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Curso de Bacharelado em Educação Física Disciplina Atividade Física e Esportiva Adaptada – 2022.1 Profª Lygia Bahia Ser deficiente é um desafio! Ser aceito na sociedade, ter seus direitos garantidos, circular pelos espaços da cidade com segurança, são alguns dos obstáculos com os quais as pessoas com deficiência se depara no dia a dia. Além desses empecilhos há o “incômodo” da sua presença. É um corpo “diferente” que causa da repulsa à piedade. Com poucas exceções, historicamente, essa “diferença do corpo deficiente” transitou entre o extermínio, a demonização, o sobrenatural, o ridículo (bobo da corte), o pecado, até dar-se início a uma nova mentalidade, que entendia esse corpo como carente de cuidados médicos, fisioterápicos, terapêuticos, educacionais, dentre outros. Nesse novo momento, esses corpos, antes excluídos, iniciam um longo processo que passa pela segregação, integração e finalmente a inclusão. Porém, a realidade evidencia que o processo de inclusão ainda está longe de se efetivar verdadeiramente. Apesar de alguns avanços, a pessoa com deficiência experimenta desconforto, inadequação, em diferentes espaços que transita. Este sentimento está relacionado com o paradigma do corpo perfeito porque vivemos numa sociedade na qual corpos “perfeitos” e sobretudo “belos” tem assumido cada vez maior destaque. A ditadura da beleza, presente no mundo contemporâneo, exclui os corpos “feios”, que estão à margem do padrão midiático o que repercute de forma cruel na autoimagem da maioria da população. Essa marginalização dos corpos atinge de forma mais contundente os corpos deficientes, que além de lutarem contra todas as barreiras para estarem socialmente inclusos, têm seus corpos marginalizados. Essa visão rasa da existência afasta qualquer possibilidade de enxergar outras belezas que muitas vezes não estão visíveis aos olhos físicos mas que se revelam na convivência. Portanto, desenvolver um olhar sensível é DEFICIÊNCIAS FÍSICAS DEFICIÊNCIAS FÍSICAS pré-requisito imprescindível para o profissional que escolhe trabalhar com pessoas deficientes. Nesse texto vamos falar sobre as deficiências físicas que segundo Martin (2009) são “uma variedade de condições que afeta a mobilidade e a coordenação motora geral de membros ou da fala”. De uma forma geral, as pessoas com deficiências físicas são aquelas que apresentam algum tipo de comprometimento para a realização dos padrões motores que comprometem movimentos tais como: caminhar, correr, saltar, a manipulação coordenada de objetos e movimentos estabilizadores do corpo (DIEHL, 2008). Para Martin (2009) dificuldades no grafismo em função do comprometimento motor são comuns, além disso, o aprendizado as vezes é mais lento e exceto nos casos de alteração na motricidade oral, a linguagem é adquirida sem problemas. A autora afirma que muitos precisam de cadeira de rodas ou muletas para se locomover. Existem muitos tipos de deficiência física, que segundo Diehl (2008) podem ser agrupados de diferentes formas, o que resulta em várias maneiras de classifica- las. Podem ter como ponto de referência a etiologia (causa da doença), a localização, o aparecimento, a origem. Assim como, podem ser classificadas pelos segmentos do corpo afetados, tendo-se aí a monoplegia, diplegia, triplegia, tetraplegia e hemiplegia e dupla hemiplegia1. Segundo a autora, esse conhecimento é muito importante para nortear o trabalho (exercício físico) a ser desenvolvido e também será usado no esporte adaptado. Nesse texto, seguiremos a classificação segundo a origem tomando como referência Diehl (2008). ORIGEM CEREBRAL: Paralisia Cerebral Traumatismo Crânio-Encefálico ORIGEM MEDULAR: Poliomielite Espinha Bífida Lesões Medulares Degenerativas 1 Hemiplegia (perna e braço do mesmo lado afetados), Diplegia (membros inferiores mais afetados do que os superiores), Paraplegia (ambos os membros inferiores afetados), Tetraplegia (membros superiores e inferiores afetados) (HERNÁDEZ, 2018,). Traumatismos Medulares ORIGEM MUSCULAR: Distrofia Muscular Progressiva de Duchenne ORIGEM ÓSSEO-ARTICULAR: Malformações Amputação ORIGEM CEREBRAL: são as deficiências causadas por lesões ocorridas no cérebro que afetam diferentes segmentos do corpo originando por exemplo uma monoplegia, triplegia ou ainda tetraplegia. Podem ser consideradas de grau leve quando as pessoas conseguem realizar o movimento quase na sua perfeição; grau moderado quando há a necessidade de alguma forma de auxílio; grau severo quando a pessoa torna-se dependente devido ao comprometimento. (DIEHL, 2008) Paralisia Cerebral: é uma lesão que afeta o Sistema Nervoso Central2 antes que seu desenvolvimento esteja completo o que causa uma desordem motora e sensitiva na movimentação ampla e fina do corpo (DIEHL, 2008). A incidência é de 2% de crianças nascidas vivas, podendo acontecer no período pré-natal, perinatal e pós-natal (HERNÁNDEZ et al., 2018). Infecções virais da mãe (rubéola), medicamentos inadequados utilizados pela mãe na gravidez, diabetes (pré-natais). Sofrimento fetal durante o parto (perinatal). Desidratação aguda, alimentação deficiente, traumatismos (pós-natal). Traumatismo Crânio-Encefálico: é uma lesão que afeta o Sistema Nervoso Central provocada por trauma ou Acidente Vascular Cerebral (AVC). É comum apresentarem movimentos involuntários, lentidão gestual e intelectual. Pode causar dificuldade na fala, hemiplegia, comportamento social e emocional alterados. É adquirido e ocorre após 3 meses de idade (DIEHL, 2008). Causado comumente por quedas e golpes, acidentes de trânsito e de outra natureza. (SANCHÉZ, 1990, apud Diehl, 2008). ORIGEM MEDULAR: são as deficiências causadas por lesões ocorridas na região da coluna medular afetando o controle motor, a sensibilidade ou ambos. Podem ser causadas por espinha bífida, poliomielite, degeneração ou 2 Parte do Sistema Nervoso formado pela medula e encéfalo. traumatismos. Em relação a sua ocorrência no corpo podem ocorrer na coluna cervical, torácica, lombar ou sacral. (DIEHL, 2008) Poliomielite: doença infecciosa causada principalmente pelo vírus poliovírus. As lesões neurais produzidas pela poliomielite se localizam no corno anterior da medula. O ataque às células nervosas pode originar paralisia em um músculo ou de todos os músculos do tronco e dos membros. Portanto o grau da fraqueza muscular depende do número de células nervosas destruídas (HERNÁNDEZ et al., 2018). As pessoas que contraem a doença desenvolvem problemas posturais, tem pouco comprometimento sensitivo e não apresenta comprometimento mental. (DIEHL, 2008) Espinha Bífida: é uma falha no fechamento do tubo neural durante o período embrionário, e como resultado algumas vértebras ficam abertas e com isso parte da medula espinhal fica exposta. É uma malformação congênita. As crianças que apresentam essa deficiência nascem com uma protuberância bem evidente nas costas. A depender do local da lesão pode-se prever o que essa acarretará (grau de autonomia, aparelhos necessários para a pessoa poder caminhar, etc). Como decorrência da malformação há paralisia da musculatura do nível da lesão para baixo, perda da sensibilidade nos membros inferiores da região que corresponde ao nível da paralisia, problemas circulatórios na área paralisada, ocorrência de deformações associadas, hidrocefalia, incontinência urinária e fecal. (HERNÁNDEZ et al., 2018) Lesões Medulares Degenerativas : as lesões medulares degenerativas resultam da perda gradativa das célulasnervosas da medula e é causada por infecções hereditárias. Exemplo: Enfermidade de Werdin (Hoffman): conhecida como boneca de pano. Apresenta hipotonia muscular, paralisia flácida, deformações articulares e insuficiência respiratória. Adquirida na infância evolui rapidamente e é fatal. Adquirida na juventude desenvolve-se mais lentamente. (DIEHL, 2008) Traumatismos Medulares: sendo parte integrante do Sistema Nervoso Central, qualquer lesão ocorrida em uma das 24 vértebras trará danos irreparáveis. A depender do trauma pode haver perda parcial ou total da sensibilidade do corpo e controle dos movimentos logo abaixo onde ocorreu a lesão. Exemplo: trauma na altura das vértebras cervicais pode deixar a pessoa tetraplégica. Lesões a cima da C4 região em que o SN comanda o sistema cardiorrespiratório pode levar a morte caso o atendimento (socorro) não seja adequado. As lesões podem ter origem em fraturas, no funcionamento deficiente do sistema circulatório, em infecções e lesões ósseas. Traumas na medula afetam muitas funções orgânicas como controle muscular, esfincteriano, sensibilidade da pele e função dos órgãos sexuais. (DIEHL, 2008) ORIGEM MUSCULAR: são doenças que provocam em última instância uma hipotonia na musculatura das pessoas que são afetadas. Quase todas são genéticas (transmitidas pelos pais) ou surgem devido a uma mutação genética. Algumas já se manifestam no nascimento, outras surgem na adolescência e idade adulta. Em geral são muito incapacitantes. (HERNÁNDEZ et al., 2018) Distrofia Muscular Progressiva de Duchenne: deficiência raramente observada em meninas e começa por volta dos 4 anos. Inicia com desequilíbrio da marcha, evolui para desvio de coluna que agrava transtornos posturais o que leva ao uso de cadeira de rodas. A partir dos 10 anos a degeneração muscular o que requer ajuda para todas as atividades porque há perda de força. Em geral vão a óbito aos 20 anos por insuficiência respiratória (DIEHL, 2008). De acordo Hernández et al (2018) 1/3 das crianças que são afetadas por essa doença resulta de uma mutação genética de novo3. De uma forma geral os trabalhos na água são mais recomendados. As crianças acometidas por essas doenças não podem esgotar a musculatura durante a atividade física. ORIGEM ÓSSEO-ARTICULAR: são lesões que atingem principalmente o tecido ósseo e articular e podendo ocasionar sequelas na estrutura motora. Podem ter origem antes e durante o nascimento (malformações congênitas) ou adquiridas ao longo da vida (amputações). (DIEHL, 2008) Malformações: as malformações podem surgir durante a gestação ou no momento do nascimento. Pode haver ausência da parte distal do membro ou até ausência do mesmo. Essa ausência do membro ou uma parte dele pode ser provocado pela toxidade de drogas como a talidomida. O feto, por não terem enzimas em seu fígado para eliminá-las, permanece com essas drogas até o 3 Mutação que surgem na pessoa sem que os pais apresentem tal alteração. nascimento. Essa permanência acontece com antibióticos, aspirina, vitaminas e antigripais, narcóticos como a heroína, cocaína, anfetaminas e maconha. (DIEHL, 2008) Amputação: é uma lesão adquirida, geralmente por trauma que afeta o sistema nervoso periférico4. Provoca sequelas graves e leva a necessidade de retirada do membro, um pouco acima da lesão para garantir a saúde da pessoa. A amputação pode ser total ou parcial. Após a amputação o indivíduo permanece a sensação da presença do membro. Chama-se membro fantasma a sensação de dor e presença do membro após a amputação. É necessário um longo período para que o cérebro reconheça a ausência do membro e deixe de enviar comando para ele permitindo um novo esquema corporal. (DIEHL, 2008) MOBILIDADE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA: a locomoção de pessoas com deficiência física ocorre desde movimentos de rastejar no chão até o uso de aparelhos. Para a utilização de recursos mecânicos como cadeira de rodas e prótese há a necessidade de ter habilidade motora para o uso do aparelho (readaptar partes do corpo como membros superiores para realizar outras funções), desempenho motor (treinamento de habilidades motoras para o uso do aparelho) e orientação aos auxiliares (informar como a pessoa que auxilia deve proceder). (DIEHL, 2008) ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS: ter cuidado, desde uma simples adaptação das atividades até o uso de recursos mais sofisticados no auxílio da locomoção. Cuidado com os membros sem sensibilidade. Atenção com as possíveis feridas. Incentivar desenvolver padrões motores básicos e específicos de acordo com as possibilidades (capacidade motora). Orientar sobre como cair e se levantar corretamente. Respeitar as fases da vida (bebê, criança, adolescente, adulto e idoso) e suas diferenças. (DIEHL, 2008) 1. Pessoas com amputação: fortalecimento da musculatura do coto (para uso da prótese). Atividades que desenvolvam equilíbrio (amputação lateral), reaprender a caminhar sem uma perna ou com uso de prótese. 4 Formado por gânglios e nervos e relacionado com a transmissão de informações para o SNC e órgãos periféricos. Participar de esportes adaptados tais como: atletismo, natação voleibol e futebol. (DIEHL, 2008) 2. Pessoas com distrofia muscular: apesar da degeneração progressiva dos tecidos muscular, ósseo ou medular, muitas vezes de forma irreversível, sem haver tratamento nem atividade física para amenizar o processo é possível oferecer melhor qualidade de vida. Indicadas atividades físicas e recreativa em geral quando há possibilidade de realização. Exercícios de estabilização são recomendados (giros e caminhadas). Atividades na água auxiliam na estimulação motora e respiratória. (DIEHL, 2008) 3. Pessoas com lesão no SNC: a depender de como as lesões afetam a pessoas todas as atividades recreativas e esportivas que possam ser adaptadas, sendo indicadas as que desenvolvam consciência corporal (dimensões espaciais do corpo, lateralidade, dominância lateral, direcionalidade, orientação espacial, percepção do controle motor). Utilizar atividades de motricidade ampla e fina. Atividades na água (autonomia na locomoção). Para paraplégico, esportes como basquete em cadeira de rodas e natação, alongamentos para distencionar, reforço muscular para membros muito utilizados e tronco. Tetraplégicos (quatro membros afetados) maiores limitações. Atividades na água e recreativas (boliche com a cabeça). Com os cadeirantes explora movimentos (giros, empinagem). Orientar sobre como cair e levantar corretamente da cadeira. (DIEHL, 2008) A correta orientação profissional permitirá ao aluno com deficiência desenvolver- se, explorando sua potencialidade. DIEHL, Rosilene Moraes. Jogando com as diferenças: jogos para crianças e jovens com deficiência. 2 ed. São Paulo: Phorte, 2008. HERNÁNDEZ, Mercedes Ríos et al. Atividade Física Adaptada: o jogo e os alunos com deficiência. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018. MARTIN, Carla Soares. Os fundamentos das deficiências e síndromes. Nova Escola, 2009. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1384/os-fundamentos-das- deficiencias-e-sindromes Acesso em: 13 mar. 2022. REFERÊNCIAIS DEFICIÊNCIAS FÍSICAS https://novaescola.org.br/conteudo/1384/os-fundamentos-das-deficiencias-e-sindromes https://novaescola.org.br/conteudo/1384/os-fundamentos-das-deficiencias-e-sindromes
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