Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Neuro - Cefaleias Introdução: Epidemiologia: • Prevalência das cefaleias: cerca de 96% das pessoas tiveram alguma cefaleia na vida. • Cefaleia atual: cerca de 47% • Causam repercussão na vida social, interferem nos planos sociais e tem influência nas suas famílias. • Tem repercussão econômica e rende menos no trabalho. • 10% dos atendimentos nos PSF • 3º diagnóstico mais comum no ambulatório de clínica e uma das queixas mais frequentes no ambulatório de neurologia. • Os pacientes buscam o Alívio da dor o Preocupação de ter uma doença grave o Ter uma explicação Existem dois tipos de cefaleia: Cefaleia primária e secundária. Cefaleia primária: são doenças que causam alterações funcionais, onde o principal sintoma é a dor de cabeça. Cefaleia secundária: é quando a cefaleia é um sintoma de uma doença que causa lesão estrutural ou alteração laboratorial que pode ser medida Critérios de investigação para identificar cefaleias secundárias x primárias → os chamados “red flags” se presentes devem ser investigados. • Alterações no exame clínico e neurológico o Febre, perda de peso, visceromegalia o Sintoma neurológico focal • Doenças de base associadas – HIV, neoplasia, vasculite, distúrbios da coagulação, púrpura... • Cefaleia com início após os 50 anos → professor comentou na aula prática que a característica da cefaleia também auxilia, tipo se a pessoa tinha dor de cabeça 1x por mês há 10 anos e em 3 meses passou a ser uma cefaleia diária isso também chama atenção. • Cefaleia súbita – forma de instalação, ou seja, quando atinge o pico de intensidade muito rapidamente em menos de 1 segundo. (sem dor de cabeça e de repente uma dor muito forte) → padrão que chama atenção para uma cefaleia secundária!! o Diagnóstico diferencial com sangramento de aneurisma → hemorragia subaracnóidea. • Cefaleia desencadeada pelo esforço físico (não é piorada com o esforço físico, mas sim desencadeada) • Cefaleia que ocorre sempre no mesmo local – as cefaleias primárias geralmente mudam de local (hemisférios do cérebro) • Cefaleia que acorda o paciente • Estado enxaquecoso. (enxaqueca de mais de 3 dias) Cefaleias Primárias: Critérios de classificação das cefaleias: • Número de vezes na vida • Duração da crise • Característica da dor • Sintomas associados a dor. 1) Cefaleia tipo tensão (CTT) • Doença mais prevalente no mundo, após a cárie. • Prevalência mulher/homem: 5/4 • Idade média de início de 25-30 anos • Pico de prevalência de 30-39 anos • Impacto nas cefaleias no mundo 58% Diagnóstico: • Número de vezes na vida: 10 ou mais • Duração: 30 minutos a 7 dias • Característica da cefaleia (no mínimo 2 critérios) o Bilateral o Pressão/aperto (ou seja, não pulsátil) o Fraca/moderada → avaliar a repercussão nas atividades do dia a dia. o Não piora aos exercícios o Sintomas associados ▪ Ausência de náuseas ou vômitos ▪ Fotofobia ou fonofobia (só pode ter um ou outro, não os dois ao mesmo tempo) Fisiopatologia: • Não é psicológica, apesar do estresse desencadear isso não é a causa, existe uma alteração funcional. • Pacientes com cefaleia tipo tensão tem uma alteração da sensibilidade dolorosa miofascial pericraniana (limiar de sensibilidade diminuído), por aumento da sensibilidade periférica. • A medida que a cefaleia tipo tensão vai se tornando mais frequente temos sua cronificação com alteração do SNC com estímulos nociceptivos miofasciais pericranianos alterados → sensibilização central. Tratamento: • Diário de dor • Tratar comorbidades: ansiedade e depressão • Evitar desencadeantes • Tratamento abortivo: analgésicos comuns, AINH o Naproxeno (mais estudos) Obs.: evitar uso de opioides deve ser evitado pois vai piorando a cefaleia e nas urgências existe o chamado efeito rebote e aumento do tempo de internamento, onde o paciente melhora, mas depois a dor volta mais forte. Tratamento profilático: antidepressivos tricíclicos → doses menores → amitriptilina 10 mg. • Amitriptilina, nortritpilina, imipramina, clomipramina. o Efeitos colaterais ▪ Ganho de peso, sedação ▪ Efeitos anticolinérgicos: boca seca, retenção urinária, obstipação e visão turva. ▪ Disfunção sexual, hipotensão ortostática Atenção: é importante sempre que tiver indicação instalar o tratamento profilático, pois somente o tratamento abortivo não vai diminuir a frequência dos episódios de dor. 2) Migrânea (Enxaqueca) Diagnóstico: • Número de vezes na vida: 2 episódios de migrânea com áurea OU 5 episódios de migrânea sem aura. Obs. – na prática ele comentou que se a pessoa tiver uma mistura de enxaqueca com aura e sem e preencher os critérios (2 e 5) ela pode ser classificada como as duas migrânea com aura e migrânea sem aura → disse que isso era questão da prova de residência. • Duração das crises: 4h a 72 horas. • Característica da cefaleia (no mínimo 2) o Unilateral o Pulsátil o Moderada/forte o Piora ou evita exercícios o Sintomas associados (pelo menos um) ▪ Náuseas e/ou vômitos ▪ Foto e fonofobia. Prevalência por sexo: • Aumento da prevalência em mulheres Aura: • Sintomas neurológicos focais reversíveis o Diagnóstico diferencial com: acidente isquêmico transitório e epilepsia. • Duração de 5-60 minutos (os tipos de aura se somam, assim pode ter 60 min de aura visual e 60 minutos de sensitivo por exemplo) • Início progressivo (insidiosa) • Sintomas positivos comuns o Visuais: luzes tremulantes, manchas, linhas, perda da visão o Sensitivos: formigamento, dormência unilateral o Disfasia o Sintomas de tronco: diplopia, vertigem, tinnitus, ataxia. Os sintomas positivos falam a favor de uma cefaleia migrânea com aurea, mas os sintomas negativos como defict motor estão mais relacionados com os diagnósticos diferenciais como AIT. Quadro clínico: Evolução do quadro clínico - • Pródromos (25% das pessoas têm pródromos) o Até 24h antes o Alteração de humor o Alteração de paladar o Sonolência o Euforia o Sede • Aura (25% das pessoas) • Cefaleia • Resolução o Exaustão o Sonolência o Astenia o Vômitos o Dificuldade de concentração o Irritabilidade o Perda do apetite. Alguns aspectos fisiopatológicos: • Uma doença do cérebro • Componente genético importante → poligênico • Não habituação no período intercrítico • Cérebro hiperexcitável • Migrânea: Uma doença do processamento sensorial no cérebro. Autores envolvidos na fisiopatologia da enxaqueca: 1) Sistema trigêminovascular O nervo trigêmeo é responsável pela sensibilidade da região da face e inerva vasos e meninges. Todas as dores de cabeça passam pelo trigêmeo. O núcleo longo do trigêmeo se relaciona com a medula, então dores na região cervical podem refletir em dores de cabeça. 2) Pródromo e hipotálamo: O hipotálamo possivelmente é o responsável por iniciar as crises, uma vez que os pródromos ativavam essa região. 3) O córtex: Depressão cortical alastrante – é a velocidade de avanço da aura no cérebro (onda de despolarização e repolarização do cérebro) → onda elétrica e de oligoemia 4) Tronco encefálico: • Núcleo dorsal da rafe • Substância cinzenta periarquedutal • Locus coeruleus Tratamento da enxaqueca: • Identificar e modificar fatores desencadeantes (descobertos por meio do diário) o Dormir pouco ou dormir muito o Não comer no horário certo o Chocolate, queijo, álcool, vinho o Glutamato monossódico (molho shoyo) o Estresse • Tratamento agudo o Náuseas e vômitos → anti-eméticos o Tratamento da dor → estratificado ▪ Analgésicos comuns ▪ AINH ▪ Ergóticos: ergotamina e diidroergotamina → vasoconstrictora (aumenta o risco de AVC, IAM → no máximo 2 mgpor dia e 6 mg por semana) ▪ Triptanos: Sumatriptano, Rizatriptano, Zolmitriptano, Naratriptano. (não pode misturar com ergóticos) Como é o tratamento escalonado x estratificado? O escalonado é indo por etapas, analgésicos comuns → aines →ergoticos → medicamentos mais específicos → não funciona também. Já o estratificado o paciente é treinado a veificar a “força” daquela crise. → esse tipo de estratégia funciona melhor. • Tratamento profilático: Indicações: o Frequência → 3-4x por mês, com incapacidade associada o Crises intensas que interferem na vida normal o Incapacidade psicológica de conviver com crises o Medicações de ataque contraindicadas ou ineficientes o Crises prévias de enxaqueca com complicações isquêmicas Regras gerais do tratamento profilático: o A polifarmácia deve ser evitada o Aumento gradual das doses de medicação (lembrando que as doses fazem efeito em torno de 4-8 semanas) o Mudança de medicação apenas com 4-8 semanas de observação da droga o Tempo de tratamento – pelo menos 6 meses a 1 ano (paciente bem é quando tem < 4x mês) o Uso prolongado eventualmente necessário. Objetivos do tratamento profilático o Redução em 50% ou mais o Aumento da eficácia das drogas abortivas o Diminuição das intensidades da crise o Evitar o abuso de medicações abortivas e seus efeitos colaterais Não farmacológico: ➔ Técnicas de relaxamento ➔ Biofeedback ➔ Terapia cognitivo-comportamental Tratamento farmacológico: 1) Beta bloqueadores • Propranolol (1 mg/kg; 10-360 mg) 20 mg 8/8h • Atenolol (50 e 100 mg) → 100 mg/dia • Metoprolol – 1 a 200 mg/dia 2) Anticonvulsivantes • Valproato de sódio • Topiramato (diminui o peso) Devem ser evitados em mulheres com idade fértil (risco de má formação fetal) 3) Antidepressivos tricíclicos • Amitriptilina • Nortriptilina Efeitos colaterais: náuseas, aumento do peso, boca seca, retenção urinária, piora do glaucoma de ângulo reto, constipação, condução A-V. Idosos e pacientes cardíacos → importante pedir um ECG antes. 4) Bloqueadores do canal de cálcio • Flunarizina → 5-10 mg a noite Efeitos colaterais: sonolência, aumento de peso, boca seca, astenia e parkinsonismo. Evitar em idosos. 5) Anticorpos contra o peptídeo relacionado ao gene da Calcitonina (CGRP) → droga cara 6) Antidepressivos duais Venfalaxina. 3) Enxaqueca menstrual Quando as crises só acontecem durante o período menstrual (informação obtida por meio do diário) Diário com três ciclos e a dor somente acontecer em pelo menos 2 ciclos. Tratamento profilático perimenstrual • AINH → 2 dias antes e durante • Ergotamina → ao deitar ou 2x ao dia • Naratriptano → 2,5 mg 12/12h. 4) Cefaleias Trigemino-autonômicas Diagnóstico: quando pensar? • Cefaleias unilaterais fixas (Frontotemporal) • Sintomas autonômicos do mesmo lado da dor o Edema palpebral o Hiperemia conjuntival e/ou lacrimejamento o Ptose e/ou miose ipsilateral → síndrome de Horner. o Congestão nasal e/ou rinorreia o Sudorese frontal e facial. • É devido a exacerbação do parassimpático e diminuição do simpático. Duração da crise: • Cefaleia neuralgiforme de curta duração (SUNCT e SUNA): 1 a 600 segundos • Hemicrania paroxística: 2 a 30 minutos • Cefaleias em salvas: 15 a 180 minutos • Hemicrania contínua Diagnóstico: • Excluir causas secundárias: anamnese + exame físico • Exames complementares 5) Cefaleia em salvas: • Incidência: 53/100.000 habitantes/ano • Periodicidade • Ritmo circadiano • Frequência de 1/2 dias – 8x ao dia Paciente tem um período sem dor, depois ele tem um período com dores frequentes e depois novamente um período sem dor. Esses agrupamento tem uma periodicidade e a distribuição durante o dia ocorre em um determinado horário. Tratamento agudo: • 02 a 100%: 7-10 litros de 15 a 20 minutos • Sumatriptano SC ou IN (intranasal) • Octreotide SC • Lidocaína IN Profilaxia transicional (tempo para o tratamento profilático fazer efeito) • Bloqueio do nervo occiptal maior • Prednisona 60-80 mg/dia/10-12 dias Profilaxia da manutenção • Verapamil 1 cmp 8/8h o Doses mais altas: alterações do ECG • Lítio Hemicrania paroxística → indometacina SUNCT / SUNA • Lamotrigina • Gabapentina • Topiramato 6) Cefaleia crônicas diárias: • Cefaleias com frequência > 15 dias/ mês > 3 meses • Não é um diagnostico • Incidência na população de 3-5% É dividido em dois grandes grupos: CCD Primárias De curta duração (<4h) • Hemicrania paroxística crônica • Cefaleia em salvas • SUNCT • Cefaleia hipnica – normalmente ocorre em idoso, acontece somente durante o sono e acorda o paciente. De longa duração (>4h) • CTTC – cefaleia tipo tensão crônica • Migrânea crônica • Hemicrania continua • Cefaleia persistente e diária desde o inicio Cefaleia tipo tensão crônica • Frequência > 15 dias/mês por mais de 3 meses • Duração: horas ou é continua • Característica da cefaleia (no mínimo 2) o Bilateral o Pressão/aperto o Fraca/moderada o Não piora com exercícios • Sintomas associados (ambos) o Náusea leve ou fotofobia ou fonofobia → não pode ter os três, somente 1 deles. o Não ter náuseas moderada ou intensa nem vômitos Tratamento com tricíclica. Hemicrânia continua • Duração > 3 meses • Unilateral, sem mudança de lado • Continua • Intensidade moderada com período de exacerbações • Pelo menos um de: o Hiperemia conjuntival e/ou lacrimejamento o Congestão nasal e/ou rinorreia o Ptose e/ou miose o Resposta completa a indometacina Cefaleia persistente e diária desde o início: • Diária e sem remissão desde o início ou desde no máximo 3 dias após o início → ele sabe exatamente quando começou → sempre investigar. • Critérios para CTTC • Sempre investigar o Infecção – Epstein Barr, COVID Migrânea Crônica • Frequência de > 15 dias/mês/3 meses • Enxaqueca e cefalia tensional ficam misturados • Pelo menos 8 crises/mês que preenchem o critério para migrânea ou que passam com ergotico ou triptano Fatores de risco para cronificação • Sexo feminino • Frequência alta de cefaleia antes da cronificação • História previa de TCE e migrânea • IMC > 30 • HAS, artrite reumatoide, hipotireoidismo • Roncadores habituais • Estresse • Depressão • Abuso de álcool • Abuso de medicações sintomáticas e cafeína Critérios para uso excessivo de medicações • Uso regular de medicações para crise por > 3 meses o Analgésico simples > 15 dias/mês o Ergotamina > 10 dias/mês o Triptano > 10 dias/mês o Opioides > 10 dias/mês -> o Combinação de analgésicos > 10dia/mês Ordem de tornar a cefaleia mais frequente: Opioide > triptanos e ergóticos > analgésicos comuns > AINH Retirada ambulatorial de medicações Profilaxia da enxaqueca cronica • Medicações para migrânea cronica o Tricíclicos o Propranolol o Divalproato o Topiramato o Toxina botulínica → botox funciona para enxaqueca cronica, mas não para a episódica. o Mabs anti-CGRP.
Compartilhar