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TEMA 1

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TEMA 1
Linguagem e Língua - Conceitos
Linguagem e língua: conceitos
Prof. Luís Cláudio Dallier Saldanha
Descrição
A distinção entre linguagem verbal e linguagem não verbal, as principais concepções de linguagem e as implicações dessas concepções no uso da língua.
Propósito
Compreender a diferença entre as linguagens verbal e não verbal, as concepções de linguagem que geralmente adotamos e as consequências de tais concepções no uso cotidiano da língua é fundamental para a compreensão da linguagem e de suas interferências no uso da língua portuguesa.
Objetivos
Módulo 1
Linguagens verbal e não verbal
Distinguir linguagem verbal e linguagem não verbal.
Módulo 2
Concepções de linguagem
Reconhecer as três principais concepções de linguagem.
Módulo 3
Linguagem e interação
Identificar implicações de diferentes concepções de linguagem no uso do português.
Introdução
Se você acha que língua e linguagem são a mesma coisa, você agora vai aprender que a língua é uma das diversas linguagens que o ser humano utiliza para se expressar, comunicar e interagir. Claro que todas as linguagens têm seu valor, mas vamos enfatizar a linguagem verbal, ou seja, a língua.
Vamos relembrar as principais características das linguagens verbal e não verbal, conhecer algumas concepções de linguagem e identificar algumas implicações do que estamos estudando no uso cotidiano da língua.
1 - Linguagens verbal e não verbal
Ao final deste módulo, você será capaz de distinguir linguagem verbal e linguagem não verbal.
O português que você aprendeu na escola ainda é um mistério, algo distante?
Vamos começar com a leitura de um poema para pensar um pouco sobre nossa experiência com a língua portuguesa.
O título do poema é Aula de Português e foi escrito por Carlos Drummond de Andrade.
Carlos Drummond de Andrade
Poeta mineiro, foi um dos principais nomes do Modernismo brasileiro. Entre suas principais obras, estão os livros: Alguma poesia (1930), Sentimento do mundo (1940) e A rosa do povo (1945). Um de seus poemas mais conhecidos é No meio do caminho, que tem os famosos versos “No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho”.
Aula de Português
A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.
Carlos Drummond de Andrade
Utilize o player abaixo para ouvir a citação.
O poema apresenta dois tipos de linguagem: a linguagem informal do cotidiano, que não precisa ser aprendida na escola, e a linguagem formal do professor ou dos livros, aprendida na sala de aula. No último verso, isso é resumido na frase “O português são dois”.
record_voice_over
Linguagem informal
record_voice_over
Linguagem formal
Assim como Drummond entende que existem duas linguagens (formal e informal), precisamos entender que há diversos tipos de linguagem. Vamos conhecê-los para compreender por que o português é uma das que dispomos para a comunicação.
Linguagem verbal e linguagem não verbal
A linguagem constitui todos os sistemas de sinais ou signos convencionais que nos permitem a comunicação.
video_library
Mas, espera... Signo? O que é isso?
Assim como os signos podem ser de diversas naturezas ou tipos, há diferentes tipos de linguagem. A linguagem humana, por exemplo, pode ser verbal e não verbal.
Gestos, imagens e sons são exemplos de linguagem não verbal. O semáforo é outro exemplo de linguagem não verbal.
Vejamos mais detalhes sobre a relação das linguagens verbais e não verbais na galeria a seguir:
Língua e linguagem verbal são termos correspondentes
A partir da caracterização da linguagem verbal como uma linguagem humana que utiliza a palavra, perceba que a língua é um tipo de linguagem, mas ela não é a única linguagem de que dispomos.
Ou seja, a língua é uma linguagem humana específica, baseada na palavra.
Expressão corporal? Linguagem musical?
A música, a pintura, a dança, o teatro e o cinema usam signos que pertencem a outro tipo de linguagem humana, já denominada aqui como linguagem não verbal. Por isso, são comumente usadas expressões como linguagem musical, linguagem corporal, linguagem pictórica etc.
Associação inerente
“Que outro ser tem gestos significativos, pinta, fotografa, faz cinema? Compreende-se, assim, que o homem e a linguagem se relacionam de forma a não se conceberem um sem o outro e que a linguagem está indissoluvelmente associada com a atividade mental humana, a qual, absolutamente, não se manifesta só pelo verbal.”
(PALOMO, 2001, p. 11).
Integração entre as linguagens verbal e não verbal
Quando você conversa com outra pessoa, por exemplo, faz uso da linguagem verbal (a fala) e da linguagem não verbal (gestual, postura corporal, tom da voz etc.).
A história em quadrinhos é outro exemplo de integração das linguagens verbal e não verbal.
Linguagem pictórica
Linguagem pictórica é toda e qualquer manifestação de linguagem imagética – fotografia, pinturas, desenhos, iluminuras – que possuem características singulares em relação ao duplo processo de produção e reprodução da própria produção. O texto representado pelas figuras que marcam e estruturam para nós significados são, no limite, a linguagem imagética.
A distinção entre as linguagens verbal e não verbal não deve levar você a concluir que a comunicação acontece sempre e apenas por meio de um único tipo de linguagem.
Linguagem hipermidiática
Com as tecnologias digitais e a internet, essa integração entre as linguagens verbal e não verbal fica muito evidente e interessante, pois usamos palavras, imagens, sons e outros recursos para interagir nas redes sociais. É cada vez mais comum trocarmos mensagens em que a escrita se mistura com emojis ou emoticons.
Atenção!
Este material didático é um exemplo de integração entre diferentes tipos de linguagem, articulando texto escrito com vídeo, podcast, imagens e símbolos.
Tudo isso é possível por causa de outra integração: convergência entre diferentes mídias formando o que tem sido chamado de hipermídia. É como se o livro impresso, o rádio, a televisão e o computador estivessem todos reunidos com suas diferentes linguagens. Assim, hoje em dia, fala-se de uma linguagem hipermidiática, um bom exemplo dessa integração de linguagens verbal e não verbal.
É verdade que a linguagem verbal, falada ou escrita, predomina nos atos de comunicação. Mas você deve reconhecer que a linguagem não verbal está associada intimamente a nossas atividades e possui também sua relevância. Nossos gestos ao falar ou uma imagem ilustrativa num texto escrito também dizem muito e, às vezes, até contradizem o que falamos ou escrevemos.
Imagine alguém dizendo que está calmo e tranquilo, mas, ao mesmo tempo, pisca os olhos num ritmo acelerado, tem as mãos trêmulas ou balança pernas e pés num movimento frenético. Dificilmente essa pessoa vai convencer o outro de que está calma.
Assim, ao fazermos a distinção entre linguagens verbal e não verbal, não queremos sugerir que apenas uma delas seja importante e precise ser cuidada.
Até aqui, você aprendeu que a linguagem é constituída de sinais ou signos, que permitem a comunicação entre os seres humanos. Quando o signo é centrado na palavra escrita ou oral, ele é identificado como linguagem verbal. Os demais tipos de signos formam outro conjunto de linguagens denominado linguagem não verbal, como é o caso da pintura e dos gestos.
A integração entre diferentes tipos de linguagem é algo muito antigo, mas que se intensificou com as tecnologias digitais ou a chamada linguagem hipermidiática.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Assinale a opção que descreve a situação em que aparece apenas o uso da linguagem verbal.
A
Um gerentegesticulando e falando alto.
B
A escrita do professor na lousa.
C
Um ator representando uma ação dramática no palco.
D
Um instrutor sinalizando com as mãos para o operador de máquinas.
E
Um estudante desenhando um gráfico.
Parabéns! A alternativa B está correta.
A escrita é uma linguagem verbal. Nas demais alternativas, temos a presença de linguagem não verbal, como é o caso dos gestos na alternativa A, da representação teatral na alternativa C, do gestual na opção D e do gráfico na alternativa E.
Questão 2
É correto afirmar que a língua
A
corresponde à linguagem verbal.
B
constitui exemplo de linguagem não verbal.
C
deve ser considerada linguagem verbal somente na modalidade falada.
D
não é utilizada integrada ou articulada com outras formas de linguagem.
E
deve ser considerada linguagem verbal somente na modalidade escrita.
Parabéns! A alternativa A está correta.
A língua é linguagem verbal, ou seja, baseada na palavra. A palavra, elemento central da linguagem verbal, pode ser tanto oral quanto escrita, por isso, as alternativas C e E estão incorretas. A opção D está incorreta porque a língua pode ser utilizada de forma integrada a outras linguagens, como acontece nas histórias em quadrinhos.
2 - Concepções de linguagem
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as três principais concepções de linguagem.
Concepções de linguagem
Depois de fazer a distinção entre linguagens verbal e não verbal, é hora de prosseguir e apresentar as três principais concepções de linguagem.
Veja quais são elas a seguir.
Linguagem como expressão do pensamento
De acordo com essa concepção, a linguagem corresponde a uma expressão que se constrói no interior da mente e tem, na exteriorização, apenas uma tradução. A linguagem é entendida como uma forma de expressar pensamentos, sentimentos, intenções, vontades, ordens, pedidos etc.
Nessa forma de entender a linguagem, a intenção de expressar alguma coisa é um ato monológico. Isso quer dizer que a enunciação ou o ato de fala (o modo como nos expressamos) está centrado na pessoa que se expressa por meio da linguagem, sem dar tanta importância ao outro e às circunstâncias sociais nas quais a enunciação acontece.
Monológico
O uso do termo monológico (mono = um, único; logos = discurso racional) não se apresenta como a fundamentação de um tipo de teoria da comunicação, que defende o discurso como ato centrado apenas no emissor da fala. Apenas quer mostrar que, nesta concepção da linguagem, tal ato ainda está centrado na necessidade individual de se comunicar.
O uso da língua é visto como algo que se limita a quem fala ou escreve.
Não há preocupação sobre como o outro vai ler ou ouvir nossa mensagem. Assim, a exteriorização do “pensamento por meio de uma linguagem articulada e organizada” depende da capacidade de organizar, de maneira lógica, esse mesmo pensamento (TRAVAGLIA, 2003, p. 21).
Nessa concepção de linguagem, a correção no uso da língua (falar e escrever bem conforme a gramática normativa) depende das regras às quais o pensamento lógico deve estar sujeito. Dessa forma, se as pessoas não se expressam bem ou não usam a língua corretamente, isso acontece porque elas não estão pensando corretamente. A solução, então, para expressar adequadamente o que se está pensando é a internalização das regras gramaticais e de seu adequado uso.
Atenção!
Mas há um problema: essa concepção acaba sendo uma forma parcial de entender como a linguagem funciona, pois há outros aspectos envolvidos além da intenção de exteriorizar o que pensamos. Não é o caso de afirmar que a concepção está errada. Precisamos avançar e verificar outras formas complementares de compreender a linguagem.
Linguagem como instrumento de comunicação
A linguagem deve ser compreendida além de sua função de expressar o que pensamos ou sentimos, pois, ao nos expressarmos, nos dirigimos a alguém, ou seja, comunicamos algum tipo de mensagem para uma ou mais pessoas. Por isso, há outra concepção de linguagem que compreende a língua, por exemplo, como um código por meio do qual elaboramos nossas mensagens para serem comunicadas.
Código
O código é entendido como “um conjunto de regras que permite a construção e a compreensão de mensagens. É, portanto, um sistema de signos. A linguagem é, por conseguinte, um dentre outros códigos (código marítimo, código rodoviário)”. Dentre todos os outros códigos, a linguagem verbal, seja escrita ou oral, é o único código que “pode falar dos próprios signos que os constituem ou de outros signos” (VANOYE, 1981, p. 30).
A língua é tomada predominantemente como um código, que deve ser utilizado com eficiência, ou seja, deve tornar inteligível a mensagem que se quer comunicar, levando o receptor a responder adequadamente ao objetivo da comunicação.
Para que haja a comunicação, o código que utilizamos, seja ele a língua ou outro, precisa ser conhecido ou dominado pelo nosso interlocutor para que a comunicação se realize. O uso do código, no caso, a própria língua, “é um ato social, envolvendo consequentemente pelo menos duas pessoas”. Por isso, “é necessário que o código seja utilizado de maneira semelhante, preestabelecida, convencionada para que a comunicação se efetive” (TRAVAGLIA, 2003, p. 22).
Atenção!
A concepção da linguagem como instrumento de comunicação tem, porém, uma limitação. É uma concepção centrada no código, ou seja, voltada principalmente para o funcionamento interno da língua ou de outra linguagem utilizada, deixando de lado aspectos como a relação entre a linguagem e o contexto social e histórico. Por isso, você precisa conhecer outra concepção de linguagem que permita avançar na compreensão da linguagem e seus usos.
Linguagem como lugar ou experiência de interação humana
Nessa concepção, a língua é mais do que tradução e exteriorização do pensamento e, também, vai além da transmissão de informação ou da comunicação. Ao usar a língua, o indivíduo realiza ações, age, atua sobre o interlocutor. A linguagem, aqui, é um “lugar de interação humana, de interação comunicativa pela produção de efeitos de sentido entre interlocutores, em uma dada situação de comunicação e em um contexto sócio-histórico e ideológico” (TRAVAGLIA, 2003, p. 23).
Quem utiliza a língua não expressa apenas o pensamento, não comunica somente alguma coisa, na verdade, ao usar a língua, o indivíduo ou os interlocutores “interagem enquanto sujeitos que ocupam lugares sociais e ‘falam’ e ‘ouvem’ desses lugares de acordo com as formações imaginárias (imagens) que a sociedade estabeleceu para tais lugares sociais” (TRAVAGLIA, 2003, p. 23).
Para ilustrar, veja um exemplo:
1. flag
Todos já observaram uma situação em que a identificação apenas da linguagem oral entre dois sujeitos corresponderia a um ato comunicativo direto. No entanto, notamos que a interação social faz com que aquilo que é dito seja muito maior.
2. flag
Isso ocorre, por exemplo, quando estamos em um espaço e observamos mãe e filha interagindo, em que a primeira faz referência ao comportamento da segunda, com uma ordem direta.
3. flag
A reação da filha cria em nós, observadores, uma série de julgamentos, leituras, valores e interações que nos remetem à própria relação familiar.
Tudo que falamos e ouvimos tem o poder de provocar reações, produzir mudanças, despertar sentimentos e paixões, desencadear processos e ações.
1. flag
Se um agente da lei, dirigindo-se a uma pessoa, dá voz de prisão e diz “esteja preso!”, ele não está simplesmente exteriorizando seu pensamento ou comunicando uma novidade, não é mesmo?
2. flag
Quando consideramos as palavras de um juiz ao proferir essa célebre frase clássica, temos um exemplo de que o uso da língua pode ser mais do que expressão do pensamento ou comunicação de uma informação.
Nesse caso, a fala da autoridade faz surgir ou realiza um ato social e jurídico.
O diálogo também caracteriza a concepção de linguagem como interação social, constituindo-se numa dimensão privilegiada do uso da língua.
Diálogo
Considerando sua origem latina (dia = separação, confronto; logos = discurso racional), apresenta-secomo a exigência de, pelo menos, dois interlocutores no ato da fala, que é diferente da concepção monológica vista anteriormente. Trata-se, sem dúvida, de apresentar uma intencionalidade por parte daquele que fala.
Atenção!
Para estar inserido na vida em sociedade, é preciso que a língua seja utilizada para favorecer a abertura ao diálogo, a interação entre as pessoas. Além disso, a própria língua é dialógica, ou seja, o que falamos e escrevemos se relaciona com aquilo que lemos e ouvimos ao longo da vida.
Como você viu até aqui, é preciso avançar na compreensão da linguagem para além da sua finalidade de comunicação e da divisão entre linguagens verbal e não verbal. A linguagem pode ser concebida como expressão do pensamento, como instrumento de comunicação e, mais adequadamente, como lugar de interação humana.
As três concepções da linguagem podem ser resumidas da seguinte forma:
Expressão do pensamento
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· A expressão se constrói no interior da mente.
· Ato monológico, individual.
· Regras para a organização lógica do pensamento: gramática normativa.
· Para quem se fala, em que situação e para que se fala não são preocupações no uso da língua.
Comunicação
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· Meio objetivo para a comunicação.
· A expressão nasce da necessidade de se comunicar.
· Troca de mensagens entre emissor e receptor.
· Existência de códigos para a eficiência da comunicação.
· Preocupação com o meio, o destinatário, a mensagem e a utilização eficiente do código.
Interação humana
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· Experiência de interação humana.
· A expressão é também ação.
· Privilegia o diálogo e a interatividade.
· Valorização do contexto dos usuários da língua e adequação no uso da língua.
· Preocupação com as dimensões afetivas e sociais.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A linguagem como expressão do pensamento é
A
concepção que enfatiza o código utilizado na comunicação de uma mensagem.
B
conceito que se caracteriza pela preocupação com o modo pelo qual o outro vai ler ou ouvir a mensagem.
C
entendimento mais amplo da língua, que valoriza o contexto social e histórico da situação de comunicação.
D
abordagem centrada na pessoa, que se expressa por meio da linguagem, sem dar tanta importância ao outro e às circunstâncias sociais nas quais a enunciação acontece.
E
abordagem centrada nos elementos da comunicação, com destaque para o interlocutor.
Parabéns! A alternativa D está correta.
A concepção da linguagem como expressão do pensamento valoriza quem se expressa, deixando de lado o interlocutor e o contexto em que a linguagem é usada. As opções A e E correspondem à concepção de linguagem como instrumento de comunicação, enquanto as opções B e C se referem à concepção de linguagem como experiência de interação humana.
Questão 2
Indique a alternativa que corretamente se associa à concepção de linguagem como experiência de interação humana.
A
O uso da língua serve apenas para expressar o pensamento.
B
O diálogo, a interação e a atuação sobre o outro são características importantes da linguagem.
C
Falamos ou escrevemos corretamente somente quando pensamos corretamente.
D
A internalização das regras gramaticais serve para adestrar e organizar o pensamento.
E
A expressão se constrói no interior da mente.
Parabéns! A alternativa B está correta.
O diálogo e a interação são privilegiados na concepção de linguagem como lugar de interação. As demais opções estão incorretas porque se referem à concepção de linguagem como expressão do pensamento.
3 - Linguagem e interação
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar implicações de diferentes concepções de linguagem no uso do português.
Linguagem
video_library
Sobre as concepções de linguagem
Para começarmos a explorar o assunto deste módulo, o professor Luís Cláudio Dallier propõe uma reflexão.
No módulo anterior, tratamos dos diversos tipos de linguagem. Para perceber como elas possuem um aspecto prático no uso cotidiano do idioma, compreendemos como a concepção da linguagem como interação pode nos auxiliar nessa construção.
Se a linguagem é interação, então, o que ouvimos pode afetar muito nossa vida e nosso humor. O que falamos também provoca efeitos e reações no outro.
Veja o que diz a linguista Ingedore Villaça Koch, em seu livro A interação pela linguagem, sobre esse aspecto:
Ingedore Villaça Koch
Doutora em Língua Portuguesa, professora universitária e autora de diversas obras sobre Linguística Aplicada, coerência textual, argumentação e linguagem.
Fonte: Escavador.
Durante séculos, a linguagem foi considerada um instrumento passivo de comunicação, que permitia ao ser humano apenas descrever o que percebia, sentia ou pensava. Hoje se reconhece que, ao falar, o indivíduo não só descreve o que observa, mas atua no mundo e faz com que certas coisas aconteçam. Por meio da linguagem, ele também pode modificar suas relações com os demais e desenvolver sua própria identidade.
[...] É preciso pensar a linguagem humana como lugar de interação, de constituição das identidades, de representação de papéis, de negociação de sentidos, por palavras, é preciso encarar a linguagem não apenas como representação do mundo e do pensamento ou como instrumento de comunicação, mas sim, acima de tudo, como forma de interação social.
(KOCH, 2003, p. 123-128)
Utilize o player abaixo para ouvir a citação.
As implicações no uso do português
Quando entendemos que a linguagem é mais do que expressão ou espelho do pensamento, que vai além de ser veículo de comunicação, devemos considerar nossas intenções na produção dos textos e o impacto naqueles que vão ouvir ou ler nossas palavras. Também devemos dar atenção ao contexto em que a mensagem é produzida e às possíveis situações em que será recebida.
Se a linguagem é interação, pois produz reações e resultados, alguns elementos podem ser desejáveis no seu uso:
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Clareza e precisão no que queremos comunicar
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Cortesia, polidez e tom cordial
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Abertura ao diálogo
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Sustentação de um posicionamento sem desmerecer a opinião do outro
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Uso de recursos persuasivos
Se queremos manter o diálogo e construir pontes, devemos cuidar da maneira como falamos, escolhendo as palavras e o tom mais apropriado.
Por isso, ao estudar a linguagem, é preciso compreender que não basta escrever e falar com correção gramatical, coerência, coesão e clareza. Além dessas qualidades importantes, nosso texto escrito ou oral deve promover o diálogo, a interação e as condições para mantermos relações civilizadas. É interessante lembrar, por exemplo, que há concursos ou exames em que o candidato pode ser desclassificado ao escrever de forma desrespeitosa aos direitos humanos ou usando linguagem antissocial e inadequada.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Compreender o conceito de linguagem como experiência de interação humana e social implica alguns cuidados no uso da língua portuguesa. Indique a alternativa que aborda corretamente um ou mais cuidados necessários.
A
Aplicar regras gramaticais para deixar os textos muito formais.
B
Dizer sempre o que pensamos sem nos preocuparmos com a forma como o outro vai nos ouvir.
C
Deixar de lado nossas intenções e o contexto histórico-social na produção dos textos.
D
Falar ou escrever buscando abertura ao diálogo e se posicionando sem desmerecer a opinião do outro.
E
Focar a mensagem, deixando de lado preocupações com o modo como falamos ou escrevemos.
Parabéns! A alternativa D está correta.
Compreender a linguagem como interação é ter cuidado com efeitos e reações provocados no outro diante do que dizemos e da forma como dizemos.
Questão 2
Se, em uma reunião de trabalho, você precisar discordar de um colega, mantendo abertura ao diálogo e interagindo sem desmerecer a opinião do outro, o que não seria apropriado dizer?
A
Sua opinião está completamente errada e vai prejudicar totalmente o projeto.
B
É possível que sua opinião precise ser revista, já que sua ideiapode trazer algum prejuízo ao projeto.
C
Tenho dificuldades de concordar com sua opinião, pois ela me parece trazer dificuldades ao projeto.
D
Talvez você tenha se equivocado, pois não consigo identificar de que modo sua proposta contribui para o projeto.
E
Parece-me que sua opinião pode gerar algum ruído em relação ao projeto.
Parabéns! A alternativa A está correta.
A alternativa A apresenta uma fala inapropriada porque ela evidencia uma fala em que se sustenta um posicionamento ou uma opinião sem abertura para algum questionamento ou mesmo diálogo. As demais alternativas apresentam formas de expressar a discordância em que se destacam a cortesia, a polidez e a abertura ao diálogo e/ou continuidade de debate.
Considerações finais
Para que tenhamos uma experiência enriquecedora e proveitosa com a língua portuguesa na expressão do nosso pensamento, nas situações de comunicação e nas interações com as pessoas, precisamos conhecer a língua e aproveitar os recursos que ela nos oferece. Aqui, você pôde observar parte desse conhecimento. Use o que você aprendeu para vivenciar novas experiências com a língua portuguesa.
headset
Podcast
Neste podcast, acompanhe os professores Luís Cláudio Dallier, Antônio Soares Abreu e Maria Franco de Moura em uma conversa sobre os principais tópicos deste conteúdo.
Referências
SILVA, J. C. da. Filosofia da linguagem: da Torre de Babel a Chomsky. Pedagogia & Comunicação, 2009.
KOCH, I. V. A interação pela linguagem. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2003.
MARCHEZINI-CUNHA, V.; TOURINHO, E. Z. Assertividade e autocontrole: interpretação analítico-comportamental. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 26 n. 2, p. 295–304, abr. –jun. 2010.
ORLANDI, E. P. O que é Linguística. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2009.
PALOMO, S. M. S. Linguagem e linguagens. Eccos Revista Científica, v. 3, n. 2, p. 9–15, dez. 2001.
PETTER, M. Linguagem, língua, Linguística. In: FIORIN, J. L. (org.). Introdução à Linguística I. São Paulo: Contexto, 2003.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
TRIGUEIRO, O. O estudo científico da comunicação: avanços teóricos e metodológicos ensejados pela escola latino-americana. Pensamento Comunicacional Latino-Americano, v. 2, n. 2, jan.–mar., 2001.
VANOYE, F. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
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Confira as indicações que separamos especialmente para você!
· Assista ao documentário As origens da linguagem, produzido pela Crescendo Films – NHK em 2008, que está disponível no YouTube.
· Veja também o vídeo Comunicação animal, no canal da Khan Academy, no YouTube, para uma breve e interessante abordagem da Biologia Comportamental.

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