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Neonato - Infecções Congênitas - As infecções adquiridas intraútero ou durante o trabalho de parto são causas de significativa morbidade e mortalidade neonatal. - Sob o acrônimo TORCH, foram agrupadas as cinco infecções congênitas mais prevalentes: - T = toxoplasmose; - O = outras (sífilis); - R = rubéola; - C = citomegalovírus (CMV); - H = herpes simples vírus (HSV). - No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda o rastreamento de rotina para sífilis, toxoplasmose e HIV desde a primeira consulta pré-natal, enquanto o rastreamento para rubéola apenas se a gestante apresentar sinais sugestivos da doença. - A hepatite B deve ser rastreada próximo à 30ª semana de gestação e o rastreamento de citomegalovirose e hepatite C não é recomendado. TOXOPLASMOSE CONGÊNITA: - O Toxoplasma gondii é um protozoário intracelular obrigatório que afeta cerca de 1/3 da população mundial, mais comum em países tropicais. - A infecção aguda em imunocompetentes é assintomática, mas pode atingir o feto quando a mulher adquire na gravidez. - Cerca de 40% das gestantes infectadas transmitirão a doença para o feto se não forem tratadas adequadamente, e o risco de transmissão aumenta com o avanço da gravidez. - O grau de comprometimento do concepto é maior no início da gestação. - Risco de transmissão: - Primeiro trimestre: 15%: Apresenta repercussões graves no concepto, óbito fetal ou neonatal, sequelas importantes; - Segundo trimestre: 25%: O recém-nascido apresentará manifestações subclínicas; - Terceiro trimestre: 65%: Com manifestações subclínicas e mais raramente um quadro grave de parasitemia. - O risco aproxima-se de 100% se a infecção da genitora ocorrer no último mês da gestação. - A transmissão da toxoplasmose ocorre com a ingestão de cistos do parasita, presentes na carne animal, ou de oocistos eliminados nas fezes de gatos, que podem estar presentes em alimentos, água ou outros materiais. - Condições socioeconômicas, hábitos alimentares e culturais determinam as chances de exposição. Quadro Clínico: - Cerca de 70% das crianças acometidas são assintomáticas ao nascimento, no entanto, têm elevadas frequências de prematuridade, retardo do crescimento intrauterino, anormalidades liquóricas e cicatrizes de coriorretinite. - Aproximadamente 10% têm manifestação grave nos primeiros dias de vida. - Po‑ dem apresentar doença multissistêmica ou isoladamente, afetando o sistema nervoso e/ou a forma ocular. - O quadro pode caracterizar-se por coriorretinite, convulsão, micro ou hidrocefalia, calcificações cranianas, icterícia, anemia, hiperproteinorraquia, febre, hipotermia, hepatoesplenomegalia, icterícia, vômitos, diarreia, linfoadenomegalia, pneumonite, apneia, taquipneia, diátese hemorrágica, rash cutâneo, catarata, glaucoma e microftalmia. - A tríade clássica com hidrocefalia, calcificações cerebrais e coriorretinite não é comum. - A forma subclínica é a mais comum, com história materna, sorologia positiva no RN, alterações leves do líquor e, posteriormente, surgimento de sequelas oculares e neurológicas. - As sequelas neurológicas mais encontradas são hidrocefalia, microcefalia, retardo psicomotor, convulsões, hipertonia muscular, hiperreflexia tendinosa e paralisias. - Quanto às complicações oftalmológicas, podem-se observar microftalmia, sinéquia de globo ocular, estrabismo, nistagmo e catarata. - A ocorrência de sequelas tardias é frequente em todas as formas clínicas da toxoplasmose não tratada, podendo ser identificada até a segunda década de vida em aproximadamente 85% dos recém-nascidos com infecção assintomática. - Quando o quadro clínico já aparece ao nascimento, as sequelas são mais frequentes e graves, com retardo mental, convulsões, espasticidade ou paralisia, dificuldade visual e auditiva. Diagnóstico: - O diagnóstico de toxoplasmose aguda ou congênita pode ser comprovado por meio de testes sorológicos, e o padrão-ouro é o teste do corante (dye test), mas realizado em poucos laboratórios. - O acompanhamento sorológico rigoroso da gestante suscetível parece ser a medida mais importante para a prevenção e a detecção da infecção quando já ocorreu, favorecendo a redução das chances de sequelas graves na criança. - Para o diagnóstico da toxoplasmose congênita, são recomendados os seguintes testes no binômio mãe e filho: teste de aglutinação (ISAGA), ELISA IgM por captura, I.F.I. ou ELISA IgG seriada do binômio, IgA sérica, teste de avidez IgG, reação em cadeia da polimerase (PCR), Sabin Feldman e liquor (citologia, bioquímica, avaliação imunológica). - No recém-nascido, a detecção de IgG não é adequada por causa da passagem transplacentária da mãe para o feto. - A detecção de IgM denota a produção do feto infectado, mas pode não estar presente ao nascimento, sendo mais recomendado o ELISA IgM por “captura” ou o ISAGA. - O diagnóstico por imagem é importante para detectar envolvimento do sistema nervoso central (SNC), por meio de radiografia de crânio, ultrassonografia transfontanela e tomografia computadorizada (TC) de crânio. - Outros exames também são fundamentais para o diagnóstico e determinação do tratamento, como o estudo anatomopatológico da placenta, que pode identificar processo inflamatório característico, a fundoscopia que identificará a coriorretinite e se está em atividade ou não, a audiometria para detecção de lesões auditivas e o estudo do líquor para evidências de processo inflamatório do SNC, com aumento da celularidade e hiperproteinorraquia (a toxoplasmose é uma das doenças que causa os maiores valores de proteína no líquor). Tratamento: - As drogas mais usadas para o tratamento da toxoplasmose são efetivas contra os trofozoítos circulantes, mas não atingem os cistos que permanecem nos tecidos. - Portanto, eles podem eclodir em qualquer situação de imunodepressão, como doenças, adolescência ou a própria gestação. - As medicações mais usadas são espiramicina, sulfadiazina e pirimetamina. - A espiramicina pode reduzir a transmissão da mãe para o feto em até 60%, mas quando a infecção fetal estiver comprovada, é indicado o uso de sulfadiazina e pirimetamina, que reduzem a transmissão para o feto e a possibilidade de comprometimento grave do recém-nascido. - O tratamento do recém-nascido é feito com sulfadiazina e pirimetamina durante todo o primeiro ano de vida, na tentativa de impedir que as formas trofozoíticas ainda circulantes se encistem. - Ácido folínico: 5 a 10 mg, 3 vezes/semana. Combate a ação antifólica da pirimetamina. Manter por 1 semana após a reti‑ rada da pirimetamina. - A sulfadiazina e a pirimetamina associadas ao ácido folínico são usadas por 6 meses, com monitoração hematológica semanal e depois mensal. - No segundo período (últimos 6 meses), a sulfadiazina deve ser usada diariamente e a pirimetamina em dias alternados (3 vezes/semana). - Se ocorrer neutropenia, aumenta-se o ácido folínico para 10 mg diariamente; em situações graves, com leucócitos abaixo de 500/mm3 , interrompe-se a pirimetamina. - Quando houver comprometimento do SNC (proteína > 1 g/dL) e/ou ocular, associa-se ao tratamento a prednisona – 0,5 mg/kg/dose, a cada 12 horas, VO, por 4 semanas. Seguimento: - No acompanhamento das crianças com suspeita de toxoplasmose congênita, os títulos de IgG devem ser solicitados a cada 2 ou 3 meses. - As crianças infectadas apresentarão títulos de IgG com 1 ano de vida ou aumentarão os títulos durante esse período, confirmando o diagnóstico. - Avaliações oftalmológicas devem ser repetidas a cada 3 meses, como também após o término do tratamento, mantendo avaliações anuais no período escolar. - A avaliação auditiva deve sempre ser realizada. Prognóstico: - Embora a maioria das crianças infectadas seja assintomática ao nascer, se não tratadas adequadamente desenvolvem sequelas na infância ou na vida adulta. - Os déficits de aprendizagem são mais descritos em crianças com microcefalia, e não na presença de calcificações. - A coriorretinite resolve-se com tratamento e raramente recidiva. Prevenção: - O cuidado com as gestantessuscetíveis (soronegativas) é muito importante na redução da infecção congênita. - Recomenda-se: - Não comer carne crua ou mal passada; - Ingerir frutas, legumes e verduras bem lavados e descascados; - Evitar contato com fezes de gato; - Evitar manipular areia e terra ou utilizar luvas; - Lavar as mãos após manipular carne ou vegetais crus; - Evitar insetos na cozinha; - Consumir água filtrada ou fervida e leite pasteurizado. SÍFILIS CONGÊNITA: - A sífilis congênita é adquirida por meio da disseminação do Treponema pallidum da mãe para o feto, principalmente por via transplacentária. - O leite materno não transmite sífilis. - O treponema provoca um processo inflamatório, comprometendo todos os órgãos do recém-nascido, com lesões viscerais, ósseas, pele e mucosas, e sistema nervoso central. - Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que das gestações em mulheres com sífilis em atividade, 25% resultem em óbito fetal e 25% em recém-nascidos de baixo peso ou com infecção neonatal grave. - A taxa de transmissão de gestantes não tratadas para o feto é de 10% e pode ocorrer em qualquer período da gestação. Manifestações Clínicas da Sífilis Precoce: - Ocorre em menores de 2 anos, resultante de infecção ativa. - Além da prematuridade e do baixo peso ao nascimento, as principais manifestações clínicas são hepatomegalia com ou sem esplenomegalia, lesões cutâneas (pênfigo palmoplantar, condiloma plano), periostite, osteíte ou osteocondrite, pseudoparalisia dos membros (pseudoparalisia de Parrot), sofrimento respiratório com ou sem pneumonia, rinite serossanguinolenta, icterícia, anemia e linfadenopatia generalizada (principalmente epitroclear). - Também podem ocorrer petéquias, púrpura, fissura peribucal, síndrome nefrótica, hidropsia, edema, convulsão e meningoencefalite (hiperproteinorraquia, pleiocitose, VDRL positivo no LCR), hidrocefalia, paralisia de pares cranianos, coriorretinite (lesão em “sal e pimenta"), glaucoma e catarata. - As alterações laboratoriais mais frequentes são anemia, trombocitopenia, leucocitose (podem ocorrer reação leucemoide, linfocitose e monocitose) ou leucopenia e hiperbilirrubinemia. Manifestações Clínicas da Sífilis Tardia: - Ocorre após o segundo ano de vida, com malformações ou cicatrizes da doença precoce. - As principais manifestações são: tíbia em “lâmina de sabre”, articulações de Clutton, fronte “olímpica”, nariz “em sela”, dentes incisivos medianos superiores deformados (dentes de Hutchinson), molares em “amora”, rágades periorais, mandíbula curta, arco palatino elevado, ceratite intersticial, surdez e dificuldade no aprendizado. Diagnóstico Laboratorial: - O padrão-ouro é a identificação do agente etiológico, mas como a técnica é complicada, os testes sorológicos têm importância fundamental. - Pesquisa direta: Pesquisa do Treponema pallidum, em campo escuro, em material coletado de lesão cutâneo-mucosa e de mucosa. - Testes Não-treponêmicos (VDRL, RPR ou TRUST): São muito sensíveis e pouco específicos, indicados para diagnóstico inicial e seguimento terapêutico, por serem passíveis de titulação. Devem ser realizados no sangue do recém-nascido, e não no sangue do cordão umbilical. Recém-nascidos de mães com sífilis, mesmo os não infectados, podem apresentar anticorpos maternos transferidos através da placenta. É considerado diagnóstico o teste não treponêmico reagente na amostra do recém-nascido que apresente um título 4 vezes maior do que o título na amostra materna (confirmado em uma segunda coleta na criança), mas a ausência dessa diferença de títulos não exclui a sífilis congênita. Recém-nascidos com testes não treponêmicos não reagentes, sem outras evidências de sífilis congênita, mas com suspeita epidemiológica, devem repetir os testes no primeiro mês de vida, em razão da possibilidade de soroconversão tardia. Na dúvida ou impossibilidade de seguimento, devem ser adequadamente tratados. - Testes Treponêmicos: São testes qualitativos para detecção de anticorpos antitreponêmicos, altamente específicos e pouco sensíveis, úteis para confirmação do diagnóstico. Em crianças maiores de 18 meses, um resultado reagente de teste treponêmico confirma a infecção, pois os anticorpos maternos transferidos passivamente já terão desaparecido da circulação sanguínea da criança. No recém-nascido, o teste treponêmico IgM confirma o diagnóstico, mas tem baixa sensibilidade (FTA-Abs tem 64% sensibilidade). A investigação complementar deve incluir hemograma, função hepática, eletrólitos, punção liquórica (células, proteínas, testes não treponêmicos), radiografia de ossos longos, avaliação oftalmológica, audiológica e neurológica. Diagnóstico: - Os critérios diagnósticos para a sífilis congênita seguem os seguintes parâmetros: - A. Sífilis congênita confirmada: quando isolado o T. pallidum em material de lesão. - B. Sífilis congênita provável: - B.1. Recém-nascido, mesmo sem evidência clínica e laboratorial, cuja mãe é soropositiva para sífilis (teste não treponêmico positivo em qualquer titulação) e inadequadamente tratada: - • não recebeu tratamento para sífilis durante a gestação; - • recebeu tratamento incompleto com penicilina durante a gestação; - • recebeu tratamento para sífilis com penicilina nos últimos 30 dias antes do parto; - • foi tratada com outras drogas que não a penicilina, durante a gestação; - • foi adequadamente tratada para sífilis, mas o parceiro não foi tratado ou foi tratado de forma inadequada ou a informação não está disponível; - • foi adequadamente tratada para sífilis durante a gestação, mas não apresentou resposta sorológica documentada (queda no título do teste não treponêmico – VDRL/RPR); - • foi adequadamente tratada antes da gestação, mas não teve acompanhamento sorológico suficiente para descartar a presença de infecção ativa durante a gestação (queda de 4 vezes nos títulos do VDRL/RPR para mulheres portadoras de sífilis primária e secun‑ dária e títulos estáveis ou decrescentes, inferiores ou iguais a 1:4, para as outras fases da sífilis). - B.2. Recém-nascido com teste não treponêmico positivo e uma ou mais alterações: - • qualquer evidência clínica de sífilis congênita; - • qualquer manifestação radiológica de sífilis congênita; - • VDRL positivo no liquor; - • liquor com aumento de celularidade ou de proteínas, sem outra causa aparente; - • título do teste não treponêmico (VDRL/RPR) no recém-nascido, 4 vezes superior ao materno; - • sorologia para sífilis ainda positiva após o 6º mês de vida ou VDRL que se mantém ou aumenta nos três primeiros meses de vida; - • testes treponêmicos para detecção de IgM (FTA-Abs IgM 19S ou ELISA IgM ou Imunoblot IgM) positivos no soro do recém-nascido; - • PCR para o antígeno 47 kDa positivo em soro/sangue e/ou LCR do recém-nascido. - C. Neurossífilis: a realização do exame liquórico é obrigatória diante de qualquer caso suspeito de sífilis congênita. - Os seguintes critérios têm sido adotados, no período neonatal, para o diagnóstico do acometimento do sistema nervoso central: - • neurossífilis confirmada: VDRL do liquor é positivo; - • neurossífilis possível: existem alterações na celularidade e/ou no perfil bioquímico, acompanhadas de VDRL sérico positivo, independentemente do VDRL do liquor, ou não foi possível a realização de exame liquórico em qualquer recém-nascido com diagnóstico de sífilis congênita confirmada ou provável. Tratamento Materno: - A droga de escolha é a penicilina benzatina, 2.400.000 UI, IM, semanalmente, por 3 semanas seguidas, com tratamento também do parceiro. Tratamento Neonatal: - A penicilina cristalina e a procaína têm sido as drogas de escolha; a penicilina benzatina tem pouca penetração liquórica. - É preconizada a seguinte conduta para a sífilis congênita confirmada ou provável. - Não há necessidade de isolar os recém-nascidos portadores de sífilis congênita. - Passadas as primeiras 24 horas após o início da antibioticoterapia, o risco de transmissão da doença é mínimo. - A negativação do VDRL ocorre após 12 a 15meses do tratamento. - Nenhum recém-nascido deve ter alta hospitalar até que a sorologia materna seja conhecida. - A sífilis congênita tornou-se uma doença de notificação compulsória. Seguimento: - Por causa do risco de reativação da doença em 14% dos casos, recomenda-se o seguimento clínico ambulatorial e laboratorial da sífilis congênita. - Avaliação mensal até o 6º mês de vida e bimestral até 12º mês. - VDRL com 1, 3, 6, 12 e 18 meses de idade, interrompendo o seguimento com dois exames negativos não consecutivos. - Diante de elevação do título sorológico ou não negativação até os 18 meses de idade, reinvestigar a criança e proceder ao tratamento. - Realizar teste treponêmico para sífilis após 18 meses de idade. - Seguimento oftalmológico, neurológico e audiológico semestralmente, por 2 anos. - Em caso de neurossífilis, reavaliação liquórica a cada 6 meses, até a normalização. - O teste da orelhinha normal não afasta a necessidade de exames específicos para avaliar a surdez. - Nos casos de crianças tratadas de forma inadequada, deve-se proceder à reavaliação clinico laboratorial e reiniciar o tratamento da criança. - Após os 18 meses, os testes treponêmicos devem ser não reagentes nos casos de tratamento no período neonatal, uma vez que não haveria tempo para formação de anticorpos específicos pela criança. - Em casos tratados após os 12 meses de vida, anticorpos detectados nos testes treponêmicos podem representar cicatriz imunológica e o controle de cura será feito pelo VDRL. Prevenção: - A melhor prevenção da sífilis congênita é feita pelo tratamento adequado da gestante com sífilis e de seu parceiro, o que implica necessidade de garantir o acesso ao cuidado pré-natal. RUBÉOLA CONGÊNITA: - A infecção intrauterina causada pelo vírus da rubéola pode apresentar-se de duas formas: - Infecção congênita da rubéola: engloba todos os eventos associados à infecção intrauterina pelo vírus da rubéola (abortos, natimortos, combinação de defeitos e também a infecção as‑ sintomática); - Síndrome da rubéola congênita (SRC): refere-se à variedade de defeitos presentes em neonatos filhos de mães que apresentaram infecção pelo vírus da rubéola durante a gestação (deficiência auditiva, catarata, defeitos cardíacos, etc.). - Vírus RNA do gênero Rubivirus e família Togaviridae. - A transmissão materno-fetal do vírus da rubéola ocorre via placenta, cerca de 5 a 7 dias após a inoculação materna. - O risco de ocorrer essa transmissão é maior nas primeiras 10 semanas de gestação. - Entretanto, o risco de ocorrer malformações prolonga-se até a 18ª a 20ª semana. Após esse tempo, os defeitos congênitos são raros. Quadro Clínico: - Na infecção congênita da rubéola, predominam manifestações de infecção crônica, como morte fetal, parto prematuro e defeitos congênitos clássicos da SRC (perda auditiva, catarata e cardiopatia congênita). - Outros achados, como meningoencefalite, pneumonia intersticial, lesões osteolíticas, retinopatia, glaucoma, hepatomegalia, icterícia, petéquias, adenopatia, anemia hemolítica e trombocitopenia, podem ser encontrados no período neonatal. - As manifestações clínicas da infecção congênita da rubéola dependem do período em que ocorreu a infecção materna. - A incidência de defeitos anatômicos é maior nos recém-nascidos de mães infectadas no primeiro trimestre da gestação. - Crescimento intrauterino retardado pode ser a única sequela quando a infecção materna ocorrer no terceiro trimestre da gestação. Manifestações Precoces: - Perda auditiva: aproximadamente 2/3 dos neonatos apresentam algum grau de perda auditiva bilateral; - Cardiopatias congênitas: cerca de 50% apresentam algum tipo de defeito cardíaco estrutural, sendo mais comuns a persistência do canal arterial e a estenose de ramos da artéria pulmonar; - Catarata: ocorre em 25% dos casos; - Microcefalia: ocorre em 27% dos casos. Manifestações Tardias: - Perda auditiva: a mais comum, ocorrendo em 80% dos pacientes. Usualmente é neurossensorial, bilateral, e a severidade varia de moderada a grave, com progressão ao longo do tempo; - Distúrbios endócrinos: cerca de 1% dos casos desenvolve diabetes mellitus na infância e adolescência e 5% apresentam patologias da tireoide; - Panencefalite: ocorre a partir da 2ª década de vida, sendo progressiva e fatal. Diagnóstico: - A infecção congênita da rubéola deve ser suspeitada em: - Todos os recém-nascidos de mãe com rubéola documentada ou mesmo suspeitada em qualquer tempo da gestação. O uso de imunoglobulina para tratamento da rubéola materna não garante proteção contra a infecção do feto; - Todos os recém-nascidos com crescimento intrauterino retardado ou portadores de manifestações clínicas compatíveis com a SRC; - Todos os recém-nascidos que apresentem alterações significativas no teste de triagem auditiva. Avaliação Geral: - Hemograma completo, testes de função hepática, radiografia de ossos longos, fundoscopia, audiometria, neuroimagem (ultrassonografia de crânio, TC de crânio), estudo do liquor, ecocardiograma (em recém-nascidos que apresentem alterações na ausculta cardíaca). Avaliação Específica: - Sorologia: a pesquisa de anticorpos IgM e IgG nos recém-nascidos e nas crianças suspeitas deve ser realizada o mais brevemente possível e antes de completarem 1 ano de idade, uma vez que os níveis desses anticorpos tendem a diminuir ao longo do tempo. A detecção de anticorpos IgM no sangue do cordão umbilical indica infecção recente pelo vírus da rubéola. Níveis de IgG mais elevados que o materno ou persistentemente altos também confirmam infecção congênita pelo vírus da rubéola. Os anticorpos IgG maternos possuem vida média de 30 dias e decrescem de 4 a 8 vezes nos primeiros 3 meses de vida, devendo desaparecer entre 6 e 12 meses de idade; - PCR: o vírus da rubéola pode ser detectado por meio da PCR, pela identificação do RNA viral. Pode ser pesquisado em vários líquidos orgânicos, como secreções da orofaringe, respiratórias, líquido amniótico, urina e líquor; - Isolamento viral: o vírus da rubéola pode ser isolado a partir de secreções da orofaringe ou ser cultivado em amostras de sangue periférico, placenta, urina e líquor. Tratamento: - Não existe tratamento específico para a infecção congênita pelo vírus da rubéola. - O uso de agentes antivirais ou imunoglobulina específica não altera a evolução da doença, nem possui qualquer efeito sobre o tempo de excreção do vírus. - Portanto, nos casos de SRC, suas manifestações devem ser abordadas da mesma forma que os neonatos não portadores dessa síndrome: - Perda auditiva: encaminhar para o otorrinolaringologista; - Catarata: encaminhar para o oftalmologista; - Pneumonia intersticial: pode ser necessário o uso de ventilação mecânica em UTI neonatal; - Cardiopatia congênita: encaminhar para o cardiologista; - Meningoencefalite: tratamento de suporte para a estabilização hemodinâmica e controle das convulsões. Prognóstico: - Estima-se o risco de mortalidade em portadores de SRC em 20%. - Neonatos portadores de meningoencefalite, cardiopatias congênitas e pneumonia intersticial possuem risco de mortalidade maior quando comparados àqueles com manifestações de menor gravidade, como catarata e perda auditiva. Prevenção: - Vacinação: única forma de prevenir a rubéola. Recomenda-se que todas as mulheres em idade fértil ou que pretendam engravidar façam uso da vacina; - Isolamento: gestantes devem ser afastadas de pessoas com suspeita de rubéola. Na ocorrência de contato com caso confirmado, devem ser avaliadas sorologicamente e acompanhadas. - Recém-nascidos portadores de SRC, quando internados, devem ser colocados em isolamento de contato. HERPES SIMPLES VÍRUS: - O HSV é vírus DNA membro da família Herpesviridae. Infecta o ser humano através de inoculação oral, genital, mucosa conjuntival ou pele com solução de continuidade. - Daí infecta os nervos terminais de onde é transportado, via axônios, até as raízes ganglionares dorsais, onde permanece latente durante toda a vida do hospedeiro.- No estado de latência, esses vírus não são suscetíveis às drogas antivirais. - Dois tipos de HSV de interesse humano são descritos: HSV1 e HSV2. - São descritos 3 modos de transmissão da infecção: - Intrauterina: muito rara. Ocorre por meio de viremia materna ou infecção ascendente do trato genital, mesmo com membranas íntegras; - Perinatal: responde por 85% do total. Ocorre por meio do contato do recém-nascido com o trato genital materno infectado, com lesões ou não; - Pós-natal: cerca de 10% das infecções; ocorre quando um cuidador com infecção ativa (p.ex., herpes labial) tem contato próximo com um recém-nascido. Quadro Clínico (intra-uterina): - Na infecção transmitida por viremia materna predominam sinais de infecção placentária, como infarto, necrose, calcificação e sinais de envolvimento fetal grave como hidropsia. - A morte do concepto geralmente ocorre. - Os sobreviventes exibem lesões de pele (vesículas, ulcerações ou cicatrizes), lesões oculares e graves anomalias do SNC, como microcefalia e hidranencefalia. Quadro Clínico (perinatal): - Doença localizada na pele, olhos e boca: os sintomas estão presentes nas primeiras duas semanas de vida. - As lesões de pele apresentam-se como vesículas agrupadas sob uma base eritematosa que podem estar localizadas ou disseminadas. - A presença de hiperemia conjuntival, associada a lacrimejamento intenso, chama a atenção para o diagnóstico. - Vesículas na região periorbital, ceratite e coriorretinite também podem fazer parte do quadro. - O acometimento da orofaringe caracteriza-se pela presença de úlceras na boca, palato e língua; - Doença do SNC: os sintomas iniciam-se em torno da segunda ou terceira semana de vida. - Cerca de 60 a 70% dos recém-nascidos com lesões na pele apresentam envolvimento do SNC. - As manifestações clínicas incluem: convulsões, letargia, irritabilidade, tremores, recusa alimentar, instabilidade térmica e fontanela anterior tensa. - O liquor apresenta pleiocitose à custa de células mononucleares, glicose relativamente baixa e proteína moderadamente elevada. - O eletroencefalograma (EEG) apresenta alterações precoces, como descargas epileptiformes focais ou multifocais; - Doença disseminada: ocorre em 25% dos casos. - Envolve múltiplos órgãos, como fígado, pulmões, adrenais, SNV, pele, olhos e boca. - As manifestações clínicas são muito semelhantes à sepse causada por outros microrganismos e incluem febre ou hipotermia, apneia, letargia, irritabilidade, desconforto respiratório, distensão abdominal. - Com a progressão da doença, podem surgir hepatite, ascite, icterícia, neutropenia, trombocitopenia, coagulação intravascular disseminada, derrame pleural, enterocolite necrotizante, convulsões e choque. - A mortalidade ultrapassa 80% nessa forma de doença. Diagnóstico: - Todos os recém-nascidos que apresentem algum grau de suspeição clínica devem ser submetidos ao rastreamento para infecção por HSV. - Os testes laboratoriais incluem hemograma completo, transaminases, bilirrubinas, ureia e creatinina, amônia, PCR para HSV DNA no sangue, liquor com PCR para HSV DNA, swab das lesões de pele e mucosas para identificação do HSV por imunofluorescência direta e cultura viral. - O isolamento do vírus em cultura de tecidos e sangue é a técnica mais específica para o diagnóstico da infecção pelo HSV, mas não é um método disponível na prática diária. - Assim, a detecção do HSV DNA pela PCR tem sido o método de escolha para o diagnóstico de infecção pelo vírus HSV por causa de sua alta sensibilidade. - Entretanto, resultados falso‑negativos podem ocorrer principalmente no liquor, quando existir grande quantidade de hemácias ou proteína elevada. - A imunofluorescência direta é um método que permite rápida identificação do antígeno viral, além de identificar o tipo (HSV1 ou HSV2). - Os testes sorológicos normalmente não ajudam no diagnóstico da infecção neonatal, mas podem ser usados no pré-natal, como método de prevenção da infecção congênita. - A ultrassonografia fetal pode ser útil ao demonstrar as lesões no cérebro fetal, porém, ao nascimento, o diagnóstico deve ser confirmado pela ressonância magnética, que tem mostrado melhor sensibilidade que a TC, principalmente no acompanhamento de lesões cerebrais. - A radiografia de tórax pode ser útil para demonstrar pneumonite intersticial, e a ultrassonografia abdominal pode mostrar o envolvimento do fígado, rins e ascite. Tratamento: - O tratamento da infecção por HSV é feito com aciclovir, EV, na dose de 60 mg/kg/dia, dividido em 3 doses diárias, a cada 8 horas. - O tempo de terapia antiviral depende do tipo de infecção. - Na doença localizada na pele, olhos e boca, o tempo mínimo é de 14 dias. - Na doença de envolvimento sistêmico ou que atinge o SNC, o tratamento mínimo é de 21 dias. - O ganciclovir pode ser usado como terapêutica alternativa, na dose de 6 mg/kg/dose a cada 12 horas. Prevenção: - As estratégias de prevenção da infecção intrauterina e perinatal pelo HSV passam pela identificação das gestantes de alto risco, indicação de cesariana e terapia antiviral materna: - Gestantes com infecção ativa devem ser mantidas sob precauções de contato, e o parto cesariano deve ser indicado até 4 horas após o rompimento das membranas; - Recém-nascidos internados com infecção ativa devem ser mantidos em isolamento de contato, no mesmo quarto que as mães; Recém-nascidos cujas genitoras apresentem lesões herpéticas na mama não devem ser amamentados na mama afetada e as lesões devem ser cobertas para evitar a contaminação; - Parentes e outros indivíduos portadores de lesões herpéticas (herpes labial, gengivoestomatite) não devem entrar em contato com o recém-nascido; - O risco de transmissão é maior em recém-nascidos de parto vaginal, com mais de 4 horas de ruptura das membranas; - O risco de transmissão é baixo (menor que 2%) em recém‑nascidos de mães com infecção recorrente; - Ainda não existem vacinas licenciadas e efetivas contra os vírus HSV1 e HSV2.
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