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O enigma de Kaspar Hauser

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UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO
BACHARELADO EM PSICOLOGIA
O ENIGMA DE KASPAR HAUSER
NOVA IGUAÇU/CAXIAS
2020
UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO
BACHARELADO EM PSICOLOGIA
Beatriz Barbosa de Azambuja
Elienai Araújo do Nascimento
Leonardo Moreira de Abreu Vargas
Leticia Ferreira da Silva Santos
Rita de Cassia R. da Silva Monteiro
Pedro Macedo Pereira Verly
O ENIGMA DE KASPAR HAUSER
Trabalho para a avaliação da disciplina de Motivação e
Emoção. Apresentado à Universidade do Grande Rio,
como requisito para o curso de Psicologia – 2ª fase
noite. 
Orientador: Wallace da Costa Brito
NOVA IGUAÇU/CAXIAS
2020
INTRODUÇÃO
O filme O Enigma de Kaspar Hauser possui um viés sobre a possibilidade de explicação
de uma cultura e não a de alguém ser iniciado nela. O seu principal personagem é Kaspar
Hauser. Ele é misterioso, passou a infancia inteira trancado em um calabouço sem nunca ter
tido contato com a civilização. Seu estado beirava próximo a de um animal, não parecia ser
um ser humano normal. Emitia grunhidos (não falava), não ficava em pé (só deitado e
sentado), comia somente pão e bebia água (não se alimentava). Ele foi encontrado em uma
praça da cidade no ano de 1828. Não conhecia ser humano, não chorava, não sentia medo,
ameaça e nem perigo. Não possuía nenhuma cultura. Seria possível civiliza-lo?
A trajetória de Kaspar o leva de uma prisão a outra, mais cruel e desumana do que a prisão
inicial em que se encontrava. Este percurso o conduz de uma prisão física e espacial a uma
cadeia de nós mesmos, que é criada pela sociedade que estando estabelecida, fixa os limites
pelos quais Hauser (e todos nós, consequentemente) pode se movimentar. 
O caminho que Hauser percorreu foi de um processo de condicionamento, sujeição e
submissão do homem. O dilema de como a sociedade age em relação aos seus membros nos
faz refletir, através da voz do protagonista, que a sociabilidade que se constitui não é,
humanamente, a mais adequada. Nosso trabalho foi organizado em tópicos, onde será
descrito, analisado e exposta a nossa conclusão em relação ao filme. Para isto fizemos
reuniões onde debatemos e compartilhamos os nossos pontos de vista referente a este tema
que nos foi proposto. 
DESCRIÇÃO DO FILME
O filme alemão Jeder für sich und gott gegen alle, originalmente chamado de: Cada um
por si e Deus contra todos, foi traduzido como: O enigma de Kaspar Hauser. Ele tem como
diretor Wener Herzog, e data do ano de 1974. Através dele, a história real de um adolescente
que logo após nascer foi mantido preso dentro de um calabouço, é contada. Seu nome era
Kaspar Hauser. 
Kaspar Hauser cresceu sem nenhum contato humano, interagindo apenas com um cavalo
de brinquedo. Ele era alimentado a noite, apenas com pão e água durante dezesseis anos. Não
sabia andar, nem falar. Ele foi privado de todos os seus direitos. Não recebeu afeto, segurança,
estímulos e muito menos foi amado. Até que, em maio de 1828, um homem entra no
calabouço durante o dia, o ensina a escrever seu nome e a pronunciar uma única frase, das
quais ele só consegue memorizar as seguintes palavras: “cavalo. Como meu pai foi”. Este
homem põe nele um par de botas, um casaco e o leva para fora de sua prisão. Ele ensina
Kaspar a andar e o abandona no meio de uma praça na cidade. Apenas com uma carta e um
chapéu na mão. 
E ele fica lá parado, atônito. Não se pode precisar por quanto tempo. Kaspar nunca havia
tido nenhum contato com as pessoas, ou com qualquer coisa que existisse fora de sua prisão.
Ficara exposto aguçando a curiosidade e o preconceito dos moradores daquela cidade, E
aquelas pessoas, embora percebam que ele era incapaz de fazer mal algum, mais uma vez
decidem prendê-lo, agora numa torre, com o objetivo de o estudarem e observarem seus
comportamentos, como se ele fosse um objeto, e não um ser humano.
Um dos carcereiros o leva para sua casa, e lá ele aprende algumas palavras. Ele precisava
primeiramente aprender a linguagem para si próprio, e só depois para poder se comunicar
socialmente, e isto é apresentado quando é ensinado a ele o nome das partes de seu corpo. Por
ser bem tratado naquela família, Kasper começa a identificar o quanto é marginalizado pela
sociedade. E esta, logo passa a vê-lo como um gasto. Procurando um meio de compensar suas
despesas, o expõem como uma aberração em um circo, ao lado de um índio, um anão e uma
criança, aparentemente autista. Kaspar foge. E é acolhido por um professor. 
Kaspar aprende a ler e a escrever, consegue sonhar e identificar o que é sonho e o que é
realidade, já que no cativeiro, ele não sonhava. Ele começa a desenvolver sua própria lógica.
E começa a escrever uma história, que ainda só tinha começo. Visto que ela seria
desenvolvida conforme as experiências que ele teria durante sua vida. Kaspar começa a
perceber o quanto as pessoas podem ser más. Como no dia em que alguém destrói toda a sua
horta, que ele com tanta dedicação havia cultivado. 
Quando religiosos o impõem uma fé, Kaspar percebe por si mesmo a necessidade de
aprender ler e escrever para então poder compreender quem seria Deus. 
Ele mesmo afirma que não se sentia fazendo parte daquela comunidade e chega a expressar
que era mais feliz durante seu cárcere. Kaspar Hauser sofre dois atentados. Do primeiro ele se
recupera, mas o segundo, é fatal. Kaspar morre alguns dias depois. Sem reclamar, sem se
queixar. Ao realizarem sua autopsia, através de experimentos simplistas, verificam uma
anomalia em seu cérebro. E esta anomalia para eles é vista como um modo de justificar tudo o
que lhe foi imposto desde o dia de seu nascimento.
Todos os mistérios que cercavam sua vida e morte jamais foram desvendados e isto é
refletido diretamente em sua lápide, onde foi escrito: "Hic occultus occultu uccisus est." Que
traduzido, quer dizer: "Aqui jaz um desconhecido assassinado por um desconhecido."
Infelizmente, nada resume melhor a misteriosa e triste vida de Kaspar Hauser. 
ANÁLISE DO FILME
O desenvolvimento de Kaspar Hauser se deu de forma tardia, após ele ter sido retirado do
cárcere que vivera por dezesseis anos. Através do filme podemos ver algumas das
consequências de sua prisão e da privação do convívio social, cultural e familiar que lhe
foram impostos. Kaspar foi rejeitado, ignorado e lançado em absoluto silencio e solidão.
Embora não portasse nenhuma deficiência física, ele não andava nem ficava de pé, apenas se
sentava e se deitava, pois não havia recebido estímulos para isso. 
Durante os primeiros anos de vida de uma criança ocorre o desenvolvimento infantil e este
é parte fundamental do desenvolvimento humano. A evolução presente no desenvolvimento se
dá através de diversos campos da existência, tais como afetivo, cognitivo, social e motor, de
todos eles, Kaspar foi privado. Ele não teve contato com as palavras, com a sociedade, com a
cultura e nem consigo mesmo. Mas em um determinado dia de sua vida, Kaspar foi liberto do
calabouço em que vivia. O homem que o liberta, após o ensinar algumas coisas, o deixa em pé
no meio da cidade. Kaspar se vê perdido, sozinho. Ele não sabe se expressar, não sabe falar ou
se defender. Está assustado e confuso. Ao ser liberto do calabouço, Kaspar vê-se preso em um
mundo completamente novo.
Após ser exposto a todo tipo de curiosidade e preconceito das pessoas daquela cidade,
Kaspar é abrigado por um professor. E apesar do seu desenvolvimento ter se iniciado de
forma tardia, ele faz grandes avanços. Vemos um adolescente que possuía inúmeros razoes
para ser amargurado ou revoltado, mas que mantinha seu coração puro e sua mente aberta
para o aprendizado. Embora Kaspar já estivesse inserido na sociedade, ele nunca foi aceito
por ela. Ele sempre foi visto como diferente e com certa estranheza pelas pessoas, e mesmo
sendo um adolescente dócil e estudioso, seu passado recente fazia com que as pessoas o
vissem como um objeto e nãocomo um indivíduo. E ele sabia disso. Ele mesmo chega a
relatar que era mais feliz durante o cárcere do que quando estivera livre. 
Algumas pessoas tentaram induzi-lo a ter uma fé. Mas ele tinha em mente que precisava
aprender a ler e a escrever primeiro. E com isto podemos ver que durante o cativeiro, ele não
tinha o conceito de Deus, já que este é um conceito sócio-histórico, construído em cada
cultura de forma diferente. Kaspar agora entende que primeiramente precisava adquirir um
sentimento individual do que seria Deus. E assim ele deixava de ser apenas biológico e
passava a ter características exclusivamente humanas. 
A vida de Kaspar nos faz refletir o quanto o ser humano pode ser perverso, assim como era
a pessoa que o prendeu e que o assassinou. Mas também nos faz pensar o quanto podemos ir
além, superar nossas próprias limitações e escrevermos nossa própria história, assim como
Kaspar o fez. 
CONCLUSÃO
O filme dirigido por Werner Herzog, evidencia a existência de questionamentos
pertinentes até os dias de hoje. Apesar de parecer ter como questão central a possibilidade de
um indivíduo introduzido tardiamente na sociedade aprender seus costumes e regras, ou em
outras palavras, ser “civilizado”, a película também ilustra as modulações nas quais estamos
sujeitos ao estarmos inseridos em um meio social, e a aparente impossibilidade de aceitar o
diferente.
Em relação a um debate inatismo x empirismo, concluímos que a prevalência do diretor se
dá em função do segundo elemento. Kaspar só desenvolve as habilidades de fala, escrita,
caminhar e até mesmo a de pensamento quando se encontra em sociedade. Mesmo tendo
adquirido a ação da linguagem, o personagem ainda apresenta dificuldade para compreender
certas representações e perspectivas, como na cena em que acredita que o homem que
construiu a torre deveria ser um homem muito alto. A isto corrobora a ideia de que “a
significação do mundo deve irromper antes mesmo da codificação linguística com que o
recortamos: os significados já vão sendo desenhados na própria percepção/cognição da
realidade” (Blikstein, 1983, p.17 apud Saboya 2001).
Contudo, ao observar a história de Hauser, compreendemos que diante da falta de
qualquer estímulo em virtude do completo isolamento físico e social em que vivia, não fora
desenvolvido nele a aparelhagem necessária para desenvolver sua abstração e percepção da
realidade. Ademais, o autor propõe uma crítica sobre como a sociedade integra alguém que é
tão diferente do que se espera. A julgar pelo espírito positivista da época em que Kaspar
viveu, o ideal a ser alcançado pelos homens era o da civilização, logo, quem não estivesse
dentro desse padrão era considerado selvagem, primitivo, precisando assim “evoluir” se
enquadrando nos costumes, ou do contrário deveria ser eliminado. Exemplo dessa não
aceitação pode ser visto na cena em que o personagem vê a plantação de agrião que fizera
escrevendo o seu nome destruída, denotando uma espécie de destruição da identidade que ele
estava tentando construir. 
Por fim, outra evidência da crítica proposta pelo diretor do filme reside na história que
Kaspar diz não saber como termina. Como elucida Cattelan (2009), “o que o narrador não
consegue responder é como essa história terminará, fim que desejaria diferente daquele que
presencia, por perceber que a sociabilidade que se constituiu não é, humanamente, a mais
adequada”. 
Deste modo, ao assistir ao filme, com base nas leituras aqui referenciadas, identificamos
uma intenção do diretor muito maior do que a aquela que pode ser vista a princípio. Está
implícito nos detalhes um questionamento genuíno sobre nossa capacidade enquanto seres
sociais que buscam pela inter-relação, de construirmos uma socialização diferente da
estabelecida, capaz de aceitar o diferente e não simplesmente forçá-lo a caber nos moldes
convencionais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CATTELAN, João Carlos. Kaspar Hauser: de uma cadeia a outra. CASA: Cadernos de 
Semiótica Aplicada, v. 7, n. 1, 2009. Disponível em: 
https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/1768/1431. Acesso em 20/09/2020.
HERZOG, Werner. O enigma de Kaspar Hauser. Publicado pelo canal Francisco 
Giacomozzi, 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Wplj0ITkwho&t=3s. 
Acesso em 10/09/2020. 
SABOYA, Maria Clara Lopes. O Enigma de Kaspar Hauser (1812-1833): Uma Abordagem 
Psicossocial. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-
65642001000200007&script=sci_arttext>. Acesso em 11/09/2020.
	INTRODUÇÃO
	DESCRIÇÃO DO FILME
	O filme alemão Jeder für sich und gott gegen alle, originalmente chamado de: Cada um por si e Deus contra todos, foi traduzido como: O enigma de Kaspar Hauser. Ele tem como diretor Wener Herzog, e data do ano de 1974. Através dele, a história real de um adolescente que logo após nascer foi mantido preso dentro de um calabouço, é contada. Seu nome era Kaspar Hauser.
	Kaspar Hauser cresceu sem nenhum contato humano, interagindo apenas com um cavalo de brinquedo. Ele era alimentado a noite, apenas com pão e água durante dezesseis anos. Não sabia andar, nem falar. Ele foi privado de todos os seus direitos. Não recebeu afeto, segurança, estímulos e muito menos foi amado. Até que, em maio de 1828, um homem entra no calabouço durante o dia, o ensina a escrever seu nome e a pronunciar uma única frase, das quais ele só consegue memorizar as seguintes palavras: “cavalo. Como meu pai foi”. Este homem põe nele um par de botas, um casaco e o leva para fora de sua prisão. Ele ensina Kaspar a andar e o abandona no meio de uma praça na cidade. Apenas com uma carta e um chapéu na mão.
	E ele fica lá parado, atônito. Não se pode precisar por quanto tempo. Kaspar nunca havia tido nenhum contato com as pessoas, ou com qualquer coisa que existisse fora de sua prisão. Ficara exposto aguçando a curiosidade e o preconceito dos moradores daquela cidade, E aquelas pessoas, embora percebam que ele era incapaz de fazer mal algum, mais uma vez decidem prendê-lo, agora numa torre, com o objetivo de o estudarem e observarem seus comportamentos, como se ele fosse um objeto, e não um ser humano.
	Um dos carcereiros o leva para sua casa, e lá ele aprende algumas palavras. Ele precisava primeiramente aprender a linguagem para si próprio, e só depois para poder se comunicar socialmente, e isto é apresentado quando é ensinado a ele o nome das partes de seu corpo. Por ser bem tratado naquela família, Kasper começa a identificar o quanto é marginalizado pela sociedade. E esta, logo passa a vê-lo como um gasto. Procurando um meio de compensar suas despesas, o expõem como uma aberração em um circo, ao lado de um índio, um anão e uma criança, aparentemente autista. Kaspar foge. E é acolhido por um professor.
	Kaspar aprende a ler e a escrever, consegue sonhar e identificar o que é sonho e o que é realidade, já que no cativeiro, ele não sonhava. Ele começa a desenvolver sua própria lógica. E começa a escrever uma história, que ainda só tinha começo. Visto que ela seria desenvolvida conforme as experiências que ele teria durante sua vida. Kaspar começa a perceber o quanto as pessoas podem ser más. Como no dia em que alguém destrói toda a sua horta, que ele com tanta dedicação havia cultivado.
	Quando religiosos o impõem uma fé, Kaspar percebe por si mesmo a necessidade de aprender ler e escrever para então poder compreender quem seria Deus.
	Ele mesmo afirma que não se sentia fazendo parte daquela comunidade e chega a expressar que era mais feliz durante seu cárcere. Kaspar Hauser sofre dois atentados. Do primeiro ele se recupera, mas o segundo, é fatal. Kaspar morre alguns dias depois. Sem reclamar, sem se queixar. Ao realizarem sua autopsia, através de experimentos simplistas, verificam uma anomalia em seu cérebro. E esta anomalia para eles é vista como um modo de justificar tudo o que lhe foi imposto desde o dia de seu nascimento.
	Todos os mistérios que cercavamsua vida e morte jamais foram desvendados e isto é refletido diretamente em sua lápide, onde foi escrito: "Hic occultus occultu uccisus est." Que traduzido, quer dizer: "Aqui jaz um desconhecido assassinado por um desconhecido." Infelizmente, nada resume melhor a misteriosa e triste vida de Kaspar Hauser.
	ANÁLISE DO FILME
	O desenvolvimento de Kaspar Hauser se deu de forma tardia, após ele ter sido retirado do cárcere que vivera por dezesseis anos. Através do filme podemos ver algumas das consequências de sua prisão e da privação do convívio social, cultural e familiar que lhe foram impostos. Kaspar foi rejeitado, ignorado e lançado em absoluto silencio e solidão. Embora não portasse nenhuma deficiência física, ele não andava nem ficava de pé, apenas se sentava e se deitava, pois não havia recebido estímulos para isso.
	Durante os primeiros anos de vida de uma criança ocorre o desenvolvimento infantil e este é parte fundamental do desenvolvimento humano. A evolução presente no desenvolvimento se dá através de diversos campos da existência, tais como afetivo, cognitivo, social e motor, de todos eles, Kaspar foi privado. Ele não teve contato com as palavras, com a sociedade, com a cultura e nem consigo mesmo. Mas em um determinado dia de sua vida, Kaspar foi liberto do calabouço em que vivia. O homem que o liberta, após o ensinar algumas coisas, o deixa em pé no meio da cidade. Kaspar se vê perdido, sozinho. Ele não sabe se expressar, não sabe falar ou se defender. Está assustado e confuso. Ao ser liberto do calabouço, Kaspar vê-se preso em um mundo completamente novo.
	Após ser exposto a todo tipo de curiosidade e preconceito das pessoas daquela cidade, Kaspar é abrigado por um professor. E apesar do seu desenvolvimento ter se iniciado de forma tardia, ele faz grandes avanços. Vemos um adolescente que possuía inúmeros razoes para ser amargurado ou revoltado, mas que mantinha seu coração puro e sua mente aberta para o aprendizado. Embora Kaspar já estivesse inserido na sociedade, ele nunca foi aceito por ela. Ele sempre foi visto como diferente e com certa estranheza pelas pessoas, e mesmo sendo um adolescente dócil e estudioso, seu passado recente fazia com que as pessoas o vissem como um objeto e não como um indivíduo. E ele sabia disso. Ele mesmo chega a relatar que era mais feliz durante o cárcere do que quando estivera livre.
	Algumas pessoas tentaram induzi-lo a ter uma fé. Mas ele tinha em mente que precisava aprender a ler e a escrever primeiro. E com isto podemos ver que durante o cativeiro, ele não tinha o conceito de Deus, já que este é um conceito sócio-histórico, construído em cada cultura de forma diferente. Kaspar agora entende que primeiramente precisava adquirir um sentimento individual do que seria Deus. E assim ele deixava de ser apenas biológico e passava a ter características exclusivamente humanas.
	A vida de Kaspar nos faz refletir o quanto o ser humano pode ser perverso, assim como era a pessoa que o prendeu e que o assassinou. Mas também nos faz pensar o quanto podemos ir além, superar nossas próprias limitações e escrevermos nossa própria história, assim como Kaspar o fez.
	CONCLUSÃO
	O filme dirigido por Werner Herzog, evidencia a existência de questionamentos pertinentes até os dias de hoje. Apesar de parecer ter como questão central a possibilidade de um indivíduo introduzido tardiamente na sociedade aprender seus costumes e regras, ou em outras palavras, ser “civilizado”, a película também ilustra as modulações nas quais estamos sujeitos ao estarmos inseridos em um meio social, e a aparente impossibilidade de aceitar o diferente.
	Em relação a um debate inatismo x empirismo, concluímos que a prevalência do diretor se dá em função do segundo elemento. Kaspar só desenvolve as habilidades de fala, escrita, caminhar e até mesmo a de pensamento quando se encontra em sociedade. Mesmo tendo adquirido a ação da linguagem, o personagem ainda apresenta dificuldade para compreender certas representações e perspectivas, como na cena em que acredita que o homem que construiu a torre deveria ser um homem muito alto. A isto corrobora a ideia de que “a significação do mundo deve irromper antes mesmo da codificação linguística com que o recortamos: os significados já vão sendo desenhados na própria percepção/cognição da realidade” (Blikstein, 1983, p.17 apud Saboya 2001).
	Contudo, ao observar a história de Hauser, compreendemos que diante da falta de qualquer estímulo em virtude do completo isolamento físico e social em que vivia, não fora desenvolvido nele a aparelhagem necessária para desenvolver sua abstração e percepção da realidade. Ademais, o autor propõe uma crítica sobre como a sociedade integra alguém que é tão diferente do que se espera. A julgar pelo espírito positivista da época em que Kaspar viveu, o ideal a ser alcançado pelos homens era o da civilização, logo, quem não estivesse dentro desse padrão era considerado selvagem, primitivo, precisando assim “evoluir” se enquadrando nos costumes, ou do contrário deveria ser eliminado. Exemplo dessa não aceitação pode ser visto na cena em que o personagem vê a plantação de agrião que fizera escrevendo o seu nome destruída, denotando uma espécie de destruição da identidade que ele estava tentando construir.
	Por fim, outra evidência da crítica proposta pelo diretor do filme reside na história que Kaspar diz não saber como termina. Como elucida Cattelan (2009), “o que o narrador não consegue responder é como essa história terminará, fim que desejaria diferente daquele que presencia, por perceber que a sociabilidade que se constituiu não é, humanamente, a mais adequada”.
	Deste modo, ao assistir ao filme, com base nas leituras aqui referenciadas, identificamos uma intenção do diretor muito maior do que a aquela que pode ser vista a princípio. Está implícito nos detalhes um questionamento genuíno sobre nossa capacidade enquanto seres sociais que buscam pela inter-relação, de construirmos uma socialização diferente da estabelecida, capaz de aceitar o diferente e não simplesmente forçá-lo a caber nos moldes convencionais.
	REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
	CATTELAN, João Carlos. Kaspar Hauser: de uma cadeia a outra. CASA: Cadernos de Semiótica Aplicada, v. 7, n. 1, 2009. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/1768/1431. Acesso em 20/09/2020.
	HERZOG, Werner. O enigma de Kaspar Hauser. Publicado pelo canal Francisco Giacomozzi, 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Wplj0ITkwho&t=3s. Acesso em 10/09/2020.
	SABOYA, Maria Clara Lopes. O Enigma de Kaspar Hauser (1812-1833): Uma Abordagem Psicossocial. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-65642001000200007&script=sci_arttext>. Acesso em 11/09/2020.

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