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1 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S 2 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S 3 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Núcleo de Educação a Distância GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO Diagramação: Rhanya Vitória M. R. Cupertino PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira. O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho. O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem. 4 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Prezado(a) Pós-Graduando(a), Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional! Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as suas expectativas. A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra- dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a ascensão social e econômica da população de um país. Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida- de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos. Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas pessoais e profissionais. Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi- ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atu- ação no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe- rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de ensino. E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial. Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos conhecimentos. Um abraço, Grupo Prominas - Educação e Tecnologia 5 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S 6 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo- sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve- rança, disciplina e organização. Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho. Estude bastante e um grande abraço! Professor: Cleber Lizardo de Assis 7 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc- nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela conhecimento. Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in- formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao seu sucesso profisisional. 8 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Os dois primeiros capítulos da unidade possuem um caráter histórico de fundamental importância para se conhecer a concepção e a prática em torno da infância nas Idades Antiga, Média e Moder- na, especialmente guiados pelo estudioso da infância P. Ariès, além de vislumbrar os primórdios das famílias e instituições educativas no Brasil Colônia. Nesse contexto brasileiro, aponta-se as mudanças de concepções e práticas educativas, em torno dos principais temas rela- cionados no Século XIX e XX, para então, introduzir os temas-desafios que se colocam para a educação contemporânea, como a noção psi- cológica de subjetividade, a questão das diversidades e seu manejo, além de temas polêmicos, mas inadiáveis, como as Mídias e a Tecno- logias, o Consumismo, Gênero, Afetividade e Sexualidade. Infância. Educação Infantil. Diversidade. Psicologia. Subjetividade. 9 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 01 A INVENÇÃO DA INFÂNCIA: HISTÓRIA E CONSTRUÇÕES: DO TERMO “INFÂNCIA” E CONTEXTO SÓCIO HISTÓRICO Apresentação do Módulo ______________________________________ 11 12 36 16 Infância na Idade Antiga _______________________________________ A Infância dos Séculos XIX e XX _________________________________ Infância na Idade Média ________________________________________ CAPÍTULO 02 A INFÂNCIA NO BRASIL A Chegada Europeia, a Constituição Familiar e a Infância ________ 31 26Recapitulando ________________________________________________ 18Infância no Renascimento _____________________________________ 42A Infância no Pós-ECA __________________________________________ Recapitulando _________________________________________________ 46 CAPÍTULO 03 TEMAS DE INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE Subjetividade ________________________________________________ 51 Diversidade e Implicações Curriculares _________________________ 54 20Infância na Idade Moderna ____________________________________ 10 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Temas e Desafios Contemporâneos _____________________________ 56 Recapitulando __________________________________________________ 65 Fechando a Unidade ____________________________________________ 72 Glossário ________________________________________________________ 75 Referências _____________________________________________________ 76 11 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Para um público comum, a infância que temos hoje sempre foi assim em outros tempos, com pequenas diferenças. Entretanto, o pró- prio termo “infância” foi cunhado ao longo da história. Mais que o termo, a própria concepção de criança e adoles- cente, bem como as formas de educá-los, têm diversas nuances nas diversas Idades da História. Deste modo, quem pretende atuar em edu- cação da infância na contemporaneidade, deve adotar o pressuposto e os fatos que marcaram essas concepções e práticas, desde a Idade Antiga, Média e Moderna. Esse movimento histórico das culturas do mundo chegou ao nosso país com a chegada dos portugueses, forjando o que se praticou de educação no Brasil Colônia e se aperfeiçoou com as ciências huma- nas e a própria Pedagogia. Existiram diversas infâncias no próprio país. Assim, mudaram o mundo e o nosso país, bem como as con- cepções e práticas educativas em torno da infância brasileira. E mais, nos deparamos com novos desafios e demandas na modernidade e contem- poraneidade, que impactam diretamente as famílias, agências primeiras da educação na infância, e as próprias escolas, instituições formais de escolarização. Agora a pauta ampliou e ficou complexa, de modo que exige uma nova educação, uma nova escolae um novo professor. Conhecer a história desse movimento poderá permitir respon- der a esses novos desafios educativos, a assimilar essa nova concep- ção de infância e, quem sabe, vislumbrar o que virá para esses sujeitos em desenvolvimento. 12 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S INFÂNCIA NA IDADE ANTIGA O que entendemos como “infância” possui um histórico e uma evolução temporal e cultural, de modo que podemos falar de “infância na Idade Antiga”, na Idade Média ou Moderna ou nos dias de hoje. Esse é um movimento de diversos autores, como o caso de Ariès (1981) que será fundamental para um resgate histórico com que atualmente se de- nomina por “infância”. Infância na Idade Antiga No mundo judaico, a infância está atrelada ao conjunto de sig- nificados e ritualísticos da sua religião baseada na Torah, de modo que há uma iniciação da criança na mais tenra idade, pela repetição de al- guns versículos bíblicos, e cabendo ao pai a responsabilidade por esta A INVENÇÃO DA INFÂNCIA: HISTÓRIA E CONSTRUÇÕES DO TERMO "INFÂN- CIA" E CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S 12 13 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S tarefa. Já aos três anos a criança era encaminhada ao Heder, instituição destinada a ensinar às crianças a prática religiosa judaica e da língua hebraica, e a partir da idade de seis ou sete anos, este estudo poderá ser confiado a um professor, que receberá remuneração por seu traba- lho. Em toda cidade deveria haver um professor de crianças, cuja impor- tância equivale a de um médico, assim como de uma sinagoga e de um tribunal rabínico, sob pena de ser colocada no ostracismo. Como em todas as culturas do mundo antigo, as crianças eram objetos de castigos físicos, seja por argumentos educativos e pelo po- der do adulto, como é o caso de registros no próprio texto bíblico de Deut. 21-18-21: “Se um homem tiver um filho indócil e contumaz, que não atende à voz de seu pai ou de sua mãe, e mesmo que o castiguem não lhe dá ouvidos, ele será levado aos anciãos da cidade… Então, todos os homens da cidade irão apedrejá-lo até levá-lo à morte”. Deste modo, nesta lei bíblica já havia noção de que bater numa criança era uma atitude natural e até mesmo uma necessidade, já que essa punição seria para o próprio bem da criança. Quando uma criança judia atingia a sua maturidade aos 12 anos de idade (mais um dia para as moças) e aos 13 anos (um dia para os rapazes), eles se tornavam os responsáveis pelos seus atos, quando se dizia que o menino passava a ser Bar Mitzvá (הווצמרב, "filho do mandamento"); e a menina passa a ser BatMitzvá (הווצמתב, "filha do mandamento"). Ao completar 13 anos, o jovem judeu é chamado pela primeira vez para a leitura da Torá, mas antes desta idade, são os pais os responsáveis pelos atos dos filhos. No Egito antigo, a partir dos cinco anos as crianças já começavam a ser treinadas para o trabalho, exercendo diferentes funções, dependendo do que se esperava dela, indo das mais simples até as mais complexas com a passagem dos anos. Mas numa carta da 18ª Dinastia (Novo Impé- rio) houve o alerta de que crianças deveriam ser tratadas, de fato, como crianças, ao reprimir uma família que tomou uma menina jovem como fun- cionária. Era comum que as crianças herdassem as atividades dos pais, por exemplo, filhos de sacerdotes tendiam a assumir postos semelhantes, ou em caso de oferendas familiares que eram levadas a diante pelos filhos. Os filhos eram altamente desejados pelos egípcios até porque, práticos como eram, viam neles o instrumento da preservação dos ritos do culto funerário, que eram indispensáveis para a continuidade da vida após a morte. Assim, o desejo de ter filhos, principalmente um varão, era geral e resultava em famílias numerosas. As crianças egípcias ra- ramente eram representadas vestidas e o normal, seja entre as classes comuns ou na realeza, eram os infantes viverem nus e descalços; eram alimentadas com o leite materno o máximo quanto fosse possível, po- 14 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S dendo chegar até aos três anos, posto que durante este período esta- riam livres de morrer por infecções. Há registros de que os egípcios gostavam de crianças e as tinham sempre por perto, sejam os pastores ou reis, inclusive com um clima de grande afeto e carícias, como nos relata o egiptólogo Pierre Montet: “as princesas ficavam junto deles, não só nas horas de repouso, mas também quando se ocupavam de negócios do Estado. Elas trepa- vam para os joelhos do rei e da rainha não temendo acariciar-lhes o queixo. As mais crescidas participavam na disposição das decorações. Tomados por um acesso de ternura, vemos os felizes pais apertarem os pequenos nos braços e devorarem-nos de beijos. O próprio Ramsés II se orgulhava muito dos seus cento e sessenta e tantos filhos”. Figura 1: Ramsés II representado como uma criança chupando o dedo Fonte: Ritos Ocultos, 2019 Em um dos berços de nossa civilização ocidental, a Roma An- tiga, observa-se que o nascimento de uma criança “não era apenas um fato biológico”, mas também um fato de aceitação paterna. Nesse senti- do, quando o pai elevava a criança do chão, o mesmo estava aceitando criá-la, sendo este um ato de adoção. Nesse período, a contracepção, o aborto, o abandono e morte de crianças eram atitudes corriqueiras e consideradas legítimas. Nesse mesmo contexto, aquela criança que o pai não levantasse, seria exposta diante da casa ou num monturo públi- co, e quem quisesse que a recolhesse. Em outros casos, a criança seria enjeitada se o pai estivesse au- sente, se afogavam crianças malformadas, inclusive com justificativa filo- 15 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S sófica (nisso não havia raiva, e sim razão, diz Sêneca: É preciso separar o que é bom do que não pode servir para nada). A criança de sexo feminino poderia ser considerada resultado de alguém que “cometeu uma falta” e se podia abandonar os próprios filhos legítimos caso existisse um estado de miséria de uns, e em casos dos mais ricos, podia-se rejeitar um filho, cujo nascimento pudesse perturbar os negócios patrimoniais da família. Salientamos que Roma concebeu a infância e tratou das crian- ças com base no texto-base da das Doze Tábuas, escrito em bronze e exposto, publicamente no fórum no ano de em 451 a.C. Nela destaca- vam-se o valor da tradição que compreende o espírito, os costumes, a disciplina dos pais. As tábuas traziam uma educação voltada à dignida- de, à coragem, à firmeza como valores máximos. Nesse contexto, a família tinha o papel prioritário atribuído ao pai, e era sua a função de guia e de exemplo. Já a mãe participava dessa educação, tomando conta da criança, cuidando de seu aspecto espiritual e material, responsável pelo crescimento físico e moral, desde a nutrição até a criação, instrução e sustento. Mas o pai seria conside- rado o verdadeiro educador. Em Roma já se desenvolvia uma “escola primária” destinada a oferecer alfabetização primária, com ensino de leitura, escrita e cálculo, funcionava em locais alugados ou na casa dos ricos, e para onde se dirigiam as crianças, acompanhadas de um escravo designado e respon- sável pela educação moral da criança, denominado segundo a termino- logia grega, por Paedagogus. As crianças tinham um ensino coletivo e as meninas também frequentavam a escola, num formato de tempo integral, onde tinham ainda exercícios físicos, banho e seguiam métodos que con- sistia em memorização, reprimendas e castigos, como a palmatória. Na Grécia, a sociedade espartana tinha uma infância educada para as virtudes guerreiras, de modo que aos sete anos deidade a criança ficava em poder do Estado, os meninos eram retirados da sua família e encaminhados para escolas-ginásios onde recebiam, até aos dezesseis anos, uma educação de tipo militar, que defendia a obtenção da força e da coragem. Nesse contexto, sua educação ocorria através de leitura e de alfabetização, embora poucos nobres soubessem ler e contar. A infância estava destinada à guerra e havia um desprezo a tudo que não fossem “virtudes” guerreiras, e na ocasião do nascimento do menino, esse seria sacrificado, no caso de não ser robusto. Já em Atenas se apregoava um outro tipo de infância e, conse- quente, forma de educação, regulando, a criança deveria receber a educa- ção no seio da família e nas escolas particulares, de modo a formar, para serem futuros governantes e imprimir neles o amor à pátria, às instituições e aos deuses. De uma cultura de guerreiros, a educação ateniense passou 16 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S para uma cultura de escritas, abandonando seus antigos costumes de an- dar armados, para adotar um estilo de vida menos rústico e mais letrado. A própria Atenas buscou desenvolver uma educação menos rígi- da, mais alegre e humana, propondo a descoberta educativa ateniense e de toda a cultura grega: a “paidéia” que consistia numa pedagogia dos so- fistas, numa espécie de educação filosófica e retórica acerca dos homens e seus problemas, embora privilegiando os meninos. Nesse sentido, a Pai- déia (paidos-criança) buscava criar meninos para a vida adulta, através da poesia, da eloquência e da filosofia, cujo método educativo que se prolon- garia por toda vida, muito para além dos anos escolares do cidadão grego. INFÂNCIA NA IDADE MÉDIA No período da Idade Média (476-1453), a infância era consi- derada como um estágio caracterizado pela inexperiência, pela depen- dência e pela incapacidade de corresponder às demandas sociais mais complexas, predominantemente adultas, embora essa mesma criança fosse vista como um “adulto em miniatura”, ou seja, frequentava e até mesmo, trabalhava nos mesmos locais dos adultos, usava roupas simi- lares e chegava a ser tratada do mesmo modo que o adulto. Pra começar, já bem pouco depois que a criança passava do perí- odo de amamentação, se iniciava na cultura através do trabalho, ajudando o adulto nos serviços e cheia de responsabilidades apesar de seu físico e capacidades mentais. Ou seja, não existiam grandes diferenças entre o adulto e a criança, restando à criança aprender o mundo do adulto através das tarefas e papéis sociais do dia a dia. Existiam casos em que, para aprender tais papéis, eram criadas por outras famílias que as educavam e treinavam em algum ofício útil socialmente e, claro, sob a ótica do adulto. De certa forma, mesmo nascendo numa família, a criança tinha pouco convívio direto com os pais, em termos de comunicação e afeto, passando a realizar essas trocas fora do círculo familiar, através de ou- tros elementos como vizinhos, amos, criados e instituições. Como o Cristianismo atravessou toda a sociedade medieval como sistema de doutrina e de regulação dos costumes de vida, e diante de uma sociedade feudal, os homens possuíam papéis bem delimitados e toda a sociedade era produto da mentalidade cristã, com uma divisão bem clara de classes, de modo que os monges que se dedicavam ao culto e ao estu- do de um lado, e do outro, os escravos, os servos e os conversos, destina- dos ao trabalho. Nesse período feudal, a criança, mais especificamente o menino, ficava na casa paterna até completar sete anos, depois, passava a viver com um nobre que lhe ensinava as artes da guerra e as maneiras da 17 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S paz. Já as filhas dos nobres eram educadas também no início da vida, na casa materna, porém, posteriormente, passavam a viver em casa de famí- lia estranha. Naquela sociedade a menina aprendia a tarefas domésticas, tecer e fiar e ficavam recolhidas até a época do matrimônio. Não havia, portanto, uma separação clara entre o que seria adequado para crianças e o que seria específico da vivência dos adul- tos, o que se pode ver claramente nas roupas retratadas nos quadros franceses daquele período. Podemos observar que a arte medieval trata de temas infantis, fazendo uso de imagens de crianças reproduzindo homens miniatura, como no tema religioso, como por exemplo, onde há uma cena do evan- gelho em que Jesus pede que se deixe vir a mim as criancinhas, (...) as miniaturas que se agruparam em torno de Jesus, oito verdadeiros ho- mens, sem nenhuma das características da infância, de modo que era utilizado o traço da inocência das crianças, mas o corpo e o rosto eram do adulto, a inocência representada na nudez e a criança no tamanho. E mesmo antes, nessas representações religiosas, apareciam os anjos como rapazes bonitos e crianças mal saídas da infância, ou a infância ligada ao ministério da maternidade da virgem e ao culto de Ma- ria, e ainda a alma representada por uma criancinha nua e assexuada. Figura 2: Traje das crianças da França e Alemanha no inicio do Século XVI Fonte: Jean Leclerc, secXVI A obra de Ariès resgata, dentre outras coisas, que as crianças eram tratadas como adultos em tamanho menor, que nem chegavam a ter uma acomodação ou vestimenta própria a elas. Ou seja, esta não sepa- ração remete a uma outra característica deste período: a inexistência do conceito de privacidade, de modo que todos os assuntos e brincadeiras sexuais envolviam crianças e adultos. As crianças de então, participavam 18 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S efetivamente de todos os contextos da vida, como se fossem adultos. INFÂNCIA NO RENASCIMENTO A infância começa a mudar no começo do século XVII, perío- do denominado Renascimento, com uma nova mentalidade acerca de tudo, especialmente em educação, mas ainda com um tipo de ensino marcado pela ausência de um conceito específico para infância. Ainda não havia a instituição escolar e os professores se resumiam a ministrar aulas em grandes lugares públicos, tais como igrejas, mercados, pra- ças, etc., e para um grupo heterogêneo de estudantes das mais diver- sas idades e níveis de conhecimento. Como ainda não havia uma noção de aprendizagem versus es- tágio de desenvolvimento, também não existia uma diferenciação etária e uma consequente separação de conteúdos para sujeitos mais velhos ou mais jovens, resumindo-se a uma verificação do “aprendizado da vida”, com um olhar sobre a convivência direta e cotidiana dos alunos- -aprendizes, de modo rudimentarmente avaliativo. Essa aprendizagem seguiria pela vida, a partir da convivência da criança ou do jovem com os adultos e, sem portanto, qualquer por padrão de educação infantil. Ou seja, nesse período ainda imperava a noção da infância como miniatura do adulto e nos dizeres de Ariès (1981, p. 14): “A criança era, portanto, diferente do homem, mas apenas no tamanho e na força, enquanto as outras características permaneciam iguais” (ARIÈS, 1981, p.14). Nesse contexto do final da Idade Média, decorrer do século XVII, inicia-se o processo de escolarização sociedade, e por meio do surgimento da escola, começa-se a organização de turmas e séries, le- vando a uma separação de crianças dos adultos, quando aquelas eram enclausuradas em espaços, chamados de quarentena. Entretanto, mesmo com o aparecimento dessas instituições, o conceito de infância ainda não era claro e bem delimitado, mas come- çando a mudar, em decorrência da Igreja, da família no processo de escolarização, das descobertas sobre as práticas de higiene e de vaci- nação, que aumentaram a expectativa de vida da população. Ocorria um clima de reforma em toda a cultura, o que ocorreu também na Igreja, quando a criança começou a ser valorizada, o que podeser observado na arte e na iconografia (arte de representar ima- gens) . Nesse contexto, a Igreja associava a imagem das crianças com a de anjos, sinônimo de inocência e pureza divina. Segundo a Igreja, Deus favorece as crianças devido à sua singeleza, que se aproxima muito de sua impecabilidade, impondo uma necessidade de se amar as 19 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S crianças e colocar a educação na primeira fileira das obrigações huma- nas, contrariando a indiferença de outrora. Relacionado a essa redescoberta da criança, a Igreja também tinha intenção de fazer com que as crianças se dedicassem a Cate- quese, onde se aprendia a religião católica e uma preparação para ser novos cristãos, por meio da Primeira Comunhão e Crisma. Nesse mo- mento, se propunha uma educação geral sob os princípios religiosos, quando se deu o início de uma sistematização que vai além do aprender uma atividade do dia a dia. A partir desse momento, tal postura fez com que o final do sé- culo XVII fosse considerado um marco na evolução sobre a concepção da infância, com a origem de uma preocupação com a formação moral da criança e com sua construção como indivíduo, de modo, mesmo não sendo um mero adulto em miniatura, possuía uma fragilidade a se cuidar. Já no século XVIII, as crianças começaram a ser reconhecida em suas particularidades, obtendo o seu próprio quarto, alimentação considerada específica e adequada, ocupando um espaço maior no meio social, e agora a família começava a dar ênfase ao sentimento que tem em relação à criança. A criança é posta em evidência, se torna ‘paparicada’ pela fa- mília e a infância é reconhecida como uma época da vida merecedora de orientação e educação, com fortes preocupações relativas à saúde física e higiene, provocando uma redução da mortalidade infantil, rei- nantes naquele século. O próprio filósofo Rousseau denunciava o trata- mento duro dado às crianças até então, o que despertou para se pensar fatores de cuidado e assistência à criança. Assim, a educação da criança começa se sistematizar e passa a ser estimulada na orientação educacional e na realização dos princí- pios básicos da Igreja Católica, e não mais na estrutura familiar de servir os adultos como se verificava na Idade Média. A Igreja, através das suas escolas, ganha destaque e protagonismo em relação à família, na educação da criança, afinal, se tem uma infância escolarizada. Foi durante a Idade Média que organizou as seis etapas de vida. As três primeiras, que correspondem à Primeira idade (nascimen- to/7 anos), Segunda idade (7aos 14 anos) e Terceira idade (14 aos 21 anos), mas que não eram etapas valorizadas pela sociedade, o que so- mente ocorreria a partir da Quarta idade, a juventude (21 aos 45 anos). Ainda existiam a Quinta idade (a senectude), considerando a pessoa que não era velha, mas que já tinha passado da juventude, e a Sexta idade (a velhice), dos 60 anos até a morte. 20 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S O pintor espanhol Diego Velásquez, retratista oficial da corte espanhola em 1623, pintava imagens de meninos e meninas pequenos, como seus netos ou a Princesa Infanta Margarida, filha do Rei Felipe, de forma a representá-las não como crianças, mas como anões, envergando trajes adultos que primavam pelo des- conforto em nome da imponência. As vestimentas provavelmente impediam os garotos e garotas de se movimentarem livremente. Figura 3: Las Meninas Fonte: Diego Velasquez, 1656 INFÂNCIA NA IDADE MODERNA Sobre os períodos anteriores, alguns teóricos apontam que li- davam com o termo “idade” por não terem uma compreensão organiza- da do termo “infância”, que era relacionada a uma gama de significados. Essas idades estavam divididas em primeira idade que é a infância, onde se “planta os dentes” e que duraria até os sete anos de idade, não falante; a segunda idade, que duraria até os 14 anos de idade; a terceira idade, chamada de adolescência e que poderia durar até os 28 anos ou se estender até os 30 a 35 anos de idade. Nesse sentido, o crescimento duraria até 28 ou 35 anos de idade, enquanto o homem maduro iniciaria sua fase aos 45 anos ou 50 anos de idade (Medeiros, 2018). Como não era convencionalmente definida, em outro momento 21 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S foram propostas algumas definições de idades, a partir de comporta- mentos observados: • Primeiro a idade dos brinquedos, em que crianças brincam com cavalos de pau, bonecas, e pequenos moinhos ou de pássaros amarrados. • Idade da escola, em que os meninos aprendem a ler ou a segurar um livro e um estojo e as meninas aprendem a fiar. • Idade do amor, ou dos esportes da corte e da cavalaria, pas- seios de rapazes e moças. • Idade da guerra e da cavalaria, um homem armado. • Idade sedentária, dos homens da lei, da ciência, o velho sábio barbudo vestido segundo a moda antiga. (Medeiros, 2018) Importante salientar que, para se entender as “idades”, a língua foi um instrumento fundamental para sua compreensão, pois, o Francês não era uma língua rica em expressões, que ajudasse a traduzir esta nova concepção de infância. Os autores criadores de terminologias para infância eram latinos e estes desenvolveram sete temas para infância, das quais no francês só tinham três: enface, jeunesse e vieillesse. Por não existir um sentido adequado ao termo infância, esta não se estende por um longo período que chegara até o século XVII. Deste modo, segundo um calendário das idades do século XVI, aos 24 anos é criança forte e virtuosa, assim acontece com as crianças quando elas têm 18 anos. A longa duração da infância tal como aparecia na língua comum, provinha da indiferença que se sentia então pelos fenô- menos propriamente biológicos, ninguém teria a ideia de limitar a infância pela puberdade. A ideia de infância estava ligada à ideia de dependência: palavras fils, valets e garçons eram também palavras do vocabulário das relações feudais ou senhoriais de dependência”. (Áries 1981, p35-38). Já com a percepção de uma infância, a partir do século XVII na França, os teóricos e estudiosos passam a separar esta criança em primeiro da vida adulta, e depois da vida adolescente, até que esta pas- sasse a ter seu próprio lugar. Portanto, a infância na França contempo- rânea é tanto em terminologia, como compreensão um período cons- truído por uma noção levada pelo imaginário artístico e religioso, no período que se compreende do século XIII e estende até o século XVII. Como vamos notando e diversos estudiosos atestam, a “infân- cia” é um conceito que começou a se desenvolver a partir dos séculos XVI e XVIII, a partir de uma revolução cultural que ocorreu em todo o mundo, e uma consequente “revolução educacional”, que propiciou uma mudança na forma como se enxergava a infância antigamente, com algumas modificações: 1) incentivou a separação de uma parte do processo da vida infantil, como um estágio imaturo, ainda por se desen- 22 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S volver; 2) operou uma separação física da criança que se encontrava na fase imatura para que, submetida aos cuidados de especialistas, se desenvolvesse; 3) conferiu à família a responsabilidade de supervisio- nar esta fase educacional, embora a instituição escolar dividisse esse papel com grande poder. (Medeiros, 2018) Com essa revolução educacional, a partir de elementos-chave como a invenção da prensa de Gutemberg e o movimento de cristiani- zação que estava ocorrendo na sociedade, a Igreja se interessa em que as crianças aprendessem formalmente os preceitos religiosos, aperfei- çoando sua catequese e torna-se grande defensora da escolarização. O próprio desenvolvimento da imprensa favoreceu aescolari- zação e o processo educacional ao difundir obras de autores diversos sobre a infância, e ao criar um diferencial desenvolvimental entre adul- tos e crianças. Outro aspecto desse período é que a escolarização com- pulsória das crianças no século XVIII tornou-se uma forma de ensinar, moralizar e disciplinar. Deste modo, as crianças passam a ser separadas dos adultos e, ao invés receber os ensinamentos de hábitos e profissões pelo conví- vio, são enviadas para as escolas. Claro que, esse envio beneficiava as crianças burguesas, pois, as proletárias ainda permaneciam com suas famílias e tinham que trabalhar e sem acesso à escola. Entretanto, aqui se inicia a delimitação do mundo dos adultos em relação ao mundo infantil, onde a família divide seu poder e papel no processo de educação da criança. E com a evolução da tecnologia no século XIX e com a Revolução Industrial, enquanto algumas mulheres entraram no mercado de trabalho e deixavam de se dedicar exclusiva- mente à família, quase todos os integrantes da família proletária estavam trabalhando, inclusive as crianças. E aqui identificamos uma caracterís- tica das diferenças entre as classes sociais, no que tange ao acesso à escolarização, e que perdura de algum modo até os dias de hoje, em que as crianças ricas estudam, enquanto as crianças pobres trabalham. Se por um lado, as crianças sempre existiram, independentemen- te das concepções que se tinham delas, o estudo histórico de Ariès (1981) destacou que, durante parte da Idade Média, as crianças eram conside- radas como meros seres biológicos, sem estatuto social, nem autonomia. Mas a ideia contemporânea de infância, como categoria social, emerge com a Modernidade e tem como principal berço a escola e a família, como temos sinalizado. Nesse período que, junto com a emergência da escola de massas, ocorre a nuclearização da família e a constituição de um corpo de saberes sobre a criança, além da elaboração de um conjunto de proce- dimentos configuradores de uma administração simbólica da infância. Importante destacar que o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712- 23 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S 1778), em seu livro Emílio ou Da Educação, publicado em 1762, destacou a importância do desenvolvimento natural, espontâneo da criança, como também chamou a atenção às necessidades infantis e às condições de seu desenvolvimento, sendo o primeiro a ver claramente a diferença entre a mente da criança e do adulto. Segundo Rousseau, “a humanidade tem seu lugar na ordem das coisas. E a infância tem o seu na ordem da vida humana”, ou seja, a criança deve ser entendida não como um adulto em miniatura, mas como um ser dotado de características próprias. Essas ideias de Rousseau influenciaram aplicações educacio- nais do reformador suíço Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), que concebia a educação como a única possibilidade de mudança das terrí- veis condições de vida do povo; que a educação deveria ser um processo carinhoso e feliz, no qual as crianças podem se desenvolver de modo natural em um ambiente planejado e adequado. Para Pestalozzi, a família era primordial, mas não é suficiente como agente educador, necessitando do complemento da escola e das demais instituições educacionais, que representam o meio vital e social, no qual a criança deve ser inserida. Deste modo, Rousseau e Pestalozzi foram alguns dos precurso- res, do século dezessete ao dezenove, do reconhecimento dos direitos da criança, e suas contribuições desembocam em outro pensador, Fro- ebel, uma figura fundamental da psicologia e da pedagogia da infância, cujos trabalhos priorizaram a importância do jogo como método caracte- rístico para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças pequenas. A educação aqui, dependeria de respeitá-las em sua individualidade e qualidades dinâmicas e ativas de sua natureza, com a redução do caráter estrito e formal dos procedimentos educacionais e ênfase na atividade, na manipulação de objetos, na liberdade de exploração e expressão. Com a modernidade surgem as normas e prescrições que re- gulam a vida das crianças na sociedade, tais como, a delimitação de lugares, tipos de alimentação, horas de aceite e recusa da criança na participação coletiva, a sistematização da atividade escolar e estudo dos seus traços comportamentais. Ou seja, notamos que as concepções sobre a infância variam historicamente e as crianças estão em contínua mudança, embora se torne preocupação central nos círculos acadêmicos, pedagógicos e fa- miliares constituídos na Modernidade, quando se constrói um discurso científico sobre a infância. Salientamos que, ocorrem movimentos de retrocesso, como no caso do advento a industrialização inglesa e francesa com a sua procura de mão-de-obra, levando mais uma vez, estes que chamamos de crianças, assumirem uma postura de adultas miniaturas, próximo ao antigo estagio medieval. 24 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S A constituição do conceito infância está na transição dos sécu- los XVII para XVIII, quando esta passa a ser definida como um período de ingenuidade e fragilidade do ser humano, que deve receber todos os incentivos possíveis por sua fragilidade e quando se sai do ato de mimar e paparicar as crianças, vistas como meio de entretenimento dos adultos. Entretanto, a infância em uma sociedade moderna contempo- rânea do final do século XX em países como o Brasil, Argentina, pode trazer conceito já definido por uma ciência biológica e psicológica, que é um período de crescimento e desenvolvimento, o ser humano, que vai o nascimento até a puberdade e, portanto, uma época que a criança vive sua fase de meninice e puerícia. O século XIX permitiu que o pensamento de civilidade e moderni- dade acontecesse no Brasil, embora de forma tardia, e influenciasse todo o modelo educacional, tanto a criança, quanto a mulher, foram beneficia- das em relação à importância que lhes foram atribuídas. Destarte, este novo período incentivado pela crescente presença feminina no mercado de trabalho, “é marcado pelo reconhecimento das instituições de educa- ção infantil como dignas e legítimas, como possíveis de fornecer uma boa educação às crianças que as freqüentavam, desde que se atendam aos padrões de qualidade exigidos para isso” (Silva e Carvalho, 2004). Portanto, as novas condições sociais estabelecidas pelas mu- danças provocadas pelo capitalismo, ou por bem melhor dizer, pelas novas mentalidades sociais (sentimento da família, o papel da mulher, sentimento da infância), ofereceram condições e possibilidades à escola- rização da criança e, principalmente, para o prolongamento da infância. Ou seja, as mudanças que iriam marcar as relações sociais, a partir do século XV, com a modernidade, foram oriundas não simples- mente das alterações provocadas pelo novo modelo econômico, mas também pelas novas mentalidades desenvolvidas quanto às concep- ções de família e infância. O novo sentimento da família, ao qual Ariès reafirma, provocaria o novo sentimento atribuído a infância. Por outro lado, segundo (Silva e Carvalho, 2004, p. 19) a modernidade contribuiu para a diluição do próprio sentimento da infância que ela mesma inventou. Deste modo, Neil Postamn argumenta: “o sentimento da infância que acompanha a modernidade estaria desaparecendo”. Em seu pen- samento, aquela específica sensibilidade desenvolvida sobre a infância no início da modernidade estaria desaparecendo neste final de século. Sensibilidade esta caracterizada pela inocência da infância e pelo cuidado da infância pelo adulto. Foi a própria modernidade que diferenciou a criança do adulto é a mesma que insere a criança/trabalhador no mercado de trabalho, sujeitando-os às mesmas condições de “pequeno adulto” apresentadas pelo modelo medieval. 25 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TEM P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Uma das práticas culturais utilizadas nas diversas cultu- ras, como modo de educar a infância, eram os castigos físicos, inclusive a palmatória adotada também nas escolas, além das pal- madas utilizadas pelas famílias. Tema controverso, mas que ajuda a compreender o modo como a infância tem sido tratada ao longo da história e a concepção educativa que tem sido adotada. Esse artigo trata de possíveis repercussões das palmadas na vida de uma criança: Acesse: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesau- de/2018/03/castigos-fisicos-na-infancia-estao-ligados-a-transtor- nos-na-fase-adulta.shtml O REGISTRO VIVO DA INFÂNCIA NA ICONOGRAFIA Todas as culturas desenvolveram técnicas de registros de sua vida cotidiana, através de objetos de artes, desenhos e outros registros icônicos. No caso da infância, mais que registros sistemáticos es- critos, temos na iconografia os maiores registros dos modos que viviam as crianças das diversas sociedades. Philippe Ariès (1981) foi pioneiro no uso de iconografia para a construção da História Social da Família e da Criança, que resultou na construção da ideia de que o “sentimento da infância” teria aparecido na Europa, a partir do século XVIII. Fica como sugestão buscar na internet, em “imagens”, o termo “iconografia da infância”. 26 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2012. Banca: Universidade Estadual de Ijuí-RS. Órgão: Prefei- tura de Santa Rosa – RS. Prova: Professor. Nível: Superior. Em seu livro “Por amor e por força, rotinas na educação infantil”, Maria Carmen Silveira Barbosa define a rotina da infância como: A. produtos culturais criados, produzidos e reproduzidos no dia a dia, que têm como propósito a organização da rotinização. B. algo que modificamos diariamente e que tem o mesmo conceito de cotidiano. C. atividades múltiplas desenvolvidas em uma lógica do simples ao complexo. D. Organização da escola que se organiza por tempos diferenciados, com uma sequência de atividades escolhidas para referência do traba- lho das crianças. E. categoria pedagógica em que os responsáveis pela educação infantil estruturam para, a partir dela, desenvolver o trabalho cotidiano nas ins- tituições de educação infantil. QUESTÃO 2 Ano: 2012. Banca: Universidade Estadual de Ijuí-RS. Órgão: Prefei- tura de Santa Rosa – RS. Prova: Professor. Nível: Superior. Os séculos XIX e XX estabeleceram um corpo de saberes e fazeres que possibilitaram tanto a construção social do conceito de infân- cia como a constituição de instituições de educação infantil e de pedagogias para educá-la e cuidá-la. É considerada núcleo central em que operam essas pedagogias: A. a organização de espaços sociais adequados para a educação e cuidado das crianças. B. o nascimento de um profissional para atuar na educação infantil. C. a seleção de metodologias e de conteúdo. D. a categoria rotina. E. a organização da vida cotidiana das instituições e das pessoas sob a forma de rotina. QUESTÃO 3 Ano: 2007. Banca: Centro de Seleção e de Promoção de Eventos UnB (CESPE). Órgão: Secretaria de Estado de Administração - MT. Prova: Professor. Nível: Superior. Na década de 20 do século XX, o índice de analfabetismo no Brasil chegava a 80% da população. Várias manifestações foram feitas, 27 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S à época, em favor da educação, provocando o surgimento de um movimento que marcou a educação brasileira. Acerca desse movi- mento, conhecido como escolanovismo, assinale a opção correta. A Por influência desse movimento, as ideias positivistas ganharam a simpatia das gerações mais novas de oficiais formados pelas escolas militares, cujo currículo valorizava as ciências exatas em detrimento da tradição humanista. B. Com o movimento da escola-nova, foi aprovada a Reforma Francisco Campos, que instituiu o novo estatuto das universidades brasileiras e a divisão do ensino secundário em dois ciclos, sendo que o último ciclo visava à preparação para o ensino superior. C. Esse movimento, que defende a aplicação do modelo empresarial na escola, baseia-se na racionalização e na produção do sistema capi- talista, sendo um dos objetivos dos teóricos que a defendem adequar a escola às exigências da sociedade industrial. D. Esse movimento introduziu a defesa da escola pública para todos, a fim de que se pudesse alcançar uma sociedade igualitária e sem privilégios. E. Esse movimento se inspirou nas práticas educativas da Idade Média QUESTÃO 4 Ano: 2012. Banca: Universidade Estadual de Ijuí-RS. Órgão: Prefei- tura de Santa Rosa – RS. Prova: Professor. Nível: Superior. Para Sarmento e Pinto (1997), os estudos de Ariès têm o mérito de ter proporcionado a consciência de que aquilo que parecia um fenômeno natural e universal era afinal o resultado de uma cons- trução das sociedades moderna e contemporânea. Para eles: A. as grandes corporações têm tomado conta de garantir às crianças o seu lazer, não importa de que camada social elas provenham. B. o papel do adulto frente ao desenvolvimento infantil, cabendo-lhe proporcionar experiências diversificadas e enriquecedoras, a fim de que as crianças possam fortalecer e desenvolver suas capacidades. C. à medida que foram criadas novas perspectivas educacionais, a par- tir da invenção da infância, a família e a escola criam instrumentos de disciplinarização e gerenciamento, colocando a criança como aluno. D. as relações ocorrem dentro de um contexto histórico e social, no qual a cultura desempenha um papel fundamental, fornecendo ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade. E. a inteligência já é capaz de empregar símbolos e signos, ainda lhe falta a reversibilidade, ou seja, a capacidade de pensar simultaneamente o es- tado inicial e o final de alguma transformação efetuada sobre os objetos. 28 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S QUESTÃO 5 Ano: 2012. Banca: Fundação Professor Carlos Augusto Bittencourt (FUNCAB). Órgão:. Prefeitura de Valença – RJ. Prova: Educador Social. Nível: Médio. A noção de infância como temos hoje é ainda muito recente em termos de história. Dessa forma, pode-se considerar que: A o ato de mimar e paparicar as crianças, vistas como meio de entrete- nimento dos adultos (especialmente da elite), deveria ser extirpado por manter as crianças num estado infantil. B. até o fim da Idade Média, inexistia o conceito de infância como um estágio específico do desenvolvimento do ser humano que deveria re- ceber cuidados especiais por sua fragilidade, distinto da vida adulta. C. o novo lugar assumido pela infância logo após a Idade Média levou a uma rápida extinção do sentido da infância, e, em consequência, crian- ças começaram a ser inseridas no mercado de trabalho. D. depois da Idade Média, crianças passaram a ser vistas como irrele- vantes para os adultos, eram retratadas e vestidas como adultas e, se morressem cedo, podiam ser enterradas em qualquer lugar. E. crianças frequentavam espaços de adultos durante a Idade Média, sen- do excluídas apenas de festas religiosas que diziam respeito a temas se- xuais, como a circuncisão, e outras brincadeiras sexuais comuns na época. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Foi apresentado, como nas Idades Antiga e Média, que a criança fora vista como um “adulto em miniatura”, expressão de Ariès. Argumente quais os problemas se essa concepção se persistisse nos dias e educação atuais. TREINO INÉDITO Dentre as influências do pensamento de Rousseau para a educa- ção está: A. A consideração da criança com sentimentos, desejos e ideias pró- prias de seu momento de vida. B. A ideia de que a criança é um adulto em miniatura e sua educação direciona-se para o seu futuro. C. A organização da atividade escolar comfoco na educação do corpo e dos hábitos, desde os anos iniciais. D. A ênfase no estudo das disciplinas de língua portuguesa e matemáti- ca como base para o aprendizado das demais. E. O foco na formação moral, já que o ser humano, em essência é mau, e a função da escola é educá-lo. 29 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S NA MÍDIA EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA O processo de educação na Idade Média era responsabilidade da Igre- ja. Existiam nesse período medieval escolas que funcionavam anexas às catedrais ou a escolas monásticas que funcionavam nos mosteiros, nesse contexto, a Igreja assumiu a tarefa de disseminar a educação e a cultura no medievo e o seu papel foi preponderante para o nosso legado educacional contemporâneo. A escola no período medieval era dirigida por um cônego, ao qual se dava o nome de scholarius ou scholasticus. Os professores eram cléri- gos de ordens menores e lecionavam as chamadas sete artes liberais: gramática, retórica, lógica, aritmética, geografia, astronomia e música, que mais tarde constituíram o currriculum de muitas universidades. Para acontecer o ensino precisava-se de uma autorização, essa era cedida pelos bispos e pelos diretores das escolas eclesiásticas que, com medo de perderem a influência, dificultavam ao máximo essa concessão. Reagindo contra essas limitações, professores e alunos organizaram-se em associa- ções denominadas universitas, que mais tarde originou a palavra universi- dades. As universidades eram compostas por quatro divisões ou faculda- des. A faculdade de Artes era o lugar onde a educação acontecia de forma mais geral, as faculdades de Direito, Medicina e Teologia trabalhavam o conhecimento de forma mais específica. Os diretores das faculdades eram chamados de decanos e eleitos pelos professores; o decano da Faculdade de Artes era o reitor e representava oficialmente a universidade. Os cursos oferecidos eram em latim e com isso exigia-se do estudante muito empenho e dedicação. O estudo das sete artes liberais era divi- dido em dois ciclos: o trivium e o quadrivium. O primeiro compreendia a gramática, a retórica e a lógica; o segundo compunha-se do estu- do da aritmética, geografia, astronomia e música. Conforme o grau de afinidade, distribuíam-se então os estudantes pelos cursos de Direito, Medicina e Teologia. Os estudantes viviam em um ritmo frenético e as calorosas discussões com a população eram rotineiras. De uma forma geral os estudantes eram de origem humilde e muitos viviam internos em colégios ou internatos que contavam com rígidas formas disciplina- doras estudantis. Com o tempo esses colégios passaram a constituir campos de estudos autônomos, sendo que alguns deles ainda existem, e são renomados mundialmente, como os de Oxford, Cambridge e o de Sorbonne, fundado em 1257 por Rogério de Sorbon, na França. A metodologia de ensino baseava-se na leitura de textos e na expo- sição de ideias feitas pelos professores. As aulas muitas vezes eram animadas quando os debates entre mestres e alunos eram travados em público, discutiam sobre um tema determinado, essas aulas foram de- 30 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S nominadas de scholasticadisputattio. Esse processo de estudo foi muito usado por São Tomás De Aquino e foi chamado de escolástica. A esco- lástica teve seu apogeu no século XIII, o método proporcionou a criação de diversas Universidades por toda a Europa, como as de Paris, Oxford, Cambridge, Salerno, Bolonha, Nápoles, Roma, Pádua, Praga, Lisboa e assim por diante. Sendo que a Universidade de Bolonha ficou célebre por sua faculdade de Direito e Salerno, por sua faculdade de Medicina. Fonte: Brasil Escola Data: 02 de maio de 2019 Autora: Lilian Aguiar NA PRÁTICA BOLSONARO DECRETA FIM DAS FACULDADES DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA: “OBJETIVO É FOCAR EM ÁREAS QUE GEREM RE- TORNO IMEDIATO” Para Bolsonaro, os estudos de humanas não “respeitariam o dinheiro do contribuinte” e a educação deve servir para ensinar “leitura, escrita e a fazer conta e depois um ofício que gere renda para a pessoa”. O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, crava que o argumento utilizado pelo presidente é falso. “Não é o curso universitário que gera recurso econômico. O que gera retorno econô- mico, a partir da formação, é o crescimento econômico. Ou seja, não basta que a pessoa tenha um diploma universitário, é necessário que o mercado de trabalho tenha uma vaga para contratar essa pessoa”, analisa. Fontes e matérias completas: 1: https://www.revistaforum.com.br/bolsonaro-decreta-fim-das-faculda- des-de-filosofia-e-sociologia-objetivo-e-focar-em-areas-que-gerem-re- torno-imediato/ 2: https://www.cartacapital.com.br/educacao/por-que-os-cursos-de-filo- sofia-e-sociologia-incomodam-bolsonaro/ 31 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S A CHEGADA EUROPEIA, A CONSTITUIÇÃO FAMILIAR E A INFÂNCIA Sabemos obviamente que, ao embarcar no Brasil, os portugue- ses se misturaram aos índios e, por ser uma maioria de homens, estavam solteiros ou sem suas esposas, o que os levaram a formar novas famílias com as mulheres nativas, o que originou os mestiços, e que alterou aque- la estrutura familiar típica de Portugal. Essa família de origem europeia se concentrou ao redor do engenho de açúcar, na chamada Casa Grande. Nesse contexto familiar, embora oficialmente a sociedade por- tuguesa no Brasil estivesse baseada na monogamia, a prática era ou- tra, pois, o senhor de engenho se casava aos olhos da igreja com uma mulher na Europa, mas constituía um harém no Brasil. Já as mulheres europeias que eram enviadas ao Brasil tinham um passado “pecamino- A INFÂNCIA NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S 31 32 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S so” que se buscava esquecer e relegar, diante da escassez de mulheres brancas no país, mantinham certos hábitos de promiscuidade. Ou seja, com o aval da esposa, o senhor de engenho mantinha várias concubi- nas nativas e/ou africanas, que estavam sempre muito próximas dele, ou seja, também no interior da Casa Grande, servindo como criadas. A Criança no Brasil Colônia Miúdo e ingênuo. Você sabe porque esses termos eram usados para designar as crianças brasi- leiras durante o período colonial? A professora e doutora em histó- ria pela USP, Mary Del Priori, fala sobre as concepções de criança ao longo do tempo. Vídeo sobre a infância no Brasil Colônia: https://www.you- tube.com/watch?v=INSKaEjHYx4 Importante salientar que nesse período o castigo físico em crian- ças não era nenhuma novidade no cotidiano colonial, afinal fora uma prá- tica introduzida no século XVI, pelos padres jesuítas, para horror dos indí- genas, que desconheciam o ato de bater em crianças, a correção era vista como uma forma de amor. O lema era que “muito mimo” devia ser repudia- do, pois, fazia mal aos filhos. Ou ainda que “a muita fartura e abastança de riquezas e boa vida que tem com ele é causa de se perder” admoestava em sermão José de Anchieta. Ou seja, os vícios e pecados, mesmo co- metidos por pequeninos, deviam ser combatidos com “açoites e castigos”. Na sequência, a partir da segunda metade do século XVIII, com o estabelecimento das chamadas Aulas Régias, a palmatória era o instrumento de correção por excelência: “nem a falta de correção os dei- xe esquecer do respeito que devem conservar a quem os ensina”, cita um documento de época. Mas, ressalvava, endereçando-se aos profes- sores: “e tão somente usarem dos golpes das disciplinas ou palmatórias quando virem que a repreensível preguiça é a culpada dos seus erros e não a rudez das crianças a cúmplice de sua ignorância”.Haviam casos ainda, que as violências físicas, muitas vezes dirigidas às mães, atingiam os filhos e não foram poucas as famílias que se desfizeram deixando entregues ao Deus dará, mães e seus filhinhos: fome, abandono, instabilidade econômica e social deixaram marcas em muitas das crianças. Era algo tão frequente que não são poucas as que encontramos, nos documentos de época, esmolando às portas de igrejas, junto com suas 33 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S genitoras. Um processo crime datado de 1756, movido na vila de São Se- bastião, São Paulo, por Catarina Gonçalves de Oliveira revela imagens de outras violências: a de pais contra filhos. Nos autos, Catarina revela ter defendido seu enteado, uma criança pequena, de chicotadas desferidas pelo pai, ansioso por corrigir o hábito do pequeno de comer terra. As “disci- plinas”, os bolos e beliscões se revezavam com as risadas e mimos. Já nas escolas jesuítas, o lazer ficava por conta do banho de rio e no “ver correr as argolinhas”, tradição lusa antiquíssima que consistia em uma forma de “justa”, em que qualquer se deixava pender de um pos- te ou árvore enfeitados, uma argolinha que devia ser tirada pelo cavaleiro em disparada. “Ensina-mo-lhes jogos que usam lá os meninos do Reino – conta, entusiasmado, o padre Rui Pereira em 1560 – Tomam-nos tão bem e folgam tanto com eles que parece que toda sua vida se criaram nisso”. Brincava-se, também, com miniaturas de arcos e flechas ou com instrumentos para a pesca, com forte influência indígena, sendo que outras brincadeiras eram o jogo do beliscão, o de virar bundaca- nastra, o jogo da peia-queimada além de ritmos, cantos, mímicas feitas de trechos declamados, além de piões, papagaios de papel e animais, gente e mobiliário reduzidos, confeccionados em pano, madeira ou bar- ro, eram os brinquedos preferidos. As primeiras escolas instaladas no Brasil nasceram inte- gradas à instalação da Igreja Católica, portanto, com um fito ime- diato de catequizar e cristianizar o povo colonizado. Obviamente, os padres jesuítas também traziam o aprendizado da língua portu- guesa, o canto e formação agrícola. Filosofia e Teologia eram áreas de formação, mas também enviavam pessoas para estudo na Europa. A Educação no Brasil-Colônia:https://www.youtube.com/ watch?v=MBhHRLPalWk Entretanto, a trajetória da infância e a adolescência no Brasil é marcada por diversas privações e dificuldades, com diversos problemas enfrentados por elas, tais como, maus tratos, abusos sexuais, mortali- dade infantil, miséria, fome, crianças sem teto, sem família, escrava do trabalho, isso tudo sendo causado por negligência do Estado, da família e da sociedade em geral. Para se ter uma ideia da noção da época, para os Jesuítas “A 34 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S puberdade era entendida como o momento da passagem da inocência original da infância à idade perigosa do conhecimento do bem e do mal, em que a criança assumiria o comportamento do adulto”, e daí, enten- diam que a criança deveria receber “luz”, ser “modulada”, antes que atingisse a idade da puberdade, momento esse que já seria corrompida pelos adultos que estão a sua volta. Diante dessa problemática, e para que pudesse “modular” as crianças e evitar que seguissem os costumes dos adultos, os Jesuítas criaram o projeto pedagógico de colonização jesuítica, no qual tinha como missão divulgar a fé cristã e catequizar os indígenas. Assim, as crianças que resistiam a esse projeto, que não queriam participar, os jesuítas diziam que estavam em “tentação demoníaca”, o mau já havia habitado neles. Os jesuítas viam a catequese como forma de “conservar a docilidade e a obediência da criança, mais uma forma de ação que acabava por negar a cultura indígena”. Entretanto, com essa prática pedagógica, aproveitavam tam- bém para explorar o trabalho dos indígenas e as riquezas naturais de suas terras, e mesmo com essa proposta pedagógica para as crianças, os jesuítas enfrentaram um grande problema, que não conseguiam en- quadrar as crianças abandonadas, órfãs e migrantes em seu projeto pedagógico. Para diminuir as situações de abandono e sofrimento na época da Colônia e prosseguindo durante o império, é instalada no Bra- sil uma instituição de origem medieval, chamada a Roda dos Expostos. Segundo Marcílio (1997), o nome roda [dos expostos] provém do dispositivo onde se colocava os bebês que se queria abandonar. Sua forma cilíndrica, dividida ao meio por uma divisória, era fixada no muro ou na janela da instituição. No tabuleiro inferior e em sua abertura externa, o expositor depositava a criancinha enjeitada. A seguir, ele girava a roda e a criança já estava do outro lado do muro. Puxava-se uma cordinha com uma sineta, para avisar a vigilante ou rodeira que um bebê acabava de ser abandonado e o expositor furtivamente retirava-se do local, sem ser identificado. Essa prática da roda de expostos foi uma das instituições brasileiras de mais longa vida, sobrevivendo aos três grandes regimes de nossa História, sendo criada na Colônia, perpas- sou e multiplicou-se no período imperial, conseguiu manter-se durante a República e só foi extinta definitivamente na recente década de 1950. Esta Roda foi uma forma encontrada para que as pessoas le- vassem os bebês não desejados para a roda, sendo garantido o anoni- mato do expositor, e assim, não as deixando jogadas nas ruas, lixeiros, portas de igrejas e casas de outras famílias. O fenômeno de abandonar crianças era muito antigo, na época da Colônia muitas crianças eram largadas por diversos fatores, tais como, falta de recursos financeiros, 35 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S filhos fora do casamento, escravas que tinham filhos com seus senho- res e entre outros, e então, depois que nasciam, as mulheres precisa- vam dar um “fim” na criança, momento em que aconteciam os casos de bebês jogados em becos, lixeiras, nas portas de outras famílias, igrejas. A criação dessas rodas de exposto no Brasil (Salvador, Rio de Janeiro e Recife, século XVIII, sendo que nos séculos posteriores, outras rodas de expostos foram criadas em várias partes do Brasil. A princípio as rodas dos expostos eram mantidas pelo espírito de caridade da popula- ção, de modo que homens proprietários, preocupados com a salvação de suas almas, deixavam em seus testamentos legados e esmolas para as misericórdias, muitos designando-os expressamente à ajuda na criação de expostos, ou para prover dotes às mocinhas desamparadas da casa dos expostos. Ou seja, o funcionamento dessas rodas somente era possível pela ajuda dessas pessoas, que viam nessas crianças o amor cristão. No entanto, a Roda dos Expostos não perdurou por muito tem- po, por volta do século XIX no Brasil essas instituições começaram a ser fechadas, pois, passaram a ser consideradas contrárias aos interesses do Estado, as rodas começam a receber críticas de médicos higienis- tas, que viam esta forma de assistencialismo como responsável pelas mortes prematuras de crianças, e com essas instituições fechadas, as crianças passaram a ser vistas como marginais, largadas à vadiagem nas ruas, o que se exigiu novas providências em alguns discursos e práticas de educação como solução. Segundo Faleiros apud Polleto (2012), no século XVII, o número de crianças abandonadas nas portas das casas, das igrejas, nas ruas e até mesmo em montes de lixo, tornou-se um problema e os moldes de atendimento a essas crianças eram ditados pela Corte, isto é, eram os mesmos adotados em Portugal e em toda a Europa. Nesse período, destaca-se o papel da Irmandade de Nossa Senhora, conhecida popularmente como Santa Casa de Misericórdia, uma instituição própria voltada para a ca- ridade e tratamentos de saúde. A função dessas instituiçõestornou-se muito importante nos cuidados das crianças abandonadas, pois foi encontrada uma “brecha” na Lei dos Municípios de 1828, onde então as câmaras municipais repassaram oficialmente o seu dever de cuidar dos expostos.No império, a função prioritária dessas Casas era a assistência à população pobre, não obs- tante, o objetivo da irmandade não era educar as crianças, mas acolhê-las e encaminhar as que tinham de zero a 3 anos de idade para amas de leite pagas que amamentavam em domicílio ou no próprio hospital. Se ninguém se responsabilizasse por elas, estas retornavam para a casa de assistência e lá permaneciam até os 7 anos de idade, quando eram entregues às câmaras municipais e ficavam expostas, em especial ao trabalho escravo. Também é importante considerar que além das instituições formais, a fase caritativa, ad- mitia “o sistema informal ou privado” de criação dos expostos em casa de fa- 36 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S mília, que, quando essas crianças eram incorporadas a uma família, poderiam representar um complemento ideal de mão de obra gratuita. Ainda no período colonial, havia uma legislação que delimitava a idade do ingresso dessa criança no mundo do trabalho, de modo que, até três anos, quando órfã, a criança ficaria com a mãe: era a chamada criação de leite. Dos sete anos em diante, os órfãos poderiam ser dados por soldada, isto é, preparados formalmente para o trabalho. Já até os 12 anos deveriam ser ensinados a ler e escrever aos que fossem para isso, ou seja, os de condições social superior. Assim, os filhos órfãos de lavradores deveriam ser encaminha- dos para os trabalhos do campo. Do mesmo modo, o filho do oficial mecânico deveria ser preparado para o ofício de mecânico. Existiam ainda um forte tráfico e mercado de crianças escravas no Brasil, onde se chegava a trocar crianças por machados, açúcar e cachaça, inclusive os botocudos forneciam crianças que os portugueses levavam com o pretexto de catequizar. Já com relação às crianças afri- canas, os pequenos representavam cerca de 5% dos africanos trans- portados pelos navios negreiros, diferenciando as crias de pé (um metro de altura) e as crias de peito (bebês de colo), por um Alvará em 1758, determinando impostos distintos para essas criaturas e para os adultos. Duas eram as razões que favoreceram a vinda dessas crianças para o Brasil, seja devido à expectativa de que crescessem e se tornas- sem escravas, e em segundo lugar, para impossibilitar a separação dessa criança da mãe, evitando assim a sua morte. Acerca do treinamento das crianças para o trabalho, elas eram chamadas, de acordo com o ofício que elas desenvolviam. Se o ofício era na roça, recebia um sobrenome (Chico Roça), se era pastorear animais (João Pastor), se era trabalho doméstico (Ana Mucana). Obviamente, o ofício e o treinamento se davam na prática, e desde cedo, paulatinamente, a criança ia tendo o tempo ocupado pelo trabalho, de acordo com a necessidade e as demandas existentes. Durante o período da escravidão, o destino das crianças custa- vam sobreviver aos abortos por maus-tratos, a alta mortalidade infantil em virtude das péssimas condições do cativeiro e os infanticídios pra- ticados pelas mães como forma de livrar seus filhos dessa condição. A INFÂNCIA DOS SÉCULOS XIX E XX Como tratamos acima, a iconografia de um país é uma fonte rica de informações sobre os modos de vida de um determinado povo e, nesse caso, podemos ter acesso aos modos que viviam as crianças, e 37 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S como era a concepção de infância, especialmente no país. Precisamos ressaltar que, devido ao pouco desenvolvimento tecnológico do período, não temos muitos registros fotográficos, preva- lecendo obras de pinturas, mas que apresentam informações ricas so- bre o nosso tema, como é o caso do pintor do século XIX, Debret, onde aparecem muitos negros, e as crianças são representadas de maneira a parecer com os animais domésticos, ao lado das mesas dos senhores, pegando restos de alimentos. Através dessas gravuras já se percebe uma diferenciação de gê- nero, delimitadas nos trajes das meninas e os dos meninos, embora sejam retratados com vestes de adultos, em todas as classes sociais. As vesti- mentas das meninas e das mulheres adultas, sempre esmeradas, pratica- mente não apresentam diferenças. É preciso levar em consideração que as roupas usadas possivelmente não representam as vestes do dia a dia. Já os meninos estão trajados como adultos, usando paletós e gravatas, uniforme militar, especialmente uniforme de marinheiro; inclu- sive, os meninos frequentavam as escolas antes das meninas, desta forma, o uso do uniforme começou a fazer parte da vestimenta deles, especialmente a roupa de marinheiro. Outro dado é que os meninos aparecem atuantes e ativos, transitando pelo espaço público, entre eles, a rua, enquanto as meninas são retratadas dentro de casa. Uma informação importante, especialmente na perspectiva de gênero, nos registros das famílias retratadas, percebe-se uma hierar- quia, onde o homem é o centro e, inclusive quando há meninos e me- ninas, os meninos também são o centro, o que aponta a existência de uma sociedade patriarcal e sexista, além de racista. Figura 4: Uma família brasileira no Rio de Janeiro Fonte: Jean-Baptiste Debret, 1839 38 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Já havia escola nesse período, sendo que os meninos tinham a primazia diante das meninas, além de um conjunto de obras de civilida- des da infância, com observações e conselhos para uso das crianças, abordando as principais circunstâncias da vida em sociedade, delimi- tando as regras de sociabilidade exigidas desde a primeira infância dos pequenos indivíduos. As orientações geralmente são voltadas à con- formação do comportamento infantil, com a intenção de configurar o caráter dos meninos, para desde cedo moldar e formar o bom cidadão, e para as meninas, a boa mãe e dona de casa. Como mencionado, em relação às meninas, podemos obser- var em todas as famílias retratadas, que elas ocupavam um lugar hierar- quicamente inferior ao dos meninos. Quanto ao traje pudemos observar que a maioria delas usa o mesmo traje que as mulheres e, enquanto o chapéu foi um adereço usado pelas meninas brancas e uma marca de classe social, os meninos utilizam uniformes de marinheiros e, desta forma, para os meninos foi construída uma especificidade de infância, anterior a das meninas. Figura 5: Crianças Negras em Imagens do Século XIX Fonte: Militão Augusto de Azevedo, sem data. In: JOVINO, 2010 No final do século XIX, já existia a noção de criança como ser frágil e ingênuo, percebida pelos higienistas e de ordem médica, que trouxe um novo conceito de infância que buscava a preservação da saúde destas crianças, identificando a origem das doenças dentro do sistema familiar herdado da colônia, de modo a satisfazer as exigências da propriedade e as necessidades dos adultos. Tal como no sistema familiar do Brasil Colônia, a criança não tinha espaço de ser, com especificidades e peculiaridades no meio so- cial, mas como um lugar puramente instrumental, e valorizado enquanto elemento posto a serviço do poder paterno, especialmente em termos 39 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S de sucessão na administração dos bens. Nesse sentido, entre o adulto e a criança, as ligações existentes eram da propriedade e da religião, não dando lugar à afetividade paternal ou familiar. De modo similar a outros períodos históricos, por conta da or- dem familiar advinda dos moldes coloniais, os elos que uniam a cadeia das gerações só foram criados quando a família dispôs da representa- ção da criança como matrizfísico-emocional do adulto. Nesse contexto de invisibilidade da infância, concebe-se uma criança incapaz de agir por si própria, em um mundo cercado por perigos, os mais diversos, a quem é vetada uma participação social efetiva, sob a argumentação de que esta necessita de proteção, num modo paternalista das crianças como “homúnculos” ou seres humanos em miniatura, desprovidas de especificidade própria e originalidade. No Brasil de meados de 1860, a maioria das pequenas rodas de expostos já havia desaparecido. Subsistiram, no entanto, as maio- res, as de São Paulo, Salvador, Porto Alegre e Rio de Janeiro, e a filan- tropia surgia como modelo assistencial, fundamentada na ciência, para substituir o modelo da caridade. Nesses termos, à filantropia atribuiu-se a tarefa de organizar a assistência dentro das novas exigências sociais, políticas, econômicas e morais, que nascem com o início do século XX, com entidades que mixavam religiosidade, assistencialismo e experi- mentos das ciências da época. Já na legislação de 1850, os filhos dos escravos começam a ser citados e, em 1871, é noticiada a Lei nº. 2.040, conhecida como Lei do Ventre Livre que, por um lado, estabeleceu uma liberdade con- dicionada à vontade do senhor, mas por outro, constituiu marco impor- tante em direção à Abolição da Escravatura. Nesse período histórico, o Brasil passa por rápidas e importantes transformações decorrentes da urbanização. Nesse contexto, os higienistas se destacam trazendo conhecimentos médicos sobre higiene, controle e prevenção de doen- ças infecto-contagiosas e epidemias. Com sua prática intervencionista, instauram indicativos disciplinares, definindo os referenciais de normal e patológico, diagnóstico e prevenção, doença e cura. Um conjunto de profissionais da saúde começa um trabalho voltado à criança, sobretudo à criança pobre e, em nome da preserva- ção da segurança, delineiam-se atos de aconselhamento e punição às ações que infringiam essas regras de higienização, e as primeiras medi- das adotadas pelo poder público para minimizar a situação das crianças pobres se concretizaram no período do Brasil Império. Esse fato marca a preocupação do governo em retirar do meio social, as crianças que circulavam pelas ruas, o que causava descon- forto à população. 40 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S Assim, de acordo com Polleto (2013), surgem os primeiros asilos, mantidos pelo governo imperial, com o objetivo de ministrar o ensino elementar e profissionalizante a esse público, mascarando, dessa forma, o intuito real de segregação dos menores, retirando-lhes do con- vívio social. A exemplo de tal fato é criado em 1875, um internato destinado a recolher e educar meninos de 6 a 12 anos, devendo receber instrução primária e ensino de ofícios mecânicos, denominado Asilo de Meninos Desvalidos. Ainda em Polleto (2013), no final do século XIX, os higienistas introduzem uma nova denominação para menor e menoridade, considerando-os crianças e adolescentes po- bres, ou seja, os abandonados que viviam nas ruas, mercados e praças dos centros das cidades, muitas vezes cometendo delitos.Em 1922, o Estado brasileiro organizou o Primeiro Congresso Brasileiro de Proteção à Infância, incorporando a referência dos asilos como o espaço do menor abandonado e com o passar do tempo estes asilos se tornaram edificações similar a quar- téis - com muros altos, muita disciplina, isolamento da criança, uniformes se- veros - sendo firmados como casas correcionais.Neste período, o país teve um enorme crescimento de entidades privadas, vinculadas à Igreja Católica, destinadas à atenção aos órfãos, abandonados e delinquentes, com o intuito de prepará-las para o trabalho e ensinar doutrinamentos sobre a moral. Em 1923 foi criado o primeiro Juízo de Menores do Brasil1 e, em 1924, foi regu- lamentado o Conselho de Assistência e Proteção dos Menores, que teve sua consolidação, através do Decreto nº. 17.943-A, apenas em 1927. Apenas em 1927, período em que vários tratados internacio- nais estabeleceram novas regras de convivência entre países membros da Sociedade das Nações, e um dos resultados desses tratados foi a aprovação de uma Declaração dos Direitos da Criança, na conferência de Genebra, em 1921, o Brasil decreta o que veio a ser a primeira in- tervenção de caráter oficial e sistematizado na vida dos meninos e me- ninas em situação de exclusão, ou seja, o Código Mello Mattos –, mais conhecido como Código de Menores de 1927. Nesse período, ocorre uma cisão profunda na assistência, foi a constituição de duas categorias que assumem características independentes: o menor e a criança. Duas categorias que vão ser alvo (s) de políticas diversas, situação que adquire maior nitidez na era Vargas com a criação do Serviço de Assistência a Menores e do Departa- mento Nacional da Criança, inaugurando a Política de Proteção à infância, à adolescência e à maternidade, reforçando depois com a atuação da LBA [Legião Brasileira de Assistência, criada pela primeira dama Darcy Vargas em 1942]. O menor permanece na esfera policial-jurídica, sob controle do Ministério da Justiça e a criança é exclusividade da esfera médico-educacional, cujas ações 41 E D U C A Ç Ã O D A C R IA N Ç A C O N TE M P O R Â N E A - G R U P O P R O M IN A S são coordenadas pelo Ministério da Educação e Saúde. (RIZZINI, 1995,p. 298). Na sequência, mas seguindo a perversa tradição legal e de as- sistência ao menor de todo o período histórico anterior, tem-se em fins da década de 1970 a revisão e substituição do antigo Código Mello Mattos de 1927, nascendo mais uma vez, por decreto, o que ficou conhecido então como Código de Menores de 1979. Este Código, que surge sob o auspício da ditadura militar pós-1964, período em que a questão do menor também é alvo freqüente de intervenções arbitrárias do Estado, pautadas na Doutrina de Segurança Nacional, quando o menor, a partir dessa ótica, era encarado como alvo fácil e, como tal, deveria ser tratado. Neste entendimento, suas necessidades eram desconsideradas. Ele não era ouvido, mas arbitrariamente introduzido em espaços determinados para, juntamente com outros menores, ser tratado pela prática das ‘re’ – ressocialização, reeducação, reintegração. Diante da metodologia das ‘re’, o tratamento tinha um caráter reformista e modernizador. Essa longa realidade mudou em moldes próximos ao nosso, so- mente a partir dos anos de 1960, que começam fundas mudanças na concepção e formas de assistência às crianças abandonas. No ano de 1964, o governo militar introduziu, mediante a Lei 4.513 de 1º de dezem- bro de 1964, a Política Nacional do Bem - Estar Social do Menor, cabendo a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) sua execu- ção. Seus objetivos eram cuidar do menor carente, abandonado e delin- quente, cujos desajustes sociais se atribuíam aos desafetos familiares. Em vários Estados foram instaladas as FEBEM´s (Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor) que tinham como objetivo, subs- tituir os antigos "Aprendizados de Menores", para adequar a assistência que antes era quase exclusiva da Igreja, como exemplo as rodas dos expostos e as casas de misericórdia. Os Juizados passaram a encami- nhar as crianças órfãs ou abandonadas para essas fundações, e que lá ficavam esperando ser adotadas, enquanto recebiam um ótimo tra- tamento e uma boa orientação pelas saudosas "damas de caridade", bondosas senhoras que se dedicavam voluntariamente. Em 1930, a política adotada enfocava a família como elemen- to participativo no desenvolvimento da criança e do adolescente, e a sociedade como responsável pela garantia do direito de proteção aos mesmos, isentando assim, o Estado de qualquer responsabilidade. Ain- da assim, até 1935, menores apreendidos nas ruas, independentes das causas, eram recolhidos aos abrigos de triagem do Serviço Social de Menores, onde havia
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