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TÓPICOS EM GESTÃO HOSPITALAR Profa. Me Fabíola Adami GUIA DA DISCIPLINA 2022 1 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. SAÚDE E GLOBALIZAÇÃO Olá! Iniciaremos nossa disciplina com um pouco de reflexão sobre esta importante área de estudos que é saúde, trazendo aspectos impactantes da globalização para serem pensados. Para isto busquei referências que você encontrará ao final deste capítulo, pesquise mais caso queira se aprofundar. A intenção desta disciplina é leva-los à refletir sobre outros aspectos que envolvem o mundo da saúde e de certa maneira acabam por se relacionar às práticas da gestão de maneira interdisciplinar e multidisciplinar, aspectos e habilidades importantes à formação. Sabemos que a saúde pública, tem sido confrontada ao longo de sua história com enormes desafios. Passamos em especial por dois desafios: a globalização e a pobreza. Estes dois fenômenos influenciam o cotidiano da saúde dos povos, compromisso primeiro e maior da saúde pública. A globalização é um processo econômico, social e cultural e suas principais características incluem: • crescimento do comércio internacional de bens, produtos e serviços; • transnacionalização de mega empresas; • livre circulação de capitais; • privatização da economia e minimização do papel dos governos e dos Estados nação; • queda de barreiras comerciais protecionistas e regulação do comércio internacional, segundo as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC); • facilidade de trânsito de pessoas e bens entre os diversos países do mundo; e • expansão das possibilidades de comunicação e grande facilidade de contato entre as pessoas devido ao aparecimento da internet. • Tivemos uma revolução nos transportes e nas comunicações, que praticamente anulou o tempo e a distância, aproximando culturas e economias desiguais. 2 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância ➔ O que se tem observado é que as medidas de abertura dos mercados e as considerações de ordem financeira e econômica prevalecem sobre as considerações sociais. As dívidas externa e interna, o protecionismo à indústria e à agricultura por parte dos países mais ricos e as barreiras comerciais aos produtos primários e manufaturados da cesta de exportação dos países em desenvolvimento estão na raiz de uma imensa crise fiscal que os países pobres enfrentam e na dívida social crescente que têm com suas populações. Em consequência, os programas de combate à pobreza e outros programas sociais de muitos dos países em desenvolvimento acabam relegados ou ineficazes. A pobreza é um conceito multidimensional e uma situação real de vida. E são exatamente os pobres que vivem em piores condições sociais, ambientais e sanitárias, assim como têm maior dificuldade no acesso aos serviços públicos em geral e de saúde em particular. Eles têm pior acesso a políticas públicas, habitações minimamente adequadas, água potável, saneamento, alimentos, educação, transporte, lazer, emprego fixo e sem riscos, assim como aos serviços de saúde. São as chamadas iniquidades sociais e de saúde. As iniquidades em saúde existem entre países e regiões do mundo e entre ricos e pobres no interior dos países. Há muita desigualdade, ocorrendo tanto nos níveis de saúde e nutrição, como no acesso aos serviços sociais e de saúde. 3 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A globalização tem empobrecido países e ampliado a pobreza, a exclusão e as iniquidades econômicas e sociais. Estas, por sua vez, repercutem pesadamente sobre a saúde de indivíduos e da população como um todo. Uma das facetas das consequências da globalização sobre a saúde é a possibilidade da transnacionalização das doenças transmissíveis, particularmente as novas. Com as facilidades das viagens internacionais e a difusão do comércio em escala planetária, uma série de microrganismos podem ser rapidamente transportados, através de pessoas, animais, insetos e alimentos, de um país a outro e de um ponto a outro do globo. Há um grande potencial epidêmico, facilitado pelos rápidos deslocamentos em viagens aéreas internacionais, o que aponta para a necessidade e a importância do reforço das redes globais de diagnóstico e vigilância em saúde, operadas pela OMS e parceiros ao redor do mundo. Consequência ainda das guerras e conflitos tem sido o desmantelamento da infraestrutura, destruição de serviços de saúde e saneamento, assim como do ambiente, afetando de forma contundente, a saúde de populações inteiras. Os orçamentos públicos são desviados de programas sociais, como educação e saúde, para o financiamento de outros interesses, privando a população destes recursos 4 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância essenciais e piorando ainda mais as condições de saúde. Veja que um paradoxo da globalização é que, numa fase da história em que as tecnologias agrícolas disponíveis poderiam propiciar farta produção de alimentos, haja tanta fome no mundo, açoitando partes do planeta na forma de verdadeiro genocídio. Os sistemas de saúde dos países em desenvolvimento são submetidos à forte pressão do comércio internacional de insumos para a saúde, bem como o alto preço dos medicamentos, em grande parte decorrentes de um sistema de proteção de patentes. Assim, é muito importante a mobilização de profissionais de saúde em geral, de todo o mundo, na compreensão, crítica e luta contra a globalização injusta, a pobreza e a exclusão, por um meio ambiente sustentável, pela equidade na saúde, pela paz e solidariedade entre todos os povos do mundo, para que alcancemos melhores condições de saúde e qualidade de vida. A era dos refugiados ambientais. O Globo 2005 Out 12; p. 26. Buss PM. Globalization and disease. Cad Saúde Pública 2002; 18(6):1783–88. Population Reference Bureau (PRB).Disponível em: http://www.prb.org Hobsbawm E. Era dos Extremos: O breve século XX (1914–1991). São Paulo: Companhia das Letras; 1995. PM Buss. Globalization, poverty and health - Ciência & Saúde Coletiva, 2007 - SciELO Public Health. https://www.scielosp.org/article/csc/2007.v12n6/1575- 1589/ World Health Organization (WHO). Report of the Commission on Intellectual Property Rights, Innovation and Public Health. [acessado 2020 april 03]. Disponível em: http://www.who.int/intellectualproperty/documents/thereport/en/ http://www.prb.org/ https://www.scielosp.org/article/csc/2007.v12n6/1575-1589/ https://www.scielosp.org/article/csc/2007.v12n6/1575-1589/ http://www.who.int/intellectualproperty/documents/thereport/en/ 5 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. COMENTÁRIOS A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE As políticas públicas de saúde no Brasil representam instrumentos legais responsáveis pela regulamentação dos serviços de saúde. Evolução da saúde pública no Brasil: • 1903 primeiras ações em saneamento no RJ • 1904 revolta da vacina • Década de 20 proposta de educação sanitária • 1930 áreas centrais do RJ com saneamento básico, ampliação dos centros de saúde • 1950 políticas de ordem privada em relação a saúde – planos de saúde • 1966 criação do INPS • 1971 criação do Funrural • 1972 criação do programa de interiorização das ações de saúde e saneamento • 1977 criação do sistema nacional de previdência e assistência social com o intuito de integrar ações previdenciárias e de assistência social Contudo não pretendemos estudar a historicidade do tema e sim comentar sobre a evolução histórica da saúde, senão vejamos: Observando o panorama mundial podemos refletir sobre a questão da saúde global, onde esta abordagem é por vezes identificadacomo um resposta a novos eventos, como 6 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância as pandemias internacionais que atingem todos os países. Saúde global é um termo que surgiu como parte de um processo histórico e político mais amplo, no contexto de uma nova ordem mundial neoliberal, onde o papel da OMS passa a ser desafiado e reposicionado através de um conjunto de alianças de poder. Assim este termo se vincula a ideia de globalização utilizado nos discursos econômicos e políticos após 1991, final da guerra fria e do comunismo na união soviética. Houve então o aumento de intercâmbios comerciais, fluxos de capitais financeiros transnacionais, processos de imigração e expansão de tecnologias. A questão da saúde global veio a partir da necessidade de oferecer uma resposta emergencial a novas doenças, surtos epidêmicos e infecções através de acordos intergovernamentais e programas sanitários em países pobres (aqui vale lembrar da necessidade de água potável, não contaminada, adoção de aspectos necessários de higiene e pesquisa cientifica no combate as doenças). Foram criadas agencias de saúde a partir de epidemias mundiais e acordos, depois foi verificado que havia vínculos com a OMS como órgão que procura exercer um liderança global, criado em 1948, idealizando um programa sanitário chamado de Atenção Primária à Saúde, tendo até o momento ocupado lugar estável nesta ordem política mundial. As políticas e as atividades de cooperação internacional se configuram como um dos principais instrumentos da política externa, tanto como mecanismo de dominação, quanto como parte importante da estratégia de inserção internacional, sempre mediada pelo jogo de poder inerente à dinâmica do sistema mundial. 7 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Nos anos 1970, o Ministério da Saúde começou a se organizar para acompanhar temas internacionais em saúde de interesse do país. Na reforma administrativa de 1998 tomou a forma atual de Assessoria de Assuntos Internacionais em Saúde, e, desde então, se ocupa dos temas internacionais, incluindo a coordenação da cooperação técnica internacional. Veja que a cooperação técnica internacional é apenas um dos componentes da diplomacia da saúde dos países e de organizações internacionais. O termo diplomacia da saúde refere-se à resolução dos problemas e questões existentes no espaço político e técnico da saúde global. Assim, as políticas públicas em saúde, além de incluírem ações de governo para enfrentamento de problemas da coletividade, envolvem interesses de múltiplos atores que disputam cotidianamente ideias, valores, visão de mundo e narrativas, vetores que influenciam e definem o desenrolar dessas políticas nos territórios. Esses campos de tensão e de disputas trazem para a cena algo que escapa do controle almejado pela gestão, quando observamos gestores, trabalhadores e até mesmo usuários inventando novas formas de resolver os problemas do cotidiano que podem passar 8 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância ou não alheias às políticas formuladas. Elas são o resultado de um conjunto de ações produzidas nos territórios, pode-se considerar a questão da materialização dessas políticas por parte dos trabalhadores no encontro com os usuários e com a gestão. A autonomia com que trabalhadores e usuários têm produzido os seus percursos, muitas vezes, fica fora do radar dos gestores que acham que estão controlando o trabalho apenas por planilhas gerenciais e sistemas de informação. Vê-se que apesar da importância da área a solução perpassa por muitas políticas e interesses políticos por vezes em detrimento do que é necessário realmente a atender as necessidades da ponta que é o cidadão. Até que ponto então estamos construindo pertencimento, por parte dos usuários e trabalhadores, com essas políticas? O que passa invisível no radar do gestor está dito nas narrativas de trabalhadores, gestores locais e usuários, em vários espaços formais e informais dos serviços de saúde e nas comunidades como formas de resistir e existir no mundo. É a rede viva que opera no sistema de saúde que nos possibilita enxergar os aspectos micro políticos do trabalho que interferem nas políticas de saúde implementadas. Para tanto devemos estar atentos ao que deve ser feito em prol de melhorias ao funcionamento e atendimento. 9 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Almeida C. Política externa e cooperação internacional no Brasil. In: Buss PM, Tobar S, organizadores. Diplomacia da saúde e saúde global: Perspectivas latino-americanas Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2017. p. 487-532 Bertolli F. História da Saúde Pública no Brasil. 4a ed. São Paulo: Ática; 2003. 71p. Buss PM, Tobar S. Diplomacia da saúde e saúde global: Perspectivas latino- americanas. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2017 Brasil. Lei nº 8.080 de 19 de Setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília: DOU; 1990. Brasil. Lei Nº 8.142 de 28 de Dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde - SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. Brasília: DOU; 1990. Feuerwerker LCM. Micropolítica e saúde: produção do cuidado, gestão e formação. Porto Alegre: Rede Unida; 2014. Pereira MG. Epidemiologia: Teoria e prática. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. 598 p. Paim JS. Uma análise sobre o processo da reforma Sanitária brasileira. Saúde em Debate 2009;33:27-37. Silva SF. Sistema Único de Saúde 20 anos: avanços e dilemas de um processo em construção. Saúde em Debate 2009;33:38-46 10 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO NA GESTÃO EM SAÚDE A partir de debates no Ministério da Saúde, nos idos de 2003, houve a defesa da priorização do tema da humanização como aspecto fundamental a ser contemplado nas políticas públicas de saúde, a partir da tensão entre concepções diferentes. De um lado, visavam aos focos e resultados dos programas e, de outro, problematizavam os processos, no plano mais amplo da alteração de modelos de atenção e de gestão. Apresentava-se não só um desafio, mas principalmente a urgência de reavaliar conceitos e práticas nomeadas como humanizadas que estariam identificadas a partir de movimentos religiosos, filantrópicos ou paternalistas. Assim, a humanização era menosprezada por grande parte dos gestores, ridicularizada por trabalhadores mas demandada pelos usuários. O diagnóstico demonstrou a complexidade da tarefa de se construir de modo eficaz um sistema público que garantisse acesso universal, equânime e integral a todos os cidadãos brasileiros, há condições precárias de trabalho, dificuldade de alinhamento entre diferentes esferas do SUS, do descuido e da falta de compromisso na assistência ao usuário dos serviços de saúde. O SUS é uma conquista na democracia no país que em 1988 ganham estatuto constitucional. Ou seja, garantir o caráter constituinte do SUS, impõe que possamos identificar os problemas contemporâneos que se dão na relação entre Estado e as políticas públicas. Uma Política Nacional de Humanização retoma o que está na base da reforma da 11 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância saúde no país. De início foi observado que havia projetos, atividades, propostas, mas em todos era evidente o caráter fragmentado e separado dessasiniciativas, havia a da banalização do tema da humanização, a fragmentação das práticas ligadas a diferentes programas de humanização da saúde. Houve daí a proposta da política nacional de humanização. Como política, a humanização deveria traduzir princípios e modos de operar no conjunto das relações entre todos que constituem o SUS. Era principalmente o modo coletivo e co-gestivo de produção de saúde e de sujeitos implicados nesta produção que deveria orientar a construção como política pública. A orientação a partir de uma política instituída impôs mudanças no modelo de atenção dos usuários e da gestão dos processos de trabalho, afirmando a saúde não como valor de troca, mas como valor de uso, o que faz com que se altere o padrão de atenção no sentido da ênfase no vínculo com os usuários, garantindo seus direitos. Estimulou-se melhores condições para os trabalhadores e gestores realizarem seu trabalho tendo a humanização como política pública a criar espaços de construção e troca de saberes, investindo nos modos de trabalhar em equipe, lidar com necessidades, desejos e interesses dos diferentes envolvidos, como estratégia de interferência no processo de 12 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância produção de saúde levando em conta que sujeitos, quando mobilizados, são capazes de transformar realidades transformando-se a si próprios neste mesmo processo. Uma rede comprometida com a defesa da vida, rede humanizada porque construindo permanente e solidariamente laços de cidadania a humanizar a atenção e a gestão em saúde como meio para a qualificação das práticas de saúde através do acesso com acolhimento; atenção integral com responsabilização e vínculo; valorização dos trabalhadores e usuários com avanço na democratização da gestão e no controle social participativo. Princípios norteadores para a humanização: 1) valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão, fortalecendo o compromisso com os direitos do cidadão, destacando-se o respeito às questões de gênero, etnia, raça, orientação sexual e às populações específicas (índios, quilombolas, ribeirinhos, assentados etc.); 2) fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, fomentando a transversalidade; 3) apoio à construção de redes cooperativas, solidárias e comprometidas com a produção de saúde e com a produção de sujeitos; 4) construção de autonomia e protagonismo de sujeitos e coletivos implicados; 5) corresponsabilidade desses sujeitos nos processos de gestão e de atenção; 6) fortalecimento do controle social com caráter participativo em todas as instâncias gestoras; 7) compromisso com a democratização das relações de trabalho e valorização dos profissionais de saúde, estimulando processos de educação permanente. Ou seja, o conceito de humanização apresenta sua relação com o tema do Estado moderno. Entre os anos 60 e 80, foram marcados por lutas que impunham não só a recolocação das funções e deveres do Estado, como também, os direitos dos homens. Houve debates que acompanharam as experimentações políticas em curso e a potência de problematização do poder, tratando de avaliar os poderes instituídos e as resistências- instituintes de novos modos de viver e, mais especificamente, de lidar com o tema da saúde. 13 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A Política Nacional se propôs a operar no limite entre a máquina do Estado e o plano coletivo, apostando que na série governo-Estado-políticas públicas, é este último termo que deve prevalecer na orientação das ações governamentais. As alterações da experiência coletiva é que podem gerar políticas públicas garantindo o sentido público das políticas que também atravessam o Estado. Se políticas públicas são o resultado de um conjunto de ações produzidas, pode-se considerar a questão da materialização dessas políticas por parte dos trabalhadores no encontro com os usuários e com a gestão. Assim, concluímos afirmando a essencialidade da discussão da humanização na saúde a partir dos princípios de universalidade, equidade e integralidade da saúde, previstos na Constituição de 1988 como direito de qualquer cidadão e como dever do Estado. Façamos nossa parte para assegurarmos este direito a todos. Benevides BR & Passos E 2000. A construção do plano da clínica e o conceito de transdisciplinaridade. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Brasília 16(1):71-80. Brasil 2004. Política Nacional de Humanização. Documento base para gestores e trabalhadores do SUS. Ministério da Saúde, Brasília. Campos GWS 2000. Um método para análise e cogestão de coletivos a construção do sujeito, a produção de valor de uso e a democracia em instituições: o método da roda. Hucitec, São Paulo. Feuerwerker LCM. Micropolítica e saúde: produção do cuidado, gestão e formação. Porto Alegre: Rede Unida; 2014. Foucault M 1979d. A política da saúde no século XVIII, pp. 193-207. In R Machado (org.). Microfísica do poder. Ed. Graal, São Paulo. 14 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. CONCEITO DO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA O Programa Saúde da Família (PSF) teve início em meados de 1993, sendo regulamentado de fato em 1994, como uma estratégia do Ministério da Saúde (MS) para mudar a forma tradicional de prestação de assistência, visando estimular a implantação de um novo modelo de Atenção Primária que resolvesse a maior parte (cerca de 85%) dos problemas de saúde (Roncolleta, 2003; Da Ros, 2006). Visa ao trabalho na lógica da Promoção da Saúde, almejando a integralidade da assistência ao usuário como sujeito integrado à família, ao domicílio e à comunidade. Entre outros aspectos, para o alcance deste trabalho, é necessária a vinculação dos profissionais e dos serviços com a comunidade, e a perspectiva de promoção de ações intersetoriais (Da Ros, 2006; Roncoletta, 2003). Em relação ao Programa Saúde da Família, cito o próprio Ministério da Saúde (https://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/saude-da-familia/sobre-o-programa), onde constam os principais itens em relação ao tema, os quais podem ser verificados caso haja necessidade. https://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/saude-da-familia/sobre-o-programa 15 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A Estratégia Saúde da Família (ESF) busca promover a qualidade de vida da população brasileira e intervir nos fatores que colocam a saúde em risco, como falta de atividade física, má alimentação, uso de tabaco, dentre outros. Com atenção integral, equânime e contínua, a ESF se fortalece como a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS). A proximidade da equipe de saúde com o usuário permite que se conheça a pessoa, a família e a vizinhança. Isso garante uma maior adesão do usuário aos tratamentos e às intervenções propostas pela equipe de saúde. O resultado é mais problemas de saúde resolvidos na Atenção Básica, sem a necessidade de intervenção de média e alta complexidade em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h) ou hospital. A Equipe de Saúde da Família está ligada à Unidade Básica de Saúde (UBS) local. Esse nível de atenção resolve 80% dos problemas de saúde da população. Entretanto, se a pessoa precisar de um cuidado mais avançado, a ESF faz este encaminhamento. 16 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A Estratégia Saúde da Família (ESF) é composta por equipe multiprofissional que possui, no mínimo, médico generalista ou especialista em saúde da família ou médico de família e comunidade, enfermeiro generalista ou especialista em saúde da família, auxiliar ou técnico de enfermagem e agentescomunitários de saúde (ACS). O número de ACS deve ser suficiente para cobrir 100% da população cadastrada, com um máximo de 750 pessoas por agente e de 12 ACS por equipe de Saúde da Família, não ultrapassando o limite máximo recomendado de pessoas por equipe. Cada equipe de Saúde da Família deve ser responsável por, no máximo, 4.000 pessoas de uma determinada área, que passam a ter corresponsabilidade no cuidado com a saúde. Atividades básicas de uma equipe de Saúde da Família I. Conhecer a realidade das famílias pelas quais são responsáveis e identificar os problemas de saúde mais comuns e situações de risco aos quais a população está exposta; II. Executar, de acordo com a qualificação de cada profissional, os procedimentos de vigilância à saúde e de vigilância epidemiológica, nos diversos ciclos da vida; III. Garantir a continuidade do tratamento, pela adequada referência do caso; IV. Prestar assistência integral, respondendo de forma contínua e racionalizada à demanda, buscando contatos com indivíduos sadios ou doentes, visando promover a saúde por meio da educação sanitária; V. Promover ações intersetoriais e parcerias com organizações formais e informais existentes na comunidade para o enfrentamento conjunto dos problemas; VI. Discutir, de forma permanente, junto à equipe e à comunidade, o conceito de cidadania, enfatizando os direitos de saúde e as bases legais que os legitimam; VII. Incentivar a formação e/ou participação ativa nos conselhos locais de saúde e no Conselho Municipal de Saúde. O profissional envolvido deve esta socialmente investido de autoridade sanitária. Ter postura e o conhecimento verdadeiro e absoluto dos temas que envolvem saúde e doença; dessa forma, impõe, em nome de interesses maiores da coletividade, o tipo de comportamento que os indivíduos devem assumir. 17 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Portanto, sua participação na capacitação comunitária é imprescindível para a construção da autonomia, cidadania e controle sobre os determinantes de saúde na perspectiva da Promoção da Saúde. Aponta-se finalmente para a importância de aproximar as práxis da Educação em Saúde com a realidade social para que se atinja os reais benefícios deste programa. Assim, neste capítulo, fomentamos o conhecimento das práticas que envolvem a atuação profissional junto à comunidade, fator imprescindível à melhoria da saúde pública. BRASIL, 2020. Ministério da Saúde. Programa Estratégia Saúde da Família (ESF). Disponível em https://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/saude- da-familia/sobre-o-programa DA ROS, M.A. Políticas públicas de saúde no Brasil. In: BAGRICHEVSKI, M. (Org.). Saúde em debate na Educação Física. Blumenau: Nova Letra, 2006. p.44-66. RONCOLLETA, A. F. T. et al. Princípios da medicina de família. São Paulo: Sombramfa, 2003. https://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/saude-da-familia/sobre-o-programa https://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/saude-da-familia/sobre-o-programa 18 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. SAÚDE SUPLEMENTAR A Saúde Suplementar é a atividade que envolve a operação de planos ou seguros de saúde. Essa operação é regulada pelo poder público, representado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e as operadoras compreendem seguradoras especializadas em saúde, medicinas de grupo, cooperativas, instituições filantrópicas e autogestões. O estado de saúde no qual se encontram os indivíduos é, sem dúvidas, um dos principais fatores determinantes do desenvolvimento econômico e do bem-estar social. O estabelecimento de políticas públicas precisa estar em perfeita sintonia com o bem-estar, o desenvolvimento econômico e a higidez individual, a qual é um requisito fundamental para a efetividade dessas políticas e a consecução do bem comum. O interesse comum entre os setores público e privado tem contexto dinâmico, influenciando grupos de interesses n o campo da saúde suplementar no Brasil. A inter- relação entre esses interesses ocupa as mais importantes escolhas realizadas na Saúde, ora ressaltando mais os interesses públicos, ora os interesses privados, mas conectada à busca do bem comum, estabelecida pelas instituições governantes/reguladoras. Criada a partir de setor específico do Ministério da Saúde, coube à ANS cumprir a Lei nº 9.656, editada em 1998. A Agência nasceu pela Lei nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000, como instância reguladora de um setor da economia sem padrão de funcionamento. A exceção ficava por conta do seguro de assistência à saúde e das seguradoras, sob o controle econômico-financeiro da Superintendência de Seguros Privados (Susep). 19 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A saúde suplementar passou a conviver com o sistema público, consolidado pelo Sistema Único de Saúde, nascido a partir da Constituição Federal de 1988. Com o SUS, a saúde foi legitimada como um direito da cidadania. O sistema de saúde brasileiro seguiu a trajetória de outros países latino-americanos, desenvolvendo-se a partir da previdência social. Planos de saúde comerciais, com clientelas abertas, também surgem como planos coletivos empresariais através da modalidade medicina de grupo no ABC paulista nos anos 1950. Hoje, o setor brasileiro de planos e seguros de saúde é um dos maiores sistemas privados de saúde do mundo (BRASIL, 2020). Fonte: Sistema de Informações de Beneficiários-SIB/ANS/MS - Dados atualizados até 02/2020 O marco histórico da aquisição do direito universal à saúde foi na promulgação da Constituição Federal em 1988, reconheceu-se a relevância da saúde pública, sendo delegado ao Estado o dever de garanti-la a todos os cidadãos impulsionando a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Beneficiários de planos privados de saúde, por época de contratação do plano, segundo cobertura assistencial e tipo de contratação do plano (Brasil - Dezembro/2019) Cobertura assistencial e tipo de contratação do plano Planos Novo Antigo Total Assistência médica com ou sem odontologia 43.491.437 3.540.543 47.031.980 Individual ou Familiar 8.038.185 1.002.126 9.040.311 Coletivo Empresarial 30.414.736 1.333.376 31.748.112 Coletivo por adesão 5.037.646 1.113.062 6.150.708 Coletivo não identificado 631 0 631 Não Informado 239 91.979 92.218 20 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Nesse contexto, a intensificação da relação público-privada na saúde emergiu devido ao aumento da demanda por saúde, cujos serviços passaram também a ser ofertados pelo setor privado. Contudo, não é novidade os problemas decorrentes da relação das operadoras de planos de saúde com seus usuários. A gama de reclamações por imposições é sem tamanho e para tanto a regulação se torna imprescindível. No setor da saúde suplementar, a regulação econômica surgiu como mediadora e como fonte de resolução dos conflitos existentes entre os usuários e as operadoras de planos de saúde. Logo, a regulação pode ser definida como o conjunto de formas institucionais, redes e normas explícitas e implícitas que asseverem que as relações sociais de produção sejam compatíveis com o seu desenvolvimento de consumo social (BOYER, 2004; HIRSCH, 2010). Isento da intervenção regulatória do Estado, o mercado de planos de saúde, na década de 90, era marcado pela autorregulação. A estrutura existente atribuía ao Ministério da Saúde a responsabilidade de conduzir o setor, definindo regras e parâmetros de operação da saúde. PARTES ENVOLVIDAS NO PROCESSO ➔ Neste segmento de mercado existem os beneficiários, que contratam os serviços, as OPS, que adquirem a obrigação de garantiro acesso aos serviços de assistência à saúde e os denominados prestadores de serviços, que materializam a prestação dos serviços de saúde para os beneficiários contratantes. A consequência do crescimento desse setor foi o aumento das ocorrências de conflitos entre os atores. Na falta de regulação, a relação entre os usuários e as OPS seria permeada por um gap (lacuna) de informações, tornando-se o principal motivo que impulsionou a exigência dos beneficiários por informações reguladas e padronizadas. 21 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Assim, devido à atenuação dos conflitos nas relações entre os atores desse setor, a Lei nº 9.656, estabeleceu dispositivos sobre os planos e os seguros privados de assistência à saúde. Essa Lei foi considerada um marco para regular esse mercado e sua edição trouxe uma nova realidade para este mercado, com a introdução de uma série de exigências financeiras e técnicas. Essas exigências resultaram em obrigações para a adoção de mecanismos de controle operacional e interno nas OPS. Complementando esse marco regulatório, a saúde suplementar também foi marcada pela Lei nº 9.961, de 2000, que criou a ANS, designando a essa agência a função regulatória desse mercado, que, até então, era conhecido por sua complexidade. 22 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância É certo que o surgimento da ANS também se configurou como uma resposta à sociedade que utilizava esses serviços, pois, em vista o seu desenvolvimento, eram indispensáveis normas e regras para tal segmento. Notadamente, a regulação vem alcançando novos patamares atrelados à asseguração em favor dos beneficiários da saúde suplementar. Assim, podemos afirmar que tendo em vista as necessidades da população nos dias atuais, é latente a necessidade da força de regulação exercida pelo Estado com a inserção da ANS no mercado de saúde suplementar, com o objetivo de restringir os poderes concentrados nas OPS, levando-as a seguir regras específicas para manterem suas atividades nesse mercado. BRASIL, 2020. ANS – AGENCIA NACIONAL DE SAÚDE. http://www.ans.gov.br/aans/quem-somos/historico BOYER, Robert. Théorie de la régulation: 1. Les fondamentaux. Paris: La découverte (Collection Repères), 2004. GERSCHMAN, Silvia; UGÁ, Maria Alicia D.; PORTELA, Margareth; LIMA, Sheyla Maria Lemos. O papel necessário da Agência Nacional de Saúde Suplementar na regulação das relações entre operadoras de planos de saúde e prestadores de serviços. Physis Revista de Saúde Coletiva, UERJ, Rio de Janeiro, v. 22, n. 2, p. 463-476, abr./jun.2012. HIRSCH, Joachim. Teoria Materialista do Estado: Processo de Transformação do Sistema capitalista de Estados. Rio de Janeiro: Revan, 2010 http://www.ans.gov.br/aans/quem-somos/historico 23 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. CONCEITO DE PROMOÇÃO E PREVENÇÃO EM SAÚDE A Organização Mundial de Saúde define como promoção da saúde o processo que permite às pessoas aumentar o controle e melhorar a sua saúde. A promoção da saúde representa um processo social e político, não somente incluindo ações direcionadas ao fortalecimento das capacidades e habilidades dos indivíduos, mas também ações direcionadas a mudanças das condições sociais, ambientais e econômicas para minimizar seu impacto na saúde individual e pública. A promoção da saúde é o processo que possibilita as pessoas aumentar seu controle sobre os determinantes da saúde e através disto melhorar sua saúde, sendo a participação das mesmas, essencial para sustentar as ações de promoção da saúde. Define-se, de maneira bem mais ampla que prevenção, pois refere-se a medidas que "não se dirigem a uma determinada doença ou desordem, mas servem para aumentar a saúde e o bem estar geral" (Leavell & Clarck, 1976: 19). As estratégias de promoção enfatizam a transformação das condições de vida e de trabalho que conformam a estrutura subjacente aos problemas de saúde, demandando uma abordagem intersetorial (Czeresnia, 2003). A principal diferença encontrada entre prevenção e promoção está no olhar sobre o conceito de saúde, na prevenção a saúde é vista simplesmente como ausência de doenças, enquanto na promoção a saúde é encarada como um conceito positivo e multidimensional 24 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância resultando desta maneira em um modelo participativo de saúde na promoção em oposição ao modelo médico de intervenção. Além disto, como observa Czeresnia (2003), buscar a saúde é questão não só de sobrevivência, mas de qualificação da existência. A promoção de saúde adota uma gama de estratégias políticas que abrange desde posturas conservadoras até perspectivas críticas ditas radicais ou libertárias. Sob a ótica mais conservadora, a promoção de saúde seria um meio de direcionar indivíduos a assumirem a responsabilidade por sua saúde e, ao assim fazerem, reduzirem o peso financeiro na assistência de saúde. A promoção da saúde atuaria também como estratégia para criar mudanças na relação entre cidadãos e o Estado, pela ênfase em políticas públicas e ação intersetorial, ou ainda, pode constituir-se numa perspectiva libertária que busca mudanças sociais mais profundas - como são as propostas de educação popular (CASTIEL, 2004). Distinção entre Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças (Czeresnia, 2003) Prevenir: • Preparar, chegar antes de, impedir que se realize; • Exige ação antecipada, baseada no conhecimento da história natural da doença para tornar seu progresso improvável; 25 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância • Implica o conhecimento epidemiológico para o controle e redução do risco de doenças; • Projetos de prevenção e educação baseiam-se na informação científica e recomendações normativas. Promover: • Impulsionar, fomentar, originar, gerar; • Refere-se a medidas que não se dirigem a doenças específicas, mas que visam aumentar a saúde e o bem estar; • Implica o fortalecimento da capacidade individual e coletiva para lidar com a multiplicidade dos determinantes e condicionantes da saúde. Ao ampliar o conceito de saúde ampliamos também as ações para todas as questões que possam envolver-se com a saúde e qualidade de vida das pessoas. Aproximar à saúde da qualidade de vida traz diversos desafios devido à abrangência destas concepções, porém “devemos empreender esforços para que nossa abordagem sobre qualidade de vida possa verdadeiramente contemplar questões como a busca da felicidade, realização de potenciais pessoais e coletivos, vida que valha a pena a ser vivida, entre outras questões não resolvidas exclusivamente pela lógica da prevenção”. 26 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância BUSS, P. M. - Uma Introdução ao Conceito de Promoção da Saúde. In: CZERESNIA, D. & FREITAS, C. M. (org.) - Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. Editora Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ. 2003. CZERESNIA,D. O conceito de saúde e a diferença entre promoção e prevenção (versão revisada e atualizada do artigo "The concept of health and the difference between promotion and prevention. Cadernos de Saúde Pública, 1999). In: CZERESNIA, D.; FREITAS, C. M. (Org) Promoção da Saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Ed.Fiocruz, 2003 (p.39-53). http://143.107.23.244/departamentos/social/saude_coletiva/AOconceito.pd f LEAVELL, S. & CLARCK, E. G. Medicina Preventiva. São Paulo: McGraw-Hill, 1976. 1995. MARCONDES.W.B. A convergência de referências na promoção da saúde.Saúde e Sociedade v.13, n.1, p.5-13, jan-abr 2004. http://143.107.23.244/departamentos/social/saude_coletiva/AOconceito.pdfhttp://143.107.23.244/departamentos/social/saude_coletiva/AOconceito.pdf 27 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS NO BRASIL E O PAPEL DA SAÚDE Políticas de saúde pública efetivas constituem o único meio de assegurar à população o acesso à saúde. Elas podem minimizar as iniquidades sociais em saúde. No entanto, somente tomando-se a saúde como um direito de todos, situada dentro de um contexto amplo, influenciada por inúmeros determinantes sociais, será possível elaborar e executar tais políticas. Sabe-se também que a saúde é um direito interligado a vários outros, caso outras políticas públicas não estiverem em conjunto com as políticas públicas de saúde, a saúde jamais será um objetivo conquistado. Assim, o estudo dos fatores sociais que interferem, positiva ou negativamente, na saúde, é imprescindível. A Organização Mundial de Saúde define saúde como sendo “o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade.” Esse conceito é de fundamental importância para as políticas de saúde pública, considera não apenas os determinantes biológicos da saúde, mas também o processo saúde-doença como resultado do binômio corpo-mente e de sua interação com o meio ambiente. 28 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Embora o comportamento dos indivíduos seja muitas vezes entendido como uma responsabilidade individual e obedeça ao princípio da liberdade, ele é fortemente influenciado por determinantes sociais. Por isso, podem e devem ser alvos de intervenção, o que dá suporte à alocação de mais recursos destinados aos cuidados primários de assistência à saúde, e ao incentivo de medidas públicas que visem mudanças de hábitos de vida. Estas medidas devem ser universais, destinadas a toda população, como acesso a alimentação saudável e práticas desportivas, bem como proibição de propagandas que incitem uso de álcool e tabaco. Vejam também que a troca de ajuda tem uma influência positiva no bem-estar psicológico, e os efeitos positivos do suporte social na forma de amor, afeição, preocupação e assistência, fazem que com que, por exemplo, os idosos se sintam mais amados e seguros para enfrentar problemas de saúde. Sabe-se que o apoio social está consistentemente associado com as taxas de mortalidade entre os idosos. Se faz necessária a promoção de relações estáveis entre diversos indivíduos, por meio de programas de políticas públicas, no intuito de reduzir os gastos referentes à saúde. O Estado deve instituir políticas de apoio às famílias vulneráveis, reconhecidas como sujeitos de direitos, visando atingir objetivos prioritários do desenvolvimento humano, a minimização da pobreza, acesso à educação, saúde, alimentação, moradia e proteção integral às crianças e adolescentes. Ainda, há macro determinantes relacionados às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade, que explicam, os diferentes perfis de doença decorrentes de desigualdades étnico-raciais. Sabe-se que no Brasil, os negros apresentam os piores indicadores de mortalidade, maiores número de óbitos evitáveis e morrem mais por agressão e doenças cerebrovasculares do que os brancos. 29 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância As características genéticas e a diversidade cultural pouco têm contribuído para explicar essas diferenças. Por outro lado, há evidências de que a desigualdade racial constitua a explicação fundamental para esse fenômeno. Observem que há inúmeros outros fatores envolvendo as questões sociais e o impacto na saúde, demandando estudos e ações mais efetivas a partir das políticas públicas em nossa sociedade. Desta forma, a saúde deve ser entendida como um direito social. As políticas públicas de saúde, portanto, não devem estar restritas a um conceito limitado de saúde ou à forma organizacional dos serviços, dicotomizada entre as ações de cunho coletivo e individual, e entre a prevenção e a cura. Partindo-se de uma definição mais abrangente de saúde, não reduzida à esfera biológica do indivíduo, se fazem indispensáveis medidas integrais, que compreendam aspectos sociais e políticos. Assegurar o direito à saúde a todos é certamente um grande desafio. Nesse contexto, devem ser considerados inúmeros fatores, por exemplo: • qual o papel da saúde na sociedade? • qual a relação da saúde com outros serviços? • quais fatores influem na existência da saúde? • como a saúde pode ser democratizada? Vejam que os tópicos estudados nesta disciplina não têm um fim em si mesmo mas vem trazer temas que são importantes para reflexão do gestor hospitalar, principalmente a fornecer subsídios para as melhorias necessárias nesta área, de maneira mais atuante e participativa. 30 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância BUSS, P. M.; PELLEGRINI FILHO, A. A saúde e seus determinantes sociais. Physis, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 77-93, abr. 2007. https://www.scielosp.org/article/physis/2007.v17n1/77-93/ CHOR, D.; LIMA, C. R. A. Aspectos epidemiológicos das desigualdades raciais em saúde no Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, p. 1586- 1594, set./out. 2005. GOMES, M. A.; PEREREIRA, M. L. D. Família em situação de vulnerabilidade social: uma questão de políticas públicas. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 5, p. 357-363, abr. 2005. LEÃO, Lidiane Nascimento. Direito à Saúde e Políticas Públicas. 1ª ed. São Paulo: Lumem Juris, 2017. https://www.scielosp.org/article/physis/2007.v17n1/77-93/ 31 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 8. GESTÃO DE CRISE EM SAÚDE, OS DESAFIOS DE COMUNICAÇÃO Nenhuma disciplina por si só dá conta do objeto a que perseguimos, porque ele envolve ao mesmo tempo e concomitantemente, as relações sociais e o social propriamente dito, as expressões emocionais e afetivas assim como o biológico que, em última instância, traduz, através da saúde e da doença, as condições e razões sócio-históricas e culturais de indivíduos e grupos (MINAYO, 1991) A fragmentação do saber e especializações nos afasta e nos torna parciais perante a realidade, devemos nos proporá a atravessar fronteiras através do estudo constante, em busca da superação das dificuldades. Neste contexto, o capítulo vai discorrer acerca da necessidade de conhecermos além das estreitas fronteiras de um único viés ou curso de formação para a busca de melhores competências e habilidades em momentos de crise. A necessidade de intervenções concretas diante dos problemas, sejam eles relacionados a questões econômicas, sociais, culturais, setoriais (saúde, educação), tecnológicos, de organização da vida urbana ou rural ou aqueles relacionados a questões éticas e de sobrevivência da espécie conduzem ao questionamento sobre a capacidade das disciplinas isoladas ou saberes compartimentalizados fornecerem tais respostas. A área de gestão da saúde não foge a este diagnóstico e expressa em seu interior estas mesmas tendências contraditórias, pela própria complexidade, que necessariamente precisa ser abordado de forma interdisciplinar. Portanto não se assuste com temas que talvez lhe sejam diversos, aproveite para saber mais, sempre. 32 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Em se tratando de momentos de crise a coisa pode se ampliar muito, efetivamente as organizações brasileiras não estão preparadas para enfrentar situações de crise, especialmente quando há agravamento. Lida-se com riscos e deve-se trabalhar com prevenção mas nem sempre é possível antever.Algumas organizações já inseriram programas de treinamento para enfrentar situações de alto risco, mas estes programas, na maioria das vezes, ainda se limitam às relações com a imprensa. Contudo, não se pode esquecer de outros públicos importantes e até mesmo deixar de prever medidas para impedir crises com planejamento adequado. Vejam que a comunicação é chamada quando o fato já é negativo, está consumado, poderia ser evitado com um bom gerenciamento de risco. Assim, é necessário separar gerência de crise e de risco, do chamado gerenciamento de comunicação na crise, que é delegado ao gestor específico ou um comitê. De qualquer maneira, a comunicação sozinha não resolve pois quando há crise demanda o envolvimento das áreas para que se possa amenizar a repercussão da crise ou seu agravamento. Em resumo, deve existir um trabalho conjunto para administrar uma crise perante a sociedade. Os trabalhos devem estar sob comando profissional de gestão de crise com autonomia para decisões junto as áreas envolvidas, sempre com transparência, eficiência e profissionalismo. 33 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Brasil, 2020. Prevenindo conflitos sociais violentos em tempos de pandemia: garantia da renda, manutenção da saúde mental e comunicação efetiva. Rodrigo Moraes. IPEA. Nota Técnica 27. DIEST. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Dados públicos apresentados em instâncias de pactuação Brasília: MS; 2019. Melo RS, Batista PCS, Macedo ACM, Costa RBL. Governança corporativa, criação de Valor e desempenho econômico-financeiro: evidências do mercado brasileiro com dados em painel, 2005-2011. Rege 2013; 20(1):79-92 Testa M. Pensar em Saúde Porto Alegre: Artes Médicas; 1992. Vieira FS. Crise econômica, austeridade fiscal e saúde: que lições podem ser aprendidas? Brasília: IPEA; 2016 34 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 9. REFLEXÕES SOBRE A GESTÃO NO CONTEXTO DA SAÚDE A constituição dos sistemas de saúde exige a implantação de políticas, ações e decisões a serem tomadas para obtenção de resultados efetivos que atendam às necessidades de saúde da população. De outro lado temos um cenário a cada dia mais competitivo e desafiador, é preciso não só atender as necessidades dos usuários cidadãos, mas atendê-las de forma otimizada, superando as expectativas das partes interessadas sem causar impactos a todo o sistema que envolve a sustentabilidade de uma organização, sendo ela pública ou privada. Se faz necessário também preservar a saúde e a segurança dos trabalhadores, além do atendimento aos requisitos legais e outros, de maneira a tornar ou manter a organização sustentável. Essa realidade não é diferente no caso de hospitais públicos cujos impactos da insustentabilidade atingem diretamente a qualidade da assistência ao usuário cidadão, e a administração pública. São cinco as dimensões de sustentabilidade, que a depender das especificidades das atividades desenvolvidas por uma organização e do seu ramo de atuação, podem ser consideradas para avaliação organizacional (Sachs,1993). 35 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância São elas: • econômica, • social, • ecológica ou ambiental, • espacial, • e cultural. Quando se tratar de hospitais que prestam serviços públicos, a avaliação de sustentabilidade é fundamental, quanto menos sustentáveis mais impactos negativos causam ao sistema que os envolve, principalmente por estar relacionada às necessidades básicas de saúde da população e de sua qualidade de vida. As unidades de saúde fazem parte do sistema de saúde brasileiro que é composto por uma rede de combinação público-privada de prestadores e compradores de serviços com financiamento oriundo de recursos públicos e privados. 36 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Na parte pública, os serviços de saúde são financiados e providos pelo Estado nas suas três esferas: federal, estadual e municipal. A outra é o setor privado que pode ser com fins lucrativos ou sem fins lucrativos. Aqui se incluem os serviços de saúde que podem ser financiados por recursos públicos ou privados, por exemplo, hospitais privados que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS), parte ou o todo é financiado pelos recursos públicos (Oliveira, & Faria, 2011). Ainda no setor privado, temos serviços prestados por meio de seguros ou planos de saúde ou ainda por meio de pagamento direto ou com subsídios fiscais. 37 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância No setor público, além dos aspectos relacionados às dimensões econômica, social e ambiental, outros são importantes e estão associados à saúde e segurança dos trabalhadores que desenvolvem atividades de atendimento assistencial à população e à gestão estratégica dessas unidades, compondo respectivamente as dimensões de sustentabilidade técnica e estratégica. Em especial na dimensão estratégica está relacionada à atuação dos dirigentes a frente da gestão estratégica dos setores de recursos humanos, financeiros, de infraestrutura e todos os outros envolvidos. Assim, para estabelecer as diretrizes que nortearão o desenvolvimento das atividades de prestação de serviços hospitalar é necessário que se atue de forma ética e com qualidade. Bonato, V. L 2007. Gestão em saúde. São Paulo. Ícone. Brasil, Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Para entender a gestão do SUS. Brasília, DF: CONASS; 2003. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/para_entender_gestao.pdf FNQ 2016. Modelo de Excelência da Gestão (MEG): guia de referência da gestão para excelência. 21. ed. São Paulo: Fundação Nacional da Qualidade. Oliveira, M. L. C.; Faria, S. C. 2011. Indicadores de saúde ambiental na formulação e avaliação de políticas de desenvolvimento sustentável. Revista Brasileira de Ciências Ambientais, 23, (11), 16-22. Possolli, G. E. 2017. Acreditação hospitalar: gestão da qualidade, mudança organizacional e educação permanente. Curitiba: Inter Saberes. Silva CR, Souza TC, Lima CMBL, Silva Filho LB. Fatores associados à eficiência na Atenção Básica em saúde, nos municípios brasileiros. Saude Debate. 2018;42(117):382-91. https://doi.org/10.1590/0103-1104201811703. Sachs, I. 1993. Estratégias de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio ambiente. São Paulo: Studio Nobel; Fundação do Desenvolvimento Administrativo. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/para_entender_gestao.pdf https://doi.org/10.1590/0103-1104201811703 38 Tópicos em Gestão Hospitalar Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Finalizando Lembre-se, a gestão hospitalar, além de ter uma visão mais ampla e multifacetada deve ser corretamente alocada para gerar otimização nos processos. Gerentes e administradores hospitalares são os principais agentes para o sucesso de qualquer instituição de saúde. Com uma rápida transformação no sistema de saúde e uma necessidade crescente de cuidados de saúde de qualidade, os gestores de hospital estão agora combinando a experiência empresarial com uma compreensão do sistema de saúde para aumentar a eficácia da prestação de cuidados de saúde, com o objetivo de trazer mais satisfação ao paciente. Assim, a gestão hospitalar evoluiu ao longo dos anos e começou a apresentar uma contribuição importante para a sociedade e os pacientes.
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