Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DEFINIÇÃO A maioria dos tumores de ovário é benigna. Também podem ser considerados limítrofes ou borderlines (que possuem características de malignidade, mas não apresentam componente invasor, correspondendo a 10- 15% dos casos). Jovens até 45 não apresentam maior prevalência de tumores benignos, e de característica da linhagem germinativa. Essa razão se inverte com o aumento progressivo da idade e o ápice acontece entre 50-65 anos. No Brasil, os tumores ovarianos ocupam a 7ª posição de incidência de neoplasia em mulheres. Sua mortalidade é bastante alta, sendo o tumor ginecológico (exceto de mama) que mais mata nos países desenvolvidos. 80% dos casos de carcinoma seroso de alto grau que eram considerados como originários do ovário são, na realidade, advindos das fímbrias das tubas uterinas, sendo altamente subestimados. FATORES DE RISCO Nuliparidade. Menarca precoce (<12 anos); Menopausa tardia (>55 anos); Idade avançada (>50 anos); Obesidade; Uso de indutores de ovulação; Endometriose; História familiar de câncer de ovário, mama ou colorretal; Antecedente pessoal de câncer de mama; Ancestral Ashkenazi; Síndrome de Lynch; Mutação BRCA1 e BRCA2; *Mulheres com alto risco de CA de ovário tem indicação de cirurgia profilática redutora de risco (salpingooforectomia bilateral), que deve ser realizada a partir dos 35 anos de idade ou após prole constituída. *Mulheres que não queiram se submeter ao procedimento cirúrgico, devem realizar acompanhamento com dosagem sérica seriada do CA125 associado à USGTV com Doppler a cada 6 meses. *Realizar aconselhamento reprodutivo antes do procedimento. FATORES DE PROTEÇÃO Uso de contraceptivo oral; Amamentação (> 6 meses); Multiparidade (> 2 gestações); Laqueadura; tubárea/salpigectomia/ooforectomia profilática; TUMORES OVARIANOS EPITELIAIS SUPERFICIAIS Originam-se no processo constante de necessidade de cicatrização das lesões ovulatórias. Os tumores de características benignas são denominados cistoadenomas, enquanto os malignos são cistoadenocarcinomas. Tumores borderlines apresentam baixo potencial de malignidade. ► Tumores Borderline: Apresentam atipia celular, estratificação do epitélio, formação de projeções papilares microscópicas, pleomorfismo celular ou atividade mitótica, mas NÃO apresentam invasão estromal. Não estão associados a nenhuma síndrome hereditária e tem seu aparecimento cerca de 15 anos antes dos carcinomas ovarianos (entre 35-45 nos). São encontrados, em sua maioria, de forma acidental em exames de rotina ou cirurgias. Não possuem marcadores tumorais específicos. *O diagnóstico definitivo depende da análise anatomopatológica da peça cirúrgica e pode ser diagnostico nos estágios iniciais, restrito ao ovário acometido, tendo bom prognóstico e baixo índice de recidiva e de progressão. ► Tumores Serosos: Tumores mais comuns do epitélio ovariano, 60% benignos e 25% podem ser bilaterais. Maior incidência na 4ª década de vida (benignos) e na 5ª-6ª década de vida (malignos). Maligno de Baixo Grau: Apresentam crescimento lento, oriundos de lesões antes benignas ou borderline. Respondem pouco à QT, sendo indicada cirurgia na maioria das vezes. Maligno de Alto Grau: Agressivos. Apresentam rapidez na disseminação e são diagnosticados, em sua maioria, em estágios mais avançados. Respondem bem à QT, geralmente. Tem como principal marcador tumoral o CA- 125. A disseminação pode ser linfonodal e/ou peritoneal. ► Tumores Mucinosos: Constituído por células produtoras de mucina. Correspondem a 20% dos tumores epiteliais. Quando há extravasamento do conteúdo para o peritônio, pode causar pseudomixoma peritoneal, que consiste na implantação de células produtoras de mucina por toda a cavidade peritoneal, o que pode provocar um intenso processo de aderência e de fibrose intraperitoneal, até evoluir com quadro de obstrução intestinal. Principal marcador: CEA (antígeno carcinoembrionário). Diagnóstico diferencial: Metástases ovarianas oriundas do TGI (principalmente primário de apêndice). Habitualmente se apresentam bilateralmente (tumor de Krukenberg – células em anel de sinete) – realizar endoscopia digestiva alta e colonoscopia para investigação. ► Tumores Endometrioides: Muito associados à endometriose. Podem ser sólidos ou com aspecto cístico e, geralmente, são malignos. Não é raro apresentarem-se de modo sincrônico ao adenocarcinoma endometrioide de endométrio. ► Tumores de Células Claras: Pode estar associado ao quadro de endometriose. São raros, com péssimo prognóstico, com baixa resposta à QT. Podem apresentar alterações metabólicas, como hipercalcemia. ► Tumor de Brenner: Tumor de células transicionais semelhantes ao epitélio urinário. São raros e, geralmente, benignos. TUMORES OVARIANOS DE CÉLULAS GERMINATIVAS Originam-se das células germinativas do ovário e correspondem a um terço das neoplasias ovarianas. O principal representante é o teratoma maduro (cisto dermoide), clinicamente benigno. Acometem principalmente pacientes jovens (adolescentes ou jovens adultas), com diagnóstico nos estágios iniciais de doença, com ótimo prognóstico e alta resposta à QT adjuvante. Podem se apresentar por dor abdominal relacionada à torção anexial ou ao rompimento de sua cápsula, ou por aumento do volume abdominal. Principais marcadores tumorais: Alfafetoproteína (AFP) e gonadotrofina coriônica humana (hCG). ► Teratoma: Geralmente benignos, com acometimento unilateral predominante, mas podem apresentar recorrência no ovário contralateral. A transformação maligna é rara (<2%). Costumam apresentar conteúdo gorduroso com cabelos, ossos, dentes e até olhos. Características USG comuns: Ponta de iceberg, presença de cabelos e protuberância de Rokitansky. Encefalite Límbica (Anticorpo Anti-NMDA) é uma complicação paraneoplásica rara relacionada aos teratomas, que regride, na maioria das vezes, após ressecção do teratoma. Teratomas imaturos (versão maligna do teratoma) são raros, de grande volume, com pico de incidência aos 18 anos. Indica-se QT adjuvante, mesmo em estágio inicial da doença. Struma Ovarii: Variante do teratoma composta por tecido tireoidiano maduro, que pode levar a quadros de hipertireoidismo devido à produção hormonal. ► Torção Anexial: Quadro de rotação parcial ou completa do ovário sobre seus ligamentos suspensores, causando interrupção do fluxo sanguíneo. É uma emergência cirúrgica ginecológica. Quadro Clínico: Dor abdominal súbita e importante, que pode mimetizar quadro de abdome agudo. Pode ser refratária à analgesia e com sinais ao exame clínico de irritação peritoneal. Associada a náuseas e vômitos. Pode causar febre. Fatores de Risco: Episódio de torção prévia, cistos anexiais > 5cm, pré-púbere, adolescência, gestação (nos casos de hiperestimulação ovariana para captação de óvulos). Diagnóstico: Clínico associado ao uso de imagem. Pode-se realizar USGTV com Doppler ou RNM de pelve. Tratamento: Cirurgia. Laparoscopia diagnóstica está indicada. O procedimento de destorção está indicado quando o ovário é viável, e este deve ser preso à parede abdominopélvica (pexia do ovário com encurtamento do ligamento suspensor do ovário), para evitar torção futura. Se muito danificado, realizar ooforectomia. Em pacientes na pós-menopausa, a ooforectomia é realizada independentemente do aspecto do ovário. ► Disgerminoma: Malignos. Podem estar associados à Síndrome de Morris. Apresentam-se como massas sólidas lobuladas bilaterais. Pode haver disseminação linfonodal. Acomete pacientes adolescentes ou jovens adultas. Podem ser acompanhados pelo seriamento dos níveis de DHL. O tratamento cirúrgico prevê preservaçãoda fertilidade e realização de salpingooforectomia unilateral. São tumores que respondem à QT e a radioterapia é indicada como tratamento adjuvante. ► Tumor de Saco Vitelínico ou Seio Endodérmico: Correspondem a 20% dos tumores malignos de células germinativas. Apresenta pior prognóstico e lesão sempre unilateral. Possuem estruturas histológicas papilíferas (corpúsculos de Schiller-Duval). Os marcadores tumorais são alfafetoproteína e alfa-1- antitripsina. O tratamento é feito por salpingooforectomia unilateral (anexo cometido) para evitar mutilação em pacientes jovens de maneira desnecessária. ► Carcinoma Embrionário e Coriocarcinoma: Carcinomas embrionários são responsáveis por quadros de pseudopuberdade precoce, por produção estrogênica, podendo causar sangramento genital. São, geralmente, unilaterais e podem apresentar grande volume. O Coriocarcinoma é um tumor agressivo, com altos níveis de gonadotrofina coriônica, alto índice de metástases difusas ao diagnóstico (pulmões, fígado, ossos), além de baixa sensibilidade à QT. TUMORES DO CORDÃO SEXUAL São tumores raros e 90% deles produzirá hormônios, desenvolvendo quadros de hiperestrogenismo ou hiperandrogenismo. São, geralmente, restritos a um ovário e têm padrão de crescimento lento e indolente. Apresenta baixa resposta à QT. Diagnóstico: Queixa de puberdade precoce, ocasionada pela produção hormonal ou, por mulher na pós-menopausa com sintomas de hiperandrogenismo e massa anexial complexa. Aspecto radiológico: Cistos multilobulados ou massas sólidas. O endométrio pode estar espessado pela produção estrogênica. Tratamento: Cirurgia de ressecção do ovário afetado, exame de congelação intraoperatória e ressecção de toda extensão de lesão macroscópica. Tecoma e Fibroma: São tumores benignos desse grupo, que estão relacionados a ascite importante e derrame pleural recorrente, com melhora somente após retirada do tumor ovariano. O quadro clínico recebe o nome de Síndrome de Meigs. DIAGNÓSTICO DOS TUMORES OVARIANOS Não há método de imagem ou laboratorial eficaz para rastrear o câncer de ovário. ESTADIAMENTO É primordialmente cirúrgico e realizado concomitantemente à cirurgia de citorredução. A citorredução baseia-se em: Aspiração do líquido ascítico ou lavado peritoneal. Visualização e na palpação de todas as estruturas peritoneais. Histerectomia + SOB. Omentectomia infracólica. Linfadenectomia pélvica e para-aórtica. Retirada de toda lesão macroscópica possível. Caso não haja lesão macroscópica, realizar biópsias aleatórias de peritônio. TRATAMENTO/CONDUTA Citorredução completa: Ausência de doença macroscopicamente visível. Citorredução incompleta: Persistência de doença macroscopicamente visível <1cm. Citorredução não factível: Persistência da doença macroscopicamente visível >1cm. Citorredução primária: Tratamento inicial, antes da QT. Citorredução de intervalo: Realizada durante o tratamento de QT, com o intuito de diminuir o volume da doença. Pode ser realizada no 3º e 4º ciclo de QT. Citorredução secundária/resgate: Realizado após o tratamento de QT em paciente que já tenha sido submetida à citorredução primária ótima prévia. CISTO HEMORRÁGICO São cistos ovarianos funcionais, com conteúdo hemático, oriundos do sangramento/ruptura dos vasos sanguíneos da parede granulosa. Formam-se após a ovulação. Podem ser assintomáticos ou não. São sintomáticos quando o sangramento ocorre para fora do cisto ou quando a ruptura da parede do cisto extravasa o conteúdo para a pelve. Na maioria dos casos, são assintomáticos e costumam ser descobertos em exames imagem de rotina. Quadro Clínico: Dor abdominal com intensidade leve a forte. Pode apresentar quadro de abdome agudo com sinais de irritação peritoneal e pode apresentar instabilidade hemodinâmica. Diagnóstico: USGTV com Doppler. Apresenta conteúdo levemente hiperecogênico e o padrão é reticular, com reforço acústico posterior, paredes finas, sem septos e presença de vascularização periférica. Em casos que há ruptura, visualiza-se líquido livre na cavidade pélvica. O principal diagnóstico diferencial é o endometrioma, que se apresenta como cisto uni ou multilocular de paredes mais espessadas, com conteúdo homogêneo de padrão vidro-fosco no seu interior. Não apresenta vascularização periférica no Doppler. DEVE-SE EXCLUIR A POSSIBILIDADE DE GRAVIDEZ ECTÓPICA ROTA! Quadro estável, sem instabilidade hemodinâmica: Conduta conservadora com exames laboratoriais seriados (Hb e Ht), analgesia e monitorização dos sinais vitais por 6-12 horas. Pode ser realizada com analgésicos e reavaliação em 48-72 horas. Se piora do quadro, resolução cirúrgica. Quadro instável, com instabilidade hemodinâmica: Cirurgia de urgência, com realização de ooforoplastia do cisto (em alguns casos, a ooforectomia pode ser necessária, mas sempre é evitada).
Compartilhar