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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ANÁLISES CLÍNICAS E TOXICOLÓGICAS CURSO DE FARMÁCIA YASMIN AMARO DE SOUZA ARAÚJO CRITÉRIOS ASSOCIADOS A NILM: uma revisão de literatura NATA-RN 2022 YASMIN AMARO DE SOUZA ARAÚJO CRITÉRIOS ASSOCIADOS A NILM: uma revisão de literatura Monografia apresentada ao curso de graduação em Farmácia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel/Licenciado em Farmácia. Orientadora: Profa. Dra. Deyse de Souza Dantas. Coorientadora: Profa. Dra. Emanuelly Bernardes de Oliveira da Silva. NATAL-RN 2022 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS Araújo, Yasmin Amaro de Souza. Critérios associados a NILM: uma revisão de literatura / Yasmin Amaro de Souza Araújo. - 2022. 31f.: il. Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação em Farmácia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Análise Clínicas e Toxicológicas. Natal, RN, 2022. Orientadora: Prof. Dra. Deyse de Souza Dantas. Coorientadora: Prof. Dra. Emanuelly Bernardes de Oliveira da Silva. 1. Colo do útero - Inflamação - TCC. 2. Papanicolau - TCC. 3. Alterações celulares - TCC. I. Dantas, Deyse de Souza. II. Silva, Emanuelly Bernardes de Oliveira da. III. Título. RN/UF/BS-CCS CDU 618.146 Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263 YASMIN AMARO DE SOUZA ARAÚJO CRITÉRIOS ASSOCIADOS A NILM: uma revisão de literatura Monografia apresentada ao curso de Graduação em Farmácia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Farmácia. Aprovada em: 30/06/2022 BANCA EXAMINADORA ______________________________________ Profa. Dra. Deyse de Souza Dantas Orientadora DACT/UFRN ______________________________________ Profa. Dra. Emanuelly Bernardes de Oliveira Silva Coorientadora LAPIM/DACT/UFRN ______________________________________ Prof. Dr. José Queiroz Filho Membro interno LAPIM/ DACT/UFRN ______________________________________ Profa. Dra. Daliana Caldas Pessoa Membro externo DACT/UFRN AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, pelo sustento e cuidado dia após dia, sem Ele eu não teria chegado até aqui e nada disso valeria a pena. Agradeço aos meus pais, por todo cuidado dedicado a mim, minha mãe que sempre fez de tudo para que pudesse estudar e me deu muito mais do que essa oportunidade, mas me ensinou princípios, empatia, amor ao próximo e força de vontade para nunca desistir. E ao meu pai, que me sustentou e me apoiou sempre. Aos meus avós, principalmente a minha avó Eliete (in memoria), que sempre me incentivou a estudar e sempre esteve comigo em todas as fases da minha vida, essa conquista é sua vovó! A minha avó Maria e ao meu avô Dias, que sempre fizeram e fazem de tudo por mim, são meus segundo pais, cuidam e estão sempre comigo, a eles toda a minha gratidão. Ao meu noivo que é o meu apoio, aquele que sei que sempre posso contar e que esteve comigo durante esses anos de graduação, dando todo o suporte e apoio. Aos meus tios, primos e familiares, minha gratidão por estarem ao meu lado sempre, feliz e torcendo por mim. As minhas amigas da faculdade, que foram tão importantes nessa trajetória, elas foram as minhas companhias quando estava distante da minha família, gratidão por cada momento juntas, dias de estudos, perrengues, felizes ou de dificuldade, sem elas a caminhada teria sido muito mais difícil. Aos meus amigos, que também sempre estão comigo e comemorando cada conquista. Concluo com o coração cheio de gratidão a Deus e à essas pessoas, a caminhada foi árdua, mais valeu e valerá muito mais a pena. RESUMO Infecções do trato genital feminino é um problema de saúde pública que pode acometer mulheres sexualmente ativas durante toda a vida, sendo necessário que seja feito regularmente o exame citológico, conhecido como Papanicolau, para avaliar se há alterações dos epitélios vaginais. A alteração citológica do colo do útero estudada são alterações benignas, descritas como NILM, negativo para lesão intraepitelial ou malignidade. Essa lesão pode ser desencadeada por um agente etiológico ou por alterações celulares em decorrência de respostas imunológicas, mudanças hormonais e fatores extrínsecos. O objetivo da pesquisa foi analisar e realizar o levantamento de publicações cientificas que abordam sobre os critérios de NILM, avaliando os fatores que desencadeiam esse tipo de inflamação no colo do útero de mulheres sexualmente ativas. Assim, foi realizada uma revisão bibliográfica através das bases de dados BVS, SciELO, PubMed e GOOGLE Acadêmico. Em que teve um total de 32 artigos científicos coletados nessas bases de dados, sendo selecionados 12 artigos após a leitura detalhada e de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. Os estudos demonstraram que a maior parte das mulheres que fazem o exame citológico cérvico-vaginal apresentam inflamação, podendo ser por gentes etiológicos. Em que os mais predominantes foram: G.vaginalis, Candida sp. e T. vaginalis ou devido a outras alterações do epitélio como atrofia e metaplasia. Palavras-chave: inflamação; colo do útero; Papanicolau; alterações celulares. ABSTRACT Infections of the female genital tract is a public health problem that can affect sexually active women throughout their lives, so it is necessary to regularly perform cytological examination, known as Pap smear to assess for changes in the vaginal epithelia. The cytological alteration of the cervix studied are benign alterations, described as NILM, negative for intraepithelial lesion or malignancy. This lesion can be triggered by an etiological agent or by cellular changes as a result of immune responses, hormonal changes and extrinsic factors. The aim of this research was to analyze and survey the scientific publications that address the NILM criteria, evaluating the factors that trigger this type of inflammation of the cervix. A bibliographic review was carried out through the BVS, SciELO, PubMed and GOOGLE Academic databases. A total of 32 scientific articles were collected from these databases, and 12 articles were selected after detailed reading and the inclusion and exclusion criteria. The studies showed that most women who undergo cervico-vaginal cytological examination present inflammation, which may be due to etiological agents, in which the most predominant were: G. vaginalis, Candida sp. and T. vaginalis or due to other alterations of the epithelium such as atrophy and metaplasia. Keywords: inflammation; cervix; Pap smear; cellular alterations. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 9 2 2.1 2.2 OBJETIVOS....................................................................................................... OBJETIVO GERAL............................................................................................. OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................... 11 11 11 3 REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................... 12 3.1 NILM.................................................................................................................... 12 3.2 3.3 MICROBIOTA VAGINAL................................................................................. ALTERAÇÕES CELULARES BENIGNAS REATIVAS OU REPARATIVAS ................................................................................................ 12 14 3.3.1 3.3.2 3.3.3 3.4 3.4.1 3.4.2 3.4.3 Inflamação............................................................................................................ Metaplasia............................................................................................................ Atrofia.................................................................................................................. INFECÇÕES DO TRATO GENITAL FEMININO....................................... Infecções por Gardnerella vaginalis.................................................................... Infecções por Candida sp...................................................................................... Infecções por Trichomonas vaginalis................................................................... 14 15 16 16 16 17 18 4 METODOLOGIA.............................................................................................. 21 5 RESULTADO E DISCUSSÃO......................................................................... 22 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 29 REFERÊNCIAS................................................................................................. 30 9 1 INTRODUÇÃO As infecções cérvico-vaginais são um problema de saúde pública bastante comum, que levam as mulheres a procurarem atendimento ginecológico. A vagina e o colo do útero têm uma microbiota especifica, com prevalência dos lactobacilos que atuam no combate a patógenos. Quando a mulher está susceptível a fatores intrínsecos e extrínsecos, o ecossistema vaginal é modificado, favorecendo o desenvolvimento de infecções e inflamações. Alguns fatores podem influenciar a composição da microbiota vaginal, como: gestação, menopausa, idade, atividade sexual, estágio do ciclo menstrual, uso de contraceptivos hormonais, desequilíbrios hormonais, entre outros. (CONSOLARO; MARIA-ENGLER, 2014; CARVALHO et al. 2022) Achados não neoplásicos são encontrados no exame de citologia cervical, conhecido como Papanicolau, sendo classificados como negativo para lesão intraepitelial ou malignidade (NILM). Nessas amostras citológicas, as alterações podem ser devidas a variações celulares não neoplásicas, alterações celulares reativas de natureza benigna e alguns achados microbiológicos. (INCA 2016; NAYAR; WILBUR, 2015) As reações inflamatórias nos achados do exame colpocitológico podem ser do tipo não infecciosas, em que ocorre alterações das células epiteliais, geralmente pelo uso do DIU (dispositivo intrauterino), atrofia vaginal em períodos da vida da mulher que ocorre a diminuição de estrogênio (menopausa, pós-parto) e pela radiação ou quimioterapia. Como também inflamações com achados infecciosos, em que os mais comuns são: infecções causadas por Gardnerella vaginalis., Trichomonas vaginalis e Candida sp. A contaminação e proliferação desses agentes patogênicos ocorre devido a alteração da barreira protetora (microbiota), geralmente quando o pH é modificado. (FREDRICH; RENNER, 2019; CONSOLARO; MARIA-ENGLER, 2014) Os sintomas vaginais, como corrimento, odor e coceira são causas comuns e causam preocupação e desconforto em mulheres em idade fértil. Esses sinais podem ser atribuídos à infecção vulvovaginal recorrente, que tem se tornado um problema epidemiológico e clínico, como também consequências na saúde reprodutiva e bem-estar das mulheres. Essas infecções podem levar há complicações como: infertilidade, abortos espontâneos, partos prematuros e susceptibilidade a doenças infecciosas. (KALIA et al., 2020; INCA, 2016) 10 Fundamentado nessas considerações, o objetivo do estudo é fazer um levantamento dos artigos disponíveis na integra, a partir de uma análise crítica da literatura, com o tema: os critérios de NILM. Diante disso, foi construído uma revisão bibliográfica, com os principais artigos encontrados e livros disponíveis, sendo descritos de forma organizada. Mostrando quais os fatores levam as mulheres em idade reprodutiva, desenvolverem lesões intraepitelias não malignas, identificadas no exame Papnicolau. 11 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Identificar via revisão de literatura, trabalhos que utilizaram critérios associados a NILM em mulheres sexualmente ativas que tenham sido submetidas ao exame Papanicolau, mostrando quais fatores podem ocasionar alterações inflamatórias do colo do útero. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ● Analisar a frequência das inflamações cérvico-vaginal em mulheres de idade reprodutiva; ● Identificar os agentes etiológicos com maior prevalência no esfregaço citológico; ● Detectar as alterações inflamatórias no Papanicolau em decorrência de respostas imunológicas; ● Investigar inflamação sem identificação do agente, mas com alterações celulares epiteliais no exame citopatológico. 12 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 NILM As amostras que nenhuma anormalidade epitelial é identificada e que não apresentam evidencias de células neoplásicas são relatadas como NILM. Sendo incluídos achados relacionados às respostas protetoras e reativas a inflamação, alterações hormonais e organismos colonizadores ou infecciosos. Alguns elementos celulares normais como presença de Lactobacilos e células endometriais, em um exame Papanicolau geralmente não são notificados. Mas a microbiologia, quando identificada, deve ser descrita. (INCA 2016) A inflamação vulvar nos exames citológicos, são características de um processo inflamatório no trato genital inferior da mulher. Sendo considerado um dos problemas ginecológicos mais comuns em mulheres de diferentes idades. Vários fatores de risco contribuem para o aparecimento dessa inflamação, como: múltiplos parceiros, uso de anticoncepcionais orais, duchas vaginais, alterações anatômicas, alterações na flora intestinal, uso inadequado de antibióticos e gravidez. No entanto, isso também pode ser atribuído à falta de regularidade no exame Papanicolau e a falta da higiene genital, tanto depois das eliminações fisiológicas, quanto antes e após a relação sexual. (CONSOLARO; MARIA-ENGLER, 2014; ALMEIDA,2015) 2.2 MICROBIOTA NATURAL O equilíbrio e a defesa do ecossistema vaginal são mantidos por meio de múltiplas interações, incluindo: flora vaginal normal, produtos do metabolismo microbiano, estado hormonal e resposta imune da mulher. A microbiota natural da vagina é composta principalmente por lactobacilos produtores de peróxido (os mais numerosos são os bacilos de Döderlein), que são responsáveis pela formação de ácido lático a partir do glicogênio, que é estimulado pelo estrogênio durante a diferenciação celular, sendo uma importante barreira. (WEBER; BACKES, 2016; BERNARDO; LIMA, 2015) Os lactobacilos convertem esse glicogênio em ácido lático, o que torna o pH da vagina ácido (3,8 a 4,5). Outra substância antimicrobiana produzida pelos lactobacilos é o peróxido de hidrogênio (H2O2), pois em nível suficiente causa toxicidade ao patógeno. O predomínio de Lactobacillus sp. que são capazes de produzir H2O2 e ácido lático, 13 colaboram significativamente para a inibição do crescimento de diversos microrganismos nocivos à mucosa vaginal. Durante a puberdade, os lactobacilos ressurgem em abundância e predominam até a menopausa. Após a menopausa, os números de lactobacilos diminuem novamente e a microbiota mista reaparece. Essas diferenças devem-se à variação nos níveis de estrogênio,que estimulam a produção de glicogênio ao longo da vida da mulher. (KALIA et al., 2020; WEBER; BACKES, 2016; SILVESTRE, 2016) A composição da flora vaginal não é constante, sendo assim varia em resposta a fatores exógenos e endógenos, causando suscetibilidade da microbiota normal. Nesses fatores incluem: diferentes fases do ciclo menstrual, puberdade, gravidez, uso de anticoncepcionais, frequência das relações sexuais, uso de ducha ou desodorantes íntimos e uso de antibióticos ou outros medicamentos com propriedades imunossupressoras. Desequilíbrios imunológicos e alterações na composição da microbiota vaginal levam ao aparecimento de episódios de vaginose bacteriana (VB), caracterizada por corrimento branco, fino e homogêneo, pH vaginal acima de 4.5, síndromes fisiológicas que são minimizadas com ação do equilíbrio imune. Ou vaginite inespecífica caracterizada por corrimento vaginal acinzentada, de odor fétido, com pH acima do normal. (SOUZA et al., 2019; LINHARES, 2010) Figura 1 - Citólise e lactobacilos. Fonte: Atlas de Citopatologia Ginecológica, 2012. A citólise é demonstrada por restos citoplasmáticos e núcleos desnudos de células epiteliais escamosas do tipo intermediário. Esta condição se deve à ação dos lactobacilos que metabolizam o glicogênio intracitoplasmático em ácido lático. Os lactobacilos (bacilos de Döderlein) são vistos nesta figura como bastões basofílicos disseminados. 14 2.3 ALTERAÇÕES CELULARES BENIGNAS REATIVAS OU REPARATIVAS 2.3.1 Inflamação Alterações celulares epiteliais reativas de natureza benigna no colo do útero, são relacionadas a inflamação, em geral, podem ser provocadas pela ação de agentes físicos, que podem ser radioativos, mecânicos, térmicos ou químicos, como medicamentos abrasivos ou cáusticos, quimioterápicos e acidez vaginal sobre o epitélio glandular. Sendo possível relacionar essas alterações benignas em células endometriais e mesmo endocervicais com o uso do DIU. (INCA, 2016) A Inflamação pode ser caracterizada como uma resposta dos tecidos às lesões ocasionadas por vários agentes (bactérias, vírus, fungos, reações químicas, radiação e outros), uma série de alterações acontecem para limitar a sobrevivência, proliferação e efeitos destes invasores. Resultando assim, em uma resposta inespecífica na defesa do organismo. O processo inflamatório tem como objetivo promover o reparo e recuperação da área lesada. (CONSOLARO; MARIA-ENGLER, 2014) De acordo com o estudo de Bedin, Gasparin e Pitilin, (2017), o processo de alterações celulares do colo uterino pode ser devido a fatores que influenciam a parte hormonal da mulher, como a utilização do contraceptivo oral, o uso da terapia de reposição hormonal, e a presença do epitélio metaplásico. Os critérios de alterações celulares associados a inflamação, são: aumento nuclear; binucleação ou multinucleação, halos perinucleares; nucléolos únicos ou múltiplos; o citoplasma pode apresentar policromasia, vacuolização e degeneração citoplasmática. Alterações semelhantes podem ser vistas nas células escamosas metaplásicas. (GOMES et al., 2016) 15 Figura 2 – Alterações comuns do processo inflamatório Fonte: Atlas de Citopatologia Ginecológica, 2012. (Adaptado) (A) Microvacuolização citoplasmática (seta dupla), halos perinucleares e tumefação nuclear. (B) Aumento nuclear difuso. É também evidente a leve irregularidade das bordas nucleares devido ao enrugamento da membrana nuclear (setas duplas). (C) Cariorrexe (fragmentação dos núcleos em múltiplos pedaços, setas). 2.3.2 Metaplasia A metaplasia é a substituição de um epitélio por outro, podendo ser completa ou parcial, no qual o epitélio endocervical do tipo colunar é substituído por um epitélio escamoso. Sendo bastante comum nas fases da puberdade, gravidez pela diminuição do PH, devido às alterações hormonais. Esse processo ocorre por causa de uma resposta fisiológica de proteção ao organismo, em que o epitélio está mais exposto a microorganismos patogênicos. Tornando um ambiente mais susceptível a inflamação e a doenças sexualmente transmissíveis. (RODRIGUES, BRINGEL, VIDAL, 2013; GONÇALVES et al., 2021) Este processo pode ser identificado pela visualização de células metaplasicas maduras ou imaturas no exame Papanicolau, sendo necessário o acompanhamento dessa paciente por não haver um tratamento especifico. Enquanto a maturação celular não ocorre, este epitélio em transformação pode evoluir para um processo celular maligno. (GONÇALVES et al., 2021) As células metaplásicas escamosas imaturas apresentam citoplasma delicado ou denso, às vezes com vacúolos. Os núcleos são um pouco maiores que aqueles das células intermediárias, redondos ou ovais, paracentrais ou centrais, com cromatina finamente granular regularmente distribuída e às vezes nucléolo. (BARROS et al., 2012). 16 2.3.3. Atrofia A atrofia do epitélio escamoso é decorrente da deficiência de estrogênio em fases da vida da mulher, como na infância, pós-menopausa, pós-parto, pós irradiação e devido a ação de alguns medicamentos. Provocando uma condição de vulnerabilidade do epitélio, ocorrendo o não amadurecimento das células escamosas. A detecção de infecção é mais vista nos esfregaços de pacientes com atrofia, devido ser um epitélio menos maduro e com predomínio de células basais e parabasais muitas vezes com alterações degenerativas. Em mulheres na pós- menopausa o esfregaço cervical atrófico pode ser acompanhado pela inflamação, devido a essas condições de adaptação epitelial. (BUHRING et al., 2021; BARROS et al., 2012) 2.4. INFECÇÕES DO TRATO GENITAL FEMININO 2.4.1 Infecções por Gardnerella vaginalis A Gardnerella é frequentemente associada a outras bactérias anaeróbicas, constituindo um quadro que é conhecido como vaginose bacteriana (VB), sendo uma das principais infecções vaginais em mulheres de idade fértil. É caracterizada pelo desequilíbrio da microbiota vaginal, ocasionando a diminuição da população de Lactobacillus e proliferação maciça de uma flora mista, que inclui a G. vaginallis. (SANTANA, et al., 2021; JESUS et al., 2021) Através do exame Papanicolau é possível diagnosticar a VB, essa coloração pode ser bastante útil na visualização de “células-guiar”, alterações celulares devido a infecção, ausência ou escassez de lactobacilos (pela elevação do PH) e entre outros. Assim como as demais inflamações do colo do útero, ela está associada a menopausa, DIU, números de parceiros, falta de higiene e educação sexual e início de atividade sexual precoce. (CONSOLARO; MARIA-ENGLER, 2014; LIMA; ROSSI, 2015) A VB Pode estar presente de forma assintomática, dependendo da sua concentração e das condições vaginais. Sendo responsável não só por sintomas característicos, associados a: secreção vaginal de cor branca ou acinzentada, odor desagradável, com PH acima do normal. Como também pode acarretar em consequências importantes, em complicações ginecológicas e obstétricas, como: parto prematuro, 17 endometrite, DIP, complicações no pós-parto para o recém-nascido, maior risco de adquirir infecções sexualmente transmissíveis e até infertilidade. (JESUS et al., 2021) Figura 3 - Gardnerella vaginalis. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, Fonte: Atlas de Citopatologia Ginecológica, 2012. Células escamosas superficiais e intermediárias com alterações inflamatórias discretas. Observar a concentração de bactérias em alguns setores (especialmente na vizinhança das bordas citoplasmáticas) e escassez de neutrófilos também é comum nessa infecção. 2.4.2 Infecções por Candida sp. A Candida sp. é o fungo mais comum encontrado nas infecções do trato genital inferior (vulva e vagina), sendo bastante conhecida pela sua colonização na pele e mucosas do trato gastrointestinal e sistema reprodutor. Entre as espécies, a Candida albicansé mais comum de ser encontrada e ela desenvolve-se em meios ácidos, mostrando que o trato vaginal da mulher é bastante propicio, pois contém o PH favorável para a colonização desse agente. O quadro sintomatológico pode ocorrer devido a processos inflamatórios, hormonais e genéticos, que pode ocorre no mínimo uma vez em toda vida da mulher, mas uma grande parte manifesta os sintomas de forma recorrente. (CONSOLARO; MARIA-ENGLER, 2014; WEBER; BACKES, 2016) A Candida sp estar presente na microbiota saudável vaginal, contudo, quando ocorre algum desequilíbrio na defesa natural, por alguns fatores predisponentes, como: situações de debilidade do hospedeiro (diabetes melito, doenças imunossupressoras, gestação e uso de corticoides), fases do ciclo menstrual (pré-menstrual, aumento da acidez da vagina), uso de contraceptivos orais e terapia de reposição hormonal e hábitos de higiênicos inadequados. Levando esses microrganismos se tornarem agentes infecciosos. 18 (CONSOLARO; MARIA-ENGLER, 2014; FUKAZAWA et al., 2019; NORBERG et al., 2015) A candidíase vulvovaginal é a segunda infecção genital mais frequente, precedida apenas pela vaginose bacteriana. Quando sintomática, a infecção é caracterizada por: corrimento vaginal branco e espesso, semelhante a nada do leite, inodoro, em alguns casos acompanhado de ardor ao urinas e sensação de queimadura e prurido vaginal e vulvar intenso. Em alguns casos a lesão pode estender-se para região perianal, inguinal e períneo. (CONSOLARO; MARIA-ENGLER, 2014) O diagnóstico pode ser feito através da citologia, no esfregaço cérvico-vaginais é possível identificar as morfologias do tipo: brotamento e/ou pseudo-hifas, leveduras com formato ovoide ou arredondado, blastocinidos e esporos redondos ou ovais. E por meio de cultura, que será realizada a identificação da espécie do patógeno encontrado. (WEBER; BACKES, 2016) Figura 4 - Candida sp. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou Fonte: Atlas de Citopatologia Ginecológica, 2012. Pseudo- -hifas septadas e esporos representando Candida sp. ao lado de células escamosas maduras. 2.4.3 Infecções por Trichomonas vaginalis O Trichomonas vaginalis é o agente etiológico da tricomoníase, de acordo com a OMS é responsável pelas IST (infecções sexualmente transmissíveis) não viral mais disseminada entre a população sexualmente ativa. Essa infecção geralmente se apresenta de forma assintomática, no entanto, sintomas e outras patologias pode ser associada a essa infecção, tanto em homens como em mulheres, abrangendo vaginite, uretrite e prostatite. 19 O seu desenvolvimento ocorre em pH maior de 5. (CONSOLARO; MARIA-ENGLER, 2014) Quando as mulheres acometidas são sintomáticas, os sintomas mais consideráveis são corrimento vaginal intenso, purulento, de cor amarelada, esverdeado ou esbranquiçado, com odor, prurido e disúria. Um terço das mulheres infectadas que são assintomáticas, torna-se sintomática em 6 meses. Em mulheres grávidas há grandes riscos de parto prematuro, baixo peso do bebê nascido e pneumonia neonatal. (LEMOS, 2017; CONSOLARO; MARIA-ENGLER, 2014) A tricomoníase em mulheres também está associada ao aumento da transmissão do HIV. Sendo a maior incidência no grupo mais jovem, que pode estar relacionada ao comportamento sexual, falta de conhecimento sobre ISTs e alteração no microbioma vaginal resultando em diminuição da produção de glicogênio, mudanças de PH, variações hormonais e descamação do tecido epitelial, facilitando o alojamento e reprodução desses protozoários. (AMBROZIO et al., 2016; MOSCA, MENDONÇA, 2016) No Papanicolau a infecção por T. vaginalis é sinalizada por alterações inflamatórias, como: redução de lactobacilos e aumento da microbiota mista, com halos perinucleares, pseudoeosinofilia, núcleos aumentos das células escamosas com cromatina grosseira, hipercromasia e binucleação. Além do aumento e acúmulo de neutrófilos que sobrepõem as células epiteliais degeneradas, conhecidos como “balas de canhão” com fundo purulento, bem característico da infecção por Trichomonas. O T. vaginalis aparecem ovais ou arredondados, com núcleo excêntrico, borrado e pouco definido (CONSOLARO; MARIAENGLER, 2014; LIMA, 2012) 20 Figura 5 - Trichomonas vaginalis em esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou Fonte: Atlas de Citopatologia Ginecológica, 2012. Há vários Trichomonas vaginalis com núcleos elípticos corados fracamente pela hematoxilina. A identificação dos núcleos do protozoário permite a sua diferenciação com restos de citoplasma ou depósitos de muco. Há ainda células escamosas com pseudoeosinofilia, algumas exibindo halos perinucleares. 21 3 METODOLOGIA A pesquisa em questão possui um método qualitativo. Este estudo se caracteriza como uma revisão bibliográfica, exploratória e de natureza descritiva. A revisão de literatura foi aplicável ao tema proposto, a partir de um levantamento bibliográfico de artigos relacionados às lesões de NILM, processos inflamatórios do colo do útero, microbiota vaginal, agentes etiológicos e alterações benignas no exame papanicolau. Esta pesquisa foi baseada nos seguintes descritores: “inflamação vaginal”, “Papanicolau”, “alterações citológicas”, “inflamação vaginal e metaplasia”, “atrofia por inflamação” Utilizando as bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), SciELO, PubMed e GOOGLE Acadêmico. Como critérios de inclusão, definiu-se a utilização de artigos completos e gratuitos, publicados em português e inglês, não foi utilizado como critério o ano devido à pouca ofertar de artigos atuais. Os critérios de exclusão foram artigos que não estavam disponíveis na integra e sem consonância com a temática do estudo. 22 4 RESULTADO E DISCUSSÃO Durante a pesquisa realizada pelas bases de dados: BVS, SCIELO, PUBMED e GOOGLE Acadêmico, foram encontrados 32 artigos que estavam em consonância com o tema; sendo 9 artigos na base de dados BVS, 2 artigos na base de dados SCIELO, 4 artigos na base de dados PUBMED e 17 artigos na base de dados GOOGLE Acadêmico. Foi realizado uma leitura exploratória e seletiva, com o intuito de filtrar os artigos e colocar somente os trabalhos que se encaixavam nos critérios de inclusão estabelecidos. Resultando no aproveitamento de 12 artigos, sendo 5 artigos da base de dados BVS, 1 artigo na base de dados Scielo, 3 artigos da base de dados PUBMED e 3 artigos da base de dados GOOGLE Acadêmico. 1: Processo de seleção dos artigos Fonte: próprio autor A citologia cérvico-vaginal tem um papel bastante importante para a identificação das lesões inflamatórias e infecciosas do colo do útero, relatadas como NILM. Esse processo ocorre devido há constantes alterações celulares e morfológicas dos epitélios BVS 9 ARTIGOS BVS 5 ARTIGOS B A SE D E D A D O S SCIELO 2 ARTIGOS SCIELO 1 ARTIGOS CRITÉRIOS DE INCLUSÃO PUBMED 4 ARTIGOS PUBMED 3 ARTIGOS GOOGLE Acadêmico 17 ARTIGOS GOOGLE Acadêmico 3 ARTIGOS 23 vaginais, pela agressão de agentes físicos, químicos e vivos. Esses fatores proporcionam a perda da estabilidade do ecossistema vaginal e consequentemente, processos inflamatórios. Diante disso, os estudos selecionados demostraram: a prevalência das inflamações do colo do útero nas mulheres em idade reprodutiva, os agentes etiológicos mais frequentes e outras alterações celulares sem agente. ARTIGOS AUTOR ANO DO ARTIGO IDIOMA DO ARTIGO INFORMAÇÃO CENTRAL DO ARTIGO Exame citopatológico do colo do útero: faixa etária e resultados encontrados Anne Gabriella Pacito Monteiro, Heloyse Nathelly Rodrigues Dutra, Tatiane Silva Castellini, Juliana da Silva Vigo, Daiane Cortêz Raimondi. 2021 Português O estudo foi realizado com mulheres de 25 a64 anos. Em que 23,1% apresentaram inflamação sem agente etiológico. 12,8% com inflamação sugestiva de Gardnerella vaginalis e 5,1% com achados sugestivos de Candida albicans. E 2,5% apresentaram atrofia com inflamação. Mulheres com 25 anos foram as que mais apresentaram alterações benignas. Prevalência de lesão intra-epitelial em exames preventivos coletados por acadêmicos de enfermagem: 2008-2012 Reginaldo Passoni dos Santos, Ana Carla Campos Hidalgo de Almeida. 2014 Português A maioria das mulheres apresentaram diagnóstico de inflamação e uma pequena parte, atrofia com inflamação. A ocorrência de vulvovaginite provoca a alteração da microbiota normal e do pH, diante disso mulheres com infecção vaginal estão mais vulneráveis ao HPV. Perfil microbiológico e alterações citológicas associadas em material cérvico-vaginal coletado em consultório de enfermagem, de 2009 a 2011 em Aracaju/SE N. R. O. G. Reis; A. M. C. Costa; R. R. Madi; C. M. Melo 2013 Português 43, 5% das mulheres apresentaram amostras cérvico-vaginal com inflamação. E tendo como prevalência: G. vaginalis, em seguida de Candida sp. O predomínio de lactobacilos foi relacionada com a faixa etária das 24 pacientes, principalmente em mulheres abaixo de 34 anos. Avaliação dos laudos citopatológicos de mulheres atendidas em um serviço de enfermagem ginecológica Nilza Maria de Abreu Leitão; Ana Karina Bezerra Pinheiro; Saiwori de Jesus Silva Bezerra dos Anjos; Camila Teixeira Moreira Vasconcelos; Rianna Nárgilla Silva Nobre. 2008 Português A presença de processo inflamatório foi constatada em 93,3% das pacientes. Os laudos microbiológicos mostraram: G. vaginalis (28,3,) Candida sp. (7,7%) e T. vaginalis (0,5%). Aceitação da cervicografia digital complementar à citologia de Papanicolaou: um estudo descritivo- exploratório Marina Pessoa de Farias Rodrigues, Rosana Gomes de Freitas Menezes Franco, Emilly Karoline Freire Oliveira, Viviane Mamede Vasconcelos, Mônica Oliveira Batista Oriá, Eugênio Santana Franco. 2013 Português A inflamação foi a alteração celular benigna mais evidenciada, em 58,6% dos relatos. A atrofia com inflamação em mulheres com mais de 55 anos, foi evidenciada em 6,4% dos resultados. Os epitélios com maior prevalência foram o escamoso e o glandular. Alterações citopatológicas cervicais no exame Papanicolau no município de Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil Édina Knod Fredrich; Jane Dagmar Pollo Renner. 2018 Português faixa etária mais frequente foi entre 34 a 40 anos. O exame citopatológico mostrou que o epitélio escamoso e glandular é o epitélio de maior prevalência, seguida coletas que apresentaram somente o epitélio escamoso. As alterações celulares benignas foram encontradas em 62,6%, dessas alterações metade foram do tipo inflamatória. Microrganismos encontrados com maior prevalência foram a G. vaginalis, em seguida Candida sp. e T. vaginalis. 25 Agentes causadores de infecções genitais em exames citológicos de rotina: frequência e características dos esfregaços de Papanicolaou Fernanda Soares Carvalho; Nayanna Kelly Alves Porto; Paulo Azevedo; Paulyanne Magalhães; Evilma Nunes de Araújo Santos; Maurício dos Santos Correia; Kamila Marques da Silva; Jessé Marques Pavão; José Rodrigo da Silva Ferreira; Lucas Pedrosa Souto Maior; Marília Cavalcanti; Genildo Cavalcante Ferreira Júnior; Thiago José Matos Rocha. 2022 Inglês A grande maioria das pacientes apresentava alguma inflamação, em que 21,84% foram causadas por alguma espécie de microrganismo, 42,71% por motivos inespecíficos e 19,24% por outras causas. Os agentes infecciosos mais encontrados foram: G.vaginalis, seguido por fungos de Candida sp. Mostrando a necessidade o monitoramento, acompanhamento através do Papnicolau. Associação do perfil microbiológico com alterações citológicas em mulheres quilombolas atendidas nas unidades básicas de saúde Francisca Bruna Arruda Aragão; Gerusinete Rodrigues Bastos dos Santos; Walder Jansen Mello de Lobão; Anderson Pereira de Oliveira; Silvio Gomes Monteiro; Lana Meireles Santos; Andréa Dias Reis; Marcelino Santos Neto; José Eduardo Batista 2019 Português A faixa etária que mostrou maior prevalência da inflamação foi em menores de 45 anos. E quando analisada a microbiologia desses exames, obteve-se a Gardnerella vaginalis (35,8%) com maior prevalência nas mulheres com ≤30 anos. Prevalência de citologia inflamatória cervical em mulheres atendidas pelo laboratório de citologia da fundação de saúde de Vitória da Conquista: Márcio Vasconcelos Oliveira; Manoela Correia de Almeida. 2014 Português A prevalência da citologia inflamatória foi encontrada em 62% das mulheres, principalmente em mulheres com idade de 25 e 39 anos, que podem estar atrelados a frequência de relações sexuais e 26 achados citológicos e agentes causais multiplicidade de parceiros. Foi observado que a prevalência de microrganismos associados a inflamação foi relativamente alta. Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero 2016 Português Inflamação sem identificação do agente, que pode ser desenvolvida devido a agentes físicos, como medicamentos, acidez vaginal e uso do DIU. E inflamação com a presença de agentes patogênicos, principalmente por: G. vaginalis, T. vaginalis e Candida sp. Prevalência da metaplasia em exame citopatológico de mulheres do município de Cruz Alta de 2017 a 2020 em associação com o anticoncepcional Márcia Teresinha Gonçalves, Suelen da Rocha Abdallah, Giovana Ruppenthal, Tamiris Felippin, Janice Pavan Zanella, Janaína Coser. 2021 Português A metaplasia no colo do útero pode ocorrer devido a fatores como: uso de anticoncepcionais hormonais, alteração da flora vagina, IST, alterações hormonais devido a fase de vida da mulher, gravidez, ferimentos pós-parto e alergias a produtos colocados internamente. Análise dos esfregaços atróficos e sua associação com a inflamação no exame de papanicolau Cristina Alessandra Zachow Bühring; Isadora Kottwitz da Silva1; Taiana Pedrotti; Luana Schayene Wagner; Tamiris Felippin; Janaína Coser. 2021 Português A atrofia vaginal começa a ser mais frequente em mulheres em idade fértil a partir dos 40 anos. Geralmente em mulheres nos pós menopausa o esfregaço cervical atrófico é encontrado inflamação, devido a condição de estresse e adaptação das células epiteliais. O principal objetivo do exame Papanicolau é a prevenção, diagnóstico precoce de possíveis lesões do colo do útero e achados de condições infeccionas e reativas, antes mesmo dos primeiros sintomas clínicos. O exame citopatológico deve ser feito por todas as mulheres que tem ou já teve vida sexual. No entanto, o Ministério da Saúde preconizou 27 prioridade na realização do exame para mulheres entre 25 a 59 anos, por ser o período de idade com maior incidência do câncer de colo do útero. A maior parte das mulheres que apresentam alterações benignas inflamatória possuem idade entre 25 a 39 anos ou mulheres em idade reprodutiva e sexualmente ativas. Os fatores de risco atrelado para um quadro inflamatório com agente etiológico ou não, podem ser devidos a frequência de relações sexuais e multiplicidade de parceiros. Como também, má higiene, início precoce da vida sexual, falta de uso do preservativo e uso do DIU. (CARVALHO, et al 2022; OLIVEIRA; ALMEIDA, 2014) Contra os agentes patogênicos, a flora vaginal é a principal barreira do trato genital feminino, sendo composta predominantemente por Lactobacillus sp, os estudos mostraram que a maior prevalênciade microrganismos no esfregaço citológico são esses lactobacilos. Contudo, não são agentes patogênicos, pois são achados normais que atuam na defesa local contra os microrganismos que causam infecção. Os artigos demostraram a prevalência de citologia inflamatória em mulheres que realizaram o exame citológico, a maior parte das mulheres apresentaram alterações benignas de origem inflamatória no colo do útero. Ao avaliar o perfil citológico coletado no hospital público no município de São Félix- Bahia (Braz, 2021), foi demostrado 78,6% dos resultados demostraram inflamação do colo do útero, sendo uma porcentagem relativamente maior que o estudo Monteiro et.al, 2021, mas em consonância com os resultados dos outros artigos. O rastreamento dessas lesões no colo do útero é bastante importante para a identificação de agentes patogênicos, a agilidade do plano terapêutico, diminuindo a proliferação do microrganismo e a ocorrência de metaplasia escamosa. A morfologia das células epiteliais é alterada devido a danos ao tecido por agentes, como bactérias, fungos, vírus ou parasitas que podem fazer parte da microbiota normal, mas que por alguns fatores tornam-se prejudiciais. Os autores relataram os principais causadores de inflamação no Papanicolau, que são achados sugestivos de Gardnerella vaginalis, Trichomonas vaginalis e Candida sp, respectivamente, são os mais comuns de serem encontrados no esfregaço. A G. vaginalis é uma bactéria comum na composição da microbiota vaginal, sendo encontrada em pequena concentração, contudo, alguns fatores podem alterar o equilíbrio biológico, desencadeando um processo inflamatório. (LEITÃO et al, 2008) 28 O estudo demonstrado por Batista (2019) apresentou resultados correspondentes a esta pesquisa realizada, considerando os agentes mais frequentes no esfregaço citológico, sendo eles; Lactobacillus sp 239 (42,60%), Cocos 121 (21,57%), outros Bacilos (20,14%), G. vaginalis (13,72%), Candida sp (1,42%) e Trichomonas vaginalis (0,53%). As inflamações sem identificação do agente, podem ser associados a atrofia vaginal, principalmente em mulheres no pós-menopausa, devido a diminuição drástica do estrogênio. Ocorrendo assim alterações do epitélio vaginal, resultando em desequilíbrio da microbiota vaginal, em que o colo do útero ficará mais susceptível a inflamações e infecções. Dessa forma também, ocorre a inflamação devido ao processo de metaplasia, que pela alteração de pH, a microbiota é alterada por agentes físicos, tornando o local mais propicio a inflamação e infecções. Neste fator é possível encontrar achados de células metaplásicas maduras ou imaturas no esfregaço citológico. (BÜHRING et al., 2021; GONÇALVES et al., 2021) 29 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Portanto, essa pesquisa foi de suma importância para o conhecimento sobre os fatores que desencadeiam e levam ao diagnóstico de NILM no exame Papanicolau, mostrando como a prevalência desse tipo de lesão é comum em mulheres de idade reprodutiva e quais as condições extrínsecas e intrínsecas levam as células epiteliais a desencadearem essas alterações. Diante disso, foi observado a importância do diagnóstico e relato dessas lesões, mesmo que sejam consideradas comuns e não malignas, essas alterações quando não tratadas, podem resultar em possíveis complicações e maior susceptibilidade a outras infecções sexualmente transmissíveis. Com relação aos estudos, a maioria das mulheres tinham idade entre 20 a 60 anos, sendo elas as que mais compareciam para realização do exame citológico. Foi observado concordância em relação a frequência de detecção de inflamação no preventivo, como também os achados microbiológicos prevalentes no esfregaço ceévico- vaginal. Por fim, para que haja sucesso nos programas preventivos, é fundamental evidenciar a importância do Papanicolau, mesmo sendo um exame simples e indolor, algumas mulheres têm dificuldades na adesão ao exame, seja por desconhecimento sobre o procedimento, vergonha, um possível diagnóstico de doença, crença ou medo do exame. Assim, obedecendo ao que foi determinado pelo Ministério da Saúde, o Papanicolau deve ser realizado anualmente, de forma que após dois exames seguidos (anualmente) com resultado normal, o preventivo passa a ser realizado a cada três anos. É fundamental que as mulheres sejam orientadas e instruídas através das equipes de saúde de cada município ou bairro, a fazerem o exame colpocitológico periodicamente. 30 REFERÊNCIAS GOMES, M.M.S.; JÚNIOR, G.B.C.; SILVA, D.C.P. da.; JÚNIOR, L.S.S. Correlação entre a presença de patógenos e alterações reativas benignas em esfregaços cérvico- vaginais. Gestão e Saúde, v. 7, n. 2, p. 549-562, 2016 CONSOLARO, M. E. L.; MARIA-ENGLER, S. S. Citologia clínica cérvico-vaginal: texto e atlas. Grupo Gen-Editora Roca Ltda., 2014. NAYAR, Ritu; WILBUR, C. David. Sistema Bethesda Para Relato de Citologia Cervical: definições, critérios e notas explicativas. Livromed Pta, 2018. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (BRASIL). 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