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Ana Clara Silva Freitas Problema 1 Tecido ósseo O tecido ósseo é composto por células que estão contidas dentro de uma matriz extracelular que se tornou calcificada; É um tecido dinâmico e exibe mudanças morfológicas de caráter adaptativo em função do tipo de estresse mecânico sofrido por ele; Atua como componente principal do esqueleto e apresenta as seguintes funções: o Suporte para tecidos moles; o Proteção para órgãos vitais; o Depósito de cálcio e fósforo; o Apoio aos músculos esqueléticos; o Suporte para medula óssea. Componentes celulares: o Osteócitos: células achatadas situadas no interior da matriz; o Osteoclastos: células gigantes, móveis e multinucleadas que reabsorvem o tecido óssep, participando do processo de remodelação óssea Matriz óssea: o Orgânica: colágeno tipo 1, proteoglicanos e glicoproteínas; o inorgânicos Revestimento do tecido conjuntivo: o Endósteo e periósteo; o Funções: fornecimento de novos osteoblastos Ossificação: o Intramenbranosa formação dos ossos chatos do crânio; o Endocondral: formação de ossos curtos e ossos longos Classificação dos ossos: o Ossos Pneumáticos: cavidades aéreas no seu interior e são encontrados no crânio Curtos: ex. ossos do carpo Irregulares: fora do padrão, ex.: vétebras Sesamóides: inseridos nos tendões, ex.: patela o Ossos longos: Haste: diáfase Extremidades articulares: epífase (medula óssea vermelha- atividade hematogênica); Discos epifisários Zona de repouso Zona de proliferação Zona de cartilagem hipertrófica: dividida em camadas: maturação, degeneração e calcificação. Zona de calcificação Zona de ossificação Articulações: o Invertebrais: discos invertebrais; o Diartrose: grandes movimentos. Presença de cápsula articular e atividade secretora (líquido sinovial- ação lubrificante e transporte de nutrientes) o Sinartrose: movimentos limitados Ana Clara Silva Freitas Consolidação de fraturas Depende de vários fatores, sendo a vascularização a mais importante; Existem 3 estágios na consolidação das fraturas: 1. Inflamação: o hematoma no sítio das fraturas produz fatores de crescimento que, consequentemente produzirão o tecido de granulação na região da fratura. 2. Reparo: o início do calo ósseo ocorre ao redor de 2 semanas pós-trauma. Inicialmente forma-se o calo mole/fibroso que depois é substituído pelo calo duro ou calo ósseo pelo processo de ossificação endocondrial. OBS: a quantidade de calo formado é inversamente proporcional à rigidez da imobilização da fratura. 3. Remodelamento: iniciada na fase durante a fase de reparo e prolonga-se por até 2 anos até o trauma. É o processo em que o osso adquire sua configuração e formato normal. Nesse processo o calo ósseo formado é substituído por osso lamelar. Crianças: o Os ossos nas crianças estão em crescimento e esse é determinado pela fise (placa de crescimento, placa fisária ou cartilagem de crescimento), que está localizada entre a metáfise e a epífise, nos ossos longos; A fise é um sistema organizado, localizado nas extremidades dos ossos longos, responsável pela ossificação endocondral. Nela os condrócitos estão dispostos em zonas ou camadas; Quando a fise for comprometida em toda sua extensão, haverá uma fusão entre e metáfise a epífase, com consequente parada de crescimento. Quando a lesão fisária for parcial, observamos deformidades angulares; O osso da criança é imaturo, ainda está em crescimento, por isso a fise deve ser respeitada. Uma lesão nesse local pode representar uma sequela grave. o Os ossos são mais resilientes, resistindo mais ao estresse, e têm o periósteo mais espesso Determinam padrões diferentes de fraturas nas crianças; o As crianças apresentam uma reparação dos tecidos mais rápida e, portanto, uma consolidação mais precoce das fraturas; o A remodulação óssea é uma característica importante nas crianças e é maior que no adulto. Menor idade, maior remodelação. Diagnósticos no trauma: CONTUSÃO Lesões por trauma direto com amassamento de partes moles; Ana Clara Silva Freitas O traumatismo direto desencadeia uma cascata inflamatória local e imediata, com dor localizada, edema, presença ou não de hematoma, impotência funcional com limitação da força e da mobilidade articular, rigidez e dor ao alongamento passivo da área acometida. No caso dos membros inferiores, os músculos que mais frequentemente são acometidos por contusões são o quadríceps e os gastrocnêmicos. QC: dor súbita localizada de intensidade variável de acordo a gravidade das lesões; EF: o revela edema localizado, tensão aumentada do tecido ao redor e possibilidade de defeito (área de depressão local) visível ou palpável. o A presença de equimose ou hematoma tem o significado de uma lesão em maior extensão e gravidade. o A contração contra resistência revela dor local e impotência funcional, caracterizada pela incapacidade de mover a articulação; Diagnóstico: O diagnóstico é fácil quando uma típica história de contusão muscular é acompanhada por um evidente edema ou uma equimose distal à lesão. Essencialmente, não é necessário nenhum exame radiológico quando a história é típica de contusão muscular. Tratamento: o Inicialmente, na fase aguda, as medidas são direcionadas a diminuir o sangramento no local da lesão. Para isso, utiliza-se o protocolo Price (protection – proteção do local; rest – descanso; ice – gelo; compression – compressão; e elevation – elevação). o Nesse momento, deve-se realizar uma importante analgesia favorecendo o uso de analgésicos combinados a antiinflamatórios não esteroidais (Aine) para que haja maior conforto do paciente. Após 3-4 dias, deve-se iniciar a mobilização – cujo período é variável de acordo com a gravidade da contusão. ENTORSE A entorse é uma lesão que envolve estiramento ligamentar e é facilmente confundida com contusões e luxações. No caso do tornozelo em particular, uma simples entorse pode esconder uma fratura, ou um caso aparentemente óbvio de fratura pode não passar de uma simples entorse. Entorse de tornozelo: geralmente se apresenta com um trauma trivial, obtido ao descer o último degrau de uma escada, descer da sarjeta ou virar o pé na rua. Apresenta-se com dor variável nos maléolos, edema perimaleolar e geralmente dor ao arco de movimentos. Pode ou não ter dificuldade em deambular e pode ou não apresentar equimose (geralmente relacionada a maior grau de lesão ligamentar ou fratura). Muitas vezes apresenta dor à palpação da base do quinto metatarso, que pode apresentar fratura. A abordagem mais segura para o médico generalista é encaminhar o paciente ao atendimento de emergência (secundário ou terciário) para avaliação pelo especialista no caso de entorses agudas. LUXAÇÕES: A luxação se caracteriza pelo deslocamento anormal das superfícies articulares, de forma que elas deixam de estar em contato. Esse tipo de lesão pode afetar vasos sanguíneos, nervos e a cápsula articular; As luxações geralmente são urgências ortopédicas que necessitam de diagnóstico preciso e precoce. Luxação glenoumeral: É notável a incapacidade total do paciente, vítima de luxação glenoumeral, de mover o membro afetado. Por essa razão, torna-se essencial a investigação neurovascular para se certificar de que não há comprometimento em decorrência da luxação. Ana Clara Silva Freitas Recomenda-se, na maioria dos casos (exceto, talvez, em luxadores recorrentes), a realização de radiografia antes de realizar a redução. Após a realização da redução, as radiografias devem ser repetidas para confirmar o correto reposicionamento e para afastar possíveis fraturas associadas. O membro afetado deve ser imobilizado com tipoia, para conforto do paciente, pelo menor tempo possível. Luxação do cotovelo: Tem pico de incidência entreos 5-25 anos de idade, com maior predomínio no sexo masculino. A luxação, classificada de acordo com a posição da ulna em relação ao úmero distal, pode ser anterior, posterior, lateral ou medial. Quando se apresenta ao atendimento médico, o paciente está com dor, limitação funcional do membro afetado e edema, podendo também se apresentar com equimose e deformidades no local da lesão. Antes de qualquer redução, deve ser realizada avaliação neurovascular cuidadosa que documente qualquer déficit sensitivo ou motor, uma vez que em até 10% dos casos há lesão do nervo ulnar – manifestando-se com parestesia e hipoestesia na face hipotenar da mão e do quarto e quinto quirodáctilos. O tratamento é majoritariamente conservador após a redução, com indicação para imobilização com tala gessada axilopalmar em flexão de 45-90 graus e pronossupinação neutra por no máximo 3 semanas, seguida de mobilização ativa precoce (cinesioterapia), dado o elevado risco de contratura em flexão, rigidez articular e limitação do arco de movimento. Luxação do quadril: A articulação do quadril é consideravelmente estável e requer uma força importante para luxar, ocorrendo de forma secundária a trauma de alta energia (exceto em caso de próteses de quadril, no qual a luxação pode ocorrer com traumas de baixa energia). A redução geralmente necessita de sedação ou anestesia, devendo o paciente ser encaminhado imediatamente ao serviço de emergência terciário. A redução em menos de 6 horas diminui consideravelmente o risco futuro de coxartrose. FRATURAS A fratura é caracterizada pela descontinuidade do tecido ósseo, observada por um traço que atravessa uma ou mais corticais em duas incidências radiográficas diferentes (há fraturas de padrões diferentes, como a fratura em tórus – impacção; em galho verde – incompleta com deformidade plástica contralateral; e as patológicas); As fraturas também são classificadas de acordo com seu traço, e quanto a serem fechadas ou expostas. Nas fraturas fechadas não existe ruptura da pele, ou se existir não há contato desta com o hematoma de fratura, embora vasos sanguíneos e nervos também possam ser rompidos. O quadro clínico característico desse tipo de lesão inclui dor imediata após trauma, que se acentua à movimentação ou compressão da região afetada, desvio, crepitação, edema, hematoma e impotência funcional. OBS: As fraturas em “galho verde” ocorrem nas crianças porque o osso imaturo é mais flexível e o periósteo mais espesso. Nelas ocorre a fratura em uma das corticais ósseas e a outra cortical se deforma sem se fraturar. ABORDAGEM INICIAL DAS FRATURAS No caso de atendimento de um paciente com suspeita de fratura, caberá ao médico generalista: Realizar o Advanced Trauma Life Support (ATLS) e excluir outras lesões, que devem ser tratadas de acordo quando presentes; X: ensaguinação – contenção de hemorragia Ana Clara Silva Freitas A: vias aéreas e proteção da coluna vertebral; B: ventilação e respiração; C: circulação; D: disfunção neurológica; E: exposição do paciente. Identificar o segmento afetado e o provável osso fraturado; Iniciar a analgesia; Imobilizar o membro (Tabela 2); Encaminhar ao serviço de emergência ortopédica (nível terciário). Síndrome compartimental aguda deve ser sempre excluída, especialmente em fraturas de tíbia e rádio distal. É caracterizada pelos cinco P: pain (dor); pallor (palidez); pulse (pulsos diminuídos); paresthesia (parestesia); paralisis (paralisia). A dor é especialmente intensa ao movimento passivo dos músculos do compartimento afetado, e o edema local é marcante. Nesses casos, é indicada fasciotomia de urgência, que deve ser realizada por cirurgião habilitado – portanto, o encaminhamento ao serviço de emergência se faz ainda mais importante. FRATURA EXPOSTA: Uma fratura é denominada exposta ou aberta quando o hematoma da fratura entra em contato com o meio externo, de modo que o osso não necessariamente precisa perfurar a pele, e o corte pode estar em local diferente da fratura. Dessa forma, basta o contato do hematoma com o meio externo para que ocorra o risco de contaminação do osso. Avaliação do paciente: ATLS e estabilizar o paciente; Identificar as lesões no passo E (exposição) do ATLS; Conhecer a história e definir as características do ferimento; Classificação das fraturas (Gustillo e Anderson) e direcionar o tratamento; Realizar RX para descartar demais lesões e analisar a real situação do trauma Ana Clara Silva Freitas TRATAMENTO : DEVE SEGUIR CONDUTA RÍGIDA E ESTRUTURADA 1. Avaliação do paciente, com exposição da lesão e registro fotográfico para evitar a necessidade de abrir o curativo posteriormente. 2. Alinhamento do membro sem a redução da fratura. O osso deve permanecer exposto para não levar agentes contaminantes para o interior do membro. 3. Retirada de contaminantes grosseiros. 4. Curativo com compressas estéreis. 5. Condução ao centro cirúrgico. 6. Analgesia, antibioticoterapia (Tabela 4) e profilaxia para tétano podem ser realizadas em qualquer momento dessa intervenção, de modo geral o mais precocemente possível e de maneira concomitante com as outras condutas. OBS: nunca reduzir a fratura, pois isso levará à contaminação de tecidos profundos. A fratura só é reduzida uma vez que todas as partes ósseas estejam limpas. o Uma vez no centro cirúrgico, inicia-se o debridamento (remoção de tecidos necrosados ou corpos estranhos na ferida usando técnicas mecânicas) e a irrigação abundante. A irrigação, diferentemente da fricção com compressas ou gazes, é uma forma mais delicada de limpar o ferimento; assim não há mais rompimento de fibras dos tecidos. Pode ser realizado novo debridamento posteriormente. Trocam-se os campos cirúrgicos e a paramentação para o segundo passo. o O próximo passo é estabilizar e fixar a fratura, processo comumente realizado com a utilização de fixador externo ou síntese definitiva. É importante distinguir quando deve ser utilizada cada técnica. O fixador externo é recomendado principalmente para lesões Gustillo III B e III C nos pacientes em situações fisiológicas instáveis, como alguns idosos e politraumatizados. Essa conduta deve-se ao fato de essa cirurgia ser menos invasiva do que a síntese definitiva e ter curta duração. Assim, exige-se menos do organismo do paciente. o As sínteses definitivas são recomendadas para fraturas até Gustillo III A (na realidade, há discussões sobre a técnica de fix and flap para lesões III B e III C, na qual se realiza a fixação definitiva e a cobertura cutânea com retalho no mesmo ato cirúrgico, mas essa não é a conduta padrão em todos os serviços e depende da avaliação do cirurgião) e traumas isolados, pois se exige mais do organismo do paciente. Elas permitem consolidação óssea mais eficaz sem a necessidade da utilização de imobilizações, garantindo pronta recuperação do paciente para o retorno a suas atividades. o Quando realizar a cirurgia? A cirurgia deve ser realizada preferencialmente dentro das primeiras 6 horas após a lesão, porém estudos recentes indicam que possa ser postergada por até 24 horas, contanto que a antibioticoterapia tenha sido iniciada no momento do diagnóstico. Ana Clara Silva Freitas Como em muitos casos o paciente não apresenta condições de ser submetido a cirurgias grandes, faz-se a limpeza cirúrgica e uma cirurgia de controle de danos (fixação externa). Pacientes politraumatizados apresentam uma “janela da oportunidade” para a fixação definitiva, o período de 5-10 dias após o trauma, no qual o estado inflamatório do corpo reduziu-se o suficiente para que ele resista a uma intervenção cirúrgica, porém não decaiu o suficiente para que sofra infecção por imunossupressão. O tempo está relacionado com a liberação de interleucina-6 e é variável de caso para caso – o idealé que o paciente seja operado nesse período, mas outras condições podem fazer com que seja operado antes ou depois. FRATURAS FISÁRIAS Ocorrem na região da fise de crescimento, mais comumente na camada hipertrófica; Dependendo do grau de desvio, pode ocorrer interrupção da fifise, levando ao encurtamento do membro ou aos desvios angulares; No caso de ocorrer uma lesão na fise, a queixa geralmente é de dor, que parece estar localizada na articulação, após um trauma. Edema próximo à articulação e dor localizada à palpação da fise podem estar presente. Classificação: Tratamento: o As lesões fisárias dos Tipos I e II de Salter-Harris, geralmente, apresentam bom resultado com a redução incruenta e a imobilização gessada. o As lesões dos Tipos III e IV de Salter-Harris representam uma descontinuidade da fise e da epífise, com comprometimento da superfície articular (fratura intra-articular). Portanto, de maneira geral, essas lesões requerem o tratamento operatório para realinhamento, tanto da superfície articular quanto da fise. Essas lesões geralmente são Ana Clara Silva Freitas instáveis e muitas vezes a simples imobilização gessada em fraturas sem desvio não é suficiente; o As lesões dos Tipos V e VI de Salter-Harris com frequência acarretam a for�mação de uma barra óssea e parada parcial ou total do crescimento. Dessa maneira, procedimentos cirúrgicos posteriores podem ser necessários para se res�secar a barra óssea ou corrigir eventuais deformidades (desvios angulares ou encurtamentos). o Tratamento conservador: As lesões dos Tipos I e II de Salter-Harris podem ser tratadas com redução incruenta e gesso, com reavaliação em 1 semana para se averiguar a manutenção da redução. A redução incruenta deve ser realizada com cuidado, evitando-se manobras intempestivas que possam agravar a lesão na fise. o Tratamento operatório: Atualmente existe uma tendência em se tratar por meio de cirurgias as fraturas com desvio: na região supracondiliana do úmero, na diáfise femoral e na diáfise dos ossos do antebraço Acompanhamento: o Algumas fraturas fisárias são mais propensas a desenvolver complicações relacionadas com a parada parcial ou completa do crescimento na fise. As fraturas consideradas de maior risco são: Fêmur distal. Tíbia distal. Rádio e ulna distais. Tíbia proximal. Cartilagem tri-irradiada. o Após a consolidação da fratura é prudente a realização do acompanha�mento do paciente, realizando radiografias após 6 meses e 1 ano. Qualquer distúrbio no crescimento deve ser monitorizado e tratado na ocasião apropria�da, desde que necessário. Assim, o tratamento das lesões fisárias pode ser dividido em duas fases. A primeira, quando se deve assegurar a consolidação em uma posição satisfatória, e a segunda fase de acompanhamento, até que se comprove que não houve distúrbio de crescimento. Complicações: aceleração do crescimento e parada de crescimento Síndrome da criança espancada: o As fraturas e as lesões fisárias, frequentemente, fazem parte do quadro da criança submetida à violência doméstica.; o Entre as lesões mais encontradas estão: fratura do 1/3 proximal do fêmur, descolamento epifisário do cotovelo, fratura de 1/3 distal de rádio, fratura supracondiliana de úmero, contusões, escoriações e queimaduras. o Deve-se realizar a internação dos casos suspeitos, mesmo que as lesões apresentadas não tenham indicação de cuidados hospitalares. Dessa maneira, evita-se que potenciais novas agressões sejam efetuadas até que se esclareça, definitivamente, a origem do trauma.