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2018 Gestão de Projetos Prof. Rogério Lacerda Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Prof. Rogério Lacerda Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: L131g Lacerda, Rogério Gestão de projetos. / Rogério Lacerda. – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 191 p.; il. ISBN 978-85-515-0219-8 1.Administração de projetos. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 658.404 III APresentAção Olá, acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Gestão de Projetos! A Gestão de Projetos é muito relevante nas organizações atuais, dado que esta disciplina possibilita colocar planejamentos estratégicos de uma forma mais prática e operacional no dia a dia das empresas e demais instituições. A disciplina foi disposta em três unidades, a primeira possibilita uma compreensão da necessidade de projetos e seu relacionamento com os processos de execução estratégica, desde indicadores até a gestão de um portfólio ou programas de projeto. Outro ponto interessante da Unidade 1 é a conceituação de projetos e seus variados tipos, bem como o aprofundamento das áreas de conhecimento e grupo de processos que compõem a base de conhecimentos de gestão de projetos. Na Unidade 2, nós faremos com detalhes a exposição de conteúdos de como realizar um planejamento de projeto, desde a definição do seu escopo, o planejamento de tempo e custo, bem como demais aspectos importantes do planejamento de projetos como a gestão da comunicação, qualidade de projetos e identificação e avaliação de riscos. A Unidade 3 se destina à exposição de conteúdos a respeito da execução e controle de projetos que perpassam em assuntos de alta relevância, como a gestão de equipes, liderança, comunicação, controle da qualidade de projetos, como criar os relatórios de acompanhamento e termo de encerramento do projeto. Esperamos que o conteúdo atenda não só a sua necessidade acadêmica, mas também possibilite no aperfeiçoamento da sua vida profissional e prática. Desejo ótimos estudos! Professor Rogério Lacerda IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS .......................................................... 1 TÓPICO 1 – DE ONDE VÊM OS PROJETOS? .................................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 FORMAS DE EXECUÇÃO DA ESTRATÉGIA: PROCESSOS E PROJETOS ........................... 4 3 GESTÃO DE PORTFÓLIO E PROGRAMAS ................................................................................. 13 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 19 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 20 TÓPICO 2 – DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS ......................................................................... 21 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 21 2 TIPOS DE PROJETOS ......................................................................................................................... 21 3 CICLOS DE VIDA DE UM PROJETO .............................................................................................. 29 4 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS ............................................................................................ 36 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 41 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 42 TÓPICO 3 – GESTÃO DE PROJETOS ................................................................................................ 43 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 43 2 ÁREAS DE CONHECIMENTO E GRUPOS DE PROCESSOS ................................................... 45 3 ABERTURA DE PROJETOS: CONSTRUINDO O TERMO DE ABERTURA DE PROJETOS ............................................................................................................................................. 50 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 60 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 61 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 62 UNIDADE 2 – PLANEJAMENTO DE PROJETOS ........................................................................... 63 TÓPICO 1 – COMO DEFINIR O ESCOPO DO PROJETO? ........................................................... 65 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 65 2 INTERPRETANDO UM TERMO DE ABERTURA DE PROJETOS ........................................... 65 3 ANÁLISE DO GERENTE DE PROJETO .......................................................................................... 67 4 ESTRUTURA ANALÍTICA DE PROJETO ...................................................................................... 70 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 81 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 82 TÓPICO 2 – COMO PLANEJAR O TEMPO E O CUSTO DO PROJETO? .................................. 83 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 83 2 SEQUENCIAMENTO DE ATIVIDADES ........................................................................................ 83 3 ESTIMATIVAS DE PROJETO ............................................................................................................89 3.1 TRABALHO/ ESFORÇO OU DURAÇÃO DA ATIVIDADE? ................................................... 97 4 PLANEJANDO A EQUIPE DO PROJETO ....................................................................................... 97 5 CRONOGRAMA E ORÇAMENTO .................................................................................................. 101 sumário VIII RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 110 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 111 TÓPICO 3 – PREPARANDO PARA A EXECUÇÃO ......................................................................... 113 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 113 2 PLANEJAMENTO DE COMUNICAÇÃO ....................................................................................... 114 3 PLANEJANDO A QUALIDADE ....................................................................................................... 117 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 122 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 123 UNIDADE 3 – EXECUÇÃO E CONTROLE DE PROJETOS ........................................................... 125 TÓPICO 1 – E SE ALGO SAIR DO PLANEJAMENTO? ................................................................. 127 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 127 2 IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE RISCOS DE PROJETO .................................................. 127 3 PLANO DE RESPOSTA AOS RISCOS ............................................................................................ 130 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 140 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 141 TÓPICO 2 – MOBILIZAÇÃO DA EQUIPE ........................................................................................ 143 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 143 2 HABILIDADES INTERPESSOAIS ................................................................................................... 147 3 LIDERANÇA.......................................................................................................................................... 151 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 158 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 159 TÓPICO 3 – COMUNICAÇÃO DO PROJETO.................................................................................. 161 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 161 2 SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO DE PROJETOS ....................................................................... 161 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 166 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 167 TÓPICO 4 – GARANTINDO E CONTROLANDO A QUALIDADE DO PROJETO ................ 169 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 169 2 AUDITORIAS ........................................................................................................................................ 169 3 CONTROLE DO PROJETO ................................................................................................................ 171 3.1 ELABORANDO O RELATÓRIO DE DESEMPENHO DO PROJETO ..................................... 171 3.2 MONITORANDO INDICADORES DO PROJETO..................................................................... 181 4 ENCERRAMENTO DO PROJETO .................................................................................................... 183 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 186 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 187 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 189 1 UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • compreender os conceitos sobre a gestão de projetos. • entender a gestão de projetos como parte da gestão estratégica; • compreender os conceitos de gestão de portfólio de projetos. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1– DE ONDE VÊM OS PROJETOS? TÓPICO 2 – DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS TÓPICO 3 – GESTÃO DE PROJETOS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 DE ONDE VÊM OS PROJETOS? 1 INTRODUÇÃO Uma empresa, sendo instituída, necessita de um nível de organização para alcançar os seus objetivos. E, para que estes objetivos sejam alcançados, a utilização da técnica de planejamento estratégico, fundamentada em métodos analíticos, auxilia a compor um conjunto de objetivos e ações que impactarão em curto, médio e longo prazo a empresa. Existem várias técnicas e abordagens utilizadas na realização de um planejamento estratégico. Este pode ser realizado por meio de ferramentas analíticas que, analisam de modo racionalista o contexto, propõe objetivos e de forma lógica, ações que irão atender aos objetivos. A estratégia também pode ser vista como um posicionamento, e com o uso de ferramentas analíticas. Realiza-se uma análise detalhada do contexto competitivo em que a empresa está inserida. Com essa análise, principalmente em relação a concorrentes, novos entrantes, barreiras de entrada, entre outros, há uma determinação do posicionamento estratégico da organização. Este posicionamento, pode se dar por meio de competição por preço, competição por características de produtos e/ou serviços superiores a concorrência ou, até mesmo, trabalhar em ações que visam à ampliação de atuação da empresa em nichos restritos de mercado (MINTZBERG; QUINN, 2001). Outra forma de visão da estratégia é como um padrão. Ou seja, a estratégia não é vista como um plano com o posicionamento deliberado pelo gerente, mas sim, como fruto de um comportamento recorrente de ações passadas e ao traçar um modus operandi da organização, propõe-se então ações de acordo com esse padrão (MINTZBERG; QUINN, 2001). Por último, a quarta forma de entender a estratégia é por meio da estratégia como uma perspectiva de visão de mundo dos gestores. Uma organização não pode ser entendida como um mecanismo das ciências naturais, e sim fruto de um contexto social. Deste modo, as visões, preferências e valores pessoais devem ser levadas em consideração durante a elaboração de planos (OLIVEIRA et al., 2016). Nesta ótica de estratégia como perspectiva do gestor, é necessário fazer o uso de ferramentas analíticas e também cognitivas com o objetivo de ampliara visão do contexto em que a organização está inserida e assim, auxiliar o gerente a compor as ações conforme a sua visão de mundo e visão de futuro para a organização (ENSSLIN et al., 2001). UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 4 Essas quatro visões estratégias são de suma importância para a composição de um conjunto de ações estratégicas para a melhoria do desempenho organizacional, pois, dependendo do mercado onde a organização está inserida, ela pode ter repercussões operacionais importantes. Por exemplo, uma organização industrial que fabrica bens de consumo em grande escala de produção geralmente possui como fator competitivo o menor preço. Neste sentido, as ações estratégicas, sempre ou quase sempre, estão associadas a redução de custo operacionais e ampliação de mercado (PORTER, 1992). Já, empresas de produtos tecnológicos dependem fundamentalmente da constante melhoria de seus produtos atuais e também de um portfólio de produtos equilibrado, em que se faz necessário o entendimento do futuro para determinar as oportunidades de mercado e, principalmente, investir em ações estratégicas. Para isso, o capital intelectual é importante para a inovação e melhoria de seus produtos. Capital intelectual, neste exemplo, pode ser explicado por um quadro de funcionários com competências técnicas e intelectuais acima da média, de forma a tornar as ações estratégicas um investimento importante e com repercussões de longo prazo e duradouras. A partir do conhecimento sobre os tipos de estratégia organizacional, vamos agora aprofundar um pouco mais os conhecimentos sobre as formas de execução da estratégia. Vamos lá! 2 FORMAS DE EXECUÇÃO DA ESTRATÉGIA: PROCESSOS E PROJETOS Uma vez estabelecido e entendido, os conceitos e abordagens de estratégia, é então necessário entender como a estratégia se operacionaliza dentro das organizações. Uma estratégia, como vimos na seção anterior, se trata de intenções desejadas por um corpo executivo de gestores. Todavia, se uma estratégia não for bem executada, se torna apenas boas intenções e vontades. Desse modo, ela sendo operacionalizada de forma caótica, o acaso se torna o fator preponderante para a execução dos objetivos organizacionais. Sem o norte estratégico, a organização não passará de pessoas e profissionais que não sabem para onde ir, e nem sabem comparar sua situação atual com os desejos futuros. Portanto, o alinhamento entre as intenções futuras e o que é efetivamente executado no dia a dia das organizações é um fator chave para o sucesso. TÓPICO 1 | DE ONDE VÊM OS PROJETOS? 5 Existem basicamente duas formas de operacionalizar a estratégia e fazer com que esta seja executada de forma alinhada estrategicamente no dia a dia organizacional. As estratégias podem ser operacionalizadas por meio de processos e por meio de projetos (PMI, 2013). Processos recebem uma entrada e, a partir da execução de suas atividades, transformam essas entradas em saídas. Deste modo, processos são um conjunto de atividades que são executadas, de forma mais ou menos repetitiva, e seguem um fluxo básico de sequência, conforme apresentado na Figura 1, podendo ser mensurado o seu resultado ao longo do tempo (SORDI, 2005). FIGURA 1 – ELEMENTOS DE UM PROCESSO FONTE: O autor (2018) Como exemplo de um processo, podemos analisar o processo de montagem de um carro em uma fábrica, conforme Figura 2. O fluxo de montagem segue uma rígida e controlada sequência de atividades, em que as pessoas sabem exatamente quais peças devem ser encaixadas em determinado local e quanto tempo levará para executar cada atividade. Para esses tipos de processos, as ferramentas de gestão mais apropriadas e adequadas são as técnicas de otimização, como PERT/ CPM, 6-sigma e controles estatísticos de processos (ANDRADE, 1998). FONTE: <http://m.diarioonline.com.br/noticias/veiculos/noticia-410988-como-funciona-uma- linha-de montagem-de-automoveis.html>. Acesso em: 10 set. 2018. FIGURA 2 – PROCESSO DE MONTAGEM DE UM AUTOMÓVEL UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 6 No entanto, outros tipos de processo não são tão determinísticos, pois as informações e orientação para o desempenho da atividade não podem ser determinados previamente e assim, são basicamente executados por pessoas e com o uso de seu intelecto. Para estes tipos de atividades, a robotização e a informatização ainda são limitadas. Podemos citar, como exemplo, o atendimento ao cliente em um pós-venda. Por mais que haja um esforço das organizações em padronizar esses atendimentos, a interlocução entre duas pessoas – o cliente e o funcionário da empresa – não se pode determinar exatamente quanto tempo o processo irá durar. Deste modo, pode haver vários desdobramentos em um único atendimento, a partir de uma pergunta, vários tipos de ações são possíveis, por exemplo: a consulta de uma base de conhecimento (respostas a perguntas frequentes – FAQs), a abertura de um chamado para manutenção de um serviço ou produto, entre outros. Esse segundo tipo de processo tem como principal característica que não se pode determinar com precisão a duração de sua atividade, o que torna o uso de ferramentas estatísticas limitadas a este contexto. Porém, outras análises podem ser muito importantes a serem realizadas na gestão desse processo, por exemplo, a natureza da abertura de chamados do help desk ou quais atendentes têm o maior número de reabertura de chamados. Essas análises e reflexões podem sugerir uma necessidade de capacitação e averiguação dos motivos que levaram a um desempenho indesejado pelos gestores. Em suma, o primeiro tipo de processo é bem mecanicista, executado basicamente por softwares e automatizado por robôs ou máquinas. Já, o outro tipo de processo é intensamente executado por pessoas, em que o conhecimento é um indicador chave de sucesso. As alterações de ação estratégica por meio de processos se dão pela execução da Gestão de Processos de Negócio – BPM, mas não será abordado neste livro. A outra forma de execução de estratégias é por meio de projetos. Projetos são ações pontuais com começo, meio e fim claros, com um conjunto de atividades coordenadas que utilizam recursos organizacionais a fim de alcançar um determinado objetivo. Ao contrário de processos, nos quais o ponto de partida é uma solicitação (entrada), o projeto é executado a partir de uma deliberação executiva, geralmente, de cunho estratégico. Neste sentido, é possível observar, no Quadro 1, as principais diferenças entre o gerenciamento de projetos tradicional e o gerenciamento de projetos estratégico. TÓPICO 1 | DE ONDE VÊM OS PROJETOS? 7 Gerenciamento de projetos tradicional Gerenciamento de projetos estratégico Paradigma central Atingir prazo, custo e escopo prometido Atingir os objetivos de negócio Foco Eficiência Eficácia e eficiência Papel do gerente de projetos Terminar o trabalho prometido Ampliar mercado e resultados da empresa Estilo do gerente de projetos “Um tamanho veste todos” Adaptativo Definição do projeto O que precisa ser feito? Como atingir a vantagem competitiva? Lado humano Equipes e resolução de conflitos Liderança, visão, significado e motivação QUADRO 1 – GERENCIAMENTO ESTRATÉGICO DE PROJETOS FONTE: Adaptado de: Shenhar (2004) Retomando, pode-se dizer então que projetos são únicos por natureza e processos são repetitivos por natureza. Projetos precisam de um objetivo claro para que se haja um planejamento operacional e que todos os recursos necessários sejam mobilizados em uma ordem do tempo para que o objetivo seja alcançado. Processos enquanto projetos têm em comum a melhoria ou uma determinada ação estratégica. Em processos, por exemplo, uma ação estratégica seria diminuir o tempo de resposta a um cliente. Portanto, é necessário que seja continuamente averiguado quais são os “gargalos” do processo, ou seja, processos que estão tomando maior parte do tempo. Desse modo, por meio de controle estatístico e a ampliaçãodo conhecimento gerencial, pode-se diminuir esse tempo. Como exemplos de projetos, podemos citar a abertura de mais pontos de venda de uma rede de varejo. Dessa forma, projetos não são rotineiros, ou seja, não há uma demanda contínua de abertura de lojas, mas sim, uma ação estratégica com impacto organizacional. A Figura 3 apresenta um esquema resumido de como projetos e processos podem ser identificados no contexto organizacional. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 8 FIGURA 3 – ABERTURA DE UMA NOVA FILIAL DE UMA LOJA FONTE: O autor (2018) Conforme visto anteriormente, a ação estratégica de uma empresa para (de) abrir uma nova filial é um projeto pois, possui início, meio e fim. Ou seja, a partir do objetivo estratégico traçado, o projeto é iniciado por um Termo de Abertura do Projeto – TAP, passa-se para a execução do projeto e este é finalizado a partir da entrega de seu resultado final. Já os processos podem ser observados no dia a dia de funcionamento dessa loja, a entrada recorrente de cliente, a realização de pedidos e a consolidação de vendas. Entretanto, processos quanto projetos precisam ser averiguados constantemente para avaliação do alcance dos objetivos estratégicos. Então, faz- se necessária uma mensuração dos resultados, surge então o terceiro elemento importante para a execução da estratégia, a avaliação de desempenho. Todavia, um grande equívoco realizado pelas organizações e profissionais é entender que a avaliação de desempenho só é útil após a execução de determinada situação. Na verdade, a avaliação de desempenho é um desdobramento de anseios e expectativas organizacionais em relação aos objetivos traçados, e estes objetivos devem ser mensurados por indicadores de desempenho expressados em uma escala de preferência. Neste sentido, a Figura 4 busca exemplificar o processo de formulação desses indicadores: TÓPICO 1 | DE ONDE VÊM OS PROJETOS? 9 FIGURA 4 – PLANO ESTRATÉGICO E PROJETOS FONTE: Adaptado de Norton e Kaplan (2004) Como visto, a partir dos objetivos estratégicos é possível identificar indicadores de desempenho que auxiliarão na tradução da estratégia em ações práticas. Ou seja, a partir desses indicadores de desempenho, a organização poderá identificar sua situação atual e assim poderá realizar uma análise de que projetos serão necessários para que o objetivo estratégico seja atingido. Ao realizar o projeto, é necessária a análise dos resultados alcançados, e assim uma nova avaliação e atualização dos indicadores de desempenho. Uma vez realizado, este deve ser um processo recursivo da organização para avaliação de seus resultados perante seus indicadores de desempenho e objetivos estratégicos. Com essa visualização e reflexão, os gerentes podem formar opinião com base em fatos e dados e propor metas de desempenho. A partir dessas metas, surge então a necessidade de melhoria de processos ou a criação de projetos para elevar o desempenho de cada objetivo que está sendo focado no momento. Uma organização ao traçar um objetivo, deve identificar quais são as áreas de gestão que impactam o alcance deste. Neste exemplo é possível observar que o objetivo estratégico pode ser desdobrado pelos resultados das áreas de mercado, produção, pessoas e financeiro, conforme apresentado na Figura 5. EXEMPLO UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 10 FIGURA 5 – OBJETIVOS ESTRATÉGICOS E ÁREAS DE GESTÃO FONTE: O autor (2018) Ao identificar estas áreas de gestão, passa-se a definição de indicadores e metas de desempenho, conforme apresentado na Figura 6. No exemplo, o comitê executivo coloca como um dos objetivos a ampliação da presença geográfica e com o indicador diretamente relacionado. FIGURA 6 – INDICADORES E METAS DE DESEMPENHO FONTE: O autor (2018) TÓPICO 1 | DE ONDE VÊM OS PROJETOS? 11 Neste ponto, observa-se o uso da ciência de avaliação de desempenho como forma de expressar um anseio dos executivos em métricas para realizar uma gestão eficaz (Figura 7). FIGURA 7 – AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO E OBJETIVOS ESTRATÉGICOS FONTE: O autor (2018) Na Figura 8 a seguir, observa-se a relação dos indicadores com gestão de projetos. É a partir dos indicadores de desempenho que os projetos são concebidos. E no caso do exemplo, talvez necessite um programa de projetos para alcançar a meta estratégica. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 12 FIGURA 8 – RELAÇÃO ENTRE INDICADORES, PROJETO E PROGRAMAS FONTE: O autor (2018) É importante notar que no exemplo foram explorados apenas um indicador e um projeto, mas para a execução de um planejamento estratégico, esse procedimento de relação entre indicadores e projetos deve realizar todas as áreas da organização, conforme apresentado na Figura 9. FIGURA 9 – IDENTIFICAÇÃO DE INDICADORES FONTE: O autor (2018) TÓPICO 1 | DE ONDE VÊM OS PROJETOS? 13 Como observado na Figura 10, a organização deseja também ampliar o número de vendedores treinados. FIGURA 10 – EXEMPLO DE PAINEL DE INDICADORES PARA UMA ORGANIZAÇÃO DE DEPARTAMENTOS FONTE: O autor (2018) Dessa forma, a avaliação de desempenho tem que ser realizada antes da execução de melhorias, tanto para processos quanto em relação à gestão de projetos. 3 GESTÃO DE PORTFÓLIO E PROGRAMAS Após esclarecer o que é e como ocorre a gestão estratégica, é necessário identificar como essas ações são operacionalizadas, principalmente, em relação a projetos, foco central desse texto. Gerenciar um projeto de uma maneira individual requer certas habilidades e técnicas, que veremos mais à frente. Porém, veremos a seguir que o gerenciamento de um conjunto de projetos requer outro tipo de abordagem e métodos, como a gestão de portfólio e programas. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 14 a. Portfólio Quando na gestão estratégica, selecionamos um conjunto de ações e de projetos o denominamos de portfólio de projetos. Portfólio de projetos é um conjunto de projetos que necessitam um contínuo alinhamento com a estratégia organizacional e estes devem ser gerenciados de forma coordenada e visando alcançar os objetivos organizacionais. Portfólio de projetos trata da formulação, seleção, priorização e implementação de projetos e sobre a operacionalização da estratégia organizacional (LACERDA et al., 2010). A gestão de portfólio é uma área de conhecimento bastante estudada nas últimas décadas, mas, ostensivamente analisada com vistas à rentabilidade financeira de projetos, muito comum em empresas industriais de manufatura, por exemplo. Projetos organizacionais não podem ser avaliados somente quanto ao seu retorno de investimento, pois muitos, principalmente os mais estratégicos, têm impactos indiretos ou estruturantes nos objetivos organizacionais e no faturamento. Por exemplo, em um projeto de capacitação, não se pode obter o retorno de investimento imediato, pois estimulando o conhecimento das pessoas, subentende-se que teremos também uma melhoria das operações. Seja qual for o método utilizado para avaliar o portfólio de projetos, se usado apenas o retorno financeiro, o gestor correrá um sério risco de priorização de ações que somente tem impacto direto na redução de custos e aumento de faturamento no curto prazo. Deste modo, pode-se resultar em uma série de problemas estratégicos, em que a estrutura organizacional não foi preparada para o crescimento sustentável e para a melhoria contínua de longo prazo. Dessa maneira, o portfólio de projetos tem que ser avaliado não só em aspectos financeiros, mas também sobre os impactos indiretos sobre seus clientes, impactos organizacionais em termos de processos internos, inovação e gestão de pessoas, que se tornam preponderantes nos dias atuais, principalmente nos projetos de base tecnológica e de inovação. Na área de conhecimento da gestão de portfólio, podem-se observar vários métodos e abordagens para esse tipo de ação, porém, podemos generalizar quatro grandes etapas na gestão de portfólio, conforme apresentadona Figura 11. TÓPICO 1 | DE ONDE VÊM OS PROJETOS? 15 FIGURA 11 – GERENCIAMENTO DO PORTFÓLIO FONTE: Lacerda (2009) A primeira etapa é definir o que os executivos e gestores da organização desejam. Ou seja, quais são os objetivos estratégicos e quais são os indicadores de desempenho que irão mensurar os projetos que precisam ser criados, priorizados e executados. No segundo momento são criadas alternativas de ação que visarão impactar positivamente nos objetivos e indicadores de desempenho, determinados na etapa anterior. A seguir, é necessária uma decisão, que é a comparação entre o “desejo” e “as alternativas de ação”. Existem vários métodos para realizar essa atividade, em que a avaliação multicritério de apoio à decisão é a principal técnica. Mas também, caso o gestor de portfólio esteja em contextos mais simples, pode-se usar uma matriz ponderada de critérios. A partir da avaliação de desempenho, que confronta um modelo de avaliação com as ideias de projetos, surge então um ranking, que é uma ordenação de projetos dos mais atrativos até os menos atrativos. Desse modo, a organização pode categorizar seus projetos para que haja uma lista de ordenação por categorias. Por exemplo, poderia existir uma categoria somente de projetos de desenvolvimento de produtos e uma outra categoria só de melhoria e capacitação de colaboradores. Essa divisão em categorias é interessante para quando os gestores da organização têm orçamentos definidos para cada tipo de categoria e garante, desse modo, que todas as categorias tenham um conjunto de projetos, gerando UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 16 então um equilíbrio entre o portfólio de projetos. Sendo assim, previne-se, por exemplo, de se investir todo o orçamento em desenvolvimento de tecnologia ou aquisição de software esquecendo outros aspectos estruturantes da organização. Uma vez que estabelecemos essas categorias, em gestão de portfólio, chamamos de balanceamento do portfólio, e desse modo, é possível então começar o financiamento dos projetos. O financiamento do projeto ocorre pelo projeto mais atrativo e quanto é o seu orçamento previsto, então parte-se para o segundo projeto, caso haja orçamento e assim sucessivamente até que o orçamento de uma determinada categoria seja exaurido. E, dessa forma, os projetos que são financiados têm a sua prioridade de execução. Após essa decisão, dada pela ordem de execução de projetos, existe também a necessidade de monitoramento contínuo do portfólio. A etapa de decisão dos projetos, os planos, cronogramas e orçamentos são realizados em alto nível e com uma margem de risco e incerteza alta, dado que as estimativas foram executadas sem informações e que precisam de mais tempo (e recursos) para obtenção. Assim, esses projetos devem ser de tempos em tempos (a cada fase do projeto) monitorados para que haja garantia que os projetos financiados continuem sendo os mais atrativos para organização. Como exemplo desse monitoramento, pode ser citado um projeto de ampliação de pontos de vendas de uma empresa de cosméticos. Na etapa de estruturação do projeto, o gestor supôs que poderia criar cinco filiais com um orçamento de R$200.000. O projeto foi financiado e iniciado, porém ao longo da execução do projeto, o gestor percebe que cinco filiais ficariam inviáveis em virtude de algumas imprecisões nos orçamentos. O gerente de projeto então pede uma redução da meta de cinco para três filiais. Esse constante monitoramento de atratividade e atualização do ranking de prioridades de projetos geram então as solicitações de mudança. A gestão de solicitações de mudanças é fator crítico para as organizações em termos estratégicos, pois auxiliam a determinar se um projeto continua a ser executado ou se este deve ser suspenso por conta de metas irreais ou subestimação de recursos. Em algumas situações, durante a execução do projeto, percebe-se que a atratividade dele não passou de uma especulação no momento do financiamento. Em princípio, isso pode suscitar uma falha de planejamento, mas gerentes experientes entendem que é inviável no momento de o financiamento arcar com altos custos de orçamentos e dispêndio de tempo de pessoas para planejar detalhadamente cada etapa do projeto. Isso seria mais prejudicial, pois a fase de avaliação poderia levar meses e perder oportunidades estratégicas importantes. Em suma: a gestão de mudanças e o monitoramento contínuo de portfólio é fundamental e aceitar essas imprecisões faz parte do cotidiano de qualquer gerente de projeto. TÓPICO 1 | DE ONDE VÊM OS PROJETOS? 17 Como veremos nos tópicos posteriores, a gestão de projetos não é uma ciência determinística, pois os projetos de maior impacto estratégico e principalmente os projetos de inovação ou projetos estruturantes que visam dar consistência para a organização crescer continuamente, tem em sua natureza um alto grau de incerteza. Dessa forma, esse exercício contínuo de planejar, executar e avaliar os objetivos e estimativas, e também o que o gerente de projeto e seu time aprenderam ao longo da execução é um exercício contínuo da gestão de portfólio e, como veremos nas seções subsequentes, um exercício contínuo na gestão de projetos. b. Programas No conceito de gestão de operações, existe um outro conceito importante que é o conceito de programa. Um programa, nada mais é do que a gestão do portfólio de projetos em conjunto com a gestão de processos, com rumo à um objetivo em comum (PMI, 2013). Muitas vezes, as organizações se deparam com situações em que determinado objetivo precisa de vários projetos para sua execução, o que se caracteriza a gestão de portfólio. Porém, esses projetos são alinhados de uma maneira temporal, ou seja, projetos são encerrados e seus resultados já são utilizados pelos usuários. Com esse uso, algumas demandas recorrentes podem ocorrer, gerando a necessidade de lidar com processos. Dessa forma, existe a necessidade de gerenciar projetos de uma maneira coordenada, mas também gerenciar os ativos desses projetos que já estão sendo gerados e usados. Pode-se imaginar essa questão com o exemplo da empresa que precisa construir cinco filiais, compondo dessa forma, sua rede de vendas. Supondo que essas filiais serão construídas de maneira progressiva, ou seja, um projeto para cada filial, tem-se então cinco projetos diferentes. Mas, estes devem ser construídos de uma maneira coordenada, pois a mesma equipe irá fazer cada projeto e, deste modo, surge o conceito de gestão de portfólio. Porém, essas filiais são construídas de uma maneira temporal, ou seja, uma primeira filial é entregue e já entra em operação, vendendo e atendendo ao cliente. Enquanto isso, o projeto da segunda filial inicia, e esse mesmo gestor de portfólio tem que dar assistência. Ou seja, duas iniciativas coordenadas estão em andamento: o projeto da segunda filial e o processo de atendimento da primeira filial. Assim, se há problemas na primeira filial, como uma falha no software de emissão de nota fiscal, essas manutenções não são previsíveis e não estão dentro de escopo do projeto. Então essas demandas entram numa rotina de gestão de processos que é um processo de atendimento ao gerente da filial. Em resumo, a Figura 12 apresenta as principais características e como a gestão de projetos, portfólio e projetos estão relacionadas: UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 18 FIGURA 12 – GERENCIAMENTO DE PORTFÓLIO, PROGRAMA E PROJETO FONTE: O autor (2018) 19 Neste tópico, você aprendeu que: • Existem várias técnicas e abordagens que sustentam o planejamento estratégico organizacional. • As estratégias podem ser operacionalizadas por meio de processos e por meio de projetos. • Processos são, basicamente, um conjunto de atividades que são executadas, de forma mais ou menos repetitiva, e seguem um fluxo básico de sequência, podendo ser mensurado o seu resultado ao longo do tempo. • Projetos são ações pontuais com começo,meio e fim claros, com um conjunto de atividades coordenadas, que utilizam recursos organizacionais a fim de alcançar um determinado objetivo. • Processos e projetos precisam ser averiguados se estão conseguindo alcançar os objetivos estratégicos. Então, faz-se necessária uma mensuração dos resultados, surgindo então o terceiro elemento importante para a execução da estratégia, a avaliação de desempenho. • Portfólio de projetos é um conjunto de projetos que necessitam um contínuo alinhamento com a estratégia organizacional e estes devem ser gerenciados de forma coordenada. • Um programa é a gestão do portfólio de projetos em conjunto com a gestão de processos rumando a um objetivo em comum. RESUMO DO TÓPICO 1 20 1 Preencha as frases a seguir a partir dos conceitos apresentados neste tópico: a) ___________ são um conjunto de atividades que são executadas, de forma repetitiva, e seguem um fluxo básico de sequência. b) ___________ são ações pontuais com começo, meio e fim claros, com um conjunto de atividades coordenadas que utilizam recursos organizacionais a fim de alcançar um determinado objetivo. c) ___________ é um conjunto de ___________ que necessitam um contínuo alinhamento com a estratégia organizacional e estes devem ser gerenciados de forma coordenada e visando alcançar os objetivos organizacionais. d) Um ___________, caracteriza-se como a gestão de ___________ de ___________ em conjunto com a gestão de ___________, com rumo a um objetivo em comum. AUTOATIVIDADE 21 TÓPICO 2 DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Após contextualizar o panorama de origem dos projetos dentro de uma organização e também como os projetos são coordenados para constante alinhamento com a estratégia, podemos agora analisar e conceituar mais profundamente o que é um projeto. Um projeto se caracteriza por um conjunto de atividades que usam recursos organizacionais, que podem ser financeiros, humanos ou materiais, para o alcance de um objetivo determinado. Projetos então se caracterizam por ser uma iniciativa temporária da organização, e tem pela sua natureza um começo, meio e fim (KERZNER, 2016). Com a definição de que projeto é uma iniciativa temporária, o projeto carrega um conjunto de métodos e técnicas específicos para trabalhar com esse tipo de contexto, porém, esses métodos e abordagens podem ser explicados conforme a natureza e tipo do projeto e quais são as suas características. Dessa forma, tais métodos e abordagens são explicitados nos subtópicos seguintes. 2 TIPOS DE PROJETOS Existem várias tipologias e taxonomias para caracterizar projetos e determinar quais instrumentos gerenciais são adequados para quais contextos. Um dos principais elementos de determinação do tipo de projeto e futura escolha das técnicas é o grau de conhecimento que temos do projeto. Existem projetos que possuem uma ampla base histórica e é possível determinar de forma análoga e comparativa quais foram os principais fatores críticos de sucesso dos projetos anteriores, bem como conseguir parâmetros para estimar prazo e custo. Muitas vezes, esses já possuem um checklist, ou seja, já possuem uma estrutura e um conjunto de atividades pré-formatadas em que o gestor já parte de uma base sólida de conhecimento. Nessa categoria de projetos com ampla base histórica, pode-se exemplificar com projetos de construção civil. Uma construtora, que constrói usualmente o mesmo padrão de edifício, já tem conhecimento dos itens que geram maior UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 22 esforço, quais itens que tipicamente geram atrasos, quais fornecedores que atendem a sua necessidade, ou quais variáveis ambientais afetam determinada atividade, como a chuva. Assim, a partir desse conhecimento prévio, algumas etapas do projeto já são previamente conhecidas uma vez que já foram desempenhadas em projetos anteriores. E, é a partir dessa base histórica, que muitos gerentes de projetos podem iniciar seu planejamento. No caso da construtora, por exemplo, já fazem parte da base de conhecimento da empresa as etapas básicas para a construção de um prédio, conforme apresentado na Figura 13: FIGURA 13 - ETAPAS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM PRÉDIO FONTE: Adaptado de: <https://www.aarquiteta.com.br/blog/engenharia-e-construcao-civil/10- etapas-de-uma-obra/>. Acesso em: 10 set. 2018. Assim como a partir da base histórica é possível determinar as principais etapas de construção, ainda é possível identificar cada atividade inerente às etapas, e assim por diante (Figura 14). TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 23 FIGURA 14 – ETAPAS E ATIVIDADES PARA CONSTRUÇÃO DE UM PRÉDIO FONTE: Adaptado de: <https://www.aarquiteta.com.br/blog/engenharia-e-construcao-civil/10- etapas-de-uma-obra/>. Acesso em: 10 set. 2018. Outro exemplo que pode ser citado é o cálculo de estimativa da utilização de tijolos em uma determinada obra. A partir de uma base histórica, para a construção de um novo prédio, uma construtora pode estimar a quantidade necessária de tijolos que utilizará. Deste modo, ao consultar a base histórica da empresa, é possível identifi car orientações para a estimativa de tijolos necessários para a obra, conforme apresentado na Figura 15: FIGURA 15 – ORIENTAÇÕES PARA ESTIMATIVA DE TIJOLOS FONTE: Adaptado de: <https://www.aarquiteta.com.br/blog/engenharia-e-construcao-civil/ como-calcular-consumo-de-blocos-ou-tijolos-por-metro-quadrado/>. Acesso em: 10 set. 2018. Vigas Baldrame Pilares Paredes Torre caixa d'água Vigas Lages Radier UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 24 Deste modo, ao consultar as orientações disponibilizadas pela empresa, com base nas experiências anteriores na realização de projetos similares, as estimativas podem ser feitas de forma mais assertiva. Retomando ao exemplo, a partir da base histórica, é possível que a equipe do projeto possa determinar com maior facilidade a estimativa de tijolos a serem utilizados, conforme a Figura 16, Figura 17 e Figura 18. FIGURA 16 – ESTIMATIVA DE TIJOLOS (1) FONTE: Adaptado de: <http://ew7.com.br/projeto-arquitetonico-com-autocad/index.php/ tutoriais-e-dicas/97-como-representar-a-espessura-das-paredes-em-desenho-tecnico.html>. Acesso em: 11 set. 2018. TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 25 FIGURA 17 – ESTIMATIVA DE TIJOLOS (2) FONTE: Adaptado de: <http://www.mfrural.com.br/busca.aspx?palavras=fabrica+blocos>. Acesso em: 11 set. 2018. FIGURA 18 – ESTIMATIVA DE TIJOLOS (3) FONTE: Adaptado de: <https://www.dicascasa.com.br/quanto-tempo-para-construir-uma- casa/>. Acesso em: 11 set. 2018. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 26 Importante salientar que não é o setor de construção civil que tem projetos com base histórica, pois podem existir muitos projetos de construção civil que são singulares, sem comparação com outros, não se caracterizando então esse tipo de projeto. Nesses projetos em que existe uma grande base histórica, o gerente de projeto já parte de uma base de conhecimento importante para sua execução. Por essa natureza de alguma previsibilidade, a escolha de instrumentos gerenciais é baseada normalmente no controle. O controle em administração geral ocorre pela tentativa contínua de minimização de desvios, basicamente de prazo, custo e progresso físico do projeto, que chamaremos de escopo. Por outro lado, existem projetos em que não há uma base histórica pela qual a organização possa se comparar. Geralmente isso ocorre onde as metas e o escopo do projeto se tornam incertos ou imprecisos, fruto da limitação de conhecimento da equipe naquele tipo de projeto, típico de projetos de inovação. Para esse tipo de projeto, pode-se exemplificar os projetos de desenvolvimento de novos produtos ou na arquitetura tecnológica de uma linha de produtos. Nesses tipos de projetos, geralmente não existe uma base histórica para estimar quanto tempo demora uma atividade e, muitas vezes, essa incerteza não permite ao gestor uma diretivasobre o que de fato tem que ser feito no projeto (escopo). Para esses projetos sem base histórica, o escopo é incerto e indeterminado no início do projeto. A incerteza advém da limitação de conhecimento, e conhecimento não é um ativo que pode ser assimilado de forma rápida e barata, por isso o conhecimento é um diferencial competitivo importante em qualquer organização moderna. EXEMPLO Para exemplificar as diferenças entre projetos, imaginemos o projeto de um novo produto, uma barraca de camping, conforme ilustrado na Figura 19. Obviamente, barraca é um produto clássico, composto de hastes e tecido protetor. Porém, a empresa em questão quer inovar, desenvolvendo a barraca com ar condicionado, composto dos elementos apresentados na Figura 19. TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 27 FIGURA 19 – PROJETOS DE INOVAÇÃO FONTE: O autor Apesar da demanda por uma barraca que deixe também o mochileiro tranquilo em momentos quentes do dia, a questão do peso das unidades condensadora e evaporadora é um problema, conforme ilustrado na Figura 20. FIGURA 20 – PROBLEMÁTICA DA BARRACA COM AR CONDICIONADO, UM PROJETO INOVADOR FONTE: O autor (2018) Dessa forma, existe a necessidade de um processo criativo para resolver esse problema do peso. Na Figura 21 são apresentados dois exemplos. Um diretamente relacionado com o desenvolvimento tecnológico de uma unidade condensadora mais leve para o ar condicionado. Porém, existe outra possibilidade, a realização de parcerias com hostels, que ficariam com as unidades condensadoras e o mochileiro só precisaria obter na recepção por aluguel. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 28 Nesse exemplo deixa claro que para resolver problemas, não é somente uma questão de engenharia ou tecnologia, mas focar no problema e endereçar necessidades dos usuários. FIGURA 21 – DECISÕES PARA A SOLUÇÃO DE PROBLEMAS FONTE: O autor (2018) Projetos que envolvem incertezas são os grandes desafios e oportunidades das organizações nos tempos atuais. Assim, os gerentes de projetos precisam adequar seus instrumentos gerenciais, uma vez que os instrumentos baseados no controle precisam basicamente ter uma estimativa concreta e propositiva do tempo, custo e o que tem que ser feito. Todavia, projetos sem base histórica não têm essa determinação, ou se há, existe uma insegurança quanto a sua precisão. O que se tem no início de projetos dessa natureza são palpites e opiniões, que chamaremos aqui de uma hipótese ou premissa de projeto, que somente após a execução se pode aferir se estavam corretas ou não. Instrumentos gerenciais baseados em controle não são adequados para contextos incertos, pois se focam no controle de variáveis que impactam no resultado desejado. Para contextos de projetos de inovação devem-se usar técnicas de expansão de conhecimento na equipe e criar condições para que as pessoas consigam de uma maneira progressiva e por ciclos de aprendizagem, entender o projeto e assim propor estimativas factíveis. Isso ocorre devido a pequenos e sucessivos experimentos que se focam na aprendizagem. TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 29 Vale reiterar que somente existe incerteza pela limitação de conhecimento. Assim, a aprendizagem visa ampliar o conhecimento e, consequentemente, minimizar a incerteza. Outra variável em que podemos categorizar os projetos é o nível de complexidade. A complexidade aqui nesse contexto não se caracteriza pelo que é fácil ou difícil de executar, pois a facilidade ou dificuldade se relaciona com o grau de conhecimento e experiência de uma determinada equipe. Para uma equipe experiente, uma atividade pode se caracterizar como fácil e a mesma atividade executada por uma equipe inexperiente pode se configurar uma atividade complicada. Assim, o termo complexidade em contexto de projetos se refere à quantidade de componentes e pessoas envolvidas com o projeto e, principalmente, como essas pessoas e componentes devem ser integrados no projeto, ou seja, quantos stakeholders farão parte desse contexto. Após categorizar o projeto, pela magnitude da base histórica do projeto e pela sua complexidade, o gerente de projetos pode avaliar qual é o ciclo de vida pelo qual será executado o projeto, assunto que será abordado na próxima seção. O termo stakeholder (partes interessadas, em português) se refere às pessoas e às organizações que podem ser afetadas pelo projeto, de forma direta ou indireta. UNI 3 CICLOS DE VIDA DE UM PROJETO Ciclo de vida se refere à abordagem de como será a sequência de eventos que ocorrerá no projeto para que esse alcance os resultados esperados. O ciclo de vida clássico é o executado em fases, em que o projeto é dividido em intervalos de tempo e cada intervalo, chamado fase, tem um produto de trabalho importante para a conclusão do projeto. Toda fase é encerrada com um marco do projeto. Alguns exemplos típicos de marcos de projeto são entrega do termo de abertura do projeto, estabilização dos requisitos de projeto, acordo preliminares de planos de projeto, implementação, entrega e encerramento do projeto (PMI, 2013). O ciclo de vida por fases é indicado em projetos em que haja uma base histórica adequada para determinar os marcos do projeto e confiabilidade nas estimativas para conseguir determinar a grandeza de cada fase, mesmo que UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 30 em forma de proporção, como “estima-se que a implementação durará 50% do projeto todo”. A Figura 22 apresenta uma exemplificação desses tipos de ciclo de vida: FIGURA 22 – MODELO DE CICLO DE VIDA: CASCATA FONTE: O autor (2018) Uma opção ao ciclo de vida por fases é o ciclo de vida iterativo. Uma iteração é um conjunto de atividades que são realizadas com vistas a dissipar dúvidas e riscos de projeto de forma progressiva (PEREIRA et al., 2007). Esse ciclo de vida é indicado para projetos com base histórica limitada ou inexistente, sendo necessário evoluir o projeto gradativamente para entender seus requisitos e ter bases de estimativas mais confiáveis. Em uma iteração, há um foco de curto prazo de entrega de um conjunto restrito de requisitos que seja operacional, ou seja, seja útil para o usuário e a equipe de projeto observar se estão no caminho correto. Para tal intento, realiza-se um ciclo de levantamento de requisitos, implementação e teste de uma parte relevante do escopo. Como se fosse o ciclo de vida de fases do projeto, mas com duração curta, geralmente entre uma a três semanas cada iteração, conforme a Figura 23. TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 31 FIGURA 23 – CICLO ITERATIVO FONTE: O autor (2018) Em um projeto de inovação, é típico não saber com precisão quais os requisitos do projeto e quantas iterações (tempo) serão necessárias para sua conclusão, conforme Figura 24. FIGURA 24 – LINHA DO TEMPO (1) FONTE: O autor (2018) UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 32 Nas primeiras iterações, geralmente se destina a identificar quais são os requisitos de projeto, assim como na Figura 25. FIGURA 25 – LINHA DO TEMPO (2) FONTE: O autor (2018) Os requisitos de maior risco ou de maior utilidade ao usuário são formalmente especificados e classificados por ordem de criticidade, ou seja, aqueles que serão implementados primeiro, conforme a Figura 26. TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 33 FIGURA 26 – LINHA DO TEMPO (3) FONTE: O autor (2018) Com o escopo clarificado, foca-se em dividir o projeto em iterações, assim como demonstrado na Figura 27. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 34 FIGURA 27 – LINHA DO TEMPO (4) FONTE: O autor (2018) Muitas vezes, em projetos de muita incerteza, só existe um plano das próximas iterações, e não do projeto como um todo, conforme Figura 28. TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 35 FIGURA 28 – LINHA DO TEMPO (5) FONTE: O autor (2018) Ao avançar na execução do projeto, pode-se dividir as atividades de cada requisito ao longo das iterações, surgindo aordem das versões de produto e quais requisitos cada versão contemplará, assim como na Figura 29. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 36 FIGURA 29 – LINHA DO TEMPO (6) FONTE: O autor (2018) 4 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS Como observado nas seções anteriores, as organizações podem executar sua estratégia por meio de processos ou por projetos. Dessa forma, a disposição dos recursos humanos, financeiros e de infraestrutura são estruturados e organizados para atender a essa tipologia de execução estratégica (MINTZBERG, 1995). Deste modo, por questões históricas e principalmente pelo anseio primário em desenvolver o lucro em detrimento ao desenvolvimento da estrutura organizacional com rentabilidade e lucratividade em amplos horizontes de tempo, as estruturas organizacionais foram tradicionalmente desenhadas para atender aos processos críticos, ou seja, aqueles processos que são vetores fundamentais para o sucesso da empresa. Dessa maneira, para potencializar a especialização em detrimento de uma visão abrangente dos objetivos organizacionais, as estruturas organizacionais foram historicamente contaminadas por estruturas funcionais, ou seja, estruturas sobre as quais as organizações são divididas em áreas de conhecimento ou departamentos. Por exemplo, uma empresa privada típica pode ser entendida como um conjunto de processos financeiros, de operações, recursos humanos, logística, vendas e atendimento ao cliente. Por trás dessa tipologia, em que chamamos de TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 37 estruturas funcionais, está o anseio de organizar as áreas de conhecimento a fim de otimizar os recursos disponíveis. Essa visão de estruturas organizacionais teve início na era da administração científica, e se perpetuou durante décadas como modelo típico em que observamos nas empresas atualmente. Porém, por trás dessa tipologia, existe a premissa de que os objetivos organizacionais são atendidos por essas unidades organizacionais de uma maneira que cada unidade contribua de forma alinhada com os objetivos da empresa. Todavia, observa-se uma disfunção que é o foco exacerbado da utilização dos recursos disponíveis, ou seja, privilegiar a eficiência (“fazer bem feito”) e não se atentar à eficácia (“fazer o que deve ser feito”), deixando o alcance dos objetivos da organização em segundo plano. As estruturas funcionais apresentam dificuldades para orquestrar os recursos interdepartamentais, que são típicos nas organizações modernas. Pode- se citar, como exemplo, o desenvolvimento de um produto em uma estrutura funcional. O desenvolvimento de um produto geralmente fica com a competência e responsabilidade da área de operações. Portanto, as outras unidades não se sentem responsáveis por aquela iniciativa, dado que são responsáveis por otimizar seus recursos e seus próprios processos. Um esquema de organização funcional é apresentado na Figura 30. FIGURA 30 – ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL FONTE: Adaptado de PMI (2013) UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 38 Como exemplo de disfunção desse tipo de estrutura pode ser citado quando o setor de recursos humanos desenvolve um plano de cargos e salários e um plano de remuneração variável para os seus colaboradores. Porém, quando se pensa em desenvolver um produto não é só a questão física ou a questão do produto em si que precisa de gerenciamento. O desenvolvimento de produto necessita uma equipe bem capacitada e selecionada para que se possa ter alto desempenho nesse produto. Portanto, para desenvolver um produto, seja ele tecnológico ou não, a área de recursos humanos deve pensar de forma estratégica e alinhada com a área de operações para que consiga suprir a necessidade estratégica. A gestão de pessoas, por meio de motivação, seleção e desenvolvimento de pessoas contribui com o desenvolvimento das competências críticas para o alto desempenho do projeto e o desenvolvimento de produto. Existe uma relação indireta, mas de extrema importância nessas unidades. Outro exemplo, ainda no desenvolvimento de um produto. No momento em que o produto está em sua fase final de testes, já deve ser iniciado, ou até avançado, a elaboração de um plano de marketing, um plano de divulgação e um plano de estratégia de vendas, capacitando todo o canal de distribuição e de vendas para que os representantes possam lidar com esse novo produto que está sendo disponibilizado para o mercado. Deste modo, área de vendas, que antes era só responsável por atingir uma meta de vendas, precisa também estar alinhada com o desenvolvimento do produto para que a força de vendas possa ter pessoas e um discurso alinhado com a proposta de valor e modelos de precificação adequado para o novo produto que se está disponibilizando. Com esses exemplos, pode-se observar a dificuldade que um diretor- geral ou um executivo tem em orquestrar todos esses departamentos de forma que garanta não só um desempenho departamental de excelência, mas também garantir que os objetivos organizacionais sejam prioritários, até mesmo em detrimento de alguns objetivos departamentais isolados, pela sua contribuição estruturante e estratégica para a organização. Muitas vezes, para que o coletivo possa alcançar seus resultados, o individual deve ser preterido. Em contraponto às estruturas funcionais, existe outra forma de estrutura organizacional que endereça a questão de alinhamento de objetivos e alinhamento de todas as unidades de negócio para um fim específico. Os departamentos, em vez de serem organizados por áreas de conhecimento, devem ser dispostos por projetos (PMI, 2013). Assim, não existem vários gerentes e vários departamentos para compor um conjunto de recursos para o cumprimento de um objetivo, mas sim, um gerente de projeto e uma equipe multidisciplinar alocada para que consiga atender a esse objetivo. TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E TIPOS DE PROJETOS 39 Os departamentos em estruturas projetizadas não são unidades primárias para a consecução de objetivos. Mas sim, o projeto passa a ser um conjunto de recursos multidisciplinares, com competências de operações de finanças, de recursos humanos, marketing e venda, assim por diante. Os departamentos do modelo funcional continuam existindo, porém são responsáveis por prover recursos, pessoas e competências alinhados ao que os projetos precisam e não rivalizando os seus objetivos e recursos em detrimento de objetivos organizacionais globais. Nessa configuração projetizada, os gerentes do projeto têm autoridade superior a chefia de departamento, e podem solicitar alocação de recursos para o cumprimento de objetivos organizacionais. Deste modo, os processos isolados não são mais relevantes que os objetivos globais de uma organização. Um esquema de organização projetizada é apresentado na Figura 31. FIGURA 31 – ORGANIZAÇÃO PROJETIZADA FONTE: Adaptado de: PMI (2013) Todavia, a estrutura projetizada também carrega alguns desafios gerenciais de longo prazo. Por exemplo, a equipe de um projeto é transiente, ou seja, ela é arregimentada e disponibilizada às unidades de negócio assim que o projeto se inicia e se encerra. Dessa maneira, os profissionais precisam compreender não só a sua função em uma unidade de negócio isolada. Mas sim, a equipe precisa entender que cada dia do seu trabalho é como um passo para o alcance dos objetivos estratégicos de uma organização. Outro desafio dessa configuração é que em um determinado momento a empresa pode não ter à disposição e nem terá atividades suficientes para alocar profissionais dedicados exclusivamente, como um contabilista ou um UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS 40 auditor. Esses profissionais podem trabalhar em um determinado momento em um projeto, mas não de uma forma dedicada. Surge, então, uma importante e complexa necessidade de gerenciar recursos compartilhados. Esses recursos compartilhados, como pessoas, orçamento e infraestrutura, podem também ser motivo de disputas e priorização. Destemodo, é necessário a intervenção executiva para que os recursos compartilhados também sejam usados de forma alinhada aos objetivos estratégicos da organização. Pode-se ainda citar outra forma de estrutura, a híbrida. A estrutura híbrida contempla características das duas estruturas funcionais e projetizadas. Nessa estrutura de organização continuam existindo os departamentos funcionais, porém, há também o departamento de projetos. Assim, as operações ou processos isolados que não têm relação ou tem baixa relação com outros departamentos são tratados dentro de cada departamento. Porém, projetos estratégicos são alocados para a área de projetos que se denomina em algumas organizações como escritório de projetos ou PMO (em inglês Project Management Office). Esse escritório de projetos contempla a alocação de profissionais capacitados em gestão de projetos, assim como define e mantém uma metodologia de gestão de projetos para toda a organização (BARCAUÍ, 2012). Dessa maneira, quando um projeto estratégico é iniciado, um profissional da gestão de projetos do escritório de projetos é alocado para sua gerência e as demais pessoas de forma compartilhada são disponibilizados pelas áreas funcionais. Apesar de parecer uma vantagem de alinhamento estratégico, bem como garantir a identificação de um profissional em relação ao seu departamento, essa estrutura organizacional também oferece desvantagens. A principal desvantagem é a equipe que está alocada no projeto e muitas vezes se reporta de uma forma duplicada para o gerente funcional e o gerente de projeto. Ou seja, em termos de sua carreira e objetivos de longo prazo, ele se reporta para o gerente funcional, porém, no dia a dia do projeto e no alcance os objetivos da organização, ele se reporta ao gerente de projeto, o que pode acarretar uma disputa de prioridades entre as unidades, uma vez que há uma complexidade em determinar essa prioridade. Como se observa nesta unidade, não há uma estrutura funcional perfeita, muito menos a melhor. A decisão dessa estrutura organizacional é dependente do contexto, do tipo de empresa, tamanho e segmento que ela atua. Como critério básico e fundamental para a escolha dessas tipologias, pode- se recorrer ao critério de ciclo de vida de produto. Por exemplo, organizações que têm ciclo de vida de produtos longos, ou seja, produtos que ficam muito tempo no mercado, dando manutenções e melhorias graduais incrementais, podem se beneficiar das estruturas funcionais clássicas, porém organizações de ciclo de vida de um produto curto, que são típicos em organizações de tecnologia e inovação, se beneficiam mais de estruturas organizacionais projetizadas. 41 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Um projeto se caracteriza por um conjunto de atividades que usam recursos organizacionais, que podem ser financeiros, humanos ou materiais, para o alcance de um objetivo determinado. • Existem projetos que possuem uma ampla base histórica e é possível determinar de forma análoga e comparativa, quais foram os principais fatores críticos de sucesso dos projetos anteriores, bem como conseguir parâmetros para estimar prazo e custo. • Existem projetos em que não há uma base histórica pela qual a organização possa se comparar. Geralmente isso ocorre quando as metas e o escopo do projeto se tornam incertos ou imprecisos, fruto da limitação de conhecimento da equipe naquele tipo de projeto, típico de projetos de inovação. • Projetos que envolvem incerteza são os grandes desafios e oportunidades das organizações nos tempos atuais. • Instrumentos gerenciais baseados em controle não são adequados para contextos incertos, pois se focam no controle de variáveis que impactam no resultado desejado. • Ciclo de vida se refere à abordagem de como será a sequência de eventos que ocorrerá no projeto para que esse alcance os resultados esperados. • O ciclo de vida clássico é o executado em fases, quando o projeto é dividido em intervalos de tempo e cada intervalo, chamado fase, tem um produto de trabalho importante para a conclusão do projeto. • Uma iteração é um conjunto de atividades que são realizadas com vistas a dissipar dúvidas e riscos de projeto de forma progressiva. • As estruturas funcionais apresentam dificuldades para orquestrar os recursos interdepartamentais, que são típicos nas organizações modernas. 42 1 Qual é o tipo de ciclo de vida indicado para um projeto de desenvolvimento de um novo celular que controla os dispositivos eletrônicos da sua casa, como luzes, TVs, geladeira etc.? Justifique sua resposta. 2 Proponha um ciclo de vida para a construção de uma nova praça em seu bairro. Como seriam as fases? Justifique sua resposta. AUTOATIVIDADE 43 TÓPICO 3 GESTÃO DE PROJETOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Uma vez contextualizado como as organizações executam a sua estratégia e como são estruturadas as pessoas, recursos financeiros e de infraestrutura para execução dessas ações, passa-se agora a abordar o tema central da gestão de projetos. A gestão de projetos é um conjunto de ações gerenciais, que coordenam um esforço temporário para que se possa entregar um resultado tangível ou intangível a um conjunto de interessados. Um projeto pode criar um produto físico, como um motor, ou um produto intangível, como um aplicativo de celular. Um projeto também pode ter no seu objetivo a criação ou implantação de um serviço, por exemplo, a implementação de uma área de assistência técnica de uma fábrica. Uma melhoria de processo também pode ser considerada um projeto, sendo esse, uma melhoria organizacional (PMI, 2013). O termo “projeto”, na língua portuguesa, apresenta duas conotações, usaremos nesta disciplina a de execução de processos gerenciais a fim de alcançar um resultado. A outra conotação se refere ao sinônimo de um determinado projeto de produto, como se fosse uma maquete ou uma simulação de um produto. As duas conotações se diferenciam na língua inglesa, sendo o primeiro “project” e o segundo “design”. Portanto, um gerente de projeto no contexto de gestão de projetos, deve dominar as práticas gerenciais (“Project”) e não necessariamente ser expert na área de negócio envolvendo “design”. Obviamente, um gerente de projeto sem nenhum conhecimento na área de conhecimento do projeto fica fragilizado, pois terá dificuldade de ser reconhecido pela equipe técnica como líder. Entretanto, pessoas com alto conhecimento técnico terão muito mais valor na linha de frente da empresa e não na área gerencial. Desta maneira, o gerente de projeto tem que ser um expert nas práticas gerenciais, mas também, tem que possuir conhecimentos básicos para entender das situações da área de domínio do problema do projeto. Por exemplo, dificilmente um gerente de projetos em uma indústria automobilística terá o respeito dos engenheiros mecânicos sem entender os elementos básicos do processo de desenvolvimento e montagem de um carro. 44 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS Todavia, é possível que um gerente de projetos com habilidades interpessoais, possa superar essa lacuna técnica de engenharia, mas não superar a defasagem de conhecimentos gerenciais e interpessoais. Com essa exposição, pode-se perceber que um gerente de projetos para execução de suas funções, precisa de três elementos inter-relacionados, que são: (i) conhecimento nas práticas gerenciais de gestão de projetos; (ii) conhecimento elementar na área de domínio do problema; e, (iii) habilidades interpessoais. Assim, o PMBOK (Project Management Body of Knowledge) institui que um projeto é um esforço temporário, empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo. O PMBOK define um conjunto de práticas, técnicas e processos para que os profissionais de gestão de projetos possam ter um vocabulário comum dessa área de conhecimento, bem como institui um conjunto de ações tidas como “boas práticas” da área. Muito se discute na literatura o tema de gestão deprojetos, que pode se dar do entendimento do projeto como um elemento racional e extremamente lógico para alcançar o resultado. Também pode ser entendido como uma estrutura de processos para que o gerente e sua equipe possa entender mais de seus objetivos e ações, e de que forma consigam aprender sobre projeto e melhorar os objetivos pelos quais eles foram financiados. Apesar do PMBOK citar os processos como um conjunto de “boas práticas”, esse termo não pode ser levado de uma maneira universal, pois o que é relevante para um projeto pode não ser relevante para o outro, dado que um projeto é uma ação temporária e única. Portanto, cada projeto tem que ter um gestor de projeto para que possa observar e analisar o contexto de forma singular e específica, entender quais práticas descritas no conjunto de base de conhecimentos de gestão de projetos possam ser úteis para aquele determinado momento do projeto, formando então uma metodologia de gestão de projetos. Com essa assertiva, podemos afirmar que o PMBOK não se constitui em uma metodologia de gestão de projetos, mas sim uma base de conhecimento comum. Refere-se a uma metodologia, quando um subconjunto dessas práticas é implementado e utilizado para um projeto em específico ou para uma organização em um dado instante. Apesar do esforço e da contribuição do PMBOK para gestão de projetos, não se pode dizer que ela é exaustiva, dado que para cada tipo de produto de trabalho pode ser interessante e relevante usar ferramentas de outras áreas de conhecimento ou áreas técnicas mais específicas para lidar com determinado problema. TÓPICO 3 | GESTÃO DE PROJETOS 45 Os processos gerenciais que compõem a base de conhecimento em gestão de projetos podem ser classificados de duas formas, e no cruzamento dessas categorias, estão os processos de gestão de projetos. Então, os processos de gestão de projetos podem ser organizados por áreas de conhecimento e por grupos de processos. 2 ÁREAS DE CONHECIMENTO E GRUPOS DE PROCESSOS As áreas de conhecimento em gestão de projetos são um conjunto de conceitos, termos e atividades que compõem o campo profissional de gestão de projetos, ou seja, são áreas de especialização. A gestão de projetos possui dez áreas de conhecimento, sendo elas: integração, escopo, tempo, custos, qualidade, recursos humanos, comunicações, riscos, aquisições e gerenciamento de partes interessadas (stakeholders). Já, os grupos de processos se destinam a elaborar um conjunto de processos gerenciais que ocorrem em determinado momento do projeto. Os grupos de processos são: iniciação, planejamento, execução, monitoramento, controle e encerramento. Os grupos de processos, muitas vezes, são confundidos como fases do projeto. Porém, planejamento, execução e controle não são fases de um projeto, uma vez que o planejamento é um ato contínuo do gerente de projeto e não somente em um determinado ponto do projeto. Pela sua origem mecanicista e de racionalidade perfeita, o grupo de processos de planejamento do PMBOK congrega o maior número de processos gerenciais, sendo o único grupo de processos em que todas as áreas de conhecimento têm ao menos um processo. De forma inversa, a área de conhecimento de gerenciamento de integração do projeto, está relacionada com processos de todos os grupos de processos do PMBOK, sendo a única área de conhecimento que tem processo para todos os grupos de processos. Isso ocorre porque a área de conhecimento de integração do projeto na verdade não congrega um conteúdo específico, mas reflete uma compilação final do conhecimento gerado naquele momento. A integração então se destina a equilibrar todas as dimensões de sucesso do projeto, que podem possuir vários critérios de sucesso e não apenas prazo e custo. Por exemplo, quanto mais escopo o gerente inclua no projeto, geralmente, maior é o tempo necessário para execução do projeto. Muitas vezes, então, a área de conhecimento de integração serve para equilibrar escopo e tempo. Percebe- se que ao remover certas características do projeto (escopo) pode acelerar ou abreviar o encerramento do projeto. Essa atividade de equilíbrio entre as áreas de conhecimento se dá pela área de conhecimento de integração, se tornando então uma área de conhecimento que observa o projeto de forma integrada e global. 46 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS No grupo de processo de execução, por exemplo, não existem processos gerenciais para a área de conhecimento de escopo. Já na área de conhecimento de gestão de riscos, os processos gerenciais se concentram somente no grupo de processos de planejamento, monitoramento e controle. O Quadro 2 apresenta as áreas de conhecimento e os grupos de processos identificados pelo PMBOK. Áreas de conhecimento Grupo de processos de iniciação Grupo de processos de planejamento Grupo de processos de execução Grupo de processos de monitoramento e controle Grupo de processos de encerramento 4. Gerenciamento da integração do projeto 4.1. Desenvolver o termo de abertura do projeto 4.2. Desenvolver o plano de gerenciamento do projeto 4.3. Orientar e gerenciar o trabalho do projeto 4.4. Monitorar e controlar o trabalho do projeto 4.5. Realizar o controle integrado de mudanças 4.6 Encerrar o projeto ou fase 5. Gerenciamento do escopo do projeto 5.1. Planejar o gerenciamento do escopo 5.2. Coletar os requisitos 5.3. Definir o escopo 5.4. Criar a estrutura analítica do projeto (EAP) 5.5. Validar o escopo 5.6. Controlar o escopo 6. Gerenciamento do tempo do projeto 6.1. Planejar o gerenciamento do cronograma 6.2. Definir as atividades 6.3. Sequenciar as atividades 6.4. Estimar os recursos das atividades 6.5. Estimar as durações das atividades 6.6. Desenvolver o cronograma 6.7. Controlar o cronograma QUADRO 2 – GRUPO DE PROCESSOS DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS E MAPEAMENTO DAS ÁREAS DE CONHECIMENTO TÓPICO 3 | GESTÃO DE PROJETOS 47 7. Gerenciamento dos custos do projeto 7.1. Planejar o gerenciamento dos custos 7.2. Estimar os custos 7.3. Determinar o orçamento 7.4. Controlar os custos 8. Gerenciamento da qualidade do projeto 8.1. Planejar o gerenciamento da qualidade 8.2. Realizar a garantia da qualidade 8.3. Controlar a qualidade 9. Gerenciamento dos recursos humanos do projeto 9.1. Planejar o gerenciamento dos recursos humanos 9.2. Mobilizar a equipe do projeto 9.3. Desenvolver a equipe do projeto 9.4. Gerenciar a equipe do projeto 10. Gerenciamento dos recursos de comunicações do projeto 10.1. Planejar o gerenciamento das comunicações 10.2. Gerenciar as comunicações 10.3. Controlar as comunicações 11. Gerenciamento dos riscos do projeto 11.1. Planejar o gerenciamento dos riscos 11.2. Identificar os riscos 11.3. Realizar a análise qualitativa dos riscos 11.4. Realizar a análise quantitativa dos riscos 11.5. Planejar as respostas aos riscos 11.6. Controlar os riscos 12. Gerenciamento das aquisições do projeto 12.1. Planejar o gerenciamento das aquisições 12.2. Conduzir as aquisições 12.3. Controlar as aquisições 12.4. Encerrar as aquisições 13. Gerenciamento das partes interessadas no projeto 13.1. Identificar as partes interessadas 13.2. Planejar o gerenciamento das partes interessadas 13.3. Gerenciar o engajamento das partes interessadas 13.4. Controlar o engajamento das partes interessadas FONTE: Adaptado de: PMI (2013) 48 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À GESTÃO DE PROJETOS No grupo de processo de iniciação se encontram os processos gerenciais que irão legitimar o projeto junto às partes interessadas que originaram o projeto. De forma típica, na iniciação do projeto, primeiramente se identificam os stakeholders e então denomina-se um rótulo do problema que se quer resolver com o projeto. Na iniciação, também se encontram as premissas de projeto, que são suposições feitas pela equipe gerencial
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