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História do Brasil III
RAQUEL SANT’ANA 
CARLOS HENRIQUE ASSUNÇÃO PAIVA
1ª Edição
Brasília/DF - 2018
Autores
Raquel Sant’Ana 
Carlos Henrique Assunção Paiva
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e 
Editoração
Sumário
Organização do Livro Didático........................................................................................................................................4
Introdução ..............................................................................................................................................................................6
Capítulo 1
A República “Velha” e a política das oligarquias .................................................................................................7
Capítulo 2
O golpe de 1930 e o primeiro governo de Getúlio Vargas .......................................................................... 24
Capítulo 3
O período de abertura e as tensões políticas de 1946 a 1964 .................................................................. 36
Capítulo 4
O Golpe empresarial-militar de 1964 e o governo ditatorial ..................................................................... 58
Capítulo 5
A “abertura” política e os projetos de democracia nos anos 1980 ............................................................ 68
Capítulo 6
A “Nova República” ..................................................................................................................................................... 76
Referências .......................................................................................................................................................................... 94
4
Organização do Livro Didático
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e 
coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros 
recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, 
fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Cuidado
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
Importante
Indicado para ressaltar trechos importantes do texto.
Observe a Lei
Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, 
a fonte primária sobre um determinado assunto.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa 
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. 
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus 
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas 
conclusões.
5
ORGANIzAçãO DO LIVRO DIDátICO
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Posicionamento do autor
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
6
Introdução
Neste curso faremos uma reflexão a respeito do Brasil durante o período republicano, 
que se estende do final do século XIX até os dias de hoje. Procuraremos compreender 
as características políticas, econômicas e culturais do Brasil durante esse período, 
marcado por grandes mudanças em todo o mundo. Veremos as tensões das tentativas 
de construção nacional e de uma administração pública que se forma sobre os frágeis 
acordos entre elites locais e projetos nacionais divergentes. Mantida a desigualdade 
econômica estrutural herdada do Brasil escravista, o autoritarismo foi uma ferramenta 
acionada com frequência para solucionar os dilemas nacionais. Nosso objetivo é entender 
como essas contradições operaram e contribuiram para a construção do Brasil.
Objetivos
 » Debater o processo de construção do Brasil enquanto república.
 » Compreender os arranjos políticos entre interesses das elites locais e projetos 
nacionais.
 » Relacionar a realidade cultural brasileira ao contexto de formação e dissolução 
de identidades nacionais em todo o mundo. 
 » Refletir sobre os atores sociais que se forjaram nas disputas políticas que pautaram 
a República e suas formas de organização e atuação.
 » Analisar a relação entre autoritarismo e democracia ao longo do instável século XX. 
7
Introdução
Neste capítulo, passaremos em revista alguns dos principais elementos que caracterizam 
os primeiros tempos da experiência republicana à brasileira. Chamaremos atenção, 
em um primeiro momento, para aspectos gerais da vida social e cultural no País, bem 
como suas conexões com a vida política. A dimensão política, por sua vez, será alvo de 
maior investimento, uma vez que é por intermédio dela que se constroem os pactos e 
projetos políticos que, em boa medida, definem as bases daquele período. Foram essas 
mesmas bases que sofreram, a partir dos anos 1920, profundas críticas e forte oposição 
proveniente de uma sociedade em mutação.
Objetivos
 » Conhecer os aspectos gerais da primeira República.
 » Perceber as transformações do Brasil na sua transição de Império para República.
 » Compreender as tensões entre os interesses das elites locais e o projeto nacional 
posto em curso pelo governo central sob o poder dos militares e, posteriormente, 
de paulistas e mineiros.
Introdução
A ideia de que esse imenso território colonizado pelos portugueses poderia se constituir em um 
único país não foi a das mais evidentes após a independência política, mas ela lentamente se tornou 
o sentido da ação de políticos e intelectuais que aqui residiam. Colocava-se, progressivamente, a 
questão da elevação da antiga colônia ao patamar das nações “civilizadas”, aos moldes europeus, 
é claro.
Naquele contexto, o problema não residia apenas na ausência de uma estrutura de governo 
poderosa, racional e burocratizada, mas, também, na existência de uma sociedade repleta de 
1
CAPÍTULO
A REPÚBLICA “VELHA” E A POLÍtICA 
DAS OLIGARQUIAS
8
CAPÍTULO 1 • A REPÚBLICA “VELHA” E A POLÍtICA DAS OLIGARQUIAS
indivíduos vistos como inaptos à vida civilizada, muitos dos quais submetidos à condição de 
escravos. Afinal, como uma sociedade considerada, por muitos, repleta de indivíduos classificados 
como racialmente inferiores poderia responder às demandas de um estado moderno aos moldes 
europeus?
A República inaugurada, quase que subitamente, em 1889, não deixaria de enfrentar essas 
questões, seja pela montagem de um aparato de estado mais vigoroso, se comparado ao que 
existia até então; seja pelas mudanças sociais de que foi palco, como a crescente industrialização 
e crescimento das cidades e também a reviravolta no mundo das artes que se convencionou 
chamar de Semana de Arte Moderna.
O historiador Boris Fausto (2006, p. 245) refere-se, em sua obra, ao momento da passagem do 
Brasil imperial para o país liberal e aristocrático da Primeira República como um “passeio”. Foi, 
de fato, um episódio impar, do ponto de vista de sua “calmaria”, se comparado ao conturbado 
e tenso período que ele inaugura. Para dar vazão aos diversos interesses que por muitas vezes 
caíam emdivergência, os políticos paulistas, sobretudo do Partido Republicano Paulista (PRP), e 
os políticos mineiros sustentaram o modelo liberal para o País. Ou seja, a modernização da qual 
falamos anteriormente passaria pelas mãos de grupos políticos muito restritos, concentrados 
no centro-sul do País.
O conhecido liberalismo que esses grupos instituem, característico do período, não representou, 
contudo, a existência de um governo federal absolutamente inerte. Coube à União a cobrança 
de impostos de importação, o direito de criar bancos e emitir moedas, de organizar as Forças 
Armadas, de intervir, caso necessário, nas unidades da Federação a fim de se manter a ordem 
política e social. De acordo com o texto da Constituição Federal, de 1891, o Estado e a Igreja 
passaram a ser instituições autônomas e independentes, o que pode ser visto também como 
um dos exemplos mais óbvios da convicção laicizante do período.
A urbanização também foi outro fenômeno importante, responsável por profundas mudanças 
sociais em algumas áreas do País. O maior crescimento urbano se deu na cidade de São Paulo, 
em parte pelo imenso contingente de imigrantes europeus que afluía para aquela região desde o 
final do século XIX. A capital do estado se transformou, no início do século XX, no maior centro 
financeiro do País, ligado à comercialização do café e responsável pelos principais empregos 
burocráticos privados e centro dos maiores bancos do País.
A célebre frase do político gaúcho Silveira Martins, “o Brasil é o café, e o café é o preto” começa 
a perder gradual, mas um tanto ligeiramente, seu sentido na passagem do século XIX para o XX. 
A imigração e os recursos gerados com a produção e a comercialização do café mantêm relação 
direta com o processo de industrialização no Estado de São Paulo. O estrangeiro, segundo Fausto 
(2006), surge nas duas extremidades da atividade industrial, como proprietário e como operário. 
Em 1893, por exemplo, 70% da mão de obra na indústria paulista eram constituídas por imigrantes, 
enquanto, no Rio de Janeiro, no mesmo período, somente 39% eram estrangeiros. 
9
A REPÚBLICA “VELHA” E A POLÍtICA DAS OLIGARQUIAS • CAPÍTULO 1
Podemos dizer que nenhum outro Estado brasileiro esteve tão à vontade e preparado para viver 
sob o regime liberal republicano. Definitivamente, a escravidão, um dos pilares do Império, não 
era mais uma instituição fundamental aos paulistas. Não é de se estranhar, por exemplo, que, 
após o período dos militares na presidência, São Paulo tenha eleito três políticos para o Executivo 
federal. Desse modo, nas primeiras décadas do século XX, em suma, o Estado partilhou com 
Minas Gerais, que abrigava o maior eleitorado do País, a influência na política e na Administração 
nacional.
Apesar das importantes mudanças que, como se disse, o período chamado República Velha 
(1889-1930) abriga, o fato é que a história humana não pode ser compreendida unicamente em 
termos de mudanças abruptas. Queremos dizer, com isso, que as origens das transformações 
que conformariam esse período histórico não devem ser compreendidas exclusivamente nos 
fatos que envolveram, naquele dia 15 de novembro de 1889, o brado de um general que teria 
posto fim à experiência monárquica e dado início à República no Brasil.
O dia 15 de novembro, portanto, deve ser compreendido como o ponto culminante de um 
mal-estar crescente. Suas origens e razões podem ser situadas de diversas formas. Por exemplo, 
o impacto da Guerra do Paraguai (1864-1870) não pode ser desprezado nesse contexto. O 
conflito foi responsável por um mal-estar nos dirigentes e elites brasileiras visto que o País não 
apresentou condições mínimas – de estruturas técnicas e aparatos burocráticos – para organizar 
de maneira eficiente um exército que respondesse aos anseios políticos e bélicos da ocasião. A 
guerra, nesse sentido, representou um impulso a mais nos caminhos da organização do País e 
da nacionalidade e, por intermédio desse impulso, representou um território de insatisfação 
contra uma monarquia que parecia, cada vez mais, o símbolo do atraso.
O grande problema de fundo residia, como dissemos, na imagem do País que, nesse momento, 
estava extremamente associada à escravidão negra, ao atraso social, econômico e político. O Brasil 
estava, segundo visão de muitos daquela época, sempre um passo atrás do que eram capazes de 
fazer europeus na política, na economia, na ciência e nas artes. O salto que precisava ser dado 
só podia ser em uma direção: rumo à República!
Para refletir
Simon Schwartzman, em São Paulo e o Estado Nacional, não identifica uma influência importante do estado na 
política nacional nas primeiras décadas do século XX. Para ele, São Paulo compensou a alijamento político com um 
importante crescimento e desenvolvimento econômico regional.
10
CAPÍTULO 1 • A REPÚBLICA “VELHA” E A POLÍtICA DAS OLIGARQUIAS
A República Velha (1889-1930)
A sociedade colonial brasileira, na passagem do século XVIII para o XIX, foi marcada por um 
intenso processo de dinamização produtiva. Fatores internos e externos contribuíram para as 
alterações das bases da dominação colonial portuguesa e para a consequente revitalização da 
estrutura produtiva colonial. Vejamos primeiro as variáveis exógenas.
A Primeira República é o tempo da modernização. Modernizar não deve ser lido somente como 
uma alteração das antigas estruturas coloniais: modernização dos portos, estradas, ferrovias, 
fundação das instituições do recém-estado imperial independente, polícia, hospitais, escolas, 
faculdades etc. Junto às transformações, que aos contemporâneos pareciam abruptas, estão 
também mudanças sutis nos padrões de comportamento, que os intelectuais denominam de 
culturais. Ocorre, a partir desse período, um significativo avanço no processo de laicização e 
desenvolvimento do Estado no Brasil.
A modernização é uma dinâmica que, de um lado, sustenta todo um aparato administrativo 
controlado burocraticamente pelas instituições do Estado e, de outro, convive com a existência 
de um controle oligárquico exercido por grupos locais, em vista dos interesses particulares 
ou regionais de longa data. Por isso, a modernização, na esfera da administração do Estado, 
ocorre em seus primeiros tempos de maneira mais significativa, paradoxalmente, como conclui 
Fernando Uricoechea (1978), no âmbito das províncias, onde toda a máquina administrativa do 
Estado esteve quase sempre a serviço dos interesses das elites locais, ao promover, muitas vezes, 
a legitimação do poder exercido pelo poderoso fazendeiro da região ou pela liderança local.
Essa peculiaridade histórica aponta para o estreito vínculo entre as lideranças regionais e o 
surgimento e o fortalecimento do Estado no Brasil, desde os tempos do Império e mesmo após 
1889, também com a República. Sob esse aspecto, a Res Pública, ou seja, a vigência da coisa 
pública era mais formal do que exatamente uma prática ou conduta típica das elites. 
Em termos práticos, significa dizer que uma das características mais elementares desse período é 
justamente a posse da coisa pública, leia-se recursos do Estado, por grupos e elites. Uma espécie 
de privatização da coisa pública, de modo que os recursos de todos fossem tratados tendo em 
vista somente o benefício de determinados grupos. A isso chamamos de patrimonialismo. Quem 
se beneficiava do patrimonialismo? Os que tinham mais posses e propriedades, é claro. 
Como a base da economia brasileira, desde o Império, era o café, esses grupos, não à-toa, eram 
os que mais se beneficiavam com os recursos públicos. Assim, podemos concluir que o Estado 
existia para servir essencialmente aos cafeicultores e aos grupos a eles ligados. Daí outro nome 
associado ao período: República Oligárquica.
11
A REPÚBLICA “VELHA” E A POLÍtICA DAS OLIGARQUIAS • CAPÍTULO 1
tabela 1. Principais produtos de exportação.
Fonte: <http://mestresdahistoria.blogspot.com.br>. 
É nesse ambiente que a figura do bacharel, o homem de ciência, que dispõe de conhecimentostécnicos, ganha vulto em contraposição ao elemento do passado rural. O bacharel era um dos 
personagens da cidade em ascensão, o centro da vida urbana, signo da vida moderna. A guinada 
que promove a mudança da casa grande para o sobrado é, na perspectiva de Gilberto Freire (2002), 
a mudança que desenha o prestígio social do bacharel sobre o senhor de engenho, símbolo do 
arcaísmo colonial. Esse último, diga-se de passagem, considerado pouco instruído nas artes, na 
literatura e no raffinement da sociedade europeia, sobretudo a francesa.
É de se supor que o parentesco entre esses dois segmentos sociais, o bacharel e o fazendeiro, era 
relativamente estreito. Não eram poucos os rapazes que frequentavam as faculdades nacionais e 
europeias que eram descendentes de velhos senhores de terras. O que começa a ocorrer é uma 
gradual mudança de perspectivas e comportamentos de uma geração para outra. A mudança se 
operava, contudo, de um jeito que fazia com que algumas coisas não se alterassem. Por exemplo, 
um padrão bastante geral no processo de ocupação dos cargos administrativos do Estado, como 
o observou Simon Schwartzman (1979), tinha a ver com o parentesco e as relações pessoais como 
as estruturas definidoras das chances de apropriação de cargos públicos e do poder no País.
12
CAPÍTULO 1 • A REPÚBLICA “VELHA” E A POLÍtICA DAS OLIGARQUIAS
Tal padrão se estruturaria de tal modo na vida pública que se converteria em uma espécie de 
norma social e cultural. A República de Vargas, como veremos mais adiante, em parte, ensejaria 
esforços no sentido de contrariar tal tendência. Seu sucesso foi somente relativo.
Mas não nos enganemos. Nem tudo eram rosas. O cientista político Renato Lessa (1999), estudioso 
sobre esse período, cunhou uma noção, chamada de entropia, que sugere que aquele momento é 
caracterizado por forte incerteza social e política, com um elevado grau de anarquia nas relações 
políticas, se comparado com o período anterior, que se buscava, em alguma medida, se contrapor.
Afinal, a autoridade de um imperador, acima das autoridades locais, havia sido dissolvida. Em 
seu lugar, explodem forças políticas por todo o território nacional, todas, em maior ou menor 
grau, dispostas a fazer seus interesses frente às demais.
Nesse sentido, várias manobras políticas foram postas em marcha. Em seu conjunto, foram 
capazes de permitir certo arranjo de poder e consenso mínimos para a administração do Estado. 
Em termos políticos, como podemos melhor definir aquele período?
A República Velha: o federalismo e agenda política nacional
A expansão do exército napoleônico pela Europa e o bloqueio continental imposto pelos franceses 
para prejudicar a economia britânica colocavam a família real portuguesa em uma situação 
política delicada no início do século XIX.
Para Lessa (1999, pp. 73-75), como dissemos, não havia com a emergência da República, ainda 
no século XIX, uma ordem política previamente definida e organizada em bases sólidas que 
permitisse uma estabilidade uniforme. Nesse sentido, o grau de “improviso político”, cujos acordos 
circunstanciais eram fundamentais para o andamento dos projetos políticos considerados de 
relevância, era um ingrediente, em certo sentido, estrutural do sistema de governo.
Isso não quer dizer que não havia conflitos, pelo contrário. Boa parte da tensão política do 
período girava em torno das relações entre o Legislativo e o Executivo federal, fenômeno 
político novo, visto que durante o Império o Poder Moderador situava-se hierarquicamente 
acima das divergências entre as outras esferas de poder e exercia, assim, alguma ação 
coercitiva sobre os demais e sobre os eventuais conflitos. Com o advento da República, tanto 
o Legislativo quanto o Executivo ganham fontes de legitimidade independentes, de acordo 
com os preceitos da Carta Constitucional de 1891. No entanto, segundo Lessa (1999, pp. 97-
98), as relações entre ambas as esferas políticas não foram estabelecidas pela Constituição 
recém-outorgada, mas, sugere o autor, de acordo com certas normas ocultas, “um pacto não 
escrito”, diz Lessa (1999, p. 97).
13
A REPÚBLICA “VELHA” E A POLÍtICA DAS OLIGARQUIAS • CAPÍTULO 1
Nas palavras do autor, os principais ingredientes políticos do período republicano constitucional 
foram:
[a] opção federalista, com presidencialismo; atribuição dilatada do Legislativo, 
imprecisão nas relações políticas entre União e estados; maior concentração de 
tributos nos estados e asfixia política dos municípios. As forças Armadas foram 
declaradas obedientes... (LESSA, 1999, pp. 98-99)
República não poderia ser também confundida com democracia. Os valores democráticos 
jamais estiveram em alta naquele período. A participação da grande maioria da população, por 
exemplo, era praticamente nula, para não dizer inexistente. Vale dizer, tudo de pleno acordo com 
os princípios oligárquicos da então sociedade brasileira, cujos efeitos ainda se fazem sentir em 
nossos dias. Isso não quer dizer que as pessoas, ou certos grupos, aceitavam o jogo político sem 
resistência. Muitos foram os conflitos naquele período. Sobre alguns deles trataremos mais adiante.
Em termos políticos, a característica mais distintiva daquele período foi, sem dúvida, a existência 
de alguma coisa que poderíamos chamar de ultrafederalismo. Ou seja, a autoridade federal 
era bastante frágil frente à autoridade política das províncias (como se chamavam os estados 
federativos àquela época). Tal federalismo se consagrou e se legitimou na Constituição Republicana 
de 1891, que produziu orientações que colocaram diversas matérias como da competência das 
autoridades provinciais. 
Tal característica, contudo, não seria uniforme durante todo o período. Aos poucos, ao peso 
das circunstâncias, essa tendência descentralizadora seria revista e ajustada. Com o presidente 
Rodrigues Alves, a partir de 1904, por exemplo, ocorre o que Hochman (1998) considerou como as 
primeiras modificações na relação entre União e estados no âmbito da política de saúde pública 
no País durante a República. Tais modificações foram possíveis graças ao impacto negativo, 
na sociedade, das epidemias que assolavam as principais cidades do País, incluindo o próprio 
Distrito Federal. Inicia-se, a partir daí, um progressivo processo de alargamento da esfera de 
ação do governo federal no âmbito das políticas públicas, sem abalar seriamente, contudo, a 
estrutura oligárquica da sociedade.
Em função do que já descrevemos, podemos concluir que o sistema político vigente atendia 
mais aos interesses de determinados grupos do que de outros. Quem eram, portanto, os que 
mais se beneficiavam? A resposta a essa pergunta remete aos atores que deflagraram o próprio 
movimento republicano. Lideranças de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul defendiam 
os ideais de uma República Federativa que assegurasse autonomia local. Não concordavam, 
contudo, com relação a alguns aspectos importantes dessa República. Os republicanos gaúchos, 
por exemplo, eram positivistas. Já mineiros e paulistas tinham uma formação mais liberal, se 
comparados aos gaúchos. Essa diferença de perspectiva sobre a forma republicana, entre outras 
coisas, ganharia contornos mais dramáticos ao final da República Velha. Não podemos esquecer 
que Getúlio Vargas era, antes de tudo, um gaúcho.
14
CAPÍTULO 1 • A REPÚBLICA “VELHA” E A POLÍtICA DAS OLIGARQUIAS
Outro grupo muito importante na sustentação da República eram os militares. Esses eram 
também um grupo bastante heterogêneo. As Forças Armadas eram palco de disputas e rivalidades 
entre os integrantes do Exército e da Marinha. No interior do próprio Exército registramos as 
diferenças entre Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Em torno do primeiro reuniam-se, como 
regra, os antigos combatentes da Guerra do Paraguai. Eram militares com uma formação mais 
rudimentar, alheios ao positivismo que tomava os quadros da corporação. Em torno do Floriano 
reuniam-se jovens oficiais, positivistas, provenientes da Escola Militar.Estes tinham, por ideologia, 
uma perspectiva de progresso e modernização da sociedade.
De tudo que se disse podemos concluir que a República Velha era mesmo uma espécie de barril 
de pólvora. O nível de consenso era frágil, uma vez que os desentendimentos intraelites eram 
recorrentes. Pior que isso era o altíssimo nível de alijamento político da grande maioria da 
população do poder. Lembremos, nessa linha, que o voto era censitário (dependia da renda) e 
masculino. Ingredientes essenciais para a crise e a derrocada do próprio sistema de poder ao 
final do período. 
A instabilidade política não deixava de ter também um fundo econômico. Nesse sentido, é bom 
lembrar que o advento da República se fez acompanhar por uma intensa especulação financeira 
conhecida pelo genérico nome de Encilhamento. Fausto (2006) nos diz que o nome pode ser 
referência ao local onde os cavalos de corrida sofrem os últimos retoques antes de disputarem 
os páreos. Encilhamento, portanto, seria sinônimo de jogatina e disputa.
O fato é que desde o final do Império havia um excesso de meio circulante, isto é, de moedas 
na economia brasileira. Com isso, queremos dizer que havia mais moeda do que o compatível 
com a riqueza produzida. Tal tendência fora agravada pelas iniciativas do Ministério da Fazenda, 
sob a direção de Rui Barbosa. Com Barbosa, os bancos tiveram autorização para emitir moedas. 
Houve, assim, uma importante expansão do crédito, muitas empresas surgiram, parecia que o 
capitalismo brasileiro tomava vulto. Acontece que, pelo menos parte das empresas só existia 
no papel.
Suas consequências imediatas foram, de um lado, o aumento da inflação; de outro, uma intensa 
especulação na bolsa de valores. No início de 1891 a crise se fez sentir. O valor da moeda brasileira, 
segundo cotação da libra esterlina, desabou.
A crise econômica, além, é lógico, de vitimar os mais pobres, aumentava o clima de incerteza 
em torno dos destinos do País, ou seja, a crise econômica produzia uma crise política. Em meio 
à crise, Deodoro da Fonseca enxergou uma forma de fortalecer o executivo federal, ou seja, 
fortalecer a si próprio. Em novembro de 1891, o Presidente mandou fechar o Congresso sob o 
pretexto de que havia necessidade de uma nova Constituição. Não contou, contudo, com o apoio 
do seu vice-presidente, Floriano Peixoto, cujas orientações, como apontamos anteriormente, 
15
A REPÚBLICA “VELHA” E A POLÍtICA DAS OLIGARQUIAS • CAPÍTULO 1
não condiziam com as suas. Ainda em novembro de 1891, Deodoro não suportaria as pressões 
e renunciaria à Presidência em favor de Floriano Peixoto.
Floriano Peixoto, por sua vez, tinha o firme apoio de lideranças de São Paulo, abrigadas no 
tradicional Partido Republicano Paulista (PRP) e contava, também, com o apoio dos gaúchos do 
Partido Republicano Riograndense (PRR). O apoio do PRP ao governo de Floriano custaria caro. 
Ao final do governo, os paulistas poriam fim à experiência militar no Executivo federal durante 
a República Velha. Com a posse do civil paulista Prudente de Morais, eleito em março de 1894, 
os civis dominariam a política nacional.
A saída da caserna da cena política nacional – até o surgimento de um novo fenômeno político em 
torno dos chamados tenentes, durante os anos 1920 – não produziu grandes mudanças na política 
brasileira, mas sobre a economia não se pode dizer o mesmo. Velhos problemas continuavam 
e até se radicalizavam. O problema da insubordinação das elites locais ainda estava colocado 
politicamente como a principal dificuldade do federalismo brasileiro. Às vezes tal insubordinação 
se apresentava de uma forma que, aos olhos dos republicanos, parecia mais grave, como foi a 
situação gerada por Canudos, em pleno sertão baiano.
Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido pelo codinome Antônio Conselheiro, se instalara, 
por volta de 1893, em uma antiga fazenda abandonada, no Arraial de Canudos, interior da Bahia. 
Ele era, segundo palavras de Fausto (2006, p. 257), “um misto de sacerdote e chefe de jagunços”. 
Segundo dados do mesmo autor, no auge, Canudos chegou a reunir alguma coisa como 20 ou 
30 mil pessoas.
Sua liderança não tardaria a chamar a atenção da Igreja e dos chefes políticos locais. Diversas 
foram as tropas encaminhadas a Canudos para pôr fim à liderança de Conselheiro. As derrotadas 
se acumulavam, gerando grande constrangimento nos centros de poder republicano. Afinal, 
era um amontoado de jagunços que venciam as tropas do governo. Isso sugeria que estaríamos 
diante de um governo fraco e desorganizado.
Canudos só seria barbaramente arruinado em agosto de 1897, depois de intenso um mês e meio 
de sangrenta luta. Não resta dúvida: o Brasil mostrava sua face de miséria, pobreza e abandono 
de sua gente. Uma economia que, por base, só servia aos interesses de poucos: as oligarquias. A 
instabilidade política parecia tão grave que se vivia a sensação de que a República desmoronaria. 
Novas possibilidades, sempre conservadoras, deveriam ser postas à mesa.
A lógica oligárquica
Há pouco tratamos sobre o que eram essas tais oligarquias. Falamos de líderes – no Nordeste do 
País chamados coronéis – que detinham poder econômico e político local. Não raro controlavam 
as forças policiais locais – daí o nome coronel. O poder dessas figuras advinha, como regra, da 
16
CAPÍTULO 1 • A REPÚBLICA “VELHA” E A POLÍtICA DAS OLIGARQUIAS
exportação de gêneros alimentícios, aquilo que chamaríamos hoje de commodities. À época, sem 
dúvida, o principal e mais importante deles era o café, mercadoria que encontrava boa acolhida 
nos Estados Unidos e Europa. 
Como já dissemos, dada a fragilidade do Executivo Federal, frente aos interesses das diversas 
lideranças regionais, o ambiente político era marcado por certa instabilidade. A chamada política 
Café com Leite, nesse sentido, precisa ser encarada como uma construção de viabilidade de 
governo engendrada pelos grupos mais hegemônicos politicamente. Ou seja, era uma aliança 
oligárquica. Em que consistiu?
Foi um acordo, relativamente persistente, que permitiu o revezamento de presidentes paulistas 
e mineiros na Presidência da República. Esse acordo só seria parcialmente abalado em 1918, 
com a morte de Rodrigues Alves e a posse do paraibano Epitácio Pessoa que, por sua vez, teve 
que curvar-se aos interesses dos grupos políticos mais fortes. Em 1929, de maneira derradeira, 
o acordo seria novamente abalado, quando o Presidente paulista Washington Luis, ao invés de 
indicar um mineiro, indicou um conterrâneo seu, o também paulista Júlio Prestes. Esse fato foi 
central para a ruptura política entre paulistas e mineiros e o fim da Política Café com Leite. Suas 
consequências esbarram diretamente na Revolução de 1930.
O Brasil e sua capital
Naquela época, e assim foi até a inauguração de Brasília no início dos anos 1960, o Rio de Janeiro 
estava organizado em torno de duas esferas: uma esfera municipal e outra, muito mais ampla 
politicamente, é evidente, a Federal. O que nos chama mais a atenção é o Rio de Janeiro que se 
lança em todo o território federal. E nesse sentido, não se trata apenas do Rio de Janeiro capital 
da República, responsável pelas políticas e outras medidas de cunho nacional, mas, também, 
da cidade que era referência cultural para todo o País. Uma imagem está inevitavelmente ligada 
à outra, pois o Rio, centro político, estava visceralmente vinculado ao Rio da criação intelectual, 
e vice-versa.
No final do século XIX e início do século XX o Rio era uma cidade bastante desorganizada e 
pouco urbanizada. Fazia lembrar, ainda que com algum exagero, a vila colonial fundada em 
meados do século XVI. A intervenção pública mais organizada só se daria no início do século 
XX, na administração de Rodrigues Alves, com todas as transformações urbanas levadas a 
cabo pelo então prefeito do Distrito Federal, Francisco Pereira Passos, e com o trabalho do 
jovem cientista Oswaldo Cruz, do Instituto de Manguinhos (BENCHIMOL, 1992; DAMAZIO, 
1996, pp. 69-70).
17
A REPÚBLICA “VELHA”E A POLÍtICA DAS OLIGARQUIAS • CAPÍTULO 1
A capital do País, assim, passaria por grandes transformações sociais, políticas e econômicas 
ao longo da Primeira República. Decerto que em proporção, o crescimento ocorrido no Rio de 
Janeiro não alcançou as taxas impressas pelos paulistas no mesmo período. Contudo, a cidade 
que surgira em plena mata atlântica usufruía, de quebra, de um valor simbólico bastante peculiar 
em relação às outras cidades. Simplesmente porque a capital da República era o cartão de visitas 
do País, o lugar onde figuravam as mais importantes e tradicionais famílias do País, além de 
artistas e intelectuais renomados (MOTTA, 2004).
Figura 1. Construção da avenida Central no Rio de Janeiro, inspirada na reforma urbanística parisiense.
Fonte: <http://brasil.estadao.com.br/blogs/estadao-rio/um-passeio-por-110-anos-da-avenida-rio-branco/.> 
O crescimento urbano tem, nesse sentido, relações estreitas com o processo de saneamento 
promovido pelas autoridades sanitárias do início do século, como Oswaldo Cruz. Seja por conta 
das obras de urbanização que provocaram profundas transformações na antiga cidade colonial 
de ruas estreitas e topografia tortuosa, seja pelo controle das epidemias que dizimavam as 
populações de toda a cidade, o período é conhecido pela historiografia como Belle Époque, tempo 
de profunda inspiração no modelo de crescimento urbano e modernização europeu, sobretudo 
francês (ver BENCHIMOL, 1992; NEEDELL, 1993; ROCHA; CARVALHO, 1995; DAMAZIO, 1996; 
CHALHOUB, 1996).
Importante
O Instituto Soroterápico de Manguinhos foi criado em 1899, no entanto, somente em dezembro de 1907, sob a gestão 
de Afonso Pena, ele foi transformado em Instituto de Patologia Experimental, regulamentado, no ano seguinte, 
com o nome de Instituto Oswaldo Cruz. O famoso Castelo do Mourisco, que se vê na Avenida Brasil, na altura de 
Manguinhos, foi ocupado em 1910, sendo efetivamente concluído somente em 1917 (BENCHIMOL; TEIXEIRA, 1993).
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CAPÍTULO 1 • A REPÚBLICA “VELHA” E A POLÍtICA DAS OLIGARQUIAS
A fórmula que promoveu certo equilíbrio político entre os estados e a União, chamada pelo 
Presidente Campos Sales de política dos estados, obteve bons resultados no País como um 
todo, e foi, também, diretamente responsável pelo processo de crescimento urbano apontado 
anteriormente. Com ela, o presidente se vinculava às forças políticas majoritárias de cada estado 
em troca de maior apoio e autonomia político-administrativa no plano federal.
No Rio de Janeiro, tal fórmula de imediato tinha aplicação complicada, já que poderia colocar em 
risco a soberania do poder da União justamente em sua própria sede. A saída para o impasse fora 
viabilizada pelo Presidente Rodrigues Alves. Em dezembro de 1902, ele obteve do Parlamento a 
aprovação da Lei no 939, que alterou profundamente a organização política do Distrito Federal. 
Entre outras mudanças impulsionadas pela lei, cabia, agora, ao Presidente da República a 
indicação dos prefeitos e substitutos para a cidade. O Senado agora poderia apenas apreciar os 
vetos do prefeito.
Para Américo Freire:
Desde a criação do Distrito Federal e a aprovação da Lei Orgânica, esta fora a mais 
profunda intervenção produzida no sistema político-administrativo da cidade. 
Perderam força tanto os grupos políticos locais, que tinham por base o Conselho 
Municipal, como o Senado Federal, que reduziria em parte o seu poder de órgão 
supervisor da administração da capital federal. Foi, portanto, a Lei no 939 que 
criou a figura do prefeito/interventor federal. (FREIRE, 2000, p. 27)
A “cidade maravilhosa” que nasce com o prefeito Francisco Pereira Passos, indicado pelo 
próprio Rodrigues Alves, começa, assim, a adquirir e a manipular conscientemente a imagem 
de porta-voz do País. Apesar de toda inquietação política, cedo as elites locais perceberam os 
ganhos do novo status social e político no cenário nacional. Além do mais, a política carioca 
diferenciava-se das demais exatamente por ser marcada historicamente pelo ideal de referência 
política e cultural ao resto do País. O Rio fora corte, ainda no Brasil-colônia; centro do Estado 
imperial e dos acontecimentos que resultaram na República para, finalmente, ser capital do 
Brasil republicano. A cidade fez da esfera do poder sua própria identidade cultural.
Podemos concluir que essa longa tradição de relação com o poder, como centro das decisões 
políticas. A imagem que podemos vislumbrar para o Rio, em contraposição à realidade de sua 
vizinha e crescente cidade, São Paulo, é a da tradição. A força política dos cariocas fora sempre 
dimensionada pelo papel que a cidade executara no seu passado e vivo em seu presente, voltada 
não só para as suas mazelas e potencialidades, mas, também, pelo que foi dito, para os problemas 
do País como um todo. O Rio fora sempre mais que sua dimensão geográfica restringia, pois 
historicamente, desde muito cedo, a cidade colonial projetara suas influências políticas e culturais 
ao restante do Brasil.
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A REPÚBLICA “VELHA” E A POLÍtICA DAS OLIGARQUIAS • CAPÍTULO 1
São Paulo, ao contrário, jamais vivera sob alguma percepção mais aguda do nacional, como os 
cariocas. Sua posição geográfica, estranha à experiência histórica lusa no nosso país, legou aos 
paulistas uma percepção bastante local de seu espaço e da sua experiência política. O que, somado 
ao processo de transformação abrupto nas formas de trabalho e organização da sociedade, a partir 
do final do século XIX, com a imigração, o crescimento urbano, o surgimento de uma burocracia 
estadual bem mais organizada, se comparada ao restante do País, sensivelmente produziu uma 
percepção geográfica, entre a elite paulista, diferenciada dos cariocas e dos demais brasileiros. 
Essa percepção carioca, por sua vez, tinha relação com a maneira também diferenciada de lidar 
com a máquina política e a burocracia no âmbito do Estado.
Ao contrário de outras cidades e regiões do País, essa “intervenção” federal prematura na cidade, 
antes mesmo dos interventores de Vargas do pós-1930, não representou propriamente um 
desarranjo das elites locais, justamente porque essas não existiam senão em função da autoridade 
ligada à administração e à burocracia federal. Desse modo, o arranjo político que desembocava em 
tomada de decisões ou o desenvolvimento de projetos – como a própria remodelação da cidade 
–, só foi possível graças, num mesmo tempo, a uma federalização dos recursos do município, 
incluindo os simbólicos, e uma municipalização dos recursos da União. Nesse pacto, saíram 
ganhando, em alguma medida, as duas esferas do Rio de Janeiro.
Segundo Motta (2004, p. 46), o Distrito Federal, como os outros estados da Federação, tinha três 
senadores e dez deputados representantes no Congresso Nacional e vinte sete intendentes na 
Câmara Municipal. O prefeito, vale lembrar, juntamente com o chefe de polícia, eram indicados 
pelo próprio presidente da República, ao passo que o Senado apreciava os vetos do prefeito. Assim, 
a esfera de ação política da municipalidade confundia-se, em alguma medida, com a federal. 
E nesse contexto, no dizer de Raimundo Faoro, que “raramente, uma ave solitária pousava nos 
bancos da Câmara, sem que, só e abandonada, fizesse verão”. (1953, p. 245)
Essa autêntica fragmentação do campo político dos cariocas, dividido entre o Presidente da 
República, o prefeito, senadores, deputados e, finalmente, os intendentes; foi possível e, de 
alguma maneira, viável, graças ao alto grau de interação entre os atores sociais no comando da 
máquina político-administrativa. Essa interação, no dizer de Motta, era mais que política, pois 
tinha também uma dimensão cultural, alimentada pelas relações sociais intensas e pessoais 
daquele período:
Atenção
É curioso notar os nomes de alguns grandes jornais criados nas duas regiões. Enquanto a imprensa carioca faz 
menção ao nacional, com jornais como O País, quando não adere a pretensões mais universalizantes, como O Globo; 
São Paulo, por sua vez, quasesempre mais fechado em si, como sugerem os títulos dos jornais A Província de São 
Paulo, ou mesmo O Estado de São Paulo.
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CAPÍTULO 1 • A REPÚBLICA “VELHA” E A POLÍtICA DAS OLIGARQUIAS
No Rio, localizavam-se as instituições formais encarregadas da instrução intelectual 
e social da elite brasileira. Pelo Colégio Pedro II passaram os filhos dos grandes 
latifundiários provincianos, dos políticos, dos magnatas do comércio. Nomes 
como os de Paulo de Frontin, Washington Luiz, Rodrigues Alves, Antônio Prado, 
entre outros. No Rio, situavam-se os clubes sociais, como o Club dos Diários e o 
Jockey Club, pontos de encontro de Rui Barbosa, Pereira Passos, Pinheiro Machado, 
barão do Rio Branco, que aí se reuniam para jogar, almoçar, e, sobretudo, trocar 
ideias. A passagem pelos bancos do Pedro II, pelos salões dos Diários e do Jockey 
Club, pelo Teatro da Ópera, era condição necessária para o ingresso no fechado 
clube da elite política brasileira. (MOTTA, 2004, p. 49)
É importante lembrar também que não existia nenhum movimento político organizado que 
firmasse os interesses políticos cariocas em contraposição aos “nacionais”. O frágil Partido 
Republicano Federalista jamais conseguiu produzir uma identidade regional forte, dissociada 
da imagem de vitrine do País ou símbolo da nacionalidade, que desfrutava a região. Certamente, 
como mostrou o trabalho de Motta (2004), as populações do Rio não se encontravam apáticas 
ou destituídas de alguma sintonia com relação aos debates e aos interesses políticos negociados 
entre as elites. Por meio de sindicatos, associações e manifestações, muitas vezes violentas, a 
população se manifestou perante o que consideravam um desacordo frente a seus interesses, 
embora em muitos conflitos não possamos identificar alguma noção de identidade local entre 
os manifestantes.
O fato é que essa dimensão extremamente pessoalizada das relações políticas começa a ser 
ligeiramente abalada, sem, contudo, ser jamais eliminada, com a montagem de todo o aparato 
técnico-burocrático elaborado por Vargas e seus técnicos, cujo coração é justamente o Palácio 
do Catete, em pleno Distrito Federal. A expressão Era, em referência ao período Vargas, portanto, 
não deve ser usada apenas com relação à longa duração que foi aquele período, mas, também, 
em função das profundas transformações ensejadas pelo político gaúcho na capital federal e 
em todo o País.
Os ventos dos anos 1920
A experiência da República Velha não veio ao chão, súbita e simplesmente quando, no início de 
novembro de 1930, um político gaúcho rumou, com tropas aliadas, para a capital da República, o 
Sugestão de estudo
Sobre o Poder Legislativo no Rio de Janeiro, ver excelente publicação ilustrada elaborada pelo Núcleo de Memória 
Política Carioca e Fluminense, Palácio Tiradentes: lugar de memória do parlamento brasileiro. Rio de Janeiro: Ed. 
Fundação Getúlio Vargas, [2001].
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A REPÚBLICA “VELHA” E A POLÍtICA DAS OLIGARQUIAS • CAPÍTULO 1
Rio de Janeiro. Sua decadência foi gradual e pode ser percebida nas profundas mudanças sociais, 
econômicas e políticas que tomam vulto a partir dos anos 1920. Não foram poucas.
Um primeiro indicativo de mudança era social, cultural, mas, sobretudo, política. Durante os anos 
1910, cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo avançaram sensivelmente em um processo de 
industrialização, especialmente na área têxtil. A industrialização, como um processo econômico, 
repercutia imediatamente em um processo social, com a emergência de um ator que seria 
fundamental na história do Brasil até os dias de hoje: os operários. Uma classe operária, cada 
vez mais organizada, pleiteava por salários justos e melhores condições de trabalho. Muitos dos 
quais eram europeus, recém-chegados das lutas em seus países de origem. Traziam na mala, aos 
olhos das elites nacionais, perigosas ideias: eram anarquistas e marxistas. 
No vocabulário desses trabalhadores figurava a ideia de luta de classes, de exploração e de conflito 
social. Não à toa se organizavam, pois logo perceberam que a luta política poderia ser menos 
ingrata caso estivessem bem organizados e solidários. Nessa linha de pensamento, por exemplo, 
em 1917 seremos testemunhas daquela que ficou na história como a primeira greve operária 
do País, realizada em São Paulo, onde o processo de industrialização foi tanto mais avassalador 
quanto a entrada de estrangeiros fora mais intensa.
Greves como essa, que logo se intensificariam, tornaram o ambiente político ainda mais instável. 
Parecia cada vez mais claro que as velhas formas e receitas da República Oligárquica não dariam 
conta de uma sociedade em mutação. Como parte do mesmo contexto, em 1922, na cidade de 
Niterói, seria fundado o Partido Comunista Brasileiro, o PCB. Partido que seria protagonista de 
importantes lutas políticas na história do Brasil a partir de então.
Outro ator político fundamental para compreendermos o ambiente de críticas e a derrocada 
da Primeira República é o “tenente”. Trata-se de uma jovem oficialidade das Forças Armadas, 
gente bastante politizada que entendia que o Estado central brasileiro deveria ser fortalecido em 
contraposição às elites oligárquicas locais. A chamada Revolta do Forte de Copacabana, também 
de 1922, dá uma ideia do ambiente de extremismo político da época. 
As consequências do tenentismo foram as mais diversas, como eram diversos os posicionamentos 
de seus diversos atores. Muitos iriam, mais adiante, apoiar o governo Vargas; outros, mais radicais, 
iriam apoiar e configurar a chamada Coluna Prestes. Alguns se converteriam ao credo comunista; 
outros ao fascismo de base integralista. A despeito da diferente coloração política, ao que tudo 
indica, todos acreditavam na presença de um Estado vigoroso e forte e, eventualmente, de perfil 
autoritário na sua relação com a sociedade. Não à toa, alguns deles, como Ernesto Geisel, Eduardo 
Gomes, Castelo Branco, Médici, Juraci Magalhães e outros, teriam um papel a cumprir no golpe 
de 1964, evento que abre as portas para uma ditadura militar no Brasil.
Os anos 1920, nesse sentido, mais do que gerar um ambiente político instável, foram capazes de 
gerar atores sociais e políticos que teriam papel duradouro na história política brasileira a partir 
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CAPÍTULO 1 • A REPÚBLICA “VELHA” E A POLÍtICA DAS OLIGARQUIAS
de então. O movimento operário, sobretudo organizado, seria decisivo nos arranjos políticos do 
governo Vargas, por exemplo. Vargas, ao criar o trabalhismo e todo um aparato de controle dos 
trabalhadores sindicalizados, soube, como ninguém, tirar proveito dessa diversa e crescente 
classe social. 
Os tenentes, por sua vez, constituíram uma igualmente diversificada casta militar. Um tipo 
de militar que tinha “projetos” para o Brasil. Essa formação missionária do Exército brasileiro 
certamente encontra suas raízes no positivismo, mas dele soube se diferenciar, ao incorporar 
outras ideologias e crenças políticas, fruto dos confrontos e disputas da sociedade brasileira dos 
anos 1920.
No campo das artes, em certo sentido, como síntese das mudanças sociais em andamento e, 
ao mesmo tempo, apontando para as mudanças desejadas, ocorria em São Paulo a chamada 
Semana de Arte Moderna. Mais uma vez no fatídico ano de 1922. Em fevereiro desse ano, jovens 
como Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, 
Di Cavalcanti e outros que compunham uma vanguarda do modernismo, nas dependências do 
Teatro Municipal de São Paulo organizaram um evento que passava em revisão das experiências 
estéticas da cultura nacional.
Figura 2. Cartaz da Semana de Arte Moderna.
Fonte: <http://portalarquitetonico.com.br/semanade22/>. 
Na poesia, na música, nas artes plásticas, na arquitetura e na literatura, eles apontavam para uma 
diferente forma de expressar e representar o Brasil. Eram jovens cultos, muitos dos quais com 
boa experiência nas salas europeias, traziam em suas bagagens o cubismo, o expressionismo e 
outros movimentos de vanguardado Velho Continente.
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A REPÚBLICA “VELHA” E A POLÍtICA DAS OLIGARQUIAS • CAPÍTULO 1
Figura 3. Programa da Semana de Arte Moderna.
Fonte: <http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/os-90-anos-da-semana-de-arte-moderna>. 
Souberam tirar deles a base de criação de um movimento original que, de forma contundente, 
colocava em pauta o Brasil e sua gente. O prestígio que o movimento tem em nossos dias em nada 
coincide com a recepção que teve naquele momento. A imprensa e os críticos não perdoaram, 
logo qualificaram os artistas como débeis e subversores da verdadeira arte. Aquela experiência, 
diante de sua originalidade e potência de suas ideias, transcendeu ao contexto dos anos 1920. 
A ideia de uma “antropofagia”, tão cara aos modernistas, contaminaria outras experiências em 
outros momentos. Os tropicalistas e a Bossa Nova, com a influência e a mistura de ritmos, não 
nos deixam mentir.
Sintetizando
Os anos 1920 foram capazes de produzir um conjunto de atores e forças que, ao que tudo indica, não sustentavam 
mais a ordem política e social dominante. Esses atores, e seus movimentos, apontavam para outro sentido, ainda 
que sob a perspectiva de distintos projetos. Alguns inspiravam-se na democracia liberal à americana; outros 
aproximavam-se mais de modelos estatistas centralizadores e, em alguns casos, antidemocráticos. Em termos de 
espectro político, ao final desse período, a longeva oposição entre comunistas versus integralistas já bem se delineava. 
O fato é que a insatisfação era generalizada, seja nos ambientes mais populares, seja nos salões que habitavam parte 
daquelas elites. A insatisfação culminaria na construção de uma renovada aliança que, por intermédio da força, 
colocaria fim à chamada República Oligárquica. Esse é o assunto de nosso próximo capítulo. 
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Introdução
Neste capítulo, estudaremos o período que se inicia com o golpe de Estado de 1930 
que levou Getúlio Vargas ao poder até sua saída, com o fim do chamado Estado Novo, 
a ditadura que o presidente comandou de 1937 a 1945. Veremos as condições em que 
Vargas construiu a articulação de forças políticas que o sustentou e os projetos de Brasil 
que implementou, com especial destaque para a construção do aparelho administrativo 
estatal e da nova inserção política e econômica do Brasil no cenário mundial. 
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de:
 » Compreender o processo de mudanças que teve origem no Golpe de 1930.
 » Analisar as tensões entre a tradição aristocrática, rural e patrimonialista e os projetos 
industrialistas e modernizadores da economia.
 » Refletir sobre o papel do Estado nas mudanças ocorridas no período e no modelo político 
e jurídico que orienta as disputas políticas no Brasil.
Linhas gerais do período Vargas
O primeiro ano de ditadura, 1931, foi um ano de rigorosa economia, cortes nas 
despesas, redução de vencimentos, a começar pelo presidente da República, 
suspensão de obras etc. Esse golpe inicial em todos os abusos e despesas adiáveis 
precisaria pelo menos de três anos para alcançar os seus resultados, e teríamos o 
almejado equilíbrio orçamentário, apesar das dificuldades externas criadas pela 
crise econômica. Para isso, seriam necessários três anos de ditadura, fazendo 
administração e alheados da clientela política e dos partidos. Infelizmente não 
foi possível... (Diário de Vargas, 21/8/1935)
2
CAPÍTULO
O GOLPE DE 1930 E O PRIMEIRO 
GOVERNO DE GEtÚLIO VARGAS
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O GOLPE DE 1930 E O PRIMEIRO GOVERNO DE GEtÚLIO VARGAS • CAPÍTULO 2
A chegada e instalação do político gaúcho Getúlio Vargas à capital federal, no final de 1930, mudaria 
decididamente a trajetória política, social e econômica do País. O fragmento acima, retirado do 
diário do então presidente da República, dá uma boa ideia do que foi sua experiência e intenções 
no poder. Vargas realça seus esforços no sentido de produzir maior controle sobre a economia.
Tal tendência se contextualiza no forte antiliberalismo que se espalhou, entre outras coisas, em 
resposta à crise de 1929, que aparecia como prova inconteste do fracasso do liberalismo. Essa 
tendência não só tomou corações e mentes nacionais, mas que, também, encontrava grande 
respaldo internacional com as experiências fascistas, comunistas e, de algum modo, no próprio 
governo do Presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt que, por intermédio do seu 
New Deal, lograva maior interferência do Estado na economia dos Estados Unidos da América. 
Em resumo, havia, em termos nacionais e internacionais, uma generalizada crença de que o 
mercado não poderia ser deixado fora do controle do Estado.
Figura 4. Getúlio Vargas e sua comitiva em Itararé, São Paulo.
Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Itarar%C3%A9#/media/File:Revolu%C3%A7%C3%A3o_de_1930.jpg>.
No mesmo fragmento retirado do seu diário, Vargas nos chama, ainda, a atenção, para seu projeto 
de “Estado forte” e ditatorial. Isto é, em suas palavras, para a necessidade de concentrar poder 
no âmbito do Executivo federal em contraposição a outros grupos e formas de representação 
política, como os partidos. Vê-se logo que sua avaliação a esse respeito foi negativa.
Não nos deixemos, no entanto, iludir com as palavras de Vargas. Seu projeto de Estado e sociedade, 
em boa medida, se realizou. Muitas foram as mudanças impressas pelas mãos do seu governo, em 
seus cerca de 15 anos ininterruptos de gestão. Mudanças sociais e econômicas que tomavam vulto 
naquele contexto, conforme já sinalizamos no capítulo anterior, foram habilmente aproveitadas 
pelo presidente. Sua relação com a crescente classe operária é bom exemplo disso.
26
CAPÍTULO 2 • O GOLPE DE 1930 E O PRIMEIRO GOVERNO DE GEtÚLIO VARGAS
Um governo tão longo, e por um período repleto de mudanças importantes, não poderia ser 
uniforme no tempo. A historiografia clássica costuma dividir a experiência de governo de Getúlio 
Vargas em quatro grandes etapas. A primeira se dá com sua ascensão ao poder, em 1930, e segue 
até 1934. A Carta Constitucional vigente na Primeira República seria abolida, instala-se, então, 
um “Governo Provisório”. 
Uma nova Constituição, que fora estopim para uma revolução em São Paulo, inaugura sua segunda 
fase no poder, o “Período Constitucional”. A emergência do “Estado Novo”, em 1937, colocaria 
fim à fase constitucional e se estenderia até o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
Vargas só retornaria para o poder novamente no início dos anos 1950, agora eleito. Essa quarta 
fase seria interrompida pelo dramático desfecho de seu suicídio, em agosto de 1954. Um período 
fundamental para que possamos melhor compreender o Brasil contemporâneo, bem como 
alguns de seus desafios para o futuro.
A “Revolução” de 1930
O golpe de Estado que ficou conhecido como “revolução” de 1930 veio a público em 3 de novembro 
nos estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Não é coincidência que as lideranças desses 
estados se voltassem contra o governo federal. Neles, residiam os grupos, mais bem organizados, 
que se sentiam traídos e alijados por um governo federal aparelhado em torno dos interesses dos 
paulistas. O Nordeste, a partir da Paraíba, viria atrás, e no dia seguinte deslancharia sua ofensiva, 
sob o comando de Juarez Távora.
No final de outubro, uma junta militar, composta pelos generais Mena Barreto, Tasso Fragoso 
e outros, depôs o presidente Washington Luis, em uma inútil tentativa de reter a macha 
revolucionária (FAUSTO, 2006, p. 325). A chegada de Vargas ao Rio de Janeiro, com cerca de 3 
mil soldados, deixava claro que as mudanças eram irreversíveis. No dia 3 de novembro de 1930, 
o gaúcho assumia a Presidência da República do Brasil.
A ascensão ao poder de Getúlio Vargas decorreu de um profundo e gradual desgaste das instituições 
políticas – e da própria política – da Primeira República, que já não conseguiam responder 
com eficiência a um quadro social, em muitos sentidos, cada vez mais complexo na sociedade 
brasileira. O exílio do presidente WashingtonLuís, quase que imediatamente se fez acompanhar 
pelo surgimento do Governo Provisório, em 3 de novembro de 1930, e que se prolongou até 16 
de julho de 1934, quando, finalmente, o País teve nova Carta Constitucional.
Sugestão de estudo
Sobre a decadência do chamado estado oligárquico não só no Brasil, mas, também, como um fenômeno mais 
ou menos uniforme em toda a América Latina, é interessante o trabalho de Octávio Ianni, A formação do Estado 
populista na América Latina (Série Fundamentos, no 37). São Paulo: Ática, 1989.
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O GOLPE DE 1930 E O PRIMEIRO GOVERNO DE GEtÚLIO VARGAS • CAPÍTULO 2
De imediato ocorreu uma sequência de importantes mudanças administrativas levadas a cabo 
pelo novo presidente. A começar pela nomeação dos interventores nos governos estaduais. Boa 
parte deles era oriunda do movimento tenentista, um dos ingredientes responsáveis pela crise 
da República oligárquica das primeiras décadas do século XX. Nomes hoje famosos como os 
de João Alberto, Juraci Magalhães, Juarez Távora tomaram imediatamente conta das máquinas 
político-administrativas locais, com exceção do governador Olegário Maciel, primo de Gustavo 
Capanema, que permaneceu no poder em Minas Gerais com o consentimento de Vargas. Nas 
palavras do presidente, sob o calor dos acontecimentos da revolução:
Começam as tentativas para a organização do Ministério. Alguns nomes eu 
já trazia fixados, outros foram sendo sugeridos depois. A mentalidade criada 
pela Revolução não admitia mais o emprego dos velhos processos, do critério 
puramente político. (Diário de Getúlio Vargas, 1/11/1930, p. 21)
É o contexto da dissolução dos Legislativos federal, estaduais e municipais, a ocorrência de 
uma sequência de importantes mudanças político-administrativas nos ministérios, bem como 
a criação de novas pastas. Todo esse turbilhão de mudanças deu uma nova cara ao Executivo 
federal, com a implementação de uma máquina administrativa renovada nos governos, seja qual 
fosse o nível de ação. Sobre a natureza e a eficiência ou não de todas essas mudanças operadas 
na estrutura do Estado brasileiro não parece ser suficiente encerrar todo o processo como um 
simples caminhar rumo à centralização política. Como vimos anteriormente, toda a mudança 
era alimentada por transformações estruturais que se operavam na sociedade brasileira pelo 
menos desde o século XIX, alterações que iam do franco crescimento populacional até a lenta 
diversificação da economia do País dos anos 1920, aliada ao surgimento de novos modos de vida.
Nesse sentido, não é possível reduzir o processo de mudança a um balé sincrônico de acontecimentos 
mais recentes, pois ele tem raízes numa dinâmica de construção da nacionalidade que tomava 
vulto, sobretudo, a partir da segunda metade do século XIX, quando políticos e intelectuais 
se debruçaram sobre temas então considerados estritamente nacionais. Isto tudo ia desde o 
âmbito racial, bandeira de uma época, até formas de organização política mais apropriadas às 
características de um jovem país situado na América Latina. 
Historicamente, nossas elites, intelectuais e políticas, juntamente com o suporte, por vezes 
teórico, dos estrangeiros, elaboraram um modelo de pensamento difícil de ser abandonado ainda 
em nossos dias. Trata-se, de uma percepção que aponta para a impossibilidade das coisas que 
deram certo em outros cantos, funcionarem adequadamente entre nós, aqui nos trópicos. As 
explicações para essa perspectiva gravitaram desde aquelas mais ortodoxas, ligadas ao discurso 
racial, até as mais modernas, que imputam à cultura um peso quase sobrenatural. Nesse quadro, 
não foram poucas vezes que se atentou que a nossa especificidade exigia soluções originais, em 
sintonia justamente com nossa especificidade, há muito identificada e insistentemente descrita 
pelos intelectuais.
28
CAPÍTULO 2 • O GOLPE DE 1930 E O PRIMEIRO GOVERNO DE GEtÚLIO VARGAS
É nesse quadro que a gestão Vargas volta-se para o “problema da organização”. A chamada crise 
dos anos 1920 contextualiza-se em uma percepção, por parte de alguns segmentos intelectuais, 
de que o atraso brasileiro com relação às demais nações modernas e desenvolvidas poderia ser 
traduzido simplesmente pela ausência de uma estrutura político-administrativa que tivesse a 
capacidade de afastar definitivamente o elemento contaminador dos atos políticos. A saída, 
começou-se a pregar na época, estava na técnica, uma técnica cuja utopia e política residiria no 
fato de se pretender ser justamente apolítica. De acordo com perspectiva de Ângela de Castro 
Gomes:
é a partir dos anos 20 que tem início um processo de crítica à definição dos 
critérios de acesso aos postos-chaves do aparelho de estado e aos valores 
necessários ao desempenho das funções governamentais. Durante o período 
imperial e mesmo durante a Primeira República, os homens públicos brasileiros 
eram “os políticos”, ou seja, eram oriundos do “mundo político”, quer porque 
fossem eles mesmos os inauguradores de uma “chefia” municipal, estadual 
ou federal, quer porque fossem filhos e/ou herdeiros de “famílias políticas”. 
(CASTRO GOMES, 1994, p. 3)
Assim, nas palavras de Luis Simões Lopes, o homem que primeiro chegou à frente do Conselho 
Federal do Serviço Público, criado em 1936, depois do Departamento Administrativo do Serviço 
Público (Dasp), de 1938 até 1945, comandou boa parte das reformas administrativas do pós-1930:
A situação da administração pública brasileira era então [até 1930] das mais 
lamentáveis, pois fora submetida, durante largos anos, a um regime eminentemente 
político, em que a escolha para os cargos públicos se fazia sob pressão dos políticos 
que apoiavam o governo. (Depoimento de Luis Simões Lopes, 1986, pp. 39/41)
É o início da construção de uma oposição ainda muito viva em nosso imaginário, segundo 
a qual há uma benéfica neutralidade no campo da técnica e, por outro lado, uma espécie de 
desvirtuamento constante ou mesmo em potencial no campo da política. No final das contas, 
na esfera política não poderíamos conceber eficiência, pois ela seria um jogo em que a pauta 
dos interesses recairia invariavelmente nas vontades particulares e privadas, em oposição aos 
nacionais. 
A partir desse contexto, por exemplo, Lawrence Graham (1968) parte em seu trabalho de uma 
constatação de valor ao considerar que, apesar de todo o investimento rumo a uma reforma 
institucional e administrativa, emprestada, segundo ele, do modelo norte-americano, pouco 
impacto estabeleceu em matéria de economia e eficiência nas rotinas das decisões governamentais 
no nosso país. Sua hipótese central de trabalho é que há uma importante discrepância entre as 
medidas estabelecidas no plano administrativo e as realidades existentes, constituídas a partir 
da movimentação dos atores sociais. Mas, enfim, nesses termos, o que de fato podemos sinalizar 
como experiências importantes durante a gestão Vargas?
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O GOLPE DE 1930 E O PRIMEIRO GOVERNO DE GEtÚLIO VARGAS • CAPÍTULO 2
A agenda de trabalho do governo Vargas
Conforme já sinalizamos, não resta dúvida de que a maior tarefa a que Vargas se impôs, e a qual 
deixará seu maior legado, seja o fortalecimento do Estado brasileiro. Quando nos referimos a 
esse processo entenda-se que o político gaúcho deu passos decisivos rumo ao fortalecimento 
político-administrativo da máquina estatal, sobretudo aquela organizada em torno das atividades 
da União. 
Nesse sentido, Beatriz Wahrlich (1983) diz que as ideias acerca da necessidade de uma reforma 
administrativa que atualizasse o funcionamento do Estado brasileiro já aparecem claramente na 
plataforma da Aliança Liberal, sob o título “o problema do funcionalismo”. A tônica da Aliança, 
como se poderia confirmar posteriormente, estava na necessidade de colocar o Presidente da 
República no centro das decisões governamentais, como o principal baluarte na coordenação das 
políticas públicas em todo o território nacional. A partir desse pressuposto elementar, lança-se 
foco sobre departamentos,instituições e comissões que arregimentavam o aparelho do Estado.
 Agora, segundo os porta-vozes dos novos tempos, devia-se criar toda uma estrutura 
político-administrativa que desse voz às intenções levantadas como bandeira pela Aliança que 
viabilizou o golpe de estado, sobretudo a necessidade de centralização política.
Pelo Decreto no 19.398, de 11 de novembro de 1930, ainda sob o calor do ímpeto revolucionário 
de agosto, instituiu-se que somente ao Presidente da República cabiam nomeações e demissões 
de funcionários do Estado. Nesse mesmo mês ficou determinado que o Governo Provisório 
passaria por algumas transformações ministeriais. 
Percebe-se que, imediatamente a partir dos tumultuados dias da revolução, toda a estrutura 
administrativa do Executivo federal sofreu um reordenamento importante. Isso sem considerarmos 
o impacto nos Legislativos federal, estaduais e municipais que foram dissolvidos com só um 
golpe de caneta. Por isso, nas palavras de Wahrlich:
Ao findar-se o ano de 1930 estavam delineadas, portanto, as principais 
preocupações de Getúlio Vargas no tocante à reforma administrativa, nos 
primeiros atos de seu governo: de um lado, fortalecer a organização administrativa 
federal, partindo do setor social; de outro, introduzir medidas de racionalização 
administrativa, visando à obtenção de maior economia e eficiência. (WHARLICH, 
1983, p. 11)
Outro aspecto fundamental do período Vargas tem a ver com a cooptação e controle dos 
trabalhadores urbanos por intermédio da criação de uma legislação e todo um aparato de 
organização dos trabalhadores. Os sindicatos e os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs) 
foram peças importantes na relação do governo com uma classe trabalhadora que, desde os anos 
1920, organizava-se como uma força política quase sempre resistente aos governos instalados.
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CAPÍTULO 2 • O GOLPE DE 1930 E O PRIMEIRO GOVERNO DE GEtÚLIO VARGAS
Figura 5. Concentração de comemoração do dia do trabalho no campo do Vasco da Gama, Rio de Janeiro.
Fonte: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos37-45/DireitosSociaistrabalhistas>.
Ao introduzir mecanismos de proteção social aos trabalhadores sindicalizados, que crescentemente 
somavam-se com mecanismos de comunicação e propaganda do regime, Vargas aproximou-se 
dos trabalhadores e conformou as bases do que se convencionou chamar trabalhismo. A criação 
do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), no final de sua gestão, em 1945, conformava em termos 
político-eleitorais, uma tradição cuja origem remonta aos primeiros tempos do governo Vargas.
O fortalecimento e melhor organização da classe trabalhadora, por outro lado, mantinha relação 
com o fortalecimento da indústria naquele período. A indústria, sobretudo de base, faria parte da 
agenda governamental sem que os interesses de agroexportadores fossem totalmente deixados 
de lado. O café, por exemplo, continuaria a ter relevância na economia brasileira, pelo menos 
até os anos 1950.
Elementos para um contexto
Na perspectiva de Fernando Uricoechea (1978), o conflito entre o poder local, nas mãos de 
poderosos proprietários de terras, e o poder federal começa a ser favorável a esses últimos não 
somente em razão exclusivamente do avanço do processo de centralização política promovido 
pela União, mas à medida que se avançava gradualmente na burocratização da administração 
do Estado. Isso porque, nesse ponto de vista, a substância da burocracia seria quase que 
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O GOLPE DE 1930 E O PRIMEIRO GOVERNO DE GEtÚLIO VARGAS • CAPÍTULO 2
exclusivamente o jogo político que imprimiu uma movimentação de peças de acordo com os 
interesses dos poderosos, sempre ávidos por mais poder. 
No capítulo anterior referimos que os anos 1920 foi palco de profundas mudanças sociais e 
econômicas na sociedade brasileira. Essas mudanças continuaram vigorosas durante o período 
Vargas. E são visíveis, como já sinalizamos, no fenômeno da intensa industrialização e no 
crescimento das cidades, bem como no fortalecimento do operariado como um grupo social mais 
organizado e expressivo no quadro político nacional. Uma mudança, contudo, é praticamente 
consenso na historiografia sobre o período: as transformações pelas quais passou o Estado 
brasileiro. 
No centro do processo de mudança do aparelho de Estado brasileiro encontramos, de forma 
vigorosa, naquela época, o fenômeno da burocratização. Por trás desse processo, como dissemos, 
encontramos uma crescente transformação na sociedade: novos atores e novas classes sociais. 
Não há uma fartura de dados inteiramente confiáveis sobre o processo de burocratização, nesse 
ponto de vista, no Brasil. Mário Wagner Vieira da Cunha (1963), Juarez Brandão Lopes (1971) 
e Edmundo Campos (1978) apresentam alguns dados que são esclarecedores nesse sentido. 
Segundo o último, em 1920, havia no País cerca de 37.644 indivíduos que ocupavam cargos e 
desempenhavam funções administrativas na indústria. Até 1950 ocorre um formidável salto, há 
no País nesse momento cerca de 215 mil pessoas ligadas a atividades administrativas; 7,7% da 
população brasileira na ativa. Se acrescentássemos a esses números as pessoas que ocupavam 
cargos burocráticos no Estado obteríamos um aumento importante. Basta observar os dados 
que o próprio autor traz. Em 1920, o funcionalismo federal era constituído por 65.533 indivíduos. 
Em 1965, temos 381.202 pessoas. Isso sem considerar as administrações estaduais e municipais 
e os militares (PAIVA, 2009).
Juarez Brandão Lopes aborda o fenômeno da burocratização sob a ótica do que ele denomina 
a emergência de uma sociedade de massas no País. O autor coloca a burocracia dependente 
da industrialização e urbanização, além da emergência de uma classe média urbana. Em razão 
disso é que a modernização se localiza, em sua visão, quase que inteiramente no centro-sul do 
País, acentuadamente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Segundo ele, 
“tudo está a indicar a alta concentração de estabelecimentos de elevado grau de 
racionalização (e burocratização) no centro-sul, abarcando parcela considerável 
do operariado da região e do valor da transformação industrial nela realizada” 
(1971, p. 99).
Na visão do autor, essa mudança social é gradual, pois não se opera uma transformação abrupta 
e radical de um modelo patrimonialista para um burocrático. Nas suas palavras:
continuam, em boa medida, as práticas patrimonialistas (a de “cuidar” de seus 
operários, a administração “particularista” de pessoal etc.), mas, misturadas, 
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CAPÍTULO 2 • O GOLPE DE 1930 E O PRIMEIRO GOVERNO DE GEtÚLIO VARGAS
agora com tentativas de intensificação do ritmo de trabalho, preocupação 
esporádica de substituir por mão de obra mais barata (mulheres e menores) a 
mais cara (homens adultos), de aumentar aluguéis das casas da fábrica etc. Tais 
reações, por parte dos empregadores representam, todavia, quebra das relações 
tradicionais de trabalho e aumento de tensão entre operários e mestres. [...]. Os 
laços de obrigação e lealdade se quebraram. Um processo acumulativo e circular 
implanta-se e o comportamento e as relações afastam-se cada vez mais dos 
padrões patrimonialistas. O processo é irreversível e a sua resultante é a gradual 
desapropriação dos vínculos patrimonialistas. (LOPES, 1971, pp. 191-192)
O surgimento da noção de que a sociedade deveria ser regida por um sistema objetivo de normas 
diferentes daquelas que orientam a vida dos indivíduos na esfera de suas vidas privadas provocou, 
quando em sua aplicação, transformações importantes na relação entre sujeitos sociais e o Estado. 
É nesse contexto, por exemplo, que surgem novos padrões de trabalho e ações administrativas, 
mais especializados, tecnicamente racionalizados: a criação do concurso público para o ingresso 
no funcionalismo de carreira do Estado, em 1934; a fundação do Departamento Administrativo 
do Serviço Público (Dasp), em 1938; a constituição de um estatuto para os funcionários públicos, 
em 1939, entre outras. 
Essas transformações que fincam raízesno século XIX têm, também, a ver com transformações 
em escala global. É durante a Primeira República que um acontecimento de impacto, como foi 
a Primeira Guerra Mundial, provoca importantes mudanças na forma como os atores sociais, 
políticos e intelectuais apreendem a realidade social de seu tempo. O conflito de escala mundial 
gerou na maioria dos países do globo uma profunda incerteza quanto à possibilidade de superação 
do atraso social via liberalismo, o que ficaria realmente óbvio a partir dos anos 1930 (HOBSBAWM, 
1995, 29-219). Surge, então, a bandeira do Estado como uma espécie de entidade organizada e 
preparada para intervir numa realidade, no mínimo, potencialmente caótica.
E tudo isso provoca certa decadência na influência das elites oligárquicas tradicionais, o que 
contribuiu para o fim do chamado Estado Oligárquico. A partir de 1930, sobretudo após a 
instauração do Estado Novo, em 1937, toda essa estrutura imposta “pelo alto” (Ver CASTRO 
SANTOS, 1993), no correr dos tempos dos barões do café, sofre uma crise em suas velhas formas 
de organização política e social. Daí em diante, as decisões relativas às políticas de Estado passam 
a depender, mais do que na década de 1920, de negociações com a burocracia central do governo. 
O que era gestado no microcosmo local, passa a ser objeto e resultado de uma conjunção muito 
mais complexa de fatores e atores sociais. É chegada a Era da Burocracia de Vargas.
O governo Vargas
É difícil tratar todo o período que Getúlio Vargas permaneceu no poder como uma simples 
sequência de gestões. Foi mais, pois ao longo desses cerca de quinze anos ininterruptos no poder, 
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O GOLPE DE 1930 E O PRIMEIRO GOVERNO DE GEtÚLIO VARGAS • CAPÍTULO 2
o presidente teve que enfrentar diferentes desafios, que implicaram respostas distintas em forma e 
conteúdo: ora em sintonia, ora em conflito com a ordem social e política tradicional brasileira. Além 
disso, não é fácil tratá-lo como “mais um presidente”, pois suas ações significaram, muitas vezes, 
uma nova rotina de funcionamento tanto da política como das instituições e da Administração 
Pública no País. Isso sem considerarmos as implicações sociais e econômicas dessas profundas 
mudanças operadas, sobretudo nesses primeiros períodos (o Governo Provisório, 1930-1934; o 
Período Constitucional, 1934-1937 e o Estado Novo, 1937-1945).
Tal como discutimos anteriormente, o governo provisório caracterizou-se por profundas mudanças 
na agenda e na forma como o Estado passou a se organizar e a interagir com a sociedade. Em 
termos genéricos, Vargas tinha o apoio das elites gaúchas, mineiras e do Nordeste do País. Mas 
não se podia dizer o mesmo de São Paulo. Os paulistas se sentiam os principais prejudicados 
com as mudanças operadas pela Revolução de 1930. Em 1932, em meio a uma terrível guerra 
civil, manifestaram sua insatisfação com o governo federal. 
Ainda que o governo tenha vencido o conflito, Vargas achou por bem atender à principal 
reivindicação de São Paulo. No ano seguinte iniciavam-se os trabalhos em torno de uma nova 
Constituição, que viria a público em 1934. Uma Constituição com características liberais que 
previa eleições para presidente e, assim, instituía a ordem democrática. 
No final das contas, os anos 1934 e 1935, como se sabe, constituíram um período, embora curto, 
bastante conturbado. Muitas manifestações pró e contra o fascismo, greves de operários, bancários 
e funcionários públicos. O governo tentou, no início de 1935, que o Congresso votasse uma Lei 
de Segurança Nacional, o que gerou a resistência de diversos setores da sociedade brasileira. A 
radicalização, no entanto, acabou por ganhar força graças à falsa tentativa de golpe comunista, 
conhecida como Plano Cohen, o que provocou um forte aumento da repressão do governo aos 
adversários políticos, como a Aliança Nacional Libertadora, fundada em março de 1935 e fechada, 
a mando de Vargas, em julho do mesmo ano. Dessa forma, caía por terra um dos redutos da 
esquerda no País, que conjugava sob um mesmo teto jovens tenentes e comunistas.
Sendo assim, os acontecimentos de 1935 foram mesmo decisivos para o desfecho político do 
período, com a instauração do Estado Novo, em 1937, quando há uma verdadeira institucionalização 
da violência, da tortura e da perseguição política. Instaurou-se, no dizer de Boris Fausto, um 
verdadeiro “estado de guerra” (2000, p. 361), com a decretação do estado de sítio não só nas zonas 
de conflito, como queriam alguns parlamentares, mas para todo o País. Isso sem considerar a 
criação de instituições voltadas inteiramente à repressão, como a Comissão de Repressão ao 
Comunismo, fundada em 1936. O resultado é que o período é fortemente marcado pela politização 
da sociedade e a repressão do Estado.
As eleições previstas pela Carta Constitucional de 1934 jamais se realizaram. Valendo-se do 
radicalismo político e dos conflitos entre comunistas e integralistas, Vargas deu o golpe que pôs 
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CAPÍTULO 2 • O GOLPE DE 1930 E O PRIMEIRO GOVERNO DE GEtÚLIO VARGAS
fim à Constituição que apoiara anos antes. Inicia-se, assim, o período mais duro de seu governo: 
o Estado Novo.
Figura 6. Propaganda do Governo Vargas.
Fonte: <http://www.infoescola.com/brasil-republicano/estado-novo/>. 
O Estado Novo caracteriza-se, como dissemos, pelo endurecimento do regime. Inspirado nas 
experiências fascistas europeias, Vargas desenvolve um sistema de propaganda em torno de sua 
figura. O regime e a nação se personificariam em torno da sua pessoa. A imprensa, sobretudo os 
jornais, passaria a ser alvo de censura, dissidentes e opositores seriam perseguidos. 
Apesar da inspiração fascista, não podemos tipificar o período como uma experiência fascista 
aos moldes europeus. De acordo com o trabalho de Edson Nunes, A gramática política do Brasil, 
há quatro padrões (em suas palavras, gramáticas) que estruturam as relações entre o Estado e 
a sociedade no Brasil. São eles: o clientelismo, o corporativismo, o insulamento burocrático e 
o universalismo de procedimentos. O primeiro vem, segundo ele, de longa data, e faz parte de 
um certo modus vivendi sul-americano. Os três seguintes nasceriam sob o governo de Getúlio 
Vargas, que sem fazer escolhas refletidas sobre um ou outro modelo, os obriga a uma convivência 
mútua, mas, muitas vezes, tensa. Assim, todo o elemento tradicional, depositado no primeiro 
dos padrões, seria ainda um componente estruturante no quadro da cultura brasileira, muito 
vivo nos seguintes. Desse modo, em sua perspectiva, a modernização não abandonaria o velho 
tempero do nepotismo, do patrimonialismo, das relações de pessoa a pessoa.
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O GOLPE DE 1930 E O PRIMEIRO GOVERNO DE GEtÚLIO VARGAS • CAPÍTULO 2
Desse modo, Vargas, mesmo durante o período autoritário, conjugaria principalmente duas dessas 
quatro gramáticas idealizadas por Nunes, pois é com o clientelismo e com o corporativismo que 
o Presidente da República organiza as relações sociais ao manter razoavelmente domesticadas 
as velhas e tradicionais oligarquias regionais. Não que as outras gramáticas não estivessem ali 
presentes, sob um verniz qualquer, mas, sim, que se fizeram mais atuantes somente no início 
dos anos 1950, quando a relação Estado e sociedade no País ganha novo contorno institucional, 
evidentemente distinto daquele dos anos 1930.
No contexto do Estado Novo, a criação do Dasp, o executor e símbolo da centralização política 
varguista, se deu em 30 de julho de 1938, pelo Decreto-Lei no 579, com base no artigo 67 da 
Constituição de 1937. A ideia de um aparelho de estado forte, centralizado e técnico, torna-se 
a missão institucional do novo organismo. Seu legado para a Administração Pública brasileira 
seria longo. 
 O fim da primeira era Vargas, em 1945, não promove a diminuição do papel da burocracia na 
gerência do Estado e da sociedade. Mesmo com a democratização, ainda prevalece o modelo 
burocrático e o centralismo na Administração Pública. Segundo Diniz (2000), o período após 
Vargas preserva ainda

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