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TEMA 2- Negros da terra_ formas de escravismo indígena

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Negros da terra: formas de escravismo indígena
Prof. Luis Henrique Souza dos Santos
Descrição
Os processos de redução da diversidade dos povos indígenas à lógica de exploração colonial e a agência nativa
pela sobrevivência de seus costumes e visões de mundo.
Propósito
A compreensão da relação entre os povos indígenas e os colonizadores e seus descendentes na estrutura colonial
é fundamental para os profissionais de Educação e cidadãos, de maneira geral, poderem se posicionar diante dos
desafios contemporâneos em torno da questão indígena no país.
Objetivos
Módulo 1
O Novo Mundo com velhos habitantes
Reconhecer a diversidade étnica das populações nativas antes e durante a conquista da América pelos
europeus.
Módulo 2
Negros da terra: formas do escravismo indígena
Identificar as formas que o escravismo assumiu sobre os povos indígenas no Brasil colonial.
Módulo 3
Guerras contra a conquista
Analisar a configuração das resistências indígenas nas ações coloniais para com os povos nativos.
Introdução
O mês era agosto, no ano de 2021. Você, caro estudante, deve ter acompanhado nos noticiários e nas redes sociais
as manifestações com numerosos indígenas nas largas avenidas de Brasília e, mais especificamente, no
acampamento de milhares deles na Esplanada dos Ministérios. De forma simbólica, o acampamento recebeu o
nome de “Luta pela vida”, e contou com mais de seis mil indígenas, de mais de 170 etnias distribuídas pelo Brasil.
Essa mobilização tinha um propósito: demonstrar a insatisfação dos povos nativos para com a tese do “Marco
Temporal”, que estava em julgamento no Supremo Tribunal Federal.
O “Marco Temporal” foi assim denominado por estabelecer um limite – a promulgação da Constituição de 1988 –
para que os povos originários pudessem demandar a demarcação de suas terras, garantindo dessa maneira a
inviolabilidade de seu território. Com essa determinação, os indígenas só poderiam recorrer à justiça para requerer
a demarcação se comprovassem, juridicamente, a ocupação daquelas terras até a promulgação da Constituição de
1988.

Entre os dizeres dos indígenas em agosto de 2021, disseminou-se a frase: “Nossa história não começa em 1988”. É
aqui que nossa atenção deve estar ao nos depararmos com casos como esse relativo às populações originárias.
Como pode o Estado brasileiro determinar uma data para que esses povos reivindiquem suas terras, quando eles
existem muito antes da própria fundação do Brasil?
A sobrevivência dos povos indígenas no mundo contemporâneo tem sido creditada à mudança de mentalidade da
legislação portuguesa (durante o período colonial) e brasileira (após a independência) com relação às populações
nativas aldeadas, isoladas e assimiladas. No entanto, esse discurso predominante ignora a própria agência dos
povos originários na sua conservação, apesar dos avanços do “homem branco” sobre suas terras e cultura. Será a
respeito desses problemas que nos debruçaremos no decorrer deste tema.
1 - O Novo Mundo com velhos habitantes
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a diversidade étnica das
populações nativas antes e durante a conquista da América pelos europeus.
Comunidades indígenas e formas de
organização nativas em 1500
O que hoje chamamos de Brasil compreende um território vasto, limitado pelo Oceano Atlântico desde a fronteira
com o Uruguai até as franjas do Amapá com a Guiana Francesa, sem contar as fronteiras com outros oito países
no interior continental.
Atlas Atlântico Português, 1519.
Todo esse longo emaranhado de regiões é fruto de um processo histórico de ocupação dessas terras,
fundamentalmente por portugueses, pela apropriação do trabalho negro escravizado e de imigrantes europeus,
além do gozo da mão de obra indígena. Entender a complexa trama de relações que levaram à colonização e
criação do Brasil é um desafio com o qual não conseguiremos lidar neste momento. Porém, iremos abordar, com o
máximo de profundidade possível, as relações estabelecidas entre os povos nativos e a colonização:
Quem são os povos indígenas?
De partida, deve-se destacar que o termo “índio” é impróprio, assim como a própria denominação
indígena, já que, originalmente, foi utilizada pelos europeus para caracterizar, como sendo a mesma
coisa, povos de corpos, línguas e costumes muito distintos uns dos outros. Além disso, seu uso
pode ser traçado como aquele que é natural da Índia, ou seja, do subcontinente asiático ao qual os
europeus buscaram chegar no período das Grandes Navegações, nos séculos XV e XVI.
Então, como denominar esses povos?
Atualmente, antropólogos, historiadores, indigenistas e os próprios órgãos estatais responsáveis por
estipular políticas e lidar com essas populações aceitam nomes como “povos nativos”, “povos
originários”, “povos indígenas” (sempre no plural), ou mesmo as designações que esses próprios
povos estabelecem para sua autodeterminação, muitas vezes apropriando-se de denominações
dadas pelos colonizadores.
Em suma, estamos diante de uma rede de significados ao tratar dos povos nativos no período colonial:
Primeiro
O olhar dos colonos sobre os indígenas.
Segundo
O olhar dos indígenas sobre outros indígenas.
As áreas de conhecimento que têm realizado maiores avanços nos estudos dessas populações no território
brasileiro são a antropologia e a arqueologia. Especialmente a arqueologia tem conseguido mapear o longo
período de ocupação desses povos, que remonta a, pelo menos, 12 mil anos. Sendo assim, estamos aqui diante de
uma história que conhecemos muito pouco, já que, com frequência, começamos a falar da vida dos povos
originários a partir da colonização, que ocorreu há apenas cinco séculos. Nas escavações que vêm sendo
realizadas por todo o país, destaca-se a presença da cerâmica, manipulada de diferentes formas, especialmente
nas tradições aratu e uru (FAUSTO, 2000, p. 54).
Pensemos em um exemplo:
Atentos aos efeitos provocados pelo ato de nomear povos tão distintos, podemos refletir sobre a
palavra “tapuia”. Ao aportar no litoral atlântico do Brasil, os portugueses encontraram agrupamentos
nativos do grupo linguístico tupi-guarani. Nas regiões da Bahia, deparam-se com os tupinambás,
povo que ficou conhecido por sua disposição para a guerra e pelos rituais de canibalismo. Nesse
contato com os tupinambás, os portugueses assumiram muitas de suas estratégias de relação com
outros povos mais para o sertão, chamados de tapuias, significando bárbaros, desprovidos “de
aldeia, agricultura, canoa, rede e cerâmica” (FAUSTO, 2000, p. 48).

Aratu
É proveniente do nordeste brasileiro. Parece ter desaparecido antes mesmo dos efeitos da conquista no século
XVI, já apresentando decadência nos séculos X-XI.
Uru
É proveniente da região amazônica. Parece ter se tornado predominante a partir dos séculos X-IX (FAUSTO, 2000, p.
54).
Essas formas de se confeccionar e manipular peças em cerâmica são relevantes para a datação e o mapeamento
do deslocamento de povos e seus respectivos costumes, além de destacarem a própria organização das aldeias
ou ocupações.
Outro lugar-comum ao tratar dos povos indígenas é a aldeia, pensada sempre de maneira circular e as habitações,
em formato de oca.
Disposição anelar em povoado Xingu.
A disposição anelar das aldeias, no entanto, está identificada com as povoações na região do Alto Xingu, com
tradições linguísticas distintas que, antes do período da conquista, parecem ter construído espaços de convívio e
fortificação contra tupis ou jês – quem sabe até os dois –, que eram menos sedentarizados e mais belicosos. É
provável que essa disposição anelar tenha se expandido com o passar dos séculos e com as realocações, tópico
que retornará ao nosso diálogo.
A população que vivia na floresta amazônica, assim, era diversa, complexa e, fundamentalmente, descentralizada.
Uma das principais preocupações de antropólogos e arqueólogos do século XX – talvez se apropriando de
preocupações presentes nos textos de autoridades coloniais – era aausência de estado entre esses povos.
Muitas explicações foram aventadas, com destaque para a suposição que vigorou durante muito tempo de que a
não formação de um estado, à semelhança do que ocorreu no império inca, se dava pela presença da própria
floresta. Não era possível construir estradas, não havia plantações extensivas, nem era possível concentrar grande
contingente nos núcleos populacionais. No entanto, olhar para os povos da várzea amazônica e das margens dos
principais rios do sul amazônico somente pela sua falta foi o principal erro dessas interpretações.
Diante da profusão de povos pelo território, uma estratégia adotada pelos antropólogos e por linguistas tem sido a
de mapear os troncos linguísticos e suas variações. Podemos destacar dois esforços de fôlego na apresentação e
preservação da diversidade cultural e linguística nativa no Brasil.
Mapa etno-histórico do Brasil e regiões adjacentes de Curt Nimuendajú.
O primeiro é o “Mapa etno-histórico do Brasil e regiões adjacentes”, de Curt Nimuendajú, etnólogo alemão que se
estabeleceu profissionalmente no Brasil e desenhou algumas versões desse monumental mapa nos anos 1940
para diferentes instituições (NIMUENDAJÚ, 2017). Além do mapeamento, esse documento propicia uma
compreensão de certos deslocamentos de grupos indígenas, destacando sua mobilidade e adaptação. O outro
esforço, mais recente, é do Centro de Documentação de Línguas Indígenas (CELIN) localizado no Museu
Nacional/UFRJ, que lida com a grande diversidade indígena e estabelece conexões sem apresar a cultura
multiétnica nativa.
Conversão e deslocamentos indígenas no sertão
No processo de conquista da América portuguesa, portugueses e seus descendentes estabeleceram-se, em um
primeiro momento, no litoral. Construíram postos mercantis, em que exerciam pouco poder sobre os grupos
populacionais locais, mas seu foco e efeito de controle se deu na constituição de cidades, com instâncias políticas
e administrativas.
No império português, as Câmaras Municipais têm uma função fundamental na organização local e, apesar de
congregarem os chamados “ homens bons” da região, tornaram-se apoio e utilizavam suas ações para reivindicar
privilégios com a Coroa lusitana. Guida Marques, em artigo de 2014, destaca essa posição dupla das câmaras,
estudando mais especificamente o caso da Bahia durante o século XVI e XVII e sua luta contra os “gentios”
(MARQUES, 2014). Os índios que não eram vertidos ao cristianismo, considerados “bravos” ou “bravios”, passavam
à categoria de “bárbaros”, podendo, assim, ser caçados e feitos escravos. Pela limitação de expansão dos
europeus sobre a América, esses índios geralmente ocupavam o que era chamado de “sertão”, terra desconhecida
e para dentro.
Homens bons
Homens pertencentes ao que convencionamos chamar de "elite" colonial. Nesse grupo, ao longo do período colonial,
podemos incluir os grandes proprietários de terras, de fazendas de cana, de fumo, de algodão e, principalmente,
senhores de grandes plantéis de escravos. Somente no século XVIII e XIX podemos incluir, nessa denominação
genérica, os grandes comerciantes, que, nos séculos XVI e XVII apesar de vultuoso patrimônio, eram considerados de
condição social inferior aos senhores de engenho e de fazendas.
Nesse longo processo de assentamento das populações de origem europeia, principalmente portuguesas,
chamadas no geral de colonos, o contato com os povos nativos gerou conflitos e acomodações. No que se refere
aos conflitos, podemos destacar as incursões indígenas às fazendas, as incursões para expulsar e apresar índios
lideradas pelos bandeirantes (aspecto que trataremos mais à frente), entre outras rusgas de colonizadores e seus
descendentes com os indígenas.
Obra de Jean Baptiste Debret, 1830.
Já com relação às acomodações, destacam-se esses mesmos conflitos nos quais os nativos tomam partido. Ou
seja, ao tratar com diferentes povos, europeus aliavam-se a determinado grupo, ao passo que guerreavam com
outros.
Tupinambás – Gravura de Jean de Lery
Um dos exemplos mais conhecidos dessas parcialidades entre indígenas e europeus está na tentativa de
colonização francesa no Rio de Janeiro, com a construção do forte de Coligny sob a liderança de Nicolas Durand
de Villegaignon, nos anos 1550. Após disputas religiosas entre os franceses, um grupo de protestantes decide
abandonar a fortaleza e buscar a sorte de sobrevivência entre os tupinambás. Do relato de um dos missionários
que decidiu aventurar-se por pequeno período entre os índios, Jean de Léry, depreende-se, também, que os
franceses não eram os únicos a estabelecer alianças com os povos nativos, nem mesmo a viver entre estes.
Assim, abrimos espaço para tratar de dois tipos bastante comuns no período da conquista. Muito corriqueiros para
várias nações europeias, eram os náufragos e o que em português convencionou-se chamar de lançados. Um
costume dos marinheiros, quando se colocavam em direção a terras desconhecidas, era recolher meninos para a
viagem; à medida que se aproximavam da costa, lançavam esses jovens em terra firme, para que estabelecessem
contato, por imersão, com as populações nativas. De outra feita, buscando a sobrevivência, os náufragos das
embarcações se assentavam com os povos nativos, descobrindo seus modos e sua linguagem. O caso mais
conhecido na história do Brasil talvez seja o de Diogo Álvares Correia, o Caramuru, que passou a vida entre os
indígenas na Bahia e se tornou conexão importante para o estabelecimento dos portugueses no Recôncavo,
costurando casamentos de seus filhos e filhas com homens lusitanos (AMADO, 2000).
Obra Episódios da vida de Diogo Álvares Correia, o Caramuru, autor desconhecido.
O segundo tipo, que recebe maior atenção da historiografia e da memória popular acerca da colonização e seus
contatos com os indígenas, foram os missionários religiosos.
No caso do Brasil, a ordem religiosa que mais se destacou foi a Companhia de Jesus, fundada em Roma na esteira
do Concílio de Trento e do movimento de Contrarreforma. Voltados para a conversão de pagãos e para a luta
contra o protestantismo na Europa, os jesuítas rapidamente se dedicaram à redução das populações ameríndias
ao cristianismo romano. Representativa dessa importância foi a presença dos inacianos nas embarcações que
chegaram à Bahia para a fundação de Salvador e do sistema de Governo-Geral, com o Governador Tomé de Sousa,
em 1549.
O missionário espanhol José de Anchieta foi, junto com Manuel da Nóbrega, o primeiro jesuíta que Ignacio de Loyola (fundador da Companhia de Jesus)
envia para a América.
Por fim, cumpre destacar que a ocupação do litoral pelos europeus e seus descendentes na construção de
fazendas e cidades voltadas para o comércio atlântico, durante o século XVI e XVII, contou com a assimilação e
dizimação das populações indígenas, como já é conhecido pelos debates mais recentes da historiografia. Contudo,
as populações nativas sobreviveram à conquista. E essa sobrevivência está relacionada tanto a um isolamento em
virtude dos limites de avanço da conquista no território quanto aos próprios deslocamentos de grupos inteiros na
busca por segurança e por mitos de salvação. Nesse sentido, destacamos dois exemplos bastante elucidativos da
sobrevivência pela transumância:
Busca pela “terra sem mal”
Trata-se de uma prática conhecida como messiânica pela historiografia, liderada pelos caraíbas, aos quais eram
atribuídos poderes de cura e profecia no tronco linguístico tupi (VAINFAS, 1995). Os caraíbas, diferentemente do
que se considera sobre as religiosidades nativas, não estavam fixos em uma tribo e eram caracterizados
justamente pela sua desterritorialização e por ocupar a floresta (FAUSTO, 2000, p. 58).
Família Caraíba.
Exerceram função fundamental na construção de “heresias”, de concepções religiosas metamorfoseadas e na
articulação de grandes contingentes indígenas para se deslocarem em direção ao sertão. Ainda em termos
religiosos, aparece também uma “religiãonativa”, construída pelos missionários com nomes e cosmogonias
indígenas modificadas. Cristina Pompa chama atenção para essa construção por conta do principal problema dos
missionários: a dificuldade de ensinar nova religião a populações que não tinham uma religião institucionalizada
como eles conheciam e estavam conhecendo entre maias e astecas na América Hispânica, a quem chamavam de
pagãos (POMPA, 2003).
Formação de novos agrupamentos
É o caso dos bororo (FAUSTO, 2000, p. 50). Sendo uma das populações ameríndias mais conhecidas da atualidade,
ocupando regiões do sul do Brasil, com uso de adereços e costumes bastante característicos e estudados pelos
antropólogos no século XX, é possível que sua origem esteja associada ao deslocamento de outros grupos
indígenas e de sua mistura a povos já estabelecidos no sul do país há alguns séculos.
Índios Bororo.
Ou seja, os deslocamentos em virtude da pressão da conquista sobre o sertão podem ter sido fatores motivadores
para a miscigenação e criação de novas identidades e novas práticas entre povos indígenas.
Encontros e contatos dos europeus com os
“selvagens”
A descrição desse Novo Mundo e de seus habitantes, com corpos distintos, costumes exóticos e habilidades
diferenciadas coube aos chamados “cronistas”, europeus enviados juntamente à expedições, que se destinavam a
escrever sobre o que viam e viviam.
Acontece que se tornou lugar-comum tomar as descrições dos cronistas como descrições acuradas dos modos de
vida dos indígenas. Somente após a especialização dos estudos históricos e antropológicos começou-se a chamar
atenção para o enviesamento desses escritos. O olhar colonizador desses cronistas passou a ocupar esses
estudos, que questionavam as descrições e os dados que expunham, tornando um pouco mais difícil a tarefa de
chegar a relações dos costumes indígenas, já que havia muitos exageros em suas descrições.
Carta de Pero Vaz de Caminha.
Tomemos aquele que ficou marcado como o primeiro relato do encontro entre portugueses e indígenas –
conhecidos mais tarde sob a denominação de botocudos, do tronco linguístico macro-jê –, a célebre carta de Pero
Vaz de Caminha ao rei de Portugal sobre a descoberta das terras de Vera Cruz. Sem nos debruçarmos sobre toda a
carta, alguns trechos são interessantes para notarmos tópicas da relação entre europeus e os ameríndios
(HOLANDA, 2000).
Depois de aportarem na foz de um rio, encontraram-se com um grupo de cerca de vinte indígenas, todos nus, os
quais não “estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência
como têm em mostrar o rosto.” (CAMINHA, fl. 2v). A inocência do indígena era uma das tópicas mais recorrentes
da cronística portuguesa, assim como associá-la à infância, estabelecendo os degraus de evolução social no qual
o ameríndio se encontra no primeiro estágio (HOLANDA, 2000). Outro aspecto fundamental eram os interesses
portugueses nas conquistas de novas terras: ouro e prata. Para tal, Caminha constrói interessante contato entre
indígenas e o capitão-mor da frota.
[...] entraram e não fizeram nenhuma menção de cortesia nem de falar ao capitão
nem a ninguém. Um deles, porém, pôs olho no colar do capitão e começou d'acenar
com a mão para a terra e depois para o colar, como que nos dizia que havia em terra
ouro. E também viu um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e
então para o castiçal, como que havia também prata. Mostraram-lhes um papagaio
pardo, que aqui o capitão traz, tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra,
como que os havia aí. Mostraram-lhes um carneiro, não fizeram dele menção.
Mostraram-lhes uma galinha, quase havia medo dela e não lhe queriam pôr a mão e
despois a tomaram como espantados.
(CAMINHA, fl. 3)
Na esperança de encontrar na Terra de Vera Cruz o que os espanhóis já descobriam mais ao norte, para além dos
mitos disseminados entre navegadores, os portugueses colocam nas ações dos indígenas o prenúncio de grandes
riquezas no Brasil. Somente no final do século XVII, nos sertões da América portuguesa, se achou ouro. Porém, as
suspeitas e expectativas existiam desde a primeira hora da colonização.
Para além de propaganda de um território com possíveis metais preciosos, as descrições do Novo Mundo sob
domínio português tiveram outras funções.
Comentário
As histórias, crônicas, cartas e os mapas tornaram possível o conhecimento da geografia local, apesar de vários
espaços desconhecidos e das populações – sob o olhar de determinadas parcialidades dos próprios indígenas que
iam estabelecendo contatos. Ao habilitar a apreensão da forma de organização e alguns poucos aspectos de sua
cosmogonia e formas de vida, tanto no Reino (em Portugal e Espanha) quanto nas cidades, durante os séculos XVI,
XVII e XVIII se estabeleceram normas e legislações para lidar com os indígenas. Essas leis, é claro, não foram
uniformes e contaram com contradições e modificações recorrentes.
Simultaneamente à aparição das primeiras notícias que circularam na Europa sobre habitantes no Novo Mundo
nos anos finais do século XV, tiveram início debates sobre a natureza da alma “selvagem” e de como lidar com
esses seres. Todo questionamento era possível, inclusive se eram homens. Se sim, como chegaram lá, uma vez
que, até onde sabiam, esse novo continente estava completamente separado da Europa e da África?
Na tradição de pensamento judaico-cristã opera-se o conhecimento por meio da relação com o já conhecido. Ou
seja, doutores no direito romano, na teologia e na história buscaram adequar a nova descoberta a um quadro, que
julgavam completo, das tradições legais, teológicas e históricas já estabelecidas.
Nesse sentido, vale destacar que, na temática que nos importa, o principal debate se estabeleceu entre jesuítas e
dominicanos ao longo do século XVI sobre a natureza e a liberdade do indígena. O índio era passível de livre-
arbítrio? Ele conhecia a verdade do evangelho e a esqueceu – como ocorria com africanos e indianos – ou ele era
inocente, sem qualquer conhecimento de Jesus? Esse tipo de questionamento motivou uma verdadeira guerra de
tinta com a defesa de diferentes pontos de vista. Tal debate emerge de um esforço de legitimação tanto da
conquista dos novos territórios quanto da submissão – seja pela vassalagem ou pela escravidão – dos povos nela
descobertos (ZERON, 2005).
Domingos de Gusmão, dominicano e padroeiro da ordem.
Um dos grandes problemas dessa controvérsia era estar baseada nas descrições de navegadores impressionados
com as descobertas e com a tentativa de enquadrar todo o novo em velhos quadros teóricos. Daí emergem figuras
míticas nos mares e na terra, como o ibupiara, monstro descrito pelos nativos e temido pelos portugueses
(CAMENIETZKI; ZERON, 2000).
Obra Fundação de São Paulo, de Antônio Parreiras, 1913.
Emergem, também, os títulos que permitiram encaixar os ameríndios na escada civilizacional europeia, como
“selvagens”, “gentios”, “bárbaros”, entre outros. Essas categorias foram mobilizadas de diferentes formas. Quando
interessados na defesa da conversão à fé católica, o índio era gentio, pois podia ouvir e assimilar a palavra dos
missionários; quando fazia investidas contra as fazendas, resistindo e se opondo à presença dos brancos, o
indígena era bárbaro e bravo.
As diferentes categorias nas quais os ameríndios eram classificados geraram distintas posições tomadas pela
Coroa, pelas Câmaras Municipais e pelos colonos. Por isso a importância das descrições de Pero Magalhães
Gandavo, Gabriel Soares de Sousa, Frei Vicente de Salvador, Antonil, entre outros cronistas dos primeiros séculos
de ocupação portuguesa da América. A partir desses relatos de viagens e do cotidiano da conquista, são
publicadas leis que, em alguns momentos defendem a liberdade inquestionável dos indígenas, depois sua
possibilidade de apresamento em caso de “guerra justa”, para, no século XVIII, restringir o contato com os índios à
atuação do Estado.
Por fim, outro aspecto fundamentaldo contato entre europeus e nativos foi a língua. Comumente temos referência
à “língua tupi” quando nos deparamos com nomes de origem indígena. A língua é um aspecto crucial para a
construção de conceitos e categorias, como temos visto, além da redução e compreensão do outro. Assim, chama
atenção uma das primeiras anotações sobre a língua dos nativos da costa por Pero de Magalhães Gandavo,
cronista real:
A língua de que usam, toda pela costa, é uma: ainda que em certos vocábulos difere
em algumas partes; mas não de maneira que se deixem uns aos outros de entender:
e isto até altura de vinte e sete graus que daí por diante há outra gentilidade, de que
nós não temos tanta notícia, que falam já outra língua diferente. Esta de que trato,
que é geral pela costa, é muito branda, e a qualquer nação fácil de tomar. Alguns
vocábulos há nela de que não usam senão as fêmeas, e outros que não servem
senão para os machos: carece de três letras, convém a saber, não se acha nela F,
nem L, nem R, cousa digna de espanto porque assim não tem Fé, nem Lei, nem Rei, e
desta maneira vivem desordenadamente sem terem além disto conta, nem peso,
nem medida.
(GANDAVO, 2008, p. 134)
“Vivendo desordenadamente”, cumpria aos portugueses ensinar-lhes como viver da maneira correta. Por isso a
importância que foi dada para o ensino de latim aos indígenas, nos primeiros anos da colonização, e para a
compilação da chamada “língua geral” tupi. Esse esforço foi empreendido por José de Anchieta, que, em 1595,
publica um vocabulário da língua brasílica. Era necessário reduzir a dispersão de línguas em uma só a ser ensinada
para os missionários e tornar possível a domesticação do selvagem (DAHER, 2012; GOODY, 1988).

Uma história apagada
Assista agora a uma explicação sobre o apagamento do papel dos povos locais, desde a idealização dos europeus
como bons selvagens até a ideia de não adaptação por determinismos geográficos e afins.
Determinismos geográ�cos
Peças do cientificismo do século XIX que defendiam que as características das raças humanas eram determinados,
melhorados ou piorados, dependendo das condições climáticas.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
No processo de conquista da América, os portugueses criaram categorias e denominações, muitas vezes
generalistas, sobre os povos que encontraram. A seguir, estão algumas dessas categorias e nomeações, com
sua explicação. Assinale aquela que está correta:
A
Aratu era a tradição cultural na qual estavam inseridos todos os povos nativos da América
portuguesa, percebida pelos colonos logo em sua chegada.
B
Atentos às diversidades culturais dos povos indígenas, os portugueses evitaram o uso de
termos generalistas, para respeitar as denominações tradicionais dos ameríndios.
C
Os povos que viviam na floresta amazônica eram conhecidos por uru, principalmente pela sua
integração econômica e social com os povos do cerrado e do semiárido.
D
Os portugueses, estabelecendo contato e alianças com os tupinambás, designavam todos
aqueles outros nativos como tapuias.
Parabéns! A alternativa D está correta.
Com sua chegada pelo litoral atlântico do que se constituiu, posteriormente, como Brasil, os portugueses
encontraram agrupamentos nativos que faziam parte do grupo linguístico tupi-guarani. Nas regiões do que
chamamos hoje de Bahia, encontraram os tupinambás. Do contato com os tupinambás, os portugueses
construíram muitas de suas estratégias para relação com outros povos mais para o sertão, que ficaram
conhecidos como tapuias, que significava bárbaros, desprovidos “de aldeia, agricultura, canoa, rede e
cerâmica” (FAUSTO, 2000, p. 48). Ou seja, havia uma rede de significados ao tratar dos povos nativos no
período colonial: em um primeiro lugar o olhar dos colonizadores sobre os indígenas; e, depois, o olhar dos
indígenas sobre outros indígenas.
Questão 2
Considere as afirmativas a seguir:
I. Os primeiros contatos entre europeus e nativos se davam pelos “lançados”, homens que, muitas vezes,
tornavam-se completamente integrados à cultura ameríndia.
II. No Brasil, os missionários religiosos mais importantes foram os jesuítas, que construíram colégios nas
cidades e aldeamentos dos indígenas nas proximidades dos centros urbanos.
III. Em função da pressão sobre as terras no litoral e no sertão, é possível observar o deslocamento das
populações indígenas em busca de mitos de salvação e de novos espaços para se isolar dos colonizadores.
Assinale as alternativas que relacionam de forma correta as afirmativas acima:
E
Jê era a forma de designação do tronco linguístico dos povos tupis. Possuíam características
completamente distintas dos tupinambás encontrados na costa do Atlântico.
A I e II estão corretas.
B I e III estão corretas.
C II e III estão corretas.
D I, II e III estão corretas.
Parabéns! A alternativa D está correta.
Os náufragos ou “lançados” eram meninos recolhidos e embarcados. À medida que se aproximavam da costa,
eram lançados para terra firme, para que estabelecessem contato, por imersão, com as populações nativas.
Por outro lado, esses náufragos se assentavam com os povos nativos, descobrindo seus modos e sua
linguagem. Já os missionários religiosos, no caso do Brasil, em especial a Companhia de Jesus, estavam
voltados para a conversão e rapidamente se dedicaram ao ensino do cristianismo romano das populações
ameríndias. Os deslocamentos em virtude da pressão da conquista sobre o litoral e o sertão podem ter sido
fatores motivadores para a miscigenação e criação de novas identidades e novas práticas entre povos
indígenas.
2 - Negros da terra: formas do escravismo
indígena
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as formas que o
escravismo assumiu sobre os povos indígenas no Brasil colonial.
E Apenas uma das afirmativas está correta.
Debates teológicos sobre a liberdade ou
escravização indígena
A escravidão, atualmente, está associada à submissão de alguém ao trabalho compulsório sem remuneração e
sem liberdade de decisão. Em consultas a dicionários, ainda vemos as referências recorrentes a condições
subalternas de uma raça em relação a outra, considerada superior, seja do ponto de vista teórico ou em quesitos
materiais.
Eleanor Roosevelt segurando a versão impressa da Declaração Universal dos Direitos Humanos em espanhol.
Há, contudo, uma barreira legal imposta à escravização de outrem na contemporaneidade, mais especificamente
após a promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, na esteira dos documentos e
decisões da recém-criada Organização das Nações Unidas, três anos antes. Essa obstrução, no entanto, é recente.
Autoridades, leigas ou religiosas, durante séculos se lançaram no ofício de construir consensos para justificar a
existência da escravidão.
Atenção!
Conhecer o processo de fundamentar a escravização – com frequência um trabalho intelectual que recorre a
motivos teológicos e históricos – é fundamental para compreender como ela se dá na prática – com suas
consequências legais e a violência com a qual ocorre.
No contexto das Grandes Navegações, do século XV em diante, muito foi escrito sobre o tema da escravidão, a
liberdade e a legitimidade de comércio de seres vivos do continente descoberto e dos já conhecidos, porém com
novas rotas e novos agentes envolvidos.
Em outras palavras, apesar da distância e das diferentes populações que foram encontradas nesses locais, o
esforço de conquista da América, África, do subcontinente indiano e do extremo oriente esteve permeado pelo
interesse comercial e pela vontade de descobrir como lidar com esses povos desconhecidos.
Nau de Pedro Álvares Cabral.
Para tal, os aventureiros que se lançaram nessas conquistas produziam descrições sobre os costumes e práticas
dos nativos; esses relatos rodavam a Europa, em diferentes proporções, claro; e nos principais centros intelectuais
– universidades, principalmente – realizaram-se discussões acaloradas sobre o tema.Não é possível mensurar os
debates sobre a liberdade dos indígenas da América portuguesa sem considerar que contendas semelhantes
ocorriam para outras regiões do globo (SCHWARTZ, 1988).
Era necessário, para os intelectuais espanhóis e portugueses interessados em intervir
nas expansões de suas nações, construir um arcabouço ideológico sobre o qual seus
conterrâneos pudessem operar nas terras recém-descobertas.
Lançam mão das tradições já recorrentes, como o modelo aristotélico, e realizam novas proposições para encaixar
esses desconhecidos habitantes da América.
Alunos em uma aula da Universidade de Salamanca, no século XVII.
Um dos principais espaços de onde emanam interpretações foi a Universidade de Salamanca, de onde teólogos de
relevo, como Francisco de Vitoria e seus discípulos, constroem definições para articular a teoria político-religiosa
corrente e o domínio ibérico sobre as novas conquistas (ZERON, 2005, p. 208). Nesse sentido, a legitimidade da
escravidão dos ameríndios foi largamente discutida, sendo pilar de controvérsias que se estendem por todo o
século XVI. Na tradição político-teológica moderna, um dos pontos de partida era o chamado direito natural, uma
forma de considerar atribuições divinas à dignidade humana e seu uso costumeiro.
Em outras palavras, eram o conjunto de normas que, não codificadas em leis estatais, não poderiam ser emitidas
pelos monarcas nem tocadas por eles. Dentro do direito natural estaria o direito à vida e à liberdade – para ficar em
dois tópicos que foram amplamente discutidos a partir do Renascimento na Itália e a respeito dos domínios
ibéricos sobre a América. Como conciliar, então, o direito natural à liberdade com a submissão de outrem?
Nos centros intelectuais ibéricos se construiu um consenso, ainda que tenha sido fruto de décadas de
controvérsias, em torno de três justificativas possíveis para a escravidão do indígena:
Guerra justa
Articulando categorias como “bárbaros” e “índios bravios” era possível driblar a oposição que existia
na sociedade colonial portuguesa, especialmente na figura dos jesuítas que buscavam converter e
aldear os indígenas. Nesse cenário, qualquer episódio de violência executado por nativos podia ser
interpretado como “guerra justa”, tornando juridicamente seguro verter aquele ser humano em
escravo (CUNHA, 2009, p. 174).
Compra de índios escravizados por outros índios
Os “legitimamente havidos”. Aqui estamos diante de uma solução menos clara, mais dúbia do que a
“guerra justa”, bastante complexa para ser efetivamente clara (CUNHA, 2009, p. 174). Nesse ponto,
nos deparamos com diferenças objetivas entre as sociedades portuguesas e ameríndias: Existiam
escravos na cultura indígena? Caso existissem, tinham função mercantil? Se nos guiarmos pelos
cronistas, os índios vendiam seus conterrâneos de outras etnias vertidos em escravidão; contudo, há
pouca evidência menos tendenciosa sobre o assunto (FAUSTO, 2000, p. 39).
Possibilidade de escravizar indígenas que fossem resgatados da posse
de outros indígenas
Os colonos poderiam escravizar aqueles índios que fossem resgatados de condições de “extrema
necessidade”, como o risco de estarem submetidos ao rito canibal de seus apresadores indígenas.
Essa categoria da “extrema necessidade” foi recorrente, por exemplo, nos tratados teológicos da
escolástica, pois descrevia um sem-número de situações possíveis para se contornar algum direito
natural para salvaguardar outro (CUNHA, 2009, p. 175).
Guerra justa e pressões sobre o sertão no
apresamento indígena
Você pode ter notado que, até aqui, falamos pouco dos bandeirantes e menos ainda da denominação “negros da
terra”. Esse silêncio foi proposital. É preciso ter duas coisas em mente: primeiro, que todo o processo de violência
contra os indígenas e sua expulsão de regiões que habitavam tradicionalmente para explorar a terra e seus
recursos naturais faz parte da estrutura da expansão colonial. E, segundo, que as demandas por escravização dos
povos nativos e sua utilização em serviços diversos, especialmente nos séculos XVI e XVII, não foi monopólio dos
bandeirantes.
Quadro de Henrique Bernardeli intitulado O Ciclo da Caça ao Índio, mostrando um bandeirante em primeiro plano.
De partida, importa destacarmos o que seria esse “interior”. Entre os séculos XVI e XVII, a ocupação da América
portuguesa esteve concentrada no litoral, ainda que houvesse tentativas de construir cidades na subida de
importantes rios, como o São Francisco, e no interior de baías, como a Bahia de Todos-os-Santos e a Baía de
Guanabara. Sendo áreas profícuas para o abastecimento externo e o escoamento de produções locais, posicioná-
las próximas a rios permitia um controle maior sobre a zona urbana, especialmente no que se refere à preocupação
para com investidas de índios bravios, mocambos e quilombos que viriam a se formar com o desenvolver do
processo de colonização.
Nesse cenário, o interior era o desconhecido, espaço com dinâmicas incertas e sem
muitas descrições. Assim, a investida de aventureiros, quase sempre protegidos pela
concessão de sesmarias com grandes proporções, oferecia algum conhecimento sobre
esses “sertões” – outro título bastante utilizado no período colonial para qualquer zona
interiorana distante
A marcha de missionários era outra grande fornecedora de informações sobre o interior, na busca de almas para
conversão e para aldear.
Outro fator da interiorização do Brasil foi a pecuária. Contrariamente ao que se afirma no senso comum sobre a
criação de gado na América portuguesa, esta não era realizada por homens livres e com conhecimento bem
delimitado de suas terras. Na esteira dos importantes trabalhos sobre História Agrária, sob liderança de Maria
Yedda Linhares, Francisco Carlos Teixeira Silva esclarece o intricado cenário de expansão da pecuária com base
nas sesmarias e no arrendamento de terras (SILVA, 1997, p. 120). Fundamentalmente, o gado era criado por
escravos, constantemente em contato e conflito com povos nativos, quase sempre de maneira hostil, e com
fronteiras quase inexistentes.
Tela de Frans Post (1612-1680) que mostra uma paisagem brasileira com um carro de boi.
Era comum a concessão de terras pela Coroa por intermédio de seu Governador-Geral – que era como funcionava
a concessão de sesmarias – sem muito critério de distâncias. Esse padrão se modifica no final do século XVII,
quando ocorre a tentativa de estipular dimensões de três por uma léguas por sesmaria (SILVA, 1997, p. 121). Tais
medidas, contudo, não resolveram as discordâncias com relação à propriedade e na legítima ocupação das terras
do sertão.
Na mesma medida em que o gado se expande, rotas de deslocamento são construídas no interior, aproveitadas
pelos tropeiros. Não é possível, assim, discutirmos a existência de estradas no interior sem compreender que esse
espaço não era vazio; era desconhecido aos portugueses e seus descendentes, porém ocupado por populações
indígenas que dali foram expulsas ou dizimadas.
Quadro Rancho Grande (dos Tropeiros), de Benedito Calixto, de 1921.
Apesar de estarem atualmente identificados com as regiões centro-oeste e sul, os tropeiros eram recorrentes nas
demais regiões do território, uma vez que realizavam o transporte de produtos no mercado interno. A própria
presença dos tropeiros, assim, nos permite pensar a respeito de um dos problemas sobre os quais a historiografia
brasileira se debruçou com afinco no século XX: a existência de um mercado interno no período colonial.
Se o foco da ocupação extensiva do território era no litoral, e as fazendas e terras produtivas mais cobiçadas
estavam próximas à costa, correr o risco de se expor aos perigos do interior prova a necessidade de circulação de
mercadorias nesse espaço. Existiam, assim, produtos a serem comercializados que não vinham das frotas do
Atlântico nem se destinavam ao consumo europeu. Em meados do século XVIII, era comum, inclusive, a circulação
de peles e carnes da região do Prata com a RegiãoSul do Brasil (GIL, 2002, p. 33-34).
Com o agravamento dos interesses portugueses no interior, passa a ser recorrente a figura dos sertanistas,
homens com alguma experiência militar, especializados nas investidas a esse espaço. Como foi comum entre os
bandeirantes paulistas, tais sertanistas com frequência falavam línguas nativas, compartilhavam de certos hábitos
dos indígenas e da presença de muitos índios. Mais uma vez, devemos estar atentos à possibilidade de
parcialidades entre as populações indígenas, aliando-se, quando julgavam necessário e interessante, aos europeus,
mesmo na redução, caça e extermínio de outros nativos.
Comentário
No decorrer dos séculos XVII e XVIII, com a expansão territorial que temos descrito, seja pela busca por novas
terras produtivas ou para criação de gado, as Câmaras Municipais atuam como agentes importantes no
financiamento e no apoio legal de expedições de dizimação e apresamento de indígenas. Aspecto pouco coberto
na historiografia sobre a administração municipal brasileira, o suporte dos concelhos aos sertanistas está
largamente documentado.
Apresamento indígena pelas entradas paulistas
no sertão
Vamos conversar agora sobre a denominação “negros da terra”. É preciso ter duas coisas em mente: primeiro, que
todo o processo de violência contra os indígenas e sua expulsão de regiões que habitavam tradicionalmente para
explorar a terra e seus recursos naturais faz parte da estrutura da expansão colonial. E, segundo, que as demandas
por escravização dos povos nativos e sua utilização em serviços diversos, especialmente nos séculos XVI e XVII,
não foi monopólio dos bandeirantes.
O bandeirante paulista é um personagem em disputa na historiografia:
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Há um esforço realizado pela historiografia tradicional paulista, sobretudo com autores como Afonso de
Taunay, que buscaram no bandeirante o herói de um período áureo da história paulista.
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Encontramos Capistrano de Abreu, que viu na ação dos sertanistas paulistas a ação devastadora da
diversidade indígena do interior.
Contudo, há trabalhos – como os de Alcântara Machado e Sérgio Buarque de Holanda – que visam descortinar a
atuação desses homens do passado sem considerar heróis nem vilões (SANTOS, 2009, p. 47), além do livro
incontornável de John Monteiro, Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo, de 1994. Desde
então, muitos trabalhos têm versado sobre as motivações e implicações dos sertanistas paulistas.
Comentário
O movimento historiográfico revela, na verdade, uma disputa social em torno da figura do bandeirante e dos efeitos
de sua ação no sertão. O século XX foi marcado também pela mudança de mentalidade em relação aos indígenas,
com a sua condição de tutela pelo Estado sendo – pelo menos – deixada de lado, e sua agência política sendo
reconhecida a partir da Constituição de 1988.
Voltando-nos então para a sociedade colonial, os bandeirantes foram, sim, figuras centrais no conhecimento do
interior. Foram, também, fundamentais no entendimento da língua. Apesar da imagem que a literatura, a pintura
histórica e a historiografia elogiosa buscaram construir, os bandeirantes possuíam hábitos similares aos indígenas.
Há relatos de sua dificuldade de comunicação, na língua portuguesa, com habitantes de outras capitanias
(HOLANDA, 1994, p. 20; p. 28).
A Capitania de São Vicente, integrada no século XVIII a São Paulo, se tornou o principal ponto de partida de
expedições do litoral em direção aos sertões. Durante o período da União Ibérica – quando a coroa espanhola
exerceu domínio sobre a coroa portuguesa, entre 1580 e 1640 – havia certa tolerância às investidas dessas
expedições, pois os limites entre a América hispânica e a América portuguesa, além de bastante indefinidos, eram
fluidos.
Mapa da Capitania de Pernambuco, com representação do Quilombo dos Palmares (1647).
Nesse sentido, havia incentivo das autoridades coloniais para essas expedições: buscar rotas para conectar os
portos do Atlântico com o Potosí; estabelecer relações entre o litoral e as populações que se constituíram nas
margens dos principais rios do interior; e, é claro, exercer pressão, expulsar e apresar os indígenas (MONTEIRO,
1994).
No período de atuação de grandes nomes do bandeirantismo, como Manuel de Borba Gato, Raposo Tavares e
Sebastião Pais de Barros, entre outros, muitos foram os serviços que prestaram à Coroa e às elites coloniais.
Desses três mencionados, destaca-se Raposo Tavares e Sebastião Pais de Barros, que, junto a outras centenas de
bandeirantes, riscavam o interior do Brasil, chegando aos rios afluentes do Amazonas no norte e sua
desembocadura no Atlântico.
Domingo Jorge Velho.
Outro exemplo de deslocamento e de serviço às autoridades coloniais foi Domingos Jorge Velho, sertanista
paulista responsável pela destruição do famoso Quilombo dos Palmares, em 1694, em Pernambuco. Apesar de ser
foco de resistência de negros escravizados, ex-escravizados ou livres, Palmares também tinha presença de
indígenas. Jorge Velho foi contratado para dar fim aos numerosos mocambos que confederados compunham em
Palmares (LARA, 2021, p. 14). Vemos, assim, uma versatilidade desses bandeirantes.
Mais do que andar pelo interior atrás de índios para escravizar e revender no litoral – aspecto questionado
atualmente pela historiografia – e de buscar as “drogas do sertão”, eles podiam ser contratados para realizar
entradas no território, afugentar índios bravos e impedir ou destruir os quilombos. Apesar de ficarem para a história
tradicional como figuras marginais, que viviam quase como bárbaros e nas matas, estiveram bastante integrados
na economia e na política colonial, voltados para as atividades em que se tornaram especialistas.
Imagem de indígenas escravizados trabalhando com as "drogas do sertão.
Podemos, assim, aproveitar nossa menção ao trabalho escravo africano e tratar de outro tema problemático no
senso comum sobre a escravidão no Brasil e as contribuições recentes da historiografia para esse assunto: É
comum observarmos nos livros didáticos a assumpção de que existe uma sequência no que se refere à escravidão
indígena e africana na economia colonial. Essa premissa coloca em primeiro plano as iniciativas legais da Coroa
em proibir a escravidão indígena, ao passo que incentivava, especialmente pelo valor comercial, a escravidão negra
africana. Tal processo teria se dado em finais do século XVI, juntamente a uma indisposição dos nativos de
trabalho ostensivo na lavoura.
Além de falsa, essa afirmação está permeada pelo racismo para com os povos nativos, sempre apresentados
como preguiçosos e não afeitos ao trabalho nas descrições de naturalistas e viajantes europeus a aldeias durante
nossa História, tópica também recorrente nos cronistas dos séculos XVI e XVII. Muito pelo contrário:
A escravidão indígena conviveu com a escravidão africana, e a sobreposição da última
pela primeira se deu, sobretudo, por dois fatores: a expressiva baixa demográfica
indígena por doenças e pela violência da conquista; e os lucros significativos do tráfico
atlântico de escravos negros africanos (SCHWARTZ, 1988, p. 57). Assim, torna-se mais
clara a acepção que se assume de “negros da terra”, ou “gentios da terra”, pelas quais
constantemente os indígenas eram referidos no período colonial.
Apesar das restrições legais impostas à escravidão indígena, foram criadas formas institucionais de contornar as
contingências. Foi o caso dos “administradores particulares dos índios”, como aparece em São Paulo, ou dos
“capitães dos índios”, no Rio de Janeiro (MONTEIRO, 1994, p. 137). Efetivamente, executava-se um uso forçado do
trabalho; porém, na lógica colonial, assumia função de tutela ante os índios, considerados na infância social.
Tomados ao pé da letra, ao nos depararmos com a expressão “negros da terra”, poderíamos assumir
uma referência à cor da pele. Contudo, era uma categoria, entre muitas, mobilizadas pelos
portugueses para classificação social e política.
Nasdistinções que aplicaram às populações que nasceram e se desenvolveram nas Américas, são
conhecidas aquelas compiladas pelos espanhóis (chapetones), com uma hierarquia bem definida
entre espanhóis, seus descendentes na América (criollos), brancos pobres, povos nativos (índios) e
negros (sejam eles escravos ou libertos).
No Brasil, a distinção assumia também qualificações econômicas e profissionais, pois em primeiro
lugar estavam portugueses, senhores de engenho (fossem eles nascidos ou não na terra), militares e
membros da burocracia, oficiais mecânicos, pobres, indígenas e negros.
Guerra justa
Veja agora uma apresentação sobre o que foi e a noção de guerra justa.
Essas concepções teóricas acerca da raça e da condição social importam, pois refletem as
maneiras de uma sociedade interpretar a si mesma, além de expressarem quais setores dominantes
realizam tal interpretação.
No caso dos “negros da terra”, era relativamente disseminada a concepção – ao longo dos séculos
XVI e XVII – da possibilidade de sua escravidão, adaptada, depois, aos critérios da guerra justa,
compra legítima ou salvamento da escravidão de outros grupos indígenas.
Em uma sociedade colonial baseada na escravidão, moldada pela mentalidade escravista em todos
os seus aspectos, a legislação limitadora da Coroa para a redução do indígena ao cativeiro não era
suficiente para barrar o apetite por mão de obra mostrado pelos sertanistas que varreram o sertão
atrás de nativos.

Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Assinale a opção que contém as três as justificativas aceitas pela intelectualidade ibérica para a escravização
indígena:
Parabéns! A alternativa C está correta.
O pensamento intelectual ibérico construiu um consenso de três justificativas possíveis para a escravidão do
indígena. A primeira delas, e mais usual, era a “guerra justa”, ao articular as noções de “bárbaros” e “índios
bravios”. Outra maneira de justificar a escravização ameríndia era a mercantilização de indígenas que já
haviam sido escravizados por outros. Por fim, justificou-se a escravização de indígenas que fossem
resgatados da posse de outros indígenas, principalmente aqueles que estivessem destinados a rituais
canibais.
Questão 2
O bandeirantismo recebeu atenção de muitos historiadores ao longo da nossa história. Entre muitas de suas
características. Assinale a única opção a seguir que contém uma das muitas características desse
movimento:
A Guerra justa; profanação de igrejas; roubo de fazendas.
B Heresias; compra legítima; salvamento de rituais canibais.
C Guerra justa; compra legítima; salvamento de rituais canibais.
D Profanação de igrejas; concubinato; saída dos aldeamentos.
E Compra legítima; ataques a fazendas e cidades; heresias.
A
Os bandeirantes eram homens com títulos de nobreza concedidos pela Coroa portuguesa para
ocupar o território brasileiro.
B
Os sertanistas, ou bandeirantes paulistas, eram um grupo difuso que servia às autoridades
coloniais por todo o território em diversas ocupações, como na caça a índios bravos e na
Parabéns! A alternativa B está correta.
A Capitania de São Vicente tornou-se um ponto de partida de expedições em direção aos sertões. Durante a
União Ibérica havia certa tolerância às investidas dessas expedições, pois os limites entre a América hispânica
e a América portuguesa, além de bastante indefinidos, eram fluidos. Havia incentivo das autoridades coloniais
para essas expedições na busca de rotas para conectar os portos do Atlântico com o Potosí; no
estabelecimento de relações entre o litoral e as populações que se constituíram nas margens dos principais
rios do interior; e na pressão, expulsão e apresamento dos indígenas (MONTEIRO, 1994).
destruição de quilombos.
C
Os bandeirantes eram conhecidos pela adaptação aos costumes ameríndios, pois viviam entre
eles e construíam relações de parentesco que consolidaram a defesa que realizavam para a
liberdade dos índios.
D
Os bandeirantes estiveram concentrados, ao longo do século XVI, nas capitanias do sul,
raramente saindo de suas imediações.
E
As entradas que os bandeirantes realizavam ao sertão estavam sempre alinhadas às diretrizes
da monarquia portuguesa, uma vez que buscavam se afastar das autoridades locais.
3 - Guerras contra a conquista
Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar a con�guração e as
consequências das resistências indígenas e as mudanças nas ações coloniais
para com os povos nativos.
Resistência indígena no nordeste seiscentista
Neste conteúdo, abordaremos um pouco do que foi a resistência indígena em dois momentos específicos e a
mudança de mentalidade que o Estado português executa na segunda metade do século XVII e na segunda
metade do século XVIII com relação aos nativos. Desses episódios, destacamos a Guerra dos Bárbaros e a Guerra
Guaranítica.
Aquilo que podemos encontrar, especialmente em livros tradicionais de História do Brasil
– pouco se vê sobre o tema nos livros didáticos –, com o título de “Guerra dos Bárbaros”,
em verdade se trata de um conjunto bastante longevo de conflitos entre colonos,
militares, sertanistas e indígenas.
Segundo Pedro Puntoni, é preciso desmembrar esses episódios, pois, em uma abordagem generalista, perdemos a
agência dos grupos indígenas e dos próprios colonos, bem como seus interesses na repressão aos nativos. O
momento de maior destaque, e que pode ser lembrado, denomina-se Guerra do Açu (1687-1704), ocorrida na
capital do Rio Grande do Norte.
Cena da Expedição do Tenente-Coronel Affonso Botelho. Aquarela de Joaquim José de Miranda (Séc. XVIII).
Porém, Puntoni destaca que o mesmo ciclo de conflitos se estende desde o que denomina de Guerras do
Recôncavo da Bahia (1651-1679) até o princípio do século XVIII (PUNTONI, 2002, p. 13). Assim, de partida,
observamos que não faz parte de um processo único e direcionado de colonos contra grupos indígenas
específicos.
Nesse sentido, devemos ter em mente algumas categorias:
Relembrando
“Bárbaros” eram aqueles que não comungavam dos mesmos valores e, de maneira mais direta, da mesma língua e
costumes praticados por aqueles que se consideravam civilizados. Em outros termos, portugueses e seus
descendentes consideravam bárbaros todos aqueles índios que não se curvavam facilmente à conversão e à
assimilação. No caso desses índios bravos, a teologia cristã vigente na época moderna – e amplamente discutida
por grandes intelectuais ibéricos – previa a possibilidade da “guerra justa”. Ainda a partir da guerra justa, era
legítima, inclusive, a escravização do indígena capturado, o que se plasmou na legislação portuguesa sobre o
tema. Note-se que essa forma de encarar a resistência indígena e assumir possibilidades de resposta era bastante
vaga, abria margens para interpretações e não previa uma verdadeira fiscalização das ações no sertão.
A Guerra dos Bárbaros opera com a mesma “inconsistência”. Foi motivada e realizada a partir de noções muito
gerais sobre as populações indígenas. Assim, o título “bárbaros” se torna apropriado, já que muitas vezes não havia
o trabalho de registrar quem se estava dizimando. Portugueses e seus descendentes na colônia tomaram, por
exemplo, a denominação tapuias para descrever povos que não eram tupis, assumindo as concepções desses
últimos sobre uma diversidade de povos. “Os tapuias eram tomados por ampla e duradoura muralha que se erguia
no sertão, obstando a expansão do Império e a propagação da “verdadeira” fé, como empecilho ao
desenvolvimento da economia pastoril e à exploração dos minérios” (PUNTONI, 2002, p. 17). Em um sentido mais
geral, então, a Guerra dos Bárbaros assume a função de libertar territórios dos índios bravios e torná-los passíveis
da expansão colonial.
Sobre o tema central da guerra, é preciso elucidar que os índios não chegaram às guerras coloniais somente como
foco de ataque.
Felipe Camarão, foi indígena brasileiro que lutou junto aos portugueses contra a dominação holandesa.Os nativos estiveram integrados nos contingentes militares em diversos momentos. Tomemos o período de
dominação holandesa sobre o Nordeste brasileiro, rigidamente entre 1630 e 1654, quando são profícuas as
descrições sobre a presença de índios nas batalhas entre portugueses e batavos, em ambos os lados (MIRANDA,
2011; LENK, 2013). Outro episódio conhecido da intimidade dos indígenas nas guerras em que colonos se
envolviam, ainda na luta contra os holandeses, foi a chegada de Salvador Correia de Sá e Benevides, em 1649, para
libertar Angola dos batavos na companhia de centenas de índios flecheiros.
O capitão-mor do Rio de Janeiro atravessou o Atlântico com indígenas para rechaçar os inimigos e, assim,
conseguir retomar para Portugal o controle sobre o comércio de escravos (BOXER, 1973).
A denominação Guerra dos Bárbaros, assume, então, uma entonação planificadora, ou seja, deu sentido único a
uma multiplicidade de conflitos ocorridos no interior por distintos grupos indígenas contra a expansão colonial.
Puntoni compara a confecção de tal conjunto com a sonhada Confederação dos Tamoios no poema romântico de
Gonçalves de Magalhães no século XIX, uma vez que também em contexto de guerra se supõe uma união em que,
na verdade, há diversidade. Na esteira dessa estratégia discursiva, historiadores do século XIX e do início do século
XX denominaram a resistência dos índios do semiárido nordestino como “Confederação do Cariri”, supondo que se
tratavam todos da mesma etnia (PUNTONI, 2002, p. 77). Estamos, dessa forma, diante de uma generalização tão
dissonante com a realidade diversa dos indígenas quanto chamá-los de tapuias ou bárbaros.
Em meados dos anos 1650 inicia-se um longo processo de contenção das “descidas” dos gentios em direção a
Salvador.
O foco dos nativos hostis à presença portuguesa, contudo, não era a capital do estado do Brasil, e sim as cidades,
vilas e fazendas mais para o interior do Recôncavo, como Jaguaripe, Cachoeira e, mais ao sul, Boipeba e Camamu.
Interessante notar que essas vilas eram responsáveis pelo fornecimento de alimentos a Salvador, especialmente a
farinha de mandioca, base alimentar da colônia (LENK, 2013; KRAUSE, 2015, p. 29).
Dança dos Tapuias.
As chamadas “jornadas do sertão” eram organizadas de maneira esparsa ao longo do século XVII; porém, foi a
partir dos anos 1650 que assumiram um papel integrador da política centralizadora do Governo-Geral – sob
comando de diferentes governadores – e da utilização de sertanistas provenientes de São Vicente ou que lá
haviam adquirido alguma experiência. Às campanhas amparadas em sistemas de “jornadas” sucederam-se
períodos de guerra e de paz no Recôncavo da Bahia, compiladas por Pedro Puntoni (2002, p. 91-120) da seguinte
forma:
Longe de estabelecer uma periodização fixa e estável, essa demarcação é importante para compreendermos que,
assim como as populações nativas se adaptavam aos avanços portugueses no território, mobilizavam de maneira
dispersa ataques e empreendiam guerras aos colonos pela sua sobrevivência. Não se tratava, assim, de uma
guerra única.
Ao abordarmos esse extenso tema das Guerras dos Bárbaros, o principal episódio com o qual nos deparamos é a
destruição da resistência nativa à expansão agrária e pecuária no sertão das Capitanias do Norte. Em termos da
1651-1656
Jornadas do Sertão
1657-1659
Guerra do Orobó
1669-1673
Guerra do Aporá
geografia atual, estamos falando sobretudo dos atuais estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco e Alagoas. Essas regiões foram dominadas pelos holandeses em meados do século XVII, onde
também estabeleceram contatos com os indígenas que, segundo as descrições portuguesas, estiveram sempre
abertos às alianças com os neerlandeses. O parco domínio dos lusitanos sobre a região, mesmo após a expulsão
dos holandeses, levantava a preocupação dos moradores que se dedicavam sobretudo à pecuária.
Os tapuias nativos, na grande maioria pertencentes à nação dos janduís, reagiram à
presença e aos abusos dos moradores desde os primeiros anos da década de 1670.
Alguns levantes isolados de grupos indígenas precederam o movimento que tomaria
maiores dimensões e seria denominado, à época, de ‘levante geral dos tapuias’ ou de
a ‘Guerra do Açu’.
(PUNTONI, 2002, p. 124)
Para tal levante, outro nome tornou-se corrente entre os colonos das Capitanias do Norte: Muro do Demônio, em
clara referência à concepção religiosa que assumia a oposição nativa à presença portuguesa.
Em termos objetivos, essa Guerra do Açu se estendeu até 1713, porém foi na década de 1680 que seus
desdobramentos mais sangrentos se deram. Com tropas comandadas por Manoel de Abreu Soares, Antônio de
Albuquerque Câmara, Domingos Jorge Velho e Matias da Cunha, foram reunidos homens, entre brancos, índios e
negros. Os esforços não surtiram o efeito esperado em reprimir os nativos do Açu e decorreram na devastação de
fazendas e em mortes tanto de portugueses alocados no Norte quanto de indígenas “domesticados”. O
encaminhamento do fim da Guerra foi fruto, inclusive, de acordos costurados por Canindé, principal das aldeias dos
janduís, que comandava por volta de vinte e duas aldeias, com o governador-geral Antônio Luís da Câmara
Coutinho.
Guerras guaraníticas e as disputas entre
Portugal e Espanha
Entre 1785 e 1789, o astrônomo e matemático português José de Saldanha realizou uma, entre muitas, das
campanhas de demarcação de limites no extremo sul do Brasil. Percorreu, fundamentalmente, o rio Jacuí e foi
mais abaixo, chegando aos limites da Capitania do Rio Grande de São Pedro, realizando medições das posições
longitudinais e latitudinais do território, de maneira a delimitar as fronteiras entre os domínios de Portugal e
Espanha. No tempo que Saldanha examinou essas terras, as principais questões já haviam se resolvido. A
realidade, trinta anos antes, era completamente outra.
Mapa geográfico da América do Sul onde foi traçada a linha divisória que dividiu os domínios de Espanha e Portugal.
Em 1750, foi assinado o Tratado de Madrid, na esteira de negociações entre Portugal e Espanha sobre disputas
territoriais na região da Amazônia e do sul, mais especificamente entre a Colônia de Sacramento e os Sete Povos
das Missões. No norte, com uma ocupação bastante restrita da floresta por portugueses e seus descendentes, o
mesmo ocorrendo do lado espanhol, as tensões não eram tão altas. Ao sul, contudo, a assinatura do tratado
implicou revolta dos índios guaranis. Antes de nos determos na revolta, passemos a lidar com as tensões que
envolvem a assinatura do Tratado de Madri.
À semelhança dos demais conflitos estabelecidos entre colonos e indígenas, esse foi um documento negociado e
assinado na Europa e que apresentava reverberações e interesses na América. Seu conteúdo versava sobre o
argumento já antigo de Portugal quanto à titularidade da Colônia de Sacramento, localizada na embocadura do rio
da Prata, região de interesse dos portugueses pelo escoamento de mercadorias e metais vindos do Potosí. Em
contrapartida, os chamados Sete Povos das Missões foram fundados por jesuítas com índios aldeados na porção
portuguesa de uma área em disputa entre Portugal e Espanha nas regiões em que hoje encontram-se os limites de
Brasil, Argentina e Paraguai.
Com a assinatura do tratado em 1750, as coroas ibéricas buscaram resolver o impasse trocando a posse das
regiões. Portugal abandonaria sua reivindicação da Colônia de Sacramento, prometendo deslocar os portugueses
de lá para o Brasil; e a Espanha defendia a ocupação das Missões no “continente” do Rio Grande – como era então
conhecida a região da América portuguesa –, fazendo com que índios e jesuítas abandonassem seus povoados
(QUEVEDO, 1996, p. 12-13).
Ruínas do povoado de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul.
Porém, as autoridades reinóis, de ambas as cortes, depararam-se com uma realidade distinta na América. Os
portugueses que lidavam com o comércio da Bacia do Prata não tinham interesseem abandonar seus negócios e
trocar de posto. Já no interior do Rio Grande, guaranis e jesuítas rejeitaram abandonar suas povoações. Os Sete
Povos, na verdade, faziam parte de um conjunto de quase trinta povoados fundados pelos jesuítas no processo de
aldeamento e reorganização diante do avanço de bandeirantes sobre as populações ameríndias desde o século
XVII (ALMEIDA, 1997, p. 42-43).
O domínio da Companhia de Jesus sobre diferentes aspectos da sociedade colonial encontrou amparo, desde o
século XVI, no financiamento e apoio legal dos monarcas ibéricos.
Na Cabana de Pindobuçu, 1920
Benedito Calixto
Óleo sobre tela, c.i.d.
42,00 cm x 65,50 cm
Tais concessões, seja em matéria de ensino, de gestão de um vasto patrimônio subordinado aos Colégios
Jesuíticos (LEITE, 1938, p. 530-544), ou na catequese e aldeamento indígenas, concederam grande poder aos
jesuítas na Europa, mas principalmente nas conquistas, em especial na América. Na prodigalidade real, os jesuítas
construíram hegemonia na admoestação dos nativos na região do Rio Grande.
O que parecia ser um benefício para a Coroa hispânica ao conseguir articular os povos missioneiros-guaraníticos,
em meados do século XVIII tornou-se empecilho para efetivação de seus acordos com Portugal.
Buscando orientar a fixação dos limites na América meridional, as monarquias ibéricas enviam para as fronteiras
comissões que estariam responsáveis pela demarcação a partir de 1752. Do lado português, o enviado foi o
governador do Rio de Janeiro e das Minas, Gomes Freire de Andrada, e do lado espanhol, Gaspar de Munive León
Tello y Espinosa, marquês de Valdelírios (GOLIN, 2014, p. 61).
O trabalho de demarcação, no entanto, encontra o empecilho da revolta guaranítica,
parcialmente apoiada pelos jesuítas nos povoamentos do Rio Grande, após serem
impedidos de adentrarem as áreas das missões em 1753.
Mais do que cobrir cada detalhe da guerra, importa atentarmos para a capacidade de articulação dos missioneiros
guaranis, àquela altura convertidos e instalados em vilas de tradição hispânica em território reivindicado por
Portugal.
Ou seja, é relevante considerar que, apesar da influência e autonomia que os jesuítas exerciam sobre as
populações indígenas, os índios guaranis tiveram capacidade de construir uma oposição generalizada aos
esforços da demarcação. Em 1756 as resistências à aliança luso-espanhola são definitivamente dizimadas, com a
morte de um grande contingente de indígenas até aquela data (QUEVEDO, 1996, p. 28). Apesar de possíveis
semelhanças com outros esforços de oposição dos indígenas à intervenção das autoridades coloniais nas suas
formas de organização, a Guerra Guaranítica apresenta algumas características que a distinguem nos processos
de resistência.
Represetanção do índio missioneiro Sepé Tiarajú.
Esteve em jogo a sobrevivência de uma forma de organização já mudada, ou seja, não se tratava de um
povoamento sem interferências da cultura europeia. Eram povos já bastante cristianizados, com títulos, interesses
e cultura completamente integrados.
A expulsão dos jesuítas dos países ibéricos na década seguinte, assim como a dissolução do Tratado de Madrid
pelo Tratado de El Pardo (1761) – em referência a um dos rios relevantes para os conflitos –, demonstram uma
mudança de mentalidade das coroas para com os indígenas. O indígena passava, assim, a ser assunto do Estado;
sua administração e seu futuro não poderiam mais estar na mão de uma ordem religiosa que havia construído
quase que um governo autônomo dos trópicos.
Além da reviravolta intelectual que o século XVIII representou para os países europeus,
representou também uma reviravolta nas políticas indigenistas. O Diretório dos Índios
tornou as relações das autoridades coloniais mais complexas com relação às
populações indígenas, visto que transferia para o Estado português a responsabilidade
de garantir uma correta aplicação da legislação, que, antes, fazia vista grossa para a não
aplicabilidade.
Confederação dos Tamoios
Assista agora um estudo de caso sobre a Confederação dos Tamoios.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Considere as afirmativas a seguir:
I. As elites coloniais buscavam formas de expulsão e redução dos chamados “índios bravios” para expandir a
fronteira agrícola e pecuária.
II. As “Guerras dos Bárbaros” foram conflitos entre diferentes povos nativos no sertão nordestino,
especialmente nas “Capitanias do Norte”.
Assinale a alternativa que apresenta exatidão a respeito das afirmativas acima:
Parabéns! A alternativa E está correta.
A Ambas as afirmativas estão equivocadas.
B A afirmativa I está correta e a II, errada.
C A afirmativa II está correta e a I, errada.
D
As afirmativas I e II estão corretas e se complementam, e a II se destaca por ser a motivação
para o que se afirma na I.
E
As afirmativas I e II estão corretas e se complementam, sendo a I motivo para o que se afirma
na II.
O que se convencionou chamar de “Guerra dos Bárbaros” pela tradição, na verdade se trata de um conjunto de
conflitos entre colonos, militares, sertanistas e indígenas, com certa longevidade. É necessário desmembrar
esses episódios, a fim de superar uma abordagem generalista que coloca em xeque a agência dos grupos
indígenas e colonos. Os principais objetivos das guerras que aconteceram no sertão eram a expulsão dos
nativos de suas terras e a exploração agrícola e pecuária.
Questão 2
Assinale a alternativa que relaciona de forma correta o contexto de atuação da Companhia de Jesus e as
Guerras Guaraníticas na segunda metade do século XVIII:
Parabéns! A alternativa A está correta.
O tratado de 1750 entre as Coroas ibéricas buscava resolver o impasse da posse das regiões. Nesse sentido,
Portugal findaria a reivindicação da Colônia de Sacramento. Já a Espanha defendia a ocupação das Missões
A
As Missões constituídas pelos jesuítas nos indefinidos limites da América portuguesa e da
América hispânica, no que ficou conhecido como Sete Povos das Missões, tiveram papel
central na resistência aos deslocamentos propostos pelo Tratado de Madrid de 1750 e nas
Guerras Guaraníticas que se seguiram.
B
Aquilo que chamamos de Guerra Guaranítica foi uma resistência das populações nativas
guaranis ao abuso de poder político e religioso dos jesuítas na região.
C
Apesar do esforço de resistência dos jesuítas, os guaranis buscaram se integrar aos povoados
portugueses na capitania do Rio Grande, o que gerou uma revolta dos padres da Companhia,
que ficou conhecida como Guerra Guaranítica.
D
As Guerras Guaraníticas se deram pela tentativa dos portugueses e espanhóis em tirar da zona
de influência os povos guaranis aldeados pelos jesuítas. Para tal, invadiram as principais
igrejas e colégios da Companhia por todo o território da América portuguesa.
E
As estratégias para missionar os jesuítas na Amazônia desempenharam papel fundamental
nos conflitos entre colonos e autoridades reais de Portugal e Espanha com os indígenas
alocados nas Missões nos afluentes do rio Amazonas.
do Rio Grande na região da América portuguesa, fazendo com que índios e jesuítas abandonassem seus
povoados. Os Sete Povos faziam parte de um conjunto de quase trinta povoados fundados pelos jesuítas
quando do aldeamento das populações ameríndias desde o século XVII. Como resistência em se adequar às
determinações, os indígenas dos Sete Povos fizeram guerra às comissões demarcadoras até 1756, quando
foram definitivamente destruídos.
Considerações �nais
Chegamos ao fim de nosso estudo sobre as populações indígenas e sua intricada relação com o processo de
colonização do Brasil. Como vimos, os povos nativos do nosso passado colonial devem ser encarados pela sua
diversidade no longo processo de conquista, pelos portugueses, do território da América portuguesa. Nesse
sentido, a arqueologia e a antropologia têm se apresentado como disciplinas fundamentais para o conhecimento
desses povos e de suas práticas culturais,políticas e sociais.
Durante a conquista, entre os séculos XVI e XVII, observamos o avanço da mentalidade escravista ibérica sobre as
populações nativas, deslindando o mito de proteção da liberdade do indígena que vigorava na legislação e que
tinha pouca relação com a realidade dos ameríndios em face dos avanços dos bandeirantes sobre o sertão.
O uso de categorias teóricas como “bárbaros” e “guerra justa” permitiu o desenvolvimento de estratégias para
manutenção da escravização indígena. Outras categorias foram fundamentais para a expansão desse modelo,
como as hierarquias sociais impostas aos nativos, considerados os “negros da terra”.
Por fim, descortinamos as formas de resistência dos nativos, seja pelas conhecidas “Guerra dos Bárbaros”,
conjunto diverso de conflitos violentos no sertão e nordeste do Brasil no século XVII, ou pela articulação dos
guaranis aldeados nas “Guerras Guaraníticas” no século XVIII, na região dos Sete Povos das Missões.
Podcast
Escute agora uma revisão sobre o escravismo dos povos indígenas no Brasil.
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Referências
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Assista ao filme A Missão, de 1986, que trata sobre os Sete Povos das Missões e a Guerra Guaranítica.
Assista ao documentário Guerras do Brasil.doc, especialmente aos episódios 1 – As Guerras da Conquista – e 2 –
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