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Evidências das plantas medicinais para a saúde mental
Evidências das plantas medicinais para a saúde mental
Estudos científicos apontam dezenas de espécies de plantas medicinais com segurança e efetividade clínica, usadas no cuidado da depressão, ansiedade, insônia, entre outros transtornos. As plantas medicinais e fitoterápicos se tornam ainda mais importantes em um contexto de pandemia das doenças mentais.  
Redação e edição: Katia Machado
Revisão científica: Ricardo Ghelman, Gelza Matos Nunes e Caio Portella
Os problemas de saúde mental já são considerados as doenças do século 21, com destaque para a depressão, que poderá ser a doença mais comum do mundo até 2030, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A entidade alerta que o transtorno depressivo já é a segunda causa de perda de dias de trabalho no mundo. E o cenário da pandemia da Covid-19 intensifica o surgimento desta e de outras doenças mentais. Ouvidos por uma pesquisa coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e instituições parceiras, durante a pandemia de Covid-19, 47,3% dos trabalhadores de serviços essenciais (transportes, alimentação e limpeza), no Brasil e na Espanha, relatam terem tido sintomas de depressão e ansiedade. Mais da metade deles, em um universo de 3.745 trabalhadores em serviços essenciais , sendo 2.842 brasileiros e 903 espanhóis, que responderam ao questionário, sofrem de ansiedade e depressão ao mesmo tempo (1). 
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS) chegou a alertar, no ano passado, que cerca de um bilhão de pessoas em todo o mundo apresentavam um transtorno mental. A perda de produtividade resultante da depressão e da ansiedade, segundo a entidade, custa à economia mundial, anualmente, cerca de um trilhão de dólares. Essa realidade já havia sido apontada, pelos Estados Unidos, como um dos principais impulsionadores de custos de saúde globalmente nos próximos cinco anos. De acordo com o estudo Mental Health: Trends & Future Outlook (2), a depressão tornou-se mais comum na última década, com um em cada cinco adultos sofrendo de doença mental a cada ano. O crescimento geral da doença é, em grande parte, impulsionado por taxas mais altas em adultos jovens entre  18 a 25 anos de idade. 
Evidências clínicas de plantas medicinais promissoras
Manter o equilíbrio emocional torna-se um desafio global. Mas como o mundo vem lidando com este cenário preocupante? Quais os tratamentos mais recomendados? As plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos ajudariam a modificar este cenário, promovendo qualidade de vida a quem sofre de transtorno mental? Quais são as contribuições da fitoterapia para a saúde mental? Como as plantas medicinais vêm sendo aplicadas mundo afora quando se trata de transtornos mentais? 
A pesquisadora Bettina Ruppelt, farmacêutica industrial, professora de Fitoterapia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e membro do Comitê de Produtos Naturais do Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIN), tendo coordenado o Mapa Efetividade Clínica das Plantas Medicinais e Fitoterapia para Saúde Mental e Qualidade de Vida (3), realça que as pesquisas com plantas medicinais no cuidado e tratamento dos problemas de saúde mental vêm crescendo a cada dia e trazem importantes contribuições para a melhora da qualidade de vida da população e, consequentemente, a promoção do equilíbrio mental, como também para a redução do custo. “A OMS nos alertou, em 2020, sobre uma consequente pandemia de saúde mental, decorrente do distanciamento social e da crise econômica causados pela Covid-19. O consumo de plantas medicinais que já crescia, anualmente, no mundo e no Brasil, cresceu ainda mais nesse tempo de pandemia, principalmente no que diz respeito às plantas medicinais usadas para tratamento da insônia, ansiedade e depressão, refletindo a importância que este campo do conhecimento tem para a saúde mental”, observa. 
O mapeamento sobre as evidências das plantas medicinais e da fitoterapia para a saúde mental, realizado pelo CABSIN e o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde (Bireme/Opas/OMS), com apoio da Coordenação Nacional de Práticas Integrativas e Complementares de Saúde do Ministério da Saúde, realça não somente a pertinência, bem como a diversidade das plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos para a saúde mental. O projeto de sistematização de diversos estudos científicos identifica cerca de 60 espécies de plantas medicinais com efetividade clínica, usadas no cuidado de problemas como depressão, ansiedade, insônia, entre outros. 
Entre as plantas identificadas destacam-se: Ginkgo (Ginko biloba), Erva-de-São João (Hypericum perforatum), Lavanda (Lavandula angustifolia), Camomila (Matricaria recutita), Melissa (Melissa officinalis), Ginseng (Panax ginseng), Maracujá (Passiflora incarnata) e Valeriana (Valeriana officinalis). Com desfechos positivos para depressão, sobressai o Hypericum perforatum; para o transtorno da ansiedade, a Passiflora incarnata; e para a insônia, a Valeriana officinalis.
“As revisões sistemáticas revelaram evidências para depressão, transtorno de ansiedade, fobia social, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, desordem mental com somatização,, transtorno afetivo sazonal, transtorno distímico e, transtorno de adaptação”, detalha a pesquisadora. 
Plantas que equilibram a mente
Bettina Ruppelt explica que o mecanismo de ação antidepressivo da Hypericum perforatum, também conhecida como Erva-de-São-João, usada há décadas na Europa, no tratamento de diversas desordens mentais – mas cuja espécie cresce, em geral, no Brasil –, se dá pela inibição da recaptação de serotonina, dopamina e noradrenalina.
“A hiperforina, a hipericina e vários flavonoides desta planta parecem ser os responsáveis pela modulação neuroquímica”, complementa, informando ter diversas evidências clínicas de indicação do hyperico em desordens mentais para adultos, faltando, porém, evidências para adolescentes. 
Ela  também destaca os estudos de metanálise de ensaios clínicos randomizados duplo-cego, em pacientes com sintomas de ansiedade, que demonstra que o extrato kawa-kawa (Piper methysticum) promove melhoras dos sintomas de ansiedade quando comparado com o grupo placebo. “Ensaios in vitro sugerem que as kavapironas são as responsáveis pelos efeitos mediados pelos receptores GABAérgicos. No entanto, os autores sugerem a realização de mais estudos que avaliem a segurança do uso das plantas medicinais na prevenção e tratamento dos problemas de saúde mental”, pondera. 
Ainda no contexto da ansiedade, Bettina realça os estudos de duas plantas medicinais, muito consumidas pelos brasileiros: a camomila e a melissa. A camomila (Matricaria recutita), de acordo com a pesquisadora, é consumida mundialmente como calmante há séculos.
Hypericum perforatum
“Estudos revelam evidências clínicas para o seu uso para o tratamento de desordens da ansiedade generalizada e apontam a apigenina como um dos componentes ativos que atua via modulação do receptor Gaba, ligando-se aos receptores benzodiazepínicos e modulando a ansiedade”, sublinha, em alusão aos ensaios clínicos analisados pelo mapeamento que comprovaram a redução da ansiedade em pacientes que receberam 500mg de camomila, três vezes ao dia, a curto e longo prazo. 
Por sua vez, a melissa (Melissa officinalis), usada tradicionalmente como sedativo leve e espasmolítica, atua aumentando os níveis do neurotransmissor Gaba, através da inibição da GABA-transaminase. “Um dos ensaios clínicos identificados no mapeamento demonstrou um significativo aumento na autoavaliação da calma e redução do estado de alerta nos pacientes, por meio de um teste de simulação de estresse de intensidade definida”, cita, lembrando que várias espécies, tradicionalmente utilizadas para problemas de saúde mental, têm os seus usos comprovados através de ensaios clínicos randomizados.
Na mesma direção, o pesquisador e professor Jerome Sarris, do NICM Health Research Institute, também destaca a Hypericumperforatum (Erva-de-São-João) e a Piper methysticum (Kava), informando que há dezenas de importantes pesquisas clínicas sobre as duas plantas. Ele realiza uma revisão atualizada de dez anos, identificando 24 medicamentos fitoterápicos, em uma ampla gama de transtornos de saúde mental, incluindo depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos afetivos sazonais, bipolares, psicóticos, fóbicos, somatoformes e com déficit de atenção e hiperatividade (4). Constatou-se a existência de evidências para o uso de Piper methysticum (Kava), Passiflora spp. (Maracujá ) e Galphimia glauca (Quaró ou galphimia) para transtornos de ansiedade; Hypericum perforatum (Erva de São João) e Crocus sativus (Açafrão) para transtorno depressivo maior; Curcuma longa (Curcuma ou Açafrão-da-terra​​) para depressão; Withania somnifera (ashwagandha) para transtorno afetivo e Ginkgo biloba (ginkgo) como tratamento adjuvante em esquizofrenia e demência senil. 
O professor da Universidade Santo Amaro (Unisa), pesquisador científico do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro do Comitê de Saúde Mental do CABSIN, Ricardo Tabach, realça que a Hypericum perforatum, com ação antidepressiva, é mais indicada para os casos de depressão leve e leve a moderada. Ele também explica o funcionamento da Ginkgo biloba (ginkgo): “Ela entra no rol das plantas com ação específica. São plantas adaptógenas, pois produzem uma resposta defensiva de adaptação aos diferentes tipos de estresse sobre o organismo, melhorando o sistema imunológico e deixando o indivíduo mais adaptado e resistente ao ambiente”.
Plantas adaptógenas, como a ginkgo, são usadas há milênios pela Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e a medicina indiana Ayurveda. Doutor em Saúde Coletiva pelo Instituto em Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/Uerj), especialista da MTC, o professor Eduardo Alexander explica que o interesse destes sistemas médicos complexos – ou  racionalidades médicas – se aplica a qualquer planta que interfere no corpo e na mente de forma integrada.
Ganoderma lucidum – Reishi
“Se a pessoa está com baixa autoestima ou desânimo, poderia ser tratada com uma planta medicinal ou um medicamento fitoterápico que atua sobre o rim. O estado de desânimo está ligado à dinâmica desse órgão”, exemplifica. Segundo o professor, o Ganoderma lucidum (Reishi), medicamento fitoterápico vendido em farmácias para a imunidade, inicialmente era um tônico de consciência para ativar o foco.  Resulta de uma espécie de cogumelo muito apreciada na Ásia, utilizada pela MTC há mais de quatro mil anos. “O trabalho da MTC não começa quando a pessoa está doente. Cabe atuar diariamente, cultivar a vitalidade, equilibrar as emoções. Você tem um sistema com um olhar integral sobre o indivíduo”, detalha. 
O olhar fenomenológico do sistema médico antroposófico sobre o estudo da Hypericum perforatum, por sua vez, implica enxergar seu mecanismo de ação farmacológico qualitativo e quantitativo. “Esta planta possui efeito fotossensibilizante e pétalas amarelas com pequenas perfurações, que permitem a passagem da luz – daí o nome perforatum –, trazendo luz para o estado de escuridão psíquica do paciente com depressão e, consequentemente, sua melhora clínica”, explica o médico-pesquisador e presidente do CABSIN, Ricardo Ghelman. 
Aplicação clínica das plantas medicinais
Membro do Conselho da Associação Brasileira de Fitoterapia (ABFIT) e da Área Técnica de Plantas Medicinais e Fitoterapia da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-RJ), um dos autores do livro Fitoterapia Contemporânea: tradição e ciência na prática clínica, que se encontra em sua 2ª edição, o médico Antônio Carlos de Carvalho Seixlack confirma que as situações clínicas mais frequentes de uso dos fitoterápicos são relativas a ansiedade, insônia, estresse pós-traumático e quadros ou sintomas depressivos leves.
“Nesses casos, há inúmeras espécies medicinais que podem ajudar, entre as quais se destacam a Valeriana officinalis (Valeriana), a Passiflora sp. (Maracujá), a Matricaria chamomilla (Camomila), a Lippia alba (erva-cidreira), a Melissa officinalis (Melissa), a Erythrina verna (Mulungu), o Piper methysticum (Kava-kava) e o Hypericum perforatum (Erva-de-São-João)”, lista. 
Seixlack informa, ainda, que há algumas espécies medicinais que têm sido estudadas para os sintomas iniciais de doenças neurodegenerativas, que caminham para a perda de memória e alterações do comportamento, como o Alzheimer, a Doença de Parkinson e a demência senil. Entre elas destacam-se a Withania somnifera (Ashwagandha) e a Bacopa monnieri (Brahmi). 
Tabach faz também menção ao fármaco galantamina, originalmente isolado do bulbo da Galanthus nivalis (conhecida como floco de neve), no tratamento da doença de Alzheimer. O medicamento, que teve seu uso aprovado no Brasil em novembro de 2000, visa retardar a progressão da deterioração mental dos pacientes com a doença de Alzheimer, uma vez que o problema de memória está associado à redução da acetilcolina.
“Esta substância química tem um papel importante tanto no sistema nervoso central, que envolve a memória e a aprendizagem, como no sistema nervoso periférico. O medicamento melhora a neurotransmissão colinérgica, ou seja, o equilíbrio dos níveis de acetilcolina”, explica o pesquisador do Cebrid, que, entre alguns trabalhos desenvolvidos pela instituição, busca identificar as plantas psicoativas utilizadas pela população e suas finalidades.
As plantas medicinais no SUS
Bettina chama atenção para a necessidade de se investir mais nas plantas medicinais brasileiras, como o maracujá (Passiflora alata e Passiflora edulis) e o guaraná (Paulinia cupana), bem como para a importância de se introduzir as plantas medicinais no Programa de Saúde Mental no Sistema Único de Saúde (SUS). 
Experiência do Farmácia Viva no estado do Maranhão – www.correioma.com.br
Para Seixlack, embora sejam disponibilizados 12 fitoterápicos para a rede pública de saúde, através da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename), nenhum deles é direcionado ao cuidado da saúde mental no SUS. “O que mostra o quanto necessitamos avançar nessa área no sistema público de saúde”, observa. Na avaliação do médico, a disseminação das Farmácias Vivas, nos diversos municípios do Brasil, pode ajudar a mudar essa realidade. “Isso poderia se dar através de lançamentos periódicos de editais de projetos de arranjos produtivos locais, no contexto da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, pelo Ministério da Saúde, em que os municípios participam concorrendo a verbas com projetos para a criação ou o desenvolvimento das Farmácias Vivas”, sugere. 
Instituída em 2010, no contexto da Política Nacional de Assistência Farmacêutica e do SUS, a Farmácia Viva compreende todas as etapas, desde o cultivo, a coleta, o processamento, o armazenamento de plantas medicinais, a manipulação e a dispensação de preparações magistrais e oficinais de plantas medicinais e fitoterápicos.
“Este programa se caracteriza, entre outras coisas, por disponibilizar às populações em suas localidades, plantas medicinais cultivadas no local e que podem ser usadas, in natura ou secas, para o preparo de infusões ou decocções ou mesmo sob outras formas, como cápsulas, tinturas ou cremes para usos tópicos.  Nestes casos, várias espécies com atividade no sistema nervoso para o cuidado da saúde mental podem fazer parte desse cultivo e utilização”, explica Seixlack.
As ações com plantas medicinais e fitoterapia acontecem prioritariamente na Atenção Primária à Saúde. A prática da fitoterapia envolve interação entre saberes, ações multiprofissionais no cuidado com a saúde, ações de promoção e prevenção, incentivando o desenvolvimento comunitário, a solidariedade, a participação social, a autonomia dos usuários e o cuidado integral em saúde. As relações entre a fitoterapia e a Atenção Primária proporcionam o fortalecimento mútuo.
Benefícios da fitoterapia“A fitoterapia precisa ser vista como uma opção terapêutica”, salienta Tabach. Suas principais vantagens são: custos de produção mais baixos, comparados com os medicamentos sintéticos alopáticos; e menores efeitos adversos e colaterais. “Mas como qualquer medicamento, precisa ser bem prescrito e administrado com cuidado”, orienta.
Seixlack acrescenta: “Uma importante questão está relacionada à capacidade do médico em fazer um diagnóstico preciso do problema apresentado pelo paciente, e, a partir daí, procurar classificar a gravidade da doença ou da sintomatologia”.
De acordo com o médico, as plantas medicinais e os fitoterápicos com ação no sistema nervoso central são indicados, principalmente, no tratamento dos casos leves e/ou leves a moderados de determinadas doenças que determinam perturbações mentais. “Não falo aqui de doenças psiquiátricas graves, como a esquizofrenia, neuroses, transtorno obsessivo-compulsivo, que necessitam de intervenção mais drástica para o controle, onde não são indicadas o uso de plantas medicinais”, orienta.
Muitos pacientes, nos casos considerados leves ou moderados, podem ser beneficiados com tratamentos menos agressivos. Nestes casos, estariam indicadas as plantas medicinais, que podem modular as atividades dos neurotransmissores nos mesmos locais em que atuam os medicamentos sintéticos .
“Esse mecanismo de ação, no caso dos fitoterápicos, se dá em face do conjunto de substâncias presentes nas plantas, que possuem potencial de menor intensidade, mas com resultados que satisfazem os usuários e que, como mostra a literatura científica, não criam dependência”,  orienta Seixlack.
No entanto, no Brasil, há uma resistência da classe médica em relação à prescrição dos fitoterápicos. Tabach lista algumas barreiras:
“Os cursos de medicina não contam com disciplina de fitoterapia; os médicos não são incentivados a se formarem na área; e, sem a devida formação, mantém-se a falsa ideia de que fitoterápico é tal qual um ‘placebo’, que ‘nem ajuda, nem atrapalha’”.
Na avaliação do pesquisador do Cebrid, além disso, a indústria farmacêutica sempre teve maior atenção para os medicamentos sintéticos. Todos esses fatores, segundo o pesquisador, favorecem o uso abusivo e prolongado dos psicofármacos, particularmente dos benzodiazepínicos, a exemplo do Diazepam, no tratamento de transtornos mentais. 
A grande questão (e problema de saúde pública) é que esses medicamentos provocam efeitos colaterais leves, como sonolência diurna, e mais graves, como perda da memória e da função cognitiva, além da dependência. Disponíveis a partir da década de 1960, os benzodiazepínicos estão entre os psicofármacos mais prescritos.  No Brasil, é a terceira classe de drogas mais prescrita, e 5,6% da população já os usou na vida – contra 8,3% nos Estados Unidos (5). “Enquanto isso, a Alemanha, que não tem nem 10% da biodiversidade brasileira, mas tem uma legislação robusta que ampara o uso dos fitoterápicos, lidera o comércio europeu de plantas medicinais, consumindo cerca de 45 mil toneladas por ano, seguida pela França e Itália”, contrapõe Tabach.
“Nas farmácias alemãs, cerca de 75% dos clientes optam por adquirir esses medicamentos quando praticam a automedicação ou adquirem medicamentos isentos de prescrição médica”, acrescenta Bettina. 
Referências 
1. De Boni, Raquel Brandini, et al. “Depression, anxiety, and lifestyle among essential workers: A web survey from Brazil and Spain during the COVID-19 pandemic.” Journal of medical Internet research 22.10 (2020): e22835.
2. Mental Health: Trends & Future Outlook. Behavioral Health / Social Determinants of Health. Published on: November 11, 2019. Updated on: October 20, 2020.
3. Mapa de Evidência – Efetividade Clínica das Plantas Medicinais e da Fitoterapia para Saúde Mental e Qualidade de Vida. BIREME/OPAS/OMS.
4. Sarris J. Herbal medicines in the treatment of psychiatric disorders: 10‐year updated review. Phytotherapy Research. 2018; 32:1147–1162. 
5. Nordon, David Gonçalves; Hübner, Carlos von Krakauer. Prescrição de benzodiazepínicos por clínicos gerais. Jun, 2009.
 
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