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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3 2 PERSPECTIVAS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA: EXPERIÊNCIAS ESCOLARES .......................................................................................................... 4 2.1 A experiência de Reggio Emilia .................................................... 4 2.2 Histórico da Construção da Linguagem No Brasil ......................... 9 2.3 Espaço da educação infantil: ambiente de aprendizagem e cultura ......................................................................................................18 2.4 O papel do professor na construção da linguagem, da escrita e da cultura....................... ......................................................................................... 27 3 CARATERÍSTICAS DE UM ESPAÇO COMO ARTE: O ATELIER EM CRIATIVIDADE, LIBERDADE E EXPRESSÃO..................................................... 34 4 REFERÊNCIAS ................................................................................. 41 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 PERSPECTIVAS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA: EXPERIÊNCIAS ESCOLARES As práticas pedagógicas não diretivas colocam o aluno no centro do processo de aprendizagem. Para que isso seja possível, a ação docente parte do respeito à individualidade de cada estudante. A Escola da Ponte, em Portugal, e as escolas Reggio Emilia e Summerhill, respectivamente na Itália e na Inglaterra, desenvolvem práticas não diretivas bem-sucedidas (CORRÊA, 2019). 2.1 A experiência de Reggio Emilia A integração entre a arquitetura e a educação sintetiza a experiência de Reggio Emilia. Com origem na cidade de mesmo nome, ao norte da Itália, as escolas baseadas nessa experiência educativa são resultado de um pacto pela educação realizado entre famílias, educadores e educandos após a Segunda Guerra Mundial. Tal pacto tinha como objetivo formar cidadãos críticos, autônomos e reflexivos, que pudessem resistir ao fascismo (movimento político ditatorial que, na Itália, esteve associado à figura de Benito Mussolini). Idealizadas pelo educador italiano Loris Malaguzzi (1920–1994), as escolas Reggio Emilia têm como fundamento teórico e metodológico a pedagogia da escuta (ou “pedagogia dos sentidos”). Influenciada pelas teorias pedagógicas progressistas que estavam em evidência na década de 1950, a pedagogia da escuta é um arquétipo educacional que se volta ao desenvolvimento intelectual, emocional e moral das crianças, colocando-as como protagonistas do processo educativo. A partir dos achados de Piaget, Vygotsky, Dewey e Montessori, Malaguzzi defende o respeito à criança e às suas inúmeras possibilidades de ver o mundo. 5 Saiba mais! As teorias pedagógicas progressistas partem da análise crítica das realidades sociais e as consideram no processo educativo das crianças (LIBÂNEO, 1990). Para saber mais, leia a obra Fundamentos da educação infantil: ensinando crianças em uma sociedade diversificada, de Gonzalez-Mena (2015). A pedagogia da escuta vê a criança como sujeito criativo e com inúmeros potenciais. É o que você pode constatar neste trecho: ...] as crianças nascem com muitos recursos e potenciais extraordinários, que nunca deixam de nos impressionar. Elas têm capacidades autônomas para construir seus próprios pensamentos, perguntas e tentativas de respostas. Portanto, as escolas têm uma nova tarefa: em vez de “cuidar de crianças”, elas têm de se abrir à observação, à pesquisa e à experimentação por parte de professores que, juntamente com as próprias crianças, participam da construção de uma nova cultura de educação (Comunicação pessoal apud GANDINI, 2019, documento on-line). Ao compreender os potenciais das crianças, a pedagogia da escuta respeita as diferentes formas de elas pensarem, se relacionarem e se expressarem, valorizando as suas individualidades. Aos educadores, cabe viabilizar a experimentação por meio de entrevistas, pesquisas, observação e discussão, priorizando a linguagem gráfica como ferramenta de aprendizagem. Martins (2016) entende os educadores como mediadores e interlocutores. Eles são os responsáveis por criar situações de aprendizagem em que as crianças se posicionem ativamente, por meio de metodologias que estimulem a investigação, as experiências e as descobertas (Figura 1). 6 A arte é um componente de destaque na experiência de Reggio Emilia. A linguagem gráfica é encarada como um dos principais meios de oportunizar a experimentação, estimulando as descobertas sensoriais e levando as crianças a construir o seu conhecimento. A arte também é valorizada por viabilizar que as crianças se expressem por meio de diferentes linguagens: pictóricas, gráficas, de manipulação e corporais (CORRÊA, 2019). Para tanto, as escolas que seguem a pedagogia da escuta contam com uma espécie de laboratório laboral, que na experiência de Reggio Emilia recebe o nome de “ateliê”. Assim, além dos educadores, as escolas contam com um atelierista, profissional que tem o papel de instigar a competência estética das crianças(CORRÊA, 2019). Veja: A opção de Loris Malaguzzi, no final da década de 1960, por introduzir um ateliê em cada pré-escola e, posteriormente, em todas as creches, coordenado por uma pessoa com formação em artes, foi e continua a ser mais revolucionária do que parece, visto que trouxe uma nova maneira de enxergar escolas e processos de aprendizagem, em comparação com os 7 hábitos da tradição pedagógica exigidos das escolas e da própria pedagogia (VECCHI, 2019, documento on-line). Com a incorporação do ateliê na concepção da escola e de seu projeto pedagógico, foi possível observar as diferentes formas de expressão que as crianças utilizam. A partir disso, Malaguzzi concebeu o que ele denominou “as cem linguagens”. Tais linguagens de expressão mobilizam sete ações principais, que são sintetizadas por Filippini e Vecchi (1987 apud GANDINI, 2019) da seguinte forma: 1. reconhecer que a espécie humana pode se expressar por meio de uma pluralidade de linguagens, além da falada; 2. compreender que todas as linguagens têm o direito de se realizar plenamente e que, no processo, tornam-se parte de outras linguagens, que também as enriquecem; 3. entender que todas as linguagens expressivas, cognitivas e comunicativas que se formam por reciprocidade nascem e se desenvolvem por meio da experiência; 4. reconhecer que uma criança é construtora e coautora dessas linguagens e participa de suas variações históricas e culturais; 5. entender que todas as linguagens que já coexistem na mente e na atividade da criança têm a capacidade de sergenerativas em relação a outras linguagens, outras ações e outros potenciais, que, por sua vez, são generativos; 6. apoiar as crianças, reconhecendo que todas essas linguagens precisam ser consideradas igualmente dignas e valiosas; 7. questionar que tipo de apoio e entendimento essas proposições podem receber na abordagem cultural e educacional em relação à aprendizagem das crianças. Saiba mais! 8 No livro O papel do ateliê na educação infantil: a inspiração de Reggio Emilia, de Gandini et al. (2019), você encontra uma conversa entre educadores, artistas, crianças, famílias e suas comunidades sobre a inclusão do ateliê na concepção pedagógica das escolas Além da valorização da arte, a experiência de Reggio Emilia tem outras características principais. A seguir, veja quais são elas. Desenvolvimento integral: as crianças são compreendidas em sua integralidade, de forma que a visão adulta de mundo não é imposta a elas. Os educadores instigam as crianças a realizar diferentes tarefas e projetos (que são escolhidos coletivamente) e as incentivam a atuar de forma participativa nas pesquisas e debates. Importância dos pais: os pais participam ativamente da experiência de Reggio Emilia, seja nas reuniões pedagógicas — nas quais são apresentados os relatos do desenvolvimento das crianças —, seja na apresentação e no desenvolvimento dos projetos. Sua tarefa é também de escuta e reconhecimento das potencialidades das crianças. Espaços adaptados: são pensados de forma a proporcionar o compartilhamento e a convivência. As salas são amplas e interligadas entre si, além de possuírem áreas externas verdes. O mobiliário é projetado na altura das crianças para desenvolver a sua autonomia. Os espaços são conectados entre si por paredes de vidro, e não de alvenaria. Os materiais são dispostos de forma acessível para instigar a curiosidade e a criatividade, bem como para garantir a liberdade de manifestação. Documentação educativa: os docentes documentam todo o processo de aprendizagem das crianças por meio de registros fotográficos, filmagens, áudios e anotações. Esses documentos, além de embasar as reuniões com os pais, servem para a discussão permanente a respeito da prática pedagógica, tanto para a reflexão sobre a ação docente quanto para o planejamento de novas atividades (CORRÊA, 2019). 9 2.2 Histórico da Construção da Linguagem No Brasil A criança também precisa ser considerada como um indivíduo histórico e social que está incluso em uma situação familiar e em uma sociedade, assim sendo, participante de cultura e profundamente influenciada pelo ambiente (sendo por ele produzido, por meio das interações que constitui com outros sujeitos e pela troca entre seus pares). https://www.radiouniversitariafm.com.br Ao decorrer dos anos, a compreensão de ensino para as crianças é alvo de numerosos debates e estudos são produzidos em relação ao seu processo de desenvolvimento. Por tanto tempo o sentimento de infância não era entendido na sociedade e a criança era estimada como um adulto inacabado. Em torno do século VII, na Idade Média, a mesma ainda era vista pela população sem qualquer função para sociedade antes do trabalho. Portanto, as crianças pobres, conforme desenvolviam, eram destinadas para o trabalho, sem distinção entre maior ou menor 10 idade e apenas nobres recebiam instruções e ensinamentos para sua vida adulta. No século XII, não sentiam a necessidade de uma instituição de ensino para proporcionar instrução a crianças e adolescentes, um lugar responsável para instruir saberes e conhecimentos. Apenas no Renascimento Italiano, no século XV, acontece o primeiro incentivo para infância, identificando a criança como, segundo Passetti, [...] um ser inacabado, vista como um corpo que precisa de outros corpos para sobreviver, desde a satisfação de suas necessidades mais elementares, como alimentar-se. Os primeiros anos de vida são para ela, o tempo das aprendizagens do meio que a cerca. Brinca com outras crianças da sua mesma idade e até maiores do que ela; arrisca-se em busca de saberes que lhe poderão ser úteis para viver em comunidade (S/a. p. 1-2). Tudo sugere que a ótica em relação a criança estava fundamenta na forma de viver do adulto e o sentimento de um ser desprotegido e frágil não era verificado: apenas o fato de serem menores distinguia ambos. A visão da sociedade sobre a criança como um ser incompleto foi sendo incorporada à medida em que o vínculo afetivo do adulto passa a limitar critérios pertinentes sobre o conceito infantil. A natureza da infância foi se revigorando de maneira histórica dentro de muitas mudanças advindas no âmbito familiar e social. No entanto, o começo dessas mudanças no Brasil vem de forma vagarosa. A idealização do conceito de criança como um ser inacabado e indefeso foi desenvolvida gradualmente, colocando-a na condição de imatura, distinto do homem totalmente desenvolvido. A configuração do modelo vigente de educação para infância é algo bem contemporânea e a escola atual surge com uma identidade assistencialista e protetora, sendo avaliada responsável por educar e cuidar de crianças. O modelo presente na educação para infância é o que conduz diversos saberes sem conexão com sua cultura e/ou realidade, dando-se como um ambiente formal para as práticas instrutivas e conteudistas. 11 A criança é marcada por auxílios e contradições que extrapolam a área legal das tradições culturais, embora a infância seja um campo abrangente para indagações e estudos. Os autores Sarmento & Pinto (1997, p.11), ao debaterem as compreensões de infância e criança, afirmam que as crianças existiram desde sempre, desde o primeiro ser humano, e a infância como construção social – a propósito da qual se construiu um conjunto de representações sociais e de crenças e para qual se estruturaram dispositivos de socialização e controle que a instituíram como categoria social própria – existe desde os séculos XVII e XVIII [...] As compreensões edificadas historicamente sobre a infância eram fundamentadas na perspectiva do adulto, camuflando a realidade cultura e social das crianças. O interesse histórico pela infância foi surgindo socialmente. A criança veio a ser estimada como um ser frágil, que precisava de cuidados e necessitava ser instruído e ensinado. Competia as famílias o compromisso para a sua socialização e treino para vida adulta. Ao decorrer da história aconteceram amplas modificações no modo de vida e a criança passou a ser centro de interesse. Conforme afirma Vygotsky (1991, p.101), A história do desenvolvimento do indivíduo nasce, do entrelaçamento das linhas das funções psicológicas elementares, de origem biológica e das funções psicológicas superiores, que são geneticamente socioistóricas. A aprendizagem tem a função de impulsionar os “vários processos internos de desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando a criança interage com pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com seus companheiros. 12 O sentimento de infância procura dar significado aos processos de ensino – aprendizagem da criança. Teve mudanças na área da educação, inserção no contexto social. Segundo Rinaldi (2012, p.25) “a criança é reconhecida como um ser potente, capaz, construtor de perguntas, significados e teorias, sendo protagonista da construção do conhecimento e do processo educativo”. Nesse sentido, pensar a educação para a infância exige uma abertura à complexidade. O descobrimento da infância vem acompanhado dos primeiros passos de uma sociedade que estaria peregrinando para se tornar tutora de uma criança que, agora, era entendida como frágil, porque seus valores permaneceriam relacionados com sua evolução intelectual. No transcorrer dos séculos ocorre o despertar sobre acriança, que advém a ser vista como um ser humano incompleto. Nas condições da época, a educação escolar era somente de técnicas para aprender como fazer e ainda nesse tempo, observava-se a necessidade de um espaço para ensino, uma educação formal, para instrução de conhecimentos, como dispomos atualmente nas escolas. As modificações sociais e históricas compostas pelas variações presentes em nossa sociedade aflora a imagem de infância seguida do capitalismo urbano e industrial, à medida que mudam o modo de vida e o papel social da criança vai adquirindo espaço, tornando-se objeto de interesse no interior dos processos e modificações vigentes, no qual o pensamento de pequenez vai tornando-se alvo .As primeiras instituições destinadas à educação calham a existir como os primeiros espaços de ensino, objetivando a transmissão de conhecimentos julgados precisos para formação do sujeito como preparo para o trabalho. Conforme apontam Moreira e Vasconcelos (2003, p.171),” [...] a escola tornou-se uma instituição básica na sociedade, quando a infância passou a ser vista como fase dotada de diferença, a ser institucionalizada, separada do restante da sociedade e submetida a um regime disciplinar cada vez mais severo”. A cidade de Reggio Emilia, situada no norte da Itália, na Década de 1990, torna-se conhecida mundialmente quando observadores norte-americanos propagam a abordagem italiana como padrão em educação para a primeira infância. 13 Sugerem experiências significativas e simbólicas tanto para quem dirige o conhecimento quanto para quem o recebe. As crianças pequenas ocorrem a ser ouvidas e podem se explorar e expressar seus desejos, sentimentos, entendimentos e desapontamentos verbalmente, visualmente e pela encenação dramática, como também a encorajar a fazer isso. A abordagem procura dar significado a uma prática de aprendizagem significativa, e essa compreensão é bem atual e tem sido discutida por muitos educadores com posicionamentos divergentes a esta ação educativa. Esse novo conceito de ensinamento e aprendizagem foi intitulado de Pedagogia da Escuta, que focaliza na escuta da criança pequena, buscando compreender a criança em sua totalidade. Aprecia a direção para explorar as múltiplas maneiras de ouvi-las, usando mecanismos externos e internos, e as complicações, tanto igualitárias quanto político. Tal metodologia apresenta um entrosamento mais profundo sobre a escuta como uma cultura e como uma abordagem. Influenciado pelo trabalho desenvolvido por Malaguzzi, nasce um novo modelo de espaço escolar para crianças pequenas, sem quaisquer sentimentos discriminatórios e assistencialistas, em que foi possível observar a descoberta de uma identidade cultural da criança desde a tenra idade. Este modelo de ensino se emprega na infância com princípios de respeito, compromisso e atuação da comunidade escolar tornando-se um modelo enriquecedor para muitos profissionais de educação no Brasil e no mundo. A exploração e a descoberta em um ambiente enriquecedor e seguro estão entre as colunas do programa educacional, que privilegia o desenvolvimento da criatividade e é pautado pelo respeito na relação com a criança pequena. As escolas em Reggio não têm um currículo descrito. A cada ano são definidos projetos a curto e longo prazo que servem para composição do trabalho, mas que podem ser modificados conforme a necessidade tanto pelos professores como pelas crianças. Os docentes precisam sempre estar prevenidos às crianças, como bons analisadores e pesquisadores, admitindo que façam suas alternativas e, a partir delas, sentarem ligados para refletir e discuti. O educador aprende a escutar a criança não somente o que ela diz com a boca, mas o que é expresso por meio de 14 suas distintas linguagens. Como assinalam Barbosa e Horn (2008, p.118) é necessário “Escutar por meio da observação, da sensibilidade, da atenção, das distintas linguagens”. Observar a abordagem de aprendizagem da Pedagogia da Escuta passa a ser essencial ao processo, sendo visível uma distorção muito grande da situação. Para tal abordagem, sugerida por Malaguzzi, se propõem a sensitividade à criança, o ouvir ao que ela tem a falar, sendo a mesma vista como produtora da sua própria cultura, dentro e fora do âmbito escolar. Mas a realidade social não colabora para este modelo, que é antagônico a atual circunstância da educação no país. Embora tenha evoluído em métodos e técnicas, ainda existem dificuldades de progredir em termos científicos e tecnológico. A medida em que amplos progressos chegaram em nosso território, entretanto o ingresso a uma educação de qualidade está restrito a uma pequena parcela da população. A educação, atualmente, atende uma minoria. A maior parte da população que é pobre tem pouquíssimas ocasiões para modificar sua realidade contemporânea e essa desigualdade cultural e social, coopera para o aumento da diversidade social. No Brasil ainda se tem um extenso obstáculo a ser corrido pela grande diversidade social e pelas influências culturais de outros povos. Contudo, os educadores necessitam procurar melhorar a ação pedagógica para que este fator não seja impedimento para o formador de cidadãos pensantes. Tal tarefa não é simples: a passagem, sem dúvida, é dura, muito trabalhosa, contudo é necessário desprender dos velhos conceitos. A criação de novos padrões para a prática didática, com uma visão atenciosa para o desenvolvimento da criança em sua totalidade e para seus múltiplos talentos, mostra a infância como código infantil cheio de expressões. As linguagens da infância estão conexas com os distintos modos de aprendizagem da criança e descrevem as várias formas de interpretar o mundo infantil, no qual a criança utiliza as linguagens como dados para comunicar e expressar seu pensamento. Precisa ter a finalidade de entender as linguagens da infância e as condições que influenciam a educação no território brasileiro além de a necessidade de 15 abarcar as capacidades do desenvolvimento da criança em distintos ambientes, para melhor compreensão da trajetória infantil e das diversas linguagens. Educadores e pesquisadores de diversas partes do mundo, procurando aperfeiçoamento da prática educativa de maneira consciente e democrática, geram ações edificadas coletivamente. Os mesmos sugerem experiências ao redor do mundo que dialogam com a experiência de Reggio, que entusiasmou intensamente a ideia de cultura da infância em diversos países. O direito de brincar da criança é constituído em diversos documentos, como Declaração Universal dos Direitos Humanos, Declaração dos Direitos da Criança, Estatuto da Criança e do Adolescente, na Convenção sobre os Direitos da Criança e no Marco Legal da Primeira Infância (Lei 13.257). http://clinicamedkids.com.br Hoje em dia, no Brasil, o direito de brincar, infelizmente, não tem tido dificuldade de ser realizado de fato em diversas escolas. Desde muito pequena as crianças têm sido colocadas no mundo adulto pelo exagero de informações e elevado entrada e conexão com as Mídias. Por que motivo, elas têm perdido o 16 direito à infância, pois a primeira fase da Educação Básica tem sido estimada um espaço introdutório para o Ensino Fundamental, no qual várias escolas, com intenção de garantir matrículas, promovem propagandas em massa com promessas fraudulentas de uma educação sólida, com exagero de conteúdos incoerentes com a cultural da criança. Além disto, buscam começar o processo de alfabetização desde a creche, para que este aluno possa se familiarizar com os conteúdos que o acompanharam em todo seu caminho educacional. Várias instituições de ensino não se atentam com a promoção do ensino a partir do que a criança já sabe, depositando numerosos conteúdos, a fim de demonstrar qualidade de ensino. Muitos pais desconhecem as característicasde um ensino de qualidade real, sendo com facilidade ludibriados pela propaganda em massa, por anúncios em outdoor de ensino forte, formação de qualidade para um futuro brilhante, tradição de ensino, entre outras ofertas divulgadas pela mídia e Marketing. Apesar disso, deve ser salientado que a criança tem muita criatividade e várias maneiras para se expressar e pensar. Malaguzzi (1999) cita que as crianças têm 100 formas de se expressar e mais 100 maneiras de pensar, tendo potencial único. É necessário que o adulto escute suas distintas linguagens além de oportunizar diversas vivências sensoriais e explorativas em distintos espaços de aprendizagem. É relevante trabalhar em equipe, em pequenos e grandes grupos, que interatuem de modo que criem e solucionem problemas em seu dia-a-dia escolar, produzindo suas próprias brincadeiras, manejando objetos e produzindo suas próprias hipóteses. Outro fator que coopera de forma direta para a qualidade da Educação Infantil é a ação prévia do docente, no que se refere à realização das atividades, ao tempo usado nos espaços destinados para aprendizagem espontânea, ao gerenciamento das intervenções durante as atividades em grupo e individual. O professor deve edificar um espaço que ao mesmo tempo abrigue e desafie as crianças, com a proposição de atividades que gerem sua autonomia em todos os sentidos, impregnando de todas as maneiras de expressão artística e das distintas linguagens que possam ser promovidas junto a elas. 17 No Brasil a cultura da infância foi bem influenciada pelas ideias de Paulo Freire (2016), que excitou de maniera vigora as compreensões de educação no país, em busca do melhoramento da qualidade de um ensino democrático. Freire aborda a uma nova perspectiva dialógica, para educação em casta na construção social a partir da produção de cultura entre os sujeitos, envolvidos com seu convívio social, por meio das relações entre si e a sociedade global. Mas as reflexões filosóficas acerca da participação enquanto princípio e ação diária juntam a criança como sujeito histórico, construtora e praticante de cultura. O ato de ensinar exige diagnóstico e a aceitação da identidade cultural, em que é possível assumir-se como um ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos e capaz de externar diferentes sentimentos. Assumir como sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto. A assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros. É a “outredade” do “não eu”, ou do tu, que me faz assumir a radicalidade de meu eu (FREIRE, 2016, p.42). Embora segundo este autor, a identidade cultural é ascensão de nós por nós próprios e as ações e relações do sujeito provocam e promovem a sua própria cultura pelo contato social, no meio humano pela expressão da historicidade. A criança, em tenra idade, é conduzida direção ao meio social, contando com outro ser para entrar em seu ambiente comum. Conforme vai adquirindo independência motora, obtém algum tipo de linguagem e vai conquistando cada vez mais outros recursos para interagir com o mundo e a cultura que a circula. A cultura da infância é um caminho que se começa desde o nascimento e vai sendo edificada pelo contato com outros sujeitos e pela troca com outros parceiros mais experientes, que seriam os agentes guias do saber, os quais fornecem deliberados signos e significados. Em 2006, foi fundado a RedSOLARE Brasil, uma associação latino- americana em defesa da cultura da infância e de difusão da prática de Reggio Emilia, mirando a constância de um fórum de diálogos, em que educadores de diferentes partes do mundo discorrem com suas ideias e experiências, em defesa da infância, constituindo trocas de experiências. Também dividem saberes que 18 visem a qualidade do ensino e uma prática inclusiva para todos, em que gerem atos com extenso debate abrangendo a pedagogia da escuta. 2.3 Espaço da educação infantil: ambiente de aprendizagem e cultura Desde seu nascimento a criança, vai se estabelecendo em circunstâncias nas quais constrói e desconstrói conjunturas do dia a dia a que pertence, criando e recriando as relações com a sua própria lógica e percepção. A partir desta conduta é notório que a mesma é influenciada pelo meio social e pelas circunstâncias reais nas quais está conectada. Horn (2004), assegura ser fundamental lhe ser proporcionado um ambiente cheio de dados com os quais possa imaginar, inventar, preparar e, em especial, brincar, sendo disponibilizado respeitando a sua faixa etária. O espaço de aprendizagem não é algo dado, natural, mas sim edificado. Podemos, de tal modo, dizer que o espaço escolar é um construtor social de estreitas relações e atividades desenvolvidas por todos na instituição. Enquanto a criança brinca interpreta papéis do mundo adulto e vai se apropriando da cultura, onde também causa seu próprio conhecimento sobre o diferente e de si mesma. Aprende enquanto se relaciona com as outras, desconstruindo e reformulando sua genuína hipótese. A cultura como um processo de desenvolvimento infantil foi inaugurada por Vygotsky, que desvelou a influência da cultura e das relações sociais para a aprendizagem que acontece em distintos estágios do desenvolvimento da criança. Além de investigar os meios biológicos que geram a conduta, constatam também como transformam as funções psíquicas que compõem o comportamento humano no seu desenvolvimento. Vygotsky (1995) postula que o desenvolvimento infantil constitui uma unidade dialética entre duas linhas genéticas – o desenvolvimento cultura e biológico. Trata-se, assim sendo, de um processo único de formação biológico-social da personalidade da criança, mas não de uma simples “mistura” entre o plano biológico e o social. No homem, o desenvolvimento cultural se 19 sobrepõe aos processos de crescimento e maturação orgânica, pois na medida em que o desenvolvimento orgânico se produz em um meio cultural, ele converte-se em um processo biológico sócio historicamente condicionado. A palavra cultura, na proposição vygotskyana, refere-se o contexto das produções humanas, isto é, a tudo aquilo que se contrapõe ao que é dado pela natureza, que procede da ação criadora e transformadora do homem sobre a natureza. A transformação da natureza e do ser humano insinua também na alteração de sua própria natureza, nascendo, de tal modo, historicamente, a partir da sua ação social humana, novas maneiras de comportamento e novos processos psicológicos especificamente culturais. Essa não é uma capacidade biologicamente determinada, mas uma conquista cultural e histórica da espécie humana, que precisa ser adequada pelos indivíduos em seu processo de vida. Dessa maneira, a criança acomoda-se do patrimônio cultural, que se oferece exatamente por meio da atuação da criança: ela deve reportar a ação apropriada aos objetos da cultura (material e não material). A mediação do adulto se mostra ativa nesse processo, tendo em vista que a atividade adequada não se forma espontaneamente na criança, mas pelo contato direto e imediato com os objetos da cultura. Para apropriação do processo cultural e histórico do ser humano, a criança deve estar em convívio com o meio cultural a que compete, por meio de outros adultos, em condições proporcionadas para promover a apropriação dos signos culturais. Apesar de em tais objetos estejam encarnadas as maneiras de ação e as faculdades humanas historicamente elaboradas, é preciso a mediação de outros homens para que se concretize o processo de apropriação. As aquisições do desenvolvimento histórico das aptidões humanas não são simplesmente dadas aos homens nos fenômenos objetivos da cultura material e espiritual que os encarnam, mas são aí apenas postas. Para se apropriar destes resultados, para fazer deles as suas aptidões, “os órgãos da sua individualidade”,a criança, o ser humano, deve entrar em relação com os fenômenos do mundo circundante através de outros homens, isto é, num processo de comunicação com eles. Assim, a criança aprende a atividade adequada. Pela sua função, este processo é, portanto, um processo de educação. (LEONTIEV, 1978, p.272) 20 No entanto, o grande desafio dos dias atuais é justamente garantir que a criança, enquanto sujeito produtor de cultura, seja autor do seu próprio conhecimento. Para tal é preciso que os educadores, na qualidade de formadores, propiciem um ambiente de ensino que torne visível a aprendizagem por meio da cultura, para que cada sujeito se torne coautor e produtor de conhecimento a partir do que já sabe, potencializando o desenvolvimento autônomo por meio de saberes precisos para sua formação. Tais fatores são relevantes para o espaço escolar que elege a espontaneidade para construção do saber. O espaço não é algo que emoldure, não é simplesmente físico, mas atravessa as relações, ou melhor, é parte delas. E é sobre relações que se fala quando o assunto é educação. O professor é um mediador de diferentes relações: entre as crianças e o saber, entre as crianças e o mundo que as cerca, entre elas mesmas, entre elas e o mundo imediato etc. A noção de mediação não é simples. Não significa que o professor está “no meio de todas relações”, ou que elas não ocorram sem ele, mas que ele intervém e organiza o ambiente para que as relações e as aprendizagens possam ser otimizadas (HORN, 2004, p.9) Pesquisas atuais evidenciaram que a organização do espaço escolar antecipadamente pensado e planejado impacta profundamente a aprendizagem: as cores, os sons, os sabores e aromas, como também, acomodação confortável e a organização do mobiliário e, de maneira especial, o que permite interação entre os pares, são aspectos decisórios para o processo de desenvolvimento e aprendizagem infantil. Pensar na estrutura deste ambiente é refletir como este meio poderá influenciar na construção do saber. De acordo com Rinaldi (op. cit, p.77) [...] O ambiente escolar deve ser um lugar que acolha o indivíduo e o grupo, que propicie a ação e a reflexão. Uma escola ou uma creche é antes de tudo, um sistema de relações em que as crianças e os adultos não são apenas formalmente apresentados a organizações, que são uma forma da nossa cultura, mas também a possibilidade de criar uma cultura. [...] É essencial criar uma escola ou creche em que todos os integrantes se sintam acolhidos, um lugar que abra espaço às relações. Durante o andamento do cotidiano o professor precisa estar atento às interações e relações, em sala de aula, estreitando as afinidades e afetividade entre 21 ele e as crianças, precisando trabalhar para promover e expandir a formação social da criança. Desta forma pode-se dizer que o educador deve interagir com as crianças enquanto participam das refeições, brincadeiras, transições e trocas de tarefas, ancorando-se nos eixos para Educação Infantil e tornando o ambiente escolar de fato um lugar que produz conhecimento em todos os espaços. https://totsandteens.com.br/ [...] Oferecer às crianças uma memória concreta e visível do que disseram e fizeram, a fim como um ponto de partida para os próximos passos na aprendizagem; [...] Oferecer aos educandos uma ferramenta para pesquisas e uma chave para melhoria e renovação contínuas; e oferecer aos pais e ao público informações detalhadas sobre o que ocorre nas escolas, como um meio de obter suas reações e apoio. (EDWARDS; GANDINI; FORMAN, 1999, p. 25) Pensando sobre as exposições dos autores mencionados, analisa-se hoje o cenário no Brasil permanece desigual em muitas creches e pré-escola, ficando claro 22 que nem todos entendem a importância do meio escolar como um ambiente fomentador do conhecimento. É possível averiguar que não existe pouca preocupação com o acolhimento integral da criança, sendo conflitante aos eixos norteadores para Educação Infantil, que aprecia a cultura da infância e as múltiplas formas de expressão infantil, ficando a criança como o ponto central. Bem que nos últimos anos o Brasil tenha diminuído investimentos em Educação Infantil, o plano de investimento está abaixo da média. Pelo Plano Nacional de Educação (PNE), o Brasil tem que ampliar o atendimento para 50% das crianças de até 3 anos de idade até 2024, mas o país investe somente uma parcela do Produto Interno Bruto (PIB) no seu gasto público total em educação. O investimento em Educação Infantil é basicamente relevante para uma nação. Isto implica em acréscimos e benefícios para toda a vida, uma vez que, tornando-se um fundamento solido para aprendizagens e competências, e para o desenvolvimento de relacionamentos e saberes, ao criar um fundamento seguro para primeira infância, consentirá desde a tenra idade influenciar no desenvolvimento da criança, cooperando para uma formação de uma sociedade igualitária, proporcionando a futuros adultos mais conscientes do seu papel social, formando-os para o exercício da cidadania. As salas de aula precisam ter ambientes desafiadores para que as crianças possam vivenciar e explorar distintas percepções. Devem estar disponíveis diferentes materiais para manipulação: lápis grafite, jornais, revistas, tecidos, fantasias, giz de cera, lápis de cor, canetinhas, papeis diversificados, tampinhas, com cores e tamanhos distintos, pedaços de pano possuindo diferentes sensações de texturas e tamanhos (mediano, macio, duro, liso, pequeno, áspero, grande,) e por meio das sensações, construa e reconstrua. O espelho também é um recurso essencial, assim como velcro, argolas, sementes, botões, colas coloridas, tintas, elementos da natureza: terra, argila, areia, folhas, galhos, entre outros, que possam ser disponibilizados. Estes recursos expostos necessitam ser manipulados na presença do educador, para que este possa mediar o melhor bom emprego destes objetos, 23 preparando a utilização dos recursos nas atividades, de acordo com a faixa etária do grupo escolar. Conforme consta no art.4 da Constituição Federal Brasileira, a criança deve ser o centro do planejamento curricular, sendo visto como sujeito histórico e de direitos que nas interações, relações e práticas cotidianas vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASI,1988) O tempo no ambiente escolar necessita ser usado para o desenvolvimento da aprendizagem, na construção do conhecimento da criança. O tempo das atividades e de troca das mesmas deve ser bem usado para não provocar insatisfação na criança, que necessita de condições para o seu desenvolvimento. Para tal, é preciso modificar os lugares destinados às atividades lúdicas, caracterizando, a relevância da ludicidade para o desenvolvimento humano. Nesse sentido, é importante destacar o valor educativo em todos os lugares do espaço escolar. Um exemplo é o momento do lanche, que vários educadores não compreendem como uma oportunidade de contemplar melhor a criança, que diversas vezes fala bem alto no período do lanche, não se concentra, não interage com o grupo e rejeita o alimento oferecido, expressando suas frustações e emoções, como também, demostra como andam suas relações familiares. Ao planejar a rotina, o professor deve dar prioridade ao planejamento flexível, que siga os processos de aprendizagem e desenvolvimento da criança de maneira acolhedora, com atos acompanhadas da organização do tempo e espaço a serem usados, para garantia da qualidade do ensino que instigue a investigação e as capacidades de cada criança, fazendo a se sentir integrante do ambiente. A rotina das crianças dentro do espaço escolar ampara o desenvolvimento daaprendizagem, por meio das circunstâncias antecipadamente constituídas para o percurso diário. Uma rotina desafiadora é composta por situações-problema que provocam o pensamento, desafiam novos saberes, leva a autonomia e as habilidades por exemplos: cultural, social, afetivas e cognitivas. 24 Segundo o Caderno de Planejamento na Educação Infantil (2011). [...] A rotina envolve todas as ações de cuidar e educar e, portanto, precisa pulsar em vários ritmos. Precisa ser espaço de alegria, prazer, descobertas, viagens... As crianças necessitam ter espaço para mexer-se, locomover-se, brincar, criar, falar, ouvir... A alternância entre a vivência de atividades - calmas e ativas – e as modalidades de interação – coletiva, em pequenos grupos ou em duplas, proporcionará uma dinâmica de trabalho própria do grupo. Nesse sentido, também se deve considerar a alternância entre atividades de mesa e as de chão, assim como o trabalho em diferentes espaços da instituição – área externa, refeitório (em momentos ociosos), sala de leitura etc. Sendo assim, o preparo das atividades deve sempre ser pensado e aprontado para a integração das ações do professor com os alunos e dos alunos com o professor, sendo uma relação de troca entre todos, consiste na preparação de uma rotina que conduza melhor a utilização do tempo das atividades e da troca entre as mesmas, professor deve intermediar a utilização dos espaços de aprendizagem, os momentos de transição entre as atividades, os momentos livres para as crianças interagir entre elas. É importante conduzir as interações e a participação de todos em brincadeiras, proporcionando experiências centrada na criança, integrando brincadeiras tradicionais para interação em grande grupo e pequeno grupo, ampliando as áreas de conhecimentos infantil através de brincadeiras que podem ser realizadas em áreas externas (pátio, quintal, quadra de esporte, etc.) como também podem ser praticadas em sala de aula, compondo o repertório dos campos de experiências da Base Nacional Comum Curricular, em consonância com os eixos norteados da EI . Ao planejar, o professor deve pensar sobre sua ação e a sua maneira de executar a atividade profissional em sala de aula, assim como em todos os espaços do ambiente escolar sendo importante avaliar o que foi concretizado e o que as crianças conseguiram diariamente. Antes de determinar o que fará em seguida, nos diversos períodos do dia, o professor deve adotar uma postura de um processo de constante análise reflexiva sobre o proposito e a eficácia daquilo que arquitetou. Desta forma, ele viabiliza tanto os progressos das crianças, como aperfeiçoa a sua ação didática. A infância é caracterizada como um momento de desenvolvimento do ser humano, que vai do seu nascimento ao começo da adolescência. A primeira fase da criança, que é a primeira infância, ocorre da nascença até seu quinto ano de vida. É o nascimento a lacuna que se abre para o desenvolvimento do ser social e para as janelas do conhecimento, das experiências e amplas descobertas que 25 formaram seus conceitos e crenças, como também influenciará seu estilo de vida e conduta na sociedade. E a cultura exerce um papel efetivo na maneira como a criança vê e interpreta o mundo ao seu redor. A cultura e a criança são estudadas dentro do contexto histórico. A cultura da infância dá-se no meio social e cultural no qual está pertence, sendo o meio escolar o potencializador destas modificações de cultura para infância. A infância é, simultaneamente, uma categoria social, do tipo geracional e um grupo de sujeitos ativos, que interpretam e agem no mundo. Nessa ação estruturam e estabelecem padrões culturais. As culturas infantis constituem, com efeito, o mais importante aspecto na diferenciação da infância. (SARMENTO, 2007, p. 36) A cidade de Reggio Emilia é famosa mundialmente pelas creches e pré- escola como um espaço de amplo interesse cultural singular para as crianças pequenas, onde se compõem um modelo de “espaço relacional” destinado para desenvolver expressivas aprendizagem na infância. Segundo Malaguzzi (1999) a escola é um organismo dinâmico e inexaurível. Como tal, o espaço de desenvolvimento infantil necessita estar vigilante às maneiras com as quais as crianças apreendem e como se apropriam da cultura, qual a relação com o meio, a forma que acontece as interações e troca entre seus pares e, a relação que a brincadeira desempenha enquanto atividade culturalmente e socialmente levantada. A criança é um ser em desenvolvimento, sua brincadeira vai se solidificando com fundamento no que é capaz de fazer em cada período. Isto quer dizer que ela, aos seis meses e aos três anos de idade, tem probabilidades distintas de expressão, comunicação e relacionamento com o ambiente sociocultural no qual se encontra inserida. No decorrer do seu desenvolvimento as crianças vão construindo novas e distintas competências, no contexto das práticas sociais, que irão lhes admitir entender e agir de maneira mais ampla no mundo. A produção cultural, por parte da criança, é realizada no meio cultura e social do qual ela pertence, edificada nas 26 expansões relacionais da criança com a criança e da criança com o adulto. A criança é, pois, produto e produtor da cultura. Com isto, acolher a criança como produtora de cultura é conhecer suas expressões nas mais variadas linguagens, como probabilidade de as crianças entrarem no mundo. https://observatorio3setor.org.br De acordo com Faria (1999, p. 98) "a criança não só depende e consome a cultura do seu tempo como também produz cultura, seja à cultura infantil de sua classe, seja reconstruindo a cultura à qual tenha acesso." O fato de a criança não falar, ou não escrever, ou não saber realizar as coisas que os adultos fazem, transformam-na em produtora de uma cultura infantil, precisamente através dessas especificidades. A cultura se inseri em nosso meio social e nos lugares que reproduzem seus signos e símbolos, que não são idealizados ou inventados pelo sujeito, mas apreendido por ele. Esse processo começa desde o nascimento da criança e vai se formando com as relações e a troca com outros parceiros mais maduros, os quais lhe ministrem determinados conceitos. A infância surge como um espaço favorável para esta forma de expressão e a cultura funciona como um instrumento para o 27 processo de aprendizagem para o desenvolvimento infantil, sendo aberta uma janela de conhecimentos culturais riquíssimos culturais presentes no Brasil. Darcy Ribeiro (1972, p.93) garante que: [...] cultura é a herança social de uma comunidade humana, representada pelo acervo coparticipado de modos padronizados de adaptação à natureza para o provimento da subsistência, de normas e instituições reguladoras das reações sociais e de corpos de saber, de valores e de crenças com que explicam sua experiência, exprimem sua criatividade artística e se motivam para ação. Nosso legado cultural é histórico, pertence ao patrimônio nacional, é rica e viva de novas probabilidades para a prática pedagógica. É cheio de canções e com várias narrativas históricas de um povo plural, repleto de variações linguísticas, lendas, parlendas e histórias de uma gente muito sofrida, sofrimento descrito em cantigas, até mesmo em brincadeiras. O popular é arte, é a expressão de um povo e folclore, onde a tradição dos costumes e as experiências vivas de povo multicultural é a essência, é a raiz de tudo. Uma nova maneira de gerar o saber por meio da exploração cultural, o conhecimento sendo ofertado de maneira significativa para processo de aprendizagem, usa a cultura popular brasileira como a origem causadora de ideias para o campo educacional, expandindo as formas de aprender e ensinar por meio das expressões sociais, se apropriando da cultura produzida em nosso território, sendo integrantee participante deste processo. 2.4 O papel do professor na construção da linguagem, da escrita e da cultura Por meio desta pesquisa sobre o processo de conhecimento do indivíduo, que começa na primeira infância, é entendido que a criança reproduz e repete gestos por imitação, usando expressões faciais, imitindo seus primeiros sons, começando a balbuciar. As primeiras palavras vão aparecendo a partir do convívio com outros adultos e pelo contato com outras crianças, que já domam a fala acontecendo um conhecimento empírico, agregado pela experiência e cultura do outro indivíduo. 28 A língua oral compõe um fundamento linguístico substancial para o desenvolvimento das capacidades humanas, como a atitude de ler e escrever. De acordo com os autores Carvalho, Lemos e Goutart (2015), os primeiros anos de vida da criança são considerados os mais relevantes para o desenvolvimento das habilidades de linguagem. Esse acontece por etapas e está conexo aos contextos linguístico e situacional. O adulto tem papel principal, pois provê instrumentos para o desenvolvimento da comunicação. No desenvolvimento da linguagem, existe diferenças individuais, tanto no processo de obtenção quanto na velocidade e qualidade. De tal modo, esse desenvolvimento é complicado e depende de uma série de fatores, que abarcam desde a maturação neuropsicológica, afetividade, desenvolvimento cognitivo, até nas situações nas quais a criança está inserida. Para Vygotsky (1989, pág.40) “Nós nos tornamos nós mesmos por meio dos outros”. O processo de obtenção de conhecimento se apresenta a partir das interações com outros e com os objetos, processo esse intermediado por artefatos físicos e ferramentas simbólicas, criados pelo homem para servirem de mediadores. A mediação é, assim sendo, condição precisa para o desenvolvimento do sujeito. Torna-se relevante a influência do meio escolar sendo este um mediador do desenvolvimento da linguagem escrita e oral da criança entre outras habilidades. Dentro do ambiente escolar o comportamento da criança vai se formando pelo contato com os adultos, e outras crianças, onde o saber do outro é compartilhado pelas interações, pelo conhecimento da língua propriamente falada, da língua escrita, das reflexões unidas as áreas cognitivas. Para Kuhlmann (2001, p.31), [...] precisamos considerar a infância como uma condição da criança. O conjunto de experiências vividas por elas em diferentes lugares históricos, geográficos e sociais é muito mais do que uma representação dos adultos sobre esta fase da vida. É preciso conhecer as representações da infância e considerar as crianças concretas, localizá-las nas relações sociais etc., reconhecê-las como produtoras da história. 29 Incorporando a perspectiva da abordagem de Malaguzzi, onde a ideia fundamental para o desenvolvimento da tenra idade está fundamentada na totalidade da criança, no qual ela deve ser mediada pelo professor que deve ser o guia deste processo. Toda comunidade escolar deve participar de forma ativa no processo de aprendizagem das crianças, pensando sobre o ensinar e aprender, concordando que as crianças podem construir sua aprendizagem. Malaguzzi retoma outras características das pesquisas de Piaget, com as quais não tinha divergência. [...] alertou-nos de que deve ser tomada uma decisão sobre ensinar esquemas e estruturas diretamente ou apresentar à criança situações ricas de solução de problemas, nas quais a criança aprende ativamente a partir delas, no curso da exploração. O objetivo da educação é aumentar as possibilidades para que a criança invente e descubra. As palavras não devem ser usadas como um atalho para o conhecimento. Como Piaget, concordamos que o objetivo do ensino é oferecer condições para a aprendizagem (EDWARDS, FORMAN E GANDINI, 1999, p. 93). Malaguzzi (1999), com inspiração na eoria de Piaget, cujo objetivo do ensino é disponibilizar circunstâncias de aprendizado, percebe a debilidade quando esta conjectura é descontextualizada e afasta a criança. Desta forma procurou buscar novos caminhos provando outro conceito de aprendizado para as crianças, por meio de interrelações, implementando o contexto sociocultural. Sugere a edificação de um ambiente que possibilite a correlação e interação, no qual a criança vai edificando o seu conhecimento de mundo apropriando-se das linguagens, dos códigos de condutas e da cultura. [...] a ideia de um processo que envolve, ao mesmo tempo, quem ensina e quem aprende não se refere necessariamente a situações em que haja um educador fisicamente presente. A presença de outro social pode se manifestar por meio dos objetos, da organização do ambiente, dos significados que impregnam os elementos do mundo cultural que rodeia o indivíduo. (OLIVEIRA 2002, p.57) Dessa maneira, o papel do educador dentro do espaço escolar é essencialmente intermediar e acentuar a curiosidade da criança, com a finalidade de que seus pensamentos, sentimentos e ações, produza interpretações e aprenda 30 pela experiência com total satisfação. Conforme acontece em Reggio, esta abordagem é aberta para as reflexões da sua ação, dentro das perspectivas dos campos cognitivo, afetivo e simbólico, explorando e mencionando no grupo, sempre permanecendo abertos as modificações. Com o objetivo de edificar uma escola acolhedora, na qual as crianças, professores e a famílias se sintam em casa, existe uma ansiedade com o planejamento, as motivações e interesses, defendendo que se precisa abordar os interesses dos três protagonistas: a criança, professor e os responsáveis. Sendo desta forma, coopera para a estruturação de uma educação que mira o relacionamento e a participação de todos que fazem parte deste espaço. “As crianças adquirem um papel ativo na construção e aquisição da aprendizagem e da compreensão. (EDWARDS, FORMAN E GANDINI, 1999, pág.98). Ao entrar do ambiente escolar, a criança passa por demandas do sistema de educação onde é revelada a um conjunto de normas e regras da instituição e metodologia de ensino. No entanto, é necessário entender quais os fatores que corroboram as consequências destas demandas do sistema formal e qual o lugar de objeto de desejo da criança pelo conhecimento. Identificar o papel do professor neste processo significa reavaliar sua postura educativa, distinguir o desejo da criança, mostrar os resultados da ação pedagógica, avaliar e reavaliar sua prática educativa, apontando os resultados positivos e negativos. Os projetos de pesquisa “Project Spectrum” e “Arts PROPEL” ligados à “teoria das inteligências múltiplas” pesquisaram no decorrer de 3 anos o processo de aprendizagem das crianças de Reggio, procurando entender os fatores que permitem o desenvolvimento do conhecimento, explorando a variedade de inteligências para o seu próprio compreendimento e dos outros sobre o tema “ensinar para a compreensão”. De acordo com Rinaldi (2014, p. 78) 31 [...] Os pedagogistas de Reggio Emilia nunca se contentaram com os modelos previsíveis de aprendizagem. Ao desenvolver corajosamente as enormes potencialidades perceptivas e cognitivas das crianças e o forte estímulo delas a aprendizagem, os pedagogistas as ajudaram a explorar profundamente as áreas que interessam a elas[...]. A pesquisadora compreende que a expectativa desta abordagem são creches e pré-escolas como lugares de cultura, onde a criança possa ter a liberdade para propagar suas multíplices linguagens e a sua própria cultura, sendo a criança protagonista do seu próprio saber. Porém isto não quer dizer que a criança não terá tarefas e atividades destinadas para sua aprendizagem, pelo contrário, terá um conjunto de métodos que o seguirá dentro do espaço escolar, onde o professor deve organizar seu planejamento pensando no interesse da criança, para que esta sinta prazer de participar e interagircom a proposta oferecida pelo educador. Desse modo, vieram a adotar uma perspectiva social construtora, na qual o conhecimento é visto como parte de um contexto dentro de um processo de produção de significados em encontros contínuos com os outros e com o mundo, e a criança e o educador são compreendidos como construtores do conhecimento e da cultura. Tal perspectiva permitiu aos educadores de Reggio Emilia abrirem-se para os preciosos insights sobre o psicólogo russo Lev Vygotsky (RINALDI, 2014, p. 28). Por conseguinte, é provável analisar que a prática se dispõe a dar significado para a aprendizagem da criança, com circunstâncias sucessivas de explorar, vivenciar e brincar, com encontros significativos para produção do conhecimento pelo intermédio do educador, que deve produzir satisfação da criança, que deve ser a protagonista desta ação. Desta forma, o professor deve planejar sua ação para análise das consequências desta proposta, onde o componente de interesse é a criança. Infelizmente ainda são situados determinados profissionais de educação que somente transferem o conteúdo escolar já existentes e em tempo livre, no ambiente escolar, para brinca. Não estão acessíveis, várias vezes, materiais e recursos para que as crianças criem suas próprias hipóteses. Por que motivo, é perceptível o desinteresse das crianças neste tipo de metodologia. 32 Como garante Freire (1996, p.25), "o ato de ensinar não é transferir conhecimento, mas criar probabilidades para a sua construção ou produção”. Para este educador, a interrelação professor aluno é primordial: " a construção do conhecimento deve ocorrer na relação entre professor e aluno. quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Quem ensina, ensina alguma coisa a alguém. A ação docente deve ser intermediada por uma prática reflexiva, onde o educador constrói e reconstrói sua prática permanentemente em sala de aula. (Ibid) http://sistemaaprendebrasil.com.br Na atualidade o grande desafio da educação, sucede em aprender a aprender como os alunos adquirem conhecimento. Esse processo consiste em ressignificar sua ação, a maneira de ensinar. Essa nova visão da aprendizagem gerou muitos reforços para a prática do professor, cujo papel compõe ensinar a criança a ler o mundo, aprendendo interpretar e solucionar circunstâncias do seu cotidiano, antes mesmo de alfabetizar a criança dentro de um determinado contexto. O papel do professor, de acordo com Huertas (2001), não é o de influenciar o aluno 33 quanto às suas habilidades, saberes e atitudes, mas o de promover a construção por parte deles do processo de formação. Frente a essa ideia, o professor o influenciará no desenvolvimento da motivação da aprendizagem. Para o autor, quanto mais consciente for o professor com relação a motivação, melhor será a aprendizagem de seu aluno. Quando a atitude de educar consente a “liberdade para imaginação”. A ação criadora propõe novas passagens para a aprendizagem e tudo pode se tornar uma ampla descoberta para as novas probabilidades: são as janelas abertas para o saber. A descoberta de novos seguimentos para o desenvolvimento da criança permite um mundo gerador de oportunidades dentro do espaço cultural e no meio escolar, aprovando aguçar os sentidos para uma educação que se recomendam a tornar a ação educacional prazerosa, tornando mais claro a aprendizagem para a criança. O contato com projetos pedagógicos e trabalhos gráficos beneficia a construção do conhecimento de maneira significativa, guiando os caminhos para uma prática que possibilita as experiências e o conhecimento prévio do aluno. De forma geral, o professor necessita se disponibilizar, afastando-se da ação rotineira, em que, os educandos são abordados com atividades para transmissão de conteúdo. É necessário procurar ultrapassar esta abordagem tradicional conteudista de maneira que se possa ressignificar a prática. Segundo Malaguzzi (1999), quanto mais extenso for a gama de probabilidades que se fornece as crianças, mais profundas serão suas motivações e mais ricas suas experiências. É preciso oportunizar a constituição da aprendizagem da criança de distintas maneiras: pelos sentimentos, imaginação e pelas representações gráficas, pelas linguagens simbólicas que colaboram para o desenvolvimento das percepções e possibilitam ao educador analisar a representação visual da criança. Para os educadores de Reggio, a manipulação e modelagem de esculturas e os murais funcionam como fontes vivas para a aprendizagem e o desenvolvimento. Elas as são como recursos para uma exploração adicional e para um maior aprofundamento do conhecimento sobre o tópico. Educadores de Reggio Emilia referindo-se a essas representações visuais como linguagens gráficas, falam sobre crianças que “leem” os seus 34 próprios desenhos e os de outras crianças. As crianças transcrevem os comentários gravados e as discussões entre elas próprias no trabalho; com esta documentação, os desenhos são “lidos” e “relidos” pela equipe de professores como uma base para o planejamento das próximas etapas na exploração do tópico (EDWARDS, FORMAN E GANDINI, 1999, p. 43). Apesar disso, devemos ressaltar que a primeira fase da infância a educação infantil não é uma preparação para os anos iniciais. Nesta fase, a criança deve correr, interagir, brincar, vivenciar circunstâncias de aprendizagem e participar de experiências significativas. Durante esta primeira fase o trabalho do professor incide em despertar na criança o prazer pela leitura, no qual procurem uma ação didática que ultrapasse o fracionamento e a representação de conteúdo programático. A escola deve ser um espaço afável e seguro, que oportunize a criança expandir seu repertório cultural por meio de experiências significativas, produzindo as suas próprias compreensão e concepções do mundo ao seu redor. A atuação do professor na alfabetização da criança dentro desta circunstância, precisa ser por meio de práticas de letramento. É durante este processo que o professor carece despertar na criança o desejo pela leitura, a partir deste momento pertence ao docente trabalhar com diferentes textos, apropriando-se também da ludicidade, de maneira que esta abordagem se transforma em aprendizagem. É importante compreender que na construção de práticas de alfabetização, para levar os alunos a pensar sobre o Sistema de Escrita Alfabética e a entender os princípios que o compõem é preciso diversificar as atividades, escolhendo propostas que determinem distintas demandas cognitivas e que mobilizem diferentes conhecimentos (BRASIL, 2012, p. 31) 3 CARATERÍSTICAS DE UM ESPAÇO COMO ARTE: O ATELIER EM CRIATIVIDADE, LIBERDADE E EXPRESSÃO “Podemos falar que essa pedagogia tem na arte na sua base, além da ciência, que é perpetuamente problematizada’’ Faria (2007, P.281). 35 Os espaços na abordagem de Reggio Emilia, e o “atelier’’ foram implementados, por Loris Malaguzzi, considerando a criança como autora de sua própria capacidade criadora, criativa e pesquisadora. Rinaldi (2014, p.146) afirma que ‘’A definição dos espaços como o ‘’terceiro educador’’, tão cara a Malaguzzi, fornece uma boa noção dos níveis de percepção que já haviam sido adquiridos. ’’ O espaço torna-se tão educativo, sendo avaliado não tão somente um ‘terceiro educador’’ mas também um instrumento relevante, se importando com a estética física e artística, um ambiente que educa a criança. Ela também observa que (RINALDI, 2014, p.146 apud COSTA, 2019): O direito a um meio ambiente, à beleza, o direito de contribuir para a construção desse meio ambiente e dessa ideia de beleza, uma estética compartilhada: um direito de todos, educadores e adultos em geral, e que só poderia se expressar por meio de um processo permanentede pesquisa. Apenas por meio da escuta dos desejos da criança se cria um espaço que ela esteja carecendo, a pesquisa se faz básica visto que se torna um processo continuo e que parte de todos os profissionais ali existentes. O espaço também deve ser avaliado como uma localidade que se adapte as necessidades de experimentação das crianças, de forma que se ajuste e se recrie ilimitadas vezes se assim sendo elas desejarem. Eles solicitam por modificações constantemente e os espaços pedem por mais projetos, mais pesquisas, mais paixões, mais entusiasmos. Sobre a elaboração do projeto de construção da escola, acima até das questões arquitetônicas, construção civil, existiu uma preocupação com as questões de praticidade, conforto, e encantamentos nos espaços que ali foram estabelecidos, refletindo sobre todas as linguagens e as unindo, a tarefa dessa união e reflexão visa garantir a existência e o andamento provocando um resultado melhor, Rinaldi relata que (2014, p.151 apud COSTA, 2019): 36 Agora é hora de criar essa simbiose entre arquitetura e pedagogia e outras disciplinas, de modo a encontrar espaços melhores, mais apropriados. Não estamos em busca de um espaço ideal, mas de um espaço capaz de gerar a própria mudança, pois um espaço ideal, uma pedagogia ideal, uma criança ou ser humano ideal não existem. O ambiente além de ser planejado de forma que seja refletindo na ligação das linguagens, também parte de percepções culturais e raízes mais biológicas, sendo que o espaço tem uma linguagem bem definida que, por vezes, não está explícita, mas o distinguimos desde pequenos. O ambiente constrói pensamento, todos os fatores do nosso corpo fazem a leitura desde os fatores táteis aos sensoriais, o sujeito e o espaço sempre mudam assim criando uma ligação, a percepção do espaço é mudada a cada etapa da vida e se transforma com constância sendo também única a cada sujeito, visto que cada um traz consigo suas reflexões de mundo e sua bagagem cultural, cada um reside em um mundo sensorial distinto. Em espaços partilhados cada criança confere ao espaço suas questões, leituras e percepções inatas e envolvimento de nível mais alto. Ele reflete a cultura dos sujeitos que ali estão inseridos. Tem a preocupação de beleza, harmonia, desde a mobília até nas cores das paredes, fragrâncias e principalmente nas plantas saudáveis e verdes, que de forma frequente são criados em conjunto pelos pais, educadores e alunos, Gandini (2016, p. 141 apud COSTA, 2019) assegura que ‘’O cuidado particular com a aparência do ambiente, juntamente com o desenho dos espaços, que beneficia a interação social, são elementos básicos da cultura italiana.’’ Na preparação deve-se levar em consideração também a união do campo cognitivo com os campos da afetividade e do relacionamento, existindo interligação entre a aprendizagem e o desenvolvimento, as linguagens simbólicas e na autonomia do grupo e individual. O espaço também documenta toda história, relação e práticas que ocorrem, pois é caracterizado pelo fato de todas as produções serem realizadas pelas próprias crianças. Malaguzzi (2016, p.146 apud COSTA, 2019) garante que: ‘’ As paredes de nossas pré-escolas discorrem e documentam. As paredes são usadas 37 como espaços para exibições temporárias e permanentes de tudo o que as crianças e os adultos trazem à vida.’’ Em relação ao espaço na abordagem de Reggio, existe também o atelier, a respeito do qual Malaguzzi (2016, p.143) afirma que: O atelier, em nossa abordagem, é um espaço adicional dentro da escola, onde é possível explorar com nossas mãos e nossas mentes, onde podemos refinar nossa visão através da prática das artes visuais, trabalhar em projetos ligados a atividades planejadas em sala de aula, explorar e combinar ferramentas, técnica e materiais novos com outros bem- conhecidos. O atelier é usado como um espaço unido com todos os outros ambientes da escola, ele é utilizado de maneira com que as crianças possam se expressar de forma a vivenciar distintos materiais, é um paralelo a sala, mas com ligação aos projetos por lá já começados. Vecchi, (2016, p.124) garante que o atelier: O atelier serve com duas funções. Em primeiro lugar, ele oferece um local onde as crianças podem tornar-se mestres de todos os tipos de técnicas, tais como pintura, desenhos e trabalhos com argila- todas as linguagens simbólicas. Em segundo lugar, ele ajuda que os professores compreendam como as crianças inventam veículos autônomos de liberdade expressiva, de liberdade cognitiva, de liberdade simbólica e vias de comunicação. Como pudemos analisar, Vecchi afirma a relevância do atelier na medida em que é usado juntamente com as propostas das professoras em sala de aula. Ele se torna uma expansão de todos os projetos que são realizados pelas professoras na sala, sendo que um espaço não elimina o outro, mas sim, se complementam de tal forma que a criança se sente mais à vontade e parte do espaço. Malaguzzi (2016, p.72) se alude ao atelier como um espaço que: Seu ambiente deve ser preparado de modo a interligar o campo cognitivo com os campos do relacionamento e da afetividade. Portanto deve haver também conexão entre o desenvolvimento e a aprendizagem, entre as diferentes linguagens simbólicas, entre o pensamento e a ação e entre a autonomia individual e interpessoal. 38 https://br.pinterest.com O atelier várias vezes é um espaço no qual as crianças podem se expressar também de uma forma que muitas vezes na sala não é possível, até mesmo no manejo de elementos diversos, entre eles tinta, barro, argila entre outros que na sala não tem contato, é um espaço que não os restringe em relação a sujarem-se, eles várias vezes são recebidos de um jeito e a espaço é transformado em minutos, eles designam o caminho da proposta. Eles chegam ao caos em segundos Malaguzzi (2016, p.78) se recorda que seria muito bom ter uma escola rodeada de laboratórios similares com ‘’atelier’’ mas à medida que se foi refletindo nos recursos se tornou inviável pelo custo, mas ele imagina uma ‘’escola feita de espaços onde as mãos das crianças pudessem estar ativas para criar o caos, sem probabilidade para o tédio’’, as mãos e a mentes livres e engajadas (COSTA, 2019). O espaço como um todo documentava, mas, principalmente este espaço, cooperou muito no processo da documentação pedagógica, rico em matérias, ferramentas e sujeitos com competências profissionais importantes, modificando o olhar dos profissionais, exacerbando a escuta, o registro, provocando e permitindo 39 um material rico de estudos, tanto para os professores, quanto para a comunidade, uma oficina para documentar (COSTA, 2019). Ele atendeu também outras necessidades sucedidas na construção da escola, entre elas dar uma comunicação efetiva com os pais, para conservá-los mais informados sobre o que ocorria nas escolas, mas os mesmo tempo um sistema para documentar o trabalho com que era concretizado com as crianças, era possível revelar as capacidades e habilidades que as crianças tinham, quanto valor era posto em seus filhos e como eram estimadas as suas especificidades e seu senso crítico. Malaguzzi (2016, p.80 apud Costa, 2019), contudo pontua: Deixe-me salientar, contudo, que o atelier jamais pretendeu ser um espaço separado e privilegiado, como se apenas ali as linguagens da arte expressiva pudessem ser produzidas. Na verdade, era um local onde as diferentes linguagens das crianças podiam ser exploradas por elas e estudadas por nós e uma atmosfera favorável e tranquila. Nós e as crianças podíamos experimentar modalidades, técnicas, instrumentos e matérias alternativos. Vecchi (2017) apud Costa (2019), assegura que as crianças no atelier, podem vivenciar distintos tipos de técnicas e se tornarem mestres, à medida que cada escola tem o seu profissionalatelierista a escola se torna distinta das outras, pois cada um deposita um pouco de sua personalidade no local, ele fica caracterizado pela presença de um espaço provocador, e perturbador sobre ideias ultrapassadas e tradicionais. Ela frisa bem a relação de não se esperar apenas um produto final das crianças, visto que o processo é diversas vezes tão ou mais relevante que o produto, espera-se diversas vezes um produto final, contudo apesar de achar as obras das crianças riquíssimas, o produto não é algo fundamental no processo, a comparação das obras das crianças com artistas famosos precisa-se ser garantida para não ter ambiguidade e conclusões falsas, como por exemplo na conduta inatista da criança, comparar mesmo de maneira simples, nos revela um novo olhar, um olhar de que não compreendemos as crianças e aos artistas (COSTA, 2019). 40 O papel do atelierista é amplo e muito rico, Vecchi se refere ao seu trabalho com a parceria com as outras professoras, ela diz que todos os dias ela passa de sala em sala e analisa, escuta, repara no que ocorre, refletindo a probabilidade de nascer um projeto ou prosseguir com os projetos existentes, ela também acha incrível as infinitas probabilidades de projetos que podem ser criados e como cada um se torna- se único e passível de estudo, relatando que aprende bem com cada projeto (COSTA, 2019). De acordo com Rinaldi (2014) apud Costa (2019), é essencial a organização de espaços de forma a proporcionar às crianças a oportunidade de propagarem seu potencial, incitar suas curiosidades, explorar pesquisas sozinhas e em conjunto, acentuar o seu potencial de construtores de projetos individuais e da sala, proporcionar autonomia, saber que serão reverenciadas em suas especificidades. 41 4 REFERÊNCIAS CORRÊA, M. Teoria da Educação. Soluções Educacionais Integradas, 2019. COSTA, P. S. A Arte como expressão da Criança na abordagem de Reggio Emilia de Educação da Infância. Universidade Federal de São Carlos Centro de Ciências Humanas e Biológicas Licenciatura em Pedagogia Departamento de Ciências Humanas e Educação - Sorocaba, 2019. GANDINI, L. Do início do ateliê aos materiais como cem linguagens: pensamentos e estratégias de Loris Malaguzzi. In: GANDINI, L. et al. (org.). O papel do ateliê na educação infantil: a inspiração de Reggio Emilia. 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2019. 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