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MELHORAMENTO GENÉTICO PARA RESISTÊNCIA A DOENÇAS DE 
PLANTAS 
 
 
O melhoramento genético para resistência a doenças contribui diretamente com o 
aumento da oferta de alimentos, mesmo que injustamente distribuídos. 
Existem cultivares com resistência múltipla e muitas vezes desconhecida por 
produtores e consumidores, como por exemplo: amendoim IAC Caiapó (indústria de óleos 
e confeitos) – verrugose, mancha-castanha, mancha-preta, mancha-barrenta e ferrugem 
(CPA, 1997); soja Pato de Minas (UFV-18) – cancro-da-haste, pústula bacteriana, mancha-
olho-de-rã e fogo selvagem (Borém, 1997). 
Mesmo que potencialmente destrutiva, uma doença pode não merecer prioridade 
de pesquisa se puder ser controlada satisfatoriamente através de outras medidas, levando-se 
em conta o aspecto financeiro e ecológico do controle. É importante também observar a 
doença anteriormente importante a um segundo plano. A cultivar melhorada deve 
apresentar características agronômicas iguais ou superiores as que dominam o mercado. 
O melhoramento não é solução para todas as doenças e se mal manejada, a técnica 
pode até ser indesejável, promovendo vulnerabilidade genética de plantas que podem 
resultar em grandes desastres econômicos. 
 
IMPORTÂNCIA ECONÔMICA, SOCIAL E AMBIENTAL DA RESISTÊNCIA 
 
De acordo com Hogenboom (1993), nenhuma atividade de pesquisa e 
desenvolvimento apresenta um retorno tão favorável em relação aos investimentos, 
principalmente quando se consideram os efeitos sócio-econômicos. Como exemplos 
podemos citar: nos EUA, benefício de 300 dólares/dólar investido nesta área; tomate na 
Inglaterra (estufa) – produtividade média aumentou de 81 t/há em 1949, para 243 t/há em 
1990. 
A questão “por que genótipos resistentes” encontra várias respostas quando se 
considera qualquer dos níveis econômicos, social ou ambiental:acessível a diferentes 
extratos sociais; não poluente ou não contaminante do meio ambiente;auxiliar na redução 
de uso de agrotóxicos; embutida na semente adquirida, portanto de fácil adoção; contribui 
para o aumento da produtividade da cultura, da qualidade e/ou da aparência do produto; 
compatível com outras formas de controle; possibilita a expansão da fronteira agrícola ou 
utilização de áreas onde o fator doença é limitante; comumente de ampla vida útil e 
durável; normalmente aplicável a diversas ecorregiões. 
 
O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A RESISTÊNCIA 
 
O melhoramento é um dos processos de prevenção no MIP, junto com a rotação 
de culturas, escolha do local, manejo do ambiente etc. 
Com o advento da era dos agroquímicos, houve uma desaceleração no 
desenvolvimento de cultivares resistentes, e o uso abusivo de agrotóxicos, que já 
sensibilizou a comunidade sobre os riscos de envenenamento do homem e da natureza que 
o rodeia, abrindo novamente espaço para as cultivares resistentes. Este fato chamou atenção 
das comunidades científica (grande número de trabalhos, revisões, etc) e comercial 
(empresa de defensivos expandida para a área de sementes). 
As vantagens de se oferecer uma cultivar resistente: ausência de custo extra no 
preço das sementes (tecnologia de controle “embutida” na semente), tecnologia 
ambientalmente saudável e redução de custos de produtos e aplicações. 
 
UM POUCO DE HISTÓRIA 
 
Séc. III a.C. – Teofrasto registrou diferenças entre variedades de plantas; 
Plínio também deixou registros da mesma época (doença de plantas era vista 
como castigo divino, em forma de epidemias); 
Prévost, 1807 – (+ importante) reconheceu que doenças de plantas eram causadas 
por algum agente, não sendo, portanto, autogênicas (carvão do trigo-fungo); 
Fim do séc. XVIII – Erwin F. Smith comprova envolvimento das bactérias em 
doenças de plantas; 
1919- publicou-se cerca de 200 trabalhos sobre resistência a doenças; 
1954- mais de 4000 trabalhos – impulsionado pela teoria gene-a gene de H.H. Flor 
(Flor, 1942); 
Década de 1940- F.A. Brieger, J.T.A. Gurgel e Marcílio Dias (ESALQ) – 
primeiros trabalhos de melhoramento de hortaliças. H. Nagai (IAC) desenvolveu cultivares 
de alface (série Brasil resistente ao mosaico – LMV) e pimentão (Magda e Agronômico 10 
G, resistentes ao mosaico – PVY); 
Início da década de 50 – progresso de metodologia de avaliação (mosaico da cana 
- inoculação esfregando-se as folhas polvilhadas com carburundum, em vez de ferir com 
agulhas); 
1923 –Vizzioli detectou mosaico da cana-de-açúcar em Piracicaba e Campinas 
com renovação dos canaviais com genótipos resistentes em oito anos; 
1940- início do melhoramento de batata no Brasil, na seção de Raízes e 
Tubérculos do IAC, a cargo de O.J. Boock – requeima e pinte-preta; 
1950- melhoramento de soja para resistência ao nematóide das galhas; 
1930- melhoramento de hortaliças; 
Início do séc. XX – trabalhos de incorporação da resistência em genótipos de 
interesse comercial. 
 
VARIABILIDADE DOS ATORES PRINCIPAIS 
 
Vários termos são utilizados para identificar as diferentes formas nas quais os 
patógenos podem se apresentar, como raças, estirpes, “strains”, grupos, patovares, biovares, 
isolados, “formae specialis”, dentre outros. O termo “variante” é bastante útil para 
identificar a variabilidade quando esta ainda não está suficientemente caracterizada, 
independentemente do tipo de patógeno envolvido. 
Existe uma luta constante dos melhoristas contra grupos de patógenos que, ao 
apresentarem variantes em forma de raças fisiológicas, quebram a resistência incorporada. 
Fontes de resistência, freqüentemente encontradas em espécies selvagens, podem também 
estar disponíveis em cultivares de uso local. 
A grande maioria dos patógenos de plantas hoje conhecidos co-evoluíram com as 
plantas cultivadas, sendo idênticos aos organismos encontrados nos seus antecessores 
selvagens (Zadoks, 1993). Portanto, é razoável se inferir que os primeiros agricultores, por 
mais empírica que fosse a agricultura, observaram diferenças nos níveis de resistência entre 
os fenótipos, embora não se tenha notícia de como estas observações foram aproveitadas. 
O IBPGR (International Board for Plant Genetic Resources), formado em 1974 
com a função de promover e coordenar atividades relacionadas à coleta e conservação de 
germoplasma em nível internacional. A maioria dos recursos genéticos mantidos por 
instituições internacionais é de domínio público e, como conseqüência de acordos 
internacionais, disponível a todos os melhoristas (Innes, 1992). Entretanto, as possíveis 
conseqüências do direito de propriedade intelectual em cultivares resistentes a doenças, 
desenvolvidos especialmente através de técnicas moleculares, devem ser bem avaliadas. 
(Lei de Proteção de Cultivares, Lei 9456, de 25 de abril de 1997). 
 O efeito da temperatura e de outros fatores ambientais na expressão da resistência 
das plantas é historicamente conhecido (Walker, 1969) e deve ser considerado em todo e 
qualquer programa de melhoramento visando ao desenvolvimento de cultivares resistentes 
a doenças. Os efeitos do ambiente, através da nutrição das plantas - e, portanto do vigor de 
plântulas e plantas adultas – são igualmente importantes. 
O estudo das interações genótipo-ambiente e a incorporação destas considerações 
em programas de melhoramento visando ao desenvolvimento de cultivares resistentes é 
bastante complexo devido: as diferentes reações mostradas pelas plantas aos patógenos 
durante fases fenológicas distintas (Reifschneider et al., 1986); as distintas reações dos 
genótipos de plantas e patógenos a diferentes fatores ambientais, considerados 
isoladamente ou em conjunto; aos novos sistemas produtivos que alteram substancialmente 
as condições tradicionais de produção; e a necessidade da consideração isolada ou de 
apenas um pequeno grupo de cada um dos fatores ambientais mais críticos no 
desenvolvimento de cultivares resistentes que atendam ao mercado. 
 
GUERRA TERMINOLÓGICA E O USO DA RESISTÊNCIA 
 
Independentemente da expressão, especificidade, herança e mecanismos, a 
resistência deve ser durável,estável e eficiente. A durabilidade da resistência se deve a 
vários fatores relacionados com a constituição genética da planta, e com os fatores 
evolucionários e ambientais. A efetividade da resistência está relacionada ao uso de genes 
de resistência obtidos de diferentes regiões, portanto associados a genes de adaptação 
regional; à mistura de cultivares; multilinhas; à piramidização de genes e à resistência 
poligênica. 
 
MELHORAMENTO GENÉTICO 
 
Para desenvolver uma cultivar resistente a uma doença, é necessário o 
conhecimento da herança da resistência e do estádio de desenvolvimento da planta quando 
esta resistência se expressa. Dependendo da fonte de resistência, a herança pode ser 
poligênica, oligogênica ou monogênica. 
As mudanças dos métodos de cultivo de plantas têm provocado mudanças na 
importância relativa das doenças. Plasticultura - doenças de solo; hidroponia – oomicetos. 
Com a decisão de se retirar o brometo de metila do mercado, a resistência genética é tida 
como relevante opção de controle para os patógenos de solo. 
Para o melhoramento não existe um único, ou melhor, método e os ganhos 
comumente se situam na casa dos 10% ou menos. São necessários em torno de 10 anos para 
se obter uma cultivar resistente, sendo que 40% deste tempo é gasto pelo melhorista no 
planejamento e hibridação, o que indica a importância da decisão inicial.Os métodos mais 
comumente empregados são: população, genealógico, descendente de uma única semente, 
seleção recorrente e retrocruzamento (mais usado). 
Nas décadas de 1970 e 1980, houve um grande número de trabalhos a partir de 
seleção in vitro, com a vantagem de um grande número de indivíduos poder ser avaliados 
em pequeno espaço em laboratório. Porém, em muitos casos os resultados não foram 
satisfatórios.As técnicas moleculares aplicadas a fitopatologia, têm auxiliado 
principalmente na avaliação de doenças com reações difíceis de serem interpretadas devido 
a interações do genótipo com o meio ambiente, penetrância incompleta da resistência e 
diferentes graus de virulência do patógeno. Algumas delas: técnica de QTL (“Quantitative 
Trait Loci”); MAS (Marker Assisted Selection); resistência derivada do patógeno (RDP); 
construção de genes para bloquear enzimas; modelagem do crescimento de plantas; 
melhoramento por meio de ideótipos. 
Todos os métodos e ferramentas disponíveis devem ser utilizados em conjunto 
para diminuir o longo período de geração de novas cultivares; o custo; o risco do 
desenvolvimento de genótipos que não sejam cultivados, sempre com o objetivo final de 
desenvolver, de maneira sustentável, novas opções para produtores e consumidores. 
 
A INFORMAÇÃO FORMAL, INFORMAL E A MODERNA 
 
A busca de fontes de resistência comumente se inicia pela tradicional revisão de 
literatura e contato com os que estão publicando artigos sobre o patossistema. O contato no 
Brasil pode ser feito com o Embrapa - Recursos Genéticos e Biotecnologia (CENARGEN). 
O International Plant Genetic Resources Institute (IPGRI, ex – IBPGR), um dos centros do 
CGIAR, publica catálogos mundiais de coleções e bancos de germoplasma que dão uma 
excelente visão do que está disponível em diversos países, fornecendo detalhes, nomes e 
endereços valiosos para contato. 
As publicações informais como as “Newsletters” ou Cartas Informativas facilitam 
o intercâmbio de informação e germoplasma, principalmente com a .A Plant Breeding 
News, mantida pela FAO, em conjunto com a Universidade de Cornell, em Ithaca, Nova 
York, oferece subscrição gratuita através do envio de uma mensagem eletrônica para: 
MAILSERV@MAILSERV.FAO.ORG 
A linha de assunto deve ser deixada em branco e a mensagem deve estar formada 
por somente uma linha com o seguinte conteúdo: SUBSCRIBE PBN-L 
Mensagens para o editor, que serão divulgadas na Plant Breeding News 
subseqüente à data de envio, podem ser dirigidas a PBN-L@MAILSERV.FAO.ORG ou 
PBNEWS@CORNELL.EDU. 
O Instituto de Fitopatologia e Proteção de Plantas da Universidade de Hannover, 
Alemanha organizou o site mais completo na Internet sobre fitopatologia o Guia da Internet 
de Fitopatologia (PPIGB – Plant Pathology Internet Guidebook), cujo endereço eletrônico 
é: http://www.ifgb.unihannover.de/extern/ppigb.htm

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