camisas, regatas e moletons em 100% de algodão para adultos e crianças (nas mais diversas tonalidades de cores), distribuídas em 11 grandes coleções (dia dos pais, tudo de samba, praia, tudo de cavaquinho, músicas, camiseta química, percussão, futebol/futevôlei, lançamentos, trocadilho, altinha) e cerca de 30 modelos de bonés em tamanho único, no modelo Trucker e com snapback (regulador). Quanto aos instrumentos, o Blog do Cavaco produz e distribui Cavacos do tipo Clássico e 1923, além de Banjos Clássicos, em cerca de cinco tipos de madeiras (Jacarandá, Maple/Faia, Imbuia, Cedro e Color), cada uma com suas peculiaridades e fornecendo uma acústica de qualidade (Figura 2). A empresa é completamente digital, composta exclusivamente pelo seu único proprietário, e conta com a prestação de serviços terceirizados de dois luthiers, um gestor de tráfego e dois fotógrafos. Ela funciona através do seu e-commerce e de suas redes sociais, essas últimas, que somadas, carregam e engajam os seus mais de 150 mil seguidores. As peças de vestuário são produzidas em parceria com a empresa Reserva 3 , através de um programa chamado Reserva INK. Esse programa é responsável por toda a cadeia produtiva da marca parceira: onde o cliente faz uma compra na página do Blog do Cavaco e o pedido é encaminhado para a fábrica da Reserva. A mesma produz, embala e envia o pedido para o cliente final (o próprio comprador pode acompanhar o processo através do painel de controle chamado INKrível). Esse pedido é enviado em até um dia útil ao cliente. Feito isso, o Blog do Cavaco precisa apenas ter a preocupação de criar os novos produtos e divulgar a marca. Em contrapartida, toda a produção instrumental é gerida pelo “BdC” (comumente chamado pelos seus seguidores). Os dois Luthiers, prestadores de serviço, produzem todos os os instrumentos do BdC por encomenda (seguindo um padrão de prazos, de acordo com o tipo de instrumento) e com todas as peculiaridades solicitadas pelo seu cliente. 3 Reserva – É uma marca de moda brasileira, fundada em 2004, no Rio de Janeiro. Única empresa brasileira no ranking das mais inovadoras do mundo, publicado pela revista norte-americana Fast Company 19 Figura 2 - Produtos do Blog do Cavaco. Fonte: Fotos do Site oficial e Instagram do Blog do Cavaco. Montagem produzida pelo Autor (2022). Disponível em: https://www.reserva.ink/blogdocavaco & https://www.instagram.com/blogdocavaco Acesso em: 10 set. 2022 Todos os esclarecimentos e as tratativas com os clientes sobre os produtos da empresa, seja no pré e/ou pós-venda, são realizadas através dos canais digitais (e-commerce, redes sociais e telefones disponíveis) do BdC e da Reserva. A exceção fica para os instrumentos musicais do BdC, onde os esclarecimentos e as encomendas são é realizados, exclusivamente, através dos telefones e do whatsapp do BdC. 1.2 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMÁTICA DA PESQUISA https://www.reserva.ink/blogdocavaco https://www.instagram.com/blogdocavaco 20 No Brasil, como abordado por Fernandes (2022), os e-commerces atingiram a marca de R$ 118,6 bilhões em vendas no primeiro semestre de 2022, de acordo com o relatório Webshoppers 46, elaborado pela NielsenIQ|Ebit 4 , em parceria com a Bexs Pay 5 . Esse valor corresponde a uma alta de 6% em comparação com 2021, no mesmo período, quando o valor era de R$ 111,8 bilhões. “O crescimento do consumo nesse semestre é tímido se comparado com o crescimento de 2020 para 2021, quando tivemos uma alta de 47%, mas o volume de vendas ainda é muito expressivo e reforça que o e-commerce veio para ficar, sobretudo, na compra de produtos de giro rápido”, afirmou o head de e-commerce da NielsenIQ|Ebit, Marcelo Osanai (FERNANDES, 2022). “Cada vez mais o consumidor opta por fazer compras online para abastecer suas moradias com alimentos, bebidas, produtos de higiene pessoal, ou seja, esses produtos de baixo custo e alto giro” (Marcelo Osanai, head de e- commerce da NielsenIQ|Ebit, em entrevista para a página E-commerce Brasil). Também aconteceu uma alta na quantidade de pessoas que aderiram ao consumo online via plataformas de e-commerce. De acordo com FERNANDES (2022), atualmente constam 49,8 milhões de compradores online no Brasil, o que representa uma alta de 18% na comparação do primeiro semestre de 2022 com o mesmo período do ano anterior, quando o número era de 42 milhões. O e-commercce já vinha crescendo, mas cresceu ainda mais após a pandemia. Os vendedores sempre buscam diversos canais de vendas, e o e-commerce foi sendo incorporado de forma significativa desde o ano de 2019. Nesse contexto pandêmico, e com o crescimento dos e-commerces no Brasil, também cresce, indiscutivelmente, a competitividade entre os vendedores no “digital”. Já não é mais suficiente ter produtos vencedores (TANIR, 2022). As exigências nos produtos e a praticidade no momento da compra crescem juntas e em paralelo ao crescimento dos e-commerces. Ter vantagens competitivas e sustentáveis no mercado é imprescindível, principalmente pela enorme quantidade de e-commerces e pelas mudanças e inovações que acontecem a todo o 4 NielsenIQ | Ebit - Uma empresa que mede a relevância das lojas virtuais brasileiras, avaliando se elas, de fato, são confiáveis. Esse sistema de avaliação permite aos lojistas, inclusive, entender as mudanças de hábitos no perfil do consumidor. 5 Bexs pay – Plataforma digital de pagamentos e câmbio. 21 momento nesse mercado. Acompanhar esse ritmo e se manter competitivo nesse mercado é desafiador. No digital, se um vendedor deseja se destacar, ele deve pensar em como pode aumentar sua vantagem competitiva frente aos concorrentes. A aplicação da metodologia VRIO aparece como uma oportunidade de análise dos recursos internos das organizações, esse modelo ou análise costuma ser utilizado para a identificação de pontos competitivos e reais forças de capacidade presentes nas organizações, considerando que esses recursos devem ser considerados como valiosos (V), raros (R) e inimitáveis (I) para a organização (O) utilizar no seu processo de negócio. Com base no que foi discutido nos parágrafos anteriores, vem à tona um questionamento fundamental para o estudo deste trabalho de conclusão de curso: Quão sustentáveis são as vantagens competitivas da empresa “Blog do Cavaco”? 1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA 1.3.1 OBJETIVO GERAL - Avaliar o potencial competitivo da empresa a partir da análise dos seus recursos internos. 1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Identificar os tipos de recursos (tangíveis e intangíveis) da organização sob a perspectiva VRIO. - Analisar as fontes de vantagem competitiva da organização com base nos recursos identificados. 1.4 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO A tecnologia reduziu distâncias. Conseguimos contatar pessoas em outras localidades, assistimos a entretenimentos no mundo todo com apenas um clique/acesso, pedimos refeições completas de qualquer lugar. Todas essas transformações, claro, mudaram também nosso jeito de comprar e vender (RODRIGUES, 2022). Pequenos empreendedorese também gigantes do varejo, graças à internet, obtiveram a opção de vender seus produtos online e, assim, nasceu o e-commerce. O principal benefício do e-commerce é a praticidade como benefício para o consumidor final. Hoje, conseguimos 22 comprar praticamente qualquer coisa de qualquer lugar, das compras mensais no supermercado ao mais novo artigo de tecnologia (RODRIGUES, 2022). Considerando que o conceito não é novo, e não se limita ao ambiente digital, a experiência de compra é um gatilho essencial para a decisão de consumo de clientes atuais e potenciais. Inclusive, atualmente, os consumidores estão dispostos a pagar mais por uma ótima experiência de compra. Consequentemente, a mudança no comportamento dos consumidores indica que eles não baseiam mais sua lealdade no preço ou no produto, mas sim, na experiência que recebem, sendo o principal diferencial de uma marca (RODRIGUES, 2022). A contribuição de estudos como o realizado nesse trabalho é essencial para empresas que atuam no digital, pois nem só de tecnologia se faz um e-commerce, é crucial que pessoas e processos estejam sempre alinhados em torno da agilidade que o processo demanda para resolver problemas rotineiros, como a queda desempenho das vendas, por exemplo. Agilidade não é apenas rapidez, é também o contexto do negócio e os seus recursos todos organizados de forma a criar assertividade e flexibilidade nas tomadas de decisão, conseguindo acompanhar as mudanças e tendências do mercado, independente do produto ou serviço que a empresa ofereça aos seus clientes. Nesse sentido, o modelo VRIO viabilizará para essa pesquisa a análise a respeito do que a empresa em questão possui, que a faz (ou não) ter vantagem competitiva, em relação aos concorrentes. O VRIO coloca os recursos internos da organização em foco, como geradores de vantagem competitiva sustentável, e não apenas focando no ambiente externo. Por fim, o modelo VRIO, fundamentado na visão baseada em recursos, irá demonstrar quais são as características que os recursos devem possuir, a fim de constituírem vantagem competitiva, que se tornem ainda mais duradouras e eficazes para o Blog do Cavaco. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 ESTRATÉGIA E VANTAGEM COMPETITIVA A administração estratégica surgiu em resposta à necessidade de modelos mentais e ferramentas de planejamento estratégico para auxiliar os executivos a orientar suas empresas em um ambiente global de negócios desafiadores (HOSKISSON et al., 2009; GOMES, 2019). Os estudos e as práticas relacionados a essa abordagem, passaram por uma relevante evolução ao longo do tempo, em especial na segunda metade do século XX. As ações tinham a ênfase 23 dos fatores externos até a eficiência dos fatores internos, sendo um processo contínuo e em intensa difusão no campo da administração estratégica (ESTRADA; ALMEIDA, 2007; GOMES, 2019). Na década de 50, surgiram os primeiros estudos sobre gestão estratégica, caracterizada pela geração do pensamento sistêmico, com o foco na integração entre planejamento e controle, aprendizagem organizacional e busca da eficiência e eficácia da utilização dos recursos organizacionais (ESTRADA; ALMEIDA, 2007; GOMES, 2019). De acordo Hoskisson et al. (2009), a expansão da tecnologia e da informação vem possibilitando uma economia de mercado mais interativa, direcionando o pensamento estratégico para aproveitar oportunidades, o que significa que uma empresa se vale de oportunidades não previstas à medida que elas surgem. As organizações buscam seus diferenciais nos detalhes não observados pelos concorrentes a fim de melhorar sua posição no mercado (GOMES, 2019). “O processo de administração estratégica é um conjunto sequencial de análises e escolhas que podem aumentar a probabilidade de uma empresa escolher uma boa estratégia, isto é, uma estratégia que gere vantagens competitivas.” BARNEY; HESTERLY (2017) Rumelt et al. (1994) definem como o processo de administração estratégica é implementado, sendo um conjunto integrante de compromissos, decisões e ações necessários para uma empresa crie valor e tenha retornos superiores frente a sua concorrência. Já para Kich; Pereira (2013), os estudos sobre estratégia organizacional é uma área de conhecimento que tem o objetivo de compreender a relação entre a organização e seu ambiente externo. Com isso, as empresas buscam identificar como essas relações com o ambiente externo podem influenciar na criação de estratégias de competitividade entre concorrentes em busca de vantagem competitiva (GOMES, 2019). Como discutido em Gomes (2019), o livro Corporate Strategy, publicado por Igor Ansoff em 1965 (TERENCE, 2002), foi uma das primeiras referências a trazer uma abordagem sobre estratégia organizacional. Ansoff conceitua a estratégia como um conjunto de regras para a tomada de decisão sob as condições do desconhecimento parcial, e tais decisões referem-se à relação da instituição com o seu ambiente. O autor é considerado o “pai da gestão estratégica”, ele foi fundamental na criação do planejamento estratégico, e na avaliação da situação de mercado do negócio, através da 24 Matriz Ansoff, também conhecida como a Matriz Produto/Mercado. Essa matriz é utilizada para determinar as oportunidades de crescimentos dos negócios, na qual quatro estratégias podem ser formuladas: penetração de mercado, desenvolvimento de mercado, desenvolvimento de produtos e diversificação (DIAS, 2004). De acordo com Wright et al. (2007), a administração estratégica é desafiadora porque não se restringe apenas a estipular metas e depois delegar aos colaboradores as suas atribuições e diretrizes, mas está ligada também com a avaliação das ameaças e oportunidades do ambiente, assim como, os pontos fortes e fracos da empresa. Wright et al. (2007) ainda ressaltam uma série de passos que devem ser realizados pela alta administração: a) Estudar oportunidades e ameaças do ambiente externo; b) Estudar os pontos fortes e fracos do ambiente interno; c) Definir a missão da organização e seus objetivos; d) Formular estratégias (em todos os níveis) que possibilitem a organização alinhar os pontos fortes e fracos dela com as oportunidades e ameaças oferecidas pelo ambiente; e) Executar as estratégias; e f) Realizar o controle estratégico. Não existe um modelo de gestão estratégica universal e que possa ser utilizado em qualquer empresa e que implicará no sucesso da mesma. Cada organização possui sua cultura, seus talentos, seus ambientes e o contexto no qual está inserida, sendo assim, qualquer modelo pode gerar resultados positivos em uma organização e pode ser motivo de falência em outros casos. Essa administração estratégica nada mais é do que processo sequencial de análises e escolhas (Figura 3) que podem aumentar a probabilidade de uma empresa escolher uma estratégia que gere vantagens competitivas (BARNEY; HESTERLY, 2011). Figura 3 - Processo de Administração Estratégica Fonte: Adaptado de Barney; Hesterly (2011). 25 Quando falamos sobre vantagens competitivas (Figura 4), geralmente falamos em termos de diferenças reais entre empresas concorrentes, já que vantagens competitivas originam-se de forças reais da empresa ou de fraquezas reais das organizações rivais (FERRELL & HARTLINE, 2009). Nem sempre o olhar voltado aos concorrentes, para a implementação de mudanças internas, é uma estratégia benéfica inicialmente, pois muitas empresas enfrentam uma resistência organizacional, que de acordo com Ansoff (1990), é derivada das mudanças significativas na orientação estratégica da empresa. Com isso, para que não haja conflitos, é necessário primeiramente que exista um alinhamento interno na empresa para que, posteriormente, a implementação das estratégias sejam efetivas (GOMES, 2019). Figura 4 - Tipos de Vantagens Competitivas. Fonte:Adaptado de Barney; Hesterly (2011). De acordo com Ferrel; Hartline (2009), a análise da situação do ambiente externo, inclui os fatores que possam exercer consideráveis pressões diretas e indiretas sobre a organização, como: competitivos, econômicos, políticos, legais/regulamentares, tecnológicos e socioculturais. Com isso, como discutido em Gomes (2019), as organizações buscam conhecer os ambientes em que estão inseridas para que, só assim, venham a avaliar internamente seus ambientes e obter uma análise completa que as permitam visualizar oportunidades. “As informações sobre o ambiente com o conhecimento da capacidade da empresa permite à administração formular estratégias realistas para que os objetivos sejam atingidos.” Wright et al. (2011, p. 86) 2.2 VISÃO BASEADA EM RECURSOS (VBR) 26 A Visão Baseada em Recursos (VBR) é uma abordagem sobre as vantagens competitivas sustentáveis de uma organização e seus desempenhos, a partir de recursos estratégicos controlados pela empresa, como ativos, competências e habilidades (BARNEY, 1991). Trata-se de um “modelo de desempenho com foco nos recursos e nas capacidades”, segundo Barney; Hesterly (2017, p. 58). De acordo com Barney; Hesterly (2017), recursos são todos os ativos, capacidades, atributos, processos organizacionais, informações e conhecimentos controlados por uma organização. Esses recursos são subsídios que possibilitam a criação e implementação de estratégias, sendo divididos em tangíveis e intangíveis (Quadro 1). As capacidades funcionais formam um subconjunto dos recursos de uma empresa, fontes das competências essenciais da organização, constituindo um alicerce das vantagens competitivas (BARNE; HESTERLY, 2017; GOMES, 2019). Quadro 1 - Recursos Tangíveis e Intangíveis. Recursos Tangíveis Envolvem os recursos Físicos, Humanos (força de trabalho) e Organizacionais, que podem ser observados e avaliados. Recursos Intangíveis Envolvem os recursos abstratos, que não podem ser “tocados”, como por exemplo: relações informais entre os grupos; reputação da organização e dos produtos; engajamento dos funcionários; habilidades administrativas; habilidades tecnológicas; habilidades de coordenação e gestão; cultura organizacional; conhecimento intrínseco; habilidade dos recursos humanos; relacionamentos com fornecedores, clientes, agências e etc. Fonte: Adaptado de Barney; Hesterly (2011). Hoskisson et al. (2009) nos mostra que os recursos da empresa proporcionam um base para a formulação de estratégias. Com isso, percebe-se que as empresas precisam realizar uma análise interna de seus recursos para formular estratégias competitivas que sejam alinhadas aos seus objetivos (GOMES,2019). Para Wright et al. (2011), existem três tipos de recursos: recursos humanos (experiência, capacidades, conhecimentos, habilidades e julgamento de todos os funcionários da empresa), os organizacionais (os sistemas e processos da empresa, inclusive suas 27 estratégias, estrutura, cultura, base financeira, sistemas de informação e etc.) e físicos (instalações e equipamentos, localização geográfica, acesso a matérias-primas, rede de distribuição e tecnologia). Esses três tipos de recursos trabalham juntos para oferecer à empresa uma vantagem competitiva (WRIGHT et al., 2011; GOMES, 2019). Barney; Hesterly (2017) afirmam que os recursos e capacidades em uma organização podem ser classificados em quatro amplas categorias, uma a mais do que a abordagem de Wright et al. (2011), que não trazia em seu trabalho os chamados recursos financeiros (Quadro 2). Quadro 2 - Tipos de Recursos (Humanos, Organizacionais, Físicos e Financeiros). Recursos Humanos Incluem treinamento, experiência, discernimento, inteligência, relacionamentos e a visão individual dos gerentes e funcionários de uma empresa. Recursos Organizacionais Incluem a estrutura formal de reporte da empresa, seus sistemas formais e informais de planejamento, controle e coordenação, sua cultura e reputação, assim como relações informais entre grupos dentro da empresa e entre a empresa e aqueles em seu ambiente. Recursos Físicos Incluem toda a tecnologia física utilizada em uma empresa. Isso engloba a planta e os equipamentos da empresa, sua localização geográfica e seu acesso a matérias-primas. Exemplos específicos de planta e equipamentos que fazem parte dos recursos físicos de uma empresa são as tecnologias de hardware e software, robôs utilizados na produção e depósitos automatizados. Recursos Financeiros Incluem todo o dinheiro, de qualquer fonte, que as empresas utilizam para criar e implementar estratégias. Esses recursos financeiros incluem dinheiro de empreendedores, acionistas, credores e bancos. Lucros retidos, ou o lucro que uma empresa obteve anteriormente e investiu no negócio, também são um tipo importante de recurso financeiro. Fonte: Adaptado de Barney; Hesterly (2011). A criação e a execução bem sucedida de estratégias de operação, partindo dos recursos tangíveis e intangíveis, que resultam mais valor que as estratégias da concorrência, constitui a vantagem competitiva da empresa. Vantagem competitiva é o diferencial que os concorrentes 28 não têm. A habilidade em saber usar os recursos, da maneira mais eficiente possível, é essencial para obtenção da vantagem competitiva para a organização. Partindo dessa percepção, Foss; Knudsen (2003) corroboram com Barney; Hesterly (2011) ao afirmarem que a VBR está fundamentada em duas generalizações empíricas, em que a primeira dispõe sobre a heterogeneidade dos recursos como causa da distinção entre organizações e a segunda sobre a imobilidade dos recursos. Para Foss; Knudsen (2003) a condição de heterogeneidade dos recursos deve ser duradoura para que a vantagem competitiva permaneça com o passar do tempo. Com isso, as duas premissas quando consideradas em conjunto, explicam por que algumas empresas superam outras, mesmo que estejam no mesmo setor (BARNEY; HESTERLY, 2011). 2.3 O MODELO VRIO No mundo competitivo que vivemos, as organizações precisam criar estratégias que lhes permitam gerar valor sustentado. Partindo da abordagem VBR, de acordo com Barney; Hesterly (2017), é possível desenvolver um conjunto de ferramentas para analisar os diferentes recursos e capacidades que uma empresa pode possuir, como o potencial de cada um deles para gerar vantagens competitivas. Com isso, podemos identificar as forças e as fraquezas internas de uma organização. A principal ferramenta para conduzir essa análise interna é chamada de “modelo VRIO” (Quadro 3). Quadro 3 - Perguntas que conduzem a análise das forças e fraquezas internas de uma empresa. A questão do Valor. O recurso permite que a empresa explore uma oportunidade ambiental e/ou neutralize uma ameaça do ambiente? A questão da Raridade. O recurso é controlado atualmente apenas por um pequeno número de empresas concorrentes? A questão da Imitabilidade. As empresas sem o recurso enfrentam uma desvantagem de custo para obtê-lo ou desenvolvê-lo? A questão da Organização. As políticas e os procedimentos da empresa estão organizados para dar suporte à exploração de seus recursos valiosos, raros e custosos para imitar? Fonte: Adaptado de Barney; Hesterly (2011). 29 Esse modelo aborda quatro questões que devem ser consideradas sobre um recurso ou uma capacidade para determinar seu potencial competitivo: as questões do Valor, da Raridade, da Imitabilidade e da Organização. A questão do Valor O valor está associado aos recursos e capacidades de uma empresa que são utilizados para explorar as oportunidades e anular as ameaças ao negócio, onde o uso desses recursos e capacidades permitem aumentar ou diminuir, suas as receitas e os seus custos, respectivamente (BARNEY; HESTERLY, 2011). Os recursos, segundo Barney; Hesterly(2011), são considerados valiosos para uma empresa quando a permitem implementar estratégias que possibilitem a melhoria na eficiência e eficácia da empresa. O valor é um atributo do recurso, dos produtos e serviços oferecidos aos clientes, além da própria medida de distinção da vantagem competitiva da empresa, sendo que a maioria desses recursos valiosos não são negociáveis no mercado, mas construídos e acumulados no interior da empresa (VASCONCELOS; CYRINO, 2000). Barney; Hesterly (2011) citam que para identificar o impacto dos recursos e capacidades nas oportunidades e ameaças de uma empresa, devem ser examinados o uso dos recursos nas receitas e custos da empresa, bem como, estudar a cadeia de valor que segundo os autores, caracteriza-se por ser um conjunto de atividades empresarias a qual a empresa se dedica para produzir, desenvolver e comercializar seus produtos e serviços. Barney; Hesterly (2011) mostram que este tipo de análise é muito útil para identificar os recursos e capacidades financeiras, físicas, individuais e organizacionais controlados por uma empresa, ou seja, essa análise possibilita o reconhecimento de potenciais fontes de vantagem competitiva para uma empresa. Por fim, de acordo com Porter (2001), a cadeia de valor de uma empresa nada mais é que o conjunto de atividades empresariais a que ela se dedica para desenvolver, produzir, e comercializar seus produtos/serviços (Figura 5). 30 Figura 5 - Cadeia de Valor Genérica de Porter. Fonte: Adaptado de Porter (2001). A questão da Raridade A raridade é essencial para um recurso ser considerado como uma fonte de vantagem competitiva. Para Barney (1991), um recurso raro é aquele faz parte de um grupo restrito de empresas concorrentes e tende a se tornar uma fonte de vantagem competitiva, contudo, se o recurso ou capacidade for escasso, e não gerar valor, não será um recurso estratégico (BARNEY, 1991). Além disso, Barney; Hesterly (2011) afirmam que se um recurso ou capacidade é controlado por muitos concorrentes, este recurso ou capacidade dificilmente será uma fonte de vantagem competitiva, já que essa competitividade vem da raridade de um recurso ou capacidade e não do seu valor, visto que os recursos e capacidades valiosos são apenas fontes de paridade competitiva, ou seja, geram valor econômico. Apenas a raridade desses recursos valiosos trará uma diferenciação de valor econômico (BARNEY; CLARK, 2007). No geral, segundo Cunha (2017), as empresas que possuam os recursos ou as capacidades potencialmente valiosos devem estar em menor número quando comparado com o número de empresas concorrentes no setor. Com isso, este recurso ou capacidade podem ser considerados raros e fonte potencial de vantagem competitiva. A questão da Imitabilidade Inovadoras estratégicas, assim são denominadas as empresas com recursos raros e valiosos, pois se tratam de recursos relevantes e que outras empresas não dispõem. Assim, 31 estes só podem gerar uma vantagem competitiva sustentável se os recursos e capacidades proporcionam uma desvantagem de custo para obter ou desenvolver os mesmos, comparado com as empresas que já os possuem (BARNEY; HESTERLY, 2011; CUNHA, 2017). De acordo com Barney; Hesterly (2011), existem quatro fontes de imitação (Quadro 4), são elas: as condições históricas únicas, a ambiguidade causal, a complexidade social e a patente. Os autores explanam duas maneiras pelas quais as circunstâncias históricas gerarmvantagem competitiva. A primeira é quando a empresa é pioneira no setor, explorando uma oportunidade e tornando-a mais custosa para outras empresas imita-las. A outra maneira baseia-se na dependência de caminho, ou seja, um processo é dependente de caminho quando os fatos iniciais em sua evolução têm efeitos relevantes sobre os fatos posteriores. Quadro 4 - Fontes de Imitação Custosa. Condições históricas únicas Quando uma empresa obtém um acesso barato a recursos devido à sua posição no tempo e no espaço, outras empresas podem achar esses recursos caros para serem imitados. Tanto a vantagem do pioneirismo como a dependência de caminho podem criar condições históricas únicas. Ambiguidade causal Quando concorrentes não podem saber com certeza o que permite a uma empresa obter uma vantagem, essa vantagem pode ser difícil de imitar. Fontes de ambiguidade causal incluem situações em que vantagens competitivas são baseadas em recursos e capacidades „dados como certos‟, quando existem múltiplas hipóteses não comprováveis sobre por que uma empresa tem uma vantagem competitiva e quando as vantagens de uma empresa são baseadas em conjuntos complexos de capacidades inter-relacionadas. Complexidade social Quando os recursos e as capacidades que uma empresa utiliza para ganhar vantagem competitiva envolvem relacionamentos interpessoais, confiança, cultura e outros recursos sociais que são custosos de imitar no curto prazo. Patentes Uma fonte de vantagem competitiva sustentável em apenas alguns setores, incluindo o farmacêutico e o de químicos especializados. Fonte – Adaptado de Barney; Hesterly (2011). 32 Já a ambiguidade causal, Barney; Hesterly (2011) mostram que as empresas imitadoras podem não compreender a relação entre recursos e capacidades controladas por uma empresa, assim como a vantagem competitiva dela. Em outras palavras, a relação existente entre os recursos e as capacidades de uma organização e sua vantagem competitiva gerar uma ambiguidade. Na complexidade social, as vantagens competitivas são baseadas em fenômenos sociais complexos, a habilidade de imitá-los, seja por duplicação direta ou substituição, é geralmente restrita (BARNEY; HESTERLY, 2011). Como exemplos dessa complexidade temos as relações interpessoais entre os gerentes, à cultura da empresa e a sua reputação com clientes, colaboradores e fornecedores (BARNEY; HESTERLY, 2011). Por fim, temos as Patentes, vantagem competitiva sustentável em apenas alguns setores, a exemplo das Industrias farmacêuticas e químicas especializadas. A questão da Organização Segundo Barney; Hesterly (2011), uma empresa para obter vantagem competitiva depende do valor, da raridade e da imitabilidade de seus recursos. Com isso, para que esse potencial seja devidamente aproveitado, a empresa deve estar organizada e ter as suas políticas e procedimentos alinhados ao objetivo principal da empresa, o de fazer com que recursos e capacidades valiosos, raros e difíceis de imitar sejam explorados de modo que se tornem fontes de vantagem competitiva. Barney; Hesterly (2011) destacam que se os recursos e capacidades controlados por uma empresa não forem valiosos, eles não permitirão que a empresa estabeleça estratégias para criar vantagens competitivas, e aumentarão os custos da empresa, diminuindo sua receita. Esses tipos de recursos e capacidades são considerados como fraquezas. É importante frisar que se um recurso ou capacidade são valiosos, mas não raros, sua exploração gerará paridade competitiva. Todavia, se forem considerados valiosos e raros, mas não custosos de imitar, explorá-los gerará uma vantagem competitiva temporária, que na visão de Barney e Hesterly (2011) são uma competência diferencial. Contudo, se um recurso ou uma capacidade são valiosos, raros e custosos de imitar, explorá-los gerará uma vantagem competitiva sustentável (BARNEY & HESTERLY, 2011). Neste caso, segundo os autores, as empresas competidoras enfrentam desvantagens de custo muito altas para imitar os recursos e as capacidades da empresa bem sucedida. 33 2.4 E-COMMERCE Nos anos 60, um grupo de indústrias dos Estados Unidos efetuou a primeira tentativa de criar formatos comuns para os dados eletrônicos. Esses formatos eram apenas para compra, transporte e financiamento de dados utilizados predominantemente para astransações entre industriais (STEFANO; ZATTAR, 2016). Um pouco mais a frente, nos anos 80, muitas empresas já utilizavam o meio eletrônico para o envio de ordens de compra e pagamento para agilizar as operações de logística e de suprimentos (TURCHI, 2019). No final dos anos 90, inicio dos anos 2000, com os avanços tecnológicos significativos desse período, as empresas passaram a pensar de forma mais ampla sobre a inserção do marketing em suas operações, através do uso de softwares e hardwares que foram essenciais para a criação de modelos de negócios de alto desempenho para as organizações (TURCHI, 2019). Atualmente, o uso da tecnologia é algo imprescindível, e com a chegada da chamada “indústria 4.0” 6 toda essa tecnologia recebeu um enorme impulso, alavancando as plataformas e-commerce. Deve ficar claro que toda o comércio mudou sua forma de vender, deixando suas lojas inteiramente (ou parcialmente) virtuais. A chegada do comércio eletrônico foi inevitável. Muitas empresas investiram no desenvolvimento de plataformas de e-commerce, pagas e/ou gratuitas. Essas plataformas permitem que produtos sejam cadastrados e disponibilizados aos consumidores, com a garantia que as vendas sejam gerenciadas sem contratempos, pelo vendedor (COSTA, 2013; LARGO, 2019). O e-commerce (ou comércio em português) é uma modalidade de comércio eletrônico onde os negócios e as transações financeiras são realizadas via dispositivos e plataformas eletrônicas, como computadores, celulares, tablets e outros (BERTHOLDO, 2021; DE LIMA; VIEIRA, 2021). Teixeira (2015) ainda enriquece esse conceito e afirma que o comércio eletrônico é uma extensão do comércio convencional, é um ambiente virtual onde todas as compras, vendas e/ou prestações de serviços são feitas através de equipamentos eletrônicos, do começo ao fim da negociação. Todos os processos da cadeia de valor de um comércio eletrônico podem ser realizados de forma completa ou parcial, incluindo as transações negócio-negócio, negócio-a-consumidor e intra organizacional, numa infraestrutura predominante pública de fácil e livre acesso. (ALBERTIN, 2010, p.3) 6 Indústria 4.0 - É uma expressão que engloba algumas tecnologias para automação e troca de dados e utiliza conceitos de Sistemas ciber-físicos, Internet das Coisas e Computação em nuvem. O foco da Industrial 4.0 é a melhoria da eficiência e produtividade dos processos. 34 De acordo com Chaffey (2001), é evidente que as transações não financeiras (como os pedidos e especificações realizadas pelos clientes) também são parte do e-commerce, firmando a relação existente entre o consumidor e o vendedor, e mostrando que o e-commerce vai muito além do que a compra e venda propriamente ditas. As plataformas tornam-se um meio de troca de informações em relação aos produtos e/ou serviços que estão sendo adquiridos. Segundo Guimarães (2017), ao abordar o tema “comércio eletrônico”, muitas pessoas associam esse tipo de comércio ao formato tradicional, que é o da empresa vendendo para os seus consumidores, o Business-to-Costumer (B2C), entretanto há outros tipos de vendas que podem ser realizadas pela internet. Assunção et al. (2018) esclarecem que as variações do comércio eletrônico estão associadas as adaptações realizadas para os públicos-alvo em que se deseja atingir, e isso muda de acordo com as estratégias adotadas pelas diferentes empresas do mercado (Figura 6). Os seis modelos de e-commerce mais conhecidos na atualidade são o B2B, o B2C, o C2C, o C2B, o B2G e o C2G. Segue abaixo uma descrição resumida de todos os modelos citados (SAMPAIO, 2017; DE LIMA; VIEIRA, 2021): I. Business-to-business (B2B): Quando ambos os envolvidos nas transações são empresas (negociações em grande escala). Tem como característica as enormes exigências no prazo de entrega e valor de frete, pelo fato dos clientes serem empresas ou empreendedores mais experientes na área. II. Business-to-customer (B2C): Quando as transações ocorrem entre as empresas e os consumidores. O B2C sempre vem na mente quando fala-se em comércio eletrônico, e nele a atenção deve ser redobrada quando no processo há a necessidade de cuidar da demanda do cliente, pois o mercado nessa área é amplo, e pode ser bastante concorrido. III. Customer-to-customer (C2C): Quando as transações são baseadas na possibilidade de negociação entre os consumidores. Através de plataformas de divulgação, conhecidas como marketplace, esses consumidores conseguem vender os seus próprios produtos, tanto usados, quanto criações próprias. Como exemplos temos a Amazon, o Mercado Livre, a Magazine Luíza e outros. IV. Customer-to-business (C2B): Nesse modelo uma pessoa física troca um bem com uma pessoa jurídica. Esse acontecimento é possível quando algumas empresas se interessam por ideias inovadoras de determinadas pessoas físicas. 35 V. Business-to-government (B2G): Quando as negociações são realizadas entre empresas e o governo. Em função da criação de leis e regras entre os mesmos, o B2G é considerado um comércio eletrônico. No Brasil ele também tem características únicas, considerando que, para essa negociação com o governo, a empresa deve comprovar a sua regularidade jurídica, fiscal, trabalhista, econômico-financeira e técnica. VI. Citizen-to-government (C2G): Quando as negociações feitas entre cidadãos e a administração pública (governo). Figura 6 – Exemplos de Aplicação do Comércio Eletrônico ### GOVERNO EMPRESA CONSUMIDOR GOVERNO G2C Ex: Coordenação G2B Ex: Informação G2C Ex: Informação EMPRESA B2G Ex: Aquisição B2B Ex: E-commerce B2C Ex: Loja Virtual CONSUMIDOR C2G Ex: Imposto C2B Ex: Comparação de preços C2C Ex: Leilão Fonte: Adaptado de Limeira (2007) Conforme abordado por Andrade (2001), os principais benefícios do e-commerce aos consumidores são as compras mais eficientes e diversificadas, por preços mais baixos, serviços personalizados e produtos inovadores, onde cada um escolhe o que e onde comprar de acordo com as suas vontades e necessidades. Quanto aos benefícios para os fornecedores, temos o custo mais baixo para alcançar o maior número de compradores e as lojas disponíveis 24 horas por dia, deixando o cliente a livre escolha do horário de compra, além da praticidade de ter produtos semelhantes para suprir algumas faltas. Tudo isso aumenta a satisfação do cliente no momento da aquisição. Stefano e Zattar (2016), afirmam que as organizações podem se beneficiar do e-commerce através de seis fatores: a) Mercado internacional; b) Economia de custo operacional; c) Customização em massa; d) Redução de estoques e despesas gerais; e 36 e) Redução de custos com telecomunicação. Além disso, Albertin (2010) e Largo (2019), também trazem outras vantagens da utilização dos e-commerces: a) Aumento do relacionamento com seu cliente-fornecedor; b) Diversificação das formas de negociação, sempre adequando seu produto as novas formas de vendas e distribuição; c) Novas oportunidades de negócio; d) Inovação e personalização do serviço/produto; ) Atendimento mais ágil e completo; e f) Novo canal de vendas e distribuição para as empresas. Quando se refere ao comércio eletrônico no Brasil, uma pesquisa feita pela empresa Neutrust, mostrou um crescimento de 12,6% nas compras em e-commerces brasileiros no primeiro trimestre de 2022, o que representa um faturamento de R$ 39,6 bilhões ao comércio digital no país (MERCADO & CONSUMO, 2022). O nicho de instrumentos musicais representa a 19ª categoria mais consumida no país, com faturamentos no Mercado Livre (maior marketplace da América Latina), por exemplo, chegando à casa dos R$ 335, 5 milhões de reais/semestre (E-COMMERCE BRASIL, 2022). 3 METODOLOGIA 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA Este trabalho trata-se de uma pesquisaexploratório-descritiva quanto aos seus objetivos, e abordagem qualitativa. Quanto aos procedimentos utilizados, caracteriza-se como estudo de caso. De acordo com Prodanov; Freitas (2013), uma abordagem qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo intrínseco entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser quantificado. O esclarecimento dos fenômenos e a atribuição de significados são essenciais no processo de pesquisa qualitativa. Nela não utilizamos métodos e técnicas estatísticas. A fonte direta para coleta de dados (o ambiente natural) e o pesquisador são os instrumentos-chave. Por isso a pesquisa é descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais desse tipo de análise. 37 Trata-se também de um estudo de caso pois temos uma análise profunda e exaustiva de um ou poucos objetos de maneira que permita que o seu amplo e detalhado conhecimento seja obtido (YUN, 2007). O estudo de caso possui uma metodologia de pesquisa classificada como aplicada, porque busca a aplicação prática de conhecimentos para a solução de problemas sociais (BOAVENTURA, 2004). De acordo com Cooper; Schindler (2016), pra que um pesquisador mostre o quanto o seu estudo irá contribuir para o conhecimento de forma geral, ele deve usar as ferramentas adequadas à base conceitual do estudo e ao problema-raiz, sempre de acordo com os padrões dos métodos científicos. Como essa pesquisa tem o objetivo de analisar o processo de desenvolvimento de vantagens competitivas, existe a necessidade de descrever os fatos associados à realidade de um e-commerce, 100% digital, automatizado e com sede na região Nordeste do país. Sobre os procedimentos propostos para essa pesquisa, trata-se de um estudo de caso qualitativo, que constitui uma investigação de uma unidade específica, situada em seu contexto, de acordo com a análise dos recursos internos da empresa e, utilizando a percepção do proprietário da empresa sobre o seu negócio, que se propõe a oferecer uma visão panorâmica do fenômeno estudado. 3.2 COLETA DE DADOS Partindo de Marconi; Lakatos (2011), que afirmou que as pesquisas qualitativas têm o intuito de obter respostas sobre o tema ou problema a investigar, a técnica de coleta de dados escolhida para este trabalho foi à entrevista. Esta escolha muito tem haver com o que foi expresso por Cervo; Bervian; Da Silva (2007) e reiterado por Gomes (2019), que diz que se recorre à entrevista quando não há fontes mais seguras para obter as informações desejadas ou quando existe a vontade de se completar dados obtidos através de outras fontes de informações.. Existem vários tipos de entrevistas, que variam conforme o propósito do investigador. Para essa pesquisa, optou-se por uma entrevista semiestruturada, que é quando o pesquisador segue um roteiro mais espontâneo, no qual possibilita que outras perguntas possam ser realizadas ao indivíduo (MARCONI; LAKATOS, 2011; GOMES, 2019). A entrevista não é uma simples conversa, de acordo com Cervo; Bervian; Da Silva (2007), é uma conversa dirigida pelo objetivo de recolher, através do interrogatório do informante, dados para a 38 pesquisa. Dessa forma, foi construído um instrumento capaz de obter as informações necessárias para a atingimento do objetivo geral e específico desse trabalho. 3.2.1 INSTRUMENTO DE PESQUISA E SELEÇÃO DO ENTREVISTADO O roteiro da pesquisa foi produzido com base na proposta de Barney; Hesterly (2017), com quatro tipos de recursos abordados, os físicos, os organizacionais, os humanos e os financeiros. Esses mesmos recursos foram divididos em subgrupos, totalizando quinze tópicos para a análise VRIO. Por se tratar de um negócio predominantemente digital, os subgrupos foram divididos abordando as temáticas que vão desde a estruturação online do negócio, passando pela sua logística, colaboradores, e indo até a divulgação da marca e o relacionamento com o cliente no pré e pós-venda. (Quadro 5). Quadro 5 - Categorias dos Recursos e suas subdivisões abordadas no roteiro do questionário. CATEGORIAS DOS RECURSOS RECURSOS IDENTIFICADOS Recursos Físicos Estrutura Física Localização Geográfica Acesso a matérias-primas Produtos & Instrumentos vendidos Recursos Organizacionais Estrutura Online (site, pré e pós-venda, canais de atendimento ao cliente e etc) Reputação da Empresa/Marca Planejamento, Coordenação e Controle Cultura empresarial Logística Redes Sociais e Engajamento Marketing Recursos Humanos Experiência, conhecimento e habilidades dos funcionários e/ou prestadores de serviços Visão dos colaboradores Relacionamento interno (gerencia x colaboradores) Recursos Financeiros Investimentos e capital financeiro Fonte: Adaptado de Barney; Hesterly (2017) 39 O roteiro da entrevista é composto por um questionário contendo 60 questões estruturadas e direcionadas para os subtópicos de cada categoria de recurso da empresa. O questionário (APÊNDICE A) foi aplicada no dia 07 de novembro de 2022, para o proprietário da empresa, um jovem empreendedor de 30 anos, com mais de 6 anos de experiência com e- commerces e que possui experiência como musico profissional, possuindo também vivência na área com vocal e instrumentos de samba em apresentações. A entrevista foi aplicada pelo próprio autor, em local reservado, na empresa em estudo, e teve 2 horas e meia duração. 3.3 ANÁLISE DE DADOS Foi realizada uma análise qualitativa dos dados a fim de obter alguma forma de explicação, compreensão ou interpretação dos fenômenos sociais observados no Blog do Cavaco. A idéia desse tipo de abordagem é enfatizar experiências, opiniões, comportamentos e contextos sociais, no caso deste trabalho, partindo da perspectiva do proprietário. As questões formuladas para a entrevista aplicada, foram abertas, transcritas e formuladas por uma análise fundamentada. O objetivo foi compreender melhor sobre o ambiente da empresa e de seus recursos utilizando o modelo VRIO, proposto por Barney e Hesterly (2011) conforme as etapas descritas a seguir. Inúmeros trabalhos interessantes perdem-se por não alcançarem nível satisfatório de elaboração na fase de análise de dados. Um dado não fala por si mesmo. Ele deve ser interpretado frente a outros dados. A etapa da análise e interpretação dos dados pode ser considerada a etapa final do trabalho. 3.3.1 APLICANDO O MODELO VRIO As abordagens sobre valor, raridade, imitabilidade e organização podem ser reunidas em um único modelo para se analisar o potencial de retorno proveniente da exploração de quaisquer recursos e capacidades de qualquer empresa. Essa analise é observada no Quadro 6. Já a relação entre o modelo VRIO e as forças e as fraquezas organizacionais é observada na Quadro 7. Para esta pesquisa, as respostas do questionário aplicado ao proprietário do Blog do Cavaco, referentes aos recursos internos da empresa, formam os subsídios necessários para a interpretação da atual situação da empresa e as subsequentes considerações formuladas sobre cada recurso interno da mesma. Quadro 6 – O modelo VRIO. 40 Valioso? Raro? Custoso de imitar? Explorado pela organização? Implicações competitivas NÃO - - NÃO Desvantagem Competitiva SIM NÃO - ↑ Paridade Competitiva SIM SIM NÃO ↓ Vantagem Competitiva Temporária SIM SIM SIM SIM Vantagem Competitiva Sustentável Fonte: Adaptado de BARNEY & HESTERLY (2011). Quadro 7 – A relação entre o modelo VRIO e as forças e fraquezas de uma empresa. Valioso? Raro? Custoso de imitar? Explorado pela organização? Implicações competitivas NÃO - - NÃO Uma Fraqueza SIM NÃO - ↑ Uma Força SIM SIM NÃO ↓ Força e competência distintiva SIM SIM SIM SIM Força e competência distintiva sustentável Fonte: Adaptadode BARNEY & HESTERLY (2011). Os autores reforçam que se um recurso ou uma capacidade são valiosos, mas não raros, sua análise e a execução de estratégias subsequentes gerará paridade competitiva. Os autores também abordam que esses tipos de recurso geralmente não criam vantagens competitivas, mas, não analisá-los, pode colocar uma empresa em desvantagem competitiva. Com isso, recursos valiosos que não são raros podem ser considerados forças dentro da empresa. Como exposto na Tabela 2, para recursos ou capacidades que sejam valiosos e raros, mas não dispendiosos de imitar, os mesmos tornam-se uma vantagem competitiva temporária para a empresa. As empresas que exploram esses tipos de recursos, “largam na frente” e conquistam uma vantagem de pioneirismo, porque é a primeira empresa capaz de explorar esse tipo de recurso. Entretanto, caso os concorrentes tenham observado a vantagem competitiva, eles podem obter e desenvolver os recursos necessários para também utilizar essa 41 estratégia por meio de duplicação direta ou substituição, sem desvantagens quanto ao custo, quando comparado com a empresa pioneira. Qualquer vantagem competitiva que a pioneira tenha adquirido será anulada pela concorrência à medida que outras empresas passem a imitar os recursos necessários para essa competição. Além disso, esse tipo de recurso ou capacidade pode considerada uma força organizacional e um diferencial. Se um recurso ou uma capacidade são valiosos, raros e custosos de imitar, explorá-los trará uma vantagem competitiva sustentável. Empresas concorrentes enfrentam desvantagens de custo significativas para imitar os recursos e as capacidades da empresa bem-sucedida. Por mais que essas empresas concorrentes consigam adquirir ou desenvolver os recursos ou capacidades em questão, os altos custos de fazê-lo as colocariam em desvantagem competitiva. Esses tipos de recurso e capacidade são forças organizacionais e competências diferenciais sustentáveis. O viés da organização atua como um fator de ajuste no modelo VRIO. 4 RESULTADOS 4.1 RECURSOS FÍSICOS - Estrutura Física: A estrutura física é composta por diversos elementos, desde máquinas, equipamentos, matéria-prima, produtos, construções, localização geográfica e vários outros. A estrutura física compõe parte dos recursos tangíveis do BdC. , tendo como principais produtos as camisetas e os instrumentos musicais e é considerado pelo proprietário como fundamental em partes para o desempenho. Sobre a produção de camisetas, o entrevistado explica que: “(...) temos uma parceria com a Reserva, no qual ela produz por demanda (por venda) as nossas camisetas. Além da produção, ela fica com toda parte logística e burocrática do produto, ou seja, ela produz, envia o produto para o cliente e fatura (NF) o pedido. No fim, ela nos repassa um valor de cada venda, pode-se dizer: comissão. Nesse caso, o lugar físico é irrelevante, já que temos todo o processo de produção e venda externo, nos dando uma liberdade no que tange esse quesito”. (entrevistado) 42 Sobre os instrumentos, a empresa possui parcerias com luthiers que produzem os mesmos. Porém nesse caso, toda parte de logística, comercial e burocrática fica com a empresa BdC, ou seja, o luthier produz os instrumentos e envia à empresa, que administra o restante do processo de venda. Nesse caso em específico, o proprietário afirma que “(...) precisamos de um espaço físico para armazenamento dos instrumentos. Mas não é algo que influenciaria no desempenho, já que o armazenamento é simples para os produtos”. Em relação à sua avaliação sobre se seus concorrentes possuem a mesma estrutura física, o que poderia ser avaliado dentro de uma perspectiva de raridade de recurso, ele entende que: “No que tange as camisetas sim. Pois a Reserva também fornece esse serviço para outros clientes. No que tange os instrumentos não. (...) Normalmente os meus concorrentes (luthiers) produzem e vendem o produto no mesmo local. No meu caso, eu terceirizo”. (entrevistado) O proprietário também acredita que o produto camisetas é fácil de ser copiado, ou seja, considera um recurso imitável, pois a Reserva, empresa parceira, trabalha sem exclusividade, e fornece o serviço para outros clientes. “As estampas não podem ser copiadas, porém, há a possibilidade de empresas externas (que não fazem parte da Reserva) de copiarem.” – afirma o entrevistado. De acordo com as informações disponibilizadas pelo proprietário do BdC, observa-se que a estrutura física do Blog do Cavaco serve de ponto de apoio apenas para a estocagem e a parte burocrática dos instrumentos produzidos pela empresa, desde o envio do produto ao cliente, o acompanhamento da entrega, até o pós-venda, já que os produtos já são entregues prontos ao proprietário para serem repassados aos clientes (cada luthier produz os instrumentos na em sua fábrica particular, e apenas prestam o serviço ao BdC, não utilizando a estrutura física do BdC). Em suas palavras “Basicamente o local físico é explorado como estoque e ponto de apoio para empresa.” A sua atual estrutura física e a parceria com a marca Reserva são consideradas uma vantagem competitiva sustentável para o BdC (Quadro 8), pela economia financeira que traz a empresa, pela parceria com uma empresa renomada e pela otimização de tempo para o proprietário, já que a empresa não possui colaboradores e toda as demandas da empresa são resolvidas pelo próprio proprietário. Os bonés, nesse momento, não estão sendo produzidos pela empresa (que está planejando novas peças e novos lançamentos para os próximos meses), 43 o foco tem sido inteiramente as camisas e aos instrumentos, que tem trazido um retorno financeiro maior para a empresa. Para as camisetas, o fato de o BdC ter a parceria com a Reserva, não diminui a sua margem de lucro sobre os produtos vendidos pela empresa, pelo contrário, manteve o mesmo padrão de quando a empresa terceirizava todo o processo produtivo dos produtos e o frete, sendo que agora toda a produção, logística e parte burocrática fica a cargo da Reserva, que já possuem fábricas consolidadas no país e já produzem diversos artigos de vestuário em larga escala e os transportam para todo o Brasil. É bom para os dois lados, já que a empresa parceira também recebe um percentual das vendas. Então, do ponto de vista da estrutura física, o escritório da empresa, que também serve de local de estocagem dos instrumentos, possui tamanho suficiente para estocar o que a empresa produz para o momento, bem como para atender as demandas dos clientes. O retorno em larga escala da produção (terceirizada) e venda dos bonés, aliado a um provável aumento dos pedidos de instrumentos, seria um fator crucial para a empresa repensar esse cenário atual e o seu espaço físico num futuro próximo. Por mais que na perspectiva do proprietário a estrutura física gere uma vantagem competitiva sustentável, não há nada na literatura que sustente tal posicionamento para uma microempresa. Quadro 8 - Implicação competitiva da estrutura física do negócio. Recursos Físicos Estrutura Física Valioso? Raro? Custoso de imitar? Explorado pela organização? Implicações competitivas SIM SIM SIM SIM Vantagem competitiva sustentável Fonte – Dados da Pesquisa (2022). - Localização geográfica: Tanto o crescimento do varejo no Brasil como a importância de estratégias de localização são assuntos de extrema relevância quando se trata de consumo, decidir sobre o grau de concentração geográfica do negócio é uma das principais questões estratégicas que orienta a expansão das empresas (KATO, 2008). Quando questionado se a localização geográfica é fundamental para o desempenho da empresa, o proprietário afirma que “(...) Sim. Cremos que se a empresa rodasse fisicamente em SP ou RJ o desempenho seria maior. Já que o
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