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Dependências Químicas – Álcool e Tabaco Introdução: O consumo de álcool, tabaco e outras drogas está presente em todos os países do mundo. Mais da metade da população das Américas e da Europa já experimentou álcool alguma vez na vida e cerca de um quarto da população é fumante. O consumo de drogas ilícitas atinge 4,2% da população mundial. A maconha é a mais consumida, seguida pelas anfetaminas, cocaína e os opiáceos, incluindo-se heroína. As complicações clínicas e sociais causadas pelo consumo de tais substâncias são hoje bem conhecidas e consideradas um problema de saúde pública. O aumento do consumo de álcool está diretamente relacionado a ocorrência de cirrose hepática, transtornos mentais, síndrome alcoólica fetal, neoplasias e doenças cardiovasculares. O abuso e a dependência de substâncias, de uma forma geral, são mais comuns nos homens que nas mulheres. Substâncias com potencial de abuso são aquelas que podem desencadear no indivíduo a autoadministração repetida, que geralmente resulta em tolerância, abstinência e comportamento compulsivo de consumo. Tolerância é a necessidade de crescentes quantidades da substância para atingir o efeito desejado. • Dependência: o uso repetido de uma droga ou substância química, com ou sem dependência física. Dependência física indica um estado fisiológico alterado devido à administração repetida de uma droga, cuja cessação resulta em uma síndrome específica. • Abuso: uso de qualquer tipo de droga, em geral autoadministrada, de um modo que desvia dos padrões médicos ou aceitos socialmente. • Tolerância: fenômeno no qual, após a administração repetida, uma determinada dose da droga produz um efeito reduzido, ou doses cada vez maiores são necessárias para se obter o efeito observado com a dose original. A tolerância comportamental reflete a capacidade do indivíduo de desempenhar tarefas apesar dos efeitos da droga. • Abstinência: síndrome específica de cada substância que ocorre após a interrupção ou redução da quantidade da droga ou substância de uso regular durante um período prolongado. A síndrome se caracteriza por sinais e sintomas fisiológicos, além de alterações psicológicas, como perturbações no pensamento, sentimentos e comportamento. Também chamada de síndrome de abstinência ou síndrome de descontinuação. Transtorno por uso de substância é o termo diagnóstico aplicado à substância específica de abuso (p. ex., transtorno por uso de álcool, transtorno por uso de opioides) e que resulta de seu uso prolongado. Os pontos a seguir devem ser considerados ao realizar esse diagnóstico. Esses critérios se aplicam a todas as substâncias de abuso. Um padrão problemático de uso da substância, levando a comprometimento ou sofrimento clinicamente significativos, manifestado por pelo menos dois dos seguintes critérios, ocorrendo durante um período de 12 meses: 1. Uso recorrente da substância, resultando no fracasso em desempenhar papéis relevantes no trabalho, na escola ou em casa (p. ex., ausências repetidas ao trabalho ou baixo desempenho profissional relacionados ao uso da substância; ausências, suspensões ou expulsões da escola relacionadas à substância; negligência dos filhos ou dos afazeres domésticos). 2. Uso recorrente da substância em situações nas quais isso representa perigo para a integridade física (p. ex., condução de veículos ou operação de máquinas durante prejuízo de julgamento decorrente do uso da substância). 3. Uso continuado da substância apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou exacer bados por seus efeitos (p. ex., discussões com o cônjuge sobre as consequências da intoxicação; agressões físicas). 4. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: a) Necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para atingir a intoxicação ou o efeito desejado. b) Efeito acentuadamente menor com o uso continuado da mesma quantidade da substância. 5. Abstinência, manifestada por qualquer um dos seguintes aspectos: a) Síndrome de abstinência característica da substância. b) A mesma substância (ou uma substância estreitamente relacionada) é consumida para aliviar ou evitar os sintomas de abstinência. 6. A substância é frequentemente consumida em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido. 7. Existe um desejo persistente ou esforços malsucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso da substância. 8. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção da substância, na sua utilização ou na recuperação de seus efeitos. 9. Importantes atividades sociais, profissionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância. 10. O uso da substância é mantido apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pela substância. 11. Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar uma substância específica. Fisiopatologia da Dependência Química: O modelo dos transtornos por uso de substâncias é o resultado de um processo no qual múltiplos fatores interagem e influenciam o comportamento do uso de drogas e a perda de discernimento com relação a decisões sobre a utilização de uma determinada substância. Embora as ações de uma droga específica sejam fundamentais no processo, não se presume que todos os indivíduos que se tornam dependentes de determinada droga experimentem seus efeitos de maneira similar ou que sejam motivados pelo mesmo conjunto de fatores. Ademais, presume-se que diferentes fatores possam ser mais ou menos importantes em estágios diferentes do processo. Dessa forma, a disponibilidade da droga, sua aceitação social e a pressão dos pares podem ser os determinantes principais da experimentação inicial, mas outros fatores, como personalidade e biologia individual, provavelmente sejam mais importantes para o modo pelo qual os efeitos de determinada droga são percebidos e o grau em que o seu uso repetido produz alterações no sistema nervoso central (SNC). Ainda outros fatores, incluindo as ações específicas da droga, podem ser determinantes primários da progressão do uso para dependência, enquanto outros podem influenciar a probabilidade de que o uso de drogas (1) conduza a efeitos adversos ou (2) ao sucesso da recuperação de dependência. Afirmou-se que a adição é uma “doença cerebral”, em que os processos cruciais que transformam o comportamento de uso voluntário de drogas em uso compulsivo são alterações na estrutura e neuroquímica no cérebro do usuário de droga. Atualmente, há evidências suficientes que indicam que essas alterações realmente ocorrem em regiões relevantes do cérebro. A pergunta que não foi respondida e que causa perplexidade é se tais alterações são tanto necessárias quanto suficientes para explicar o comportamento de uso de drogas. Há quem alegue que esse não é o caso, que a capacidade de indivíduos dependentes de drogas de modificar seu comportamento de uso em reação a reforços positivos ou contingências aversivas indica que a natureza da adição é mais complexa e exige a interação de múltiplos fatores. Com exceção do álcool, pesquisadores identificaram neurotransmissores específicos ou receptores de neurotransmissores envolvidos com a maioria das substâncias de abuso. Alguns pesquisadores baseiam seus estudos nessas hipóteses. Os opioides, por exemplo, atuam sobre receptores opioides. Um indivíduo com atividade opioide endógena muito baixa (p. ex., baixas concentrações de endorfinas) ou com atividade excessiva de um antagonista de opioides endógeno pode correr risco de desenvolver dependência de opioide. Mesmo em um indivíduo com funcionamento normal de receptores endógenos e concentração de neurotransmissores, o uso prolongado de uma substância de abusoespecífica pode, por fim, modular sistemas de receptores no cérebro de forma que a presença da substância exógena é necessária para manter a homeostase. Um processo de nível de receptor dessa natureza pode ser o mecanismo para o desenvolvimento de tolerância no SNC. Contudo, tem sido difícil demonstrar modulação de liberação de neurotransmissor e funcionamento de receptores de neurotransmissores, e pesquisas recentes se concentram nos efeitos das substâncias sobre o sistema de segundo mensageiro e sobre a regulação de genes. Os principais neurotransmissores possivelmente envolvidos no desenvolvimento de abuso e dependência de substância são os sistemas opioides, de catecolamina (particularmente dopamina) e de ácido γaminobutírico (GABA). Os neurônios dopaminérgicos na área tegmentar ventral são particularmente importantes. Esses neurônios se projetam para as regiões cortical e límbica, especialmente para o nucleus accumbens. Essa via provavelmente está envolvida com a sensação de recompensa e pode ser o mediador principal dos efeitos de substâncias como anfetamina e cocaína. O locus ceruleus, o maior grupo de neurônios adrenérgicos, provavelmente medeia os efeitos dos opiatos e dos opioides. Essas vias foram chamadas coletivamente de circuito de recompensa do cérebro. Intoxicação Aguda x Síndrome de Abstinência: Intoxicação aguda: Intoxicação é o uso nocivo de substâncias em quantidades acima do tolerável para o organismo. Os sinais e os sintomas da intoxicação alcoólica caracterizam-se por níveis crescentes de depressão do sistema nervoso central. Inicialmente, há sintomas de euforia leve, evoluindo para tontura, ataxia e incoordenação motora, passando por confusão, desorientação e atingindo graus variáveis de disartria, anestesia, podendo chegar ao estupor, coma, depressão respiratória e morte. A intensidade da sintomatologia tem relação direta com a alcoolemia. O desenvolvimento de tolerância, a velocidade da ingestão, o consumo de alimentos e alguns fatores ambientais também são capazes de interferir nessa relação. A maioria dos casos não requer tratamento farmacológico. De acordo com os sintomas e sinais, devem-se conduzir medidas gerais de suporte à vida. Broncoaspiração de vômitos e TCE por queda da própria altura também podem decorrer da intoxicação. Há uma forma peculiar de intoxicação, que é um pouco rara, porém de importância pela sua gravidade. Na intoxicação alcoólica idiossincrática ou patológica, há graves alterações de comportamento após a ingestão de pequena quantidade de álcool. Pode haver alterações da consciência, desorientação, amnésia lacunar, alucinações, delírios e atividade psicomotora aumentada. O comportamento pode ser impulsivo e agressivo, e o indivíduo pode tomar atitudes agressivas, das quais não se recorda. Síndrome de abstinência: A cessação da ingestão crônica de álcool ou sua redução pode levar ao aparecimento de um conjunto de sinais e sintomas de desconforto definidos como síndrome de abstinência. O sinal mais precoce e mais clássico da abstinência é representado pelos tremores. A maioria dos dependentes apresenta uma síndrome de abstinência entre leve a moderada, caracterizada por tremores, insônia, agitação e inquietação psicomotora. Cerca de 5% dos pacientes apresentarão sintomas graves. A síndrome de abstinência é autolimitada, com duração média de sete a dez dias. Crises convulsivas tônico-clônicas aparecem em 3% dos casos e a mortalidade gira em torno de 1%. Os sintomas têm certa relação temporal com o momento de cessação do uso. Os sintomas leves, como ansiedade, irritabilidade, insônia e tremor, costumam aparecer mais precocemente, cerca de 24 a 36 horas após a interrupção do uso. Já os sintomas mais graves costumam surgir cerca de três a quatro dias depois da abstinência. O delirium tremens é um estado confusional breve, mas ocasionalmente com risco de morte, geralmente resultante de uma abstinência absoluta ou relativa de álcool em usuários gravemente dependentes, com longa história de uso. A clássica tríade de sintomas inclui obnubilação da consciência, confusão, desorientação temporoespacial, alucinações e ilusões vívidas, além de tremores marcantes e sudorese profusa. Delírios, agitação, insônia, ou inversão do ciclo sono-vigília e hiperatividade autonômica (hipertensão arterial, taquicardia, taquipneia, hipertermia) também estão geralmente presentes. As alucinações visuais costumam ser de animais, denominadas zoopsias. Outro quadro, mais raro, pode ocorrer na síndrome de abstinência. A alucinose alcoólica se caracteriza por alucinações predominantemente auditivas, mas que também podem ser visuais ou táteis, e que podem causar ansiedade, medo ou agitação. Uma característica peculiar deste tipo de fenômeno é que ele ocorre na ausência de rebaixamento do nível da consciência e sem alterações autonômicas. O tratamento da síndrome de abstinência visa o alívio dos sintomas existentes, a prevenção do agravamento do quadro com convulsões e delirium e a vinculação do paciente no tratamento, que pode ocorrer de forma ambulatorial ou internação hospitalar, dependendo da gravidade do quadro. O tratamento baseia-se no uso de benzodiazepínicos e reposição de vitaminas para evitar a síndrome de Wernicke. Álcool: O álcool é uma droga potente que causa alterações tanto agudas quanto crônicas em quase todos os sistemas neuroquímicos. Dessa forma, o abuso de álcool pode produzir sintomas psicológicos temporários graves, incluindo depressão, ansiedade e psicoses. Em longo prazo, níveis cada vez maiores de consumo de álcool podem produzir tolerância, bem como adaptação do corpo tão intensa que a interrupção do uso pode precipitar uma síndrome de abstinência normalmente caracterizada por insônia, evidência da hiperatividade do sistema nervoso autônomo e ansiedade. Portanto, em uma avaliação adequada dos problemas de vida e sintomas psiquiátricos em um paciente, o profissional deve considerar a possibilidade de que a situação clínica reflete os efeitos do álcool. Psiquiatras precisam estar atentos ao alcoolismo porque se trata de uma condição comum; intoxicação e abstinência são semelhantes a vários transtornos psiquiátricos maiores, e o indivíduo usual com alcoolismo não se encaixa em estereótipos (i.e., os chamados “cachaceiros que bebem até cair”). Em qualquer faixa etária, 2 em cada 3 homens consomem álcool, com uma proporção de ingestão persistente de aproximadamente 1,3 homem para 1,0 mulher, sendo que a prevalência mais elevada de consumo de álcool vai da metade para o fim da adolescência, ou do fim da adolescência até a metade da faixa dos 20 anos. Homens e mulheres com educação superior e renda elevada têm mais chances de consumir álcool, e, entre as denominações religiosas, há maior proporção de judeus que o consomem, mas que apresentam os índices mais baixos de dependência da substância. Outras etnias, como irlandeses, têm índices mais elevados de problemas graves com álcool, mas também índices significativamente elevados de abstenção. O álcool produz seus efeitos ao se intercalar nas membranas e, desse modo, aumentar a fluidez das membranas com o uso de curto prazo. Com o uso prolongado, no entanto, a teoria postula que as membranas se tornam rígidas ou endurecidas. A fluidez das membranas é essencial para o funcionamento normal dos receptores, dos canais iônicos e de outras proteínas funcionais ligadas a membranas. Atividades nos canais iônicos associadas aos receptores de acetilcolina nicotínica, serotonina 5- hidroxitriptamina3 (5-HT3) e GABA tipo A (GABAA) são intensificadas pelo álcool, enquanto atividades dos canais iônicos associadas aos receptores de glutamato e canais de cálcio disparados por voltagem são inibidas. Como resultado final das atividades moleculares, o álcool funcionacomo depressor, assim como os barbitúricos e benzodiazepínicos, com os quais o álcool apresenta, parcialmente, tolerância cruzada e dependência cruzada. O uso de álcool está associado a diminuição do sono do movimento rápido dos olhos (sono REM ou sono com sonhos) e do sono profundo (estágio 4) e maior fragmentação do sono, com episódios mais frequentes e mais longos de vigília. Os principais efeitos adversos do uso de álcool estão relacionados a lesões no fígado. O uso de álcool, pode resultar em acúmulo de gorduras e proteínas, as quais produzem a aparência de um fígado gorduroso, às vezes encontrado em exames físicos como um fígado aumentado (hepatomegalia). O uso de álcool, no entanto, está associado ao desenvolvimento de hepatite alcoólica e cirrose hepática. O consumo intenso de álcool em longo prazo está associado ao desenvolvimento de esofagite, gastrite, acloridria e úlceras gástricas. O desenvolvimento de varizes esofágicas pode acompanhar abuso de álcool particularmente intenso; a ruptura dessas varizes é uma emergência médica que costuma resultar em morte por hemorragia. Síndrome de Wernicke-Korsakoff: denominação clássica para transtorno amnéstico persistente induzido por álcool é composta por encefalopatia de Wernicke (um conjunto de sintomas agudos) e síndrome de Korsakoff (uma condição crônica). Enquanto a encefalopatia de Wernicke é totalmente reversível com tratamento, apenas 20% dos pacientes com síndrome de Korsakoff se recuperam. A conexão fisiopatológica entre as duas síndromes é deficiência de tiamina (vitamina B1), causada por maus hábitos nutricionais ou por problemas de absorção. A tiamina é um cofator de várias enzimas importantes e também pode estar envolvida na condução do potencial de ação ao longo do axônio e na transmissão sináptica. As lesões neuropatológicas são simétricas e para- ventriculares, envolvendo corpos papilares, o tálamo, o hipotálamo, o mesencéfalo, a ponte, a medula, o fórnice e o cerebelo. A encefalopatia de Wernicke, também chamada de encefalopatia alcoólica, é um transtorno neurológico agudo caracterizado por ataxia (que afeta principalmente a marcha), disfunção vestibular, confusão e uma variedade de anormalidades de motilidade ocular, incluindo nistagmo horizontal, paralisia orbital lateral e paralisia do olhar conjugado. Esses sinais oculares costumam ser bilaterais, mas não necessariamente simétricos. Outros sinais oculares podem incluir uma reação lenta à luz e anisocoria. A encefalopatia de Wernicke pode desaparecer espontaneamente em alguns dias ou semanas, ou pode progredir para síndrome de Korsakoff. Nos estágios iniciais, a encefalopatia de Wernicke reage rapidamente a grandes doses de tiamina parenteral, que se acredita ser eficaz na prevenção da progressão para síndrome de Korsakoff. A dosagem de tiamina costuma ser iniciada em 100 mg via oral de 2 a 3 vezes por dia e continua durante 1 a 2 semanas. Em pacientes com transtornos relacionados ao álcool que recebem administração IV de solução de glicose, a boa prática recomenda incluir 100 mg de tiamina em cada litro de solução de glicose. A síndrome de Korsakoff é a síndrome amnéstica crônica que pode se seguir à encefalopatia de Wernicke, e acredita-se que as duas síndromes possam ter relação fisiopatológica. As características principais da síndrome de Korsakoff são a síndrome de prejuízo mental (especialmente a memória recente) e amnésia anterógrada em um paciente alerta e responsivo. O paciente pode ou não apresentar o sintoma de confabulação. O tratamento da síndrome de Korsakoff também consiste em 100 mg de tiamina administrada via oral 2 a 3 vezes ao dia; o regime de tratamento deve continuar de 3 a 12 meses. Poucos pacientes que progridem para síndrome de Korsakoff chegam a se recuperar totalmente, embora vários apresentem melhoras em suas capacidades cognitivas com tiamina e apoio nutricional. Delirium Tremens: Pacientes com sintomas reconhecidos de abstinência de álcool devem ser monitorados com atenção para impedir a progressão para delirium por abstinência de álcool, a forma mais grave da síndrome de abstinência, também conhecido como DTs. O delirium por abstinência de álcool é uma emergência médica que pode resultar em morbidade e mortalidade significativas. Pacientes com delirium são um perigo para si mesmos e para outros. Devido à imprevisibilidade de seu comportamento, esses pacientes podem ser agressivos ou suicidas, ou podem agir em resposta a alucinações ou pensamentos delirantes como se fossem perigos genuínos. Sem tratamento, o DTs tem um índice de mortalidade de 20%, geralmente como resultado de uma doença médica intercorrente, como pneumonia, doença renal, insuficiência hepática ou insuficiência cardíaca. Embora convulsões de abstinência normalmente antecedam o desenvolvimento de delirium por abstinência de álcool, o delirium também pode surgir inesperadamente. A característica fundamental da síndrome é delirium com ocorrência no período de uma semana depois da cessação ou redução da ingestão de álcool. Além dos sintomas de delirium, as características de delirium por intoxicação de álcool incluem hiperatividade autonômica, como taquicardia, diaforese, febre, ansiedade, insônia e hipertensão; distorções da percepção, mais frequentemente alucinações visuais ou táteis; e níveis flutuantes de atividade psicomotora, que vão de hiperexcitabilidade a letargia. Aproximadamente 5% dos indivíduos com transtornos relacionados ao álcool que requerem hospitalização têm DTs. Como a síndrome normalmente se desenvolve no terceiro dia de internação, um paciente admitido devido a uma condição não relacionada pode inesperadamente ter um episódio de delirium, o primeiro sinal de um transtorno relacionado ao álcool não diagnosticado. Episódios de DTs costumam ter início na faixa dos 30 aos 40 anos de idade, após 5 a 15 anos de consumo intenso, geralmente do tipo compulsivo. Uma doença física (p. ex., hepatite ou pancreatite) predispõe à síndrome; um indivíduo que goza de boa saúde raramente tem DTs durante a abstinência de álcool. O melhor tratamento para DTs é prevenção. O paciente em abstinência de álcool que exibe fenômenos de descontinuação deve ser medicado com benzodiazepínicos, como 25 a 50 mg de clordiazepóxido a cada 2 a 4 horas até evidências de que esteja fora de perigo. Assim que o delirium surge, no entanto, 50 a 100 mg de clordiazepóxido devem ser ministrados a cada 4 horas VO, ou lorazepam deve ser administrado via intravenosa (IV) caso medicação oral não seja possível. Medicamentos antipsicóticos que podem reduzir o limiar convulsivo devem ser evitados. Uma alimentação rica em calorias e carboidratos, complementada por multivitamínicos, também é importante. Conter fisicamente o paciente com DTs é arriscado; ele pode lutar contra as contenções até um nível perigoso de exaustão. Quando está turbulento e fora de controle, pode-se usar uma sala de reclusão. A desidratação, frequentemente exacerbada por diaforese e febre, pode ser corrigida com administração oral ou intravenosa de líquidos. Anorexia, vômito e diarreia costumam ocorrer durante a abstinência. Medicamentos antipsicóticos devem ser evitados porque podem reduzir o limiar convulsivo. O surgimento de sintomas neurológicos focais, lateralidade de convulsões, aumento da pressão intracraniana ou evidências de fraturas no crânio ou outras indicações de patologia do SNC devem levar o clínico a examinar o paciente em busca de uma nova doença neurológica. Medicamentos anticonvulsivantes não benzodiazepínicos não ajudam a impedir nem tratar convulsões resultantes de abstinência de álcool, embora benzodiazepínicos costumem ser eficazes. A psicoterapia de apoio no tratamento de DTs é fundamental. O paciente costuma ficar desnorteado, assustado e ansioso devido aos sintomasperturbadores, e o apoio verbal competente se faz imperativo. Tabaco: O consumo de tabaco é considerado um dos maiores problemas em saúde pública, de proporções internacionais. Os processos farmacológicos e comportamentais que determinam a dependência de nicotina são similares àqueles que determinam a dependência de outras drogas, como a heroína e a cocaína. A expectativa de vida de um indivíduo que fuma muito é 25% menor que a de um não fumante. Entre as 25 doenças relacionadas ao hábito de fumar, todas são causas de morte: doenças cardiovasculares, câncer, doenças respiratórias e outras. O componente psicoativo do tabaco é a nicotina, que tem seus efeitos no SNC, agindo como um agonista nicotínico de receptores de acetilcolina. Os sintomas de abstinência descritos pela CID-10 são: A avaliação do grau de dependência à nicotina pode ser feita pelo teste de Fagerström (vide quadro a seguir). Uma soma acima de seis pontos indica que, provavelmente, o paciente terá síndrome de abstinência ao deixar de fumar. Referências Bibliográficas: 1. Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. 11ª.ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Capítulo 20 (pg 616- 639 e 680-685). 2. MedCurso – Psiquiatria 2019 3. Resumos da Med 4. https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos- psiqui%C3%A1tricos/transtornos-relacionados-ao-uso-de- subst%C3%A2ncias/transtornos-por-uso-de-subst%C3%A2ncias https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-relacionados-ao-uso-de-subst%C3%A2ncias/transtornos-por-uso-de-subst%C3%A2ncias https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-relacionados-ao-uso-de-subst%C3%A2ncias/transtornos-por-uso-de-subst%C3%A2ncias https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-relacionados-ao-uso-de-subst%C3%A2ncias/transtornos-por-uso-de-subst%C3%A2ncias
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