Prévia do material em texto
1 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S 2 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S 3 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Núcleo de Educação a Distância GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO Diagramação: Rhanya Vitória M. R. Cupertino PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira. O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho. O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem. 4 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Prezado(a) Pós-Graduando(a), Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional! Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as suas expectativas. A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra- dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a ascensão social e econômica da população de um país. Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida- de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos. Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas pessoais e profissionais. Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi- ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atu- ação no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe- rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de ensino. E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial. Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos conhecimentos. Um abraço, Grupo Prominas - Educação e Tecnologia 5 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S 6 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo- sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve- rança, disciplina e organização. Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho. Estude bastante e um grande abraço! Professor: Cleber Lizardo de Assis 7 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc- nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela conhecimento. Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in- formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao seu sucesso profisisional. 8 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Os dois primeiros capítulos da unidade possuem um caráter histórico de fundamental importância para se conhecer a concepção e a prática em torno da infância nas Idades Antiga, Média e Moder- na, especialmente guiados pelo estudioso da infância P. Ariès, além de vislumbrar os primórdios das famílias e instituições educativas no Brasil Colônia. Nesse contexto brasileiro, aponta-se as mudanças de concepções e práticas educativas, em torno dos principais temas rela- cionados no Século XIX e XX, para então, introduzir os temas-desafios que se colocam para a educação contemporânea, como a noção psi- cológica de subjetividade, a questão das diversidades e seu manejo, além de temas polêmicos, mas inadiáveis, como as Mídias e a Tecno- logias, o Consumismo, Gênero, Afetividade e Sexualidade. Infância. Educação Infantil. Diversidade. Psicologia. Subjetividade. 9 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 01 A INVENÇÃO DA INFÂNCIA: HISTÓRIA E CONSTRUÇÕES: DO TERMO “INFÂNCIA” E CONTEXTO SÓCIO HISTÓRICO Apresentação do Módulo ______________________________________ 11 12 36 16 Infância na Idade Antiga _______________________________________ A Infância dos Séculos XIX e XX _________________________________ Infância na Idade Média ________________________________________ CAPÍTULO 02 A INFÂNCIA NO BRASIL A Chegada Europeia, a Constituição Familiar e a Infância ________ 31 26Recapitulando ________________________________________________ 18Infância no Renascimento _____________________________________ 42A Infância no Pós-ECA __________________________________________ Recapitulando _________________________________________________ 46 CAPÍTULO 03 TEMAS DE INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE Subjetividade ________________________________________________ 51 Diversidade e Implicações Curriculares _________________________ 54 20Infância na Idade Moderna ____________________________________ 10 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Temas e Desafios Contemporâneos _____________________________ 56 Recapitulando __________________________________________________ 65 Fechando a Unidade ____________________________________________ 72 Glossário ________________________________________________________ 75 Referências _____________________________________________________ 76 11 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Para um público comum, a infância que temos hoje sempre foi assim em outros tempos, com pequenas diferenças. Entretanto, o pró- prio termo “infância” foi cunhado ao longo da história. Mais que o termo, a própria concepção de criança e adoles- cente, bem como as formas de educá-los, têm diversas nuances nas diversas Idades da História. Deste modo, quem pretende atuar em edu- cação da infância na contemporaneidade, deve adotar o pressuposto e os fatos que marcaram essas concepções e práticas, desde a Idade Antiga, Média e Moderna. Esse movimento histórico das culturas do mundo chegou ao nosso país com a chegada dos portugueses, forjando o que se praticou de educação no Brasil Colônia e se aperfeiçoou com as ciências huma- nas e a própria Pedagogia. Existiram diversas infâncias no próprio país. Assim, mudaram o mundo e o nosso país, bem como as con- cepções e práticas educativas em torno da infância brasileira. E mais, nos deparamos com novos desafios e demandas na modernidade e contem- poraneidade, que impactam diretamente as famílias, agências primeiras da educação na infância, e as próprias escolas, instituições formais de escolarização. Agora a pauta ampliou e ficou complexa, de modo que exige uma nova educação, uma nova escolae um novo professor. Conhecer a história desse movimento poderá permitir respon- der a esses novos desafios educativos, a assimilar essa nova concep- ção de infância e, quem sabe, vislumbrar o que virá para esses sujeitos em desenvolvimento. 12 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S INFÂNCIA NA IDADE ANTIGA O que entendemos como “infância” possui um histórico e uma evolução temporal e cultural, de modo que podemos falar de “infância na Idade Antiga”, na Idade Média ou Moderna ou nos dias de hoje. Esse é um movimento de diversos autores, como o caso de Ariès (1981) que será fundamental para um resgate histórico com que atualmente se de- nomina por “infância”. Infância na Idade Antiga No mundo judaico, a infância está atrelada ao conjunto de sig- nificados e ritualísticos da sua religião baseada na Torah, de modo que há uma iniciação da criança na mais tenra idade, pela repetição de al- guns versículos bíblicos, e cabendo ao pai a responsabilidade por esta A INVENÇÃO DA INFÂNCIA: HISTÓRIA E CONSTRUÇÕES DO TERMO "INFÂN- CIA" E CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S 12 13 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S tarefa. Já aos três anos a criança era encaminhada ao Heder, instituição destinada a ensinar às crianças a prática religiosa judaica e da língua hebraica, e a partir da idade de seis ou sete anos, este estudo poderá ser confiado a um professor, que receberá remuneração por seu traba- lho. Em toda cidade deveria haver um professor de crianças, cuja impor- tância equivale a de um médico, assim como de uma sinagoga e de um tribunal rabínico, sob pena de ser colocada no ostracismo. Como em todas as culturas do mundo antigo, as crianças eram objetos de castigos físicos, seja por argumentos educativos e pelo po- der do adulto, como é o caso de registros no próprio texto bíblico de Deut. 21-18-21: “Se um homem tiver um filho indócil e contumaz, que não atende à voz de seu pai ou de sua mãe, e mesmo que o castiguem não lhe dá ouvidos, ele será levado aos anciãos da cidade… Então, todos os homens da cidade irão apedrejá-lo até levá-lo à morte”. Deste modo, nesta lei bíblica já havia noção de que bater numa criança era uma atitude natural e até mesmo uma necessidade, já que essa punição seria para o próprio bem da criança. Quando uma criança judia atingia a sua maturidade aos 12 anos de idade (mais um dia para as moças) e aos 13 anos (um dia para os rapazes), eles se tornavam os responsáveis pelos seus atos, quando se dizia que o menino passava a ser Bar Mitzvá (הווצמרב, "filho do mandamento"); e a menina passa a ser BatMitzvá (הווצמתב, "filha do mandamento"). Ao completar 13 anos, o jovem judeu é chamado pela primeira vez para a leitura da Torá, mas antes desta idade, são os pais os responsáveis pelos atos dos filhos. No Egito antigo, a partir dos cinco anos as crianças já começavam a ser treinadas para o trabalho, exercendo diferentes funções, dependendo do que se esperava dela, indo das mais simples até as mais complexas com a passagem dos anos. Mas numa carta da 18ª Dinastia (Novo Impé- rio) houve o alerta de que crianças deveriam ser tratadas, de fato, como crianças, ao reprimir uma família que tomou uma menina jovem como fun- cionária. Era comum que as crianças herdassem as atividades dos pais, por exemplo, filhos de sacerdotes tendiam a assumir postos semelhantes, ou em caso de oferendas familiares que eram levadas a diante pelos filhos. Os filhos eram altamente desejados pelos egípcios até porque, práticos como eram, viam neles o instrumento da preservação dos ritos do culto funerário, que eram indispensáveis para a continuidade da vida após a morte. Assim, o desejo de ter filhos, principalmente um varão, era geral e resultava em famílias numerosas. As crianças egípcias ra- ramente eram representadas vestidas e o normal, seja entre as classes comuns ou na realeza, eram os infantes viverem nus e descalços; eram alimentadas com o leite materno o máximo quanto fosse possível, po- 14 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S dendo chegar até aos três anos, posto que durante este período esta- riam livres de morrer por infecções. Há registros de que os egípcios gostavam de crianças e as tinham sempre por perto, sejam os pastores ou reis, inclusive com um clima de grande afeto e carícias, como nos relata o egiptólogo Pierre Montet: “as princesas ficavam junto deles, não só nas horas de repouso, mas também quando se ocupavam de negócios do Estado. Elas trepa- vam para os joelhos do rei e da rainha não temendo acariciar-lhes o queixo. As mais crescidas participavam na disposição das decorações. Tomados por um acesso de ternura, vemos os felizes pais apertarem os pequenos nos braços e devorarem-nos de beijos. O próprio Ramsés II se orgulhava muito dos seus cento e sessenta e tantos filhos”. Figura 1: Ramsés II representado como uma criança chupando o dedo Fonte: Ritos Ocultos, 2019 Em um dos berços de nossa civilização ocidental, a Roma An- tiga, observa-se que o nascimento de uma criança “não era apenas um fato biológico”, mas também um fato de aceitação paterna. Nesse senti- do, quando o pai elevava a criança do chão, o mesmo estava aceitando criá-la, sendo este um ato de adoção. Nesse período, a contracepção, o aborto, o abandono e morte de crianças eram atitudes corriqueiras e consideradas legítimas. Nesse mesmo contexto, aquela criança que o pai não levantasse, seria exposta diante da casa ou num monturo públi- co, e quem quisesse que a recolhesse. Em outros casos, a criança seria enjeitada se o pai estivesse au- sente, se afogavam crianças malformadas, inclusive com justificativa filo- 15 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S sófica (nisso não havia raiva, e sim razão, diz Sêneca: É preciso separar o que é bom do que não pode servir para nada). A criança de sexo feminino poderia ser considerada resultado de alguém que “cometeu uma falta” e se podia abandonar os próprios filhos legítimos caso existisse um estado de miséria de uns, e em casos dos mais ricos, podia-se rejeitar um filho, cujo nascimento pudesse perturbar os negócios patrimoniais da família. Salientamos que Roma concebeu a infância e tratou das crian- ças com base no texto-base da das Doze Tábuas, escrito em bronze e exposto, publicamente no fórum no ano de em 451 a.C. Nela destaca- vam-se o valor da tradição que compreende o espírito, os costumes, a disciplina dos pais. As tábuas traziam uma educação voltada à dignida- de, à coragem, à firmeza como valores máximos. Nesse contexto, a família tinha o papel prioritário atribuído ao pai, e era sua a função de guia e de exemplo. Já a mãe participava dessa educação, tomando conta da criança, cuidando de seu aspecto espiritual e material, responsável pelo crescimento físico e moral, desde a nutrição até a criação, instrução e sustento. Mas o pai seria conside- rado o verdadeiro educador. Em Roma já se desenvolvia uma “escola primária” destinada a oferecer alfabetização primária, com ensino de leitura, escrita e cálculo, funcionava em locais alugados ou na casa dos ricos, e para onde se dirigiam as crianças, acompanhadas de um escravo designado e respon- sável pela educação moral da criança, denominado segundo a termino- logia grega, por Paedagogus. As crianças tinham um ensino coletivo e as meninas também frequentavam a escola, num formato de tempo integral, onde tinham ainda exercícios físicos, banho e seguiam métodos que con- sistia em memorização, reprimendas e castigos, como a palmatória. Na Grécia, a sociedade espartana tinha uma infância educada para as virtudes guerreiras, de modo que aos sete anos deidade a criança ficava em poder do Estado, os meninos eram retirados da sua família e encaminhados para escolas-ginásios onde recebiam, até aos dezesseis anos, uma educação de tipo militar, que defendia a obtenção da força e da coragem. Nesse contexto, sua educação ocorria através de leitura e de alfabetização, embora poucos nobres soubessem ler e contar. A infância estava destinada à guerra e havia um desprezo a tudo que não fossem “virtudes” guerreiras, e na ocasião do nascimento do menino, esse seria sacrificado, no caso de não ser robusto. Já em Atenas se apregoava um outro tipo de infância e, conse- quente, forma de educação, regulando, a criança deveria receber a educa- ção no seio da família e nas escolas particulares, de modo a formar, para serem futuros governantes e imprimir neles o amor à pátria, às instituições e aos deuses. De uma cultura de guerreiros, a educação ateniense passou 16 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S para uma cultura de escritas, abandonando seus antigos costumes de an- dar armados, para adotar um estilo de vida menos rústico e mais letrado. A própria Atenas buscou desenvolver uma educação menos rígi- da, mais alegre e humana, propondo a descoberta educativa ateniense e de toda a cultura grega: a “paidéia” que consistia numa pedagogia dos so- fistas, numa espécie de educação filosófica e retórica acerca dos homens e seus problemas, embora privilegiando os meninos. Nesse sentido, a Pai- déia (paidos-criança) buscava criar meninos para a vida adulta, através da poesia, da eloquência e da filosofia, cujo método educativo que se prolon- garia por toda vida, muito para além dos anos escolares do cidadão grego. INFÂNCIA NA IDADE MÉDIA No período da Idade Média (476-1453), a infância era consi- derada como um estágio caracterizado pela inexperiência, pela depen- dência e pela incapacidade de corresponder às demandas sociais mais complexas, predominantemente adultas, embora essa mesma criança fosse vista como um “adulto em miniatura”, ou seja, frequentava e até mesmo, trabalhava nos mesmos locais dos adultos, usava roupas simi- lares e chegava a ser tratada do mesmo modo que o adulto. Pra começar, já bem pouco depois que a criança passava do perí- odo de amamentação, se iniciava na cultura através do trabalho, ajudando o adulto nos serviços e cheia de responsabilidades apesar de seu físico e capacidades mentais. Ou seja, não existiam grandes diferenças entre o adulto e a criança, restando à criança aprender o mundo do adulto através das tarefas e papéis sociais do dia a dia. Existiam casos em que, para aprender tais papéis, eram criadas por outras famílias que as educavam e treinavam em algum ofício útil socialmente e, claro, sob a ótica do adulto. De certa forma, mesmo nascendo numa família, a criança tinha pouco convívio direto com os pais, em termos de comunicação e afeto, passando a realizar essas trocas fora do círculo familiar, através de ou- tros elementos como vizinhos, amos, criados e instituições. Como o Cristianismo atravessou toda a sociedade medieval como sistema de doutrina e de regulação dos costumes de vida, e diante de uma sociedade feudal, os homens possuíam papéis bem delimitados e toda a sociedade era produto da mentalidade cristã, com uma divisão bem clara de classes, de modo que os monges que se dedicavam ao culto e ao estu- do de um lado, e do outro, os escravos, os servos e os conversos, destina- dos ao trabalho. Nesse período feudal, a criança, mais especificamente o menino, ficava na casa paterna até completar sete anos, depois, passava a viver com um nobre que lhe ensinava as artes da guerra e as maneiras da 17 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S paz. Já as filhas dos nobres eram educadas também no início da vida, na casa materna, porém, posteriormente, passavam a viver em casa de famí- lia estranha. Naquela sociedade a menina aprendia a tarefas domésticas, tecer e fiar e ficavam recolhidas até a época do matrimônio. Não havia, portanto, uma separação clara entre o que seria adequado para crianças e o que seria específico da vivência dos adul- tos, o que se pode ver claramente nas roupas retratadas nos quadros franceses daquele período. Podemos observar que a arte medieval trata de temas infantis, fazendo uso de imagens de crianças reproduzindo homens miniatura, como no tema religioso, como por exemplo, onde há uma cena do evan- gelho em que Jesus pede que se deixe vir a mim as criancinhas, (...) as miniaturas que se agruparam em torno de Jesus, oito verdadeiros ho- mens, sem nenhuma das características da infância, de modo que era utilizado o traço da inocência das crianças, mas o corpo e o rosto eram do adulto, a inocência representada na nudez e a criança no tamanho. E mesmo antes, nessas representações religiosas, apareciam os anjos como rapazes bonitos e crianças mal saídas da infância, ou a infância ligada ao ministério da maternidade da virgem e ao culto de Ma- ria, e ainda a alma representada por uma criancinha nua e assexuada. Figura 2: Traje das crianças da França e Alemanha no inicio do Século XVI Fonte: Jean Leclerc, secXVI A obra de Ariès resgata, dentre outras coisas, que as crianças eram tratadas como adultos em tamanho menor, que nem chegavam a ter uma acomodação ou vestimenta própria a elas. Ou seja, esta não sepa- ração remete a uma outra característica deste período: a inexistência do conceito de privacidade, de modo que todos os assuntos e brincadeiras sexuais envolviam crianças e adultos. As crianças de então, participavam 18 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S efetivamente de todos os contextos da vida, como se fossem adultos. INFÂNCIA NO RENASCIMENTO A infância começa a mudar no começo do século XVII, perío- do denominado Renascimento, com uma nova mentalidade acerca de tudo, especialmente em educação, mas ainda com um tipo de ensino marcado pela ausência de um conceito específico para infância. Ainda não havia a instituição escolar e os professores se resumiam a ministrar aulas em grandes lugares públicos, tais como igrejas, mercados, pra- ças, etc., e para um grupo heterogêneo de estudantes das mais diver- sas idades e níveis de conhecimento. Como ainda não havia uma noção de aprendizagem versus es- tágio de desenvolvimento, também não existia uma diferenciação etária e uma consequente separação de conteúdos para sujeitos mais velhos ou mais jovens, resumindo-se a uma verificação do “aprendizado da vida”, com um olhar sobre a convivência direta e cotidiana dos alunos- -aprendizes, de modo rudimentarmente avaliativo. Essa aprendizagem seguiria pela vida, a partir da convivência da criança ou do jovem com os adultos e, sem portanto, qualquer por padrão de educação infantil. Ou seja, nesse período ainda imperava a noção da infância como miniatura do adulto e nos dizeres de Ariès (1981, p. 14): “A criança era, portanto, diferente do homem, mas apenas no tamanho e na força, enquanto as outras características permaneciam iguais” (ARIÈS, 1981, p.14). Nesse contexto do final da Idade Média, decorrer do século XVII, inicia-se o processo de escolarização sociedade, e por meio do surgimento da escola, começa-se a organização de turmas e séries, le- vando a uma separação de crianças dos adultos, quando aquelas eram enclausuradas em espaços, chamados de quarentena. Entretanto, mesmo com o aparecimento dessas instituições, o conceito de infância ainda não era claro e bem delimitado, mas come- çando a mudar, em decorrência da Igreja, da família no processo de escolarização, das descobertas sobre as práticas de higiene e de vaci- nação, que aumentaram a expectativa de vida da população. Ocorria um clima de reforma em toda a cultura, o que ocorreu também na Igreja, quando a criança começou a ser valorizada, o que podeser observado na arte e na iconografia (arte de representar ima- gens) . Nesse contexto, a Igreja associava a imagem das crianças com a de anjos, sinônimo de inocência e pureza divina. Segundo a Igreja, Deus favorece as crianças devido à sua singeleza, que se aproxima muito de sua impecabilidade, impondo uma necessidade de se amar as 19 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S crianças e colocar a educação na primeira fileira das obrigações huma- nas, contrariando a indiferença de outrora. Relacionado a essa redescoberta da criança, a Igreja também tinha intenção de fazer com que as crianças se dedicassem a Cate- quese, onde se aprendia a religião católica e uma preparação para ser novos cristãos, por meio da Primeira Comunhão e Crisma. Nesse mo- mento, se propunha uma educação geral sob os princípios religiosos, quando se deu o início de uma sistematização que vai além do aprender uma atividade do dia a dia. A partir desse momento, tal postura fez com que o final do sé- culo XVII fosse considerado um marco na evolução sobre a concepção da infância, com a origem de uma preocupação com a formação moral da criança e com sua construção como indivíduo, de modo, mesmo não sendo um mero adulto em miniatura, possuía uma fragilidade a se cuidar. Já no século XVIII, as crianças começaram a ser reconhecida em suas particularidades, obtendo o seu próprio quarto, alimentação considerada específica e adequada, ocupando um espaço maior no meio social, e agora a família começava a dar ênfase ao sentimento que tem em relação à criança. A criança é posta em evidência, se torna ‘paparicada’ pela fa- mília e a infância é reconhecida como uma época da vida merecedora de orientação e educação, com fortes preocupações relativas à saúde física e higiene, provocando uma redução da mortalidade infantil, rei- nantes naquele século. O próprio filósofo Rousseau denunciava o trata- mento duro dado às crianças até então, o que despertou para se pensar fatores de cuidado e assistência à criança. Assim, a educação da criança começa se sistematizar e passa a ser estimulada na orientação educacional e na realização dos princí- pios básicos da Igreja Católica, e não mais na estrutura familiar de servir os adultos como se verificava na Idade Média. A Igreja, através das suas escolas, ganha destaque e protagonismo em relação à família, na educação da criança, afinal, se tem uma infância escolarizada. Foi durante a Idade Média que organizou as seis etapas de vida. As três primeiras, que correspondem à Primeira idade (nascimen- to/7 anos), Segunda idade (7aos 14 anos) e Terceira idade (14 aos 21 anos), mas que não eram etapas valorizadas pela sociedade, o que so- mente ocorreria a partir da Quarta idade, a juventude (21 aos 45 anos). Ainda existiam a Quinta idade (a senectude), considerando a pessoa que não era velha, mas que já tinha passado da juventude, e a Sexta idade (a velhice), dos 60 anos até a morte. 20 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S O pintor espanhol Diego Velásquez, retratista oficial da corte espanhola em 1623, pintava imagens de meninos e meninas pequenos, como seus netos ou a Princesa Infanta Margarida, filha do Rei Felipe, de forma a representá-las não como crianças, mas como anões, envergando trajes adultos que primavam pelo des- conforto em nome da imponência. As vestimentas provavelmente impediam os garotos e garotas de se movimentarem livremente. Figura 3: Las Meninas Fonte: Diego Velasquez, 1656 INFÂNCIA NA IDADE MODERNA Sobre os períodos anteriores, alguns teóricos apontam que li- davam com o termo “idade” por não terem uma compreensão organiza- da do termo “infância”, que era relacionada a uma gama de significados. Essas idades estavam divididas em primeira idade que é a infância, onde se “planta os dentes” e que duraria até os sete anos de idade, não falante; a segunda idade, que duraria até os 14 anos de idade; a terceira idade, chamada de adolescência e que poderia durar até os 28 anos ou se estender até os 30 a 35 anos de idade. Nesse sentido, o crescimento duraria até 28 ou 35 anos de idade, enquanto o homem maduro iniciaria sua fase aos 45 anos ou 50 anos de idade (Medeiros, 2018). Como não era convencionalmente definida, em outro momento 21 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S foram propostas algumas definições de idades, a partir de comporta- mentos observados: • Primeiro a idade dos brinquedos, em que crianças brincam com cavalos de pau, bonecas, e pequenos moinhos ou de pássaros amarrados. • Idade da escola, em que os meninos aprendem a ler ou a segurar um livro e um estojo e as meninas aprendem a fiar. • Idade do amor, ou dos esportes da corte e da cavalaria, pas- seios de rapazes e moças. • Idade da guerra e da cavalaria, um homem armado. • Idade sedentária, dos homens da lei, da ciência, o velho sábio barbudo vestido segundo a moda antiga. (Medeiros, 2018) Importante salientar que, para se entender as “idades”, a língua foi um instrumento fundamental para sua compreensão, pois, o Francês não era uma língua rica em expressões, que ajudasse a traduzir esta nova concepção de infância. Os autores criadores de terminologias para infância eram latinos e estes desenvolveram sete temas para infância, das quais no francês só tinham três: enface, jeunesse e vieillesse. Por não existir um sentido adequado ao termo infância, esta não se estende por um longo período que chegara até o século XVII. Deste modo, segundo um calendário das idades do século XVI, aos 24 anos é criança forte e virtuosa, assim acontece com as crianças quando elas têm 18 anos. A longa duração da infância tal como aparecia na língua comum, provinha da indiferença que se sentia então pelos fenô- menos propriamente biológicos, ninguém teria a ideia de limitar a infância pela puberdade. A ideia de infância estava ligada à ideia de dependência: palavras fils, valets e garçons eram também palavras do vocabulário das relações feudais ou senhoriais de dependência”. (Áries 1981, p35-38). Já com a percepção de uma infância, a partir do século XVII na França, os teóricos e estudiosos passam a separar esta criança em primeiro da vida adulta, e depois da vida adolescente, até que esta pas- sasse a ter seu próprio lugar. Portanto, a infância na França contempo- rânea é tanto em terminologia, como compreensão um período cons- truído por uma noção levada pelo imaginário artístico e religioso, no período que se compreende do século XIII e estende até o século XVII. Como vamos notando e diversos estudiosos atestam, a “infân- cia” é um conceito que começou a se desenvolver a partir dos séculos XVI e XVIII, a partir de uma revolução cultural que ocorreu em todo o mundo, e uma consequente “revolução educacional”, que propiciou uma mudança na forma como se enxergava a infância antigamente, com algumas modificações: 1) incentivou a separação de uma parte do processo da vida infantil, como um estágio imaturo, ainda por se desen- 22 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S volver; 2) operou uma separação física da criança que se encontrava na fase imatura para que, submetida aos cuidados de especialistas, se desenvolvesse; 3) conferiu à família a responsabilidade de supervisio- nar esta fase educacional, embora a instituição escolar dividisse esse papel com grande poder. (Medeiros, 2018) Com essa revolução educacional, a partir de elementos-chave como a invenção da prensa de Gutemberg e o movimento de cristiani- zação que estava ocorrendo na sociedade, a Igreja se interessa em que as crianças aprendessem formalmente os preceitos religiosos, aperfei- çoando sua catequese e torna-se grande defensora da escolarização. O próprio desenvolvimento da imprensa favoreceu aescolari- zação e o processo educacional ao difundir obras de autores diversos sobre a infância, e ao criar um diferencial desenvolvimental entre adul- tos e crianças. Outro aspecto desse período é que a escolarização com- pulsória das crianças no século XVIII tornou-se uma forma de ensinar, moralizar e disciplinar. Deste modo, as crianças passam a ser separadas dos adultos e, ao invés receber os ensinamentos de hábitos e profissões pelo conví- vio, são enviadas para as escolas. Claro que, esse envio beneficiava as crianças burguesas, pois, as proletárias ainda permaneciam com suas famílias e tinham que trabalhar e sem acesso à escola. Entretanto, aqui se inicia a delimitação do mundo dos adultos em relação ao mundo infantil, onde a família divide seu poder e papel no processo de educação da criança. E com a evolução da tecnologia no século XIX e com a Revolução Industrial, enquanto algumas mulheres entraram no mercado de trabalho e deixavam de se dedicar exclusiva- mente à família, quase todos os integrantes da família proletária estavam trabalhando, inclusive as crianças. E aqui identificamos uma caracterís- tica das diferenças entre as classes sociais, no que tange ao acesso à escolarização, e que perdura de algum modo até os dias de hoje, em que as crianças ricas estudam, enquanto as crianças pobres trabalham. Se por um lado, as crianças sempre existiram, independentemen- te das concepções que se tinham delas, o estudo histórico de Ariès (1981) destacou que, durante parte da Idade Média, as crianças eram conside- radas como meros seres biológicos, sem estatuto social, nem autonomia. Mas a ideia contemporânea de infância, como categoria social, emerge com a Modernidade e tem como principal berço a escola e a família, como temos sinalizado. Nesse período que, junto com a emergência da escola de massas, ocorre a nuclearização da família e a constituição de um corpo de saberes sobre a criança, além da elaboração de um conjunto de proce- dimentos configuradores de uma administração simbólica da infância. Importante destacar que o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712- 23 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S 1778), em seu livro Emílio ou Da Educação, publicado em 1762, destacou a importância do desenvolvimento natural, espontâneo da criança, como também chamou a atenção às necessidades infantis e às condições de seu desenvolvimento, sendo o primeiro a ver claramente a diferença entre a mente da criança e do adulto. Segundo Rousseau, “a humanidade tem seu lugar na ordem das coisas. E a infância tem o seu na ordem da vida humana”, ou seja, a criança deve ser entendida não como um adulto em miniatura, mas como um ser dotado de características próprias. Essas ideias de Rousseau influenciaram aplicações educacio- nais do reformador suíço Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), que concebia a educação como a única possibilidade de mudança das terrí- veis condições de vida do povo; que a educação deveria ser um processo carinhoso e feliz, no qual as crianças podem se desenvolver de modo natural em um ambiente planejado e adequado. Para Pestalozzi, a família era primordial, mas não é suficiente como agente educador, necessitando do complemento da escola e das demais instituições educacionais, que representam o meio vital e social, no qual a criança deve ser inserida. Deste modo, Rousseau e Pestalozzi foram alguns dos precurso- res, do século dezessete ao dezenove, do reconhecimento dos direitos da criança, e suas contribuições desembocam em outro pensador, Fro- ebel, uma figura fundamental da psicologia e da pedagogia da infância, cujos trabalhos priorizaram a importância do jogo como método caracte- rístico para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças pequenas. A educação aqui, dependeria de respeitá-las em sua individualidade e qualidades dinâmicas e ativas de sua natureza, com a redução do caráter estrito e formal dos procedimentos educacionais e ênfase na atividade, na manipulação de objetos, na liberdade de exploração e expressão. Com a modernidade surgem as normas e prescrições que re- gulam a vida das crianças na sociedade, tais como, a delimitação de lugares, tipos de alimentação, horas de aceite e recusa da criança na participação coletiva, a sistematização da atividade escolar e estudo dos seus traços comportamentais. Ou seja, notamos que as concepções sobre a infância variam historicamente e as crianças estão em contínua mudança, embora se torne preocupação central nos círculos acadêmicos, pedagógicos e fa- miliares constituídos na Modernidade, quando se constrói um discurso científico sobre a infância. Salientamos que, ocorrem movimentos de retrocesso, como no caso do advento a industrialização inglesa e francesa com a sua procura de mão-de-obra, levando mais uma vez, estes que chamamos de crianças, assumirem uma postura de adultas miniaturas, próximo ao antigo estagio medieval. 24 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S A constituição do conceito infância está na transição dos sécu- los XVII para XVIII, quando esta passa a ser definida como um período de ingenuidade e fragilidade do ser humano, que deve receber todos os incentivos possíveis por sua fragilidade e quando se sai do ato de mimar e paparicar as crianças, vistas como meio de entretenimento dos adultos. Entretanto, a infância em uma sociedade moderna contempo- rânea do final do século XX em países como o Brasil, Argentina, pode trazer conceito já definido por uma ciência biológica e psicológica, que é um período de crescimento e desenvolvimento, o ser humano, que vai o nascimento até a puberdade e, portanto, uma época que a criança vive sua fase de meninice e puerícia. O século XIX permitiu que o pensamento de civilidade e moderni- dade acontecesse no Brasil, embora de forma tardia, e influenciasse todo o modelo educacional, tanto a criança, quanto a mulher, foram beneficia- das em relação à importância que lhes foram atribuídas. Destarte, este novo período incentivado pela crescente presença feminina no mercado de trabalho, “é marcado pelo reconhecimento das instituições de educa- ção infantil como dignas e legítimas, como possíveis de fornecer uma boa educação às crianças que as freqüentavam, desde que se atendam aos padrões de qualidade exigidos para isso” (Silva e Carvalho, 2004). Portanto, as novas condições sociais estabelecidas pelas mu- danças provocadas pelo capitalismo, ou por bem melhor dizer, pelas novas mentalidades sociais (sentimento da família, o papel da mulher, sentimento da infância), ofereceram condições e possibilidades à escola- rização da criança e, principalmente, para o prolongamento da infância. Ou seja, as mudanças que iriam marcar as relações sociais, a partir do século XV, com a modernidade, foram oriundas não simples- mente das alterações provocadas pelo novo modelo econômico, mas também pelas novas mentalidades desenvolvidas quanto às concep- ções de família e infância. O novo sentimento da família, ao qual Ariès reafirma, provocaria o novo sentimento atribuído a infância. Por outro lado, segundo (Silva e Carvalho, 2004, p. 19) a modernidade contribuiu para a diluição do próprio sentimento da infância que ela mesma inventou. Deste modo, Neil Postamn argumenta: “o sentimento da infância que acompanha a modernidade estaria desaparecendo”. Em seu pen- samento, aquela específica sensibilidade desenvolvida sobre a infância no início da modernidade estaria desaparecendo neste final de século. Sensibilidade esta caracterizada pela inocência da infância e pelo cuidado da infância pelo adulto. Foi a própria modernidade que diferenciou a criança do adulto é a mesma que insere a criança/trabalhador no mercado de trabalho, sujeitando-os às mesmas condições de “pequeno adulto” apresentadas pelo modelo medieval. 25 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TEM P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Uma das práticas culturais utilizadas nas diversas cultu- ras, como modo de educar a infância, eram os castigos físicos, inclusive a palmatória adotada também nas escolas, além das pal- madas utilizadas pelas famílias. Tema controverso, mas que ajuda a compreender o modo como a infância tem sido tratada ao longo da história e a concepção educativa que tem sido adotada. Esse artigo trata de possíveis repercussões das palmadas na vida de uma criança: Acesse: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesau- de/2018/03/castigos-fisicos-na-infancia-estao-ligados-a-transtor- nos-na-fase-adulta.shtml O REGISTRO VIVO DA INFÂNCIA NA ICONOGRAFIA Todas as culturas desenvolveram técnicas de registros de sua vida cotidiana, através de objetos de artes, desenhos e outros registros icônicos. No caso da infância, mais que registros sistemáticos es- critos, temos na iconografia os maiores registros dos modos que viviam as crianças das diversas sociedades. Philippe Ariès (1981) foi pioneiro no uso de iconografia para a construção da História Social da Família e da Criança, que resultou na construção da ideia de que o “sentimento da infância” teria aparecido na Europa, a partir do século XVIII. Fica como sugestão buscar na internet, em “imagens”, o termo “iconografia da infância”. 26 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2012. Banca: Universidade Estadual de Ijuí-RS. Órgão: Prefei- tura de Santa Rosa – RS. Prova: Professor. Nível: Superior. Em seu livro “Por amor e por força, rotinas na educação infantil”, Maria Carmen Silveira Barbosa define a rotina da infância como: A. produtos culturais criados, produzidos e reproduzidos no dia a dia, que têm como propósito a organização da rotinização. B. algo que modificamos diariamente e que tem o mesmo conceito de cotidiano. C. atividades múltiplas desenvolvidas em uma lógica do simples ao complexo. D. Organização da escola que se organiza por tempos diferenciados, com uma sequência de atividades escolhidas para referência do traba- lho das crianças. E. categoria pedagógica em que os responsáveis pela educação infantil estruturam para, a partir dela, desenvolver o trabalho cotidiano nas ins- tituições de educação infantil. QUESTÃO 2 Ano: 2012. Banca: Universidade Estadual de Ijuí-RS. Órgão: Prefei- tura de Santa Rosa – RS. Prova: Professor. Nível: Superior. Os séculos XIX e XX estabeleceram um corpo de saberes e fazeres que possibilitaram tanto a construção social do conceito de infân- cia como a constituição de instituições de educação infantil e de pedagogias para educá-la e cuidá-la. É considerada núcleo central em que operam essas pedagogias: A. a organização de espaços sociais adequados para a educação e cuidado das crianças. B. o nascimento de um profissional para atuar na educação infantil. C. a seleção de metodologias e de conteúdo. D. a categoria rotina. E. a organização da vida cotidiana das instituições e das pessoas sob a forma de rotina. QUESTÃO 3 Ano: 2007. Banca: Centro de Seleção e de Promoção de Eventos UnB (CESPE). Órgão: Secretaria de Estado de Administração - MT. Prova: Professor. Nível: Superior. Na década de 20 do século XX, o índice de analfabetismo no Brasil chegava a 80% da população. Várias manifestações foram feitas, 27 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S à época, em favor da educação, provocando o surgimento de um movimento que marcou a educação brasileira. Acerca desse movi- mento, conhecido como escolanovismo, assinale a opção correta. A Por influência desse movimento, as ideias positivistas ganharam a simpatia das gerações mais novas de oficiais formados pelas escolas militares, cujo currículo valorizava as ciências exatas em detrimento da tradição humanista. B. Com o movimento da escola-nova, foi aprovada a Reforma Francisco Campos, que instituiu o novo estatuto das universidades brasileiras e a divisão do ensino secundário em dois ciclos, sendo que o último ciclo visava à preparação para o ensino superior. C. Esse movimento, que defende a aplicação do modelo empresarial na escola, baseia-se na racionalização e na produção do sistema capi- talista, sendo um dos objetivos dos teóricos que a defendem adequar a escola às exigências da sociedade industrial. D. Esse movimento introduziu a defesa da escola pública para todos, a fim de que se pudesse alcançar uma sociedade igualitária e sem privilégios. E. Esse movimento se inspirou nas práticas educativas da Idade Média QUESTÃO 4 Ano: 2012. Banca: Universidade Estadual de Ijuí-RS. Órgão: Prefei- tura de Santa Rosa – RS. Prova: Professor. Nível: Superior. Para Sarmento e Pinto (1997), os estudos de Ariès têm o mérito de ter proporcionado a consciência de que aquilo que parecia um fenômeno natural e universal era afinal o resultado de uma cons- trução das sociedades moderna e contemporânea. Para eles: A. as grandes corporações têm tomado conta de garantir às crianças o seu lazer, não importa de que camada social elas provenham. B. o papel do adulto frente ao desenvolvimento infantil, cabendo-lhe proporcionar experiências diversificadas e enriquecedoras, a fim de que as crianças possam fortalecer e desenvolver suas capacidades. C. à medida que foram criadas novas perspectivas educacionais, a par- tir da invenção da infância, a família e a escola criam instrumentos de disciplinarização e gerenciamento, colocando a criança como aluno. D. as relações ocorrem dentro de um contexto histórico e social, no qual a cultura desempenha um papel fundamental, fornecendo ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade. E. a inteligência já é capaz de empregar símbolos e signos, ainda lhe falta a reversibilidade, ou seja, a capacidade de pensar simultaneamente o es- tado inicial e o final de alguma transformação efetuada sobre os objetos. 28 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S QUESTÃO 5 Ano: 2012. Banca: Fundação Professor Carlos Augusto Bittencourt (FUNCAB). Órgão:. Prefeitura de Valença – RJ. Prova: Educador Social. Nível: Médio. A noção de infância como temos hoje é ainda muito recente em termos de história. Dessa forma, pode-se considerar que: A o ato de mimar e paparicar as crianças, vistas como meio de entrete- nimento dos adultos (especialmente da elite), deveria ser extirpado por manter as crianças num estado infantil. B. até o fim da Idade Média, inexistia o conceito de infância como um estágio específico do desenvolvimento do ser humano que deveria re- ceber cuidados especiais por sua fragilidade, distinto da vida adulta. C. o novo lugar assumido pela infância logo após a Idade Média levou a uma rápida extinção do sentido da infância, e, em consequência, crian- ças começaram a ser inseridas no mercado de trabalho. D. depois da Idade Média, crianças passaram a ser vistas como irrele- vantes para os adultos, eram retratadas e vestidas como adultas e, se morressem cedo, podiam ser enterradas em qualquer lugar. E. crianças frequentavam espaços de adultos durante a Idade Média, sen- do excluídas apenas de festas religiosas que diziam respeito a temas se- xuais, como a circuncisão, e outras brincadeiras sexuais comuns na época. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Foi apresentado, como nas Idades Antiga e Média, que a criança fora vista como um “adulto em miniatura”, expressão de Ariès. Argumente quais os problemas se essa concepção se persistisse nos dias e educação atuais. TREINO INÉDITO Dentre as influências do pensamento de Rousseau para a educa- ção está: A. A consideração da criança com sentimentos, desejos e ideias pró- prias de seu momento de vida. B. A ideia de que a criança é um adulto em miniatura e sua educação direciona-se para o seu futuro. C. A organização da atividade escolar comfoco na educação do corpo e dos hábitos, desde os anos iniciais. D. A ênfase no estudo das disciplinas de língua portuguesa e matemáti- ca como base para o aprendizado das demais. E. O foco na formação moral, já que o ser humano, em essência é mau, e a função da escola é educá-lo. 29 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S NA MÍDIA EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA O processo de educação na Idade Média era responsabilidade da Igre- ja. Existiam nesse período medieval escolas que funcionavam anexas às catedrais ou a escolas monásticas que funcionavam nos mosteiros, nesse contexto, a Igreja assumiu a tarefa de disseminar a educação e a cultura no medievo e o seu papel foi preponderante para o nosso legado educacional contemporâneo. A escola no período medieval era dirigida por um cônego, ao qual se dava o nome de scholarius ou scholasticus. Os professores eram cléri- gos de ordens menores e lecionavam as chamadas sete artes liberais: gramática, retórica, lógica, aritmética, geografia, astronomia e música, que mais tarde constituíram o currriculum de muitas universidades. Para acontecer o ensino precisava-se de uma autorização, essa era cedida pelos bispos e pelos diretores das escolas eclesiásticas que, com medo de perderem a influência, dificultavam ao máximo essa concessão. Reagindo contra essas limitações, professores e alunos organizaram-se em associa- ções denominadas universitas, que mais tarde originou a palavra universi- dades. As universidades eram compostas por quatro divisões ou faculda- des. A faculdade de Artes era o lugar onde a educação acontecia de forma mais geral, as faculdades de Direito, Medicina e Teologia trabalhavam o conhecimento de forma mais específica. Os diretores das faculdades eram chamados de decanos e eleitos pelos professores; o decano da Faculdade de Artes era o reitor e representava oficialmente a universidade. Os cursos oferecidos eram em latim e com isso exigia-se do estudante muito empenho e dedicação. O estudo das sete artes liberais era divi- dido em dois ciclos: o trivium e o quadrivium. O primeiro compreendia a gramática, a retórica e a lógica; o segundo compunha-se do estu- do da aritmética, geografia, astronomia e música. Conforme o grau de afinidade, distribuíam-se então os estudantes pelos cursos de Direito, Medicina e Teologia. Os estudantes viviam em um ritmo frenético e as calorosas discussões com a população eram rotineiras. De uma forma geral os estudantes eram de origem humilde e muitos viviam internos em colégios ou internatos que contavam com rígidas formas disciplina- doras estudantis. Com o tempo esses colégios passaram a constituir campos de estudos autônomos, sendo que alguns deles ainda existem, e são renomados mundialmente, como os de Oxford, Cambridge e o de Sorbonne, fundado em 1257 por Rogério de Sorbon, na França. A metodologia de ensino baseava-se na leitura de textos e na expo- sição de ideias feitas pelos professores. As aulas muitas vezes eram animadas quando os debates entre mestres e alunos eram travados em público, discutiam sobre um tema determinado, essas aulas foram de- 30 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S nominadas de scholasticadisputattio. Esse processo de estudo foi muito usado por São Tomás De Aquino e foi chamado de escolástica. A esco- lástica teve seu apogeu no século XIII, o método proporcionou a criação de diversas Universidades por toda a Europa, como as de Paris, Oxford, Cambridge, Salerno, Bolonha, Nápoles, Roma, Pádua, Praga, Lisboa e assim por diante. Sendo que a Universidade de Bolonha ficou célebre por sua faculdade de Direito e Salerno, por sua faculdade de Medicina. Fonte: Brasil Escola Data: 02 de maio de 2019 Autora: Lilian Aguiar NA PRÁTICA BOLSONARO DECRETA FIM DAS FACULDADES DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA: “OBJETIVO É FOCAR EM ÁREAS QUE GEREM RE- TORNO IMEDIATO” Para Bolsonaro, os estudos de humanas não “respeitariam o dinheiro do contribuinte” e a educação deve servir para ensinar “leitura, escrita e a fazer conta e depois um ofício que gere renda para a pessoa”. O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, crava que o argumento utilizado pelo presidente é falso. “Não é o curso universitário que gera recurso econômico. O que gera retorno econô- mico, a partir da formação, é o crescimento econômico. Ou seja, não basta que a pessoa tenha um diploma universitário, é necessário que o mercado de trabalho tenha uma vaga para contratar essa pessoa”, analisa. Fontes e matérias completas: 1: https://www.revistaforum.com.br/bolsonaro-decreta-fim-das-faculda- des-de-filosofia-e-sociologia-objetivo-e-focar-em-areas-que-gerem-re- torno-imediato/ 2: https://www.cartacapital.com.br/educacao/por-que-os-cursos-de-filo- sofia-e-sociologia-incomodam-bolsonaro/ 31 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S A CHEGADA EUROPEIA, A CONSTITUIÇÃO FAMILIAR E A INFÂNCIA Sabemos obviamente que, ao embarcar no Brasil, os portugue- ses se misturaram aos índios e, por ser uma maioria de homens, estavam solteiros ou sem suas esposas, o que os levaram a formar novas famílias com as mulheres nativas, o que originou os mestiços, e que alterou aque- la estrutura familiar típica de Portugal. Essa família de origem europeia se concentrou ao redor do engenho de açúcar, na chamada Casa Grande. Nesse contexto familiar, embora oficialmente a sociedade por- tuguesa no Brasil estivesse baseada na monogamia, a prática era ou- tra, pois, o senhor de engenho se casava aos olhos da igreja com uma mulher na Europa, mas constituía um harém no Brasil. Já as mulheres europeias que eram enviadas ao Brasil tinham um passado “pecamino- A INFÂNCIA NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S 31 32 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S so” que se buscava esquecer e relegar, diante da escassez de mulheres brancas no país, mantinham certos hábitos de promiscuidade. Ou seja, com o aval da esposa, o senhor de engenho mantinha várias concubi- nas nativas e/ou africanas, que estavam sempre muito próximas dele, ou seja, também no interior da Casa Grande, servindo como criadas. A Criança no Brasil Colônia Miúdo e ingênuo. Você sabe porque esses termos eram usados para designar as crianças brasi- leiras durante o período colonial? A professora e doutora em histó- ria pela USP, Mary Del Priori, fala sobre as concepções de criança ao longo do tempo. Vídeo sobre a infância no Brasil Colônia: https://www.you- tube.com/watch?v=INSKaEjHYx4 Importante salientar que nesse período o castigo físico em crian- ças não era nenhuma novidade no cotidiano colonial, afinal fora uma prá- tica introduzida no século XVI, pelos padres jesuítas, para horror dos indí- genas, que desconheciam o ato de bater em crianças, a correção era vista como uma forma de amor. O lema era que “muito mimo” devia ser repudia- do, pois, fazia mal aos filhos. Ou ainda que “a muita fartura e abastança de riquezas e boa vida que tem com ele é causa de se perder” admoestava em sermão José de Anchieta. Ou seja, os vícios e pecados, mesmo co- metidos por pequeninos, deviam ser combatidos com “açoites e castigos”. Na sequência, a partir da segunda metade do século XVIII, com o estabelecimento das chamadas Aulas Régias, a palmatória era o instrumento de correção por excelência: “nem a falta de correção os dei- xe esquecer do respeito que devem conservar a quem os ensina”, cita um documento de época. Mas, ressalvava, endereçando-se aos profes- sores: “e tão somente usarem dos golpes das disciplinas ou palmatórias quando virem que a repreensível preguiça é a culpada dos seus erros e não a rudez das crianças a cúmplice de sua ignorância”.Haviam casos ainda, que as violências físicas, muitas vezes dirigidas às mães, atingiam os filhos e não foram poucas as famílias que se desfizeram deixando entregues ao Deus dará, mães e seus filhinhos: fome, abandono, instabilidade econômica e social deixaram marcas em muitas das crianças. Era algo tão frequente que não são poucas as que encontramos, nos documentos de época, esmolando às portas de igrejas, junto com suas 33 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S genitoras. Um processo crime datado de 1756, movido na vila de São Se- bastião, São Paulo, por Catarina Gonçalves de Oliveira revela imagens de outras violências: a de pais contra filhos. Nos autos, Catarina revela ter defendido seu enteado, uma criança pequena, de chicotadas desferidas pelo pai, ansioso por corrigir o hábito do pequeno de comer terra. As “disci- plinas”, os bolos e beliscões se revezavam com as risadas e mimos. Já nas escolas jesuítas, o lazer ficava por conta do banho de rio e no “ver correr as argolinhas”, tradição lusa antiquíssima que consistia em uma forma de “justa”, em que qualquer se deixava pender de um pos- te ou árvore enfeitados, uma argolinha que devia ser tirada pelo cavaleiro em disparada. “Ensina-mo-lhes jogos que usam lá os meninos do Reino – conta, entusiasmado, o padre Rui Pereira em 1560 – Tomam-nos tão bem e folgam tanto com eles que parece que toda sua vida se criaram nisso”. Brincava-se, também, com miniaturas de arcos e flechas ou com instrumentos para a pesca, com forte influência indígena, sendo que outras brincadeiras eram o jogo do beliscão, o de virar bundaca- nastra, o jogo da peia-queimada além de ritmos, cantos, mímicas feitas de trechos declamados, além de piões, papagaios de papel e animais, gente e mobiliário reduzidos, confeccionados em pano, madeira ou bar- ro, eram os brinquedos preferidos. As primeiras escolas instaladas no Brasil nasceram inte- gradas à instalação da Igreja Católica, portanto, com um fito ime- diato de catequizar e cristianizar o povo colonizado. Obviamente, os padres jesuítas também traziam o aprendizado da língua portu- guesa, o canto e formação agrícola. Filosofia e Teologia eram áreas de formação, mas também enviavam pessoas para estudo na Europa. A Educação no Brasil-Colônia:https://www.youtube.com/ watch?v=MBhHRLPalWk Entretanto, a trajetória da infância e a adolescência no Brasil é marcada por diversas privações e dificuldades, com diversos problemas enfrentados por elas, tais como, maus tratos, abusos sexuais, mortali- dade infantil, miséria, fome, crianças sem teto, sem família, escrava do trabalho, isso tudo sendo causado por negligência do Estado, da família e da sociedade em geral. Para se ter uma ideia da noção da época, para os Jesuítas “A 34 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S puberdade era entendida como o momento da passagem da inocência original da infância à idade perigosa do conhecimento do bem e do mal, em que a criança assumiria o comportamento do adulto”, e daí, enten- diam que a criança deveria receber “luz”, ser “modulada”, antes que atingisse a idade da puberdade, momento esse que já seria corrompida pelos adultos que estão a sua volta. Diante dessa problemática, e para que pudesse “modular” as crianças e evitar que seguissem os costumes dos adultos, os Jesuítas criaram o projeto pedagógico de colonização jesuítica, no qual tinha como missão divulgar a fé cristã e catequizar os indígenas. Assim, as crianças que resistiam a esse projeto, que não queriam participar, os jesuítas diziam que estavam em “tentação demoníaca”, o mau já havia habitado neles. Os jesuítas viam a catequese como forma de “conservar a docilidade e a obediência da criança, mais uma forma de ação que acabava por negar a cultura indígena”. Entretanto, com essa prática pedagógica, aproveitavam tam- bém para explorar o trabalho dos indígenas e as riquezas naturais de suas terras, e mesmo com essa proposta pedagógica para as crianças, os jesuítas enfrentaram um grande problema, que não conseguiam en- quadrar as crianças abandonadas, órfãs e migrantes em seu projeto pedagógico. Para diminuir as situações de abandono e sofrimento na época da Colônia e prosseguindo durante o império, é instalada no Bra- sil uma instituição de origem medieval, chamada a Roda dos Expostos. Segundo Marcílio (1997), o nome roda [dos expostos] provém do dispositivo onde se colocava os bebês que se queria abandonar. Sua forma cilíndrica, dividida ao meio por uma divisória, era fixada no muro ou na janela da instituição. No tabuleiro inferior e em sua abertura externa, o expositor depositava a criancinha enjeitada. A seguir, ele girava a roda e a criança já estava do outro lado do muro. Puxava-se uma cordinha com uma sineta, para avisar a vigilante ou rodeira que um bebê acabava de ser abandonado e o expositor furtivamente retirava-se do local, sem ser identificado. Essa prática da roda de expostos foi uma das instituições brasileiras de mais longa vida, sobrevivendo aos três grandes regimes de nossa História, sendo criada na Colônia, perpas- sou e multiplicou-se no período imperial, conseguiu manter-se durante a República e só foi extinta definitivamente na recente década de 1950. Esta Roda foi uma forma encontrada para que as pessoas le- vassem os bebês não desejados para a roda, sendo garantido o anoni- mato do expositor, e assim, não as deixando jogadas nas ruas, lixeiros, portas de igrejas e casas de outras famílias. O fenômeno de abandonar crianças era muito antigo, na época da Colônia muitas crianças eram largadas por diversos fatores, tais como, falta de recursos financeiros, 35 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S filhos fora do casamento, escravas que tinham filhos com seus senho- res e entre outros, e então, depois que nasciam, as mulheres precisa- vam dar um “fim” na criança, momento em que aconteciam os casos de bebês jogados em becos, lixeiras, nas portas de outras famílias, igrejas. A criação dessas rodas de exposto no Brasil (Salvador, Rio de Janeiro e Recife, século XVIII, sendo que nos séculos posteriores, outras rodas de expostos foram criadas em várias partes do Brasil. A princípio as rodas dos expostos eram mantidas pelo espírito de caridade da popula- ção, de modo que homens proprietários, preocupados com a salvação de suas almas, deixavam em seus testamentos legados e esmolas para as misericórdias, muitos designando-os expressamente à ajuda na criação de expostos, ou para prover dotes às mocinhas desamparadas da casa dos expostos. Ou seja, o funcionamento dessas rodas somente era possível pela ajuda dessas pessoas, que viam nessas crianças o amor cristão. No entanto, a Roda dos Expostos não perdurou por muito tem- po, por volta do século XIX no Brasil essas instituições começaram a ser fechadas, pois, passaram a ser consideradas contrárias aos interesses do Estado, as rodas começam a receber críticas de médicos higienis- tas, que viam esta forma de assistencialismo como responsável pelas mortes prematuras de crianças, e com essas instituições fechadas, as crianças passaram a ser vistas como marginais, largadas à vadiagem nas ruas, o que se exigiu novas providências em alguns discursos e práticas de educação como solução. Segundo Faleiros apud Polleto (2012), no século XVII, o número de crianças abandonadas nas portas das casas, das igrejas, nas ruas e até mesmo em montes de lixo, tornou-se um problema e os moldes de atendimento a essas crianças eram ditados pela Corte, isto é, eram os mesmos adotados em Portugal e em toda a Europa. Nesse período, destaca-se o papel da Irmandade de Nossa Senhora, conhecida popularmente como Santa Casa de Misericórdia, uma instituição própria voltada para a ca- ridade e tratamentos de saúde. A função dessas instituiçõestornou-se muito importante nos cuidados das crianças abandonadas, pois foi encontrada uma “brecha” na Lei dos Municípios de 1828, onde então as câmaras municipais repassaram oficialmente o seu dever de cuidar dos expostos.No império, a função prioritária dessas Casas era a assistência à população pobre, não obs- tante, o objetivo da irmandade não era educar as crianças, mas acolhê-las e encaminhar as que tinham de zero a 3 anos de idade para amas de leite pagas que amamentavam em domicílio ou no próprio hospital. Se ninguém se responsabilizasse por elas, estas retornavam para a casa de assistência e lá permaneciam até os 7 anos de idade, quando eram entregues às câmaras municipais e ficavam expostas, em especial ao trabalho escravo. Também é importante considerar que além das instituições formais, a fase caritativa, ad- mitia “o sistema informal ou privado” de criação dos expostos em casa de fa- 36 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S mília, que, quando essas crianças eram incorporadas a uma família, poderiam representar um complemento ideal de mão de obra gratuita. Ainda no período colonial, havia uma legislação que delimitava a idade do ingresso dessa criança no mundo do trabalho, de modo que, até três anos, quando órfã, a criança ficaria com a mãe: era a chamada criação de leite. Dos sete anos em diante, os órfãos poderiam ser dados por soldada, isto é, preparados formalmente para o trabalho. Já até os 12 anos deveriam ser ensinados a ler e escrever aos que fossem para isso, ou seja, os de condições social superior. Assim, os filhos órfãos de lavradores deveriam ser encaminha- dos para os trabalhos do campo. Do mesmo modo, o filho do oficial mecânico deveria ser preparado para o ofício de mecânico. Existiam ainda um forte tráfico e mercado de crianças escravas no Brasil, onde se chegava a trocar crianças por machados, açúcar e cachaça, inclusive os botocudos forneciam crianças que os portugueses levavam com o pretexto de catequizar. Já com relação às crianças afri- canas, os pequenos representavam cerca de 5% dos africanos trans- portados pelos navios negreiros, diferenciando as crias de pé (um metro de altura) e as crias de peito (bebês de colo), por um Alvará em 1758, determinando impostos distintos para essas criaturas e para os adultos. Duas eram as razões que favoreceram a vinda dessas crianças para o Brasil, seja devido à expectativa de que crescessem e se tornas- sem escravas, e em segundo lugar, para impossibilitar a separação dessa criança da mãe, evitando assim a sua morte. Acerca do treinamento das crianças para o trabalho, elas eram chamadas, de acordo com o ofício que elas desenvolviam. Se o ofício era na roça, recebia um sobrenome (Chico Roça), se era pastorear animais (João Pastor), se era trabalho doméstico (Ana Mucana). Obviamente, o ofício e o treinamento se davam na prática, e desde cedo, paulatinamente, a criança ia tendo o tempo ocupado pelo trabalho, de acordo com a necessidade e as demandas existentes. Durante o período da escravidão, o destino das crianças custa- vam sobreviver aos abortos por maus-tratos, a alta mortalidade infantil em virtude das péssimas condições do cativeiro e os infanticídios pra- ticados pelas mães como forma de livrar seus filhos dessa condição. A INFÂNCIA DOS SÉCULOS XIX E XX Como tratamos acima, a iconografia de um país é uma fonte rica de informações sobre os modos de vida de um determinado povo e, nesse caso, podemos ter acesso aos modos que viviam as crianças, e 37 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S como era a concepção de infância, especialmente no país. Precisamos ressaltar que, devido ao pouco desenvolvimento tecnológico do período, não temos muitos registros fotográficos, preva- lecendo obras de pinturas, mas que apresentam informações ricas so- bre o nosso tema, como é o caso do pintor do século XIX, Debret, onde aparecem muitos negros, e as crianças são representadas de maneira a parecer com os animais domésticos, ao lado das mesas dos senhores, pegando restos de alimentos. Através dessas gravuras já se percebe uma diferenciação de gê- nero, delimitadas nos trajes das meninas e os dos meninos, embora sejam retratados com vestes de adultos, em todas as classes sociais. As vesti- mentas das meninas e das mulheres adultas, sempre esmeradas, pratica- mente não apresentam diferenças. É preciso levar em consideração que as roupas usadas possivelmente não representam as vestes do dia a dia. Já os meninos estão trajados como adultos, usando paletós e gravatas, uniforme militar, especialmente uniforme de marinheiro; inclu- sive, os meninos frequentavam as escolas antes das meninas, desta forma, o uso do uniforme começou a fazer parte da vestimenta deles, especialmente a roupa de marinheiro. Outro dado é que os meninos aparecem atuantes e ativos, transitando pelo espaço público, entre eles, a rua, enquanto as meninas são retratadas dentro de casa. Uma informação importante, especialmente na perspectiva de gênero, nos registros das famílias retratadas, percebe-se uma hierar- quia, onde o homem é o centro e, inclusive quando há meninos e me- ninas, os meninos também são o centro, o que aponta a existência de uma sociedade patriarcal e sexista, além de racista. Figura 4: Uma família brasileira no Rio de Janeiro Fonte: Jean-Baptiste Debret, 1839 38 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Já havia escola nesse período, sendo que os meninos tinham a primazia diante das meninas, além de um conjunto de obras de civilida- des da infância, com observações e conselhos para uso das crianças, abordando as principais circunstâncias da vida em sociedade, delimi- tando as regras de sociabilidade exigidas desde a primeira infância dos pequenos indivíduos. As orientações geralmente são voltadas à con- formação do comportamento infantil, com a intenção de configurar o caráter dos meninos, para desde cedo moldar e formar o bom cidadão, e para as meninas, a boa mãe e dona de casa. Como mencionado, em relação às meninas, podemos obser- var em todas as famílias retratadas, que elas ocupavam um lugar hierar- quicamente inferior ao dos meninos. Quanto ao traje pudemos observar que a maioria delas usa o mesmo traje que as mulheres e, enquanto o chapéu foi um adereço usado pelas meninas brancas e uma marca de classe social, os meninos utilizam uniformes de marinheiros e, desta forma, para os meninos foi construída uma especificidade de infância, anterior a das meninas. Figura 5: Crianças Negras em Imagens do Século XIX Fonte: Militão Augusto de Azevedo, sem data. In: JOVINO, 2010 No final do século XIX, já existia a noção de criança como ser frágil e ingênuo, percebida pelos higienistas e de ordem médica, que trouxe um novo conceito de infância que buscava a preservação da saúde destas crianças, identificando a origem das doenças dentro do sistema familiar herdado da colônia, de modo a satisfazer as exigências da propriedade e as necessidades dos adultos. Tal como no sistema familiar do Brasil Colônia, a criança não tinha espaço de ser, com especificidades e peculiaridades no meio so- cial, mas como um lugar puramente instrumental, e valorizado enquanto elemento posto a serviço do poder paterno, especialmente em termos 39 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S de sucessão na administração dos bens. Nesse sentido, entre o adulto e a criança, as ligações existentes eram da propriedade e da religião, não dando lugar à afetividade paternal ou familiar. De modo similar a outros períodos históricos, por conta da or- dem familiar advinda dos moldes coloniais, os elos que uniam a cadeia das gerações só foram criados quando a família dispôs da representa- ção da criança como matrizfísico-emocional do adulto. Nesse contexto de invisibilidade da infância, concebe-se uma criança incapaz de agir por si própria, em um mundo cercado por perigos, os mais diversos, a quem é vetada uma participação social efetiva, sob a argumentação de que esta necessita de proteção, num modo paternalista das crianças como “homúnculos” ou seres humanos em miniatura, desprovidas de especificidade própria e originalidade. No Brasil de meados de 1860, a maioria das pequenas rodas de expostos já havia desaparecido. Subsistiram, no entanto, as maio- res, as de São Paulo, Salvador, Porto Alegre e Rio de Janeiro, e a filan- tropia surgia como modelo assistencial, fundamentada na ciência, para substituir o modelo da caridade. Nesses termos, à filantropia atribuiu-se a tarefa de organizar a assistência dentro das novas exigências sociais, políticas, econômicas e morais, que nascem com o início do século XX, com entidades que mixavam religiosidade, assistencialismo e experi- mentos das ciências da época. Já na legislação de 1850, os filhos dos escravos começam a ser citados e, em 1871, é noticiada a Lei nº. 2.040, conhecida como Lei do Ventre Livre que, por um lado, estabeleceu uma liberdade con- dicionada à vontade do senhor, mas por outro, constituiu marco impor- tante em direção à Abolição da Escravatura. Nesse período histórico, o Brasil passa por rápidas e importantes transformações decorrentes da urbanização. Nesse contexto, os higienistas se destacam trazendo conhecimentos médicos sobre higiene, controle e prevenção de doen- ças infecto-contagiosas e epidemias. Com sua prática intervencionista, instauram indicativos disciplinares, definindo os referenciais de normal e patológico, diagnóstico e prevenção, doença e cura. Um conjunto de profissionais da saúde começa um trabalho voltado à criança, sobretudo à criança pobre e, em nome da preserva- ção da segurança, delineiam-se atos de aconselhamento e punição às ações que infringiam essas regras de higienização, e as primeiras medi- das adotadas pelo poder público para minimizar a situação das crianças pobres se concretizaram no período do Brasil Império. Esse fato marca a preocupação do governo em retirar do meio social, as crianças que circulavam pelas ruas, o que causava descon- forto à população. 40 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Assim, de acordo com Polleto (2013), surgem os primeiros asilos, mantidos pelo governo imperial, com o objetivo de ministrar o ensino elementar e profissionalizante a esse público, mascarando, dessa forma, o intuito real de segregação dos menores, retirando-lhes do con- vívio social. A exemplo de tal fato é criado em 1875, um internato destinado a recolher e educar meninos de 6 a 12 anos, devendo receber instrução primária e ensino de ofícios mecânicos, denominado Asilo de Meninos Desvalidos. Ainda em Polleto (2013), no final do século XIX, os higienistas introduzem uma nova denominação para menor e menoridade, considerando-os crianças e adolescentes po- bres, ou seja, os abandonados que viviam nas ruas, mercados e praças dos centros das cidades, muitas vezes cometendo delitos.Em 1922, o Estado brasileiro organizou o Primeiro Congresso Brasileiro de Proteção à Infância, incorporando a referência dos asilos como o espaço do menor abandonado e com o passar do tempo estes asilos se tornaram edificações similar a quar- téis - com muros altos, muita disciplina, isolamento da criança, uniformes se- veros - sendo firmados como casas correcionais.Neste período, o país teve um enorme crescimento de entidades privadas, vinculadas à Igreja Católica, destinadas à atenção aos órfãos, abandonados e delinquentes, com o intuito de prepará-las para o trabalho e ensinar doutrinamentos sobre a moral. Em 1923 foi criado o primeiro Juízo de Menores do Brasil1 e, em 1924, foi regu- lamentado o Conselho de Assistência e Proteção dos Menores, que teve sua consolidação, através do Decreto nº. 17.943-A, apenas em 1927. Apenas em 1927, período em que vários tratados internacio- nais estabeleceram novas regras de convivência entre países membros da Sociedade das Nações, e um dos resultados desses tratados foi a aprovação de uma Declaração dos Direitos da Criança, na conferência de Genebra, em 1921, o Brasil decreta o que veio a ser a primeira in- tervenção de caráter oficial e sistematizado na vida dos meninos e me- ninas em situação de exclusão, ou seja, o Código Mello Mattos –, mais conhecido como Código de Menores de 1927. Nesse período, ocorre uma cisão profunda na assistência, foi a constituição de duas categorias que assumem características independentes: o menor e a criança. Duas categorias que vão ser alvo (s) de políticas diversas, situação que adquire maior nitidez na era Vargas com a criação do Serviço de Assistência a Menores e do Departa- mento Nacional da Criança, inaugurando a Política de Proteção à infância, à adolescência e à maternidade, reforçando depois com a atuação da LBA [Legião Brasileira de Assistência, criada pela primeira dama Darcy Vargas em 1942]. O menor permanece na esfera policial-jurídica, sob controle do Ministério da Justiça e a criança é exclusividade da esfera médico-educacional, cujas ações 41 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S são coordenadas pelo Ministério da Educação e Saúde. (RIZZINI, 1995,p. 298). Na sequência, mas seguindo a perversa tradição legal e de as- sistência ao menor de todo o período histórico anterior, tem-se em fins da década de 1970 a revisão e substituição do antigo Código Mello Mattos de 1927, nascendo mais uma vez, por decreto, o que ficou conhecido então como Código de Menores de 1979. Este Código, que surge sob o auspício da ditadura militar pós-1964, período em que a questão do menor também é alvo freqüente de intervenções arbitrárias do Estado, pautadas na Doutrina de Segurança Nacional, quando o menor, a partir dessa ótica, era encarado como alvo fácil e, como tal, deveria ser tratado. Neste entendimento, suas necessidades eram desconsideradas. Ele não era ouvido, mas arbitrariamente introduzido em espaços determinados para, juntamente com outros menores, ser tratado pela prática das ‘re’ – ressocialização, reeducação, reintegração. Diante da metodologia das ‘re’, o tratamento tinha um caráter reformista e modernizador. Essa longa realidade mudou em moldes próximos ao nosso, so- mente a partir dos anos de 1960, que começam fundas mudanças na concepção e formas de assistência às crianças abandonas. No ano de 1964, o governo militar introduziu, mediante a Lei 4.513 de 1º de dezem- bro de 1964, a Política Nacional do Bem - Estar Social do Menor, cabendo a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) sua execu- ção. Seus objetivos eram cuidar do menor carente, abandonado e delin- quente, cujos desajustes sociais se atribuíam aos desafetos familiares. Em vários Estados foram instaladas as FEBEM´s (Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor) que tinham como objetivo, subs- tituir os antigos "Aprendizados de Menores", para adequar a assistência que antes era quase exclusiva da Igreja, como exemplo as rodas dos expostos e as casas de misericórdia. Os Juizados passaram a encami- nhar as crianças órfãs ou abandonadas para essas fundações, e que lá ficavam esperando ser adotadas, enquanto recebiam um ótimo tra- tamento e uma boa orientação pelas saudosas "damas de caridade", bondosas senhoras que se dedicavam voluntariamente. Em 1930, a política adotada enfocava a família como elemen- to participativo no desenvolvimento da criança e do adolescente, e a sociedade como responsável pela garantia do direito de proteção aos mesmos, isentando assim, o Estado de qualquer responsabilidade. Ain- da assim, até 1935, menores apreendidos nas ruas, independentes das causas, eram recolhidos aos abrigos de triagem do Serviço Social de Menores, onde haviaseparação por idade. Nenhuma outra característi- ca valorizada, salvo quando expressa determinação judicial. Com a necessidade da elaboração de um Código que disci- 42 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S plinasse as condutas passíveis de penalização de crianças e adoles- centes, foram instituídas diversas organizações para o atendimento à infância e à juventude. O governo federal constituiu em 1940 o Departa- mento Nacional da Criança. Em 1941, criou o Serviço de Assistência a Menores (SAM) através do Decreto n°. 3.799, subordinado ao Ministério da Justiça, possuindo um caráter correcional-repressivo, e que adotava internações, assemelhando-se a um sistema penitenciário. Em 1942, foi criada a Legião Brasileira de Assistência (LBA) que inicialmente teve a finalidade de ajudar, especificamente, as famílias dos soldados envia- dos a Segunda Guerra Mundial. Ainda nesta década, representando um movimento internacio- nal de reconhecimento da relevância da questão da infância, a Organi- zação das Nações Unidas (ONU), criou em 1946, o UNICEF2 , que dois anos após sua criação, instala-se no Brasil. Essa Fundação liderou e apoiou algumas das mais importantes transformações na área da infân- cia e da adolescência no país. Já com a Constituição Cidadã de 1988, com a qual foram in- seridos os Direitos Internacionais da Criança. Em 1990 o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) vêm para garantir os direitos das crianças e adolescentes, como consta no art. 4º o qual determina que é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Pú- blico assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e co- munitária, entre outros mais que asseguram a criança e adolescentes de ter seu desenvolvimento na sociedade em que vive. A INFÂNCIA NO PÓS-ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completará 29 anos e o Brasil foi um dos primeiros países a organizar uma legislação que seguisse os princípios da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, criando em 13 de julho de 1990 o Estatuto. Desde que foi criado, o ECA vem se consolidando como o principal instrumento de construção de políticas públicas para a promoção e garantia de direi- tos de crianças e adolescentes. De acordo com o Estatuto, nenhuma criança ou adolescente pode sofrer maus tratos: descuido, preconceito, exploração ou violên- cia. Os casos de suspeita ou confirmação de maus tratos devem sem- pre ser comunicados a um Conselho Tutelar, órgão ligado à prefeitura e formado por pessoas da comunidade. 43 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Segundo o ECA, é considerada criança o cidadão que tem até 12 anos incompletos. Aqueles com idade entre 12 e 18 anos são ado- lescentes. O ECA define que crianças e adolescentes têm direito à vida, saúde, alimentação, educação, esporte, cultura e liberdade. Esses cida- dãos têm direito, ainda, ao atendimento prioritário em postos de saúde e hospitais e devem receber socorro em primeiro lugar no caso de aciden- te de trânsito, incêndio, enchente ou qualquer situação de emergência. Entre os principais pontos da lei, está o princípio de proteção integral, que determina como dever da família, da sociedade e do Esta- do em promover acesso prioritário e irrestrito à justiça, saúde, alimen- tação, educação, esporte, cultura e liberdade. Abaixo, faremos uso far- tamente de um texto da Fundação Telefônica (2016) que merece ser apresentado na íntegra. Lembrando o início da década de 90, veremos um período em que as organizações sociais e vários profissionais engajados na luta pe- los direitos da criança, comemorarem conquistas. Já refletindo sobre as mudanças entre o Código de Menores e o ECA, podemos afirmar que o ECA foi elaborado com a participação dos movimentos sociais. O cará- ter participativo deste processo é uma primeira e importante diferença. O protagonismo da sociedade se impõe pela expressão de seus interes- ses. É a democracia, também recentemente conquistada, se revelando pela prática da participação popular. É a proposição de nova ordem jurídica a partir da proposta de mudança de mentalidade da sociedade em relação às suas crianças e adolescentes. Uma segunda mudança que merece destaque é o caráter uni- versal dos direitos conferidos. Reside no reconhecimento legal do direi- to de todas as crianças e adolescentes à cidadania independentemente da classe social (Pino, 1990). Enquanto o antigo CM destinava-se so- mente àqueles em “situação irregular” ou inadaptados, a nova Lei diz que TODAS as crianças e adolescentes são sujeitos de direitos. Eis, no meu ponto de vista, uma mudança de paradigma. No Código, havia um caráter discriminatório, que associava a pobreza à “delinquência”, encobrindo as reais causas das dificuldades vividas por esse público, a enorme desigualdade de renda e a falta de alternativas de vida. Essa inferiorização das classes populares continha a idéia de norma, à qual todos deveriam se enquadrar. Como se os mais pobres tivessem um comportamento desviante e uma certa “tendência natural à desordem”. Portanto, inaptos a conviver em sociedade. Natu- ral que fossem condenados à segregação. Os meninos que pertenciam a esse segmento da população, considerados “carentes, infratores ou abandonados” eram na verdade, vítimas da falta de proteção. Mas, a norma lhes impunha vigilância. 44 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Além disso, o antigo Código funcionava como instrumento de controle, transferindo para o Estado a tutela dos “menores inadapata- dos” e assim, justificava a ação dos aparelhos repressivos. Ao contrário, o ECA serve como instrumento de exigibilidade de direitos àqueles que estão vulnerabilizados pela sua violação. O reconhecimento da criança e do adolescente como sujeitos de direitos, e não mais como simples portadores de carências (Cos- ta,1990), despersonaliza o fenômeno, e principalmente, responsabiliza toda sociedade pela criação das condições necessárias ao cumprimen- to do novo direito. Isso não significa negar a relação de dependência das crianças aos adultos e nem a responsabilidade que os últimos têm quanto ao desenvolvimento dos primeiros. Contudo, significa impedir a ocorrência daquilo que, nesta relação, traz a marca do autoritarismo, da violência e do sofrimento (Teixeira, 1991). Ao assumir que crianças e adolescentes são “pessoas em desenvolvimento”, a nova Lei deixa de responsabilizar algumas crianças pela irresponsabilidade dos adultos. Agora, TODOS os adultos devem assumir a responsabilidade pelos seus atos em rela- ção a TODAS as crianças e aos adolescentes. A mudança na referência nominal também contém uma dife- rença de paradigma. A expressão “menor” é substituída por “criança ou adolescente” para negar o conceito de incapacidade na infância. O conceito de infância ligado à expressão “menoridade” e contém em si a idéia de não ter. Ser “menor” significa não ter dezoito anos e, portanto, não ter capacidades, não ter atingido um estágio de plenitude e não ter, inclusive, direitos. O paradigma evolucionista aqui revelado funda- mentava a teoria de desenvolvimento infantil desenvolvida a partir das competências específicas dos adultos. Com a formulação do ECA inicia-se um debate para compre- ender as competências e capacidades da população infanto-juvenil. O paradigma muda, os menores passam a ser denominados como crian- ças e adolescentes em situação peculiar de desenvolvimento. Crianças e adolescentes passam a ser vistos pelo seu presente, pelas possibili- dades que têm nessa idade e não pelo futuro, pela esperança do que virão aser. Isto significa trazer à tona a positividade do conceito de infância, que é marcada pela PROVISORIEDADE E SINGULARIDADE. Uma constante metamorfose. Um ser que é processual. Neste ponto, o ECA propõe um reordenamento institucional. Rompe com práticas fundadas na filantropia ou caridade e institui uma nova ordem, onde os direitos das crianças geram responsabilidades à família, ao Estado e à sociedade. Responsabilidades pela criação e im- plementação das políticas sociais relativas a esses direitos. 45 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS DA INFÂNCIA EM DIVER- SAS CULTURAS E PERÍODOS As crianças egípcias brincavam com bonecas, soldadi- nhos de brinquedo, animais de madeira, bola, bolas de gude, pião e junta ossos (que foram lançadas como dados). Na Grécia Antiga, quando os meninos não estavam na es- cola e as meninas não estavam trabalhando jogaram jogos de bola com bexigas de porco inflado, piões, bonecas, cavalos modelo com rodas, aros e cavalos de balanço. Crianças romanas brincavam com bonecas e aros de ma- deira ou de barro. Eles também jogavam jogos de bola e jogos de tabuleiro. As crianças do século 16 ainda brincavam com bonecas de madeira. Eles também tocaram copo e bola (a bola de madeira com um copo de madeira na extremidade do cabo. Você tinha que balançar o punho e tentar pegar a bola no copo). No período moderno apareceram os brinquedos indus- triais a serem produzidos em massa e tornaram-se gradualmente mais barato. John Spilsbury fez o primeiro quebra-cabeça em 1767. Ele pretendia ensinar geografia cortando mapas em pedaços, mas logo as pessoas começaram a fazer quebra-cabeças para o entre- tenimento. Meninas vitorianas de classe média brincavam com bone- cas de madeira ou de porcelana. Elas também tinham casas de bonecas, lojas de modelo e cordas de pular. Já as brincadeiras de roda permearam diversas culturas e eras. Acesse o link para saber mais: https://www.portalsaofran- cisco.com.br/historia-geral/historia-dos-brinquedos 46 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2015. Banca: FCC . Órgão: DPE SP. Prova: Pedagogo Nível: Superior. O acesso e a qualidade da educação da escola a) Vêm permitindo a inclusão de todos os alunos na escola, mesmo os com deficiência, do mesmo modo que estimula a participação em olim- píadas e competições visando à preparação para o mercado competitivo b) estão sendo garantidos, desde 2007, pelos dados de desempenho das escolas indicados pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), permitindo, assim, a participação e a interferência dos pais no trabalho pedagógico dos professores e na gestão da escola c) dependem da competência técnica dos professores e do compromis- so destes profissionais em relação a um ensino de qualidade, assim como, da eficiência da equipe gestora da escola d) resultam da participação e da possibilidade de democracia nos me- canismos de gestão educacional e que estes mecanismos sejam igual- mente pautados por relações democráticas cotidianas, no interior da escola, e entre a escola e a comunidade e) dependem do estímulo e responsabilidade dos pais no acompanha- mento dos estudos de seus filhos, bem como a realização conjunta das lições de casa de seus filhos, dando retorno aos professores sobre o rendimento escolar. QUESTÃO 2 Ano: 2015. Banca: FCC . Órgão: DPE SP. Prova: Pedagogo Nível: Superior. A escola é um dos grandes agentes formadores e transformado- res de mentalidades. O preconceito de gênero, que gera discrimi- nação e violência contra as mulheres, se expressa no ambiente educacional de várias maneiras, como conteúdos discriminatórios e imagens estereotipadas da mulher que são ainda reproduzidos em materiais didáticos e paradidáticos, em diferentes espaços e contextos educacionais. Para a inversão desse quadro, é preciso I. ampliar e melhorar a qualidade do atendimento educacional, in- cluindo a valorização profissional dessa parcela da população. II. aumentar as taxas de matrícula feminina em todos os níveis e modalidades de ensino. III. definir as profissões tipicamente femininas e as tipicamente masculinas na organização da educação superior. 47 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S IV. promover ações afirmativas. Está correto o que se afirma APENAS em a) I e III. b) II e IV c) III e IV d) I, II e IV e) I, II e III. QUESTÃO 3 Ano: 2014. Banca: FAFIPA. Órgão: Prefeitura de Maria Helena PR. Prova: Professor Nível: Superior. Conforme os estudos de Philippe Ariès sobre a concepção de in- fância na Idade Média, é CORRETO afirmar: a) Havia preocupação com a proteção integral e o desenvolvimento das crianças conforme as particularidades dessa faixa etária b) As crianças possuíam vestimentas próprias e brinquedos e brincadei- ras adequadas à sua idade c) O sentimento de infância começou a desaparecer, pois estas tiveram que abandonar suas brincadeiras para ingressarem no mundo adulto d) A infância não era uma categoria socialmente reconhecida, pois as crianças se confundiam com as demais pessoas nas tarefas adultas. e) havia uma preocupação com sua dignidade e direitos QUESTÃO 4 Ano: 2012. Banca: EDUCA. Órgão: Prefeitura de São José de Sabu- gi PB. Prova: Professor DE Educação Básica. Nível: Superior. Segundo o Artigo 4º da Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Ado- lescente), é “dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.” Analise os itens seguintes: I. Primazia de receber proteção e socorro na circunstância exclusi- va de um acidente, seja de que natureza for. II. Precedência de atendimento nos serviços públicos ou de rele- vância pública. III. Preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas. IV. Destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacio- nadas com a proteção à infância e à juventude. São prioridades que devem ser garantidas à criança e ao adoles- 48 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S cente o que está exposto nos itens a) I e II. b) I, II e III. c) II, III e IV. d) I, III e IV e) Todos QUESTÃO 5 Ano: 2006. Banca: CETRO. Órgão: Prefeitura de Piedade SP. Prova: Auxiliar de Professor de Educação Infantil-Prefeitura de Piedade SP. Nível: Médio. Uma nova pedagogia de Educação Infantil voltada para crianças de 0-6 anos, segundo a legislação educacional brasileira, pós-1988, caracteriza-se por ser a) escolarizante (centrada na professora, alfabetizante, seriada, com matérias/disciplinas, etc) b) assistencialista; a criança nessa faixa etária necessita de cuidados c) higienista e maternal d) adultocêntrica e) o cuidar e o educar QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Foi abordado que a infância no Brasil já foi considerada força de traba- lho e produto de mão de obra barata, embora na atualidade isso seja questionado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Disserte sobre a que se deve àquela prática antiga e a atual. TREINO INÉDITO (Adaptado) Ano: 2006. Banca: CETRO. Órgão: Prefeitura de Piedade SP. Prova: Auxiliar de Professor de Educação Infantil-Prefeitura de Piedade SP. Nível: Médio. Assinale a alternativa correta em relação à afirmação “Pessoas são pessoas através de pessoas” dita por R. Rossetti-Ferreira. a) A criança é reflexo do meio em que vive e com quem aprende. b) A educação depende de um “ensinante” para a criança “aprendente”. c) A sociedade se forma através do conjunto de transformações socioló- gicas ocorridas em seu interior. d)A criança é vista como protagonista; não um ser passivo que espera que a eduquem. e) O ser humano é um ser histórico e socialmente integrado a um am- biente, sendo, portanto, fruto do mesmo. 49 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S NA MÍDIA O argumento que “trabalho enobrece” é usado por muitos para defender que crianças e adolescentes trabalhem. Mas, é preciso observar que ele não leva em conta os impactos e as consequências que estão sujeitos os milhões de meninos e meninas que trabalham. Adultos e crianças são muito diferentes fisiológica e psicologicamente. Na infância, a criança en- contra-se num processo grande e muito importante de desenvolvimento. Muitas vezes o que acontece na vida dela pode gerar impactos perma- nentes. Os impactos variam de acordo com a criança, com o trabalho que exerceu, com a aceitação sociocultural, entre outros pontos. Muitas dessas crianças e adolescentes estão perdendo a sua capacidade de elaborar um futuro. Isso porque podem desenvolver doenças de trabalho que os incapacitam para a vida produtiva, quando se tornarem adultos – uma das mais perversas formas de violação dos direitos humanos. Além disso, muitos deles não estudam, não têm direito a lazer e a um lar digno e são jogados à sorte, sem perspectiva de vida futura. São meninos e meninas coagidos a trabalhar em atividades que envolvem riscos físicos e psicológicos, podendo os impactos serem irreversíveis. Fonte: Fundação Telefônica Data: 02 de dezembro de 2016 Leia a matéria na íntegra: http://fundacaotelefonica.org.br/promenino/ trabalhoinfantil/impactos-e-consequencias/ NA PRÁTICA DOCUMENTO “SITUAÇÃO DA INFÂNCIA NO BRASIL”, DO UNICEF Se levarmos em conta as tristes estatísticas relativas à infância e à adoles- cência no país, os 5.465 inscritos no Cadastro Nacional de Adoção podem até se considerar em condição melhor do que tantos outros que formam um contingente de quase 60 milhões de brasileiros abaixo dos 18 anos. O relatório publicado em 2010 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) revelou que 38% dos adolescentes brasileiros viviam em situação de pobreza, ¬percentual superior à média da população (29%). Os riscos e sofrimentos fazem parte da rotina de uma parcela conside- rável dessa população, segundo o documento Situação da Infância no Brasil, do Unicef. Um total de 2,1 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 15 anos eram vítimas de trabalho infantil. Em relação à violência sexual, dados de 2008 mostram que, de um total de 12.594 casos regis- trados, 8.674 ocorreram na faixa etária de 7 a 14 anos. Em 2009, ainda conforme o mesmo relatório, existiam 16.940 adoles- centes cumprindo medidas socioeducativas com restrição de liberdade. Entre 1998 e 2008, 81 mil brasileiros entre 15 e 19 anos foram assassi- nados. Um em cada sete adolescentes entre 15 e 17 anos está fora da 50 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S escola. Um dos problemas mais sérios da educação no país — aborda- do pela edição 14 da revista Em Discussão! — é a distorção idade/série, que atinge de forma mais intensa justamente essa faixa etária. Na avaliação das Nações Unidas, a gravidez na adolescência “é um fe- nômeno que pouco se alterou na última década, tendo inclusive aumen- tado nos anos mais recentes para a faixa etária de 10 a 14 anos”. É uma das duas principais razões para o abandono escolar dos adolescentes, ao lado da necessidade de trabalhar. Realizada em todas as capitais e cidades com população superior a 300 mil habitantes, a 1ª Pesquisa Censitária Nacional sobre Crianças e Ado- lescentes em Situação de Rua, resultado de convênio entre a Secreta- ria de Direitos Humanos e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável (Idest), revelou, em março de 2011, que havia quase 24 mil crianças e adolescentes vivendo nas ruas, 71,8% do sexo masculino e um quarto deles com menos de 11 anos de idade. Por fim, levantamento do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), em 2003, mostrou que 86,7% das crianças abrigadas em institui- ções de acolhimento têm família e 58,2% mantêm vínculos com os pa- rentes, mas as principais causas para que elas acabem nos abrigos são a incapacidade financeira dos pais ou o abandono puro e simples. Metade dos 44 mil abrigados do país está nessa situação há pelo menos dois anos. Fonte: https://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/adocao/ realidade-brasileira-sobre-adocao/documento-situacao-da-infancia-no- -brasil-do-unicef.aspx PARA SABER MAIS Filme sobre o assunto: Documentário que articula trabalho juvenil sem exploração e aprendiza- gem profissional: No documentário produzido pela TV TST, seis jovens aprendizes de di- ferentes cidades do país compartilham as histórias de vida e como o programa de aprendizagem abriu a possibilidade de um futuro profissio- nal bem-sucedido e marcado por oportunidades. Acesso: https://www.youtube.com/watch?time_continue=703&v=8S4T- 8DRWEVI Artigo sobre história da infância e trabalho no Brasil, e suas consequên- cias: http://periodicos.unesc.net/amicus/article/viewFile/520/514 51 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S SUBJETIVIDADE A Psicologia como campo do conhecimento tem se constituído como área do conhecimento científico só muito recentemente (final do século 19), como Ciência e não mais ramo da Filosofia, desenvolvendo desde 1875, quando Wilhelm Wundt criou o primeiro Laboratório de Ex- perimentos em Psicofisiologia, em Leipzig, na Alemanha. Deste modo, ao se criar a Psicologia como ciência, havia uma tentativa de desligamento de ideias místicas e religiosas (tal como a existência de uma alma, por exemplo) e na defesa da existência de um ser humano autônomo. Mas bem antes de haver uma Ciência organizada, já existiam “ideias filosóficas” sobre o ser humano e sobre temas estudados atual- mente em Psicologia. Na Grécia, as 'coisas do espírito', que atualmente nos referimos a temas psicológicos, eram atribuídas à filosofia e à arte, TEMAS DE INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S 51 52 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S cabendo aos filósofos gregos uma primeira tentativa de sistematizar uma Psicologia, tanto que o próprio termo “psicologia” vem do grego psyché, que significa alma, e de logos, que significa razão. Há, portanto, uma diversidade de objetos porque os fenômenos psicológicos são tão diversos, que não podem ser acessíveis ao mesmo nível de observação e, portanto, não podem ser sujeitos aos mesmos padrões de descrição, medida, controle e interpretação: por isso há também uma diversidade metodológica (Schultz e Schultz, 1992) Deste modo, a Psicologia seria uma forma particular, específica de contribuição à compreensão da totalidade da vida humana, ao estudar: - O homem em todas as suas expressões, as visíveis (nosso comportamento) - As invisíveis (nossos sentimentos) - As singulares (porque somos o que somos) - As genéricas (porque somos todos assim) Dessa forma, estuda o homem-corpo, o homem-pensamento, homem-afeto, homem-ação e tudo isso está sintetizado no termo “sub- jetividade”. E nesse caso, a subjetividade é a síntese singular e individu- al que cada um de nós vai constituindo conforme vamos nos desenvol- vendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural. É ainda, o mundo de ideias, significados e emoções, construído internamente pelo sujeito, a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica. É também fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais. (Schultz e Schultz, 1992) Deste modo, no estudo da Subjetividade, a Psicologia busca investigar o homem em todas as suas expressões, asvisíveis (nos- so comportamento) e as expressões humanas invisíveis (nossos senti- mentos), as expressões humanas singulares (porque somos o que so- mos) e aquelas expressões humanas genéricas (porque somos todos assim), ou mesmo a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural. De outro modo, a subjetividade é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar e fazer de cada um, e a compreensão desse con- ceito contribui para um entendimento daquilo que tem se constituído em “Infância” na contemporaneidade, de modo que o profissional de educa- ção saiba dessa dimensão mais profunda desse ser em desenvolvimento. A educação da infância na contemporaneidade exige essa compreensão, de modo a articular uma teia de conceitos, onde se per- ceba a relação com os temas contemporâneos a serem detalhados na sequência, se relacionam com a subjetividade infantil e que torna mais complexa a intervenção educacional na atualidade. 53 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Nesse contexto, a Psicologia da Educação e da Aprendizagem tem se debruçado sobre a infância e traz importantes colaborações para uma atuação na contemporaneidade junto à infância. A psicologia da aprendizagem contribui de modo significativo na prática do professor, seja na sua formação nas relações sociais no trabalho, nas demandas discentes e inclusive na participação da família na escola. Considerando que a função principal da escola é a construção do conhecimento, e que o papel do professor é ensinar e o do aluno é aprender, a psicologia da aprendizagem contribui neste processo do fa- zer pedagógico, especialmente no processo de ensino-aprendizagem. Importa que a atual infância que só há ensino quando há apren- dizagem, do mesmo modo que a aprendizagem demanda o ensino. Deste modo, a psicologia da aprendizagem contribui com estratégias, instrumentos e recursos para que o professor possa manejar o seu ato pedagógico, fazendo a figura de mediador de aprendizagem. Essa mesma psicologia ajuda ao professor a repensar a sua pró- pria visão de mundo e suas concepções, de modo a esses elementos não tornarem dificultadores do processo de ensino-aprendizagem a partir de preconceitos paralisantes. Outro elemento dificultador que pode poderá ser repensado à luz da psicologia da aprendizagem, por ser por exemplo, a concepção docente de aluno e do modo que se aprende: o aluno não é um mero receptáculo e aprender não apenas memorizar, por exemplo. Mesmo a relação professor-aluno já modificada na atualidade, aponta um desafio ao docente que não é mais um ditador e detentor da verdade com plenos poderes de decisão unilateral, mas considerando o aluno como sujeito de seu próprio aprendizado, além de cidadão a ser respeitado. Nesse estado de novas modalidades de adulto-criança ou pro- fessor-aluno, o esse não se encontra mais isolado, mas numa rede de aprendizagem que deve considerar as diversas mídias atuais, com forte questionamento dos métodos didáticos tradicionais, onde o professor era central, mas agora tendo que se tornar um mediador e parceiro de uma aprendizagem cooperativa e colaborativa. Ainda nessa linha de aplicação da psicologia na relação pro- fessor-aluno, a Psicologia Educacional se ocupa de experiências reais de professores, seja por exemplo ao pensar métodos que permitem aos alunos permanecer realizando uma tarefa, mediante um programa de uso de reforçadores, seja ao relacionar atividades escolares com outros elementos vida real, a busca de estratégias criativas para se aprender e desenvolver a partir dos contextos, dos tipo de alunos, das circunstân- cias históricas e sociais do entorno etc. Nesse sentido, a educação exige um desenho que contemple a 54 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S diversidade dos discentes, o que leva a implicações curriculares estra- tégicas, de modo a tratar dos grandes temas e desafios contemporâne- os, como Mídias, Consumo, Tecnologia, Gênero, Afetividade e Sexuali- dade, dentre outros. Será o que abordaremos a seguir. DIVERSIDADE E IMPLICAÇÕES CURRICULARES Um grande desafio da sociedade e que emerge na sala de aula, convocando todos os profissionais de educação, são as relações inter- pessoais, as diferenças constitutivas de cada sujeito, e nessa diferença os tipos de sujeitos com demandas diferentes de atenção psicopeda- gógica de aprendizagem e, finalmente, o lugar docente nesse contexto. O contexto escolar é bem conhecido, com salas de elevado número de alunos, especialmente com aqueles que não acompanham desenvolvimento e rendimento da maioria da classe. Ou seja, uma clas- se ou grupo de alunos nunca serão homogêneos, mas marcados por di- versas diferenças: ocorre que esses sujeitos minoritários não recebem a devida atenção, se tornam desestimulados e desistem da escola. Reconhecer as diferenças inerentes a cada aluno e que nem todas as pessoas têm os mesmos interesses, habilidades ou capacida- des, e mais, que nem todos aprendem da mesma maneira, é um gran- de desafio para o docente sobre como articular o manejo do conteúdo prescrito diante desse diversos tipos de alunos, com suas inteligências e modos próprios de aprender. E aqui reside uma de nossas provocações relacionadas às cren- ças paralisantes que mencionamos acima: a ideia de que existe apenas um tipo de inteligência, como se esse construto não fosse complexo e múltiplo. A tradição que se cristalizou em nossa sociedade é que tal tipo, por exemplo, do sujeito hábil em cálculos matemáticos ou reflexões filo- sóficas é considerada uma pessoa privilegiadamente inteligente. Nesse caso, há todo um conjunto de metodologias que se orga- niza em torno de sujeitos como este, privilegiando-lhes a aprendizagem em detrimento de outros que possuem outras formas de inteligência e, portanto, outros meios de aprender. Deste modo, o sistema educacional acaba privilegiando um determinado tipo de sujeito-aprendiz, desconsi- dera as diferenças e acaba discriminando aquele diferente que, por fim, acaba desistindo da educação formal. Se constitui um grande desafio para os professores enfrentar esse problema, abordar no cotidiano escolar, em colaborar com um considerável número de alunos que não alcançam rendimentos inicial- mente esperados em suas aprendizagens. Nesse objetivo, o docente 55 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S deve procurar despertar o interesse do discente pelos temas a serem apresentados, através de uma abordagem metodológica que caminhe pela área de maior desenvolvimento em cada aluno, de modo a incluir a todos nesse processo de construção de conhecimento. Deste modo, a ação docente deve buscar modos de motivar e reconhecer as habilidades de seus alunos para que alcancem uma apren- dizagem significativa, e para tal deve fazer uso de todos métodos disponí- veis, seja na apresentação dos conteúdos em sala de aula, de um jeito que os diferentes tipos e níveis de compreensão dos alunos sejam alcançados. Aqui a atualidade tecnológica contribui enormemente para o docente interessado, posto que são possíveis investigações de temas e metodologias, por meio de levantamento bibliográfico na internet, que possui inúmeras possibilidades de recursos, além de aperfeiçoar a sua observação dos acontecimentos cotidianos da sala de aula, onde são marcadas as diferenças, são destacadas, e as próprias potencialidades podem emergir como pistas. Em relação ao tema do fracasso escolar e as das diferenças, as diversas dificuldades de aprendizagem podem ter como consequ- ência o fracasso escolar, sendo que esse fracasso não deve ser consi- derado apenas como culpa do aluno (aqui predominam os argumentos psicologistas do tipo: “ele tem TDAH (Transtornodo Déficit de Atenção e Hiperatividade) e outros sociologizantes: “mas a sua família....o seu bairro....”), mas deve ser repartido com a família, o Estado e os próprios agentes educativos. Ou seja, uma vez que as escolas não estão prepa- radas para lidar com a diversidade e o fracasso escolar, esse “fracasso” deve ser pensado como componente do processo de ensino e aprendi- zagem, e que segundo Perrenoud (2001), envolve um grupo de atores e suas ações, ou seja, o aluno, o professor, as concepções de ensino, de sociedade e do homem, a organização do currículo, o ambiente, as metodologias, as estratégias e os recursos. Nesse contexto, a produção do currículo emerge como um ele- mento-chave que deve articular as diferenças individuais e seus modos de aprendizagem, os conteúdos a serem ministrados, as técnicas e meto- dologias a serem utilizadas e os objetivos a serem alcançados. O proble- ma que predomina é que se elabora um programa que privilegia os mais preparados, e aumenta a distância entre estes e aqueles sem o mesmo modo de funcionar, o que leva o aluno com as dificuldades de aprendiza- gem a se desinteressar, a se tornar indisciplinado e, em muitas vezes, co- meçar a apresentar desinteresse, indisciplina e mesmo evadir às aulas. Novamente, a saída é que o professor que vive em meio às diferenças, diferencie o ensino para prevenir o fracasso escolar, sendo que essa “diferenciação do ensino significa, inevitavelmente romper com 56 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S a forma de equidade , interessar-se mais por alguns alunos, atendê-los mais, propor-lhes atividades diferentes, julgá-los de acordo com exigên- cias proporcionais às suas possibilidades” (Perrenoud, 2001, p. 51). “Eu não sou você, Você não é eu, Somos diferentes, porém somos iguais” (ASSIS, 2019) TEMAS E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS: Mídias e Tecnologias Ocorre que na contemporaneidade acontece um certo pro- cesso, que exige sensibilidade do educador infantil: as crianças estão emancipando-se mais cedo e rapidamente. E dois fatores cruciais para que esse processo aconteça apontam para uma certa ausência dos pais e, por outro lado, a onipresença dos meios de comunicação. Ou seja, se antes na Idade Média, eles serviram para fomentar o desenvolvimento da concepção moderna de infância, hoje a mídia capitalista promove a desinfantilização de crianças muito cedo, provocando, entre outras conseqüências, consumismo e erotização precoces. Não se trata de “demonizar” os mass media, mas a televisão e outras mídias integradas graças à internet, mais que eletrodomésticos, transformaram-se num fato social, e através desses eletrodomésticos a infância tem recebido seus ensinamentos e informações sobre o mun- do, o que antes, na década de 50, acontecia apenas por seus familiares e pela escola. Ou seja, esses novos meios iniciam o processo de socia- lização antes que a escola tenha a oportunidade de fazê-lo. 57 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S E em nosso contexto brasileiro, essa influência da mídia torna- -se ainda mais poderosa, em virtude de um sistema educacional precário, que possibilita em muitas ocasiões, que a televisão tenha o poder “sobe- rano” de informar, educar e distrair, sem um público capaz de criticá-la. Nesse contexto, a educação contemporânea é convocada a pau- tar esses temas em seu currículo e tratamento nas salas de aula, de modo a fornecer um aparato de reflexões críticas sobre os excessos vendidos nas mídias e assimilados acriticamente por crianças e adolescentes. Se por um lado, as mídias apresentam desafios, se constituem em grandes possibilidade de parceria na educação contemporânea. É sabido que estamos diante de um mundo cada vez mais globalizado e de avanços tecnológicos ultra-avançados, de forma cada vez mais rápida, o que se torna natural que a sociedade discuta frequentemente o papel das tecnologias da informação e comunicação (TICs) na educação e a influência destas na formação escolar, profissional e social do indivíduo. A escola atual deve ser constantemente convocada a se atualizar e acompanhar as mudanças da sociedade, que se comunica, trabalha e vive imersa em um ambiente tecnológico. E essa discussão é ainda moti- vo de preocupação para educadores e comunidade escolar. Como utilizar ferramentas tecnológicas dentro de sala de aula sem desviar a atenção do aluno dos conteúdos que ele precisa aprender? Até que ponto a tecnologia pode ajudar ou atrapalhar o processo de ensino-aprendizagem? Nesse contexto de novos desafios e possibilidades, para respon- der a essas e outras perguntas é necessário antes fazer uma reflexão so- bre a postura dos professores diante dessa mudança de cenário dentro de sala de aula. Nesse sentido, embora a maioria dos educadores, apesar de já conviver com ferramentas tecnológicas, com potencial para se tornarem instrumentos pedagógicos, não sabe como utilizar essas ferramentas, ou desconhece as suas potencialidades dentro do ambiente escolar. Pesquisas importantes já tratam do tema, como o trabalho conduzido pela UNESCO e o Ministério da Educação, “Conectando os pontos para construir o ensino e a aprendizagem do futuro” (2017), que trata de ações para alinhar o sistema de aperfeiçoamento profissional do educador o epoderamento destes profissionais, para que estes pos- sam capacitar os alunos. Ou seja, maneiras de se apropriar das TIC's de modo efetivo na educação. Entretanto, este empoderamento pode acontecer, entre outras formas, por meio do encorajamento e apoio para que professores bus- quem novos papéis no ambiente escolar, como facilitadores da apren- dizagem, por meio de novas técnicas pedagógicas. Ou seja, essas técnicas precisam, principalmente, identificar, apoiar e utilizar as novas fontes pelas quais os estudantes adquirem informação e conhecimento, 58 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S ou seja, através da tecnologia e das mídias sociais (BRASIL, 2017). Nesse caso, estímulo e apoio devem partir, tanto do poder pú- blico, quanto da própria escola e de seus gestores, que devem certi- ficar-se de oferecer a alunos e professores infraestrutura necessária para o desenvolvimento tecnológico, por meio de aparelhos e ambiente técnico adequados. Nesse contexto, a escola precisa acompanhar os avanços tec- nológicos e as novas possibilidades de aquisição de conhecimento e informação. Por meio da internet, crianças e adolescentes estão ob- tendo acesso a culturas distintas e desconhecidas, e é preciso que os educadores se aproveitem dessas experiências para criar um ambiente escolar mais diversificado e colaborativo. Portanto, é urgente abrir mão da resistência que muitos pos- suem em relação a essas mudanças, e passar a enxergar a tecnolo- gia como aliada, e não inimiga do aprendizado. Como apontado numa pesquisa sobre o uso da internet por crianças e adolescentes no Brasil, realizada pelo Comitê Gestor da Internet (CGI), revelou que em 2015, 80% dos jovens usuários utilizavam a internet para fazer pesquisas es- colares. Essa pesquisa revelou também que os dispositivos móveis são os mais utilizados para este acesso, com 85% dos jovens utilizando-os. Importante salientar que a pesquisa é de 2015 e, em termos de tecnolo- gia, quase 5 anos depois, esse índice já deve girar em torno dos 90%. Entretanto, é importante salientar ainda que poucos professo- res utilizam esta ferramenta como auxiliar em seu trabalho pedagógico, o que é apontado na pesquisa realizada pelo CGI no mesmo ano, apon- tando que apenas 39% dos docentes afirmaram já ter utilizado disposi- tivos móveis com acesso à rede para atividades dentro de sala de aula. Ocorre que, para que a rede se torne aliada, não basta liberar seu acesso dentro do ambiente escolar, mas que alunos e professores saibam utilizá-lade forma crítica e criativa. Foi nesse sentido que o MEC e a UNESCO também sugeriram como ação de construção da educação do futuro o apoio à aprendizagem contínua dos professores, para que estes possam servir de exemplo aos alunos. Dessa forma, levando em consideração as mudanças que ocorrem de forma cada vez mais rápida na sociedade, é preciso que os docentes possam se desenvolver de forma integrada, por meio de re- des colaborativas de professores, exemplos de boas práticas no ensino e projetos que melhorem as práticas pedagógicas, desenvolvidos em conjunto com a comunidade escolar (BRASIL, 2017). Estas diversas ações precisam considerar as ferramentas tecno- lógicas como parte do cotidiano escolar, dando-lhes espaço no processo de ensino-aprendizagem dos alunos. E essa educação contemporânea 59 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S exige que a escola e os professores aprendam com os alunos: a partir do momento que passarem a observar e aprender sobre como crianças e adolescentes estão se comunicando, quais as dificuldades e avanços que estão tendo no uso das novas tecnologias, poderão elaborar formas de pla- nejar aulas e conteúdos, de acordo com as necessidades de seus alunos, encontrando meios mais eficazes de estimular a busca pelo conhecimento. Deve ocorrer, portanto, uma formação dos professores, que estimule ações de compartilhamento, colaboração, reflexão e análise crítica do uso das tecnologias educacionais, para que os educadores possam, de fato, criar ambientes de aprendizagem estimulantes e signi- ficativos para os estudantes. Afinal, é sabido que o uso de tecnologias de informação e comu- nicação facilitam o interesse do aluno pelos conteúdos ministrados, e que crianças e adolescentes atuais possuem facilidade e habilidades naturais na manipulação destas tecnologias, e atualmente elas estão presentes em todas as esferas do seu cotidiano, como no ambiente familiar e social. Consumo e Consumismo Como iniciamos, no atual contexto contemporâneo há uma for- te socialização midiática, onde o comportamento-consumista se torna algo “natural” em nossa cultura, com impacto direto na nova infância, de modo que está presente ainda através da exposição, por exemplo, através da música, filmes e publicidade que veiculam propagandas com os mais diversos produtos, inclusive, para que as crianças se tornem rapidamente dependentes deles e cada vez mais cedo. Entretanto, ninguém nasce consumista, e o consumismo é uma ideologia, um hábito cultural e mental forjado, que se tornou uma das características culturais mais marcantes da sociedade atual, sem importar o gênero, a faixa etária, a nacionalidade, a crença ou o poder aquisitivo. Afinal, atualmente todos que são impactados pelas mídias de massa são estimulados a consumir de modo inconsequente. E a parte mais sensível, as crianças, que vivenciam uma fase de peculiar desenvolvimento e, portanto, mais vulneráveis que os adultos, não ficam fora dessa lógica e, infelizmente, sofrem cada vez mais cedo com as graves consequências relacionadas aos excessos do consumismo: obe- sidade infantil, erotização precoce, consumo precoce de tabaco e álcool, estresse familiar, banalização da agressividade e violência, entre outras. Nesse sentido, o consumismo infantil é uma questão urgente, de extrema importância e interesse geral. Para o mercado, antes de tudo, a criança é um consumidor em formação, consumidor de hoje e do amanhã, e uma 60 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S poderosa influência nos processos de escolha de produtos ou serviços. Deste modo, de pais e educadores a agentes do mercado glo- bal, todos voltam os olhares para a infância, preocupados com esse im- pacto sobre o comportamento das crianças e de quando forem adultos, além de fortes implicações globais em termos de ambiente, já que o tal mercado está preocupado apenas com a ganância de seus negócios. Sabemos que as crianças e adolescentes influenciam forte- mente as decisões de compra de uma família, e mesmo outros hábitos, e no Brasil, a publicidade na TV e na internet são as principais ferramen- tas do mercado para a persuasão do público infantil, que cada vez mais cedo é chamado a participar do universo adulto, quando é diretamente exposto às complexidades das relações de consumo, sem que esteja efetivamente preparado para isso. Diante desse mercado voraz, as crianças são alvo importante, não apenas porque escolhem o que seus pais compram e são trata- das como consumidores mirins, mas também porque impactadas desde muito jovens, tendem a ser mais fiéis a marcas e ao próprio hábito con- sumista que lhes é praticamente imposto. Para se ter uma ideia, o Ibope Mídia, que anualmente divulga os dados de investimento publicitário no Brasil, constatou que foram movimentados cerca de R$ 112 bilhões em 2013 com publicidade. A televisão permanece a principal mídia utilizada pela publicidade, repre- sentando 70% do investimento. Ao cruzar essa informação, com o fato de a criança brasileira passar em média cinco horas e 35 minutos por dia assistindo a programação televisiva, é possível imaginar o impacto da publicidade na infância. Já no âmbito da alimentação, a publicidade é um fator que esti- mula a disseminação da maior epidemia infantil da história: a obesidade. A pesquisa “Alvejando crianças com guloseimas”, (em livre tradução do in- glês) de 2013 aponta que as crianças que já têm sobrepeso aumentam em 134% o consumo de alimentos com altos teores de sódio, gorduras trans e saturadas e açúcar, quando expostas à publicidade destes produtos. Ou seja, o consumismo está relacionado à ideia de devorar, destruir e extinguir. Se agora, tragédias naturais, como queimadas, fu- racões, inundações gigantescas, enchentes e períodos prolongados de seca, são muito mais comuns e frequentes, é porque a exploração irres- ponsável do meio ambiente prevaleceu ao longo de décadas. Nesse sentido, concentrar todos os esforços no consumo é contribuir, dia após dia, para o desequilíbrio global. O consumismo in- fantil , portanto, é um problema que não está ligado apenas à educação escolar e doméstica. Embora a questão seja tratada, quase sempre, como algo relacionado à esfera familiar, crianças que aprendem a con- 61 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S sumir de forma inconsequente e desenvolvem critérios e valores distor- cidos, são de fato, um problema de ordem ética, econômica e social. OLIVEIRA (2008) fala da influência do consumo que a socie- dade atribuiu para o mundo das crianças, na forma como a sociedade apela, incansavelmente, para o consumo, criando no indivíduo a neces- sidade de consumir mercadorias. Para o público infantil, os brinquedos industrializados são referências marcantes, além de outros acessórios, como roupas de marcas, enlatados, CDs infantis, etc. A educação da infância, nesse contexto, deve considerar esse desafio do consumismo que pode ter impacto direto sobre o desenvolvi- mento integral das crianças, de modo que as instituições educacionais devem fazer frente a essa demanda, de modo a fornecer aos discentes, recursos críticos para ajudar a filtrar os elementos midiáticos. E a pauta pedagógica pode ser desde análises sobre o impacto das guloseimas na saúde e produção de doenças, bem como no meio ambiente, a im- portância de compartilhar e não apenas ajuntar sem limites, inclusive ações esportivas e sociais no entorno da escola. Gênero, Afetividade e Sexualidade Entre os fenômenos da infância contemporânea estão as mani- festações de erotização infantil, inclusive apontando que, atualmente no Brasil, já é significativo o número de meninas que mal ficam menstrua- das, iniciam-se na vida sexual propriamente dita. No Censo de 2000, o IBGE inclui, pela primeira vez, a faixa etáriade 10 a 14 anos em suas estatísticas de maternidade. Sabemos que os padrões culturais de gênero e sexualidade são construídos historicamente e reproduzidos por diversas instâncias sociais como família, igreja e a escola. Essas instituições influenciam a aprendi- zagem e o desenvolvimento dos indivíduos, pois, oferecem normas e re- ferências sobre comportamento considerado adequado. Estas formas es- peradas de expressão de gênero e sexualidade são impostas desde cedo às crianças e, na maioria das vezes, pelos próprios professores da escola. Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu- cação Infantil trazem a proposta pedagógica das instituições de Educação Infantil, que deve romper com relações dominantes de cunho étnico-ra- cial, etário, religioso, regional, socioeconômico e de gênero e sexualida- de. Isto é, a educação deve caminhar para a construção de subjetividade lúcida e crítica, quebrando com a ideia de reproduzir padrões, onde in- divíduos são considerados mais superiores que outros (BRASIL, 2009). Percebemos cada vez mais que as crianças expressam a não 62 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S adequação aos padrões de gênero esperados, em relação ao sexo que nasceram, seja optando por roupas e brinquedos que são socialmente tidos para gênero oposto, ou demonstrando insatisfação com o próprio corpo, anunciando desejo de mudança. No entanto, boa parte dessas crianças encontra grande resistência de aceitação e muitas vezes são punidas por tais comportamentos. No contexto escolar, o bullying se torna presente no dia a dia das crianças que não se encaixam na heteronormatividade, e os professores se encontram despreparados para lidar com esta demanda, mesmo tendo a concepção do papel pedagógico diante destas questões, isso acontece porque eles também podem ser agentes reprodutores da cultura sexista e homofóbica ou têm a preocupação de ir contra a educação familiar. A prática educacional é influenciada pela esfera familiar. Isto é, ainda é considerada tênue a linha entre o papel da família e da es- cola, em relação à educação sexual. Muitas propostas de inclusão às diversidades sexuais e de gênero na escola ainda se tornam polêmicas dentro deste meio. É comum que a sociedade tenha uma ideia confu- sa acerca das definições de sexo e gênero. Alguns autores sustentam que essa falta de clareza sobre esses termos podem justificar muitos preconceitos e prejudicar as intervenções em políticas de promoção às diversidades nesse contexto. Pode ser de grande importância fazer algumas distinções con- ceituais: 1) O termo “sexo” faz referência ao órgão genital com que se nasce, sendo possível classificá-lo em macho, fêmea e hermafrodita, por- tanto, uma definição biológica; 2) Já o gênero faz referência à construção psicológica, social e cultural sobre as características que os indivíduos acabam inserindo em sua vida, de acordo com a cultura em que estão, e nesse caso, o gênero não tem relação com o sexo biológico, ou seja, um indivíduo que nasce macho, não necessariamente terá uma identidade de gênero masculina; 3) Já a afetividade é um fluir de sentimentos que pode emergir entre as pessoas, independente de cor, sexo e gênero, de modo a aproximá-las e socializá-las; 4) Já a orientação sexual refere-se à direção do desejo afetivo-sexual dos indivíduos entre si, de modo mais flexível ou fixo, dependendo da constituição do sujeito. Assim como os tipos de identidade de gênero, as orientações sexuais também podem ser muitas, no entanto, as mais conhecidas são: heterossexual (desejo afe- tivo-sexual direcionado ao gênero oposto), homossexual (pra o mesmo gênero) e bissexual (para dois gêneros). Atualmente todas as formas de expressão da orientação sexual são consideradas saudáveis pela Orga- nização Mundial de Saúde, que delibera orientação sexual como mani- festação do jeito de ser de cada pessoa. Atualmente, são comuns no cotidiano escolar situações onde 63 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S alunos são alvos de gozação e piada, pelo fato de terem comportamen- tos que a sociedade não tange como esperados e adequados. Esses comportamentos podem estar ligados a sua sexualidade ou ao seu jeito de se vestir e se inserir nos grupos sociais. Diante de tais situações, de discriminação e preconceito, é imprescindível que os profissionais da educação estejam preparados para trabalhar tais problemas na esco- la, especialmente os professores, pois, devem mediar essas situações quando eclodirem em sala de aula, além de direcionar as reflexões da turma para minimizar este problema e desmistificar os padrões cultu- rais. No entanto, alguns estudos identificaram que a mediação de tais conflitos não é baseada nos programas do governo que as orienta. Nesse contexto educativo, ressaltamos a urgência de tratar um fenômeno violento que ocorre em toda a sociedade e já se percebe na escola infantil: a homofobia. Sabemos que os padrões sociais impõem um caráter patológico a tudo o que não o corresponda, estimulando a discriminação e o preconceito da sociedade, inclusive dentro da escola, algo bastante frequente no dia a dia escolar. “Homofobia” é o nome dado a este tipo de discriminação, e os comportamentos homofóbicos podem afetar o indivíduo na infância, se agravando na adolescência e juventude. Tal violência afeta diretamente a motivação da criança, em frequentar o ambiente escolar, prejudicando de forma violenta sua aprendizagem e saúde emocional. Para ajudar a enfrentar esse desafio específico da homofobia, mas também subsidiar o docente nesses temas do gênero e sexuali- dade, os parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) abordam a questão da educação sexual, e é tido como um marco na legitimação do debate sobre a sexualidade na escola. Este documento sugere que a educação sexual seja trabalhada de maneira transversal, nas diversas disciplinas curriculares. O PCN permite que o professor ocupe uma posição bas- tante importante dentro dessa questão. De acordo com ele, cabe ao professor mediar as descobertas da sexualidade, orientando quanto às curiosidades manifestadas pelos alunos, auxiliando então no proces- so de desenvolvimento. Outro ponto ressaltado é a disponibilidade que deve ter o educador para acolher e orientar, de forma esclarecedora. No livro Cenas da Vida, na seção “cenas da escola”, Rubem Al- ves (1997), com seu jeito peculiar, traz uma grande contribuição psicana- lítica para o contexto educativo, especialmente ao se pensar conteúdos e currículo escolar: o desejo. Ele desafia os docentes quando provoca: “as inteligências dormem. Inúteis são todas as tentativas de acordá-las por meio da força e das ameaças. As inteligências só entendem os argumen- tos do desejo: elas são ferramentas e brinquedos do desejo”. Essa provocação de Alves confronta um tipo de educação e, 64 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S portanto, currículo e conteúdo, meramente formal e tecnicista, baseada na repetição e absorção de elementos formais e sem sentido para a vida, que não respeitam os desejos dos discentes e pouco contribuem para o desenvolvimento de competências e das habilidades. SOCIALIZAÇÃO PRIMÁRIA X SOCIALIZAÇÃO SECUNDÁRIA Socialização é a assimilação de hábitos característicos do seu grupo social, todo o processo através do qual um indivíduo se torna membro funcional de uma comunidade, assimilando a cultu- ra que lhe é própria. É um processo contínuo que nunca se dá por terminado, realizando-se através da comunicação, sendo inicial- mente pela “imitação” para se tornar mais sociável. Que a Socialização Primária diz respeito aos primeiros contatos sociais da criança, e se dá com a presença dos outros significativos, que lhe apresentam a realidade em que vivem e como a percebem. É tambémneste contato que a criança começa a significar os elementos culturais presentes na sociedade em que está inserida. Fazem parte desse processo a família e as pessoas mais próximas da criança. Já a Socialização Secundária consiste em todo e qualquer processo subsequente à socialização primária, que introduz um in- divíduo já socializado em novos setores, do mundo objetivo da sua sociedade (na escola, nos grupos de amigos e amigas, no traba- lho, nas atividades dos países para os quais visita ou emigra, etc.), existindo uma aprendizagem das expectativas que a sociedade ou o grupo depositam no indivíduo. 65 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2016. Banca: CETREDE. Órgão:Prefeitura de Itapipoca - CE. Prova: Professor Nível: Médio. A pluralidade cultural, isto é, a diversidade de etnias, crenças, cos- tumes, valores etc. que caracterizam a população brasileira marca, também, as instituições de educação. Nesse sentido, é CORRETO afirmar que A) trabalho com a diversidade e o convívio com a diferença possibilitam ressaltar a discriminação tanto para o professor quanto para a criança. B) assumir um trabalho de acolhimento às diversas expressões e mani- festações das crianças e suas famílias significa valorizar e destacar as diferenças existentes. C) Cada família e suas crianças são portadoras de um vasto reper- tório que se constitui material rico e farto para o exercício do diálogo, aprendizagem com a diferença, a não discriminação e as atitudes não preconceituosas. D) acolher as diferentes culturas deve se limitar às comemorações festi- vas, a eventuais apresentações de danças típicas ou à experimentação de pratos regionais E) para viver democraticamente em uma sociedade plural é preciso se- gregar os diferentes grupos e culturas que a constituem. QUESTÃO 2 Ano: 2015. Banca: FCC Órgão: DPE SP. Prova: Pedagogo Nível: Superior. O educador preocupado em reconhecer e respeitar a cultura e as diferenças do outro precisa I refletir sobre o papel social da escola na formação dos indivíduos. II. pensar seu educando como indivíduo portador de conhecimentos, códigos, valores, tradições, costumes e a cultura de seu contexto. III. dominar o conteúdo e a forma de ensinar os conhecimentos propostos pelo currículo escolar. IV. questionar conteúdos apresentados nos livros didáticos que, muitas vezes, reforçam preconceitos ou situações preconceituosas. V. reconhecer as aptidões de seus diversos educandos para de- mocraticamente escolher os conhecimentos a serem ensinados de acordo com a capacidade de cada um. Está correto o que se afirma APENAS em a) I, II e V. b) II, III e IV 66 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S c) I, II e IV d) I, III e V e) III, IV e V. QUESTÃO 3 Ano: 2015. Banca: FCC Órgão: DPE SP. Prova: Pedagogo Nível: Superior. A presença do preconceito em relação às pessoas com deficiência, muitas vezes existente na escola, só faz aumentar sua situação de desvantagem criada por essa atitude, assim como, acentuar seu sentimento de incapacidade. No entanto, muitas vezes não é uma situação de preconceito somente, mas a falta de convívio com os diferentes. Uma das medidas necessárias para que se minimize esta situação é a concretização das determinações contidas na LDB, como a) a garantia de professores com especialização adequada para esse atendimento, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns b) o trabalho de aconselhamento, por parte dos orientadores educacio- nais e/ou psicólogos, aos alunos que apresentarem comportamentos agressivos ou discriminatórios aos alunos com deficiência c) a realização de palestras e dinâmicas de grupo para a redução de comportamentos indesejáveis junto aos alunos com deficiência d) a elaboração e execução de proposta pedagógica e organização cur- ricular voltadas especificamente aos alunos com deficiência e) a redução do número de alunos das classes em que existir pelo me- nos dois alunos com deficiência ou colocação de professor auxiliar para que o aluno receba a atenção devida. QUESTÃO 4 Ano: 2015. Banca: FCC Órgão: DPE SP. Prova: Pedagogo Nível: Superior. Não temos problema nenhum de racismo aqui. Eu, por exemplo, ao entrar em sala, trato todos os meus alunos como se fossem brancos. Depoimentos como este confirmam a) O combate ao preconceito e à discriminação racial existente na so- ciedade. b) A valorização que se tem em relação à diversidade cultural presente na escola c) A incorporação do multiculturalismo nas práticas educativas dos pro- fessores d) O complexo, variado e conflituoso cenário cultural em que a escola 67 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S está imersa e) A sala de aula como um espaço rico pelo convívio de várias culturas. QUESTÃO 5 Ano: 2015. Banca: FCC Órgão: DPE SP. Prova: Pedagogo Nível: Superior. Para compreender a escola é preciso recorrer ao sentido amplo da palavra cultura, isto é, o conjunto de costumes, dos modos de viver, de vestir, das maneiras de pensar, das expressões de lingua- gem, dos valores das várias origens dos alunos. Consequentemente, a escola para ser bem sucedida: a) Deve escolher a cultura que mais se aproxima da maioria de seus alunos, visando a um tratamento democrático. b) É obrigada a equilibrar os diferentes valores dessas diferentes cultu- ras para atender igualmente a todos os alunos. c) Precisa colocar-se aberta às diversas culturas existentes nos grupos de alunos. d) Necessita perceber qual é a melhor cultura para, assim, poder contri- buir com um ensino de qualidade. e) Exige a definição de qual cultura propicia uma melhor aprendizagem. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Há uma noção popular que circula na sociedade, de que falar sobre sexualidade com as crianças na família ou na escola, vai estimulá-las à pratica sexual precoce. Disserte sobre esse tema, argumentando favo- rável ou contra essa ideia. TREINO INÉDITO No campo sensível da identidade e sexualidade, especialmente no contexto da educação infantil, há uma diversidade de conceitos. Assinale a alternativa INCORRETA: A) O termo "sexo" faz referência ao órgão genital com que se nasce, sendo possível classificá-lo em macho, fêmea e hermafrodita, portanto, uma definição biológica. B) Por sexualidade entende-se a prática sexual ou o coito propriamente dito, o que deve se abordar com reserva na esfera escolar infantil. C) O termo "gênero" faz referência às construções psicológica, social e cultural sobre as características que os indivíduos acabam inserindo em sua vida, de acordo com a cultura em que estão. D) A "afetividade" refere-se a um fluir de sentimentos, que pode emergir entre as pessoas, independente de cor, sexo e gênero, de modo a apro- ximá-las e socializá-las. 68 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S E) Por "orientação sexual" refere-se à direção do desejo afetivo-sexual dos indivíduos entre si, de modo mais flexível ou fixo, dependendo da constituição do sujeito. NA MÍDIA A HOMOFOBIA COMEÇA EM CASA E NA ESCOLA Quase 20% dos estudantes de escola pública entre 15 e 29 anos não gostariam de ter um colega de classe travesti, homossexual, transexual ou transgênero – sendo que, no caso dos meninos, este percentual sobe para 31%. Entre esses dados, relatados na pesquisa "Juventudes na Es- cola, Sentidos e Buscas: Por que frequentam?" (2015), e o atentado ocor- rido em Orlando, numa boate voltada ao público LGBT, há uma distância enorme, mas as raízes podem ser similares, ligadas à incapacidade cres- cente, em nossa cultura, de lidar com as diferenças e aceitar a diversida- de – desde questões de gênero, até mesmo opiniões pessoais. Observando brincadeiras de crianças em creches epré-escolas, per- cebe-se que a convivência infantil é altamente inclusiva. Por exemplo, crianças com deficiências não costumam ser rejeitadas nas classes “re- gulares”; já os pais costumam se preocupar e muitos chegam a recla- mar com a diretoria, julgando que seus filhos ficarão prejudicados. Em que momento desta trajetória de vida, cabecinhas que eram abertas e livres começam a se fechar? Os valores fundamentais são aprendidos, em primeiro lugar, em casa: nos exemplos dos pais, nas conversas familiares, nas escolhas feitas a cada dia, em todos os âmbitos: na forma lidar com a própria saúde, o modo de usar o dinheiro, a maneira de lidar com os funcionários, o jeito de ver o trabalho, e assim por diante. No que se refere à homofobia, até simples piadinhas ditas pelos pais, “brincando” com a sexualidade de amigos e conhecidos, podem representar lições implícitas sobre o que é “normal” ou “fora do padrão”, o que é um comportamento “caricato” e deve ser rejeitado, o que é valorizável ou desprezível. Isso também acontece na escola. É mais comum do que se pensa que os professores façam chacotas a respeito de gays e, ao mesmo tempo, não se envolvam quando um estudante sofre bullying ou é ridiculariza- do com apelidos de conotação sexual. Inclusive quando a escola tem a educação para a diversidade no seu projeto pedagógico, na prática, é comum que os conflitos de convivência sejam apagados, em vez de ser tratados abertamente. Falta preparação dos professores para lidar com situações que serão cada vez mais comuns. Nos estudos de gênero, avançou-se muito nas orientações sobre termos e abordagens, para não reforçar preconceitos com a própria linguagem, o que é pouco conhecido na escola. 69 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Fonte: Jornal G1 Data: 13 de junho de 2016 Leia a notícia na íntegra: http://g1.globo.com/educacao/blog/andrea-ra- mal/post/homofobia-comeca-em-casa-e-na-escola.html NA PRÁTICA Se por um lado somos diariamente bombardeados por referências se- xuais em propagandas e conteúdos de entretenimento, por outro, falar abertamente sobre o assunto com os jovens ainda assusta pais e edu- cadores. Apesar do tabu persistir, e para o desgosto de muitos adultos, esse é um tema que faz sim parte da vida dos jovens. Segundo a pes- quisa Mosaico 2.0, de 2016, do Programa de Sexualidade, da Univer- sidade de São Paulo (USP), em parceria com o laboratório Pfizer, os jovens brasileiros têm iniciado a vida sexual entre os 13 e 17 anos. Infelizmente, essa busca pela expressão da afetividade e por prazer nem sempre é amparada por uma Educação que aborde a sexualidade em seus aspectos biológicos, culturais e sociais, como recomendam os parâmetros curriculares de ciências do Ministério da Educação (MEC). O resultado disso é a continuidade de comportamentos de risco, como o não uso de proteção durante a relação sexual, por exemplo. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), em 2015, dos adolescentes do 9° ano do Ensino Fundamental sexualmente ativos, 33,8% disseram não ter usado camisinha na última relação sexual. Ape- sar disso, 7 em cada 10 afirmaram ter recebido informação a respeito na escola. Ou seja, apenas passar informação não é suficiente. Além disso, a falta de uma reflexão mais ampla sobre a sexualidade hu- mana também favorece a persistência da intolerância e da violência, en- fraquecendo o combate ao preconceito, ao abuso sexual infantil e à vio- lência contra a população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) e contra a mulher - tópicos fundamentais para o Brasil, que ainda convive com índices alarmantes de crimes des- sas naturezas. Avançar em um ensino de Educação sexual de maior qualidade nas escola é, portanto, literalmente caso de vida ou morte. Vários documentos nacionais e internacionais (veja no final do texto) dão suporte a uma Educação sexual que vá além da abordagem reproduti- va. A Orientação Técnica Internacional sobre Educação em Sexualidade, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Cultura e Esporte (Unesco), de 2018, indica que o ensino deve servir para que os jovens de- senvolvam conhecimento, habilidades e valores éticos para fazer escolhas saudáveis e respeitáveis sobre os relacionamentos, o sexo e a reprodução. O documento propõe a “educação sexual compreensiva”, cujo objetivo é nortear o processo de aprender e ensinar sobre os aspectos cognitivos, fí- 70 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S sicos, emocionais e sociais da sexualidade. O texto discute temáticas mais científicas, como fisiologia e anatomia sexual e reprodutiva, puberdade e menstruação, reprodução, métodos contraceptivos modernos, gravidez e partos, além das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). Mas tam- bém trata de outras dimensões da sexualidade, como igualdade de gênero, amor, orientação sexual e identidade de gênero. Ou seja: tópicos antena- dos com as discussões contemporâneas e que podem afetar a saúde se- xual e emocional dos jovens também aparecem como temas a serem dis- cutidos pela escola - caso também de temas como cyberbullying e sexting (trocar mensagens de cunho sexual), por exemplo. O Brasil também tem documentos que apontam na direção de uma abor- dagem da sexualidade de modo mais amplo. Voltados ao Ensino Fun- damental II, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Ciências, datados de 1998, já apontavam a necessidade de tratar a temática de maneira transversal, considerando que a sexualidade tem um significado muito mais amplo e variado do que simplesmente a reprodução. Entre as demais temáticas propostas pelo documento estão: levar em considera- ção o que os estudantes já sabem sobre sistemas reprodutores humanos masculino e feminino e os aspectos psicológicos envolvidos; abordar as emoções envolvidas na sexualidade, como os sentimentos de amor, ami- zade, confiança, autoestima, desejo e prazer sem julgamentos morais. Os PCNs são sugestões para as escolas, mas não explicitam objetivos de aprendizagem, tarefa da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Apesar da Base Nacional para o Ensino Fundamental apontar temas re- lacionados à Educação sexual, conceitos de gênero e orientação sexual foram suprimidos do documento, deixando de evidenciar uma dimensão importante do assunto. Entre as habilidades a serem desenvolvidas pelos adolescentes previstas pelo texto estão analisar as transformações da puberdade, discutir a eficácia dos métodos contraceptivos e a respon- sabilidade frente à gravidez precoce e as DSTs. O documento também propõe debater as evidências das “múltiplas dimensões da sexualidade humana (biológica, sociocultural, afetiva e ética)”. Já na BNCC referente ao Ensino Médio, ainda em discussão, a temática não aparece de manei- ra explícita, sendo que apenas a palavra “reprodução” aparece entre os assuntos importantes do eixo Vida, Terra e Cosmos. Termos como sexo, sexualidade, gênero, entre outros, não estão presentes no texto. Por fim, vale ressaltar que, apesar de o assunto ainda deixar a desejar em termos de legislação específica, uma Educação sexual ampla que abrace os aspectos biológicos, mas também sociais e políticos da afe- tividade e sexualidade humana, é essencial para colocar em prática as competências transversais da BNCC, que prevê a formação dos estu- dantes para agir com responsabilidade, tomar decisões com base em 71 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S princípios éticos, cuidar emocionalmente de si e dos outros e acolher a diversidade sem preconceitos. Por PricillaKesley,Todos pela educação, 29 MAI, 2018 – Acesso em: https://www.todospelaeducacao.org.br/conteudo/para-que-serve-a-e- ducacao-sexual-na-escola/ 72 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G RU P O P R O M IN A S GABARITOS CAPÍTULO 01 QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO DE RESPOSTA Acerca da concepção de criança como “adulto em miniatura”, em termos das ideias e práticas atuais, pode se constituir em diversos problemas, es- pecialmente, desconsideraria todos os estudos científicos que apontam que, embora a criança tenha em si in potentia todos os elementos do futuro adulto, tais condições e características se encontram em estado embrioná- rio e de desenvolvimento, demandando um conjunto de cuidados diferen- ciados, ou se comprometeria o futuro adulto. Essa infância conquistou a duras penas a concepção atual, de modo que, mesmo com movimentos e segmentos que resistem na concepção medieval, a educação contempo- rânea deve insistir nesse estado peculiar de desenvolvimento, sem infanti- lizar a infância em demasia, tampouco adultizar num outro extremo. TREINO INÉDITO Gabarito: A 73 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 02 QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO DE RESPOSTA Foi abordado que a infância no Brasil já foi considerada força de traba- lho e produto de mão de obra barata, embora na atualidade, isso seja questionado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Disserte sobre a que se deve aquela prática antiga e a atual. Primeiramente, pode-se dizer que há uma infância para cada época, tal como tivemos tipos de infância na idade antiga, média e atual. A ciência também mudou e propôs novas concepções de humano e da própria in- fância, com destaque para as descobertas sobre o desenvolvimento infan- to-juvenil e, nesse caso, as demandas desses sujeitos, diferentemente de períodos pretéritos. A exploração da infância pelo mundo do trabalho ainda resiste mesmo em tempos atuais, entretanto, a concepção de infância e a própria legislação mudaram, de modo que se tornou ilegal, enquanto em outros momentos a exploração é que era naturalizada. Em suma, conheci- mento muda as leis e os comportamentos, bem como o que se convencio- na por infância nos períodos históricos. Fato é que atualmente a infância é protegida e muitos alegam ser hiperprotegida, algo em demasia no campo do trabalho, de modo que se tem desenhada uma fórmula intermediária, em que o jovem pode trabalhar na condição de aprendiz, e sem que haja trabalho como exploração ou risco para a infância. TREINO INÉDITO Gabarito: D 74 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 03 QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO DE RESPOSTA Há uma noção popular que circula na sociedade, de que se falar sobre sexualidade com as crianças na família ou na escola, vai estimulá-las à pratica sexual precoce. Disserte sobre esse tema, argumentando favo- rável ou contra essa ideia. Duas das características da mente infantil, e que devem ser correspondidas pelo educador, são a curiosidade e imaginação. Em cima desse elementos, o professor tem a possibilidade de construir o conhecimento adequado, introduzindo conceitos e inspirando a conhecer mais. Entretanto, quando a criança tem curiosidade em torno de assuntos sexuais, a família recua e inibe a criança, temendo que ela se inicie na vida sexual propriamente dita. Inclusive, muitos educadores assim fazem, e temem abordar o assunto. No entanto, a mola mestra de abusos sexuais por parte pessoas mais velhas que a criança, é a sua curiosidade e falta de conhecimento. Ou seja, caso haja uma educação sexual, a criança nutre sua curiosidade e, com conhe- cimento, aprende a manejar a curiosidade de modo mais assertivo e se- guro, evitando sofrimento, abusos ou mesmo uma prática sexual precoce. TREINO INÉDITO Gabarito: B 75 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S PETI: Programa de Erradicação do Trabalho Infantil ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente 76 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S ALVES, Rubem. Cenas da Vida. Papirus, 1997 ABRAMOWICZ, Anete; SILVEIRA, Debora de Barros; JOVINO, Ione da Silva; SIMIÃO, Lucélio Ferreira. PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 29, n. 1, 263-293, jan./jun. 2011 ARIÈS, Philippe (1960). História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981. ARANHA, M. L. A. e MARTINS, M H P. Filosofando – Introdução à Filo- sofia. Moderna: São Paulo, 1993. ASSIS, Kebel. Rap dos diferentes iguais, CD Estórias de Bichos, Gru- po Farroupilha, 2019. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?- v=Nw8w5J43A9k BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federa- tiva do Brasil de 1988. Brasília, DF, 1988. BRASIL - MEC, REIMERS, Fernando. CARDOSO, Beatriz. EDWARDS, David. GLANNINI, Stefania. GOYAL, Vandana. KAHURA, Jacqueline, LAVONEN, Jari. POTA, LINDA Rush, Vikas. TAN, OonSeng. VENKATA- RAMAN, Ramya, OLEY, Dibba-Wadda, Wigdortz, BRETT. Conectando os pontos para construir o ensino e a aprendizagem do futuro. Brasília : MEC, 2017. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/in/rest/anno- tationSVC/DownloadWatermarkedAttachment/attach_import_a78095f- d-3c9c-419c-91e1-d8163e7f9421?_=259168por.pdf BRASIL. Ministério da Educação e Desporto. Secretaria da Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: Introdução. Brasília, 1998. BRASIL, Ministério da Educação. Gênero e diversidade sexual na es- cola: reconhecer diferenças e superar preconceitos. Cadernos SECAD, Brasília, DF, 2007. COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. Pesquisa sobre o uso da internet por crianças e adolescentes no Brasil [livro eletrônico]. Nú- cleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, [editor]. -- São Pau- lo. 2016. Disponível em: https://www.cgi.br/media/docs/publicacoes/2/ TIC_Kids_2015_LIVRO_ELETRONICO.pdf 77 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S COSTA, L. P. e SANTA BÁRBARA, R. B. A educação da criança na ida- de antiga e média. VII Jornada de Estudos Antigos e Medievais. Dispo- nível em: http://www.ppe.uem.br/jeam/anais/2008/pdf/c008.pdf DEBRET, Jean-Baptiste. Uma família brasileira no Rio de Janeiro. 1839. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:A_Brazilian_family_ in_Rio_de_Janeiro_by_Jean-Baptiste_Debret_1839.jpg FREIRE, Paulo.Educação Como prática da Liberdade. 23.ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1999. FUNDAÇÃO TELEFÔNICA. Código de Menores x ECA: Mudanças de Paradigmas. 2016. Disponível em: http://fundacaotelefonica.org.br/pro- menino/trabalhoinfantil/noticia/codigo-de-menores-x-eca-mudancas- -de-paradigmas/ JOVINO, Ione da Silva, Crianças Negras em Imagens do Século XIX. 2010. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal de São Car- los, 2010. Disponível em:http://memoria.cnpq.br/web/guest/noticias-po- pularizacao/-/journal_content/56_INSTANCE_a6MO/10157/1309608 LECLERC, Jean. Traje das crianças da França e Alemanha no inicio do Século XVI. In: BEATRIZ, Martha, O Traje das Crianças. 2012. Disponí- vel em: http://estudodainfancia.blogspot.com/2012/08/o-traje-das-crian- cas.html MARCÍLIO, Maria Luiza. A roda dos expostos e a criança abandonada na História do Brasil. 1726-1950. In: FREITAS, Marcos Cezar de (Org.). História Social da Infância no Brasil. São Paulo: Cortez Editora, 1997 MEDEIROS, Kátia Batista de M. Resistências de crianças e adolescen- tes vítimas de violência doméstica e a escola na rede de proteção. Ita- tiba, 2018. NOVAIS, Fernando (dir.) & SOUZA, Laura de Mello e (org. do volume). História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, vol I, 1997 NEVES, Maria de Fátima Rodrigues das. Infância de faces negras: a criança escrava brasileira no século XIX. São Paulo. História/USP.Dis- sertação de Mestrado. FFLCH, 1993. PRIORE, Mary del (Org.). História da criança no Brasil. São Paulo: Contexto, 1991. 78 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Polleto, Letícia Borges. A (DES) QUALIFICAÇÃO DA INFÂNCIA: A HIS- TÓRIA DO BRASIL NA ASSISTÊNCIA DOS JOVENS. IX ANPED SUL - Semninário de Pesquisa em Educação da Região Sul. 2012. ______. INSTITUCIONALIZAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCEN- TES EM CAXIAS DO SUL: NARRATIVAS SOBRE AS TRAJETÓRIAS DE VIDA DE EGRESSOS DE MEDIDA DE PROTEÇÃO (1990-2011). Dissertação (Mestrado) - Universidade de Caxias do Sul, Programa de Pós-Graduação em Educação, 2013. RITOS OCULTOS, Ramsés II representado como uma criança chupan- do o dedo, 2019. Disponível em: https://www.ritosocultos.com.br/desco- nhecido/2014/criancas-antigo-egito/ RIZZINI, Irma. Crianças e Menores do Pátrio Poder ao Pátrio Dever – Um Histórico da Legislação para a Infância no Brasil (1830-1990). In: PILOTTI e RIZINI. A arte de Governar Crianças – Histórias das Políticas Sociais, da Legislação e da Assistência à Infância no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Del Niño, Editora Universitária Santa Úrsula, Amais Livraria e Editora, 1995. SILVA, Michelle Pereira. CARVALHO, Carlos Henrique. Infância e mo- dernidade: redimensionando o ser criança. Cadernos da FUCAMP, Vol3, N 3, 2004. Disponível em: http://www.fucamp.edu.br/wp-content/upload- s/2010/10/2-Inf%23U00c3%23U00a2ncia-e-modernidade-Michelle.pdf VELASQUEZ, Diego.Las Meninas. 1656, Disponível em:Acesso em: ht- tps://www.museodelprado.es/en/the-collection/art-work/las-meninas/9f- dc7800-9ade-48b0-ab8b-edee94ea877f 79 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S