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CLASSIFICAÇÃO DOS ANTIBIÓTICOS: DEFINIÇÃO DE ANTIBIÓTICO: Podemos definir os antibióticos como sendo substâncias químicas produzidas por microrganismos vivos ou obtidas em laboratório por síntese, capazes de inibir ou destruir germes patogênicos. Além da atividade antimicrobiana, outras características deverão ser consideradas para que se considere um antibiótico como ideal: • O antibiótico deve ter ação microbiana seletiva e potente. • Ser bactericida e não somente bacteriostático. • Não deve desenvolver resistência por parte dos microrganismos. • Não ser destruído por enzimas teciduais e/ou bacteriana. • Não deve perturbar as defesas orgânicas e nas doses utilizadas não danificar o hospedeiro. • Deve apresentar bom índice terapêutico com uma maior dose máxima tolerada e uma menor dose mínimo curativa. • Deve apresentar pequenos efeitos colaterais. • Atingir rapidamente níveis bactericidas ou bacteriostáticos no meio interno e mantê-los por um bom período. • Ser administrado por todas as vias. • Apresentar preços razoáveis. Utilizamos um antibiótico toda vez que necessitamos prevenir (profilaxia antibiótica) ou combater uma infecção causada por um determinado microrganismo. Para que se faça uma escolha correta de um antibiótico, é necessário que inicialmente se identifique o microrganismo (bactéria, fungos e vírus) que está causando a infecção, as quais poderão ser classificadas em específicas e não especificas. Por específicas entende-se as infecções que apresentam uma evolução e sintomatologia bem definida e são provocadas por uma espécie determinada de microrganismo. Como exemplo temos a tuberculose, sífilis, herpes simples, blastomicose e outras. Já as inespecíficassão infecções que podem ser originadas por diferentes tipos de microrganismos. Nesse caso temos as infecções periapicais, a doença periodontal, os abscessos, as osteomielites, etc. Dependendo do tipo de microrganismos causador da infecção, as provas de laboratório ou antibiograma podem ser dispensáveis. Porém, em certos casos há necessidade de primeiro identificarmos o microrganismo chegando a um diagnóstico para fazermos uso posteriormente de um antibiótico. Este antibiótico sempre que possível deve ser de pequeno espectro diminuindo os perigos de uma superinfecção. a) Pequeno espectro - São antibióticos que atingem pequeno número de microrganismos nas doses terapêuticas. Ex.: penicilinas de pequeno espectro, eritromicina, lincomicina, etc b) Largo espectro - São antibióticos que atingem grande número de microrganismos nas doses terapêuticas. Ex.: penicilinas de largo espectro, tetraciclinas, cefalosporinas, etc. c) De uso essencialmente tópico - São antibióticos que devido à sua grande toxicidade, não podem ser utilizados por outras vias que não a tópica, pelo menos na forma pura. Ex.: neomicina, tirotricina, etc. DEFINIÇÃO DE RESISTÊNCIA BACTERIANA: A resistência bacteriana aos antibióticos é atualmente um dos problemas de saúde pública mais relevantes, uma vez que muitas bactérias anteriormente suscetíveis aos antibióticos usualmente utilizados deixaram de responder a esses mesmos agentes. O desenvolvimento de resistência bacteriana aos antibióticos é um fenómeno natural resultante da pressão seletiva exercida pelo uso de antibióticos, mas que tem sofrido uma expansão muito acelerada devido à utilização inadequada destes fármacos, existindo uma correlação muito clara entre um maior consumo de antibióticos e níveis mais elevados de resistência microbiana. O uso inapropriado dos antibióticos, particularmente a sua utilização excessiva, tem sido considerado um dos fatores que mais contribui para o problema da resistência microbiana, constituindo um sério problema de saúde pública global, dado que tem aumentado a frequência de doenças infeciosas estabelecidas e emergentes em consequência da ineficácia dos antibióticos. Com efeito, o consumo inadequado de antibióticos tem custos elevados para a sociedade e consequências nefastas para a saúde, como a diminuição da eficácia dos tratamentos, o prolongamento das doenças, o crescimento do número de hospitalizações e o aumento da morbilidade e mortalidade. A resistência ocorre quando microrganismos sofrem mutação genética ao serem expostos a drogas antimicrobianas, esses microrganismos são referidos como “superbactérias”. Durante o fenômeno de mutação as bactérias estão protegidas dos efeitos antimicrobianos, isso propiciará uma multiplicação bacteriana e impedirá o tratamento e cura de doenças. Principais mecanismos de resistência bacteriana aos antibióticos: • A modificação ou destruição enzimática do antibiótico (ex: destruição dos agentes ß lactâmicos pelas enzimas ß-lactamases); Enzimas que degradam antibióticos inativam esses antimicrobianos pela catálise hidrolítica das moléculas dessas drogas. As principais enzimas que degradam antibióticos são denominadas betalactamases, e como o próprio nome diz, atuam catalisando a hidrólise do anel betalactâmico, levando à perda da ação do antimicrobiano sobre a bactéria que continua fazendo a biossíntese de sua parede celular. Penicilinases, cefalosporinases, cefamicinases, beta-lactamases de espectro estendido (ESBL) e carbapenemases são as principais representantes e, também, como os próprios nomes dizem, têm espectro/potencial de degradação crescente e associado a cada classe ou subclasse de beta-lactâmico. As principais enzimas que modificam antibióticos são as enzimas modificadoras de aminoglicosídeos (AME, do inglês aminoglycoside modifying enzymes), que alteram a estrutura química destes antibióticos, inativando a sua ligação com as subunidades do ribossomo, que são o alvo deste antimicrobiano na bactéria. Existem diferentes AMEs que conferem resistência aos principais aminoglicosídeos: amicacina, gentamicina, tobramicina e kanamicina. • A prevenção da acumulação intracelular do antibiótico através da redução da permeabilidade celular ao antibiótico (ex: resistência da bactéria Pseudomonas aeruginosa [P. aeruginosa] ao imipenem) ou da existência de bombas de efluxo dos antibióticos das células bacterianas (ex: resistência da família das enterobacteriáceas às tetraciclinas); As bactérias gram-negativas são intrinsecamente menos permeáveis a muitos antibióticos por possuírem membrana externa na constituição de sua parede celular, o que não existe na parede celular de bactérias gram-positivas. Dessa forma, a redução da permeabilidade da membrana externa é um mecanismo de resistência exclusivo de bactérias gram negativas. A redução da permeabilidade da membrana externa pode ocorre por alterações na estrutura das porinas ou mesmo pela perda da porina, respectivamente, resultando em permeabilidade mais seletiva ou até mesmo impermeabilidade às drogas. Este mecanismo pode afetar principalmente a entrada de antibióticos beta-lactâmicos e de fluoroquinolonas. Estes mecanismos ocorrem em bactérias como E. coli, K. pneumoniae, Enterobacter e P. aeruginosa. A perda de algumas porinas pode diminuir de 4 a 8 vezes a sensibilidade à cefotaxima e ao cefepime, no entanto, costuma afetar pouco a sensibilidade aos carbapenêmicos. Os sistemas de efluxo são mecanismos naturais de excreção de substâncias tóxicas resultantes do metabolismo bacteriano, que se localizam na parede celular das bactérias e, geralmente, são codificados por genes no cromossomo. Clinicamente o problema ocorre quando estes sistemas têm sua expressão aumentada (hiperexpressão), seja pela maior quantidade destes sistemas na bactéria e/ou atividade maior de excreção (sistemas hiperativos). • As alterações nas moléculas alvo dos antibióticos (ex: resistência intrínseca das bactérias do género Enterococcus às cefalosporinas); A maioria dos antibióticos liga-se especificamente a um ou mais alvos na célula bacteriana. Alterações na estrutura do alvo do antibiótico impedem a eficiente ligação ou diminuem a afinidade dessa interação, desse modo o antibiótico não reconhece mais o alvo na célula bacteriana. Geralmente, alterações do sítio alvo têmorigem em mutações em genes da própria bactéria. Essas alterações impedem a ligação dos antimicrobianos, mas não interferem na função do alvo (ex.: proteína) alterado. Assim, a bactéria mantém suas funções e escapa da ação dos antibióticos. A alteração do sítio alvo dos antibióticos é um importante mecanismo de resistência de bactérias gram-positvas e gram negativas, sendo bastante relevante para drogas como as quinolonas (altera as topoisomerases), penicilinas (altera PBP e resulta na resistência à oxacilina) e vancomicina (altera sitio de ligação da vancomicina na resistência dos Enterococcus). Se a resistência à oxacilina for detectada, isto significa que haverá resistência a todos os antibióticos beta-lactâmicos disponíveis (outras penicilinas, cefalosporinas, carbapenêmicos). • A produção de moléculas alvo alternativas que não são inibidas pelo antibiótico, enquanto se continua a produzir as moléculas alvo originais, contornando desse modo a inibição induzida pelo antibiótico (ex: resistência da bactéria Staphylococcus aureus [S. aureus] à meticilina). PRINCIPAIS BACTÉRIAS ENVOLVIDAS EM SURTOS HOSPITALARES DEFINIÇÃO DE SURTO HOSPITALAR: Um surto de infecção hospitalar é definido quando existe um aumento estatisticamente significativo de uma determinada infecção, acima dos valores máximos esperados ou do limite superior endêmico (p<0,05). Por definição os surtos hospitalares são preveníveis – o que ressalta a importância da investigação dos mesmos o mais precocemente possível. Muitos indivíduos tornam-se susceptíveis às infecções, dentro de um ambiente hospitalar. Pacientes internados em instituições de saúde estão expostos a uma ampla variedade de microorganismos patogênicos, principalmente em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em que o uso de antimicrobianos potentes e de largo espectro é a regra e os procedimentos invasivos são rotineiros. O ambiente hospitalar, além de selecionar agentes infecciosos resistentes, em decorrência do uso incorreto dos antimicrobianos e por reunir pessoas com diferentes vulnerabilidades à infecção, apresenta intensa realização de procedimentos invasivos, aspectos que o caracterizam como um ambiente favorável à propagação da infecção hospitalar. DEFINIÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR: Ficou definido pelo Ministério da Saúde (MS), conforme a Portaria nº 2.616 de 12/05/1998 (BRASIL, 1998), que Infecção Hospitalar (IH) é a infecção adquirida após a admissão do paciente, e que se manifesta durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares. Ou seja, Infecção Hospitalar é toda aquela relacionada à hospitalização, assim considerada quando o período de incubação do patógeno causador for desconhecido e não houver evidência clínica e/ou dado laboratorial de infecção no momento da internação; ou o surgimento de qualquer manifestação clínica de infecção a partir de 72h após a admissão; ainda nos casos em que o paciente com diagnóstico de infecção comunitária apresente um agravamento ou que uma nova bactéria tenha sido isolada (NOGUEIRA et al., 2009). FATORES DE RISCO PARA DESENVOLVIMENTO: Alguns fatores como o tempo de permanência prolongado, o uso de ventilação mecânica e procedimentos invasivos, a susceptibilidade dos pacientes, idade, uso de imunossupressores, doenças de base e condições nutricionais contribuem para o desenvolvimento de Infecções Hospitalares, necessitando de uma vigilância permanente por parte da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar. BACTÉRIAS PREVALENTES: As bactérias mais prevalentes nas unidades foram: Escherichia coli 63 (23,2%); Staphylococcus aureus 42 (15,5%); Pseudomonas aeruginosa 32 (11,8%); Klebsiella pneumoniae 28 (10,3%); Staphylococcus nãoprodutor de coagulase - SNPC 27 (10,0%); Enterobacter aerogenes 27 (10,0%); e Acinetobacter baumannii 11 (4,1%). Dentre as três bactérias mais prevalentes as Escherichia coli são classificadas como bastonetes retos, Gram-negativos, não formadores de esporos, e se encontra entre as fontes mais comuns de bacteremia em indivíduos hospitalizados, sendo responsável por cerca de 80% das Infecções do Trato Urinário (ITU). Os Staphylococcus aureus são cocos Gram-positivos, altamente virulentos e com elevada resistência antimicrobiana. Causam 12% de todas as infecções hospitalares nos Estados Unidos, sendo o pulmão, as feridas cirúrgicas e a corrente sanguínea os locais mais acometidos por este agente (RODRIGUES; RICHTMANN, 2008). Já as Pseudomonas aeruginosa são bacilos Gram-negativos, que colonizam instrumentos cirúrgicos, medicamentos, entre outros equipamentos. Entre 1975 e 1984, as infecções hospitalares causadas por P. aeruginosa cresceram de 6,3 para 11,4%, e em alguns hospitais apresenta-se como o agente mais comum de pneumonias, sendo o terceiro maior causador de infecções em hospital (RODRIGUES; ICHTMANN, 2008). PRINCIPAIS FONTES DE DISSEMINAÇÃO DE INFECÇÃO Os microorganismos penetram no organismo por diversas vias: respiratória, circulatória, através da pele, membrana e pelos olhos. A transmissão de um germe patogênico, de um íon primário para um hospedeiro, pode ocorrer de maneira direta e indireta. a) Transmissão direta - é aquela que se faz sem interferência de um veículo. Pode ser através de contato físico, gotículas, etc. b) Transmissão indireta - pode se dar através de seres animados (vetores mecânicos e biológicos) ou inanimados (ar, água, alimentos, vômitos, etc). RESISTÊNCIA À ANTIBIÓTICOS A. BACTÉRIAS GRAM POSITIVAS Considerando a evolução da resistência aos antibióticos nas bactérias Gram-positivas, verifica-se que a espécie S. aureus e o género Enterococcus são as bactérias Gram positivas que apresentam maiores problemas de resistência aos antibióticos. A.1. MSSA S. aureus susceptíveis à meticilina (oxaciclina). A.2. MRSA S. aureus resistentes à meticilina (oxaciclina). O Staphylococcus aureus é considerado um patógeno humano oportunista e freqüentemente está associado a infecções adquiridas na comunidade e no ambiente hospitalar. As infecções mais comuns envolvem a pele (celulite, impetigo) e feridas em sítios diversos. Algumas infecções por S. aureus são agudas e podem disseminar para diferentes tecidos e provocar focos metastáticos. Episódios mais graves, como bacteremia, pneumonia, osteomielite, endocardite, miocardite, pericardite e meningite, também podem ocorrer. A resistência à penicilina foi detectada logo após o início de seu uso na década de 40. Essa resistência era mediada pela aquisição de genes que codificavam enzimas, inicialmente conhecidas como penicilinases, e agora chamadas β-lactamases. Na década de 1950, a produção de penicilinases pelos S. aureus passou a predominar nas cepas isoladas de pacientes hospitalizados. Em 1960, a meticilina foi lançada no mercado como alternativa terapêutica para cepas produtoras de penicilinase, uma vez que essa droga não sofre ação dessa enzima. Porém, já em 1961, relatos de cepas também resistentes à meticilina passaram a ser descritos e foram identificados os denominados Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (MRSA). O mecanismo de resistência está relacionado à alteração de proteínas ligadoras de penicilina (PBP), codificada pelo gene mecA e sem relação com a produção de beta-lactamases. A presença da PBP2a faz com que a meticilina e os compostos penicilinase-resistentes tenham baixa afinidade pelo local de ligação na bactéria, a parede celular, e por conseqüência deixem de ser efetivos. O gene mecA é carreado por um elemento genético móvel chamado cassete cromossômico estafilocócico (SCCmec). Algumas cepas de Staphylococcus aureus apresentam um tipo menos comum de resistência à oxacilina, não relacionado à presença do gene mecA, a resistência bordeline, em que as CIMs de oxacilina estão próximos aos pontos de corte. O mecanismo de resistência nesses isolados pode ser devido a: • Hiperprodução de β-lactamase: cepas conhecidas como BORSA (borderline oxacillin-resistant S. aureus); • Modificações nas proteínas de ligação depenicilina (PBPs 1, 2 e 4): cepas conhecidas como MODSA (modified penicillin-binding protein S.aureus). Os glicopeptídeos (vancomicina e teicoplanina) são as drogas clássicas de escolha para o tratamento de infecções causadas por MRSA. Cepas MRSA são sempre resistentes: • A antibióticos β-lactâmicos; • A todas as cefalosporinas, inclusive as de quarta geração; • Aos carbapenêmicos, independentemente do resultado obtido no antibiograma. Outras classes mais recentes de antimicrobianos, como as oxazolidinonas (linezolida) podem ser opções no tratamento de cepas MRSA. Porém são necessários estudos que avaliem a sua eficácia em infecções graves como as bacteremias. Essas cepas de MRSA, apresentaram resistência a antibióticos como ciprofloxacina, clindamicina, pristinamicina, oxacilina, penicilina G, ampicilina, amoxicilina, tetraciclina, eritromicina, mupirocina, sulfametoxazo e cefoxetina. A resistência à meticilina é causada pelo Staphylococcal Cassette Chromosome Mec (SCCmec), um elemento genético com capacidade móvel que transporta o gene mecA e codifica a resistência a meticilna. Esse gene tem pouca afinidade por todos os antimicrobianos beta-lactâmicos utilizados atualmente. A resistência antibiótica entre cepas de Staphylococcus aureus se tornou motivo de atenção no tratamento de infecções estafilocócicas, devido a rapidez com que adquiriram resistência a todos os antibióticos que eram utilizados clinicamente. Artigos recentes comprovam a resistência aos beta-lactâmicos como eritromicina, ciprofloxacina e clindamicina. Todas essas evidencias demonstram a necessidade de produção de novos antibióticos para combater cepas de Staphylococcus aureus multirresistentes. B. BACILOS GRAM NEGATIVOS Considerando a evolução da resistência aos antibióticos nas bactérias Gram-negativas, verifica-se que o mais importante mecanismo de resistência aos antibióticos nestas bactérias é a produção de enzimas ß-lactamases. B.1. ESBL Genes TEM e SHV mutados, que se disseminaram principalmente entre o género Klebsiella spp e a espécie Escherichia coli (E. coli), o que marcou a emergência das estirpes produtoras de ß-lactamases de largo espectro (ESBL) que se definem por serem capazes de hidrolisar cefalosporinas de terceira geração e monobactamos. As ESBLs (do inglês Extended Spectrum Beta-Lactamases) são enzimas que possuem potencial para degradar todas as penicilinas, todas as cefalosporinas e monobactâmico (aztreonam), porém a sensibilidade às cefamicinas (ex.: cefoxitina) e carbapenêmicos geralmente é preservada. De certa forma essas enzimas são “cefalosporinases”, no entanto, elas têm um “espectro estendido” de degradação. Assim o termo ESBL está relacionado a capacidade que estas beta lactamases têm de degradação de cefalosporinas de 3ª e 4ª geração (drogas de amplo espectro de ação antimicrobiana), e que também conhecidas como cefalosporinas de “espectro estendido” ou “amplo espectro”. A característica primária de degradar cefamicinas (ex.: cefoxitina) pertence às cefamicinases (ex.: AmpC). As ESBL são enzimas inibidas, in vitro, pelos inibidores de beta lactamases, entretanto em infecções por bactérias produtoras de ESBL o tratamento com associações de betalactâmicos com inibidores de beta-lactamases deve ser evitada. O uso dos carbapenêmicos (i.e. Meropenem) nestes casos é o mais indicado. Três mecanismos básicos de resistência aos ß-lactâmicos têm sido descritos: • Alteração do sítio de ligação, que no caso seriam as proteínas ligadoras de penicilina (PBPs): A alteração de PBPs é o principal mecanismo de resistência bacteriana aos ß-lactâmicos nos cocos Gram-positivos e em algumas bactérias fastidiosas Gram-negativas, como a Neisseria gonorrhoeae. Apesar de já ter sido demonstrado em amostras de Haemophilus influenzae e P. aeruginosa, esse mecanismo é raro em bacilos Gram-negativos. • Alteração da permeabilidade da membrana externa bacteriana: A dificuldade de penetrar pela membrana externa é um dos poucos mecanismos de resistência bacteriana no qual uma alteração estrutural pode conferir resistência a diversas classes de antimicrobianos. A impermeabilidade da membrana externa ocorre quando bactérias mutantes passam a não produzir os habituais canais da membrana externa bacteriana (porinas), locais por onde penetram os ß-lactâmicos. Este mecanismo de resistência é mais comumente observado entre amostras de P. aeruginosa. • Degradação da droga através da produção de b-lactamases: As ß-lactamases são enzimas que catalisam a hidrólise do anel ß-lactâmico, impossibilitando a atividade antimicrobiana. A resistência ao antimicrobiano ß-lactâmico irá depender da: quantidade de enzima produzida; habilidade dessa enzima em hidrolisar o antimicrobiano em questão; velocidade com que o ß lactâmico penetra pela membrana externa. Nas bactérias Gram-positivas, as ß-lactamases são secretadas para o meio extracelular e são menos ativas do que as beta-lactamases produzidas pelas bactérias Gram-negativas. Nestas, as beta lactamases encontram-se estrategicamente situadas no espaço periplasmático, podendo alcançar maiores concentrações e agir de modo mais eficaz sobre os antimicrobianos ß-lactâmicos que atravessam o espaço periplasmático para alcançar as PBPs. A utilização clínica de antimicrobianos, para infecções causadas por isolados clínicos produtores de ESBL, é baseada em estudos in vitro, relatos de caso, estudos retrospectivos e prospectivos observacionais. Entretanto, faltam resultados de ensaios clínicos randomizados controlados que indiquem, dentre os antimicrobianos disponíveis, a melhor opção para tratamento de infecções causadas por estes microrganismos multirresistentes. Portanto, diante de um resultado de ESBL liberado pelo laboratório de rotina, deve-se descartar a utilização de qualquer β-lactâmico, à exceção dos carbapenems (imipenem, meropenem, ertapenem). Outras classes de antimicrobianos podem ser utilizadas, dependendo do resultado in vitro dos testes de sensibilidade. B.2. KPC A resistência aos carbapenens em microrganismos Gram negativos pode ser decorrente de: • Diminuição da permeabilidade da membrana externa aos antimicrobianos, pela perda ou expressão reduzida de proteínas de membrana externa: A diminuição da permeabilidade da membrana externa aos carbapenems e outros antimicrobianos pode ocorrer pela perda ou expressão reduzida de proteínas de membrana externa (porinas), geralmente associadas à β-lactamases com baixa afinidade aos carbapenens. • Hiperexpressão de bombas de efluxo, que reduzem a concentração de antimicrobiano no interior das células: Em bactérias Gram-negativas, o sistema de efluxo tipicamente possui três componentes: uma bomba de efluxo, situada na membrana interna ou citoplasmática; uma proteína formadora do canal extrusor na membrana externa (OMP); uma proteína de fusão (MFP) que liga estes dois componentes. O sistema RND-MFP-OMP possui um amplo espectro, expulsando da célula bacteriana substratos como antimicrobianos, anti-sépticos, desinfetantes, desempenhando um importante papel na resistência intrínseca e adquirida de vários patógenos Gram negativos. Estes sistemas são codificados por genes cromossomais e sua expressão está sob o controle de genes reguladores. Uma mutação ou mesmo uma deleção nos genes reguladores pode resultar em hiperexpressão dos sistemas de efluxo e, conseqüentemente, na extrusão de antimicrobianos em níveis elevados, impedindo os, assim, de atingirem seu sítio de ação. Uma vez que os genes que codificam esses sistemas de efluxo são principalmente constitutivos, existe a possibilidade de qualquer microrganismo desenvolver este fenótipo de resistência. Além de conferir resistência a β-lactâmicos, os sistemas de efluxo podem contribuir para a resistência intrínseca e adquirida de Gram-negativos a outros antimicrobianos, como tetraciclinas, fluoroquinolonas, cloranfenicol, e eritromicina. O sistema de efluxo é um mecanismo comum dentre isolados de Gram-negativos, e a sua hiperexpressão associada a outros mecanismos podecontribuir para um fenótipo de multirresistência, restringindo as opções terapêuticas. • Produção de enzimas (β-lactamases) que degradam os carbapenems: Dentre as carbapenemases, as enzimas conhecidas como metalo-β-lactamases (MβLs) são as mais freqüentes. As MβLs são β-lactamases pertencentes à classe B de Ambler ou à classe 3 de Bush-Jacoby, que hidrolisam todos beta-lactâmicos comercialmente disponíveis, à exceção do aztreonam. As MβLs apresentam a mesma estrutura tridimensional (abba) e necessitam de dois íons divalentes, usualmente zinco, como co-fator para atividade catalítica. Adicionalmente, estas enzimas são inibidasin vitro por EDTA e compostos derivados do ácido tiolático (ex.: ácido 2-mercaptopropiônico) e não são inibidas por inibidores de serino-β lactamases disponíveis comercialmente, como o ácido clavulânico, o sulbactam e o tazobactam. Estas enzimas são produzidas intrinsecamente por alguns microorganismos, tais como Stenotrophomonas maltophilia, Bacillus cereus, Chryseobacterium meningosepticum, C. indologenes, Legionella gormanii, Caulobacter crescentus e Aeromonas spp. Referências 1. http://www.scielo.mec.pt/pdf/rpsp/v34n1/v34n1a1 1.p df 2. http://www.forp.usp.br/restauradora/tera.htm 3. https://www.scielo.br/pdf/ape/v30n6/0103-2100-ape 30-06-0651.pdf 4. https://online.unisc.br/seer/index.php/epidemiolo gia/ article/view/11580 5. Mecanismos de resistência bacteriana aos antibióticos (Leonardo Neves de Andrade & Ana Lúcia da Costa Darini) 6. http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede _rm/cursos/rm_controle/opas_web/modulo3/meca ni smos.htm 7. https://www.scielo.br/pdf/reben/v33n3/0034-7167- reben-33-03-0369.pdf 8. Prevalência de infecções hospitalares em um hospital geral de alta complexidade no município de Ponta Grossa (Maria Dagmar da Rocha Gaspar1*, Cesar Roberto Busato1 e Emanoel Severo2)