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A LÍNGUA ESCRITA E A ORALIDADE NO CONTEXTO DO TEXTO LITERÁRIO

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Letras português inglês licenciatura
Aureliano spindola siqueira
A língua escrita e a oralidade no contexto do texto literário
Águas Lindas de Goiás - GO
2021
Aureliano spindola siqueira
a língua escrita e a oralidade no contexto do texto literário
Trabalho apresentado à Universidade Pitágoras Unopar, como requisito parcial à aprovação no 3º semestre do curso de letras português inglês licenciatura.
Águas Lindas de Goiás - GO
2021
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	3
DESENVOLVIMENTO	4
CONSIDERAÇÕES FINAIS	9
REFERÊNCIAS	10
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é fazer uma reflexão sobre a língua escrita e a oralidade no contexto do texto literário. O ponto de partida para esta temática, é que nos anos finais do Ensino Fundamental, é possível que muitos alunos ainda apresentem dificuldades na leitura e na escrita, já que há alunos de distintas realidades e muitos desses estudantes apresentam traços da oralidade em seus textos, uma vez que a escrita ainda está muito atrelada a essa modalidade. 
O presente trabalho está estruturado em duas partes: na primeira é feita uma reflexão teórica a respeito das modalidades oral e escrita da língua, algumas características especificas de cada uma delas e como a oralidade influência na produção escrita dos educandos. O que pode ser constatado através dos traços de oralidade presentes em seus textos. Na segunda elaboramos um plano de aula voltado ao trabalho com a leitura literária, especialmente o gênero literário crônica. Mais especificamente crônicas do escritor brasileiro Luís Fernando Verissimo. As crônicas analisadas foram extraídas do livro “Mais comédias para se ler na escola”, Rio de Janeiro: Objetiva (2008). As crônicas escolhidas foram “Acho que tou”; “Lerdeza”; e “O deus Kramatsal”. O objetivo do trabalho com a leitura literária é fornecer meios aos alunos de observar como esse gênero, que nos remete ao cotidiano, utiliza a língua padrão, mas, ao mesmo tempo, insere traços próprios da oralidade. Com isso buscaremos conscientizar os alunos sobre os traços de oralidade na escrita e consequentemente melhorar suas produções escritas, e instigar o gosto pela leitura.
Esperamos com esse trabalho fazer uma reflexão sobre a prática docente no ensino de Língua Portuguesa proporcionando aos alunos meios para o pleno desenvolvimento da capacidade e da competência linguística em todas as suas modalidades. 
7
 
DESENVOLVIMENTO 
Referencial teórico
2.1 Oralidade e escrita características
A língua oral e a escrita são duas modalidades diferentes da linguagem que, por sua vez, apresentam características próprias. A oralidade é geralmente marcada pela linguagem coloquial (ou informal), enquanto a escrita, em grande parte, está associada à linguagem culta (ou formal). Nesse sentido, constata-se que tanto a oralidade quanto a escrita são práticas sociais e, portanto, devem ser tratadas com a mesma importância nas aulas de Língua Materna, pois como afirma Marcushi (2010, p. 17) 	“oralidade e escrita são práticas e usos da língua com características próprias, mas não suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas linguísticos nem uma dicotomia”. 
A linguagem oral é uma variação linguística, utilizada sob determinados contextos, dessa forma ela não pode ser considerada errada. A fala é um recurso mais prático, rápido e seu objetivo é um só: Transmitir uma mensagem. Sendo assim, a oralidade possui algumas características próprias, tais como:
· Ideia de maior proximidade entre locutor e receptor;
· Relação direta entre falantes;
· Contexto interfere;
· Uso de recursos extralinguísticos, tais como: gestos, expressões faciais, postura, entonação;
· Possibilidade de refazer a mensagem, caso não seja interpretada adequadamente;
· Transmissão maior de ideias, reflexões e emoções;
· Preocupação maior com a assimilação da mensagem do que a forma como ela será transmitida;
A língua escrita se configura na formalidade e no caráter culto. Seguindo as normas padrão da língua, ela não pode ser considerada, “mais certa” que a oralidade. Ambas apresentam características próprias, situações ideais de uso e contextos a serem adotadas. A oralidade e escrita são duas modalidades da linguagem necessárias sempre. Embora sejam diferentes, as duas coexistem entre si e complementa-se. Dessa forma a escrita possui algumas características próprias, tais como:
· Segue as normas cultas de linguagem padrão do idioma;
· Objetividade e clareza nas ideias;
· Registro documental;
· Rigor gramatical;
· Apuração do vocabulário;
· Exigência de elaboração e esforço de apresentação;
· Busca evitar ambiguidades;
· Prevê questionamentos e explora abrangência nas ideias para sanar dúvidas.
O emprego, portanto, dessas duas modalidades da linguagem, levando em conta suas características, está intimamente ligado a condições sociais, culturais, históricas e técnicas. O contexto em que são utilizadas é o que vai determinar se uma deve ser priorizada em detrimento da outra.
2.2 Influência da oralidade na escrita
A escola tem o papel de ampliar as experiências dos alunos. Devendo portanto providenciar meios para que todos sejam aceitos em suas formas de expressão, sem discriminações, nesse sentido, não se pode acusá-los de “falar errado”, mas se deve mostrar que existem novas maneiras de se expressar e uma delas é a norma culta da língua que pode ser expressada tanto de forma oral quanto escrita. Nesse sentido, as primeiras condições que todos os alunos precisam ter assegurado para avançar em sua aprendizagem é a condição de ser respeitado em sua forma de expressão. Há de se considerar também a forma própria de se expressar de cada aluno proveniente de um contexto social específico. 
Embora a oralidade preceda à escrita as instituições de ensino sempre priorizaram a escrita, uma vez que, a oralidade esteve por muito tempo sem a devida atenção no espaço escolar. Segundo Marcushi (2004), “O homem é considerado um ser que fala e não como um ser que escreve”, ainda que isso não signifique que a oralidade seja superior à escrita. Essa afirmação baseia-se no fato de que todos os povos tiveram uma tradição oral cronologicamente anterior à escrita. A oralidade se constrói no ambiente familiar e vai até o ambiente mais complexo que seria o meio social. Cabe a escola mostrar aos alunos as mais diversas situações comunicativas, isto é, mostrar os mais variados contextos de uso da língua oral que vai da informalidade para a formalidade dependendo do contexto social vivenciado pelo aluno.
Diante das práticas comunicativas, escrita e oral, percebe-se que a oralidade exerce influência na escrita e que reflete as características de aprendizado dos sujeitos, que produzem textos nos quais apresentam marcas de oralidade.
A escrita e a oralidade são modalidades essenciais para a comunicação humana, elas possibilitam que o homem expresse e registre seus sentimentos, ideias e conceitos. A oralidade é adquiria naturalmente no âmbito do cotidiano, ao contrário da escrita que se aprende, geralmente, em contextos formais no âmbito do ambiente escolar. 
2.3 Marcas da oralidade na escrita
Compreendemos como marcas de oralidade os aspectos da língua falada presentes no texto escrito. Quando falamos fazemos uso de repetições de uma palavra ou de parte dela, geralmente usamos abreviações e reduções, gaguejamos, damos pausa, cometemos erros de pronunciação ou falamos de acordo com determinada variação da língua, entre outros aspectos. Quando escrevemos tendemos a passar para o texto escrito esses aspectos.
 A prática da escrita esbarra nas dificuldades refletidas na produção de textos por parte dos alunos utilizando normas preestabelecidas da gramática normativa. A produção escrita sofre influência da língua falada, pois as marcas da oralidade são as principais evidência desse processo nos textos escritos.
Oralidade e escrita constituem-se como instrumentos indispensáveis para o processo de comunicação do sujeito, levando em consideraçãoo contexto social e cultural em que o mesmo está inserido, isto é, ambos sofrerão alterações ao longo tempo. Ocorre que esses fatos, muitas vezes não são considerados pelo professor de Língua Materna e isso faz com que os alunos, transfiram para a escrita as marcas próprias da fala.
Essas duas modalidades caminham juntas com a finalidade de construção da vida social do indivíduo. Ambas possuem seus valores e sua importância, mas há uma grande dificuldade por parte dos alunos em diferenciá-las. Por exemplo, um aluno ao construir seu próprio texto, por muitas vezes usa a linguagem oral durante a produção escrita. 
Levando em consideração os pressupostos teóricos apresentados anteriormente, elaboraremos um plano de aula a fim de abordar a oralidade na escrita por meio da literatura. O gênero literário escolhido foi a crônica literária. Mais precisamente crônicas do escritor brasileiro Luís Fernando Verissimo, o objetivo é fornecer meios aos alunos de observar como esse gênero, que nos remete ao cotidiano, utiliza a língua padrão, mas, ao mesmo tempo, insere traços próprios da oralidade. Com isso buscaremos conscientizar os alunos sobre os traços de oralidade na escrita e consequentemente melhorar suas produções escritas, e instigar o gosto pela leitura.
2.4 Plano de Aula
	Plano de aula: Traços de oralidade nas crônicas de Luís Fernando Verissimo
	Escola: Colégio Ayrton Senna da Silva
Período de realização: 04/10/2021 a 13/10/2021
04/10/2021 aula 1 – leitura e análise da crônica “Acho que tou”. Realização pelos alunos de atividades escritas sobre a crônica estudada.
06/10/2021 aula 2 – leitura e análise da crônica “Lerdeza”. Realização pelos alunos de atividades escritas sobre a crônica estudada.
11/10/2021 aula 3 – leitura e análise da crônica “O deus Kramatsal”. Realização pelos alunos de atividades escritas sobre a crônica estudada.
13/10/2021 aula 4 – debate e considerações finais sobre os estudos realizados e montagem do painel literário com as e contribuições feitas pelos alunos
Turma: Anos finais do Ensino Fundamental
	Conteúdo: 
Crônicas: “Acho que tou”; “Lerdeza”; “O deus Kramatsal”;
Serão abordados os seguintes conteúdos em nossa análise: Uso de abreviações e reduções; Presença de repetições e correções; Uso de marcadores conversacionais; Emprego do registro coloquial; Emprego de gírias e expressões de espanto, admiração, etc.
	Percurso Metodológico: 
Roda de leitura: os alunos junto com o professor sentam em círculo para realização da primeira leitura realizada pelo professor. 
Exposição oral individual: cada aluno ler um trecho da crônica em estudo.
Debate sobre o texto lido com intermediação do professor: o professor organiza um debate para que os alunos façam suas contribuições sobre o conteúdo estudado.
Construção de um painel com as contribuições feitas pelos alunos: será feita a construção de um painel literário com uso de cartolinas com as contribuições feitas pelos alunos. 
	Recursos:
Texto impresso para cada aluno;
Folhas para atividades escritas;
Quadro branco;
Pincéis;
Cartolinas;
Cola branca;
	Avaliação:
Os alunos serão avaliados durante todo o processo. Serão avaliados o interesse e a participação dos alunos durante o estudo. Avaliação do desempenho oral de cada aluno (nesse caso, com objetivo diagnóstico). Avaliação através da folha de atividades escrita sobre cada crônica estudada. Avaliação do painel literário construído pelos alunos.
	Referencias:
PORTILHO, Gabriela. Leve a crônica para as aulas de língua portuguesa. Nova Escola, 2013. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/2171/leve-a-cronica-para-as-aulas-de-lingua-portuguesa>. Acessado em 20/10/2021
VILARINHO, Sabrina. Crônica. Brasil Escola. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/redacao/cronica.htm>. Acessado em 24/10/2021
http://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/a-avaliacao-acordo-com-os-pcns.htm>. Acessado em 26/10/2021
http://www.pedagogia.com.br/artigos/funcoes_avaliacao/?pagina=2>. Acessado em 28/10/2021
https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/17/12/a-avaliao-da-aprendizagem-escolar-de-acordo-com-a-viso-da-psicopedagogia>. Acessado em 28/10/2021
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste estudo foi possível constatar que muitos alunos do ensino fundamental apresentam traços de oralidade em seus textos. Dentre diversos fatores, podemos apontar o fato de que a oralidade precede a escrita, sendo adquirida no ambiente familiar indo até o ambiente mais complexo que seria o meio social. A oralidade é influenciada por fatores como cultura, lugar, tempo, idade, condição social entre outros o que acaba sendo refletido na escrita. 
A escola é, pois, o ambiente ideal para trabalharmos a consciência dos alunos de que essas duas modalidades da linguagem se complementam e que o contexto é que vai determinar qual deve ser utilizada em detrimento da outra.
Pudemos constatar também que é possível trabalhar essa consciência e melhorar a produção escrita dos alunos através do estudo do gênero literário crônica. Pois esse gênero literário faz parte de uma escrita simples e de fácil compreensão, que busca descrever fatos do cotidiano facilitando a aproximação com o leitor, como uma conversa entre amigos, tornando a leitura leve e divertida. 
É de extrema importância que tanto as instituições educacionais quanto os professores de Língua Portuguesa reflitam e reconheçam a diversidade da língua, quer seja ela oral, quer seja escrita, e proporcionem aos seus alunos o pleno desenvolvimento da capacidade e da competência linguística em todas as suas modalidades. 
REFERÊNCIAS
MARCUSHI, LUIZ
Fala e escrita / Luiz Antônio Marcushi e Angela Paiva Dionisio. 1. ed., 1. Reimp. – Belo Horizonte: Autêntica, 2007. 208 p.
MARCUSHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 10. ed. São Paulo: Cortez 2010.
Verissimo, Luís Fernando, Mais comédia para ler na escola / Luís Fernando Verissimo; apresentação e seleção de Marisa Lajolo; Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
Urquiza de Oliveira, A. M. (2021). A presença da oralidade na literatura: estudo de crônicas de Luís Fernando Veríssimo. Revista Internacional Em Língua Portuguesa, (36), 85–102. https://doi.org/10.31492/2184-2043.RILP2019.36/pp.85-102>. Acessado em 22/10/2021
ANDRADE, Genilma Dantas. AS MARCAS DA ORALIDADE NO TEXTO ESCRITO (Uma análise da crônica “Minhas Férias de Luís Fernando Verissimo). Disponível em: https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/10197/2/8.pdf>. Acessado em 10/10/2021.
DAMIANI, Magda Floriana. Entendendo o trabalho colaborativo em educação e revelando seus benefícios. Disponível em: https://www.scielo.br/j/er/a/FjYPg5gFXSffFxr4BXvLvyx/?lang=pt#>. Acessado em 22/10/2021
Anexo A
Crônica “Acho que tou” de Luís Fernando Verissimo, Mais crônicas para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
- Acho que tou – disse a Vanessa 
- Ai, ai, ai – disse o Cidão.
No entusiasmo do momento, os dois a fim e sem um preservativo à mão, a Vanessa tinha dito “acho que dá”. E agora aquilo. Ela podia estar grávida. 
Do “acho que dá” ao “acho que tou”. A história de uma besteira.
Mais do que uma besteira. Se ela estivesse mesmo grávida, uma tragédia. Tudo teria que mudar na vida dos dois. O casamento estava fora de questão, mas não era só isso. A relação dos dois passaria a ser outra. A relação dela com os pais. Os planos de um e de outro. O vestibular dela, nem pensar. O estágio dele no exterior, nem pensar. Ele não iria abandoná-la com o bebê, mas a vida dele teria que dar uma guinada, e ele sempre culparia ela por isto. Ela não saberia como cuidar de um bebê, sua vida também mudaria radicalmente. E se livrarem do bebê também era impensável. Uma tragédia.
- Quando é que você vai saber ao certo?
- Daqui a dois dias.
Durante duas noites, nenhum dos dois dormiu. No terceiro dia ela chegou correndo na casa dele, agitando um papel no ar. Ele estava no seu quarto, adivinhou pela alegria no rosto dela qual era a grande notícia. 
- Não tou! Não tou!
Abraçaram-se, aliviados, beijaram-se com ardor, amaram-sena cama do Cidão, e ela engravidou.
Anexo B
Crônica “Lerdeza” de Luís Fernando Verissimo, Mais crônicas para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
A frase que o Everton mais ouvia da mãe era “levanta e vai buscar”, geralmente seguida de um epíteto, como “seu preguiçoso” ou, pior, “Lerdeza”.
Porque o que o Everton mais fazia, atirado no sofá na frente da TV na sua posição de costume (que a mãe chamava de “estrapaxado”), era pedir para lhe trazerem coisas. Uma coca. Uns salgadinhos...
- Levanta e vai buscar!
- Pô, mãe.
- Lerdeza!
O Everton já estava com 15 anos e era uma luta convencê-lo a sair do sofá e ir fazer o que os garotos de 15 anos fazem. Correr. Jogar bola. Namorar. Ou pelo menos ir buscar sua própria coca.
- Esse menino um dia ainda vai se fundir com o sofá...
Everton não queria outra coisa. Ser um home-sofá. Um estofado humano, alimentado sem precisar sair do lugar. E sem tirar os olhos da TV. E como era filho único, e insistente, sempre conseguia que lhe trouxessem o que pedia. Quando não era a mãe, sob protestos (“Toma lerdeza, mas é a última vez”), era Marineide, a empregada de vinte e poucos anos cujo decote era a única coisa que fazia o Everton desviar os olhos da TV, e assim mesmo por poucos segundos. Um dia, estrapaxado no sofá, o Everton se deu conta que estava sozinho em casa. A mãe tinha saído, o pai estava no trabalho, a Marineide de folga, e ele sem ninguém para lhe trazer uma Coca, umas batatas chips e uns Bis.
Levantar-se e ir buscar estava fora de questão, fechou os olhos e concentrou-se. Concentrou-se com força. Depois de alguns minutos, ouviu ruídos vindos da cozinha. A geladeira abrindo e fechando. Uma porta de armário abrindo e fechando. Depois silêncio.
Quando abriu os olhos, a Coca, as batatas e os Bis pairavam no ar, à sua frente. Ele só precisou estender a mão. No dia seguinte, Everton testou seu poder recém-descoberto na Marineide, que até hoje não sabe como a sua blusa desabotoou sozinha e seu sutiã simplesmente voou daquele jeito, e logo na frente do menino. Everto também ligou a TV e mudou de canais sem precisar usar o controle remoto, e fez um vaso voar pela sala com a força do seu pensamento. Apagou a TV, e ficou atirado no sofá, refletindo sobre o que significava aquilo. Ele era um fenômeno. Tinha um poder único – fazia as coisas acontecerem apenas pela sua vontade. Contaria aos pais, claro. Eles poderiam ganhar dinheiro com o seu poder. O pai saberia como. Ele se transformaria numa celebridade. Cientistas do mundo inteiro o procurariam, sua capacidade extraordinária seria usada em benefício da humanidade. No combate ao crime, por exemplo. Nas comunicações, na medicina a distância. 
E se aquilo fosse, de alguma forma, um poder religioso? Até onde a revelação do seu dom milagroso seria um sinal de que ele tinha uma missão a cumprir na terra? Até onde aquilo o levaria? Fosse o que fosse, uma coisa era certa. Ele teria que sair do sofá.
- Mãe.
- Ahn?
- Eu Quero daquelas coisinhas de queijo. E uma Coca.
- Levanta e vai buscar.
- Pô, mãe.
- Tá bem. Mas esta é a última vez.
E já a caminho da cozinha:
- Lerdeza!
Anexo C
Crônica “O deus Kramatsal” de Luís Fernando Verissimo, Mais crônicas para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
Dudu convenceu os pais de que estudar não era com ele.
- Não me amarro, entente?
O pai do Dudu ainda tentou dissuadi-lo de largar a escola.
- Eduardo, fica só pelo diploma. Só para ter cela especial.
- Meu negócio é outro.
O negócio de Dudu era surfar. E como Dudu era filho único e sempre conseguia o que queria, saiu a surfar pelo mundo. Só entrava em contato com a família para pedir dinheiro. Volta e meia mandava um postal de um lugar estranho, dizendo que estava bem, saúde perfeita. Saúde com cê-cedilha.
Mas um dia telefonou para dizer que estava voltando, e com uma surpresa.
A surpresa era Sakiri. Ou “Princesa Sakiri”, como ele a apresentou à família boquiaberta. Sakiri era uma das cinco filhas do chefe Bobua, rei da ilha Maaboa, uma das Epírades Ocidentais. Ela e Dudu tinham se casado numa cerimônia à beira de um vulcão, e a festa do casamento durara três dias.
Dudu podia escolher entre as cinco filhas do rei e escolhera a mais bonita. 
E Sakiri era mesmo linda. E olhava para Dudu com adoração, como se Dudu fosse um deus. E a cada coisa que o Dudu dizia, seus olhos brilhavam, maravilhados.
- Tô bem de mina, hein, galera?
E Sakiri quase desmanchava.
Sakiri falava um pouco de inglês, e foi através dela que a família ficou sabendo mais sobre aquele casamento insólito. Dudu chegara em Maaboa de barco, vindo de outra ilha. Ouvira dizer que as ondas dali eram ótimas para surfar. Na chegada, recebido por nativos na praia, dissera as extas palavras que, segundo uma velha lenda, seriam ditas pelo deus Kramatsal quando voltasse à Terra. O deus Kramatsal poderia voltar à Terra em qualquer forma e de qualquer cor: suas palavras é que o identificariam. E Dudu dissera as palavras, as exatas palavras, que o identificavam como o deus Kramatsal! Que, segundo a lenda, casaria com uma das filhas do rei, à sua escolha, e ficaria na ilha para salvá-la, como já tinha acontecido no passado.
- Dudu, o que foi que você disse quando chegou na praia?
- Não me lembro. Acho que foi “E aí, macacada?”. Por quê?
Dudu não tinha ideia do que causara todo aquele rebuliço, na sua chegada à ilha. A procissão nos ombros dos nativos até a presença do rei Bobua e a escolha de uma de suas filhas para casar, as homenagens e os presentes que recebia dos nativos a toda hora... como era filho único, acostumado a ser mimado, aceitara tudo aquilo com naturalidade. Estava agradando, era só isso. Ficou surpreso ao saber que era considerado um deus redivivo. 
Kramaoquê?
- E eu que pensei que era tudo hospitalidade, pô.
A muito custo a família convenceu Dudu a ficar em casa, com sua nova mulherzinha. O pai lhe conseguiria um emprego, e sempre que quisessem ele poderia passar algumas semanas em Maaboa, onde as ondas eram ótimas para surfar. Mas um dia Sakiri viu no Jornal Nacional que um vulcão na ilha de Maaboa, uma das Epírades ocidentais, estava ameaçando entrar em erupção, e anunciou que precisava voltar para sua ilha imediatamente – e Dudu precisava ir com ela. Não adiantou a família dizer que aquilo era loucura, os dois tinham que voltar a Maaboa. Com urgência.
Mesmo quando foi levado até a beira do vulcão fumegante, Dudu não se deu conta do que esperavam dele. Se não dissesse a palavra mágica que fizesse a larva borbulhante retroceder, seria jogado dentro do vulcão, como já aconteceram com o deu Kramatsal em sua outra encarnação. Dudu olhou dentro do vulcão, onde a larva borbulhante crescia cada vez mais e em pouco tempo transporia as bordas da cratera e arrasaria com a ilha e, provavelmente, todas as Epírades Ocidentais, e exclamou:
- Cacete!
Deu certo. A larva borbulhante retrocedeu, o vulcão serenou, a ilha e o arquipélago foram salvos.
Os dois aproveitaram para ficar uns dias em Maaboa. Sakiri reviu sua família, Dudu pegou algumas ondas ótimas e o rei Bobua deu várias indiretas sobre a possibilidade de um neto, já que precisava de um herdeiro.

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