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07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 MÓDULO 6: CONCURSO DE CRIMES, ERRO E CONSEQUÊNCIAS DA CONDENAÇÃO TEMA 2 – ERRO NA EXECUÇÃO E RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 RESUMO Introdução No tema dos crimes aberrantes, para usar a expressão de Paulo José da Costa Jr, após tratar do aberratio ictus, o Código cuida do aberratio delicti ou aberratio criminis, que é o resultado diverso do pretendido, disciplinado no art. 74, CP. Resultado diverso do pretendido Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. É uma espécie de erro acidental, mas no qual não há mudança da pessoa, e sim mudança do crime, ou seja, do nomen juris. Em exemplo simples, uma pessoa pretendia destruir o vidro de um carro, mas acaba por atingir o condutor do veículo. Há em tal caso uma mudança no resultado, e a conduta afeta um bem jurídico diverso do que se pretendia afetar. Distinção Enquanto no aberratio ictus o erro se refere a pessoa contra quem se pretendia cometer o crime, na aberratio delicti o erro recai no crime, pois o agente pretendia cometer um crime e comete outro delito. Nas palavras de Paulo José da Costa Jr., a distinção é a seguinte: “Do que se infere da aberratio ictus, a ofensa, mesmo recaindo sobre o sujeito passivo diverso do visado, permanece idêntica na espécie, embora possa haver uma mudança de gravidade, havendo identidade normativa entre o evento idealizado e o produzido, não muda sequer o nomen juris do crime. E isto porque, como a Aula III – Resultado Diverso do Pretendido 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 identidade pessoal da vítima é um daqueles dados fungíveis, não dispondo de qualquer relevo na estrutura do delito, a não ser como accidens, o agente responde pela ofensa causada a pessoa diversa como se houvesse praticado o crime em detrimento da pessoa que tencionava ofender. Na aberratio delicti, ao revés, tem-se um evento de natureza divers da do idealizado, e, portanto, uma lesão heterogênea com respeito àquela desejada. Uma vez que resultado diverso significa crime diverso, porque no evento está a essência do crime, ter-se-á uma mudança no título do crime. Poder-se-ia talvez concluir que, não obstante os pontos de contato entre ambas as hipóteses de aberratio, põe-se entre elas uma distância insuperável. ” Baseado na lição de Costa Jr., podemos representar a distinção no seguinte esquema: Aberratio ictus Aberratio delicti Erro recai na pessoa- objeto material do crime Erro recai no bem jurídico ofendido Não muda o nomen juris (a identidade da vítima é um dado fungível) Muda o nomen juris Solução adotada Ocorrendo o aberratio delicti, o agente responde pelo resultado produzido “por culpa, se o fato é previsto como crime culposo”. Importante notar que a maioria dos crimes não possuem modalidade culposa. Desse modo, se o agente pretendia cometer um crime e, ao errar causa resultado diverso e se esse resultado produzido não é contemplado em tipo culposo, ele não responderá pelo resultado produzido. É o que ocorre quando o resultado produzido é crime de dano (art. 163, CP), que não tem modalidade culposa. Resultado duplo Assim, como no aberratio ictus, é possível no aberratio delicti que sejam produzidos os dois resultados. Se houver a produção dos dois resultados — o pretendido e o acidental — aplica-se 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 a regra do art. 70, CP, que impõe que seja aplicada a pena de um crime, aumentada de 1/6 até 1/2. Contudo, deve ser observado que na hipótese de dois resultados, o pretendido é atribuído dolosamente ao agente e o resultado acidental, a título de culpa, se houver previsão legal. Assim, se o agente pretendia cometer crime de lesão corporal e, ao arremessar um objeto contra a vítima, vem a produzir a desejada lesão corporal e o dano em uma janela, é de se notar que o resultado não pretendido deve ser atribuído a título de culpa, mas neste caso, por falta de previsão de dano culposo, o agente só responderá por lesão corporal dolosa. Se a intenção é praticar dano e além do dano, o arremesso causa lesão em uma pessoa, o agente será punido por dano doloso e por lesão corporal culposa, na forma do concurso formal. Hipótese 1 O agente pretendia cometer crime contra a pessoa, qual seja lesão corporal, mas ao executar, por erro, vem a produzir dano. Neste caso ele não é punido, pois não há previsão legal de dano culposo. Embora seja factível o fenômeno do dano culposo, ele não foi tipificado como crime, razão pela qual o agente não será punido pelo resultado produzido. Dano – Resultado diverso do pretendido – “Se o agente, pretendendo agredir seu opositor, desfere soco que atinge vidro existente entre ambos, quebrando-o, vidro esse que não fora visado, não responde pelo delito de dano por não ser punido a título de culpa” (TJMS – AC – Rel. Nildo de Carvalho – RT 675/398). Hipótese 2 Em situação diversa, se o crime que pretendia cometer era o de dano, mas o agente acaba por causar lesão corporal, como há previsão de dano culposo, o agente responderá por lesão corporal culposa (art. 129, § 6º, CP). “Se alguém, atirando uma pedra contra uma vitrina, rompe está e fere involuntariamente uma pessoa que está perto, responde, em concurso formal, pelo delito de dano e o de lesões corporais culposas e não dolosas” (TACRIM-SP – AC – Rel. Isnard dos Reis – RT 290/285). Guilherme Nucci resume bem a situação: “... Tício, tendo por fim atingir Caio, vendedor de uma loja, atira uma pedra contra sua pessoa. Em lugar de alcançar a vítima, termina despedaçando a vitrine do estabelecimento comercial. Portanto, em vez de uma lesão corporal, acaba praticando um dano. 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 O agente responde pelo resultado diverso do pretendido somente por culpa, se for previsto como delito culposo (art. 74, 1ª parte, CP). No exemplo supracitado, Tício não responderia por crime de dano, por inexistir a figura culposa. Entretanto, se, tentando quebrar a vitrine da loja, contra a qual atira uma pedra, termina atingindo uma pessoa, responderá o agente pela lesão culposa causada.” (Nucci, 2017, p. 869). Aberratio causae É preciso distinguir, ainda, o aberratioictus e o aberratio deliciti, do chamado aberratio causae, no qual o agente consegue produzir o resultado pretendido, mas por uma causa diversa da desejada. É o exemplo do autor que lança a vítima no mar para morrer afogada, mas esta morre porque bate a cabeça na rocha. Neste caso, o erro não tem relevância porque há total identidade entre o dolo e o resultado, sendo indiferente constatar se foi pelo motivo desejado ou não. É o que leciona Paulo José da Costa Jr.: “Não tem relevância alguma a diversificação do processo causal. Pouco importa que o agente, que pretendia a obtenção de determinado evento, tenha conseguido alcança-lo com uma mudança do nexo causal. ” (Costa Jr., 1996, p. 78). JURISPRUDÊNCIA STJ — RHC nº 2.008-1 — 6ª Turma — Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro. https://ww2.stj.jus.br/processo/ita/documento/mediado/?num_registro=199200124003&dt_public acao=01-08-1994&cod_tipo_documento FONTE BIBLIOGRÁFICA NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2017. NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 16ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. MARTINELI, João Paulo Orsini; BEM, Leonardo Schimitt de. Lições fundamentais de Direito Penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2016. MAYRINK DA COSTA, Álvaro. Código Penal Comentado. Rio de Janeiro: LMJ Mundo Jurídico, 2013. COSTA JÚNIOR, Paulo José. O Crime Aberrante. Belo Horizonte: Del Rey, 1996. 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 07 62 38 92 73 8 https://ww2.stj.jus.br/processo/ita/documento/mediado/?num_registro=199200124003&dt_publicacao=01-08-1994&cod_tipo_documento https://ww2.stj.jus.br/processo/ita/documento/mediado/?num_registro=199200124003&dt_publicacao=01-08-1994&cod_tipo_documento