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Deficiências e Transtornos: DI, TEA, TDAH e Linguagem Transtornos Psiquiátricos na Infância e Adolescência Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria MARIANA RIBEIRO MANIGLIA AUTORIA Mariana Ribeiro Maniglia Olá. Sou formada em Serviço Social pela UNESP e em Psicologia pela UNIFRAN, e possuo mestrado e doutorado (em andamento) em Psicobiologia pela USP. Minha experiência profissional envolve a prática na área de Neuropsicologia e de Psicologia Clínica. Além disso, possuo experiência em atendimentos no Sistema Único de Saúde em Unidades Básicas de Saúde e Ambulatórios. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência e conhecimento àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Deficiência lntelectual (DI) ...................................................................... 10 Desenvolvimento............................................................................................................................. 10 Características ................................................................................................................................... 11 Critérios Diagnósticos .................................................................................................................. 13 Diagnóstico Diferencial e Comorbidades ...................................................................... 15 Transtorno do Espectro Autista (TEA) ................................................. 18 Desenvolvimento............................................................................................................................. 18 Características .................................................................................................................................. 20 Critérios Diagnósticos ..................................................................................................................24 Diagnóstico Diferencial e Comorbidades ......................................................................26 Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ......29 Desenvolvimento.............................................................................................................................29 Características .................................................................................................................................. 30 Critérios Diagnósticos .................................................................................................................. 31 Diagnóstico Diferencial e Comorbidades ......................................................................33 Transtornos da Comunicação (Linguagem) ....................................36 Desenvolvimento.............................................................................................................................37 Características ...................................................................................................................................37 Critérios Diagnósticos ................................................................................................................. 40 Diagnóstico Diferencial e Comorbidades ...................................................................... 41 7 UNIDADE 02 Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 8 INTRODUÇÃO Nesta unidade, nós iremos aprofundar o conhecimento sobre alguns Transtornos do Neurodesenvolvimento. Você sabia que os Transtornos do Neurodesenvolvimento podem ter níveis de gravidade? Sim! E como esses níveis são classificados nós iremos ver em cada capítulo! Nesta unidade, você verá os seguintes transtornos: Deficiência Intelectual, Transtorno do Espectro Autista, Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, e Transtornos da Comunicação. Vamos comigo mergulhar neste universo? Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Explicar e identificar os aspectos diagnósticos e características da Deficiência Intelectual. 2. Explicar e identificar os aspectos diagnósticos e características do Transtorno do Espectro Autista. 3. Explicar e identificar os aspectos diagnósticos e características do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. 4. Explicar e identificar os aspectos diagnósticos e características do Transtorno da comunicação (linguagem). Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 10 Deficiência lntelectual (DI) OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de compreender e de identificar os aspectos diagnósticos e as características da Deficiência Intelectual. Essa competência é fundamental para a realização de diagnósticos diferenciais e comorbidades. E então? Vamos começar?. Desenvolvimento A Deficiência Intelectual pode ocorrer em todas as raças e culturas e é identificada no período do desenvolvimento. Em geral, indivíduos do sexo masculino têm mais propensão ao diagnóstico do que os do sexo feminino. Nos primeiros anos de vida, é possível identificar atrasos no neurodesenvolvimento que podem predizer a Deficiência Intelectual. Os marcos desenvolvimentais mais avaliados são os motores, a linguagem e os aspectos psicossociais. Entretanto, nem sempre os atrasos são identificados precocemente, já que a confirmação e a identificação do diagnóstico de Deficiência Intelectual ocorrem com a queixa de dificuldade escolar. A Deficiência Intelectual não é progressiva, ou seja, não há piora do quadro com o passar dos anos, embora o transtorno dure a vida toda. No entanto, em algumas comorbidades como a Síndrome de Rett, podem ocorrer períodos de piora seguidos de estabilização do quadro (APA, 2014). A Deficiência Intelectual pode ter um diagnóstico isolado (sozinho) ou pode ter condições comórbidas, como Transtorno do Espectro Autista, Síndrome de Down, outras deficiências sensoriais, epilepsia, entre outros. IMPORTANTE: O conhecimento cultural e étnico é necessário para o diagnóstico de DI, pois o funcionamento adaptativo da criança ocorre de acordo com a cultura em que ela está inserida. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 11 Por vezes, o curso da deficiência pode ser alterado quando diagnosticada precocemente e realizadas intervenções multiprofissionais.Características A Deficiência Intelectual é caracterizada como uma condição limitante que compromete o desempenho do indivíduo. A tríade característica da Deficiência Intelectual compreende o déficit nas habilidades intelectuais, o prejuízo na capacidade funcional e adaptativa e o período de desenvolvimento da deficiência, antes dos 18 anos de idade. NOTA: A criança com DI possui mais dificuldade para interpretar conceitos abstratos, por isso trabalhar com conteúdos concretos auxilia na aprendizagem. De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID- 10), a Deficiência Intelectual apresenta um desenvolvimento incompleto do funcionamento intelectual. Compreende-se por funcionamento intelectual as capacidades ou as funções cognitivas. Dessa forma, a principal característica da Deficiência Intelectual é o prejuízo cognitivo significativo verificado por meio do funcionamento da inteligência global em testes neuropsicológicos. Na Deficiência Intelectual, verificamos que o funcionamento cognitivo está deficitário e pode apresentar as seguintes características: raciocínio lógico restrito, baixa capacidade de planejamento, dificuldade em formar pensamentos abstratos, dificuldade em memorização e aprendizagem, limitação atencional, prejuízo em generalização, dificuldade na capacidade expressiva, prejuízo em resolução de problemas. Além do prejuízo no funcionamento intelectual, a Deficiência Intelectual também apresenta como característica a baixa capacidade funcional e adaptativa. Isso significa que o indivíduo apresenta limitações em competências sociais, emocionais e práticas, como comunicação, habilidades acadêmicas, autocuidado, socialização, entre outros aspectos da vida diária. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 12 EXPLICANDO MELHOR: A tríade diagnóstica da Deficiência Intelectual é composta pelas seguintes características: avaliação intelectual, avaliação funcional/adaptativa e ocorrência no período do desenvolvimento. A Deficiência Intelectual é uma condição heterogênea, ou seja, as características são diversificadas de acordo com cada quadro e história de vida do indivíduo. As crianças com Deficiência Intelectual podem apresentar quadros de dificuldades na regulação de emoções, na interpretação de pistas sociais e na avaliação de riscos. Essas características podem predispor a comportamentos agressivos ou disruptivos, incluindo a possibilidade de envolvimento em situações devido à ingenuidade e à tendência de fácil manipulação. REFLITA: São sinais que podem indicar DI: falta de interesse pelas atividades dadas em sala de aula; pouca interação com os colegas e com a professora; dificuldade na coordenação motora (grossa e fina); dificuldade para identificar letras, desenvolver a fala de maneira satisfatória; dificuldade em se adaptar aos mais variados ambientes; quando a criança perde ou esquece o que já havia aprendido. Crianças e adolescentes com diagnóstico de Deficiência Intelectual que apresentem comorbidade com outros transtornos mentais podem exibir comportamento de risco de suicídio. Em decorrência da falta de consciência de riscos e perigos, as tentativas de suicídio e as lesões são elevadas e precisam ser investigadas com maior rigor. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 13 Critérios Diagnósticos De acordo com os critérios diagnósticos do DSM-5 (APA, 2014), a Deficiência Intelectual tem início no período do desenvolvimento e inclui déficits intelectuais e adaptativos. Deve necessariamente obter os três critérios a seguir: • Apresentar déficit intelectual comprovado por testes de inteligência padronizados e individualizados. • Apresentar déficit na função adaptativa que limitam o funcionamento em uma ou mais atividades diárias (comunicação, socialização, autonomia) em múltiplos ambientes (escola, casa, trabalho, comunidade). • O início dos déficits deve ocorrer no período do desenvolvimento, ou seja, até os 18 anos. VOCÊ SABIA? Quociente de Inteligência, o famoso QI, é uma medida obtida por meio de testes que mensuram a inteligência do indivíduo. A Deficiência intelectual é especificada por níveis de gravidade com base no funcionamento adaptativo do indivíduo: leve, moderada, grave e profunda. As medidas de QI não são verificadas na classificação de gravidade, pois não há alterações significativas na extremidade inferior desse coeficiente. Ainda, a inclusão é um instrumento importante na qualidade de vida da pessoa com Deficiência Intelectual, pois permite o acesso a todos os recursos da comunidade, que favorecerão o seu desenvolvimento global, sua autonomia e ajudarão a construir a sua cidadania. Em nível de gravidade leve, as crianças apresentam dificuldades em aprender conceitos de leitura, escrita, matemática, tempo e, geralmente, precisam de abordagens mais concretas para a resolução de problemas. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 14 Mostram-se imaturas, com dificuldade de compreender pistas sociais e na regulação de emoções e comportamentos, são indivíduos facilmente manipulados, pois apresentam julgamento social alterado. No domínio prático, podem não apresentar dificuldades em cuidados básicos, como tomar banho, trocar de roupa, atender a um telefone, mas apresentam prejuízo em tarefas mais complexas. Em nível de gravidade moderada, as crianças apresentam atrasos consideráveis e significativos na aprendizagem com relação aos pares. O processo de aprendizagem da leitura, escrita, matemática e tempo é bem limitado e se desenvolve com maior lentidão. Os indivíduos se relacionam com pares (embora não consigam interpretar pistas sociais), as diferenças costumam limitar as relações e as crianças preferem brincar com amigos de menor idade. As atividades básicas como vestir, tomar banho e comer são realizadas por elas sozinhas, mas há necessidade de maior período para a aquisição dessas habilidades. IMPORTANTE: O uso de testes de Quociente de Inteligência (QI) é exclusivo do profissional psicólogo. Em nível grave, as crianças possuem pouca compreensão da linguagem escrita e dos conceitos matemáticos/numéricos. A linguagem falada é limitada em vocabulário e gramática, e as crianças costumam usar discursos simples para se expressar. Precisam de apoio e supervisão nas atividades básicas, como se vestir, tomar banho e se alimentar, as crianças não conseguem tomar decisões sozinhas. Em nível de gravidade profunda, as crianças possuem mais contato e facilidade com o mundo físico do que o simbólico. Alguns conceitos e habilidades podem ser adquiridos, desde que trabalhados concretamente, como tarefas de combinar e classificar. Compreendem instruções e gestos simples, comunicam-se mais de modo não verbal e não simbólico. São indivíduos completamente dependentes nos aspectos de cuidados básicos. A ocorrência de prejuízos físicos e sensoriais pode impedir as atividades e a comunicação. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 15 Diagnóstico Diferencial e Comorbidades Diagnóstico diferencial se refere a todas as doenças que também podem explicar os sinais e sintomas do paciente. Portanto, é necessário restringir um grupo de possibilidades, que são semelhantes, e devem ser elencadas como prováveis diagnósticos. A realização do diagnóstico diferencial é feita por meio de testes, exames, sinais e sintomas específicos que permitem um diagnóstico final. Na Deficiência Intelectual, o diagnóstico deve ser feito sempre que atendidos todos os três critérios já descritos anteriormente. Sempre que houver o diagnóstico de uma síndrome genética em um quadro de investigação de DI, esta deve ser registrada como comorbidade com a Deficiência Intelectual. Vamos descrever os principais diagnósticos diferenciais com a Deficiência Intelectual. Primeiramente, é necessário diferenciar os transtornosneurocognitivos da Deficiência Intelectual. A Deficiência Intelectual é definida como um transtorno do neurodesenvolvimento, diferentemente dos transtornos neurocognitivos, que se caracterizam pela perda do funcionamento cognitivo. Ou seja, no primeiro caso, o indivíduo possui o diagnóstico desde a infância ou adolescência; no segundo caso, houve um desenvolvimento típico e por algum motivo ocorreu a perda das funções adquiridas. Exemplo: Um indivíduo com Síndrome de Down que desenvolve doença de Alzheimer pode ser diagnosticado com Deficiência Intelectual e transtorno neurocognitivo. Os transtornos da comunicação e o transtorno específico da aprendizagem, que também são transtornos do neurodesenvolvimento, podem ser comórbidos com a DI. Mas é importante ressaltar que não devem ser confundidos, pois, nos primeiros casos, o indivíduo não apresenta déficits no funcionamento intelectual e adaptativo. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 16 VOCÊ SABIA? O diagnóstico precoce na DI é extremamente importante para o tratamento e a terapêutica. A neuroplasticidade infantil permite, muitas vezes, mudar a condição de DI de moderada para leve, por exemplo. Outro diagnóstico diferencial é o Transtorno do Espectro Autista (TEA). É comum que crianças com TEA tenham como comorbidade a Deficiência Intelectual. A investigação do comportamento adaptativo deve ser minuciosa nesses casos, pois as crianças com TEA possuem déficits sociocomunicacionais e comportamentais inerentes ao transtorno, que interferem nas atividades de vida diária, bem como na compreensão e no engajamento dos testes. A investigação adequada da função intelectual no TEA é fundamental, principalmente com testes não verbais de inteligência. Os escores do QI no Transtorno do Espectro Autista podem ser instáveis, particularmente na primeira infância. Portanto, é prudente que sejam feitas mais de uma avaliação no decorrer do desenvolvimento. Os transtornos mentais e do neurodesenvolvimento comórbidos mais comuns são transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, transtornos depressivo e bipolar, transtornos de ansiedade, transtorno do espectro autista, transtorno do movimento estereotipado (com ou sem comportamento autolesivo), transtornos do controle de impulsos e transtorno neurocognitivo maior. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 17 RESUMINDO: E então? Vamos revisar e ter certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo? Você deve ter aprendido que a Deficiência Intelectual é um transtorno que se inicia na infância e persiste por toda a vida. A Deficiência Intelectual não é progressiva, ou seja, não há piora do quadro com o passar dos anos. É caracterizada como uma condição limitante, que compromete o desempenho do indivíduo. A tríade característica da Deficiência Intelectual compreende o déficit nas habilidades intelectuais, o prejuízo na capacidade funcional e adaptativa e o período de desenvolvimento da deficiência, antes dos 18 anos de idade. A DI possui uma apresentação heterogênea, ou seja, as características são diversificadas de acordo com cada quadro e a história de vida do indivíduo. É classificada em níveis de gravidade com base no funcionamento adaptativo do indivíduo: leve, moderada, grave e profunda. Os principais diagnósticos diferenciais são: transtornos neurocognitivos, Transtorno do Espectro Autista, Transtornos da comunicação e Transtorno específico da aprendizagem. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 18 Transtorno do Espectro Autista (TEA) OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de compreender e de identificar os aspectos diagnósticos e as características do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Essa competência é fundamental para a realização de diagnósticos diferenciais e comorbidades. E então? Vamos começar?!. Desenvolvimento O Transtorno do Espectro Autista (TEA) possui um padrão de início muito precoce, observado geralmente nos primeiros anos de vida. Os sintomas costumam ser reconhecidos entre 12 a 24 meses de vida, embora algumas crianças apresentem os sintomas antes dos 12 meses de idade. O reconhecimento dos sintomas precocemente depende de sua gravidade. Crianças com sintomas leves podem demorar a apresentar atrasos e sinais. Existe também a possibilidade de a criança perder habilidades adquiridas. Nesse caso, há regressão do desenvolvimento após, pelo menos, dois anos de desenvolvimento típico. Os pais ou os cuidadores relatam história de deterioração gradual ou relativamente rápida em comportamentos sociais ou nas habilidades linguísticas. VOCÊ SABIA? Uma em cada 160 crianças tem Transtorno do Espectro Autista! Caso queira se aprofundar no assunto, acesse o site da Organização Pan-Americana de Saúde, clicando aqui. Os primeiros sintomas do Transtorno do Espectro Autista frequentemente envolvem atraso no desenvolvimento da linguagem, acompanhado por ausência de interesse social ou de interações sociais incomuns. No desenvolvimento normal, as crianças pequenas possuem Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência https://bit.ly/2Wixi2E 19 fortes preferências e gostam de repetição (por exemplo, ingerir os mesmos alimentos, assistir muitas vezes ao mesmo filme). Dessa forma, é difícil distinguir em pré-escolares o que pode ser um padrão restrito e repetitivo de comportamento para o diagnóstico do TEA, embora no segundo ano de vida os comportamentos estranhos e repetitivos, e a ausência de brincadeiras típicas se tornem mais evidentes em crianças com TEA. Os sintomas são notados com maior frequência na primeira infância e nos primeiros anos da vida escolar, pois, a partir dos ganhos no desenvolvimento infantil (por exemplo, o aumento no interesse por interações sociais), fica mais fácil distinguir os sinais e os sintomas do TEA. IMPORTANTE: Não existe um gene do autismo. O que existe é uma combinação de variantes genéticas que produzem o autismo em certas combinações. O Transtorno do Espectro Autista não é um transtorno degenerativo. Dessa forma, a capacidade de aprendizagem e de compreensão perduram ao longo da vida. A chegada da adolescência pode alterar as habilidades comportamentais, em alguns ocorre a piora, em outros a melhora comportamental. Os adolescentes com diagnóstico leve apresentam maior funcionamento social e independência. Na fase adulta, os indivíduos que possuem TEA e trabalham de forma independente geralmente são diagnosticados como TEA de alto desempenho ou Asperger (abordaremos essas características adiante). Mesmo esses indivíduos podem continuar socialmente ingênuos e vulneráveis, com dificuldades para organizar as demandas práticas sem apoio, e ficarem mais propensos à ansiedade e depressão. A maioria desses adultos utiliza estratégias compensatórias e mecanismos de enfrentamento para mascarar suas dificuldades em público. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 20 NOTA: Vacinas não causam autismo! Um dos últimos estudos sobre o assunto, realizado na Dinamarca, não verificou diferenças entre crianças vacinadas e as que não eram vacinadas. A taxa de incidência do autismo é a mesma nas duas condições. Existem ainda os adultos que não foram diagnosticados quando crianças e que apresentam sintomas e sinais autísticos. Nesses casos, é importante obter uma história detalhada do desenvolvimento, inclusive levar em conta as dificuldades autorrelatadas. Quando a observação clínica sugerir que os critérios são preenchidos no presente, pode ser diagnosticado o Transtorno do Espectro Autista, desde que não haja evidências de boas habilidades sociais e de comunicação na infância. Características O TEA recebe o nome de espectro porque envolve situações e apresentações heterogêneas, em uma gradação que vai da mais leve à mais grave. As características essenciais do TEA são:(1) prejuízo na comunicação social recíproca e na interação social; e (2) padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Esses sintomas precisam necessariamente estar presentes desde o início da infância e limitarem o funcionamento diário do indivíduo. IMPORTANTE: O TEA começa na infância e persiste na adolescência e na idade adulta. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 21 As manifestações do transtorno variam muito dependendo da gravidade da condição autista, do nível de desenvolvimento e da idade cronológica. De acordo com o DSM-5, o TEA engloba transtornos antes chamados de Autismo Infantil Precoce, Autismo Infantil, Autismo de Kanner, Autismo de Alto Funcionamento, Autismo Atípico, Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra especificação, Transtorno Desintegrativo da Infância e Transtorno de Asperger. NOTA: As evidências científicas sugerem que provavelmente haja muitos fatores que tornam uma criança mais propensa a ter TEA, incluindo os ambientais e os genéticos. Para a investigação de características e de sinais do TEA, o uso de múltiplas fontes de informação torna o quadro mais confiável. Vamos especificar as características essenciais do transtorno? O prejuízo na comunicação social recíproca e na interação social deve ser persistente e sustentado. O comprometimento da comunicação social verbal ou não verbal depende do nível intelectual, da história de vida, da estimulação e da rede de apoio existente. Esse comprometimento pode ocorrer como ausência total da fala, atraso na aquisição da linguagem, falha na compreensão, ecolalia e linguagem literal. Mesmo quando a criança possui habilidades linguísticas formais (gramática e vocabulário) adequadas, o uso da linguagem social é comprometido. REFLITA: O reconhecimento precoce do diagnóstico possibilita o início de intervenções que auxiliam na diminuição dos sintomas e do bem-estar da criança. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 22 No aspecto socioemocional, a criança apresenta prejuízo na capacidade de envolvimento com o outro e a expressão de sentimentos. Quase não imita expressões ou atitudes, não existe o uso de brincadeiras imaginativas (faz de conta), o uso de sua linguagem se limita a solicitar coisas e não a comentar ou a promover interação. O uso de comunicação não verbal é restrito, com poucos gestos, expressões faciais, orientação corporal, entonação de fala ou contato visual. As crianças mais velhas possuem dificuldade na flexibilização de regras das brincadeiras. Em adolescentes, manifesta-se mais intensamente a dificuldade em compreender qual comportamento é apropriado para cada situação, e a compreensão de figuras de linguagem (metáforas, piadas, ironia) também é comprometida. NOTA: O autismo é cinco vezes mais comum em meninos do que em meninas. Em âmbito cognitivo, crianças autistas possuem baixo desempenho de atenção compartilhada e bom desempenho de atenção sustentada. Isso porque apresentam baixa manifestação do gesto de apontar, de mostrar ou de trazer objetos, e também dificuldade em seguir um gesto ou objeto. Outra característica do Transtorno do Espectro Autista é definida por padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades que podem se manifestar diferentemente de acordo com a idade e a capacidade da criança. VOCÊ SABIA? Não há diferenças entre a anatomia cerebral de pessoas com e sem autismo. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 23 Os comportamentos estereotipados ou repetitivos podem se apresentar como estereotipias motoras simples (abanar as mãos), ou pelo uso repetitivo de objetos (enfileirar objetos) e pela fala repetitiva (repetição imediata de palavras ouvidas). Nesse sentido, a criança também pode manifestar resistência a mudanças, em qualquer aspecto, seja na rotina, seja na embalagem do alimento, ou no desenho que vai assistir. As restrições alimentares são manifestadas frequentemente no TEA, assim como manifestar padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal, como perguntar coisas repetidas. Os comportamentos estereotipados também podem ocorrer por meio da hiper ou hiporreatividade aos estímulos sensoriais. Isso significa que a criança pode ter respostas extremadas a sons e texturas, a cheirar ou a tocar objetos de forma excessiva e encantamento por luzes ou objetos giratórios. IMPORTANTE: O uso de medicações no autismo é importante, especialmente, para aqueles com severos comportamentos antissociais e agressivos, e que possam levar à epilepsia e a problemas de sono. Mas nem toda a criança com autismo precisa ser medicada e deve-se sempre avaliar caso a caso a necessidade de introduzir medicações. O espectro autista enquadra características heterogêneas que eram definidas anteriormente pelo DSM-4 como Asperger. Crianças com as características clássicas do TEA, mas em uma medida reduzida, são enquadradas no que chamamos de Asperger. São indivíduos com inteligência verbal adequada, muitas vezes confundidos com gênios, pois possuem habilidades especializadas muito boas. Nesses casos, quanto menor a dificuldade de interação social, maior a chance de levar uma vida adaptativa normal. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 24 Critérios Diagnósticos De acordo com o DSM-5, a criança com diagnóstico de TEA deve, necessariamente, ter déficits persistentes na comunicação e na interação social em múltiplos contextos e apresentar padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Os sintomas devem aparecer precocemente no período do desenvolvimento e causar prejuízos significativos no funcionamento adaptativo. Vamos especificar melhor os critérios! VOCÊ SABIA? A idade ao se tornar mãe pode influenciar o risco de o bebê ser uma criança com autismo. Ficar grávida acima dos 40 anos eleva muito o risco de se ter um filho autista. Os déficits na comunicação e na interação social podem se apresentar da seguinte forma: • Déficits na reciprocidade socioemocional, ou seja, a criança possui dificuldade em estabelecer uma conversa normal, bem como iniciar ou responder a interações sociais. • Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais. As crianças apresentam anormalidade em estabelecer contato visual e linguagem corporal. Podem não compreender e não apresentar reações faciais de emoções. • Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, incluindo dificuldade em adequar seu comportamento aos contextos sociais e participar de brincadeiras imaginativas. NOTA: Cerca de 5% dos autistas possuem superdotação, 40% apresentam inteligência média e são aptos à vida escolar e acadêmica, e 50% apresentam Deficiência Intelectual. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 25 Já os prejuízos nos padrões restritos e repetitivos de comportamentos, de interesses e de atividades podem ser manifestados por ao menos duas das seguintes características: • Movimentos motores, fala ou uso de objetos repetitivos ou estereotipados (enfileirar brinquedos, ecolalia, estereotipias motoras simples). • Padrão inflexível em rituais, rotinas e comportamentos verbais ou não verbais (rituais de saudação, necessidade de realizar sempre o mesmo caminho, ingerir sempre os mesmos alimentos). • Interesses fixos e restritos que são perseverativos (apego forte a um objeto). • Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais (reação contrária ao som e a texturas, a cheirar ou a tocar objetos excessivamente, fascinação por luzes ou por movimentos). IMPORTANTE: Indivíduos com diagnóstico do DSM-4 bem estabelecido de transtorno autista, de transtorno de Asperger ou de transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação devem receber o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista. Os níveis de gravidade do transtornodevem ser classificados de acordo com o prejuízo significativo no funcionamento adaptativo do indivíduo. No nível de gravidade 1, a criança necessita de suporte, ou seja, caso não receba o apoio adequado, pode apresentar dificuldade para iniciar e manter interações sociais; apresentar falhas na conversação; ter dificuldade em trocar de atividade; tentar fazer amigos de formas estranhas e malsucedidas. Além disso, ter dificuldade em organização e planejamento causa limitações na autonomia. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 26 No nível de gravidade 2, a criança necessita de suporte substancial e apresenta déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal; dificuldade em iniciar interações sociais; déficits consideráveis na conversação. Esses prejuízos ocorrem mesmo na presença de apoio. Pode ter dificuldade em lidar com mudanças. Os comportamentos restritos e repetitivos aparecem com maior frequência. No nível de gravidade 3, a criança necessita de suporte muito substancial, os prejuízos na comunicação verbal e não verbal causam grandes comprometimentos no funcionamento social. A criança quase não inicia diálogos e interações sociais; fala com poucas palavras, muitas vezes ininteligíveis; somente reage a interações sociais muito diretas; apresenta muita dificuldade em lidar com mudanças, e seu comportamento restrito e repetitivo interfere no funcionamento de todas as esferas. NOTA: É por volta dos três anos de idade que as características do transtorno se tornam mais evidentes. Diagnóstico Diferencial e Comorbidades O diagnóstico diferencial deve sempre levar em consideração as principais características do TEA: déficits na comunicação e de interação social; e prejuízos nos padrões restritos e repetitivos de comportamentos. A seguir vamos identificar os principais diagnósticos diferenciais com TEA. A Síndrome de Rett é caracterizada por uma ruptura da interação social no desenvolvimento infantil, em geral, entre 1 e 4 anos de idade. Depois desse período, no entanto, a maioria das crianças com Síndrome de Rett melhora as habilidades de comunicação social. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 27 VOCÊ SABIA? Apesar de não demonstrar afeto da mesma maneira que as outras crianças, isso não significa que o autista não ame ou não seja afetivo. Ele simplesmente se expressa de maneira diferente. No mutismo seletivo, a criança normalmente exibe habilidades comunicacionais apropriadas em alguns contextos e locais. Mesmo nos contextos em que a criança é muda, a reciprocidade social e emocional não está prejudicada, bem como não apresenta padrões de comportamento restritivos ou repetitivos. O Transtorno da linguagem e o Transtorno da Comunicação Social (pragmática) não estão relacionados à presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. IMPORTANTE: A “Teoria da mente” é empregada para atribuir estados mentais a outras pessoas e predizer o comportamento destas em função das atribuições. Em geral, os autistas possuem dificuldade nessa habilidade socioemocional. Em crianças com Deficiência Intelectual, pode ser difícil diferenciar o diagnóstico de TEA, pois o não desenvolvimento das habilidades linguísticas ou simbólicas pode levar aos comportamentos repetitivos. A comorbidade entre TEA e DI é grande. As estereotipias motoras estão entre as características diagnósticas do Transtorno do Espectro Autista, mas no Transtorno do Movimento Estereotipado não há característica de prejuízo na interação social. A esquizofrenia com início na infância costuma desenvolver-se após um período de desenvolvimento normal ou quase normal. O prejuízo social pode ser confundido com o encontrado no TEA, mas as alucinações e os delírios não são encontrados no TEA. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 28 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) possui um padrão de início muito precoce, observado geralmente nos primeiros anos de vida. Não é um transtorno degenerativo, dessa forma, a capacidade de aprendizagem e de compreensão perduram ao longo da vida. As características essenciais do TEA são: (1) prejuízo na comunicação social recíproca e na interação social; e (2) padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Os níveis de gravidade do transtorno devem ser classificados de acordo com o prejuízo significativo no funcionamento adaptativo do indivíduo (gravidade 1, 2, 3). Os principais diagnósticos diferenciais são: Síndrome de Rett, Mutismo seletivo, Transtorno da linguagem e Transtorno da Comunicação Social (pragmática), Esquizofrenia e DI. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 29 Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de compreender e identificar os aspectos diagnósticos e as características do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Essa competência é fundamental para a realização de diagnósticos diferenciais e comorbidades. E então? Vamos começar?!. Desenvolvimento NOTA: TDAH antigamente já foi chamado de Síndrome da Criança Hiperativa, Lesão Cerebral Mínima, Disfunção Cerebral Mínima, Transtorno Hipercinético, Transtorno Primário da Atenção. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) costuma ser identificado com maior frequência durante os anos escolares. Em pré- escolares, a hiperatividade é mais frequente, principalmente na agitação motora ao começar a andar e correr. O comportamento desatento é mais saliente durante o início da idade escolar. No decorrer da adolescência, o transtorno fica mais estável, principalmente os sintomas de perfil hiperativo. Os sintomas desatentos podem permanecer durante a adolescência e vida adulta. Na vida adulta, os sintomas de falta de planejamento e a impulsividade podem ser mais salientes do que os sintomas desatentos. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 30 Características As principais características do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade consistem em padrões persistentes de desatenção e/ou de hiperatividade/impulsividade que interferem no funcionamento ou desenvolvimento do indivíduo. DEFINIÇÃO: O TDAH é um transtorno neurobiológico, com grande participação genética, que tem início na infância e compromete o funcionamento da pessoa em vários setores de sua vida. Vamos caracterizar os perfis do TDAH! O perfil desatento manifesta-se comportamentalmente como divagação em tarefas, falta de persistência, dificuldade de manter o foco e desorganização. Esse padrão não é visto como consequência de um desafio ou falta de compreensão. Já o perfil hiperativo demonstra atividade motora excessiva, como remexer, batucar e conversar excessivamente. Em geral, a criança não consegue se conter, mesmo em lugares não apropriados. A característica impulsiva refere-se a ações precipitadas, sem planejamento, que podem causar potencial dano à pessoa. Esse perfil apresenta o comportamento de obter recompensas imediatas, a pessoa pode interromper os outros em excesso e tomar decisões sem considerar as consequências. O perfil misto apresenta tanto características de desatenção como de hiperatividade/impulsividade. IMPORTANTE: A presença do TDAH pode contribuir para a baixa autoestima, relacionamentos problemáticos e dificuldade na escola ou no trabalho. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 31 As manifestações do transtorno devem estar presentes em mais de um ambiente (casa, escola e trabalho). É importante que os informantes sejam precisos e assertivos quantoà detecção dos sintomas. É comum que os sintomas variem conforme o contexto em um determinado ambiente. Mas, se a criança só apresenta os sintomas em um ambiente, é possível que o manejo comportamental/ambiental não esteja sendo suficiente. Dessa forma, não é possível afirmar que a criança possui TDAH somente com manifestação em um ambiente. VOCÊ SABIA? O fator hereditário é muito considerado no diagnóstico do TDAH. Quando identificamos uma pessoa com TDAH, se pesquisarmos na mesma família, invariavelmente encontraremos outras pessoas com o mesmo problema. Critérios Diagnósticos Os critérios diagnósticos para TDAH seguem três padrões: desatento, hiperativo e misto. IMPORTANTE: A frequência do transtorno varia de 3 a 10 % na população infantil. No perfil desatento, é necessário que a criança apresente ao menos seis dos seguintes sintomas por seis meses com impacto negativo nas atividades funcionais: • Frequentemente não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 32 • Frequentemente tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas. • Frequentemente parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente. • Frequentemente não segue instruções até o fim e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho. • Frequentemente tem dificuldade para organizar tarefas e atividades. • Frequentemente evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado. • Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades. • Com frequência é facilmente distraído por estímulos externos. • Com frequência é esquecido em relação às atividades cotidianas. IMPORTANTE: O uso de certos medicamentos e ter algumas doenças clínicas também podem provocar hiperatividade. É necessária uma investigação cautelosa sobre esses aspectos para o diagnóstico correto! Já no perfil hiperativo é necessário que a criança apresente ao menos seis dos seguintes sintomas por seis meses com impacto negativo nas atividades funcionais: • Frequentemente remexe ou batuca as mãos ou os pés ou se contorce na cadeira. • Frequentemente levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado. • Frequentemente corre ou sobe nas coisas em situações em que isso é inapropriado. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 33 • Com frequência é incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente. • Com frequência “não para”, agindo como se estivesse “com o motor ligado”. • Frequentemente fala demais. • Frequentemente deixa escapar uma resposta antes que a pergunta tenha sido concluída. • Frequentemente tem dificuldade para esperar a sua vez. • Frequentemente interrompe ou se intromete. Para completar o diagnóstico, os sintomas precisam estar presentes antes dos 12 anos de idade; devem estar presentes em dois ou mais lugares diferentes (por exemplo, escola e em casa); e interferirem no funcionamento adaptativo (social, acadêmico) da criança. IMPORTANTE: Os principais recursos no tratamento do TDAH são: informação e conhecimento, medicação e recursos psicoterápicos. Diagnóstico Diferencial e Comorbidades Os principais diagnósticos diferenciais a serem realizados no TDAH são: Transtorno de Oposição Desafiante (TOD), Transtorno de Aprendizagem, Transtorno de Ansiedade (TA) e Transtorno de Personalidade. Vamos especificar cada um! VOCÊ SABIA? Estima-se que até 70% das crianças com TDAH apresentam simultaneamente outros transtornos. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 34 No Transtorno de Oposição Desafiante, as crianças resistem a praticamente tudo: tarefas, profissionais, solicitações. Isso porque são crianças que não se conformam à exigência dos outros. O comportamento de crianças com TOD é caracterizado por negatividade, hostilidade e desafio. Essas características não são especificamente direcionadas a um ambiente ou a uma pessoa. Em crianças com TDAH, a aversão à escola ou às tarefas está relacionada à dificuldade em manter um esforço mental prolongado, no esquecimento das orientações iniciais e na impulsividade. É comum a comorbidade entre TOD e TDAH. As crianças com transtorno específico da aprendizagem apresentam características desatentas devido à frustração, à falta de interesse ou à capacidade limitada. A desatenção em crianças com Transtornos de Aprendizagem desaparece fora do ambiente escolar, já em crianças com TDAH não. REFLITA: Muitos sintomas de TDAH são interpretados erroneamente: “só lembra o que interessa”, “não tem persistência em nada”, “não leva nada a sério”, “não se dedica”, “se realmente se importasse com os outros, teria lembrado”, “é vagabundo”. A desatenção também é uma característica compartilhada por crianças com transtornos de ansiedade. Em crianças com TDAH, a desatenção é causada por estímulos externos, novos, ou preferências específicas. Já no Transtorno de Ansiedade, a desatenção é causada pela preocupação e pela ruminação de situações ou acontecimentos. Alguns transtornos de personalidade tornam-se difíceis de diferenciar do TDAH na adolescência e na vida adulta. Por exemplo, o transtorno de personalidade borderline pode compartilhar características de desorganização, intrusão social, desregulação emocional e desregulação cognitiva. Para realizar esse diagnóstico diferencial, é necessário observação prolongada e entrevista detalhada com informantes. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 35 RESUMINDO: Agora que você aprendeu sobre a importância da anamnese infantil, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) costuma ser identificado com maior frequência durante os anos escolares. Em pré- escolares, a característica de hiperatividade é encontrada mais do que o sintoma desantento, este visto com frequência em escolares. As principais características do Transtorno de Déficit de Atenção e da Hiperatividade consistem em padrões persistentes de desatenção e/ ou de hiperatividade/impulsividade que interferem no funcionamento ou no desenvolvimento do indivíduo. O TDAH pode apresentar três padrões de comportamentos: desatento, hiperativo/impulsivo ou misto. Os principais diagnósticos diferenciais a serem realizados no TDAH são: Transtorno de Oposição Desafiante, Transtorno de Aprendizagem, Transtorno de Ansiedade e Transtorno de Personalidade. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 36 Transtornos da Comunicação (Linguagem) OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de compreender e identificar os aspectos diagnósticos e as características do Transtorno de Comunicação (Linguagem). Essa competência é fundamental para a realização de diagnósticos diferenciais e comorbidades. E então? Vamos começar?!. Os Transtornos da Comunicação incluem os seguintes transtornos que apresentam déficits na linguagem, na fala e na comunicação: transtorno da linguagem, transtorno da fala, transtorno da fluência com início na infância (gagueira), transtorno da comunicação social (pragmática) e outro transtorno da comunicação especificado e não especificado. Vamos nos ater somente ao transtorno da linguagem, que é o mais frequente. Neste capítulo, precisamos conceituar algumas informações antes de iniciar. Para isso, vamos começar diferenciando o que é comunicação, fala e linguagem. A comunicação inclui toda expressão verbal ou não verbal que influencia o comportamento e a atitude de um indivíduo. A fala consiste na produção expressiva de sons e inclui a articulação, a fluência, a voz e a qualidade da ressonância de um indivíduo. A linguagem compreende a forma, a função e o uso de um sistema convencionalde símbolos, como palavras faladas, linguagem de sinais, palavras escritas e figuras, por meio de um conjunto de regras para a comunicação. IMPORTANTE: Crianças com transtorno da linguagem precisam de terapia fonoaudiológica. Todas as informações a seguir referem-se ao Transtorno da Linguagem! Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 37 Desenvolvimento Desenvolvimento e aquisição da linguagem não é um processo homogêneo e é marcado por mudanças desde a infância até a vida adulta. Essas mudanças surgem nas dimensões de linguagem, como sons, palavras, gramática, narrativas e habilidades de conversação e são diferentes de acordo com cada idade. Como um Transtorno do Neurodesenvolvimento, o transtorno da linguagem surge durante o início do período do desenvolvimento. NOTA: O fonoaudiólogo é o profissional habilitado para identificar, diagnosticar e tratar indivíduos com distúrbios da comunicação oral e escrita, voz e audição, embora outros profissionais possam fazer parte da avaliação diagnóstica. Características As principais características do transtorno da linguagem incluem a aquisição e o uso da linguagem. A aprendizagem e o uso da linguagem dependem de habilidades receptivas e expressivas. Capacidade expressiva compreende a produção de sinais vocálicos, gestuais ou verbais, enquanto capacidade receptiva refere-se ao processo de receber e compreender mensagens linguísticas. Muitas vezes, os déficits na linguagem são causados por um comprometimento na compreensão ou produção de vocabulário, na estrutura das frases e no discurso. Esses déficits linguísticos ficam evidentes na comunicação falada, na escrita ou na linguagem de sinais. Entendendo que a linguagem possui uma capacidade expressiva e outra receptiva, a avaliação e o diagnóstico do transtorno devem conter necessariamente a investigação das duas modalidades. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 38 NOTA: O Transtorno da Linguagem afeta habilidades de leitura e de escrita e está frequentemente relacionado à dislexia. No geral, as crianças com transtorno da linguagem apresentam atraso na expressão das primeiras palavras e, posteriormente, redução no vocabulário, uso de frases curtas, erros gramaticais e no discurso. Os déficits na compreensão da linguagem costumam ser mascarados, uma vez que as crianças podem utilizar o contexto para inferir sentido. As crianças também podem apresentar definições verbais pobres, incompreensão de sinônimos, dificuldade na recordação de palavras, baixa compreensão de instruções complexas e dificuldade para lembrar sequências sonoras novas. A narrativa de histórias pode ser empobrecida e isso se refere à baixa capacidade de discurso. As dificuldades da criança precisam ser quantificadas na observação clínica e por meio de testes padronizados. As dificuldades resultam necessariamente em prejuízo adaptativo social, na comunicação, na vida escolar ou na vida profissional. IMPORTANTE: O Transtorno de Linguagem prejudica a capacidade de aprender, pois a aprendizagem acontece principalmente por meio da linguagem. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 39 Quadro 1 – Desenvolvimento linguístico para cada idade O QUE É ESPERADO PARA CADA IDADE? Zero a 12 meses • Mostrar interesse pelas pessoas e pelos objetos. • Fazer contato com os olhos. • Emitir sons, chorar, agarrar objetos com a mão, reagir a sons e vozes familiares. 12 a 18 meses • Responder comandos verbais sem pistas visuais. • Começar a dizer as primeiras palavras com significado. • Olhar quando chamado pelo nome. • Entender o não. 18 a 24 meses • Utilizar duas palavras. • Saber as partes do corpo e identificá-las. • Responder “sim” e “não” e usar gestos com a cabeça e dedo para responder perguntas. • Brincar com objetos de forma convencional. 2 a 3 anos • Saber os nomes do dia a dia. • Saber quem são as pessoas próximas. • Saber a diferença entre grande e pequeno, muito e pouco. • Utilizar “quem” e “onde” para fazer perguntas. • Conhecer algumas cores básicas, mas ainda não saber falar. • Usar verbos para formar frases simples. • Gostar de “ajudar” os adultos nas atividades domésticas, brincar de faz de conta, entender o que é proibido e o que é permitido. 3 a 4 anos • Responder a perguntas com “quem”, “onde” e “o que”. • Ter noção de “frente” e “trás”. • Conhecer as cores e as formas geométricas. • Utilizar frases de 3 e de 4 palavras. • Obedecer a ordens seguidas. • Gostar de cantar e brincar com palavras e sons. • Brincar com outras crianças. • Perguntar muito. • Início do discurso direto e indireto. 4 a 5 anos • Falar todos os sons da língua, mas ainda poder ter dificuldade nos encontros consonantais. • Manter uma conversa. • Conseguir lembrar situações passadas e contar histórias simples, por exemplo, o que fez na escola, o que comeu, quem encontrou na rua etc. • Gostar de brincar em grupo, imitar personagens e brincar de faz de conta. • Ser curioso e ansioso para mostrar o que aprendeu e o que sabe fazer. • Conseguir contar história como narrador. 5 a 6 anos • Ter noção temporal. Ex.: amanhã, ontem, depois, dias da semana, manhã, tarde, noite, primeiro, segundo, terceiro etc. • Identificar letras do próprio nome. • Conhecer os números. • Manter uma conversa. • Falar as palavras corretamente. • Gostar dos amigos e de brincar de faz de conta. Ex.: super-herói. • Interessar-se pela leitura e pela escrita. • Contar história com mais detalhes. Fonte: Adaptado de Prates e Martins (2013). Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 40 Critérios Diagnósticos Os critérios diagnósticos do Transtorno da Linguagem são descritos como dificuldades persistentes na aquisição e no uso da linguagem em suas diversas modalidades (falada, escrita, linguagem de sinais ou outra) devido aos déficits na compreensão ou na produção da linguagem, que incluem: • Vocabulário reduzido. • Estrutura limitada de frases. • Prejuízos no discurso. As habilidades de linguagem precisam ser quantificadas e estarem abaixo do esperado para a idade. Além disso, a limitação na linguagem causa prejuízo na funcionalidade/adaptabilidade do indivíduo em contextos diversos (social, escola, trabalho). Como todo transtorno do neurodesenvolvimento, o início dos sintomas ocorre precocemente no período do desenvolvimento. As características e os sintomas do Transtorno da Linguagem não podem advir de prejuízos sensoriais ou de outras condições, como a Deficiência Intelectual. NOTA: Os primeiros anos de vida da criança são determinantes para o desenvolvimento adequado da linguagem. Em ambiente comunicativo e a partir da interação com a família, a criança adquire as bases para um desenvolvimento sadio da linguagem no que diz respeito à sua forma, conteúdo e de uso. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 41 Diagnóstico Diferencial e Comorbidades Os principais diagnósticos diferenciais ao Transtorno de Linguagem são: as variações normais na linguagem, a deficiência auditiva, a deficiência intelectual, a regressão da linguagem, ao TEA e os distúrbios neurológicos. É essencial que todo profissional tenha conhecimento sobre o desenvolvimento infantil típico, pois as variações normais do desenvolvimento não podem ser confundidas com o Transtorno da Linguagem. Além disso, as variações regionais, sociais ou culturais/ étnicas da linguagem (por exemplo, dialetos) devem ser consideradas ao avaliar a criança. NOTA: A aquisição normal da linguagem é dependente de uma série de fatores, como os contextos social, familiar e histórico pré, peri e pós-natal do indivíduo, suas experiências, suas capacidades cognitivas e seus orgânico-funcionais. Deficiência auditiva ou outra deficiência sensorial? Deficiência auditiva deve ser excluída como a principal causa das dificuldades linguísticas. Os déficitsde linguagem podem estar associados à deficiência auditiva, a outro déficit sensorial ou ao déficit motor da fala. Quando as deficiências linguísticas excedem às habitualmente associadas a esses problemas, um diagnóstico de transtorno da linguagem pode ser feito. Na Deficiência Intelectual, é comum que a criança apresente atraso na aquisição da linguagem. Entretanto, o diagnóstico definitivo só pode ser dado quando forem realizadas as avaliações com testes padronizados. Distúrbios neurológicos como epilepsia podem ser adquiridos e associados ao Transtorno da Linguagem. Crianças podem apresentar sintomas de perda da linguagem por convulsões. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 42 A regressão da linguagem é vista no processo diagnóstico de TEA e também em outros distúrbios como a Síndrome de Landau-Kleffner. Por isso, a atenção às diferenças nos critérios diagnósticos de cada transtorno é de extrema importância para o diagnóstico diferencial desses casos. VOCÊ SABIA? O input linguístico que a criança recebe antes dos três anos de idade está fortemente relacionado com o subsequente desenvolvimento cognitivo e de linguagem. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que os Transtornos da Comunicação incluem os seguintes transtornos que apresentam déficits na linguagem, na fala e na comunicação: transtorno da linguagem, transtorno da fala, transtorno da fluência com início na infância (gagueira), transtorno da comunicação social (pragmática) e outro transtorno da comunicação especificado e não especificado. Neste capítulo, abordamos somente o Transtorno da Linguagem, que inclui a aquisição e o uso da linguagem. As crianças com Transtorno da Linguagem apresentam atraso na expressão das primeiras palavras, redução no vocabulário, uso de frases curtas, erros gramaticais e no discurso. Os critérios diagnósticos do Transtorno da Linguagem são descritos como dificuldades persistentes na aquisição e no uso da linguagem em suas diversas modalidades (falada, escrita, linguagem de sinais ou outra). Os principais diagnósticos diferenciais ao Transtorno de Linguagem são: as variações normais na linguagem, a deficiência auditiva, a deficiência intelectual, a regressão da linguagem, o TEA e os distúrbios neurológicos. Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência 43 REFERÊNCIAS APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtorno DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014. PRATES, L. P. C. S.; MARTINS, V. O. Distúrbios da fala e da linguagem na infância In: Revista Médica de Minas Gerais, 2011; 21(4 Supl. 1): S54-S60 Transtornos Psiquiátricos na Infância e na Adolescência Deficiência lntelectual (DI) Desenvolvimento Características Critérios Diagnósticos Diagnóstico Diferencial e Comorbidades Transtorno do Espectro Autista (TEA) Desenvolvimento Características Critérios Diagnósticos Diagnóstico Diferencial e Comorbidades Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) Desenvolvimento Características Critérios Diagnósticos Diagnóstico Diferencial e Comorbidades Transtornos da Comunicação (Linguagem) Desenvolvimento Características Critérios Diagnósticos Diagnóstico Diferencial e Comorbidades
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