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ORIENTAÇÃO CURRICULAR Estado do Rio de Janeiro Prefeitura de Volta Redonda Secretaria Municipal de Educação Departamento Pedagógico Seção de Educação Infantil Prefeito do Município de Volta Redonda Antônio Francisco Neto Vice-Prefeito Sebastião Faria de Souza Secretária (o) Municipal de Educação Therezinha dos Santos Gonçalves Assumpção (in memorian) / Julio Cesar de Oliveira Cyrne Diretora do Departamento Pedagógico Valéria Augusta Franco de Carvalho Coelho Chefe da Seção de Educação Infantil Jane Márcia do Valle Lopes Reis Equipe da Seção de Educação Infantil Andreia Crespo Dinis Áurea Kely Luciana Torres Penna Ellen Regina Pereira Isaias Isis Carvalho Alves Mary Francis da Fonseca Conte Sumário 1. Histórico da Educação Infantil em Volta Redonda ................................................................................... 2 2. Eixos Estruturantes: Interações e a Brincadeira ....................................................................................... 3 3. Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento na Educação Infantil ...................................................... 3 4. Competências Gerais .................................................................................................................................... 4 5. Objetivos Gerais da Educação Infantil....................................................................................................... 6 6. Fundamentos Pedagógicos e Metodológicos .............................................................................................. 7 6.1 Metodologia da Pesquisa-Ação ................................................................................................................ 7 6.2 Projeto de Trabalho .................................................................................................................................. 9 6.3 Trabalho Diversificado ........................................................................................................................... 10 7. Campos de Experiências ............................................................................................................................ 12 7.1 O eu, o outro e o nós............................................................................................................................... 13 7.2 Escuta, fala, pensamento e imaginação .................................................................................................. 13 7.3 Traços, sons, cores e formas ................................................................................................................... 14 7.4 Corpo, gestos e movimentos .................................................................................................................. 16 7.5 Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações ..................................................................... 16 7.6 Ambiente e tecnologia ............................................................................................................................ 17 8. Parte Diversificada ..................................................................................................................................... 18 8.1 Língua Inglesa ........................................................................................................................................ 18 8.2 Informática ............................................................................................................................................. 19 9. Avaliação ..................................................................................................................................................... 21 9.1 A organização de portfólios como instrumento de avaliação da trajetória de aprendizagem ................. 21 9.2 Tipos de portfólio ................................................................................................................................... 22 9.3 O portfólio de aprendizagem como instrumento de avaliação ............................................................... 22 9.4 O que levar em conta ao selecionar o material para compor o portfólio de aprendizagem? .................. 22 10. Bibliografia ............................................................................................................................................... 24 2 1. Histórico da Educação Infantil em Volta Redonda Os conceitos de infância e Educação Infantil são impregnados de história, representações e valores. Modificam-se ao longo dos tempos e expressam o pensamento da sociedade em que foram constituídos. Compreender a evolução histórico-cultural do conceito de infância é imprescindível aos educadores que atuam, direta ou indiretamente, com crianças e que buscam entender as especificidades dessa fase da vida. Nesse sentido, estudiosos de diferentes áreas buscaram evidenciar como as formas de organização social e as relações de trabalho determinaram a inserção da criança na sociedade ao longo do tempo e influenciaram a concepção de infância em diferentes momentos históricos. A Educação Infantil surgiu na Rede Municipal de Ensino de Volta Redonda na década de 1960. Percebendo a necessidade de atender as crianças de faixa etária entre 3 a 6 anos, as autoridades na época empenharam-se em criar os Jardins na Rede Municipal de Ensino. Em 1969, surgiu a primeira unidade, o Jardim de Infância Municipal Alzira Vargas Amaral Peixoto, então anexo da Escola Municipal Amaral Peixoto. As creches só foram criadas na década de 1990, para crianças a partir de 3 anos de idade e, em 2001, passaram a atingir a faixa etária de 0 a 3 anos. A Educação Infantil no município de Volta Redonda caracteriza-se por uma evolução histórica e significativa. Em relação aos aspectos metodológicos, de Unidade de Experiência passou para Centro de Interesse e evoluiu para os Projetos de Trabalho. Com base numa Proposta Curricular construída coletivamente, por Campos do Saber. Com a BNCC Nacional (2017) e a Estadual (2019) partiu-se para um alinhamento e a proposta sofreu uma reformulação onde os Direitos de Aprendizagem e as Competências Gerais foram incorporados e os Campos do Saber foram modificados para Campos de Experiência. Atualmente a construção do conhecimento é o foco das principais concepções que regem o trabalho pedagógico nas instituições de Educação Infantil. Para tanto, torna-se necessária a criação de um ambiente acolhedor e ao mesmo tempo estimulante, em que a criança se sinta segura para experimentar, formular hipóteses, criar e expressar-se com liberdade. Assim, percebe-se a ludicidade como um importante instrumento de aprendizagem, que abre caminho para a autonomia, para a criatividade, para a exploração dos significados e sentidos, além de favorecer o equilíbrio afetivo da criança. Para que o brincar e o aprender se efetivem como práticas indissociáveis nesse nível de ensino, outro aspecto fundamental a ser considerado é a organização dos momentos e espaços de ação das crianças. Cabe ao educador constituir, com elas, um ambiente rico e instigante, que caracterize a identidade do grupo, onde sejam permitidos e estimulados movimentos e organizações flexíveis, que propiciem interação, questionamentos, experimentação, aprendizagem e, sobretudo, prazer, elemento propulsor do fazer infantil. Assim, a sala de aula é apenas um dos espaços de construção de aprendizagem para a criança. De acordo com as especificidades de cada instituição, é necessário adequar diferentes atividades a espaços físicos diversos. 3 2. Eixos Estruturantes: Interações e a Brincadeira Buscando construir uma proposta pedagógica que levasse em consideração o que acomunidade escolar, os professores, as crianças e os pais pensam sobre a infância e a educação, foi feito um levantamento junto às instituições municipais de Educação Infantil. O resultado obtido elencou o “brincar” como eixo central e reafirmou a importância deste ato para a construção do conhecimento de forma lúdica. Mais tarde, em 2010, com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, foi definido que as práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular desse segmento deveriam ter como eixos norteadores as “interações” e a “brincadeira”. Tais eixos serviram para corroborar a ideia da construção do conhecimento de forma lúdica e a BNCC reafirmou estes eixos estruturantes nesta etapa de ensino. As questões: Como as crianças brincam e do que gostam de brincar? Quais relações estabelecem?... Chegou-se às seguintes conclusões: As crianças gostam de uma infinidade de brincadeiras, principalmente das que envolvem movimentos e faz de conta. Diante da brincadeira, as crianças são elas mesmas, são desafiadas e sentem prazer. Brincam representando a sua realidade, dramatizam situações vivenciadas com a família e na escola, enfim, fatos significativos do seu cotidiano. Qualquer brinquedo ou objeto que atrai sua atenção assume uma dimensão própria no seu imaginário. Geralmente, brincam em grupos, criando suas próprias brincadeiras e regras. Enquanto brincam, as crianças criam, imaginam, fantasiam e, ao mesmo tempo, interagem com a realidade. Elas não apenas se divertem, como compartilham, observam, aprendem, ensinam, ao explorar os limites e as possibilidades do próprio corpo. As crianças estabelecem relações de companheirismo, de solidariedade e de identificação com o outro ao expressarem seus sentimentos por meio de atividades lúdicas. São essas brincadeiras que despertam a curiosidade e motivam para a aprendizagem e para a busca do conhecimento. Assim, o trabalho pedagógico não pode perder de vista os eixos que orientam a proposta pedagógica da Educação Infantil: as interações e a brincadeira. É no contexto das interações e das interlocuções, nos espaços lúdicos das brincadeiras, dos jogos de linguagem, das cantigas e dos poemas, das histórias etc. que as ações são vividas pelas crianças. 3. Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento na Educação Infantil Os seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento citados na Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017) podem ser assegurados por meio do desenvolvimento das atividades cotidianas e da metodologia utilizada na Educação Infantil. As condições para que as crianças aprendam em situações nas quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados sobre si, os outros e o mundo social e natural (BNCC, 2017). 4 • Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. • Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. • Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando. • Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. • Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. • Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário. Para que esses direitos sejam garantidos faz-se necessário a construção de práticas pedagógicas organizadas e proposições com intencionalidade educativa. Essa intencionalidade deve ser acompanhada e refletida constantemente, assim como, as aprendizagens das crianças. Parte do trabalho do educador é refletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças (BNCC, 2017). 4. Competências Gerais As competências gerais inter-relacionam-se e desdobram-se no tratamento didático proposto para a Educação Básica, articulando-se na construção de conhecimentos, no desenvolvimento de habilidades e na formação de atitudes e valores, nos termos da LDB. 5 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. 4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital -, bem como conhecimentos das linguagens artísticas, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo orespeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da 6 diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusos, sustentáveis e solidários. 5. Objetivos Gerais da Educação Infantil As atividades desenvolvidas na prática infantil, em conformidade com os eixos estruturantes interações e a brincadeira, devem se organizar de modo que as crianças alcancem os seguintes objetivos: • Desenvolver uma imagem positiva de si e atuar de forma cada vez mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações; • Descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolver e valorizar hábitos de cuidado com a própria saúde e bem-estar; • Estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças, fortalecendo sua autoestima e ampliando gradativamente suas possibilidades de comunicação e interação social; • Estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais, aprendendo aos poucos a articular seus interesses e pontos de vista com os demais, respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração; • Observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade, percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e agente transformador do meio ambiente, e valorizar atitudes que contribuam para sua conservação; • Brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades; • Utilizar as diferentes linguagens ajustadas às diferentes intenções e situações de comunicação, de forma a compreender, a ser compreendido, a expressar suas ideias, sentimentos, necessidades e desejos e a avançar no seu processo de construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva; • Conhecer algumas manifestações culturais, demonstrar atitudes de interesse, respeito e participação frente a elas e valorizar a diversidade; 7 • Assegurar às crianças com deficiência, por meio da metodologia utilizada, o direito ao desenvolvimento de todas as suas potencialidades. 6. Fundamentos Pedagógicos e Metodológicos 6.1 Metodologia da Pesquisa-Ação A metodologia da pesquisa-ação nasce dos movimentos sociais, com vistas à produção de um conhecimento que faça sentido no contexto social. Nasce, portanto, da crítica a um determinado tipo de produção de conhecimento, deslocado das questões sociais e no qual os sujeitos não se reconhecem como efetivos produtores de saber. Inicialmente, vinculada à pesquisa acadêmica nas ciências sociais, essa metodologia almejava uma ciência “menos científica” e que o pesquisador estivesse comprometido com as questões sociais. Os princípios gerais dessa metodologia, além de se mostrarem fecundos para o trabalho na escola, também contemplam empresas, comunidades e outros. É também um tópico dentre os diferentes da metodologia das ciências sociais. Na escola, essa metodologia ganha outros contornos. Seu principal fundamento é entender o educador não apenas como um “transmissor” de conhecimentos, mas como um sujeito que pesquisa a sua própria prática. Sob essa perspectiva, conteúdos escolares não são vistos de maneira isolada, como se pré- existissem à formação das turmas, à história dos alunos e dos professores, ou seja, os conteúdos ganham vida na medida em que se transformam em objeto de pesquisa para professores e alunos e, consequentemente, em possibilidade de ação consciente no mundo. A Pesquisa-Ação é um tipo de pesquisa social, com base empírica, concebida e realizada em estreita associação com ações para a resolução de problemas coletivos. Os pesquisadores (professor e aluno) e os participantes (outros envolvidos) da situação ou do problema estarão envolvidos de modo cooperativo e/ou participativo. Um dos principais objetivos da Pesquisa-Ação é dar aos pesquisadores e aos grupos de participantes os meios para se tornarem capazes de responder, com maior eficiência, aos problemas da situação em que vivem, em particular sob forma de diretrizes de ação transformadora. Trata-se de facilitar a busca por soluções dos problemas reais, para os quais os procedimentos convencionais têm pouco contribuído. Com a Pesquisa-Ação, os pesquisadores pretendem conferir um papel ativo para a própria realidade dos fatos observados e uma estratégia metodológica para a pesquisa social. Seus pontos mais relevantes são: • Uma interação ampla e explícita entre os pesquisadores e as pessoas implicadas na situação investigada. Professores e alunos elegem, a partir de seus interesses, os temas prioritários a serem pesquisados; 8 • Dessa interação, resulta a ordem de prioridades dos problemas a serem pesquisados e das soluções a serem encaminhadas sob forma de ação concreta. Ao elegerem seus temas de pesquisa, professores e alunos constroem seus projetos de trabalho, planejam suas atividades e sistematizam suas prioridades; • O objeto de investigação não é dado aleatoriamente pelas pessoas, e sim pela situação social (questões substanciais) e pelos problemas de diferentes naturezas encontrados nessa situação. Os conteúdos escolares tornam-se presentes a partir de situações-problema, questões vivas do cotidiano; • O objetivo da Pesquisa-Ação é resolver ou, pelo menos, esclarecer os problemas da situação observada. O conhecimento é uma construção compartilhada; • Há, durante o processo, um acompanhamento das decisões, das ações e de toda a atividade intencional dos atores da situação. Tão importante quanto o conteúdo aprendido é o processo construído ao longo dessa aprendizagem, pelas crianças e pelos professores; • A pesquisa não se limita a uma forma de ação. Pretende-se aumentar o conhecimento ou o “nível de consciência” das pessoas e dos grupos considerados. A intenção não é a assimilação passiva dos conhecimentos, mas a sua apropriação consciente, expressa na incorporação desses conhecimentos na ação. É necessária a elucidação dos objetivos, tanto práticos quanto de construção de conhecimentos. Com maior amadurecimento metodológico e quando bem conduzida, a Pesquisa-Ação deve alcançar a resolução de problemas, a tomada de consciência e a produção do conhecimento, fazendo parte da expectativa científica que é própria das ciências sociais. A relação entre pesquisa social e ação consiste em obter informações e conhecimentos selecionados, em função de uma problemática de caráter social. Essa relação se processa concomitantemente, no momento em que a ação gera conhecimento, e desencadeia várias outras ações. É possível organizar um currículo escolar por temas e questões com as quais os estudantes se sintam envolvidos, de forma que aprendam a pesquisar para selecionar, ordenar, interpretar e tornar público o processo seguido, conectando-se com o mundo fora da escola. Em relação à pesquisa, entende-se que, ao propor uma problemática, os pesquisadores (professor e aluno) busquem as soluções por meio de ações. Tanto em educação como em qualquer área de conhecimento, não se parte do zero. É necessário considerar o “lugar” de onde viemos, as ideias e as experiências que reconhecemos e que nos influenciam, para reinterpretá-las. O intérprete olha a partir de “outro lugar”, incorpora “novos olhares” com os quais transforma as situações que são o objeto de seu interesse. 9 Com essa visão, busca-se uma educação para a compreensão, que favoreça uma atitude globalizadora, vinculada às interpretações do mundo oferecidas pelos temas e questões em torno dos quais se organiza o currículo. A principal contribuição da Pesquisa-Ação é incorporar indagações ao dia a dia e, assim,transformar ações cotidianas em novas situações para pesquisa. O melhor caminho para ensinar alguém a pensar e a aprender compreensivamente é mediante a pesquisa. A ação sobre a realidade, orientada pela pesquisa, traz possíveis transformações na sociedade. 6.2 Projeto de Trabalho Os Projetos de Trabalho são, hoje, uma metodologia muito veiculada no cenário pedagógico, porém, a ideia não é tão nova. Ela remonta aos ideais pedagógicos do início do século, quando se falava em ensino global e sobre o qual se debruçaram famosos educadores, entre eles, os norte-americanos John Dewey (1852- 1952) e Willian Kilpatrick (1871-1965). Idealizada inicialmente por Kilpatrick (1974), discípulo de Dewey e, atualmente, reestruturada e veiculada por Fernando Hernández, a pedagogia de projetos tem como pressuposto a importância de desempenhar, no espaço escolar, atividades com intenções definidas ou integradas a partir de propósitos pessoais. “É uma experiência valiosa, unitária, intencional, intensamente auto-motivada e realizada em situação real, cujo objetivo determina os rumos das atividades e guia os seus passos até sua completa realização. Só uma atividade aceita e projetada pelos alunos pode fazer da vida escolar uma vida que eles sintam que vale a pena viver” (Kilpatrick, 1974). Os Projetos de Trabalho possibilitam desenvolver atividades de ensino e aprendizagem que permitem a contribuição de diversas áreas do conhecimento e favorecem a compreensão dos aspectos multifacetados que compõem a realidade. Nesta metodologia, professor e alunos compartilham metas objetivas de trabalho, e os conteúdos são organizados em torno de questões que permitem a sua ressignificação no interior do processo ensino-aprendizagem. Alunos e professor têm a possibilidade de aplicar seus conhecimentos prévios sobre determinado tema, de buscar novas informações e de utilizar os conhecimentos e os recursos construídos a partir de diálogos e pesquisas, atribuindo um sentido amplo ao assunto. Ao professor, cabe ter clareza dos objetivos que quer alcançar, formular com precisão as etapas do processo e, portanto, planejar o trabalho a ser implementado. Aos alunos cabe assumir coletivamente a tarefa de decidir sobre o desenvolvimento do trabalho, bem como conhecer e discutir a produção de todos. Devem ser incluídas no planejamento do projeto atividades de “saídas” da escola para “exploração de campo” que possibilitem o contato com a realidade “além dos muros escolares”. O Produto Final do Projeto materializa-se por meio da circulação do conhecimento construído, na forma de uma atividade de expansão para o meio coletivo, ou seja, para a comunidade escolar. Desta maneira, os alunos sabem objetivamente o que estão executando e por que realizam as atividades propostas; aprendem a formular questões investigativas e a transformar dados em informações, estas em conhecimento 10 e, por fim, conhecimento em instrumento de ação, ainda que esta última, aos olhos de outrem, possa parecer meramente recreativa. Pautado nessa metodologia, o professor procura estabelecer sequências de atividades e, portanto, de aprendizagem que proporcionem ao máximo a assimilação significativa, por parte dos alunos, dos conteúdos, das atividades e dos objetivos. Desta forma, toma decisões capitais sobre a maneira de planejar, de ensinar e de avaliar – de forma que se torna capaz de perceber, no decorrer do processo, se os aprendizados prescritos foram realmente atingidos na extensão e profundidade desejadas, e não por meio de situações artificiais de avaliação. É necessário que os educadores tenham uma visão ampla dos CAMPOS e de como se inter- relacionam para que, nos projetos de trabalho, possam realizar um trabalho transdisciplinar significativo. Essa metodologia pretende garantir o respeito às características de cada contexto educativo e às diferenças individuais dos alunos. O critério de individualização do ensino e o ritmo de aprendizagem: alunos mais lentos precisam de mais tempo para aprender e os mais rápidos, de menos tempo. A verdadeira individualização consiste em adaptar as concepções de ensino às características diferentes dos alunos e, neste particular, a metodologia de Projetos se mostra bastante interessante, principalmente ao atender todas as crianças envolvidas. O professor deve se pautar no objetivo de construir com seus alunos um certo “corpo de condutas” – valores, atitudes, princípios, procedimentos, conceitos e fatos – que os faça perceber quão grandiosa é a tarefa proposta. Esta deve levar em consideração a gama de aspectos de que se constitui o sujeito cognoscente: razão, afetividade, sociabilidade e, sobretudo, corporeidade – sem o corpo não há morada para a afetividade, para a cognição ou para a sociabilidade, pois o aluno se apresenta ao mestre pelo seu corpo, a partir do qual pensa, fala, toca, gesticula. Planejar é “pré-ver”, encaminhar, acompanhar o processo e aguardar, numa “espera impaciente”, o produto: um aluno ciente e consciente do mundo e de seus elementos, de como lidar com os outros, com a exterioridade e consigo mesmo. Assim, o professor contribui para organizar o “caos” da existência do aluno ao impor determinados recortes e delimitações, ao mesmo tempo em que o leva a transpor seus limites, numa busca constante pela excelência, na qual acalenta o sonho de poder construir um sujeito que tenha espaço no grupo e que seja capaz de construir seus próprios conhecimentos. Deste modo, os conteúdos serão significativos, pois o que acontece em decorrência do planejamento foi “pré-visto”, feito, escolhido, pensado, sentido, analisado e empreendido com base em necessidades reais. 6.3 Trabalho Diversificado As chamadas atividades diversificadas são realizadas com a intenção de que as crianças se tornem autônomas e se desenvolvam integralmente. Os cantos e mesas as convidam a passar de uma atividade para outra, despertando a expressão criadora e possibilitando a construção do novo. Elas experimentam todas as oportunidades oferecidas ao concretizar os projetos de trabalho. 11 O momento da Educação Infantil é riquíssimo exatamente porque possibilita a articulação de várias linguagens, das quais a criança se apropria ao usá-las para se expressar e dizer coisas para o mundo. As crianças e professores podem pensar, por exemplo, na preparação e execução de uma peça a ser apresentada para as outras turmas. Neste projeto, o grupo estaria envolvido em escolher uma história ou em criar a sua própria narrativa; pensaria nas roupas que seriam utilizadas, de corte e costura ou feitas de papel, recortando e colando; definiria o cenário e, ao construí-lo, usaria madeira e/ou papelão e papel, desenho e pintura... As crianças teriam de criar uma música ou utilizar uma já conhecida para ser o fundo musical; haveria o momento em que cantariam, usando a linguagem musical com sentido. Quando precisassem se comunicar ou, quem sabe, dançar, usariam a linguagem corporal com sentido. Também utilizariam com sentido a linguagem escrita ao se sentirem mobilizadas em colocar no papel (tendo o professor como escriba) o texto da peça a ser apresentada. A realização de atividades individuais de recorte-colagem, pintura e desenho é significativamente diferente do que as crianças construírem em conjunto um projeto que será planejado, avaliado e utilizado coletivamente. Neste tipo de atividade que mobiliza todas as crianças, e em que cada uma é mobilizada como totalidade, não é apenas o seu aspecto cognitivo que está envolvido. Lidam com sua emoção, com o seu sentimento, com o seu prazer de realizar; são as suas intuições que se materializam na realização do projeto. Quanto mais a Educação Infantil abrir, para a criança, a possibilidade do acesso às diferentes linguagens que estão postas no mundo, mais o seu universo cultural se ampliará. Quanto mais amplo for oseu entendimento do real, menos ameaçada ficará diante da possibilidade do novo. Vivemos numa sociedade letrada; as crianças não fazem parte de uma sociedade ágrafa. A aquisição da língua é, portanto, imprescindível para que elas tenham ampliadas as suas possibilidades de entender e de intervir na realidade. É fundamental que a escola considere que a criança vive num universo de linguagens – gráfica, gestual, plástica, cinestésica, musical, corporal, televisiva, informática etc. A Educação Infantil é o espaço, por excelência, de iniciação nessas linguagens. É imprescindível que a criança desenhe, não para desenvolver “habilidades”, mas para ter acesso à linguagem pictórica; que cante, não simplesmente para ocupar o tempo, e sim para ter acesso à linguagem plástica; que libere seus movimentos para se expressar com todo o seu corpo e para que tenha acesso à linguagem corporal. O que acontece na Educação Infantil não pode ser apenas uma ocupação de tempo e de espaço. Deve ser o uso e o exercício, com sentido, das linguagens que estão postas na sociedade. A teoria vai sendo transformada em prática. Se agora se entende que a criança está em processo de alfabetização/letramento desde que nasce, quando ela chega à escola, ainda que em turmas de Educação Infantil, continua esses processos. A alfabetização/letramento não caminha mais como algo separado, que fica à margem do trabalho realizado na Educação Infantil. O professor, ao escrever no blocão a fala do seu aluno, está “ensinando”, e a criança “aprende” que tudo o que é falado pode ser escrito. Aprende como escrever aquilo que se fala e que é possível ler o que foi escrito. Nesta aprendizagem, outras acontecem: a criança percebe, por exemplo, que os intervalos da fala são diferentes daqueles da escrita, que esta é feita da esquerda para a direita e que, ao chegar ao final da linha, 12 volta-se à esquerda. Mais que isso, neste registro oral, as crianças desenvolvem a capacidade de dizer melhor aquilo que querem expressar. Ampliam o seu vocabulário, porque o que uma não sabe dizer é dito por outra, e a primeira aprende com a segunda; o que nenhuma delas consegue dizer é dito pelo professor, e ambas aprendem com ele. A criança pode dizer o que pensa e é incentivada a fazê-lo. Ela tem voz. Não é apenas a criança que está aprendendo; o professor também aprende sobre a sua prática e sobre o processo de construção dos conhecimentos das crianças. Compreender os avanços das crianças como saltos qualitativos resultantes de um processo de ação e de interação do sujeito com o objeto de conhecimento, mediado pelo social, é significativamente diferente de entendê-los como “estalos” que surgem de repente, como se viessem do “nada”. Hoje, trabalha-se com a certeza de que a criança não é mero receptor de um conhecimento recebido de fora para dentro, e sim um sujeito interativo, produtor de conhecimentos. Um sujeito que constrói conhecimentos permanentemente, nas situações de interação e interlocução que vive dentro e fora da escola. As situações vividas pelas crianças e professores revelam a possibilidade de existência real de uma Educação Infantil que tenha como função básica a garantia de espaços onde a criança construa e se aproprie de novos conhecimentos, aqui e agora; ao contrário de uma Educação Infantil que vise apenas preparar a criança para um aprendizado que se dará num futuro, dificilmente compreendido por ela. A Educação Infantil que é escola construtora de conhecimentos enxerga o aluno enquanto sujeito, como ponto de partida para o trabalho realizado. Tem consciência de que cada descoberta cria possibilidade para novas descobertas, de que cada conhecimento novo capacita para a aquisição de outros, de que cada leitura abre portas para novas leituras. É a possibilidade, a partir da Educação Infantil, da construção de sujeitos históricos que acreditem em sua capacidade de criar, de interferir e de mudar os rumos da história de seu país e, portanto, dos seus próprios destinos. 7. Campos de Experiências Outra etapa da história da Educação Infantil no município de Volta Redonda se deu quando afirmamos nossa prática pedagógica por meio de uma orientação curricular baseada no desenvolvimento dos Campos, adequada à metodologia dos Projetos de Trabalho. Mais uma vez, uma pesquisa de opinião foi elaborada, e os profissionais da Educação Infantil manifestaram-se em relação aos Campos após a operacionalização da orientação curricular nestes últimos anos. Segundo eles, os Campos são norteadores do trabalho pedagógico desenvolvido na Educação Infantil. Além disso, oportunizam a construção do conhecimento do aluno quando são dadas condições para que aconteçam reflexões por meio de ações elaboradas em conjunto no quadro de cognição. Os Campos se inter-relacionam e se completam, tornam possível, por meio da brincadeira, a experimentação e a vivência dos diversos conteúdos e facilitam o fazer do professor a fim de atingir os objetivos propostos de forma prazerosa e criativa. Desenvolver os Campos por meio dos projetos de trabalho tem sido uma forma de acompanhamento e de avaliação, uma vez que os Campos abrangem o desenvolvimento cognitivo dos alunos em sua totalidade. 13 Os Campos constituem-se em um conjunto de áreas que nortearão as práticas educativas necessárias ao exercício da cidadania. Levando-se em conta as complexidades da vida, as diversidades culturais, as práticas educativas que já não atendem mais à sociedade atual, e considerando os anseios dos professores, expressos por meio da pesquisa realizada, optou-se por uma organização curricular fundamentada nas metodologias da pesquisa- ação e do trabalho com projetos. Os Campos, elencados separadamente, relacionam-se entre si, já que não são concebidos como objetos de estudo estanques, como fins em si mesmos. São, portanto, formas de organizar uma gama de conhecimentos que, historicamente, constituíram-se como próprios ao saber infantil institucionalizado. Tendo como foco da Educação Infantil o trabalho globalizado que encara a criança como um todo a ser desafiado em suas potencialidades, cabe ao professor, em cada projeto de trabalho e nas especificidades de cada Campo, buscar temas pertinentes ao desenvolvimento da proposta de trabalho. Portanto, o aprofundamento teórico-prático demandado por cada Campo e seus respectivos temas será imprescindível para o domínio das ações que podem ser suscitadas. Sendo o brincar o meio pelo qual se faz do lúdico o grande impulsionador do desenvolvimento infantil, este documento reforça o “ato de brincar” como prática indispensável na Educação Infantil, que perpassa todos os Campos e favorece a construção do conhecimento de forma prazerosa e criativa. 7.1 O eu, o outro e o nós O campo O eu, o outro e o nós abrange todas as particularidades da sociedade brasileira. Nossa diversidade étnica e cultural compõe as instituições por meio das crianças, dos professores e de toda a comunidade. Por isso, é necessário que a Educação Infantil proporcione um enriquecimento do universo cultural da criança. O desenvolvimento da identidade se processa num conjunto de ações gradativas, que envolve seu nome, a descrição de suas características físicas, suas potencialidades, o reconhecimento de seus limites, modos de agir e pensar e a construção de sua história pessoal, até atingir sua autonomia. O desenvolvimento da identidade e da autonomia está intimamente relacionado com os processos de socialização, que se estendem ao longo da sua trajetória de vida. A identidade se constrói num espaço de socialização, por meio de interações sociais estabelecidas pelas crianças, nas quais reconhecem o outro e percebem suas diferenças. Esse campo é privilegiado, pois traz toda a diversidade humana para as experiências educativas. 7.2 Escuta, fala, pensamento e imaginação As transformaçõesconstantes no mundo e na vida social alcançam valores, hábitos, anseios, enfim, desencadeiam novas necessidades e, em virtude delas, surgem linguagens que incorporam ao nosso cotidiano. 14 Essas linguagens, que ampliam a inserção e a participação das crianças na prática social, aparecem como forma de solução para problemas que persistem na nossa sociedade e que impedem um diálogo adequado à realidade. O quadro contemporâneo de globalização e de acesso à informação proporciona um vínculo estreito entre diferentes culturas, o que permite a disseminação de saberes, artes, tecnologia, entre outros elementos. Nesse contexto cultural multifacetado, a escola possui um papel primordial: estar continuamente em processo de atualização para proporcionar aos alunos contato com as diferentes formas de expressão, a fim de que se estabeleçam relações constantes entre identidades e culturas. Assim, as crianças terão oportunidade de construir um diálogo rico para a sociedade atual e futura, lançando mão de conceitos, valores e conhecimentos relevantes para a humanidade. Vivemos numa sociedade, na qual todos acessam a língua escrita de alguma forma, inclusive as crianças pequenas. Sendo assim, o trabalho pedagógico neste campo é desenvolvido na perspectiva da construção e expressão das diversas linguagens como bens culturais. As práticas com linguagens se configuram por meio da (re)elaboração cognitiva, da inserção das crianças no mundo da cultura escrita e de suas intervenções, a partir de interações sociais, do diálogo, dos diferentes usos e práticas da língua no contexto escolar e sociocultural. O trabalho com a cultura escrita compreende uma prática discursiva de determinado grupo social relacionada à escrita, mas não necessariamente ligada às atividades específicas de ler e escrever. Aliás, muitos estudos sobre letramento têm analisado a oralidade de crianças que ainda não sabem ler nem escrever, mas podem ser consideradas letradas. Elas apresentam estratégias orais de letramento que adquirem nas práticas orais cotidianas com outras crianças e com adultos. Os gêneros textuais são meios de articulação entre as práticas sociais e os objetos escolares, situam as práticas de linguagem e possibilitam a comunicação. Na Educação Infantil, ao ver a professora ler e escrever textos, ao conhecer diversos gêneros textuais, ao produzir textos variados, o aluno torna-se usuário da escrita e fortalece interações que estão presentes desde os seus primeiros anos de vida. Por isso, as crianças precisam de oportunidades criadas por meio de um trabalho lúdico e contextualizado, que as permita ampliar suas vivências. A linguagem escrita surge nesse contexto. É preciso aproximar as crianças da escrita de forma funcional e significativa, garantindo que vivenciem situações diversificadas e que estimulem reflexão sobre a língua, da qual os alunos possuam conhecimentos e vivências. Para a prática pedagógica na Educação Infantil, é fundamental considerar que a escrita é objeto de conhecimento, processo, construção que acontece em situações reais e que precisa estar inserida em práticas sociais. Trata-se de um conceito muito maior que grafar letras. 7.3 Traços, sons, cores e formas As linguagens artísticas são uma forma de expressão e comunicação humana. As artes expressam, comunicam, atribuem sentido a sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por meio do seu complexo organizacional. O desenvolvimento artístico é o resultado de formas complexas de aprendizagem e, portanto, 15 não ocorre automaticamente, à medida que a criança cresce. A arte da criança, desde cedo, sofre influência da cultura. Por isso, devemos ter cuidado com o que lhe oferecemos. Suas práticas artísticas não são destituídas de significação, e sim frutos do que lhe oferecemos. As crianças têm suas próprias impressões, ideias e interpretações sobre a produção de arte e sobre o fazer artístico. Tais construções são elaboradas a partir de suas experiências ao longo da vida, que envolvem a relação com a produção de arte, com o mundo dos objetos e com seu próprio fazer. O fazer artístico deve iniciar-se no momento em que as crianças já tenham condições motoras para manuseio dos diversos materiais artísticos, a serem introduzidos gradativamente. O ato de dramatizar está potencialmente contido em cada um como uma necessidade de compreender e representar uma realidade. Ao observar uma criança em suas primeiras manifestações dramatizadas, como por exemplo, o jogo simbólico, percebe-se que procura organizar seu conhecimento do mundo de forma integradora. A dramatização acompanha o desenvolvimento da criança como uma manifestação espontânea, assumindo feições e funções diversas, sem perder jamais o caráter de interação e de promoção de equilíbrio entre ela e o seu meio. A música é uma outra linguagem, que se traduz em formas sonoras organizadas em um relacionamento expressivo entre som e silêncio e capazes de expressar e de comunicar sensações, sentimentos e pensamentos. A música está presente em todas as culturas, nas mais diversas situações: festas e comemorações, rituais religiosos, manifestações cívicas, políticas e brincadeiras. O trabalho com a música deve priorizar as criações, tanto no que tange ao movimento como à parte sonora. Os gestos corporais devem ser criados, em vez de trabalhados de forma mecânica e estereotipada. As atividades que utilizam instrumentos devem proporcionar criação, e não priorizar aspectos imitáveis ou mecânicos. Os instrumentos utilizados ou confeccionados devem ser adequados, respeitando-se a sua qualidade sonora. Letras muito complexas e excesso de gestos ao cantar prejudicam a integração natural entre a expressão musical e a corporal. A simples discriminação entre sons graves e agudos, curtos e longos, fracos e fortes, em situações descontextualizadas do ponto de vista musical, pouco acrescenta à experiência das crianças. A música não pode ser tratada como se fosse um produto acabado destinado à mera reprodução. Trata-se de uma linguagem que permite a construção de conhecimento e também um meio de expressão e forma de conhecimento acessíveis aos bebês e às crianças, inclusive àquelas que apresentam necessidades educativas especiais. Aprender música significa integrar experiências que envolvem a vivência, a percepção e a reflexão, encaminhado-as a níveis cada vez mais elaborados. A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima e do autoconhecimento, além de poderoso recurso de integração social. O trabalho com música deverá respeitar o nível de percepção e desenvolvimento (musical e global) das crianças em cada fase, bem como as diferenças socioculturais entre os grupos de crianças das muitas regiões do país. 16 7.4 Corpo, gestos e movimentos Desde o berço, as crianças devem ser estimuladas a se movimentar, não com movimentos vazios de sentido, mas de maneira a envolver interação corporal e social. Todos os movimentos devem ser estimulados, desde os mais simples, como o fato de franzir sobrancelhas, ao mais complexo, como o ato de preensão. O bebê investiga os efeitos dos próprios gestos e movimentos sobre os objetos e essas ações exploratórias ajudam na construção da consciência corporal. No berçário, esse cuidado deve ser reforçado, uma vez que a criança ainda não domina todas as partes do corpo. A primeira função do ato motor está ligada à expressão, permitindo que desejos, estados íntimos e necessidades se manifestem numa dimensão subjetiva. Por isso, o adulto responsável pela criança deve descobrir os significados desses movimentos. É somente aos poucos que se desenvolve a dimensão objetiva do movimento que corresponde às competências instrumentais para agir sobre o espaço e o meio físico. A organização dos temas para o trabalho com movimentodeverá respeitar as diferentes capacidades das crianças em cada faixa etária, bem como as diversas culturas corporais presentes nas muitas regiões do país e classes sociais. Este Campo deverá priorizar o desenvolvimento das capacidades expressivas e instrumentais do movimento, organizadas num processo contínuo e integrado que envolva múltiplas expressões corporais. O professor deve ter o cuidado de proporcionar as primeiras situações competitivas, de forma saudável, ajudando as crianças a lidar com seus limites e sempre valorizando o seu esforço. 7.5 Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações No cotidiano, surgem várias situações em que a criança é obrigada a criar recursos para atender às suas necessidades e para resolver seus problemas. Essas experiências contribuem para a formação e para a elaboração de conhecimentos matemáticos, que fazem parte da vida da criança desde muito cedo. Construir conhecimentos matemáticos é estabelecer relações, seja com objetos ou com o outro, e não apenas executar instruções pré-estabelecidas. As ações exercidas no contexto escolar contribuem para a estruturação do pensamento, para a organização de ideias, para a criação de caminhos e para o domínio das experiências vividas pela criança. O trabalho desenvolvido na Educação Infantil atende às necessidades próprias e sociais da criança, que constrói o conhecimento de forma a elevar o domínio do pensamento e a instrumentalizar-se na linguagem matemática, o que contribui para a sua inserção num mundo de grandes exigências, em que certas habilidades se fazem necessárias. Considerando os quatro blocos de construção, citados no RCNEI como pilares na área da matemática, os mesmos foram incorporados neste campo com o intuito de nortear o planejamento promovendo experiências nas quais as crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e 17 explorar seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas à suas curiosidades e indagações. 7.6 Ambiente e tecnologia Vivemos num mundo estimulante e, desde cedo, as crianças aprendem a agir sobre ele, momento em que acontecem interações, de diferentes maneiras e em cada etapa do desenvolvimento infantil. Diante da realidade natural em que nos encontramos, conscientizações se fazem necessárias. As ações desenvolvidas nesse campo devem ampliar as experiências das crianças e proporcionar a construção de conhecimentos diversificados sobre o meio social e natural. Ao mesmo tempo em que a preservação se faz necessária, com o objetivo de amparar as diversas espécies e a sobrevivência do planeta, ações evolutivas afloram a fim de atender aos anseios humanos. Essa busca constante por melhores condições de vida desencadeou desenvolvimentos extraordinários num curto espaço de tempo. O desenvolvimento tecnológico trouxe para a sociedade contemporânea muitas transformações e benefícios, e utilizamos os recursos tecnológicos em larga escala. Dentre eles, destaca-se o sistema de telecomunicações, que gera novas formas de produzir conhecimento. Quando o homem se esforça para dominar, em seu proveito, o ambiente natural, podemos dizer que houve progresso tecnológico. Os resultados desse progresso estão presentes no nosso dia a dia e, muitas vezes, não refletimos sobre isso. As mudanças geram transformações na consciência humana, na percepção do mundo, nos valores e nas formas de atuação social. Este campo reúne ideias integradas, ao mesmo tempo em que são respeitadas suas especificidades. (CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS: Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento) 18 8. Parte Diversificada 8.1 Língua Inglesa É na primeira etapa da Educação Básica, em especial, Educação Infantil, que a criança entra em contato com o ambiente escolar, espaço que contribui para inúmeras aprendizagens. Vivemos num mundo plurilíngue e multicultural, onde a inserção dos sujeitos no mundo globalizado favorece as interações nas sociedades contemporâneas. Sendo a infância o momento propício para aprendizagens, quando as crianças se encontram em pleno desenvolvimento e plasticidade cerebral, propõe- se a Língua Inglesa para crianças de quatro e cinco anos na rede municipal de Volta Redonda, levando-se em consideração a Orientação Curricular da Educação Infantil, pois a Língua Inglesa está, cada vez mais, presente em nosso cotidiano. Desde cedo, as crianças têm contato com as palavras presentes em jogos, desenhos, séries, brinquedos, vídeos e conteúdos voltados ao público infantil, ou seja, elas chegam à escola com conhecimento prévio do idioma. Tal ensino, na Educação Infantil, é ministrado por docentes concursados, como ocorre no Ensino Fundamental, com a realização de efetivo trabalho junto às crianças; priorizando o foco da função social e política do inglês e, nesse sentido, passa a tratá-la em seu status de língua franca. Nessa perspectiva, são acolhidos e legitimados os usos que dela fazem falantes espalhados no mundo inteiro, com diferentes repertórios linguísticos e culturais. O tratamento do inglês como língua franca o desvincula da noção de pertencimento a um determinado território e, consequentemente, a culturas típicas de comunidades específicas, legitimando os usos da língua inglesa em seus contextos locais. Esse entendimento favorece uma educação linguística voltada para a interculturalidade, isto é, para o reconhecimento e respeito às diferenças, e para a compreensão de como elas são produzidas nas diversas práticas de linguagem, o que favorece a reflexão crítica sobre diferentes modos de ver e de analisar o mundo, os outros e a si mesmo. A proposta de trabalho da Língua Inglesa com crianças pequenas é desenvolvida a partir de um vocabulário construído com palavras que levam em conta temas do interesse delas, com atividades que proporcionam a verbalização de palavras em inglês, essas desenvolvidas com ludicidade, visto a importância de se primar por um planejamento que leva em consideração o eixo estruturante da Educação Infantil “Interações e a brincadeira” e os Direitos de Aprendizagem. A partir de brincadeiras, jogos, músicas, histórias, imagens reais e diferentes estímulos, as palavras novas do idioma são introduzidas, e assim a criança aprende, brincando, em situações contextualizadas e significativas, levando-a a se comunicar e interagir com os seus pares e adultos, de modo a usar o inglês em momentos variados. A língua materna entra como facilitadora do diálogo, e a língua inglesa é introduzida naturalmente, entre as frases, para nomear objetos, frutas, animais, comandos, brinquedos, cores, cumprimentos, dentre outros. Gradativamente, as crianças começam a inserir as palavras aprendidas no cotidiano escolar e ambiente familiar. 19 8.2 Informática Partindo de uma reflexão sobre a quinta competência geral da BNCC, que indica “Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva”; compreende-se que seja necessário planejar propostas de desenvolvimento de habilidades que utilizem novas tecnologias, com novas linguagens e modos de interação, de forma ética, crítica e responsável desde a educação infantil. Assim, a Câmara de Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional de Educação (CNE) elaborou e disponibilizou, em maio de 2022, o Caderno da Computação (complemento à BNCC) que indica para a pré- escola (segunda fase da Educação Infantil), três eixos norteadores com seus respectivos objetivos de aprendizagem. Os eixos são assim nomeados: pensamento computacional; mundo digital e cultura digital. Narede municipal de ensino de Volta Redonda, o trabalho pedagógico nessa área computacional se desenvolve no currículo, de forma transdisciplinar, ensinando as crianças, primeiramente, os conceitos básicos de segurança e cidadania digital para que elas possam explorar o mundo on-line com confiança (projeto Seja incrível na internet). Na sequência, nos voltamos para os eixos indicados no caderno da computação seguido dos seus objetivos de aprendizagem conforme indica o caderno da computação/ complemento à BNCC. Baseados no Art. 26 da LDB (Lei nº 9394/96), os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013). Amparados neste artigo, complementamos as orientações emanadas pela CEB com objetivos de aprendizagem desta área de conhecimento mais específicos, visto que eles já vêm sendo desenvolvidos pelos profissionais desta frente de trabalho desde 1995/1996, elencados e desenvolvidos ao longo de alguns anos de trabalho nas aulas de informática, com o intuito de atender as peculiaridades locais, complementando as ações indicadas pelo caderno da computação/BNCC. A utilização dessas tecnologias digitais de informação e comunicação na educação das crianças, desde a mais tenra idade, contribui para o exercício da cidadania, além de ampliar as possibilidades de interação, abrindo novos percursos de construção de conhecimentos e de continuidade nos estudos. Também amplia a visão sobre os multiletramentos, concebida nas práticas sociais do mundo digital, proporcionando às crianças uma participação atuante desta nova forma de interagir, em uma sociedade cada vez mais fluente na linguagem digital. Assim, vislumbramos propor situações nas quais as crianças ampliem suas experiências conectadas com as vivências do contexto na qual ela está inserida. Não podemos esquecer que, quando adultos, utilizarão essa tecnologia como fonte de inclusão social, agregando valor a sua cidadania, ampliando as possibilidades de acesso à informação, além de aumentar o potencial do cidadão em consumir, emitir e receber novos saberes. 20 Considerando todas as orientações recebidas, a escola precisa ser um espaço qualificado para essa revolução social, digital e inclusiva. A maioria das crianças têm contato com a tecnologia desde o nascimento, pois a cultura digital está presente nos celulares, câmeras fotográficas, computadores e televisores, entre outros. Ao ver as pessoas a sua volta utilizando-a, constroem significado e desejo de utilizá-la. Assim, as instituições de Educação Infantil deverão levar em consideração as tecnologias presentes no cotidiano das crianças, considerando-as como sujeitos ativos, produtores de cultura, historicamente situados. As tecnologias estão inseridas em todos os espaços socioculturais, por isso é fundamental que a comunidade educativa esteja preparada para lidar e acompanhar as constantes mudanças neste universo midiático. COMPONENTES CURRICULARES PARA AS AULAS DE INFORMÁTICA: • Desenvolver as reflexões indicadas para as aulas do projeto Seja Incrível na internet. • Caderno da computação/ complemento à BNCC: Eixo - Pensamento Computacional - (EI03CO01) – Reconhecer padrão de repetição em sequência de sons, movimentos e desenhos. - (EI03CO02) – Expressar as etapas para a realização de uma tarefa de forma clara e ordenada. - (EI03CO03) – Experienciar a execução de algoritmos, brincando com objetos (des) plugados. - (EI03CO04) – Criar e representar algoritmos para resolver problemas. - (EI03CO05) – Comparar soluções algorítmicas para resolver um mesmo problema. - (EI03CO06) – Compreender decisões em dois estados (verdadeiro ou falso). Eixo - Mundo digital - (EI03CO07) – Reconhecer dispositivos eletrônicos (e não-eletrônicos), identificando quando estão ligados ou desligados (abertos ou fechados). - (EI03CO08) – Compreender o conceito de interfaces para comunicação com objetos (des) plugados. - (EI03CO09) – Identificar dispositivos computacionais e as diferentes formas de interação. Eixo - Cultura digital - (EI03CO10) – Utilizar tecnologia digital de maneira segura, consciente e respeitosa. - (EI03CO11) – Adotar hábitos saudáveis de uso de artefatos computacionais, seguindo recomendações de órgãos de saúde competentes. • Conteúdos específicos elencados pelo município: - (EI03CO12VR) - Desenvolver, progressivamente, habilidades ao experimentar situações de jogo, como o Jclic – um jogo de autoria, e por meio de aplicativos, como o GCompris. - (EI03CO13VR) - Conhecer e desenvolver atividades relacionadas a rádio, jornal, vídeo etc. - (EI03CO14VR) - Conhecer e realizar os jogos de Consciência Silábica elaborados a partir do desenvolvimento dos jogos de Consciência Fonológica. - (EI03CO15VR) - Iniciar noções básicos de Robótica nas seguintes temáticas: energia e movimento, corpo, ar, água, elétrica e bateria. 21 9. Avaliação A avaliação na Educação Infantil se constitui num conjunto de procedimentos que norteiam o fazer pedagógico do professor: portfólio particular, tanto de aprendizagem, quanto demonstrativo. O portfólio de avaliação, ferramenta utilizada pelos professores, oportuniza a construção de um conjunto de dados que expressam avanços, mudanças conceituais, novas formas de pensar, e permitem descobrir os caminhos percorridos pelo educando. Ele favorece uma apreciação, a longo prazo, da aprendizagem e do desenvolvimento do educando; possibilita o acompanhamento progressivo e contínuo do aluno na aquisição do saber; torna possível identificar dificuldades, quando existem; configura-se em um excelente instrumento de autoavaliação do professor e do aluno. Em síntese, os portfólios referem-se à organização de uma coletânea de registros do desenvolvimento da aprendizagem da criança que auxiliam o professor, os alunos e a família a construírem uma visão evolutiva do processo de ensino-aprendizagem. 9.1 A organização de portfólios como instrumento de avaliação da trajetória de aprendizagem A avaliação na Educação Infantil é uma das questões mais complexas para os professores. Por esta razão, tem sido tema de muitas reflexões dos especialistas. Novos conceitos foram construídos, novas práticas foram desenvolvidas, no entanto, continua sendo fundamental aprofundar esse debate, pois avaliar implica avaliar-se, rever conceitos, fazer escolhas e tomar decisões. É importante ressaltar que a avaliação não é um instrumento para medir o quanto a criança aprendeu, tampouco uma forma de julgar, reprovar ou aprovar uma criança. A avaliação que, de fato, contribui para o crescimento da criança e para o trabalho do professor tem o caráter de mediadora e acolhedora. É ela que possibilitará o acompanhamento da criança em todos os momentos vividos na Educação Infantil, contribuindo com seu avanço na ampliação do conhecimento de si e do mundo. Acompanhar o desenvolvimento da criança ajuda o professor a rever e aprimorar seu trabalho. Neste sentido, avaliar a criança leva também a avaliar a sua própria ação pedagógica e, inclusive, a instituição na qual está inserido. Afinal, avaliar é o movimento de pensar tudo o que envolve a prática e buscar caminhos para torná-la cada vez mais coerente e mais contextualizada. Segundo os autores Shores e Grace (2001), “os portfólios são definidos como uma coleção de itens que revela, conforme o tempo passa, os diferentes aspectos do crescimento e do desenvolvimento de cada criança”. Os portfólios são uma forma de registrar as experiências vividas pelo grupo e pelas crianças ao longo do desenvolvimento dos projetos de trabalho e das demais atividades. Este recurso tem se mostradointeressante porque reúne as diferentes produções das crianças durante diferentes momentos, não só escritos, como também desenhos, fotos etc. Vale destacar que o portfólio dá visibilidade à produção dos alunos, contribui para que se sintam valorizados, bem como permite que eles se defrontem com a trajetória vivida e possam resgatar o que já foi construído. Enfim, constitui-se num instrumento de troca, partilha, comunicação e memória, além de favorecer a experiência de conviver e de trocar na sala de aula. Pode, ainda, ser um interessante instrumento 22 de parceria com as famílias, que podem tanto acompanhar o trabalho do grupo por meio do que foi ali registrado e coletado, quanto podem se envolver na sua elaboração ou avaliação. 9.2 Tipos de portfólio Segundo Shores e Grace (2001), existem três tipos de portfólio: Portfólio Particular: são anotações específicas da criança, tais como históricos médicos, ficha cumulativa, anotações específicas da criança, registros de conversas entre os professores e as famílias, a Caderneta da Criança, relatos narrativos, enfim, informações importantes que muitas vezes são confidenciais. Portfólio de Aprendizagem: são as anotações da criança e do professor, as produções das crianças, amostras de seus trabalhos, observações acerca dos projetos de trabalho, relatos de aprendizagem, relatórios, enfim, o acervo de trabalhos realizados pela criança. Portfólio Demonstrativo: são os relatórios compilados do terceiro trimestre, trabalhos significativos, relato de experiência, entre outros, por meio do qual a futura escola poderá ter uma visão global da criança e acompanhar o seu desenvolvimento para que possa dar continuidade ao processo de aprendizagem. 9.3 O portfólio de aprendizagem como instrumento de avaliação Por que devemos privilegiar um acompanhamento atento das ações do aluno? Existe uma diferença expressiva entre um filme e uma fotografia. O primeiro é dinâmico, se altera a cada quadro; a fotografia é estática, o registro de um instante. Toda avaliação é estática, pois capta o desempenho do aluno em um momento específico; é, portanto, instantânea. A aprendizagem, contudo, é construtiva, possui uma dinâmica e significados que estão em permanente ebulição e transformação. Sobretudo com alunos mais novos, muitas vezes a aprendizagem significativa se manifesta algum tempo depois da atividade que a suscitou. Essas referências são importantes para refletir que avaliações baseadas na captação de um instantâneo são de baixíssima confiabilidade e é necessário somar a elas outras avaliações, que compreendam o dinamismo que a construção de significados envolve. Nesse sentido, o professor deve estar atento a toda manifestação de aprender do aluno, captando amostras expressivas de seu desenvolvimento. 9.4 O que levar em conta ao selecionar o material para compor o portfólio de aprendizagem? A avaliação brasileira sempre primou por valores máximos, mas o que se propõe agora é a construção de um sistema que possa privilegiar valores ótimos. É importante que todos façam o melhor possível, e que esse parâmetro valha apenas em relação às suas potencialidades, e não às dos demais. Avaliar por critérios máximos, em síntese, é como esticar uma corda a determinada altura e solicitar que todos saltem sobre ela, ignorando a existência de expressivas diferenças pessoais. Quando se preconiza que o professor deve construir em sala de aula uma aprendizagem significativa, é importante saber que esta nunca é “oito ou oitenta”, “tudo ou nada”, mas, ao contrário, um procedimento que alcança pessoas diferentes em níveis 23 diferentes. Cabe, assim, ao professor, descobrir o grau de significatividade da aprendizagem realizada por este e por aquele aluno, proporcionar atividades que possam ser desenvolvidas em diferentes graus e acreditar que alunos que alcançam níveis diferentes na realização dessas tarefas podem ser iguais ao construírem o melhor possível de si (de cada um). “Ensinar” algo significa variar bastante e com frequência os contextos em que a aprendizagem é realizada, para que os significados que o aluno constrói jamais fiquem vinculados a apenas um contexto. Em decorrência, “avaliar” a aprendizagem significa valer-se de uma grande diversidade de atividades que coloquem o conteúdo que se quer ver apreendido em diferentes contextos particulares. Não podemos esquecer que os CAMPOS são contextualizados nos projetos de trabalho e que refletem atividades significativas. Estas, registradas e/ou arquivadas nos portfólios, oportunizam visualizar os CAMPOS contemplados nos projetos de trabalho ao longo do trimestre. 24 10. Bibliografia ABRAMOVICH, Fanny. LITERATURA INFANTIL. Gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997. ADAMS, Marilyn Jader (et al.). CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA: em crianças pequenas. Porto Alegre: Artmed, 2006. ALMEIDA, Elizabeth Crepaldi de. e Duarte, Patrícia Moreira. CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA: Atividades Práticas. Rio de Janeiro: Livraria e Editora Revinter, 2003. BRASIL. Ministério da Educação. CNE. Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para Educação Infantil e Ensino Fundamental. Homologada no dia 20 de dezembro de 2017. BONDIOLI, Anna & MANTOVANI, Susanna. MANUAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL: de 0 a 3 anos. Porto Alegre: Artmed, 1998. DEHEINZELIN, Monique. A FOME COM A VONTADE DE COMER. Rio de Janeiro: Vozes, 1994. 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