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Aula 16 - Dor Crônica na APS

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Abordagem da Dor Crônica na APS 
DEFINIÇÃO: 
• De acordo com a OMS: “a dor crônica como 
uma dor persistente ou recorrente que dura 
por mais de três meses, ou além do tempo 
normal de cicatrização esperado para uma 
lesão ou doença específica.” 
• Já a definição por meio da Associação 
Internacional para o Estudo da Dor (IASP) é: 
“uma experiencia sensorial e emocional de 
caráter desagradável, descrita em termos de 
lesões teciduais, reais, ou potenciais.” 
• Além disso, vale ressaltar que a dor é individual 
e subjetiva 
• Segundo a IASP a dor crônica é aquela que 
dura >6 meses, possui caráter contínuo e 
recorrente 
Abordagem Psicossocial - Modelo da Osquestra: 
• O modelo da orquestra diz respeito as 
comunicações entre o local de dor (tecido 
acometido), medula e cérebro. Entretanto, 
sabe-se que as emoções, memorias e 
circunstância interferem na condição 
dolorosa, causando consequências 
eletroquímicas e interferindo na comunicação 
cérebro-tecidos. 
• O modelo da orquestra diz respeito a um 
modelo em que o complexo sistema de 
percepção da dor funciona de forma 
harmônica, melodiosa. 
• No caso da dor crônica, alguns estímulos são 
amplificados enquanto outros são reduzidos, o 
que faz com que a orquestra se torne 
desarmônica 
A dor como sinal de alerta: 
• A correlação entre dor e lesão tecidual não é 
confirmada, pois a dor pode estar associada a 
elementos que vão desde a biologia até o 
sistema cognitivo/emocional. 
• A dor pode ser entendida como um sofisticado 
sistema de alarme que avia o cérebro quando 
o organismo está em perigo 
Características Gerais: 
• A correlação entre dor e lesão tecidual não é 
uma regra segundo a neurociência 
• A abordagem mais moderna da dor divide-a 
em dois componentes: dor neuropática e dor 
nociceptiva 
• as escalas mais usadas para avaliar a dor são: 
escala visual e escala verbal da dor 
• a OMS determina uma escada analgésica, que 
determina o uso de analgésicos e o sequencial 
de fármacos de acordo com o grau de dor 
• a abordagem à dor pode ser farmacológica ou 
não farmacológica (exercícios físicos, 
educação em dor e eletroterapia) 
CAUSAS DA DOR CRÔNICA: 
Existem dois componentes para a dor: 
1) Nociceptivo: associado a danos nos tecidos 
(lesões musculares, ósseas, ligamentares), 
gerando inflamação na região acometida e dor 
local; a dor geralmente é em pancadas ou 
pontadas, tem duração limitada e tende a um 
processo de cicatrização ou redução do 
componente inflamatório 
Ex: Lesões musculoesqueléticas, cirurgias, 
inflamação, enxaqueca, artrite 
2) Neuropático: ocorre por funcionamento 
desordenado do sistema nervoso, dura por 
mais tempo, não há melhora significativa com 
uso de medicamentos como AINES. A dor é em 
queimação constante ou intermitente, em 
pontadas ou choques; pode haver hiperalgesia 
(percepção aumentada da dor)a estímulos que 
seriam indolores (apenas colocar a mão no 
local); a dor costuma ser difusa ou em área 
especifica 
IESC V – Aula 16 
 
Ex: Neuralgia do trigêmeo, neuropatia 
diabética, neuropatia pós-herpética, lesões 
nervosas traumáticas, esclerose múltipla 
MENSURAÇÃO DA DOR: 
Como a dor é subjetiva, não é possível medir a dor 
do paciente, por isso é necessário a aplicação de 
escalas da dor. 
1) Escala verbal da dor: 
Pode ser feita por meio de descritores específicos, 
como: 
• Nenhuma dor 
• Dor leve 
• Dor moderada 
• Dor severa 
Ou pode ser feito por escala numérica com 
variação de 0 a 10, sendo 10 a pior dor da vida. 
Escala Visual: 
Consiste em uma linha de 10cm em que seus 
extremos são rotulados por nenhuma dor e pior 
dor imaginável. A pessoa é instruída a apontar com 
o dedo a gravidade de dor sentida, com os valores 
em centímetros. 
Em comparação com as escalas verbas esse 
método é vantajoso pois reduz a influência das 
respostas prévias quando repetidas respostas são 
solicitadas a uma mesma pessoa, como é 
frequente na dor crônica. 
ABORDAGEM DA DOR CRÔNICA NA APS: 
A busca por lesões que estejam causando a dor 
apenas gera custos para o sistema pela solicitação 
de exames desnecessários, além de aumentar a 
ansiedade do paciente e muitas vezes causar 
preocupações desnecessárias (paciente acreditar 
que possui doenças graves) 
Por exemplo nas lombalgias, não se tem indicação 
de exames de imagem na abordagem inicial 
A principal causadora de dor musculoesquelética é 
a síndrome de dor miofascial (SDM), que é uma 
condição dolorosa regional definição pela 
formação de bandas musculares tensas e 
palpáveis, em que se tem pontos intensamente 
dolorosos chamados de pontos-gatilho, que 
quando estimulados a palpação digital ou punção 
com agulha ocasionam dor local ou até mesmo a 
distância. As causas mais comuns de SDM são: 
traumas, sobrecarga aguda ou microtrauma. 
É importante diferenciar Radiculopatias, 
tendinites, tenossinovites e bursites de SDM. 
Abordagem Farmacológica: 
• É parte fundamental da terapêutica na 
literatura sobre o tema 
• Na década de 1980 a OMS publicou o princípio 
da escada analgésica para a dor de origem 
neoplásica, atualmente esse 
Guideline/metodologia passou a ser usado 
para o controle de dor aguda e crônica 
• A OMS considera que a escada analgésica deve 
ser aplicada em quadro doloroso que se 
apresenta como afecção crônica, sem previsão 
de resolução precoce 
• A intensidade da dor é usada para avaliar a 
escolha do melhor analgésico 
→ 1º degrau: propõe o uso de analgésicos 
simples ou anti-inflamatórios não 
esteroidais (AINES) em dores leves e 
moderadas, podendo ser ou não 
associados aos adjuvantes da dor 
(fármacos que potencializam a eficácia 
analgésica/tratam outros sintomas que 
exacerbam a dor. 
→ 2º degrau: Se a dor não for controlada 
adequadamente com os analgésicos não 
opioides, são adicionados opioides fracos, 
como codeína ou tramadol. 
→ 3º degrau: Se a dor persistir ou se tornar 
mais intensa, opioides potentes, como 
morfina, oxicodona ou fentanil 
 
 
Principais medicamentos usados na 
abordagem da dor crônica: 
• Analgésicos: paracetamol, dipirona 
• AINES: diclofenaco, ibuprofeno 
• Corticoesteroides: prednisona 
• Analgésicos opioides: codeína, tramadol, 
metadona, morfina 
• Antidepressivos: tricíclicos 
(amitriptilina/noratriptilina), ISRS, ISRSN 
• Anticonvulsivantes: carbamazepina, 
gabapentina 
• Psicotrópicos: clorpromazina, haloperidol 
• Miorrelaxantes: Tizanidina, Baclofeno, 
Ciclobenzaprina 
Abordagem Não Farmacológica: 
Atividade física: exercícios de alongamento são 
considerados padrão ouro, devem ser feitos com 
acompanhamento profissional a fim de evitar 
lesões. A inserção de exercícios deve ser gradual e 
progressiva, ritmada e coordenada. 
Eletroterapia não invasiva: promove analgesia, 
melhora a circulação local, exerce efeito contra 
irritativo, ativa o sistema de supressão de dor, 
mantem o trofismo muscular e é um método 
cinestésico 
Educação em dor: entendimento do paciente 
sobre a dor aumenta o limiar da dor durante a 
execução de determinadas tarefas físicas, 
reduzindo as dores associadas a crenças e atitudes, 
é feita por meio de: 
• Escolas de coluna: atividades em grupos 
com orientação sobre postura, e exercícios 
e manejo da dor 
• Treinamento para evitação do medo: busca 
ajudar o paciente a lidar melhor com o 
medo do movimento e agravamento da dor 
• Educação breve: orientações no próprio 
ambiente clínico 
Tratamento da síndrome de dor miofascial: deve 
incluir a individualidade de cada caso. Fármacos 
como analgésicos e AINES devem ser usados 
apenas em crises agudas pelo risco de hemorragia 
digestiva alta e perda de função renal. Os exercícios 
diminuem a sensibilidade da dor e devem ser 
encorajados, com início leve e evolução gradativa. 
 
Referencias: 
GUSSO, GUSTAVO; LOPES, JOSÉ MAURO CERATTI; 
DIAS, LÊDA CHAVES. Tratado de Medicina de 
Família e Comunidade:Princípios, Formação e 
Prática. 2ª. edição. Artmed, 2018.

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