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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Glicopeptídeos ........................................................... 4 3. Lipopeptídeos ............................................................12 4. Oxazolidinonas .........................................................16 Referências bibliográficas .........................................20 3AZÓLICOS 1. INTRODUÇÃO Alguns antimicrobianos interferem seletivamente na síntese da pare- de celular bacteriana – uma estrutu- ra que as células dos mamíferos não possuem. A parede celular é compos- ta de um polímero denominado pep- tideoglicano, que consiste em unida- des de glicano unidas umas às outras por ligações peptídicas cruzadas. Os membros mais importantes do grupo são os antimicrobianos β-lactâmicos (discutidos em outro Material), além de outras classes que também atu- am sobre a síntese da parede celu- lar, como os glicopeptídeos, repre- sentados pela vancomicina e pela teicoplanina e os lipopeptídeos, representados pela daptomicina. As oxazolidinonas, representadas pela linezolida, inibem a síntese de proteínas. MEMBRANA CELULAR PAREDE CELULAR Ribossomos DNA RNAm ATHF PABA Inibidores do metabolismo Inibidores da síntese da parede celular Inibidores da síntese de proteínas Inibidores da função ou síntese de ácidos nucleicos Inibidores das funções da membra celular Sulfonamidas Trimetoprima β-lactâmicos Vancomicina Daptomicina Telavancina Fosfomicina Tetraciclinas Aminoglicosídeos Macrolídeos Clindamicina Cloranfenicol Linezolida Fluoroquinolonas Rifampicina Isoniazida Anfotericina B Polimixina Figura 1. Classificação de alguns antibacterianos pelo seu local de ação. Legenda: ATHF, ácido tetra-hidrofólico; PABA, ácido paraminobenzoico. Fonte: Farmacologia Ilustrada, 2016. 4AZÓLICOS MAPA MENTAL: INTRODUÇÃO Inibidores da síntese da parede celular β-lactâmicos Glicopeptídeos Lipopeptídeos Tetraciclinas Aminoglicosídeos Macrolídeos Clindamicina Cloranfenicol Oxazolidinonas Vancomicina Teicoplanina Linezolida Daptomicina Inibidores da síntese de proteínas 2. GLICOPEPTÍDEOS A vancomicina é um antibiótico gli- copeptídico tricíclico produzido por Streptococcus orientalis. A teico- planina também é um antibiótico da classe dos glicopeptídeos produzi- do por Actinoplanes teichomyetius. Possui similaridade com a vancomici- na quanto à estrutura química, meca- nismo de ação, espectro de atividade e via de eliminação (isto é, principal- mente renal). Mecanismo de ação A vancomicina e a teicoplanina ini- bem a síntese da parede celular de bactérias sensíveis através de sua ligação de alta afinidade à extremi- dade terminal D-alanil-D-alanina de 5AZÓLICOS unidades precursoras da parede ce- lular. Em virtude de seu grande ta- manho molecular, são incapazes de penetrar na membrana externa de bactérias gram-negativas. Os glico- peptídeos são geralmente bacterici- das contra cepas sensíveis, à exce- ção de enterococos. A. Polimerização B. Ligação cruzada (NAM-NAG)n (NAM-NAG)n LCP-NAM-NAG (NAM-NAG)n (NAM-NAG)n (NAM-NAG)n (NAM-NAG)n NAM-NAG LCP Vancomicina Agentes β-lactâmicos Transglicosilases Transpeptidases NAM NAG LCP L-Alanina D-Glutamato L-Lisina D-Alanina Glicina LEGENDA N-Ácido acetilmurâmico N-Acetilglicosamina Transportador de lipídeo bactoprenol Parede celular Figura 2. Inibição da síntese da parede celular bacteriana: vancomicina e β-lactâmicos. A vancomicina inibe a polimeri- zação ou a reação da transglicosilase (A) por ligação à extremidade terminal da D-alanil-D-alanina da unidade precur- sora da parede celular unida a seu transportador lipídico e por bloqueio da ligação ao polímero glicopeptídico (indicado pela letra subscrita n). Esses polímeros peptideoglicanos (NAM-NAGn) estão localizados no interior da parede celular. Antibióticos β-lactâmicos inibem a ligação cruzada ou a reação da transpeptidase (B) que une cadeias de polímeros glicopeptídicos por formação de uma ponte cruzada com o peptídeo-tronco (as cinco glicinas neste exemplo) de uma cadeia, deslocando a D-alanina terminal de uma cadeia adjacente. Fonte: As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman, 2012 Espectro de atividade e resistência A vancomicina possui atividade con- tra um amplo espectro de bactérias gram-positivas, como S. aureus, S. epidermidis e estreptococos. Bacillus spp., incluindo B. anthracis, espécies de Corynebacterium (difteroides), a maioria das espécies de Actinomy- ces e as espécies de Clostridium 6AZÓLICOS também são sensíveis. Praticamente todas as espécies de bacilos gram- -negativos e micobactérias são resis- tentes à vancomicina. A teicoplanina é ativa contra estafilo- cocos sensíveis e resistentes a meti- cilina. Também são sensíveis Listeria monocytogenes, Corynebacterium spp., Clostridium spp., cocos gram- -positivos anaeróbicos, estreptoco- cos não viridans e viridans, S. pneu- monia e enterococos. Algumas cepas de estafilococos, coagulase-positivas e coagulase-negativas, bem como enterococos e outros microrganismos que são intrinsecamente resistentes à vancomicina (ex: Lactobacillus spp. e Leuconostoc spp.), são resistentes à teicoplanina. As cepas de enterococos antigamen- te exibiam sensibilidade uniforme a glicopeptídeos. Cepas de enteroco- cos resistentes a glicopeptídeos, prin- cipalmente Enterococcus faecium, surgiram como importantes patóge- nos nosocomiais em hospitais nos EUA. Os determinantes da resistência à vancomicina em E. faecium e em E. faecalis localizam-se em um transpo- son que constitui parte de um plas- mídeo conjugativo, permitindo sua rápida transferência entre enteroco- cos e, potencialmente, outras bacté- rias gram-positivas. Tipicamente, es- sas cepas são resistentes a múltiplos antibióticos, incluindo estreptomicina, gentamicina e ampicilina, eliminando de forma eficaz esses fármacos como agentes terapêuticos alternativos. A resistência dos enterococos a gli- copeptídeos resulta de uma alteração do alvo D-alanil-D-alanina em D-ala- nil-D-lactato ou D-alanil-D-serina, que se liga precariamente a glicopep- tídeos, devido à ausência de um local crítico para a ponte de hidrogênio. São necessárias várias enzimas dentro do grupo gênico van para que ocorra alteração desse alvo. Foram descri- tos vários fenótipos de resistência a glicopeptídeos. S. aureus e estafilococos coagula- se-negativos podem expressar uma sensibilidade reduzida ou “interme- diária” à vancomicina ou resistência de alto nível. Infecções causadas por cepas de resistência intermediária à vancomicina não têm respondido à vancomicina clinicamente e em mo- delos animais. Ciclos anteriores de tratamento e níveis baixos de vanco- micina podem predispor os pacientes a infecção e insucesso no tratamento em caso de cepas de resistência in- termediária à vancomicina. Essas ce- pas costumam ser resistentes a meti- cilina e a múltiplos outros antibióticos; seu surgimento constitui uma preo- cupação principal, visto que até pou- co tempo a vancomicina foi o único antibiótico a que estafilococos eram confiavelmente sensíveis. 7AZÓLICOS SE LIGA! Com o aparecimento de cepas resistentes, é importante retardar o aumento de bactérias resistentes à vancomicina (ex: Enterococcus faecium e Enterococcus faecalis), restringindo o uso da vancomicina para o tratamento das infecções graves causadas por mi- crorganismos gram-positivos resistentes aos β-lactâmicos ou para pacientes com infecções gram-positivas que tenham grave alergia aos β-lactâmicos. GÊNERO MORFOLOGIA ESPÉCIE DOENÇA Gram-negativo Bordetella Cocos B. pertussis Coqueluche Brucella Coco-bacilos B. abortus Brucelose (bovinos e humanos) Campylobacter Espirilos C. jejuni Intoxicação alimentar Escherichia Bacilos E. coli Septicemia, infecções de feridas, ITU Haemophilus Bacilos H. influenzae Infecção aguda do trato respiratório, meningite Helicobacter Bacilo móvel H. pyloriÚlcera péptica, câncer gástrico Klebsiella Bacilos encapsulados K. pneumoniae Pneumonia, septicemia Legionella Bacilos flagelados L. pneumophila Doença do Legionário Neisseria Diplococos N. gonorrhea Gonorreia Pseudomonas Bacilos flagelados P. aeruginosa Septicemia, infecções respiratórias, ITU Rickettsiae Coco filamentoso Várias espécies Infecções provocadas por carrapatos e insetos Salmonella Bacilos móveis S. typhimurium Intoxicação alimentar Shigella Bacilos S. dysenteriae Disenteria bacilar Yersinia Bacilos Y. pestis Peste bubônica Vibrio Bacilos flagelados V. cholerae Cólera Gram-positivo Bacillus Bacilos em cadeia B. anthrax Antraz Clostridium Bacilo C. tetani Tétano Corynebacterium Bacilo C. diphtheriae Difteria Mycobacterium Bacilos M. tuberculosis Tuberculose M. leprae Lepra Staphylococcus Cocos em cacho S. aureus Infecções de feridas, furúnculos, septicemia Streptococcus Diplococos S. pneumoniae Pneumonia, meningite Cocos em cadeia S. pyogenes Escarlatina, febre reumática, celulite Outros Chlamydia Gram “não definido” C. trachomatis Doenças oftalmológicas, infertilidade Treponema Bacilo espiralado flagelado T. pallidum Sífilis Tabela 1. Algumas bactérias patogênicas clinicamente significativas. Fonte: Rang & Dale: Farmacologia, 2016 8AZÓLICOS Usos clínicos A vancomicina é usada no tratamen- to de pacientes com infecções gram- -positivas invasivas suspeitas ou comprovadas, incluindo S. aureus resistente à meticilina (MRSA). Os principais usos clínicos da vancomici- na são: • Infecção por Clostridioides (ante- riormente chamados de Clostri- dium) difficile (via oral); • Endocardite (via intra-venosa): ◊ Corynebacterium (diphthe- roids): tratamento da endo- cardite difteroide em combina- ção com rifampicina, ou com aminoglicosídeo, ou ambos na endocardite com válvula pro- tética de início precoce; ◊ Enterococos: tratamento de endocardite causada por en- terococos (ex: Enterococcus faecalis), em combinação com um aminoglicosídeo; ◊ Estafilococos: tratamento da endocardite estafilocócica; ◊ Estreptococos: tratamento da endocardite devido a Strep- tococcus viridans ou Strep- tococcus bovis, em monote- rapia ou em combinação com um aminoglicosídeo; • Enterocolite (via oral): tratamento de enterocolite causada por Sta- phylococcus aureus (incluindo cepas resistentes à meticilina, MRSA). Enterocolite estafilocócica é incomum. • Infecções estafilocócicas (via in- tra-venosa): tratamento de infec- ções graves (ex: bacteremia, in- fecções ósseas, infecções do trato respiratório inferior, infecções da pele e na estrutura da pele) cau- sadas por cepas suscetíveis de MRSA (resistentes a beta-lactâmi- cos); terapia empírica de infecções quando houver suspeita de MRSA. Os principais usos clínicos da teico- planina são tratamento de infecções causadas por bactérias gram-posi- tivas suscetíveis, incluindo bactere- mia, infecções complicadas da pele e tecidos moles, infecções complicadas do trato urinário, pneumonia adqui- rida na comunidade e hospitalar, in- fecções nas articulações e nos ossos, endocardite, diarreia associada a C. difficile (via oral) e profilaxia cirúrgica. Farmacocinética A vancomicina é pouco absorvida após administração oral. Na terapia parenteral, o fármaco deve ser admi- nistrado por via intravenosa, e nunca por via intramuscular. A teicoplanina pode ser administrada com seguran- ça por injeção tanto intramuscular quanto intravenosa. 9AZÓLICOS SE LIGA! A vancomicina não é absorvida após administração oral; seu uso em for- mulações orais é limitado ao tratamento de colite grave causada por C. difficile e devido ao uso de antimicrobiano. Aproximadamente 30% da vancomi- cina liga-se às proteínas plasmáticas. A vancomicina aparece em vários lí- quidos corporais, incluindo o líqui- do cerebrospinal (LCS), quando as meninges estão inflamadas, a bile e os líquidos pleural, pericárdico, sino- vial e ascítico. A teicoplanina liga-se altamente a proteínas plasmáticas (90-95%). Aproximadamente 90% de uma dose injetada de vancomicina são excreta- das por filtração glomerular. O fárma- co tem uma meia-vida de eliminação sérica de aproximadamente 6h. O fár- maco acumula-se se houver compro- metimento da função renal, e deve- -se efetuar um ajuste da dose nessas circunstâncias. A vancomicina pode ser rapidamente depurada do plasma com os métodos de hemodiálise de alto fluxo. Ao contrário da vancomici- na, a teicoplanina tem uma meia-vida de eliminação sérica extremamente longa (até 100h em pacientes com função renal normal). Eventos adversos Entre as reações de hipersensibili- dade produzidas pela vancomicina e pela teicoplanina estão exantemas cutâneos maculares e anafilaxia. Fle- bite e dor no local de injeção intra- venosa são relativamente incomuns. Calafrios, exantema e febre podem ocorrer. A infusão intravenosa rápida de vancomicina pode causar reações exantemáticas e urticariformes, ru- bor, taquicardia e hipotensão. O rubor extremo que pode ocorrer é às vezes denominado síndrome do “homem vermelho” ou do “pescoço vermelho”. Não se trata de uma reação alérgica, mas de um efeito tóxico da vancomi- cina sobre os mastócitos, que os in- duz a liberar histamina. Esta reação geralmente não é observada com teicoplanina. SE LIGA! A síndrome do homem verme- lho é um rubor mediado por histamina durante ou imediatamente após a infu- são de vancomicina. O rubor geralmente envolve o rosto e o pescoço, mas pode envolver todo o corpo. Pode ser reduzido ou eliminado evitando doses excessivas e prolongando o tempo de infusão (por exemplo, administrando o medicamento a uma taxa não superior a 500 mg/hora; ocasionalmente, alguns pacientes ne- cessitam de uma taxa de infusão ainda mais lenta). Comprometimento auditivo, algumas vezes permanente, pode seguir-se ao uso de vancomicina ou teicoplanina. Ototoxicidade está associada a con- centrações excessivamente eleva- das desses fármacos no plasma. Ne- frotoxicidade, anteriormente muito problemática em consequência das 10AZÓLICOS impurezas presentes nas primeiras formulações de vancomicina, tornou- -se menos comum com as formula- ções modernas em doses-padrões. Entretanto, foi demonstrado que os regimes posológicos mais agressivos defendidos recentemente aumentam o risco de nefrotoxicidade. Por conseguinte, dosificar e moni- torar cuidadosamente a vancomici- na constituem medidas necessárias para equilibrar os riscos e benefícios. Além disso, deve-se ter cautela quan- do fármacos ototóxicos ou nefrotóxi- cos, como aminoglicosídeos, são ad- ministrados simultaneamente com vancomicina. SE LIGA! O monitoramento da concentração séri- ca é especialmente necessário para in- dividualizar a terapia com vancomicina nas seguintes circunstâncias: • Doença crítica; • Infecção grave ou invasiva; • Função renal comprometida ou flutuante; • Obesidade mórbida (IMC ≥ 40 kg / m²); • Idade avançada; • Falta de resposta clínica adequada após três a cinco dias de terapia; • Uso de medicamentos nefrotóxicos concomitantes (exemplos incluem aminoglicosídeos, piperacilina-tazo- bactam, anfotericina B, ciclosporina, diuréticos de alça, anti-inflamatórios não esteroides e radiocontraste). 11AZÓLICOS MAPA MENTAL: GLICOPEPTÍDEOS Vancomicina Glicopeptídeos Teicoplanina Gram positivos (incluindo MRSA) Infecção por Clostridioides difficile Endocardite Enterocolite Infecções estafilocócicas Vias de administração: Via de excreção renal Reações de hipersensibilidade Síndrome do “homem vermelho” Ototoxicidade Nefrotoxicidade Corynebacterium diphteroides Enterococos Estafilococos Estreptococos Oral IV IM (teicoplanina) Representantes Agentes bactericidas Inibidores da síntese da parede celular Espectro de atividade Usos clínicos Farmacocinética Efeitos adversos 12AZÓLICOS 3. LIPOPEPTÍDEOS A daptomicina é um antibiótico lipo- peptídico cíclico derivado do Strep- tomyces roseosporus. O desen- volvimentoclínico da daptomicina, descoberta há mais de 25 anos atrás, foi retomado em resposta à neces- sidade crescente de antibióticos bactericidas eficazes contra as bac- térias gram-positivas resistentes à vancomicina. Mecanismo de ação e resistência A daptomicina liga-se às membranas bacterianas, resultando em despola- rização rápida da membrana celular, inibindo a síntese de DNA, RNA e proteínas. Possui atividade bacteri- cida que depende da concentração. Durante ensaios clínicos iniciais para tratamento de infecções cutâneas de tecidos moles, raramente foi obser- vada resistência. Subsequentemente, durante uso clinico, foi relatado surgi- mento de resistência à daptomicina no decorrer de terapia, mais comu- mente no transcurso de tratamento de infecções de localização profunda (ex: osteomielite, endocardite, infec- ções de materiais de prótese). Os mecanismos de resistência à dap- tomicina não foram caracterizados completamente, embora alterações genéticas no gene mprF (que regu- la alterações na membrana celular) correlacionadas com resistência à daptomicina tenham sido descritas. MAPA MENTAL: MECANISMO DE AÇÃO DA DAPTOMICINA Ligação à membrana celular bacteriana MECANISMO DE AÇÃO Despolarização rápida Inibição da síntese de DNA, RNA e proteínas Efeito bactericida Espectro de atividade A daptomicina é um antibiótico bac- tericida seletivamente ativo contra bactérias gram-positivas aeróbi- cas, facultativas e anaeróbicas, que incluem estafilococos, estreptococos e enterococos. A daptomicina pode ser ativa contra cepas resistentes à vancomicina, embora as concentra- ções inibitórias mínimas (CIMs) ten- dam a ser mais altas para esses mi- crorganismos do que para as cepas sensíveis à vancomicina. São sensí- veis também Corynebacterium spp., 13AZÓLICOS Peptostreptococcus, propionibacté- rias, Clostridium perfringens e espé- cies de Actinomyces. Usos clínicos Os principais usos clínicos da dapto- micina são: • Infecção da corrente sanguínea: tratamento da infecção da corrente sanguínea causada por Staphylo- coccus aureus (isolados sensí- veis ou resistentes à meticilina) em adultos, incluindo aqueles com endocardite infecciosa do lado di- reito; tratamento da infecção da corrente sanguínea por S. aureus em pacientes pediátricos de 1 a 17 anos de idade. • Infecções complicadas da pele e da estrutura da pele: tratamento de infecções complicadas da pele e da estrutura da pele causadas por S. aureus (incluindo isolados resis- tentes à meticilina), Streptococcus pyogenes, Streptococcus agalac- tiae, Streptococcus dysgalactiae subespécie equisimilis e Entero- coccus faecalis (apenas isolados suscetíveis para vancomicina) em pacientes adultos e pediátricos de 1 a 17 anos de idade. SE LIGA! A daptomicina é inativada pe- los surfactantes pulmonares; por isso, nunca deve ser usada no tratamento de pneumonias. Farmacocinética A daptomicina é pouco absorvida por via oral e só deve ser administrada por via intravenosa. A toxicidade di- reta para o músculo impede a sua in- jeção intramuscular. A daptomicina liga-se reversivelmen- te à albumina, e a ligação às proteínas atinge 92%. A meia-vida sérica é de 8-9 h nos indivíduos normais, permi- tindo a administração de uma dose única ao dia. Aproximadamente 80% da dose ad- ministrada é recuperada na urina; uma pequena quantidade é excreta- da nas fezes. É necessário efetuar um ajuste da dose quando a depuração da creatinina é < 30 mL/min; o ajus- te é efetuado com a administração da dose recomendada a cada 48 h. Para pacientes submetidos à hemodiálise, a dose deve ser administrada imedia- tamente após a diálise. Eventos adversos A principal toxicidade da daptomicina consiste em lesão do sistema mus- culoesquelético. Em seres humanos, podem ocorrer elevações da creati- nocinase; isso não exige a interrup- ção do fármaco, a não ser que haja achados de miopatia inexplicada. Ra- ramente, foi relatada a ocorrência de rabdomiólise. O uso da daptomicina pode resul- tar em pneumonia eosinofílica, que 14AZÓLICOS geralmente se desenvolve 2 a 4 se- manas após o início da terapia. In- terrompa o uso imediatamente em casos de sinais/sintomas de pneu- monia eosinofílica e inicie o tratamen- to apropriado (isto é, corticosteroi- des). Pode ocorrer novamente com a reexposição. Reações de hipersensibilidade e anafilaxia foram relatadas com o uso. Sintomas sugestivos de neuro- patia periférica foram observados com o tratamento. O uso prolongado pode resultar em superinfecção por fungos ou bactérias, incluindo diar- reia associada a C. difficile e colite pseudomembranosa. A daptomicina não inibe nem induz CYP, e não há interações importantes entre fármacos. Todavia, recomen- da- se cautela quando se administrar daptomicina juntamente com amino- glicosídeos ou estatinas, por causa dos possíveis riscos de nefrotoxicida- de e miopatia, respectivamente. 15AZÓLICOS MAPA MENTAL: LIPOPEPTÍDEOS Daptomicina Lipopeptídeos Gram positivos (incluindo MRSA e cepas resistentes à vancomicina) Infecção da corrente sanguínea Infecções complicadas da pele e da estrutura da pele Vias de administração Via de excreção Toxicidade muscular Pneumonia eosinofílica Reações de hipersensibilidade Neuropatia periférica Superinfecção S. Aureus (incluindo MRSA) S. Aureus (incluindo MRSA) S. Pyogenes S. Agalactiae S. Dysgalactiae equisimilis E. faecalis IV Renal (principal) Fecal Representante Despolarizam membrana celular Agentes bactericidas Espectro de atividade Usos clínicos Farmacocinética Efeitos adversos 16AZÓLICOS 4. OXAZOLIDINONAS A linezolida é um agente antimicro- biano sintético da classe das oxazoli- dinonas. Várias outras oxazolidinonas estão em desenvolvimento clínico. Mecanismo de ação e resistência A linezolida inibe a síntese de proteínas através de sua ligação ao RNA ribosso- mal bacteriano 23S da subunidade 50S do ribossomo, impedindo a formação do maior complexo fMet-tRNA-ribossômi- co (complexo de iniciação 70S), que dá início à síntese de proteínas. Figura 3. Mecanismo de ação da linezolida. Fonte: Farmacologia Ilustrada, 2016 SE LIGA! Por causa de seu mecanis- mo singular de ação, a linezolida é ati- va contra cepas que são resistentes a vários outros agentes, incluindo cepas de S. pneumoniae resistentes à penici- lina; cepas de estafilococos resistentes à meticilina, com resistência intermediária à vancomicina e resistentes à vancomi- cina; e cepas de enterococos resistentes à vancomicina. A resistência nos enterococos e esta- filococos decorre de mutações pun- tiformes do rRNA de 23S. Devido à presença de múltiplas cópias de ge- nes de rRNA de 23S em bactérias, a resistência geralmente exige muta- ções em duas ou mais cópias. Espectro de atividade A linezolida é ativa contra micror- ganismos gram-positivos, incluin- do estafilococos, estreptococos, en- terococos, cocos gram-positivos anaeróbicos e bastonetes gram- -positivos, como Corynebacterium spp. e Listeria monocytogenes. Tem pouca atividade contra a maioria das bactérias gram-negativas aeróbicas ou anaeróbicas. E bacteriostática contra enterococos e estafilococos e bactericida contra estreptococos. Mycobacterium tuberculosis é mode- radamente sensível. Usos clínicos Os principais usos clínicos da linezo- lida são: 17AZÓLICOS • Infecções enterocócicas (resis- tentes à vancomicina): tratamen- to de infecções por Enterococcus faecium resistentes à vancomici- na, incluindo casos com bactere- mia concomitante. SE LIGA! A linezolida não é um agente preferido em infecções por Enterococ- cus faecalis resistentes, que geralmente são suscetíveis a beta-lactâmicos. • Pneumonia: ◊ Tratamento de pneumonia ad- quirida na comunidade causada por Streptococcus pneumo- niae, incluindo casos com bac- teremia concomitante ou Sta- phylococcus aureus (apenas isolados sensíveis à meticilina). ◊ Tratamento de pneumonia ad- quirida no hospital ou associa- da aserviços de saúde causada por S. aureus (isolados sensí- veis à meticilina e resistentes à meticilina) ou S. pneumoniae. • Infecções da pele e da estrutura da pele: ◊ Complicadas: tratamento de in- fecções complicadas da pele e da estrutura da pele, incluindo pé diabético, sem osteomieli- te concomitante, causada por S. aureus (isolados sensíveis à meticilina e resistentes à metici- lina), Streptococcus pyogenes ou Streptococcus agalactiae. ◊ Não complicadas: tratamento de infecções não complicadas da pele e da estrutura da pele causadas por S. aureus (iso- lados suscetíveis à meticilina) ou S. pyogenes. A linezolida não foi estudada no tra- tamento de úlceras de decúbito. SE LIGA! A linezolida não está indicada no tratamento de infecções gram-nega- tivas; se um patógeno gram-negativo concomitante for documentado ou hou- ver suspeita, deve ser iniciada a terapia específica imediatamente. Farmacocinética A linezolida é bem absorvida após administração oral e pode ser admi- nistrada com ou sem alimento. Com uma biodisponibilidade oral que se aproxima de 100%, a dose para pre- parações orais e intravenosas é igual. A meia-vida é de ~ 4-6 h. Ocorre li- gação de 30% da linezolida às pro- teínas, e a sua distribuição é ampla pelos tecidos bem perfundidos. A linezolida é metabolizada por oxi- dação não enzimática aos derivados ácido aminoetoxiacético e hidroxietil glicina. Aproximadamente 80% de uma dose de linezolida aparecem na urina, 30% na forma do composto ati- vo e 50% na forma dos dois principais 18AZÓLICOS produtos de oxidação; 10% da dose administrada aparece como produ- to de oxidação nas fezes. Embora as concentrações séricas e a meia-vida do composto original não sejam apre- ciavelmente alteradas na presença de insuficiência renal, os produtos de oxidação acumulam-se na insuficiên- cia renal, com aumento das meias-vi- das em aproximadamente 50-100%. A importância clínica disso não é co- nhecida, e, hoje, não se recomenda nenhum ajuste da dose em pacientes com insuficiência renal. A linezolida e seus produtos de degradação são eli- minados por diálise; por conseguin- te, o fármaco deve ser administrado após hemodiálise. Eventos adversos Toxicidade hematológica: em pa- cientes tratados com linezolida, foi relatada a ocorrência de mielossu- pressão, incluindo anemia, leucope- nia, pancitopenia e trombocitopenia. As contagens de plaquetas devem ser monitoradas em indivíduos com risco de sangramento, com trombo- citopenia pré-existente ou distúrbios intrínsecos ou adquiridos da função plaquetária (incluindo aqueles poten- cialmente causados por medicação concomitante), bem como em pacien- tes que recebem ciclos de terapia por mais de duas semanas de duração. Outros efeitos tóxicos e irritantes: o fármaco parece ser bem tolerado, geralmente com efeitos adversos mínimos (ex: queixas gastrointesti- nais, cefaleia, exantema). Pacientes que receberam tratamento prolon- gado (ex: mais de 8 semanas) com linezolida desenvolveram neuropatia periférica, neurite óptica e acidose láctica. Acredita-se que tais toxicida- des podem resultar de efeitos da line- zolida sobre as mitocôndrias. Como esses efeitos nem sempre são rever- síveis, em geral a linezolida não deve ser usada em terapia prolongada se houver agentes alternativos. A linezolida é um inibidor fraco e inespecífico da monoaminoxidase (MAO). Os indivíduos que recebem terapia concomitante com um agente adrenérgico ou serotoninérgico (in- cluindo inibidores seletivos de recap- tação da serotonina [ISRSs]) ou que consomem mais de 100 mg/dia de ti- ramina podem desenvolver a síndro- me da serotonina, caracterizada por palpitações, cefaleia ou crise hiper- tensiva. Se possível, é melhor que se evite a administração concomitante desses agentes. Entretanto, em pa- cientes que recebem ISRSs e neces- sitam de terapia aguda com linezoli- da por períodos curtos (10-14 dias), a administração simultânea com moni- toramento cuidadoso é razoável por- que os ISRSs precisam ser suspensos gradualmente para evitar a síndrome de descontinuação. A linezolida não é nem um substrato nem um inibidor de CYP. 19AZÓLICOS MAPA MENTAL: OXAZOLIDINONAS Oxazolidinonas Linezolida Gram positivos Infecções enterocó- cicas (resistentes à vancomicina) Pneumonia Infecções da pele e da estrutura da pele Vias de administração Via de excreção Inibidor da MAO Toxicidade hematológica Queixas gastrointestinais Cefaleia Exantema Adquirida na comunidade Hospitalar ou associa- da a serviços de saúde Complicadas Não complicadas Oral IV Renal (principal) Fecal Representante Inibem a síntese de proteínas Agentes bacterios- táticos/bactericidas Espectro de atividade Usos clínicos Farmacocinética Efeitos adversos S. Pneumoniae S. Aureus (sensível a meticilina) S. Pneumoniae S. Aureus (incluindo MRSA) S. Aureus (incluindo MRSA) S. Pyogenes S. agalactiae S. Aureus (suscetível à meticilina) S. pyogenes 20AZÓLICOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bruntos, Laurence L. Chabner, Bruce A. Knollmann, Bjorn C. As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. Whalen, Karen. Finkel, Richard. Panaveli, Thomas A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. Drew, Richard H. Sakoulas, George. Vancomycin: Parenteral dosing, monitoring, and ad- verse effects in adults. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. http://www. uptodate.com (Acesso em 05 de maio de 2020). Lexicomp. Vancomycin: Drug information. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpTo- Date Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 05 de maio de 2020). Lexicomp. Teicoplanin: International drug information (concise). Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 05 de maio de 2020). Lexicomp. Daptomycin: Drug information. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpTo- Date Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 05 de maio de 2020). Lexicomp. Linezolid: Drug information. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 05 de maio de 2020). 21AZÓLICOS
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