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www.professores.uff.br/seleneherculano 
 
CAUSAS SOCIAIS DO SUCESSO: ESFORÇO COLETIVO ACUMULADO E DISPONÍVEL 
 
Resenha do livro 
 
OUTLIERS – THE STORY OF SUCCESS 
Autor: Malcolm Gladwell 
Editora: Allen Lane an imprint of Penguin Books, London,2008 
 
Resenha por Selene Herculano 
 
Traduzido em português como “Fora de Série”, pela Sextante, o livro fala daqueles que 
despontam e o faz com uma análise original das causas do sucesso. Analisa também 
alguns casos de acidentes aéreos e o que as suas caixas-pretas revelaram de aspectos 
culturais curiosos. 
À primeira vista, seria um livro a ser recebido com certo desdém no Brasil e por dois 
motivos: um porque suspeitamos dos elogios ao dito selfmade man, cujos encômios e 
louvores encobririam as limitações das estruturais sociais que pairam mesmo sobre os 
mais dotados, bem como suspeitamos sobre os meios percorridos para alcançar suas 
realizações; o segundo motivo é a lembrança do desabafo do nosso sempre amado 
maestro Tom Jobim, que dizia que no Brasil despreza-se e suspeita-se dos bem-
sucedidos. Ter sucesso seria uma ofensa. 
Mas o livro é original, intrigante e tem um recado que lembra o Nobel Amartya Sen e 
sua definição de desenvolvimento: sucesso não é um fenômeno isolado de um 
indivíduo talentoso e virtuoso. Gladwell derruba a fábula do herói solitário: sucesso 
tem a ver com estruturas sociais e heranças culturais. As pessoas bem-sucedidas não 
são realizadoras solitárias. São produtos de ambientes singulares e suas origens 
contam. (“Successful people don`t do it alone. Where they come from matters. They are 
products of particular places and environments” – p.119). 
Gladwell se propõe a responder as seguintes perguntas: por que Beatles, Bill Gates, Bill 
Joy e outros tiveram sucesso? Por que se vive mais em algumas comunidades? Por que 
alguns acidentes aéreos - fracassos trágicos - ocorreram? 
Uma primeira resposta para o sucesso é realmente óbvia: trabalho continuado, ou a 
regra das 10 mil horas: os Beatles começaram cumprindo contrato em Hamburgo, 
Alemanha, de tocar 8 horas diárias, adquirindo não só destreza de execução, mas 
criatividade dada pela intimidade com o processo musical; Bill Gates e Bill Joy, este 
programador da Apple, aproveitaram a oportunidade do centro de computação da 
Universidade de Michigan ficar aberto 24 horas por dia e lá ficavam por extensas 
jornadas em estudos e tentativas, varando madrugadas. 
www.professores.uff.br/seleneherculano 
 
Somada à oportunidade do local e tempo para o adestramento pelo trabalho 
continuado, há a acessibilidade das ferramentas: Bill Gates, menino rico de Seattle, 
beneficiou-se da decisão do Clube de Mães local ter tido a iniciativa e o vislumbre de 
comprar para seus meninos um ASR-33 teletipo, que ficava ligado a um computador 
em Seattle. 
Beatles, Bill Gates etc … não foram meramente sortudos. Diz o autor: sorte é ganhar na 
loteria. A eles foi dada a oportunidade e eles souberam agarrá-la (“they weren`t merely 
luck. Lucky is winning the lottery. They were given an opportunity and they seized it” 
-p.129.) 
O que é a oportunidade? É também o amadurecimento de uma tendência geral na 
sociedade, a capacidade de percebê-la, ter-se adestrado e estar pronto quando ela se 
apresenta. É adestrar-se em um campo relativamente obscuro e novo e que desponta 
quando há mudanças: Flom era um advogado judeu sem maiores oportunidades nos 
escritórios de Wall Street. Este mundo, descrito por Lincoln Caplan no livro Skadden, 
desprezava litigios e incorporações hostis até que chegaram os anos 70 , os investidores 
de um mercado internacionalizado e agressivo e com eles a mudança de paradigmas e 
valores. Assim, o que Flom tinha aprendido fora de Wall Street de repente tornou-se 
tudo que os escritórios de advocacia procuravam. Flom, Bil Gates, Bill Joy., etc. não 
triunfaram sobre as adversidades, enfatiza Gladwell: ao contrário, estavam prontos 
quando aquilo que começou como uma adversidade – como uma atividade obscura - 
se transformou em oportunidade. 
Outro caso narrado chama a atenção para causas culturais: os Borgenichts eram 
imigrantes vindos de Hamburgo e que foram muito bem sucedidos costurando 
aventais 18 horas por dia e os vendendo nas ruas. Diferentemente dos italianos e 
irlandeses, que vinham de economias tradicionais onde não tiveram lições práticas da 
economia moderna, os Borgenichts vinham de uma cultura de manufaturas, de 
pesquisa de mercado e de aprendizado de negociações. O trabalho que desenvolveram 
– bem como o dos Beatles e o de Bill Gates - tinha as três qualidades que trazem 
satisfação: autonomia, complexidade (do processo de trabalho – no caso, saber 
comprar implementos, criar, confeccionar o produto, lidar com máquinas etc., saber 
vender) e uma conexão entre esforço e prêmio. Quando estas três coisas existem – 
autonomia, complexidade/criatividade e uma relação positiva entre esforço e 
recompensa, anos sem fim de trabalho duro não são vivenciados como fardos. 
O sucesso não é algo aleatório; ao contrário, deriva de um conjunto poderoso e 
previsível de circunstâncias e oportunidades (“Success is not a random act. It arouses 
out of a predictable and powerful set of circumstances and opportunities” - p. 155). No 
caso das gerações, tem a ver com as estruturas sociais (político-econômicas) que as 
receberam e com o que lhes podiam oferecer. 
www.professores.uff.br/seleneherculano 
 
As circunstâncias históricas das gerações a qual pertencemos também contam como 
fatores para o sucesso. Gladwell se refere ao estudo que um certo Lewis Terman fez 
sobre sucessos e insucessos de crianças nascidas entre 1903 e 1917 e que tinham uma 
alto QI- Coeficiente de Inteligência. Para Terman, quem nascera antes de 1911 foi 
“demograficamente sem-sorte” e foi atingido na juventude pelos eventos mais 
devastadores do século XX e, conseqüentemente, pelas restrições das oportunidades. A 
densidade demográfica também conta: em 1915 havia 29,5 bebês para cada mil 
estadunidenses; em 1935 eram 18,7; em 1950 subira para 24,1. O autor comenta: nascer 
em 1930 significou nascer em hospitais espaçosos e com equipe disponível e estudar 
em prédios escolares confortáveis e magníficos. 
E por que se vive mais em algumas comunidades? Gladwell nos traz o exemplo do 
“Mistério de Roseto”, uma localidade aos pés dos Apeninos, em Foggia, na Itália, de 
onde levas saíram e criaram comunidade com o mesmo nome na Pensilvânia, Estados 
Unidos. Entraram para os anais médicos nos anos 50 porque viviam mais e entre eles 
não havia ataques cardíacos. Várias hipóteses foram estudadas, até que chegaram à 
conclusão que era a coesão da sua vida comunitária que lhes dava sobrevida. Gladwell 
conclui que a saúde precisa ser pensada em termos de comunidade e não na 
singularidade individual. 
Resenhamos até aqui diferentes aspectos do sucesso. Mas Gladwell nos apresenta 
também análises intrigantes de fracasso: o dos acidentes, em especial dos acidentes 
aéreos. Dois aspectos são abordados dentre o complexo de causas humanas dos 
acidentes: o “discurso mitigador” e o “índice alto de distância do poder”. Ambos 
alicerçados no medo e na reverência cultural ao poderoso. O discurso mitigador 
consiste em tentativa de edulcorar o que está sendo dito e de minimizar seu 
significado, por polidez, vergonha, embaraço ou por deferência à autoridade. Já o 
Índice de Distância ao Poder mede o respeito às distâncias hierárquicas. Gladwell 
resenha a este propósito dois livros: o de Charles Perrow, “Normal Accidents”, sobre o 
desastre nuclear de Three Mile Islands em 1979, e o de Hofstede, “Cultures’ 
consequences”, sobre acidentes aéreos. No caso de Three Mile Islands, uma sucessão 
de pequenos erros – filtros e válvulas bloqueados, um indicador na sala de controle 
que estava encoberto por um rótulo etc., etc – e que foram negligenciados pelo discurso 
mitigador. 
No caso deacidentes aéreos, Gladwell argumenta que os vôos são mais seguros 
quando o segundo piloto não tem medo de falar e expor suas questões (p.157). Ele faz 
referência ao estudo do psicólogo Robert Helmreich sobre os diálogos gravados na 
caixa-preta de um avião da Avianca que caiu em Nova York . Esta companhia aérea 
havia tido uma sucessão de acidentes – em Barranquilla, Madri e finalmente Nova 
York – envolvendo aviões que foram descritos como em perfeitas condições, operados 
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por uma equipe sem limitações físicas e considerada acima da média e ainda assim os 
acidentes aconteceram. Por que? 
O avião estava com pouco combustível e precisava obter autorização imediata da torre 
de Nova York para pousar. Helmreich descreve: “Klotz era o co-piloto; era colombiano 
e se via como um subordinado a quem não competia resolver a crise e sim ao 
comandante, que estava exausto e em silêncio. O co-piloto lhe fazia perguntas, com 
sugestões implícitas, mas o fazia em um tom fraco, deferente. O comandante as 
ignorava totalmente. Talvez o co-piloto não quisesse parecer rebelde, não quisesse 
passar por idiota diante da experiência do comandante. Surge a voz dominadora da 
torre de controle do tráfico aéreo do Aeroporto Kennedy. Klotz tenta lhe dizer que eles 
estão em dificuldades. Mas Klotz usa a linguagem da sua cultura e fala como um 
subordinado ao seu superior e usa o discurso mitigador. Mas os controladores não são 
colombianos. Os novaiorquinos tem um índice baixo de distância do poder, não vêem 
distâncias hierárquicas entre eles e os pilotos no ar. Para eles um discurso mitigador 
não é interpretado como deferência com o superior.Significava simplesmente que o 
piloto não tinha problema (p.207) 
Mencionamos no início que este livro nos lembrou Amartya Sen e sua definição de 
desenvolvimento, que tem a ver com esforço coletivo acumulado e disponível. Em 
uma sociedade desenvolvida, as pessoas tem à sua disposição meios funcionais para 
realizarem as suas potencialidades e capacitações. Gladwell aponta para o mesmo 
ponto ao exemplificar que sucesso não é atributo isolado, mas decorre de 
oportunidades e circunstâncias dadas pela estrutura social e pela dinâmica cultural. 
O livro nos estimula a identificar as variáveis culturais e sociais do sucesso e assim 
criar condições para repeti-las para que tenhamos gerações bem-sucedidas e que serão, 
por sua vez, vetores de desenvolvimento e de bem-estar de outras gerações a lhes 
suceder.

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