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Milena Marques 145 Epilepsias Introdução: Definição: Crise Epiléptica x Epilepsia Crise epiléptica = manifestação clínica subjetiva (somente o paciente sente, não é observado pelos de fora, como mal-estar epigástrico, sensação de desaju) ou objetiva (parada do comportamento, movimento clônico ou tônico) resultante da atividade neuronal excessiva e/ou hiper síncrona, geralmente autolimitada com início e fim definidos. Quando esse caráter de ser autolimitado se perde, entra-se no estado de mal epiléptico Epilepsia = é uma condição caracterizada por crises epilépticas recorrentes e espontâneas não provocadas por qualquer causa imediata. (pelo menos 2 eventos espontâneos) Encefalopatia epiléptica = atividade epiléptica per si é capaz de promover deterioração cognitiva e comportamental, contribuindo para declínio progressivo das funções cerebrais. Conceito de epilepsia ILAE, 2014: • Pelo menos 2 crises epilépticas não provocados por causa imediata com uma diferença de mais de 24hrs. o Mesmo sem lesão estrutural • 1 Crise epiléptica não provocada com uma probabilidade muito alta (pelo menos 60%) de desenvolver outras crises epilépticas espontâneas o Pacientes pós AVC, meningite, traumas com lesão estrutural que vai predispor o paciente a ter outras crises • Diagnóstico de síndrome epiléptica - é uma associação de sinais e sintomas (tipo de crise, idade de início, padrão EEG, história natural, prognóstico e genética) que individualizam uma condição epiléptica Conceito de epilepsia resolvida = paciente sem crise epiléptica a mais de 10 anos e sem medicação a pelo menos 5 anos ou epilepsias idade-dependente (só acontecem em um período de vida) Epidemiologia: • 10% dos indivíduos podem ter crise epiléptica ao longo da vida (30% relacionado com o período febril) • A epilepsia tem uma incidência de 30-57/100.000 ano • Prevalência de 0,5-1% • Mais prevalente em países em desenvolvimento. • A incidência assume uma curva em U em países desenvolvidos, mas tem visto também nos em desenvolvimento: mais prevalente nos primeiros anos de vida e após os 60 anos Mecanismo Básico das epilepsias: Aumento dos mecanismos excitatórios (glutamato, aspartato, íons Na e Ca) e diminuição dos mecanismos inibitórios (GABA, íons Cl e K) Epileptogênese – sequência de eventos que transforma uma rede neuronal normal em uma rede hiperexcitável (dentro de um circuito neuronal) -> ainda não é muito bem compreendido. Alguns mecanismos possíveis: • Reorganização azonal excitatória • Perda/morte de neurônios inibitórios • Redução da modulação excitatória sobre os neurônios inibitórios • Modificação nas propriedades de disparo neuronal (canalopatias) Classificação dos tipos de crises Epilépticas (ILAE 2017) Essa classificação vai usar informações da semiologia da crise, informações eletrográficas, neuroimagem, genéticas... Milena Marques 145 1. Início focal São divididas em: • Perceptivas – paciente consegue perceber o que acontece com ele e no ambiente. • Disperceptiva – paciente não consegue perceber o que se passa consigo e com o ambiente durante a crise. Além dessa caracterização de percepção, dividimos também em relação ao início: • Início motor: o Automatismo – movimentos aleatórios como mastigar, mover um braço. o Atônicas o Clônicas – movimento rítmico se seguimento corporal. o Espasmos epilépticos o Hipercinéticas o Mioclônicas o Tônicas – contratura mantida de um seguimento corporal. • Início não motor o Autonômicas – taquicardia, piloereção, mal-estar epigástrico. o Parada comportamental o Cognitivas - comprometimento da linguagem ou outros domínios com sensação de dejavu, alucinações, ilusões ou distorções da percepção. o Emocionais – ansiedade, medo, alegria ou aparecimento de afeto sem emoção subjetiva. o Sensoriais Essas crises de início focal podem evoluir para movimentos tônico-clônico generalizados bilaterais. 2. Início generalizado – normalmente a percepção nas crises de início generalizado está prejudicada; • Motoras o Tônico-clonicas o Clonicas o Tônicas o Mioclônicas o Mioclono-tonico-clonicas o Mioclono-atonicas o Atônicas o Espasmos epilépticos • Não motoras (ausência) o Típicas o Atípicas o Mioclonicas o Mioclonicas palpebrais 3. Início desconhecido • Motora o Tonico-clonica o Espasmos epilépticos • Não motora o Parada comportamental 4. Não classificado Prova: Síndrome de West (Espasmos infantis) • Episódios de espasmos em salvas, logo após o despertar ou perto de adormecer, com regressão da criança e padrão no EECG de hipsarrtimia. • Espasmos infantis + alteração do desenvolvimento neuro-psico-motor + EEG com hipsarritmia. Milena Marques 145 Etiologias das epilepsias • Causas genéticas (herança poligênica) – ausência infantil, epilepsia mioclonica juvenil • Estruturais – sequela de AVC, TCE, mal formação arteriovenosa o Esclerose tuberosa – doença genética que causa uma lesão estrutural; • Metabólica – ciclo da ureia, B6, mitocondriais • Imune – epilepsias autoimunes, anti NMDA, anti FN1. • Infecciosas – Zika • Desconhecidas. De acordo com a faixa etária existe uma etiologia predominante ➔ Lactentes/infância o Injuria pré-natal ou natal (hipoxia- infecção) o Erro inato do metabolismo o Malformações congênitas o Idiopáticas/genéticas ➔ Infância/adolescência o Idiopática/genética o Infecção SNC o Trauma o Malformações congênitas ➔ Adolescente/adulto jovem o Trauma o Infecção SNC o Abuso de drogas ➔ Idoso/adulto o AVC o Tumor – Tumor de Nett, tumor da linguagem glioneural (ganglioglioma) o Distúrbio metabólico o Doença neurodegenerativa Investigação diagnóstica: • História clínica detalhada: o Sinais e sintomas premonitórios o Sinais e sintomas ictais e pós-ictais o Situação de ocorrência o Fatores desencadeantes – se tiver fator desencadeante, normalmente não é crise epiléptica, pois ela é espontânea. o História familiar • Exame físico e neurológico: • Exames laboratoriais o Hemograma completo, ionograma, cálcio, glicemia, função hepática e renal. • Exames neurofisiológicos o EEG em vigília e sono (ativação Hiperventilação e Foto estimulação Iuminosa) o VIDEO EEG • Neuroimagem o Ressonância magnética/TAC (emergência) Milena Marques 145 Diagnóstico diferencial • Sincope (fenômeno premonitório, fatores desencadeantes) • Migrânea • Ataque isquêmico transitório • Distúrbio paroxístico do sono (terror noturno, REM) • Distúrbio paroxístico do movimento (discinesias) • Ataques de pânico • Perda de folego • Crises psicogênicas. (em até 10% dos pacientes) – transtorno dissociativo Tratamento clínico: Tratar ou não a primeira crise epiléptica não provocada? • 16-45% das crises vão recorrer nos 2 anos • Taxa de recidiva da 2 crise pode ser reduzida pelo uso DAE • Fatores de risco associados a maior recidiva: o Anormalidades no EEG e na neuroimagem o História de injuria cerebral prévia o Crises noturnas • Desejo e repercussão na qualidade de vida do paciente. O tratamento clínico depende do tipo de crise e síndrome epiléptica • Eficácia da medicação • Custo • Perfil farmacocinético • Efeitos adversos • Condições especiais do paciente (obesidade, distúrbio humor, cefaleia) Sempre iniciar o tratamento em monoterapia e aumentar as doses aos poucos • Drogas de amplo espectro clínico -> focais e generalizadas • Drogas de espectro clínico restrito A professora comentou na aula os medicamentos, então acho que precisa saber Milena Marques 145 Atenção:Cababidiol pode ser usado em síndrome de Lenox Gastro e síndrome de Dravet (síndromes crises generalizadas) Efeitos adversos: • Carbamazepina: Dose relacionada: tontura, diplopia, náusea, sedação, leucopenia, hiponatremia e arritimias Idiossincrásico: rash (Steven-Johnson), agranulocitose, falência hepática, pandreatite e lúpus like Crônico: osteopenia • Hidantal (Fenitoína) Dose relacionada: tontura, diplopia, náusea, ataxia Idiossincrásica: rash (Steven-Johnson), falência hepática, discrasia sanguínea, lúpus like Crônico: hiperplasia gengival, hirsutismo, atrofia cerebral, osteopenia • Fenobarbital Dose relacionada: sedação, depressão, declínio cognitivo, irritabilidade Idiossincrásico: rash (Steven-Jonshon), hiperatividade e falência hepática Crônico: osteopenia e distúrbios do tecido conjuntivo • Valproato Dose relacionado: mal-estar epigástrico, anorexia, tremor, trombocitopenia Idiossincrásico: pancreatite, falência hepática, rash, hiperamonemia Crônico: ganho de peso, alopecia, SOP MUITO ASSOCIADO COM TERATOGENICIDADE (NÃO USAR EM MULHERES DE IDADE FÉRTIL) • Lamotriginina Dose relacionada: insônia, vertigem Idiossincrásico: rash (Steven-Jonhson) • Topiramato Dose relacionado: parestesia, lentificação cognitiva Idiossincrasico: rash, irritabilidade, glaucoma Crônico: perda de peso, calculo renal • Benzodiazepínicos Sedação, queixas cognitivas, depressão respiratória e aumento das secreções brônquicas. Quando suspender? • Sem crises > 2 anos: sucesso após retirada da DAE • Fatores associados ao melhor comportamento de retirada: o Controle alcançado facilmente com apenas um DAE (baixa dosagem) o Exame neurológico e EEG normais o Epilepsia generalizada primaria, com exceção epilepsia mioclonica juvenil o Síndromes benignas Milena Marques 145 Tratamento adicional • Dieta cetogenica • ACTH • Estimulação do nervo vago • Cirurgia de epilepsia • Estimulação cerebral profunda Prognóstico: • Depende da etiologia, síndrome epiléptica, idade • Prognostico da cirurgia depende do tipo da epilepsia o Localização da lesão, lesão estrutural... Estado de Mal epiléptico: T1 – Falha dos mecanismos de controle das crises epiléticas (T1 > 5 MINUTOS PARA Crises tônico-clônica generalizadas, na crise focal não motora > 10 minutos) → todo paciente que teve uma crise tonico-clonica generalizada por mais de 5 minutos ou uma crise focal não motora por mais de 10 minutos DEVE ser tratado como estado de mal epiléptico. T2 – Consequências a longo prazo (morte neuronal, lesão neuronal e alterações das redes neuronais) -> T2 > 30 MINUTOS para crises tonico clonicas generalizadas O estado de mal epiléptico pode ser o primeiro episódio de crise epiléptico ou uma crise da epilepsia. Tratamento: • 0-5 minutos: estabilização do paciente o Avaliar VA, acesso venoso, oxigenação, intubação, sinais vitais o Colher exames de sangue, HGT (SEMPRE) o Proteger o paciente – colocar em decúbito lateral o paciente SE A CRISE NÃO PASSAR NOS PRIMEIROS 5 MINUTOS, DEVE MEDICAR O PACIENTE!!! A MEDICAÇÃO VAI DEPENDER SE O PACIENTE ESTÁ OU NÃO COM ACESSO VENOSO: • Após 5 minutos: BENZODIAZEPÍNICOS o DIAZEPAM venoso – COM ACESSO VENOSO o MIDAZOLAM IM – SEM ACESSO VENOSO ATENÇÃO: NÃO FAZER DIAZEPAM IM. • Após 20-40 minutos: Paciente persiste com crise (após 1-3 minutos)? USAR HIDANTAL (FENITOINA) Lembrando que na emergência temos muita dificuldade de saber se realmente a crise parou, ou se só mudou de um estado de mal convulsivo para um não convulsivo (principalmente se ele não acordar) então, na prática geralmente é feito o tratamento com a fenitoina. ▪ HIDANTAL = dose de 20 mg/kg diluído em SG em bomba de infusão na velocidade de 20-25 min correndo 50 mg/min) -> cerca de 10 minutos Após 40-60 minutos: Se a crise continuar, mesmo após o hidantal? → • intubação, monitorização e sedação com anestesia (midazolam, tiopental, propofol, pentobarbital) • Monitorização continua com EEG; Após tudo isso: investigação etiológica e tratar etiologia.
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