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Anemias na infância 1 Anemias na infância Prof. Cecília Produção de células sanguíneas intraútero: Nos primeiros momentos da concepção pelo mesenquima Posteriormente pelo fígado e pelo baço (potencial de eritropoiese extramedular pós-nascimento) A partir dos 4 meses de gestação começa a produção pela medula Cadeias de hemoglobina durante a gestação: Alfa: se mantém no mesmo nível desde os primeiros momentos de gestação até a vida adulta Cadeia embriônica: nos primeiros momentos de vida, desaparecendo por volta do terceiro mês Cadeia fetal (gama): maior afinidade por oxigênio, elevada durante a gestação e começa a decair próximo ao parto Cadeia adulta (beta): seus níveis começam a se elevar próximo ao parto Hemácias: São células anucleadas Danos causados por defeitos nas proteínas do citoesqueleto ou ataques oxidantes ou moléculas de hemoglobinas desnaturadas devem ser "combatidos" por mecanismos de proteção próprios da hemácia Vida ~120 dias Sistema reticuloendotelial remove as células lesadas durante a passagem no fígado e no baço Anemia: Proteínas que contém ferro e necessita dele para funcinar Anemias na infância 2 Redução da hemoglobina ou da massa eritrocitária Variações segundo idade e sexo, altitude Causa diminuição do aporte de oxigênio para os rins que produz eritropoietina → produção de eritrócitos Hemograma: Mecanismos causadores de anemia a. Diminuição da produção (falência medular) b. Aumento da destruição c. Perda sanguínea Falência medular: Diminuição da produção por déficit de nutrientes → mais comum na pediatria Infiltração da medula óssea por neoplasia Doenças inflamatórias crônicas Infecções e inflamações agudas Insuficiência renal Aplasias de medula adquirida e congênitas Hipotireoidismo Desnutrição proteica severa Anemia diseritropoiética congênitas Anemias sideroblásticas Aumento da destruição: Defeitos de membrana (esferocitose...) Defeitos na síntese de Hb (talassemias, anemia falciforme...) Deficiências enzimáticas (G6PD, piruvato quinase...) Incompatibilidade materno fetal Anemia hemolítica autoimune (infecção ou drogas) Doenças do colágeno Toxicidade primária por drogas Infecções parasitárias (malária, clostridium) Classificação: 1. Quanto ao tamanho: 2. Quanto a cor: a. Hipocrômica Avaliação: História e exame físico - primária ou secundária? Anemias na infância 3 a. Microcítica b. Normocítica c. Macrocítica b. Normocrômica c. Hipercrômica Contagem de reticulócitos Volume corpuscular médio (VCM) e distribuição de hemácias (RDW) Avaliação da lâmina de sangue Avaliação da medula óssea Anemia Ferropriva ➯ O ferro é vital para o funcionamento de várias enzimas essenciais para a sobrevivência, incluindo a hemoglobina Metabolismo do ferro: Fe não heme: precisa do DMT1 para ser absorvido → absorção mais difícil Fe Heme (das carnes/proteínas): digestão enzimática direta → ferritina → ferroportina → absorção controlada pela Hepcidina Anemia Ferropriva Anemia Falciforme Talassemias Esferocitose Hereditária (anemia hemolítica hereditária) Deficiência de G6PD Anemia megaloblásticas Anemias na infância 4 Estoque de ferro: ➯ ingestaõ de 1 a 2mg ferro/dia Medula - eritoblastos Eritrócitos Macrófagos Fígado (1g) Outros tecidos ➯ A gestação consome praticamente toda a reserva hepática - 1g Perda de ferro: Mecanismos da perda: sangramento ou descamação epitelial Os mamíferos não possuem nenhum mecanismo biológico para perda de ferro → cuidar o excesso de Ferro Classificação da deficiência de ferro 1. Pré-latente: Ferritina baixa (baixo estoque) Sem alterações no hematócrito Ferro sérico normal 2. Latente: Consumo do estoque reticuloendotelial macrofágico Não há mudança do hematócrito Quantidade de hemoglobina dos reticulócitos diminui, mas o pull de eritrócitos parece normal Ferro sérico cai e capacidade de ligação do ferro aumenta (transportadores de ferro estão vazios) Algumas vezes ocorre alteração de VCM e/ou CHCM Reserva hepática Anemias na infância 5 3. Franca: Anemia - alterações em hemoglobina e hematócrito Quantidade de ferro é limitante da produção Microcitose e hipocromia Consequências Desenvolvimento Processo de mielinização Síntese e função de neurotransmissores (dopamina, serotonina, catecolaminas) Metabolismo de neurônios de memória Atraso no crescimento Atraso do DNPM Menor rendimento escolar e intelectual Desvantagem psicossociais e econômicas Paladar → anorexia, PICA (apetite por susbtâncias não alimentícias) TGI: Redução da acidez gástrica Gastrite atrófica Sangramento da mucosa intestinal sem relação com a dieta Diminuição do teste de tolerância a lactose Bloqueio da absorção de ferro, xilose, gorduras e vitamina A SNC: Irritabilidade e desinteresse Distúrbios de conduta e percepção Graus variados de distúrbios psicomotores Efeitos prolongados ou permantentes nas funções cognitivas S. Imunológico: Inibição da capacidade bactericida dos neutrófilos em crianças desnutridas Diminuição da porcentagem de linfócitos T Diminuição da atividade da mieloperoxidase dos leucócitos S. Muscular: Diminuição da capacidade do trabalho e da tolerância aos exercícios Pele e anexos: Atrofia papilar lingual Glossite Coiloníquia Quelites Risco de aumento de concentração sanguínea de chumbo Necessidades � O ferro da mãe é fornecido para o bebê intrauterno no último trimestre da gestação Lactente nascido a termo em AM as reservas do nascimento podem suprir até os 6m No pré-termo, as reservas duram somente 2 a 3 meses, Necessidade de Ferro corporal é: Criança: 120mcg/Kg/dia → maior produção de sangue para acompanhar o crescimento Adulto 18mcg/Kg/dia Fatores de risco Reservas de ferro ao nascer: Status materno Anemias na infância 6 Tempo de gestação Peso ao nascer (RN a termo 75mg/Kg) Velocidade de crescimento Dieta Introdução precoce de leite de vaca Dieta de transição Etiologia a. Dieta inadequada b. Aumento da demanda c. Perdas sanguíneas d. Má absorção de ferro Dieta Dieta ocidental habitual 10mg ferro elementar Absorvido 1 - 2mg/dia Absorção duodenal ➯ Ferro heme: Alimentos de origem animal: Carnes vermelhas, fígado, rim e coração Carnes de aves, de porco e de peixes Biodisponibilidade: elevada Não influenciado por fatores inibidores da absorção Favorece absorção do ferro não heme ➯ Ferro não heme: Cereais, leguminosas e verduras Ovo, produtos lácteos Biodisponibilidade: baixa Absorção sobre influência de fatores Facilitadores: Ácido ascórbico, carotenos Inibidores: Fitatos, fibras, cafeína, oxalatos, cálcio e fósforo ➯ Leite de vaca: Rico em determinantes antigênicos Maior permeabilidade da mucosa intestinal a macromoléculas nos primeiros meses de vida atua como um precipitante em pacientes com desmame precoce A proctocolite alérgica, constitui causa comum de sangramento especialmente nos primeiros meses de vida Perda sanguínea por leite de vaca pode exceder 3ml/dia (0,9mg ferro/dia) Diagnóstico ➯ Hemograma, Ferritina sérica, Proteína C reativa É uma anemia microcítica e hipocrômica? Trombocitose → Deficiência de ferro leva a um deslocamento da eritropoietina, que atua juntamente com trombopoietina, aumentando o número de plaquetas Ferro sérico diminuído Ferritina diminuída Capacidade de ligação da transferina aumentada Anemias na infância 7 Tratamento Atuar na causa Suplementação oral: Administrar longe das refeições Administração do suplemento a noite melhora absorção pelo trânsito diminuído Suplementação com ácido ascórbico aumenta absorção Sais ferrosos (sulfato ferroso, fumarato ferroso, gluconato ferroso) Ferro carbonila Ferro aminoquelado com glicinato Sais férricos (ferro polimaltosado, glicinato férrico) Dose: 3 a 6mg/Kg/dia de Ferro Elementar Após normalização da hemoglobina manter tratamento para repor reservas de ferro por pelo menos 6 meses ou até que se obtenha ferritina sérica acima de 15 mcg/dL Preparações líquidas podem escurecerdentes, orientar escovação após cada dose administrada Escurecimento de fezes também pode ocorrer, orientar família quanto a benignidade Transfusão somente em casos graves com risco de descompensação cardíaca Profilaxia: recém-nascidos a termo, peso adequado para idade gestacional, em AME até o 6° mês → 1 mg de ferro elementar/kg/dia, iniciando aos 6 meses de vida até o 24° mês de vida Fluxograma Básico para identificar causa da anemia Anemias na infância 8 Fatores de risco para anemia ferropriva a. Baixa Reserva Materna: Gestações múltiplas com pouco intervalo entre elas Dieta materna deficiente em ferro Perdas Sanguíneas Não suplementação de ferro da gravidez e lactação b. Aumento da Demanda Metabólica: Prematuridade e baixo peso ao nascer (<2500g) Lactentes em crescimento rápido (velocidade de crescimento >p90) Meninas com grandes perdas menstruais Atletas de competição c. Diminuição do Fornecimento: Clampeamento do Cordão umbilical antes de um minuto de vida Aleitamento materno exclusivo prolongado (superior a seis meses) Alimentação complementar com alimentos pobres em ferro ou de baixa biodisponibilidade Consumo de leite de vaca antes de um ano de vida Consumo de fórmula infantil com baixo teor de ferro ou quantidade insuficiente Dietas vegetarianas tanto da mãe quanto da criança sem orientação de médico/nutricionista Ausência ou baixa adesão à suplementação profilática com ferro medicamentoso, quando recomendada d. Perda Sanguínea: Traumática ou cirúrgica Hemorragia gastrointestinal Hemorragia ginecológica Hemorragia Urológica Discrasias sanguíneas Malária e. Má absorção de Ferro: Síndromes de má absorção (doença celíaca, doença inflamatória intestinal) Gastrite atrófica, cirurgia gástrica Redução da acidez gástrica (antiácidos, bloqueadores de H2, inibidores de bomba de prótons) Anemia Falciforme ➯ Doença herediatária mais frequente no Brasil Prevalência estimada de 3% na população brasileira Autossômico recessivo Forma heterozigótica é assintomática Associações da HbS com as HbC, D e talassemias fazem parte de um grupo conhecido como Doença Falciforme Fisiopatologia Hb mutante (mutação de ponto: Glu-Val na posição 6 da cadeia Beta) Anemias na infância 9 Hipóxia, desidratação, infecção → a hemácia sofre polimerização → mudança da estrutura da Hb, assumindo a forma de foice e se tornando mais cristalizada → obstrução vascular, crises de dor e lesões endoteliais e orgânicas Diagnóstico Teste do pezinho Eletroforese de Hemoglobina (identificar diferentes Hemograma mostrando: anemia, leucocitose, plaquetose Particularidades Hemólise crônica → palidez (anemia), icterícia, elevações dos níveis de bilirrubina indireta, do urobilinogênio urinário e do número de reticulócitos (compensatória) A contínua e elevada excreção de bilirrubinas → cálculos vesícula biliar contendo bilirrubinato Sintomas Crises de Dor Icterícia Síndrome mão-pé ou Dactilite (obstrução dos capilares da mão e do pé): dedos inchados Hidratação aumenta o volume sanguíneo e ajuda a mobilizar essa célula que está ocluindo o vaso Úlcera de perna Sequestro de sangue no baço: anemia aguda e esplenomegalia Transfundir (volume adequado para que não ocorra uma IC) Alterações renais Alterações neurológicas Alterações cardíacas Alterações oculares (pequenas obstruções nos vasos da retina → neovascularização → descolamento da retina) Tratamento: Ácido fólico Hemólise → ferro é reabsorvido e metaboliza bilirrubina → Ácido fólico e B12 são necessários para suprir a produção de novas células, que está aumentada nessa situação Penicilina V oral ou Pen. Benzatina até 5 anos: Antibioticoterapia profilática para proteger de germes encapsulados que são combatidos pelo baço (o baço é um órgão extremamente capilarizado e que é altamente comprometido na anemia falciforme - asplenia funcional) Nas crises vaso-oclusivas (dor): hidratação e analgésicos potentes Transfusões → Hemoglobina até 10 pelo risco alto de AVC Prevenção: educação e hidroxiureia (medicamento) Urgências Febre persistente acima de 38,3ºC Imunodeprimidos Iniciar antibioticoterapia VO Dor torácica e dispneia: síndrome torácica aguda (risco de óbito) Dor abdominal com náuseas e vômitos são comuns nos sequestros esplênicos Anemias na infância 10 Cefaleia persistente, letargia ou alterações no comportamento → risco aumentado de AVC Aumento súbito do volume do baço Priapismo isquêmico (erejão dolorosa, anormal e persistente não acompanhada de desejo sexual ou exitação) decorrente de vaso-oclusão Talassemias ➯ Grupo heterogêneo e de anemias hereditárias Fisiopatologia: desequilíbrio na produção quantitativa das cadeias alfa e beta Talassemia alfa produção inadequada de cadeias alfa Talassemia beta produção inadequada de cadeias beta B0 = ausente; B+ = diminuído Beta Talassemias 1. Talassemia maior : grave promovendo anemia hipocrômica dependente de transfusão sanguínea desde os primeiros anos de vida (500-700 pessoas no Brasil) 2. Talassemia intermédia: Anemia leve até necessitar de transfusões ocasionalmente 3. Traço talassêmico ou menor: Hipocromia, microcitose e ocasionalmente leve anemia Grande diagnóstico diferencial para anemia ferropriva Quadro Clínico Falha de crescimento Fraqueza Adinamia Infecções de repetição Palidez Esplenomegalia (aumento da função do baço, retirando as células de cadeia Beta alterada) Tratamento Ácido fólico Hemólise → ferro é reabsorvido e metaboliza bilirrubina → Ácido fólico e B12 são necessários para suprir a produção de novas células, que está aumentada nessa situação ➯ Acompanhamento periódico para decidir a necessidade de transfusão ➯ Ficar atento a quantidade de ferro transfundido → risco de hemossiderose ➯ Transfusão crônica: Anemias na infância 11 Transfusão periódica para inibir eritropoese ineficaz 1U concentrado de hemácias possui 200-250 mg de Fe* Ferro corporal total 2-3g Fe* Uso de quelantes de Fe podem ser necessários por conta da grande quantidade Manter Hb pré transfusional entre 9,5-10 8/dL Fenotipar antes, usar filtro de leucocitário: Transfundir sangue o mais compatível possível Fenótipo igual ao do paciente, não apenas ABO, evita a produção de aloanticorpos que podem impedir transfusões futuras Esferocitose Hereditária (anemia hemolítica hereditária) ➯ É uma doenças da membrana eritrocitária ➯ Caracterizada por hemácias osmoticamente frágeis e morfologicamente esféricas em decorrência de alterações no citoesqueleto da célula ➯ Deficiência principal de espectrina (proteína de membrana) Fisiopatologia Perda de espectrina → redução do tamanho da membrana mas com conteúdo de hemoglobina menor → hipercrômica e microcítica Perda assimétrica de lipídios da membrana Influxo de Na: aumento da osmolaridade intracelular → aumento da hemólise Glicólise Redução da razão superfície/volume Baço, ambiente inóspito metabolicamente, acelera injúria celular Pode ser necessário esplenectomia Diagnóstico Hemoglobina 8-13 g/dL CHCM maior 36% (+/- 50% dos pac) Reticulócitos 5-10% Hiperbilirrubinemia as custas de indireta Aumento do urobilinogênio fecal Dosagem haptoglobina diminuída Hiperplasia eritróide na medula óssea Teste de resistência globular osmótica (mais específico) Tratamento Ácido fólico (suprir a perda pela hemólise) Observar anemia e litíase biliar Esplenectomia Anemias na infância 12 Profilaxia anti-pneumocócica e anti-hemófilos Deficiência de G6PD ➯ G6PD- Glicose-6-Fosfato-Desidrogenase 📊 Atinge cerca de 400 milhões de pessoas em todo mundo 📊 No Brasil 3- 6,9% Patogenia: Herança recessiva ligada ao cromossomo X Hemólise causada por agentes oxidantes (drogas, infecções ou ingestão de feijão fava e icterícia neonatal) São gatilhos para a hemólise Diagnóstico Anemia normocítica e normocrômica Reticulócitos aumentados Hiperbilirrubinemia às custas de indireta Enzimas hepáticas normais Hemoglobinúria importante Aumento DHL Anemia megaloblásticas Patogenia:Macrocitose Deficiências de cianocobalamina (vit. B12) e folatos Anemias na infância 13 Caracterizadas por importante distúrbio bioquimico envolvendo a síntese do DNA, responsável pelas manifestações citológicas e clínicas Vitamina B12: Depósitos habitualmente suficientes para manter eritropoese por 2 a 5 anos É roduzida por bactérias encontrada em alimentos de origem animal Necessidades diárias ínfimas (cerca de 0,5-2mg/dia) Carência de origem alimentar só em vegetarianos estritos Crianças de mães que usam dietas vegetarianas nos 3 anos que antecedem a gestação são suscetíveis à deficiência desta vitamina Folato: Depósitos habitualmente suficientes para manter eritropoese por 3 a 4 meses Fontes de folato são vegetais, figado e frutas Necessidades de 50ug na criança e 100 g no adulto A anemia megaloblástica que ocorre em crianças atpe os 16 meses é resultante da dieta inadequada, aumento das necessidades e infecções O leite humano e o de vaca contém folato suficiente para prover 50ug/dia, mas ferver o leite reduz em 40-80% os níveis de folato Sintomas: Deficiência de B12: Fraqueza, cansaço ou tontura Palidez Anemia Formigamento nos pés Dor abdominal e perda de peso Diarreia ou constipação Edema de lingua Taquicardia Falhas de memória Asma Deficiência de Ácido Fólico: Anemia Ulceras em pele ou boca Risco aumentado para doenças vasculares e trombose Infertilidade Transtornos psiquiátricos 💡 Deficiência de Fator Intrínseco no estômago pode levar a má absorção da vitamina B12 Anemias na infância 14
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