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›› O ambiente organizacional da Petrobras A Petrobras e sua história A Petrobras é a maior empresa brasileira e uma das maiores do mundo. Essa gigante atua no ramo energé- tico e tem papel preponderante na economia nacional desde os tempos de sua conturbada criação. O proces- so de nascimento da empresa remete-nos às décadas de 1940 e 1950, quando houve grandes debates sobre a questão do petróleo no Brasil. De um lado estavam os grupos nacionalistas, que defendiam o completo mono- pólio do Estado brasileiro sobre a produção e refino; do outro, estavam as companhias internacionais, que de- sejavam a abertura do mercado. As discussões duraram sete anos, até que, em 1953, Getúlio Vargas sancionou a lei que determinava a criação da Petrobras, que mo- nopolizaria todas as etapas produtivas de exploração de petróleo. Ainda hoje, a Petrobras permanece uma empresa estatal, ou seja, o governo brasileiro detém participação majoritária na companhia. O setor de petróleo sempre foi visto como estraté- gico pelos governantes brasileiros, já que, ainda hoje, é a principal matriz energética mundial. Além disso, por tratar-se de uma riqueza natural do país, essa commo- dity foi protegida dos interesses das grandes empresas internacionais do ramo. Isso incitou um elevado nacio- nalismo na população, que se orgulha da Petrobras pela sua relevância no Brasil. Até 1995, a organização gozou do monopólio de prospecção, exploração e refino do petróleo no país. A ausência de concorrentes permitiu que a empresa experimentasse um crescimento contínuo em suas ati- vidades e ganhos, apesar de não ser incentivada a in- crementar sua produtividade e eficiência. A elevação da receita e dos lucros possibilitou que a Petrobras au- mentasse seus investimentos, não apenas na área pro- dutiva, mas também em pesquisa e desenvolvimento de novas técnicas. É importante realçar que a maior parte do petróleo brasileiro não está localizada em terra firme, e sim na plataforma continental brasileira, ou seja, na projeção do território brasileiro sob o Oceano Atlântico. Por isso, a empresa sempre investiu pesadamente em tecnolo- gia para exploração da riqueza energética em águas profundas (mais de 400 metros de profundidade). Com isso, a organização tornou-se a maior exploradora da commodity nessas condições no mundo. O contexto de atuação da Petrobras O mercado petrolífero da economia mundial sem- pre foi extremamente conturbado, em virtude de crises políticas e guerras ocorridas nas principais regiões pro- dutoras. Por essa razão, o preço dessa commodity, co- tado em bolsas internacionais, sofreu oscilações brus- cas no decorrer das últimas décadas. Essa conjuntura mundial afetou diretamente a Petrobras e a política de preços acertada com o governo brasileiro. Apesar de ter alcançado a autossuficiência na produção de petróleo em 2006, o Brasil sempre foi importador do produto, e as crises influenciaram diretamente os preços pratica- dos no mercado interno. Na década de 1970, os preços internacionais do petróleo dispararam, em decorrência da situação geo- política no Oriente Médio, e a Petrobras foi forçada a elevar o preço dos combustíveis no mercado interno. Essa decisão prejudicou toda a economia nacional, po- rém era a única solução para enfrentar a alta dos preços da importação do produto. Na década de 1980, a instabilidade política no Irã e sua guerra com o Iraque geraram nova elevação do pre- ço da commodity no mercado internacional. Dessa vez, no entanto, o aumento da produção interna permitiu que a Petrobras, atendendo à política governamental de controle de preços, não repassasse integralmente aos consumidores esse incremento no valor da importação. A Petrobras, como empresa estatal produtora de importantes matrizes energéticas, segue uma políti- ca de preços formulada com o governo brasileiro. A empresa é vista como instrumento do desenvolvimen- to nacional e, sendo os combustíveis um elemento indispensável para todas as atividades produtivas, os valores cobrados dos consumidores influenciam dire- tamente o crescimento econômico. Além disso, o pre- ço dessa mercadoria nos postos de combustíveis afeta largamente a inflação brasileira, visto que os valores da gasolina, do diesel e do álcool estão atrelados aos custos de todos os produtos. Os principais stakeholders A organização sofre, portanto, grande influência governamental, já que, por tratar-se de área estraté- ››› Estudo de caso Ri ca rd o St uc ke rt /P re si dê nc ia d a Re pu bl ic a 133Capítulo 3 ›› O ambiente organizacional 03 Sobral.indd 133 1/3/13 2:10 PM ››› ››› gica, cujos preços afetam toda a macroeconomia, é necessário certo controle por parte do governo. Não bastando a importância do setor energético para o país, o Estado brasileiro ainda é o principal acionista da Petrobras (detinha, em 2012, 50,85% do capital com direito a voto), além de participações indiretas contro- ladas pelo Governo Federal. O ministro das Minas e Energia é membro da diretoria da organização e toma decisões sobre os investimentos e a estratégia da em- presa com outros membros do conselho. Uma influência muito criticada do governo sobre a empresa é o uso político dos cargos administrativos da Petrobras. Por ser estatal, seu presidente e principais diretores são nomeados pelo presidente da República. Com isso, de quatro em quatro anos, são comuns com- pletas reestruturações do topo da companhia, o que prejudica o planejamento de longo prazo. Além do governo, a Petrobras possui outros acio- nistas, atualmente mais de 170 mil. Inicialmente, a em- presa só podia ter capital nacional; porém, ao longo do tempo, o nacionalismo exacerbado diminuiu e foi permitido que estrangeiros tivessem participação no capital da empresa. Entretanto, foi apenas em 1999 que eles puderam comprar ações com direito a voto. No Brasil, as ações da empresa são negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). No entanto, é no exterior que se encontram os principais acionistas privados da Petrobras. As ações preferenciais da em- presa vêm sendo negociadas desde 1996 no mercado de balcão. A partir de 2001, essas ações passaram a ser negociadas com as ações ordinárias na Bolsa de Nova York (Nyse), demonstrando a confiança do mercado fi- nanceiro internacional na instituição. Outro grande acionista da empresa é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Essa instituição, além de deter boa par- cela das ações da Petrobras, por meio da BNDES Participações S.A., é financiadora de vários projetos da organização, como a construção de plataformas e navios, compras e construções de refinarias, além de outros investimentos produtivos. A Petrobras atende a diversos tipos de consumido- res e vende vários produtos. Os produtos da empresa são vendidos a muitos clientes, desde indústrias até proprietários de veículos automotores, passando por distribuidoras de combustíveis e refinarias estrangeiras. Além de petróleo, gás natural e derivados energéticos do petróleo, a petroquímica da organização fornece subprodutos da commodity que são utilizados por in- dústrias de plástico, por exemplo. Sua forte presença em quase todos os setores produtivos tem impacto di- reto na economia brasileira. O crescimento organizacional e o grande número de empregados da companhia são usados constan- temente pelo governo brasileiro como propaganda política. O aumento da produção e das exportações, além da atuação internacional da Petrobras, é exposto como vitória do Estado. Em 2006, quando a organiza- ção atingiu a marca de 1,91 milhão de barris produzi- dos diariamente, superando a demanda nacional pela commodity, houve grande campanha publicitária, com a participação do presidente brasileiro, divulgando a autossuficiência nacional em petróleo. Para muitos, a dificuldade em desvincular a empresa do governo bra- sileiro impede maiores crescimentos da produtividade e do rendimento da companhia.A empresa, no entanto, também é vista como pa- trimônio de todos os brasileiros e como força dinamiza- dora da economia nacional. Suas compras no mercado interno fortaleceram a indústria naval do país. Porém, suas encomendas não se limitam à indústria nacio- nal. Suas plataformas, petroleiros e navios de supor- te vêm de várias partes do mundo, e seus principais fornecedores são grandes estaleiros e conglomerados da indústria de navegação marítima, como o Shipyard Jurong, de Cingapura. A Petrobras não apenas incentiva a contratação nas indústrias e firmas de serviços complementares, como também ela própria é uma grande empregadora no país e no mundo. Contando com mais de 80 mil funcionários em seus quadros e mais de 300 mil tercei- rizados, a empresa é motivo de orgulho para eles, que veem na organização a força da economia nacional. As vagas de emprego na Petrobras são muito dis- putadas, visto que os cargos técnicos proporcionam planos de carreira atraentes. Além disso, a estabilidade da empresa estatal confere aos funcionários a possi- bilidade de um trabalho para a vida toda. Esses fatos geram uma lealdade dos funcionários raramente vista em empresas brasileiras. Esse grande número de funcionários está filiado, consequentemente, a um forte sindicato. O Sindipetro exerce grande influência sobre a organização e o go- verno. Depois do sindicato dos funcionários das mon- tadoras de veículos, a associação é considerada a que detém maior poder de negociação e pressão. Sendo a Petrobras uma empresa estatal, essa influência recai sobre o Governo Federal, o que aumenta a força do sindicato. As questões político-econômicas no Brasil e nas nações onde a Petrobras atua, extraindo e refinando petróleo e gás natural, também são de vital importân- A gê nc ia P et ro br as 134 Administração: teoria e prática no contexto brasileiro 03 Sobral.indd 134 1/3/13 2:10 PM ››› ››› cia para a empresa. A estabilidade política é relevan- te para que os planos de longo prazo sejam traçados. Além disso, ela é imprescindível para a redução dos riscos dos investimentos. As questões econômicas afetam as decisões sobre contratações, aumento da produção e investimentos, tornando a economia local outra variável a que a Petrobras precisa estar atenta. A internacionalização da Petrobras Em 1972, foi criada a Petrobras Internacional S.A. (Braspetro) para pesquisar e explorar combustíveis fós- seis fora do país. Até então, era a própria Petrobras que negociava e firmava contratos no exterior. Desde a criação dessa subsidiária, a atuação internacional da Petrobras tornou-se cada vez mais importante. A em- presa está presente em 23 países e investiu, de 2007 a 2011, mais de 12 bilhões de dólares nas atividades internacionais. Na década de 1970, a empresa firmou contratos com nações da América, da África e do Oriente Médio, chegando, inclusive, a realizar uma grande descoberta no Iraque. As tensões geopolíticas, no entanto, fizeram- -na reduzir seus objetivos naquele país. Na década de 1980, a Petrobras iniciou suas atividades em regiões de menor risco político, como o Golfo do México e o Mar do Norte. Essas atividades não foram tão importantes do ponto de vista produtivo, porém possibilitaram à empre- sa desenvolver suas atividades no exterior em locais que gozavam de estabilidade, além de permitir o aprimora- mento da exploração offshore (em águas profundas). A estabilidade regional, porém, nem sempre é uma constante. A estratégia de internacionalização teve um sério revés em 2006, na Bolívia. Esse país pos- sui enorme reserva de gás natural em seu subsolo e, desde 1996, a Petrobras vem trabalhando na extração dessa matriz energética. Por ser uma fonte energética mais barata e menos poluente, o gás é largamente uti- lizado nas indústrias brasileiras, que investiram milhões de reais convertendo fornos e máquinas para a utiliza- ção do combustível. Entre 1997 e 2000, foi construído o gasoduto Brasil-Bolívia, ligando as regiões produtoras bolivianas aos mercados consumidores do Centro-Sul brasilei- ro. De acordo com o contrato assinado entre as duas partes, a Petrobras Bolívia, subsidiária da organização naquele país, exportaria até 2019 um máximo de 30 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia. Com isso, o Brasil pareceu ter encontrado uma solução para os problemas energéticos nacionais que se tornaram evidentes com o racionamento de energia em 2001. Cerca de 50% do gás natural utilizado no Brasil vem do país vizinho, percentual que chega a 75% no Estado de São Paulo, economicamente o mais poderoso do país, demonstrando a dependência brasileira do combustí- vel boliviano. Todavia, a situação começou a se deteriorar com as eleições bolivianas de 2005. Em sua campanha po- lítica, o vencedor do pleito, Evo Morales, prometeu nacionalizar a produção e o refino de hidrocarbonetos (petróleo e gás) e aumentar os impostos sobre as mul- tinacionais. A conjuntura política no país tornou-se ins- tável, já que, apesar de o preço do gás ser reajustado de acordo com critérios firmados no contrato entre a Petrobras e o governo boliviano, este insistiu em ele- var os tributos sobre a produção. Em maio de 2006, duas refinarias da Petrobras, uma em Cochabamba e outra em Santa Cruz de la Sierra, foram ocupadas pelo Exército daquele país. Com a crise estabelecida, iniciaram-se negocia- ções entre as duas partes para tentar solucionar o pro- blema. O governo brasileiro participou das negocia- ções, mas a situação era muito delicada. Até então, a Petrobras já havia investido cerca de 1 bilhão de reais na construção do gasoduto, 105 milhões de dólares na compra das duas refinarias e tinha planos de investir ainda mais na Bolívia pelos anos seguintes. Os proble- mas gerados pela crise, entretanto, fizeram-na cancelar os investimentos e acelerar o incremento da produção de gás natural no Brasil. A instabilidade política, por- tanto, afetou diretamente as atividades organizacionais nesse país. A responsabilidade socioambiental da Petrobras Além de seus consumidores e trabalhadores, ou- tros grupos de interesse influenciam as atividades da Petrobras. Uma vez que a queima de combustíveis fósseis está intimamente relacionada ao aquecimento global e à poluição, a empresa sofre pressão de grupos ambientais, como o Greenpeace e o WWF, defensores de fontes de energia limpas e renováveis. Outro perigo ambiental são os vazamentos em oleodutos e em petroleiros. Em janeiro de 2000, hou- ve a ruptura de uma tubulação da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro, e isso gerou um grave problema ambiental. As águas da Baía de Guanabara foram atingidas, prejudicando a fauna e a flora de manguezais. A Petrobras foi obrigada a inde- nizar a comunidade de pescadores e a limpar o óleo, além de ter sofrido outras penalizações, o que repre- sentou um prejuízo da ordem de 110 milhões de reais. Para evitar gastos como esse e a repercussão nega- tiva divulgada pela mídia, a Petrobras investe maciça- mente em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias eficientes e seguras para extrair, transportar e armaze- nar o petróleo e seus derivados. O Cenpes/Petrobras é o centro de pesquisa da empresa no Estado do Rio de Janeiro. Fundado em 1963, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é nele que são criados e aprimorados inventos para aumentar a produtividade e a confiabilidade da área operacional. Além disso, no centro, há pesquisas sobre novas fontes de energia limpas e renováveis. 135Capítulo 3 ›› O ambiente organizacional 03 Sobral.indd 135 1/3/13 2:10 PM ››› A Petrobras desenvolve ainda projetos de energia eólica e solar em diversos locais do Brasil. Essas fontes não prejudicam o meio ambiente, não poluindo nem trazendo riscos ao hábitat de diversas espécies. Além delas, o biodiesel, desenvolvido a partir de óleos vege- tais, é uma importante bandeira da organização e do governo brasileiro na defesa domeio ambiente. Um dos óleos para a produção do biodiesel é o da mamona, fruto típico do sertão nordestino, a região mais pobre do Brasil. A Petrobras investe nesse proje- to, então, também pelo poder de promoção da inclu- são e desenvolvimento social que ele possui. Esse é um exemplo dos projetos socioambientais criados e expandidos com capitais da organização. A Petrobras investe também em projetos como o Projeto Tamar, que protege as tartarugas marinhas da costa brasileira, e o Projeto Cetáceos, que estuda os mamífe- ros marinhos. Essa política da empresa influencia posi- tivamente a visão que a sociedade e os consumidores têm da organização. Para eles, ela é um exemplo de que é possível conseguir alcançar os objetivos organi- zacionais eficientemente, respeitando a sustentabilida- de ambiental e promovendo o desenvolvimento social. O futuro da Petrobras Apesar de alguns percalços, a Petrobras tem tido um desempenho extraordinário. O aumento da produ- ção interna de petróleo, a receita com a exportação, a venda de combustíveis no Brasil e o ganho com ati- vidades de exploração e refino em outros países têm sustentado lucros recordes nos últimos anos. Com os custos de produção quase estáveis e as receitas cres- cendo continuamente, a Petrobras teve o mais alto lu- cro de sua história em 2010: 35 bilhões de reais. Mas não é só de lucros que a empresa tem ba- tido recordes. A empresa ficou famosa mundialmente por ter efetuado em outubro de 2010 a maior capi- talização em capital aberto de toda a história da hu- manidade: R$ 127,4 bilhões. O acontecimento tornou famoso o jargão usado pelo ex-presidente Lula para descrever o evento na ocasião: “Nunca na história da humanidade...”. Em fevereiro de 2012, o governo nomeou Maria das Graças Foster como nova presidenta da empresa, que se tornou a primeira mulher no mundo a coman- dar uma grande companhia petrolífera. A indicação de Graça Foster, uma funcionária de carreira da Petrobras, foi recebida pelo mercado como uma escolha que prio- rizava uma gestão menos política e mais voltada para a geração de valor. Talvez agora a Petrobras pare de ser um dos braços do governo na economia e foque exclusivamente no seu negócio, a exploração, refino e distribuição de energia.52 Questões 1. De acordo com o caso, quais são os stakeholders internos e externos da Petrobras? Por que pode- mos dizer que, até 1995, os concorrentes não eram um stakeholder da organização? Acredita que isso afetou o crescimento da empresa? 2. Qual o papel do Governo Federal na empresa? Como a influência governamental afeta a política de preços da empresa? Na sua opinião, a indica- ção de Foster sinaliza a intenção do governo de se afastar da estratégia da companhia? 3. Por que a estabilidade geopolítica é importante para empresas como a Petrobras? Como a insta- bilidade política na Bolívia afetou os negócios da Petrobras nesse país? 4. Como o acidente na Baía de Guanabara afetou a Petrobras e o que ela vem fazendo para evitar ca- sos como esse? Qual o papel socioambiental da organização? Qual é a sua importância? Ro be rt o St uc ke rt F ilh o/ Pr es id ên ci a da R ep ub lic a 136 Administração: teoria e prática no contexto brasileiro 03 Sobral.indd 136 1/3/13 2:10 PM
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