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UNIFACS 2021 2 Atvd Adaptada (Aula 4 Deficiências Físicas Texto)

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Curso de Bacharelado em Educação Física 
Disciplina Atividade Física e Esportiva Adaptada – 2022.1 
Profª Lygia Bahia 
 
 
 
Ser deficiente é um desafio! Ser aceito na sociedade, ter seus direitos garantidos, 
circular pelos espaços da cidade com segurança, são alguns dos obstáculos com 
os quais as pessoas com deficiência se depara no dia a dia. Além desses 
empecilhos há o “incômodo” da sua presença. É um corpo “diferente” que causa 
da repulsa à piedade. Com poucas exceções, historicamente, essa “diferença do 
corpo deficiente” transitou entre o extermínio, a demonização, o sobrenatural, o 
ridículo (bobo da corte), o pecado, até dar-se início a uma nova mentalidade, que 
entendia esse corpo como carente de cuidados médicos, fisioterápicos, 
terapêuticos, educacionais, dentre outros. Nesse novo momento, esses corpos, 
antes excluídos, iniciam um longo processo que passa pela segregação, 
integração e finalmente a inclusão. Porém, a realidade evidencia que o processo 
de inclusão ainda está longe de se efetivar verdadeiramente. 
Apesar de alguns avanços, a pessoa com deficiência experimenta desconforto, 
inadequação, em diferentes espaços que transita. Este sentimento está 
relacionado com o paradigma do corpo perfeito porque vivemos numa sociedade 
na qual corpos “perfeitos” e sobretudo “belos” tem assumido cada vez maior 
destaque. A ditadura da beleza, presente no mundo contemporâneo, exclui os 
corpos “feios”, que estão à margem do padrão midiático o que repercute de forma 
cruel na autoimagem da maioria da população. Essa marginalização dos corpos 
atinge de forma mais contundente os corpos deficientes, que além de lutarem 
contra todas as barreiras para estarem socialmente inclusos, têm seus corpos 
marginalizados. Essa visão rasa da existência afasta qualquer possibilidade de 
enxergar outras belezas que muitas vezes não estão visíveis aos olhos físicos 
mas que se revelam na convivência. Portanto, desenvolver um olhar sensível é 
DEFICIÊNCIAS FÍSICAS 
DEFICIÊNCIAS FÍSICAS 
 
pré-requisito imprescindível para o profissional que escolhe trabalhar com 
pessoas deficientes. 
Nesse texto vamos falar sobre as deficiências físicas que segundo Martin (2009) 
são “uma variedade de condições que afeta a mobilidade e a coordenação 
motora geral de membros ou da fala”. De uma forma geral, as pessoas com 
deficiências físicas são aquelas que apresentam algum tipo de 
comprometimento para a realização dos padrões motores que comprometem 
movimentos tais como: caminhar, correr, saltar, a manipulação coordenada de 
objetos e movimentos estabilizadores do corpo (DIEHL, 2008). 
Para Martin (2009) dificuldades no grafismo em função do comprometimento 
motor são comuns, além disso, o aprendizado as vezes é mais lento e exceto 
nos casos de alteração na motricidade oral, a linguagem é adquirida sem 
problemas. A autora afirma que muitos precisam de cadeira de rodas ou muletas 
para se locomover. 
Existem muitos tipos de deficiência física, que segundo Diehl (2008) podem ser 
agrupados de diferentes formas, o que resulta em várias maneiras de classifica-
las. Podem ter como ponto de referência a etiologia (causa da doença), a 
localização, o aparecimento, a origem. Assim como, podem ser classificadas 
pelos segmentos do corpo afetados, tendo-se aí a monoplegia, diplegia, triplegia, 
tetraplegia e hemiplegia e dupla hemiplegia1. Segundo a autora, esse 
conhecimento é muito importante para nortear o trabalho (exercício físico) a ser 
desenvolvido e também será usado no esporte adaptado. 
Nesse texto, seguiremos a classificação segundo a origem tomando como 
referência Diehl (2008). 
ORIGEM CEREBRAL: Paralisia Cerebral 
 Traumatismo Crânio-Encefálico 
ORIGEM MEDULAR: Poliomielite 
 Espinha Bífida 
 Lesões Medulares Degenerativas 
 
1 Hemiplegia (perna e braço do mesmo lado afetados), Diplegia (membros inferiores mais afetados do 
que os superiores), Paraplegia (ambos os membros inferiores afetados), Tetraplegia (membros 
superiores e inferiores afetados) (HERNÁDEZ, 2018,). 
 Traumatismos Medulares 
ORIGEM MUSCULAR: Distrofia Muscular Progressiva de Duchenne 
ORIGEM ÓSSEO-ARTICULAR: Malformações 
 Amputação 
ORIGEM CEREBRAL: são as deficiências causadas por lesões ocorridas no 
cérebro que afetam diferentes segmentos do corpo originando por exemplo uma 
monoplegia, triplegia ou ainda tetraplegia. Podem ser consideradas de grau leve 
quando as pessoas conseguem realizar o movimento quase na sua perfeição; 
grau moderado quando há a necessidade de alguma forma de auxílio; grau 
severo quando a pessoa torna-se dependente devido ao comprometimento. 
(DIEHL, 2008) 
Paralisia Cerebral: é uma lesão que afeta o Sistema Nervoso Central2 antes que 
seu desenvolvimento esteja completo o que causa uma desordem motora e 
sensitiva na movimentação ampla e fina do corpo (DIEHL, 2008). A incidência é 
de 2% de crianças nascidas vivas, podendo acontecer no período pré-natal, 
perinatal e pós-natal (HERNÁNDEZ et al., 2018). Infecções virais da mãe 
(rubéola), medicamentos inadequados utilizados pela mãe na gravidez, diabetes 
(pré-natais). Sofrimento fetal durante o parto (perinatal). Desidratação aguda, 
alimentação deficiente, traumatismos (pós-natal). 
Traumatismo Crânio-Encefálico: é uma lesão que afeta o Sistema Nervoso 
Central provocada por trauma ou Acidente Vascular Cerebral (AVC). É comum 
apresentarem movimentos involuntários, lentidão gestual e intelectual. Pode 
causar dificuldade na fala, hemiplegia, comportamento social e emocional 
alterados. É adquirido e ocorre após 3 meses de idade (DIEHL, 2008). Causado 
comumente por quedas e golpes, acidentes de trânsito e de outra natureza. 
(SANCHÉZ, 1990, apud Diehl, 2008). 
ORIGEM MEDULAR: são as deficiências causadas por lesões ocorridas na 
região da coluna medular afetando o controle motor, a sensibilidade ou ambos. 
Podem ser causadas por espinha bífida, poliomielite, degeneração ou 
 
2 Parte do Sistema Nervoso formado pela medula e encéfalo. 
traumatismos. Em relação a sua ocorrência no corpo podem ocorrer na coluna 
cervical, torácica, lombar ou sacral. (DIEHL, 2008) 
Poliomielite: doença infecciosa causada principalmente pelo vírus poliovírus. As 
lesões neurais produzidas pela poliomielite se localizam no corno anterior da 
medula. O ataque às células nervosas pode originar paralisia em um músculo ou 
de todos os músculos do tronco e dos membros. Portanto o grau da fraqueza 
muscular depende do número de células nervosas destruídas (HERNÁNDEZ et 
al., 2018). As pessoas que contraem a doença desenvolvem problemas 
posturais, tem pouco comprometimento sensitivo e não apresenta 
comprometimento mental. (DIEHL, 2008) 
Espinha Bífida: é uma falha no fechamento do tubo neural durante o período 
embrionário, e como resultado algumas vértebras ficam abertas e com isso parte 
da medula espinhal fica exposta. É uma malformação congênita. As crianças 
que apresentam essa deficiência nascem com uma protuberância bem evidente 
nas costas. A depender do local da lesão pode-se prever o que essa acarretará 
(grau de autonomia, aparelhos necessários para a pessoa poder caminhar, etc). 
Como decorrência da malformação há paralisia da musculatura do nível da lesão 
para baixo, perda da sensibilidade nos membros inferiores da região que 
corresponde ao nível da paralisia, problemas circulatórios na área paralisada, 
ocorrência de deformações associadas, hidrocefalia, incontinência urinária e 
fecal. (HERNÁNDEZ et al., 2018) 
Lesões Medulares Degenerativas : as lesões medulares degenerativas resultam 
da perda gradativa das célulasnervosas da medula e é causada por infecções 
hereditárias. Exemplo: Enfermidade de Werdin (Hoffman): conhecida como 
boneca de pano. Apresenta hipotonia muscular, paralisia flácida, deformações 
articulares e insuficiência respiratória. Adquirida na infância evolui rapidamente 
e é fatal. Adquirida na juventude desenvolve-se mais lentamente. (DIEHL, 2008) 
Traumatismos Medulares: sendo parte integrante do Sistema Nervoso Central, 
qualquer lesão ocorrida em uma das 24 vértebras trará danos irreparáveis. A 
depender do trauma pode haver perda parcial ou total da sensibilidade do corpo 
e controle dos movimentos logo abaixo onde ocorreu a lesão. Exemplo: trauma 
na altura das vértebras cervicais pode deixar a pessoa tetraplégica. Lesões a 
cima da C4 região em que o SN comanda o sistema cardiorrespiratório pode 
levar a morte caso o atendimento (socorro) não seja adequado. As lesões podem 
ter origem em fraturas, no funcionamento deficiente do sistema circulatório, em 
infecções e lesões ósseas. Traumas na medula afetam muitas funções orgânicas 
como controle muscular, esfincteriano, sensibilidade da pele e função dos órgãos 
sexuais. (DIEHL, 2008) 
ORIGEM MUSCULAR: são doenças que provocam em última instância uma 
hipotonia na musculatura das pessoas que são afetadas. Quase todas são 
genéticas (transmitidas pelos pais) ou surgem devido a uma mutação genética. 
Algumas já se manifestam no nascimento, outras surgem na adolescência e 
idade adulta. Em geral são muito incapacitantes. (HERNÁNDEZ et al., 2018) 
 Distrofia Muscular Progressiva de Duchenne: deficiência raramente observada 
em meninas e começa por volta dos 4 anos. Inicia com desequilíbrio da marcha, 
evolui para desvio de coluna que agrava transtornos posturais o que leva ao uso 
de cadeira de rodas. A partir dos 10 anos a degeneração muscular o que requer 
ajuda para todas as atividades porque há perda de força. Em geral vão a óbito 
aos 20 anos por insuficiência respiratória (DIEHL, 2008). De acordo Hernández 
et al (2018) 1/3 das crianças que são afetadas por essa doença resulta de uma 
mutação genética de novo3. De uma forma geral os trabalhos na água são mais 
recomendados. As crianças acometidas por essas doenças não podem esgotar 
a musculatura durante a atividade física. 
 
ORIGEM ÓSSEO-ARTICULAR: são lesões que atingem principalmente o tecido 
ósseo e articular e podendo ocasionar sequelas na estrutura motora. Podem ter 
origem antes e durante o nascimento (malformações congênitas) ou adquiridas 
ao longo da vida (amputações). (DIEHL, 2008) 
Malformações: as malformações podem surgir durante a gestação ou no 
momento do nascimento. Pode haver ausência da parte distal do membro ou até 
ausência do mesmo. Essa ausência do membro ou uma parte dele pode ser 
provocado pela toxidade de drogas como a talidomida. O feto, por não terem 
enzimas em seu fígado para eliminá-las, permanece com essas drogas até o 
 
3 Mutação que surgem na pessoa sem que os pais apresentem tal alteração. 
nascimento. Essa permanência acontece com antibióticos, aspirina, vitaminas e 
antigripais, narcóticos como a heroína, cocaína, anfetaminas e maconha. 
(DIEHL, 2008) 
Amputação: é uma lesão adquirida, geralmente por trauma que afeta o sistema 
nervoso periférico4. Provoca sequelas graves e leva a necessidade de retirada 
do membro, um pouco acima da lesão para garantir a saúde da pessoa. A 
amputação pode ser total ou parcial. Após a amputação o indivíduo permanece 
a sensação da presença do membro. Chama-se membro fantasma a sensação 
de dor e presença do membro após a amputação. É necessário um longo período 
para que o cérebro reconheça a ausência do membro e deixe de enviar comando 
para ele permitindo um novo esquema corporal. (DIEHL, 2008) 
 
MOBILIDADE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA: a locomoção de 
pessoas com deficiência física ocorre desde movimentos de rastejar no chão até 
o uso de aparelhos. Para a utilização de recursos mecânicos como cadeira de 
rodas e prótese há a necessidade de ter habilidade motora para o uso do 
aparelho (readaptar partes do corpo como membros superiores para realizar 
outras funções), desempenho motor (treinamento de habilidades motoras para o 
uso do aparelho) e orientação aos auxiliares (informar como a pessoa que auxilia 
deve proceder). (DIEHL, 2008) 
 
ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS: ter cuidado, desde uma simples 
adaptação das atividades até o uso de recursos mais sofisticados no auxílio da 
locomoção. Cuidado com os membros sem sensibilidade. Atenção com as 
possíveis feridas. Incentivar desenvolver padrões motores básicos e específicos 
de acordo com as possibilidades (capacidade motora). Orientar sobre como cair 
e se levantar corretamente. Respeitar as fases da vida (bebê, criança, 
adolescente, adulto e idoso) e suas diferenças. (DIEHL, 2008) 
1. Pessoas com amputação: fortalecimento da musculatura do coto (para 
uso da prótese). Atividades que desenvolvam equilíbrio (amputação 
lateral), reaprender a caminhar sem uma perna ou com uso de prótese. 
 
4 Formado por gânglios e nervos e relacionado com a transmissão de informações para o SNC e órgãos 
periféricos. 
Participar de esportes adaptados tais como: atletismo, natação voleibol e 
futebol. (DIEHL, 2008) 
2. Pessoas com distrofia muscular: apesar da degeneração progressiva dos 
tecidos muscular, ósseo ou medular, muitas vezes de forma irreversível, 
sem haver tratamento nem atividade física para amenizar o processo é 
possível oferecer melhor qualidade de vida. Indicadas atividades físicas e 
recreativa em geral quando há possibilidade de realização. Exercícios de 
estabilização são recomendados (giros e caminhadas). Atividades na 
água auxiliam na estimulação motora e respiratória. (DIEHL, 2008) 
3. Pessoas com lesão no SNC: a depender de como as lesões afetam a 
pessoas todas as atividades recreativas e esportivas que possam ser 
adaptadas, sendo indicadas as que desenvolvam consciência corporal 
(dimensões espaciais do corpo, lateralidade, dominância lateral, 
direcionalidade, orientação espacial, percepção do controle motor). 
Utilizar atividades de motricidade ampla e fina. Atividades na água 
(autonomia na locomoção). Para paraplégico, esportes como basquete 
em cadeira de rodas e natação, alongamentos para distencionar, reforço 
muscular para membros muito utilizados e tronco. Tetraplégicos (quatro 
membros afetados) maiores limitações. Atividades na água e recreativas 
(boliche com a cabeça). Com os cadeirantes explora movimentos (giros, 
empinagem). Orientar sobre como cair e levantar corretamente da 
cadeira. (DIEHL, 2008) 
 
A correta orientação profissional permitirá ao aluno com deficiência desenvolver-
se, explorando sua potencialidade. 
 
 
DIEHL, Rosilene Moraes. Jogando com as diferenças: jogos para crianças e jovens com 
deficiência. 2 ed. São Paulo: Phorte, 2008. 
HERNÁNDEZ, Mercedes Ríos et al. Atividade Física Adaptada: o jogo e os alunos 
com deficiência. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018. 
MARTIN, Carla Soares. Os fundamentos das deficiências e síndromes. Nova Escola, 
2009. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1384/os-fundamentos-das-
deficiencias-e-sindromes Acesso em: 13 mar. 2022. 
REFERÊNCIAIS 
DEFICIÊNCIAS FÍSICAS 
 
https://novaescola.org.br/conteudo/1384/os-fundamentos-das-deficiencias-e-sindromes
https://novaescola.org.br/conteudo/1384/os-fundamentos-das-deficiencias-e-sindromes

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