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Indaial – 2019 Fundamentos e PercePção Prof. Lucas Zewe Uriarte 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Prof. Lucas Zewe Uriarte Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: UR76f Uriarte, Lucas Zewe Fundamentos e percepção. / Lucas Zewe Uriarte. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 224 p.; il. ISBN 978-85-515-0338-6 1. Música - Fundamentos e percepção. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 781.3 III aPresentação Prezado acadêmico! Seja muito bem-vindo à disciplina de Fundamentos e Percepção. Nosso objetivo com a disciplina é introduzir a área da percepção musical, iniciando um processo de desenvolvimento do sentido auditivo que visa a uma melhor compreensão e experiência com o fenômeno musical. Nosso livro, que aqui se inicia, será seu guia neste processo. Para escrevê-lo lançamos mão de metodologias diversas, intercalando explicações teóricas com atividades práticas incluindo leituras, ditados, escutas, análises e criação. Buscamos dialogar com contextos correntes na área de música no Brasil, especialmente o ensino de música nas escolas e a prática de música brasileira. No entanto, buscamos trazer referências de outras músicas e lugares, como a música erudita europeia, músicas populares de outras pares do mundo, exemplos de música pop, com o objetivo de expandir nosso universo musical/cultural. O livro está dividido em três unidades, nas quais trabalhamos com um conteúdo que abarca especialmente a música tonal e seus elementos básicos: intervalos dentro da oitava, figuras rítmicas e fórmulas de compasso mais utilizados, tríades maiores e menores e tétrades com sétima. Obviamente há muito para além do que está aqui, mas acreditamos que tal conteúdo é suficiente para uma base sólida que possibilitará futuros desenvolvimentos. Procuramos tratar os elementos de maneira sempre contextual, sendo assim estaremos o tempo inteiro trabalhando com repertório musical. Por essa razão achamos importante incluir uma metodologia de análise de escuta, através da qual possamos otimizar nosso processo de escuta para tirar o máximo de informação do material sonoro. Prepare-se para escutar muita música ao longo deste livro. As unidades estão divididas da seguinte maneira: Na Unidade 1 apresentamos as bases para o desenvolvimento da percepção musical, incluindo conceitos-chave no campo do ritmo como pulsação, métrica e andamento, e também no campo das alturas como a noção de registro (grave, médio e agudo). Na sequência trazemos uma breve teoria do solfejo para que possamos iniciar as atividades de leitura com melodias simples utilizando somente os intervalos de 2ª e 3ª maiores e menores e poucas notas da escala. No último tópico apresentamos a metodologia de análise de escuta que iremos utilizar ao longo do livro. IV Na Unidade 2 focamos em figuras rítmicas, escalas e intervalos muito utilizados na música tonal. No campo do ritmo incluímos as semicolcheias e os grupos formados por colcheia e semicolcheia. No campo das alturas apresentamos as escalas diatônicas com as quais vamos trabalhar em exercícios de análise e criação. Na sequência abordamos os intervalos de 4ª, 5ª e 8ª justa, essenciais ao desenvolvimento da música ocidental. No fim da unidade iniciamos nossos estudos sobre os acordes, onde aprendemos a formação das tríades maiores e menores e buscamos, através de atividades diversas, nos familiarizar com sua sonoridade. Iniciamos a Unidade 3 introduzindo algumas fórmulas de compasso menos usuais, incluindo os compassos compostos, e as figuras rítmicas irregulares, mais precisamente as tercinas. No campo das alturas abordamos os intervalos de 6ª e 7ª maior e menor, últimos intervalos com os quais trabalharemos no livro. Damos continuidade a nossos estudos sobre os acordes aprendendo aberturas, inversões e extensões, para então podermos trabalhar com os acordes invertidos e com sétima. No último tópico tratamos novamente de análise de escuta, desta vez focando nas questões do material musical como a construção de melodias e a questão da tonalidade. Lucas Zewe Uriarte V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfi m, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI VI VII UNIDADE 1 – BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL ........... 1 TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS DOS ASPECTOS RÍTMICOS E ALTURAS .............................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 ASPECTOS RÍTMICOS: DURAÇÃO, PULSAÇÃO, MÉTRICA E ANDAMENTO ................ 4 3 ALTURAS: GRAVE, MÉDIO, AGUDO ............................................................................................ 18 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 23 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 24 TÓPICO 2 – SOLFEJO E INTERVALOS ............................................................................................. 25 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 25 2 TEORIA DO SOLFEJO E EXERCÍCIOS ........................................................................................... 26 3 INTERVALOS DE 2ª E 3ª ..................................................................................................................... 38 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 51 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 52 TÓPICO 3 – FUNDAMENTOS PARA A ANÁLISE DE ESCUTA .................................................53 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 53 2 METODOLOGIA PARA ANÁLISE DE ESCUTA .......................................................................... 53 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 66 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 71 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 72 UNIDADE 2 – ESCALAS E FIGURAS RÍTMICAS MAIS UTILIZADAS NA MÚSICA OCIDENTAL ................................................................................................ 75 TÓPICO 1 – NOVAS FIGURAS RÍTMICAS ...................................................................................... 77 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 77 2 NOVAS FIGURAS RÍTMICAS .......................................................................................................... 77 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 98 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 99 TÓPICO 2 – ESCALAS DIATÔNICAS ............................................................................................101 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................101 2 ESCALA MAIOR E AS TRÊS FORMAS DA ESCALA MENOR ..............................................101 3 MODOS GREGOS .............................................................................................................................108 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................127 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................128 sumário VIII TÓPICO 3 – INTERVALOS E ACORDES .........................................................................................129 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129 2 INTERVALOS DE 4ª, 5ª E 8ª JUSTA ................................................................................................129 3 TRÍADES MAIORES E MENORES ................................................................................................136 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................144 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................149 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................150 UNIDADE 3 – NOVAS FÓRMULAS DE COMPASSO, INTERVALOS DISTANTES E ACORDES INVERTIDOS .....................................................................................151 TÓPICO 1 – NOVAS FÓRMULAS DE COMPASSO, QUIÁLTERAS E LEITURAS A DUAS VOZES ..................................................................................................................153 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................153 2 NOVAS FÓRMULAS DE COMPASSO ..........................................................................................153 3 QUIÁLTERAS E LEITURAS A DUAS VOZES .............................................................................163 3.1 LEITURAS A DUAS VOZES ........................................................................................................168 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................173 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................174 TÓPICO 2 – INTERVALOS E ACORDES .........................................................................................175 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................175 2 INTERVALOS DE 6ª E 7ª ...................................................................................................................175 2.1 EXEMPLOS MUSICAIS ................................................................................................................178 3 ACORDES: ABERTURAS, INVERSÕES, ENCADEAMENTO E EXTENSÕES ....................183 4 SOLFEJOS ............................................................................................................................................189 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................196 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................197 TÓPICO 3 – ANÁLISE DE ESCUTA – MATERIAL MUSICAL....................................................199 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................199 2 ANÁLISE DE ESCUTA: ELEMENTOS DA MELODIA E DA HARMONIA ........................... 199 2.1 CÉLULAS, MOTIVOS, FRASES E TEMAS .........................................................................................199 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................216 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................221 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................222 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................223 1 UNIDADE 1 BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • criar melodias curtas com poucas notas; • identificar a pulsação, a métrica e o andamento em músicas com métricas binárias, ternárias e quaternárias, sem mudanças nestes elementos; • reconhecer auditivamente e na partitura os intervalos de 2ª e 3ª maior e menor; • solfejar melodias simples utilizando os intervalos de 2ª e 3ª maior e menor e figuras rítmicas básicas; • reconhecer as seções em músicas com claras divisões de seção. Esta unidade está organizada em três tópicos. Ao longo da unidade faremos uma revisão de conhecimentos teóricos que servirão como base para atividades diversas, incluindo ditados, solfejos, escutas e análises. Trabalharemos com repertório variado buscando dar prioridade a música brasileira. TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS DOS ASPECTOS RÍTMICOS E ALTURAS TÓPICO 2 – SOLFEJO E INTERVALOS TÓPICO 3 – FUNDAMENTOS PARA A ANÁLISE DE ESCUTA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DOS ASPECTOS RÍTMICOS E ALTURAS 1 INTRODUÇÃO Neste tópico vamos apresentar alguns fundamentos dos aspectos rítmicos e do campo das alturas que serão essenciais em todo o nosso percurso na disciplina de Fundamentos e PercepçãoMusical. Ao longo do texto vamos intercalar explicações teóricas com exercícios de práticas de leituras, ditados, escutas e criação de melodias e exercícios. O tópico está dividido em aspectos rítmicos e alturas. Nos aspectos rítmicos trataremos de conceitos como pulsação, métrica e andamento; relembraremos questões sobre os valores das figuras e as fórmulas de compasso, intercalando com exercícios e escutas para que, além da compreensão, possamos ter a experiência da percepção desses elementos. No campo das alturas, trataremos da relação sonoro-visual-tátil, que cerca toda a terminologia específica e notação musical. Faremos os primeiros exercícios com alturas ainda sem nos preocuparmos com notas específicas, utilizando os conceitos de grave, médio e agudo. Para as atividades de leitura nos baseamos especialmente nos livros de Hindemith (1975), Carr e Benward (2011), Benward e Kolosick (2009) e Prince (2009), buscando ideias e modelos para construir nosso próprios exercícios e exemplos. Já em relação à teoria musical recorremos principalmente ao Atlas de Música, de Ulrich Michels (2003), que traz informações sucintas e precisas. DICAS Para maiores informações acerca dos aspectos teóricos, sugerimos os livros de Bohumil Med (1996) e de Marisa Ramires Lima e Sérgio Figueiredo (2004). UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 4 2 ASPECTOS RÍTMICOS: DURAÇÃO, PULSAÇÃO, MÉTRICA E ANDAMENTO O que entendemos por ritmo diz respeito, em primeira instância, à duração dos sons e das pausas. Um som pode ter a duração de um piscar de olhos, tão curto que mal conseguimos perceber, mas pode também ser muito longo, de modo que não conseguimos saber onde ele começa e termina. Entre estes tempos supercomprimidos e superdilatados estão as durações nas quais o fenômeno musical acontece. Para iniciarmos nossos estudos, vamos imaginar agora um som que se repete regularmente, em intervalos de mesma duração. Pense em uma velocidade cômoda e bata na mesa, com as mãos ou com uma caneta, produzindo esse som em intervalos regulares. Temos assim uma pulsação. Vamos tomar emprestada a ideia dos primeiros exercícios do livro Treinamento elementar para músicos, de Hindemith, página 3, e notar essa pulsação em traços verticais espaçados regularmente, onde cada traço indica uma batida, e o intervalo entre cada batida equivale a um tempo. FIGURA 1 – PULSAÇÃO NOTADA EM TRAÇOS VERTICAIS FONTE: O autor Atividade 1 – Leitura rítmica a) Continue batendo na mesa, acompanhando os traços verticais, e cante, utilizando a sílaba “Ta”, seguindo os traços horizontais, conforme a figura a seguir. TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DOS ASPECTOS RÍTMICOS E ALTURAS 5 FIGURA 2 – EXERCÍCIOS DE RÍTMICA FONTE: Hindemith (1975, p. 3) b) Após fazer os exercícios propostos por Hindemith, invente você mesmo alguns exercícios similares. Ao invés de cantar você pode tocar as notas com algum instrumento e bater a pulsação com os pés. Considerando que o intervalo entre cada traço vertical, ou seja, entre cada batida, seja de um tempo, os traços horizontais, no exemplo acima, formavam figuras de cinco, quatro e dois tempos. Na sequência de nossos estudos nos interessam as figuras de quatro, dois e também a de um tempo. A figura de cinco tempos será estudada mais adiante em nosso livro. Para poder representar estas figuras através da notação musical tradicional vamos relembrar como esse sistema de notação funciona. Você já deve ter aprendido nas aulas de teoria musical que, na notação ocidental tradicional, os valores das figuras não são absolutos, ou seja, a cada figura não é atribuído um único valor específico imutável. Assim, os valores de cada figura só podem ser calculados a partir de uma referência dada. No nosso caso a referência será o valor da semibreve, figura comumente tomada como a de maior duração, que assumirá o valor 4. Partindo da semibreve os valores das próximas figuras corresponderão sempre à metade do valor da figura anterior, conforme mostramos no quadro a seguir. UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 6 FIGURA 3 – FIGURAS RÍTMICAS E SUAS DIVISÕES TOMANDO COMO REFERÊNCIA O VALOR DA SEMIBREVE. ABAIXO AS FIGURAS DE PAUSA O A semibreve valerá 4 tempos A mínima valerá 2 tempos, sendo que duas mínimas equivalem a uma semibreve A semínima valerá 1 tempo, sendo que duas semínimas equivalem a uma mínima, e quatro semínimas equivalem a uma semibreve Vale lembrar que, para cada figura de som, temos uma figura de pausa Pausa de semibreve Pausa de mínima Pausa de semínima FONTE: O autor Fazendo um paralelo com a atividade 1, a figura formada pelo traço horizontal ocupando o espaço de quatro traços verticais corresponde à semibreve, já a figura formada pelo traço horizontal ocupando o espaço de dois traços verticais corresponde à mínima, e o espaço entre cada traço vertical corresponde a duração da semínima. FIGURA 4 – FIGURAS DE SOM EM RELAÇÃO À REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA ATIVIDADE 1 = o = semibreve = = Mínima = = semínima FONTE: O autor A escolha do valor 4 para a semibreve não é à toa. Esse valor é bastante utilizado como referência para a notação rítmica, e comumente empregado para o início da formação musical. No entanto, em determinadas situações a semibreve pode valer 2, 8 ou até 16 tempos, e como a relação dos valores entre as figuras sempre se mantem, quando a semibreve muda de valor todas as outras figuras mudam junto com ela. TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DOS ASPECTOS RÍTMICOS E ALTURAS 7 Para indicar o valor da semibreve, e consequentemente de todas as outras figuras, utilizamos as fórmulas de compasso. Estas fórmulas consistem em uma fração com dois números inteiros, sendo que o numerador, o que está em cima, e o denominador, o número de baixo, indicam diferentes aspectos relacionados ao ritmo. O numerador indica quantos tempos cabem dentro de cada compasso, já o denominador indica o valor da semibreve. FIGURA 5 – ALGUMAS FÓRMULAS DE COMPASSO BASTANTE UTILIZADAS SOBRETUDO NA MÚSICA OCIDENTAL, ESPECIFICANDO AS INDICAÇÕES DO NUMERADOR E DENOMINADOR 4 tempos no compasso 4 tempos no compasso 2 tempos no compasso 3 tempos no compasso 2 tempos no compasso 3 tempos no compasso O valor da semibreve é 4 A unidade de tempo é a semínima O valor da semibreve é 2 A unidade de tempo é a mínima O valor da semibreve é 2 A unidade de tempo é a mínima O valor da semibreve é 8 A unidade de tempo é a colcheia O valor da semibreve é 4 A unidade de tempo é a semínima O valor da semibreve é 4 A unidade de tempo é a semínima 4 4 4 4 2 3 3 4 8 2 2 2 FONTE: O autor Alguns educadores musicais preferem explicar que o denominador indica a unidade de tempo, que consiste na figura cujo valor é 1, ou seja, cuja duração é de um tempo. Nos casos em que o denominador é 4, como nos compassos que utilizaremos ao longo de toda a Unidade I, a unidade de tempo é a semínima. Já nos casos de denominador 2 a unidade de tempo é a mínima, com o denominador 8 a unidade de tempo se transforma na colcheia e com o denominador 16 na semicolcheia. Encontram-se inclusive exemplos musicais, especialmente em materiais didáticos, nos quais o denominador é substituído pela figura que representa a unidade de tempo. Ambas as maneiras de pensar, considerando o valor da semibreve ou a unidade de tempo correspondente, chegam ao mesmo resultado, no entanto, ao pensarmos no valor da semibreve conseguimos entender o caminho que leva até a unidade de tempo. UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 8 Atividade 2– Leitura rítmica Vamos agora realizar alguns exercícios de leitura utilizando somente semibreves, mínimas, semínimas, e suas pausas. Utilizaremos somente os compassos 2/4, 3/4 e 4/4, nos quais a semibreve valerá 4, portanto a unidade de tempo será a semínima. Nos primeiros exercícios faremos uma guia com a unidade de tempo na voz de baixo, funcionando como um substituto ao traço verticaldos exercícios de Hindemith. Cada linha é uma leitura, portanto, ao chegar na barra de compasso de compasso dupla pare e respire um pouco antes de iniciar a leitura da próxima linha. Caso tenha dificuldades com algum compasso repita-o até que fique fluente e depois faça a leitura da linha completa. Lembre-se sempre de começar as leituras em um andamento cômodo, e só acelere se tiver facilidade nas leituras. a) Vamos começar as leituras batendo a mão a cada tempo, acompanhando a voz de baixo, e cantando as notas da voz de cima com a sílaba “Ta”, atentando para sustentar o som em toda a duração da nota. b) Depois de realizar as leituras batendo a voz de baixo e cantando a voz de cima, leia a voz de cima com seu instrumento, repetindo sempre a mesma nota, e leia a voz de baixo batendo com os pés. c) Por último, toque uma voz com cada uma das mãos, o que pode ser feito tanto batendo na mesa quanto tocando em um instrumento de tecla. d) Após executar os exercícios acima invente outros exemplos similares, utilizando somente as figuras rítmicas estudadas até aqui, e os execute das três maneiras sugeridas. TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DOS ASPECTOS RÍTMICOS E ALTURAS 9 Atividade 3 – Leitura rítmica Nas leituras que faremos a seguir vamos substituir as semínimas na voz de baixo por números indicando os tempos. a) Faça a primeira leitura contando os tempos em voz alta, falando os números (1, 2, 3, 4 ou 1, 2, 3 ou 1, 2) e tocando a linha escrita com um instrumento ou batendo com as mãos. b) Na segunda leitura bata os tempos com a mão e cante a linha escrita. c) Na terceira leitura leia as linhas com seu instrumento e bata o tempo com os pés. d) Na quarta leitura bata os tempos com uma mão e leia a voz de cima com a outra. Como mencionado no exercício anterior, isso pode ser feito também em um instrumento de teclas, lendo a voz de baixo com a mão esquerda e a de cima com a direita. e) Na última leitura conte os tempos mentalmente enquanto canta ou toca a voz de cima. Para dar sequência ao nosso trabalho de leitura rítmica vamos acrescentar duas novas figuras: a mínima pontuada e a colcheia. Os pontos de aumento ao lado das figuras indicam que sua duração deve ser aumentada em mais 50% do seu valor. Sendo assim, se determinada figura vale 2, como no caso da mínima em nossas leituras, um ponto de aumento acrescentará mais 1 tempo, contabilizando 3. Isso vale para qualquer figura de ritmo, porém vamos utilizar por hora somente a mínima pontuada, figura extremamente útil para preencher todo o compasso de três tempos. UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 10 A colcheia é a figura que sucede a semínima, portanto seu valor será sempre metade do valor da semínima. Em nossas leituras a semínima vale 1 tempo, é nossa unidade de tempo, assim a colcheia valerá ½ tempo, ou seja, são necessárias duas colcheias para completar um tempo. FIGURA 6 – ACIMA FIGURAS DE SOM E DE PAUSA REPRESENTANDO A MÍNIMA PONTUADA E COLCHEIA. ABAIXO A DIVISÃO DOS VALORES DAS FIGURAS INCLUINDO A COLCHEIA A colcheia valerá 1/2 tempo, sendo que duas colcheias equivalem a uma semínima, preenchendo 1 tempo. Quatro colcheias equivalem a uma mínima e oito colcheias equivalem a uma semibreve Duas ou mais colcheias podem ser unidas por suas hastes O . . A colcheia valerá 1/2 tempo A mínima pontuada valerá 3 tempos Pausa de mínima pontuada Pausa de colcheia FONTE: O autor Atividade 4 – Leitura rítmica Vamos realizar mais algumas leituras rítmicas, agora acrescentando a colcheia. Inicialmente utilizaremos as colcheias sempre em grupos de duas, unidas por hastes e nas próximas unidades utilizaremos colcheias isoladas e combinadas com outras figuras formando grupos. Caso tenha dificuldades em algum dos compassos repita-o até que se torne fluente. Vá conquistando a fluência de compasso em compasso e, ao chegar no fim da linha, volte ao começo e execute a linha inteira sem parar. Desta vez não teremos nada na voz de baixo para guiar sua leitura, portanto cabe a você decidir qual a melhor de se guiar dentre aquelas que mostramos nas leituras anteriores. Você pode escrever uma voz de baixo em semínimas, pode escrever os tempos embaixo ou ainda traços indicando os tempos. TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DOS ASPECTOS RÍTMICOS E ALTURAS 11 a) As leituras devem ser realizadas de quatro maneiras: (1) batendo os tempos com uma mão e cantando a linha escrita; (2) contando os tempos em voz alta e tocando a linha escrita; (3) batendo os tempos com os pés e tocando a linha escrita; (4) batendo os tempos com uma mão e lendo a voz de cima com a outra (é possível ler dessa maneira com ambas as mãos em um instrumento de tecla). b) Todas essas maneiras de ler são caminhos para se chegar ao último estágio, que é cantar ou tocar a voz de cima contando mentalmente os tempos. c) Após realizar as leituras de todas as maneiras sugeridas experimente acrescentar algumas notas e criar pequenas melodias. Escolha somente três ou quatro notas, de Dó a Fá, por exemplo. UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 12 DICAS Caso você esteja com dificuldades nos solfejos com as figuras rítmicas estudadas até agora, recomendamos que você procure fazer mais leituras em outros materiais. Sugerimos a consulta ao Método Prince de Leitura e Percepção, volume 1 – Ritmo (PRINCE, 2009). No livro temos diversas leituras organizadas em grau de dificuldade crescente, nas quais gradativamente novas figuras rítmicas são acrescentadas. Em sua introdução o autor ainda faz um apanhado geral de informações acerca das figuras rítmicas, fórmulas de compasso e outras informações referentes à leitura e escrita musical. Pulsação, métrica e andamento Iniciamos o tópico sobre ritmo batendo em intervalos regulares, seguindo os traços verticais, estabelecendo uma pulsação. Logo em seguida convencionamos que os traços verticais que marcavam a nossa pulsação seriam representados pela semínima, e nos pusemos a ler exercícios em compassos com dois, três, ou quatro tempos de duração. Para realizar os exercícios, independentemente da quantidade de tempos no compasso, seguimos sempre a mesma pulsação, com a mesma regularidade e constância, marcando cada tempo do compasso. Mas será que todos os tempos de um compasso soam da mesma maneira? Copland (1974, p. 38) nos responde à questão com o seguinte exemplo: “Quase todo mundo, em alguma época da vida, teve oportunidade de marchar em alguma parada. A própria batida do pé parece estar distribuindo ordens: esQUERda, direita, esQUERda, direita; ou UM, dois, UM, dois”. No exemplo de Copland (1974) temos um ciclo de dois tempos que se repete, alternando perna esquerda e direita, sendo que a esQUERda, ou o tempo UM, são enfatizados, ou, em termos musicais, acentuados. Ao tempo acentuado chamamos tempo forte, que é sempre o primeiro tempo de cada ciclo, em oposição aos outros tempos não acentuados, no caso o tempo dois ou o tempo da perna direita, que chamamos de tempos fracos. A esse ciclo que se forma pela alternância e repetição de tempos fortes e fracos damos o nome de compassos, sendo que no exemplo acima estamos falando de um compasso de dois tempos. O ciclo, no entanto, pode ter diversos tamanhos. Na música ocidental tonal utilizamos com bastante frequência os ciclos de três e de quatro tempos, para além do ciclo de dois, gerando os compassos de dois, três e quatro tempos como os que vimos no exercício anterior. Porém, existem compassos de cinco, seis, sete, nove, onze tempos, utilizados em músicas de diversas culturas e também com menos frequência na música tonal ocidental. TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DOS ASPECTOS RÍTMICOS E ALTURAS 13 Vamos ilustrar a questão com outro exemplo. Estamos em um baile de formatura, ou em uma festa de quinze anos e fomos convidados para dançar a valsa com o formando(a) ou aniversariante. Se não quisermos fazer feio, é importante que sigamos o ciclo proposto pela música, queno caso da valsa será normalmente de três tempos: UM, dois, três, UM, dois, três, UM, dois, três… A cada vez que chegamos no tempo forte acentuamos também o passo de dança, de modo a conduzir os movimentos de acordo com aquilo que estamos ouvindo. No caso do ciclo de quatro tempos, alguns autores defendem que o tempo três, na metade do ciclo, é um tempo meio forte, dessa maneira teríamos um compasso no qual o tempo UM seria o mais forte, o dois seria um tempo fraco, o três meio forte, e o quarto um tempo fraco: UM dois TRÊS, quatro, UM, dois, TRÊS, quatro. FIGURA 7– COMPASSOS DE DOIS, TRÊS E QUATRO TEMPOS COM SUAS ACENTUAÇÕES FONTE: O autor Grande parte da música ocidental, especialmente tonal, é construída utilizando-se de compassos com o mesmo número de tempos que se repetem ao longo de toda a música. Obviamente existem músicas nas quais o número de tempos do compasso é alterado ao longo de sua duração, às vezes, até com bastante frequência, e tornam muito mais difícil nossa tarefa. Há ainda exemplos nos quais, mesmo repetindo o compasso, a identificação do número de tempos do mesmo é dificultada por características da construção da música, tais como deslocamentos dos acentos na melodia ou a utilização de figuras de som muito longas e sem marcação nos tempos fortes. Ao falarmos sobre o número de tempos dos compassos, estamos nos reportando à métrica da música. Este termo diz respeito às divisões rítmicas sob as quais uma música é construída, incluindo, em um primeiro nível, os tempos dos compassos. Vamos atentar às divisões binária e ternária, sendo que a divisão UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 14 binária engloba os compassos de dois e de quatro tempos, e a divisão ternária, como o próprio nome já explicita, o compasso de três tempos. Ainda não vamos nos preocupar com as subdivisões, assunto que será abordado quando falarmos sobre os compassos compostos. Dentre os ritmos mais populares e característicos da música brasileira, a divisão mais utilizada é a binária. O compasso de dois tempos é o mais comum em ritmos como samba, choro, baião e xote, enquanto o compasso de quatro tempos é utilizado na notação do maracatu, funk e diversos tipos de marchas. O compasso de três tempos é utilizado principalmente nas valsas. Existem ainda uma infinidade de outros ritmos que se encaixam nesses compassos e em outros, e mesmo os ritmos acima listados podem estar em uma outra métrica. Para identificar a métrica de uma música, devemos atentar a alguns elementos que são pensados e organizados em função justamente da divisão. O primeiro deles é o ritmo dos instrumentos de acompanhamento, especialmente a percussão ou a bateria. Ao ouvirmos um samba, por exemplo, normalmente teremos um surdo mais agudo tocando no tempo um e um mais grave no tempo dois, repetindo o padrão por toda a música. Em um funk normalmente podemos ouvir claramente a batida eletrônica característica, que se estende por quatro tempos. Em um baião temos a zabumba tocando o mesmo padrão a cada dois tempos. Nas músicas pop ou no rock and roll, a bateria tem esse papel de marcar os tempos e os ciclos, sendo que normalmente os tempos fortes são marcados por batidas no bumbo, o mais grave dos instrumentos que compõem a bateria. Os instrumentos harmônicos que cumprem a função de acompanhamento também costumam enfatizar, nas levadas, a métrica da música. A levada do violão em um samba costuma enfatizar os tempos do compasso nas cordas mais graves, ou seja, nos baixos, movimento comum também no piano. O contrabaixo também tem muitas vezes a função de reforçar a métrica tocando e acentuando os tempos. Outros elementos importantes que dão dicas da métrica são o ritmo harmônico, ou seja, a periodicidade com que os acordes mudam; e a estrutura rítmica das melodias. A construção da melodia segue os tempos da métrica e costuma ter seus pontos de apoio e de descanso nos tempos fortes dos compassos. Porém, em algumas músicas, o compositor propositadamente desloca a melodia em relação à métrica da música, por vezes, criando no ouvinte uma sensação de aturdimento, de perda momentânea da métrica e até mesmo da pulsação. O terceiro elemento relacionado ao ritmo que nos interessa nesse momento é o andamento. A grosso modo o andamento diz respeito à velocidade da pulsação, sendo que, quanto menor o intervalo entre as batidas de uma pulsação, mais rápido é o andamento. TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DOS ASPECTOS RÍTMICOS E ALTURAS 15 Para medir o andamento, utilizamos um instrumento chamado metrônomo, que mede o número de pulsações dentro do espaço de tempo de um minuto, em uma escala que se chama justamente batidas por minuto, ou BPM. Normalmente, o metrônomo indica a duração da figura que corresponde à unidade de tempo, ou seja, indica justamente a duração de um tempo ou de uma pulsação. A medição do metrônomo habitualmente inicia-se em 40 bpm, indicando uma pulsação extremamente lenta, podendo ultrapassar os 200 bpm, uma pulsação extremamente rápida. Exemplos musicais A seguir fizemos uma pequena seleção de conhecidas músicas brasileiras em compassos 2/4, 3/4 e 4/4, com trechos da melodia e células rítmicas de acompanhamento que sugerem a métrica. Sugerimos fortemente que as músicas sejam escutadas para que a métrica e andamento possam ser percebidos através da audição. FIGURA 8 – EXEMPLOS MUSICAIS EM COMPASSO 2/ 4 FONTE: O autor UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 16 figura 9 – exemplos musicais em compasso 4/ 4 FONTE: O autor FIGURA 10 – EXEMPLO MUSICAL EM COMPASSO 3/ 4 FONTE: O autor DICAS Os exemplos musicais citados estão disponíveis no YouTube através dos links: Timoneiro: <https://www.youtube.com/watch?v=EflJ67AAZFc> Eu só Quero um Xodó: <https://www.youtube.com/watch?v=TPm6YnDNyj0> Cheguei: <https://www.youtube.com/watch?v=RNVLCr-Y7rQ> A Saudade Mata a Gente: <https://www.youtube.com/watch?v=t3mF7YJSZ2E> João e Maria: <https://www.youtube.com/watch?v=5tQdqepsLOs>. https://www.youtube.com/watch?v=EflJ67AAZFc https://www.youtube.com/watch?v=TPm6YnDNyj0 https://www.youtube.com/watch?v=RNVLCr-Y7rQ https://www.youtube.com/watch?v=t3mF7YJSZ2E https://www.youtube.com/watch?v=5tQdqepsLOs TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DOS ASPECTOS RÍTMICOS E ALTURAS 17 Atividade 5 – Escuta Vamos agora ouvir a Suíte Popular Brasileira, obra composta por Heitor Villa-Lobos (1887-1959), um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos. Nesta obra, escrita para violão solo, Villa-Lobos funde elementos de sua formação como músico erudito com sua vivência junto aos chorões do Rio de Janeiro, criando uma obra de intrincada relação entre o universo da música erudita e popular. As cinco peças que compõem a obra foram compostas logo nas primeiras décadas do século XX, porém passaram posteriormente por uma revisão e foram publicadas somente em 1955. a) Escute as cinco peças que compõem a suíte, inicialmente deixando-se levar pelos aspectos que mais chamam atenção em sua percepção. Estes aspectos podem incluir as melodias, harmonias, a sonoridade do violão, a construção da música no que diz respeito às seções que a constituem, bem como as sensações e aspectos extramusicais. b) Em uma segunda audição atente para os seguintes elementos: • Qual é a pulsação em cada uma das peças? • A divisão é binária ou ternária? • É possível identificar exatamente a métrica? (Compasso de dois, três ou quatro tempos) • Há variações de andamento ao longo de cada uma das peças? • Há variações de andamento entre as peças? • Qual é a peça ou o trecho de andamento mais rápido e de andamento mais lento? DICAS A Suíte Popular Brasileira foi gravada por diversos violonistas no mundo todo, portanto não será difícil encontrar boas gravações, no entanto recomendamos as excelentes gravações dos violonistas brasileiros Fábio Zanon, e Sérgio e Odair Assad. Ouça ambas e compare os aspectos de sonoridade, tais como a clareza e limpeza do som,o timbre mais aveludado ou mais metálico; e também a interpretação, atentando para as diferenças de fraseado e andamento. Fábio Zanon: The complete solo guitar music - Heitor Villa-Lobos. MusicMasters Classics, 1997. Sérgio e Odair Assad: Heitor Villa-Lobos: Obra completa para violão solo. Kuarup Discos, 1978. UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 18 3 ALTURAS: GRAVE, MÉDIO, AGUDO O ouvido humano consegue captar frequências sonoras oscilando entre 20 a 20000 Hertz. Quanto menor a frequência, convencionou-se dizer que o som é mais grave, e quanto maior mais agudo. O primeiro termo, grave, é sinônimo de algo profundo, pesado, já o termo agudo designa algo pontudo, penetrante. Basicamente toda a terminologia musical ocidental está pautada em metáforas visuais ou táteis que utilizamos para nos reportar aos sons, assim como os termos grave e agudo. Uma outra metáfora visual bastante utilizada, englobando os termos grave, médio e agudo, é a ideia de alturas sonoras. As alturas sonoras consistem em um recurso de organização visual dos sons levando em conta as frequências, e funciona de maneira muito simples. Quanto mais grave é um som, mais abaixo ele está posicionado, quanto mais agudo, mais acima, ou seja, estamos representando uma diferença na ordem do número de oscilações (frequência em Hertz) em um espaço vertical virtual, o que torna muito mais fácil a visualização. As partituras na notação tradicional foram criadas utilizando-se do mesmo princípio, quanto mais grave mais abaixo se escreve a nota no pentagrama, quanto mais agudo, mais acima. Utilizamos inclusive os termos alto e baixo para nos referirmos, por exemplo, à afinação: tal instrumento está com a afinação baixa, outro com a afinação alta, ou seja, no primeiro caso mais grave e no segundo mais agudo do que a referência adotada. Vamos atentar ao desenho de Kandinsky, representando um pequeno trecho (compassos 59-66) do 1º movimento da 5ª Sinfonia de Beethoven: FIGURA 11 – TRECHO DA 5ª SINFONIA DE BEETHOVEN (COMPASSOS 59-66) REPRESENTADA EM PONTOS E LINHAS FONTE: Kandinsky (2001, p. 39) TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DOS ASPECTOS RÍTMICOS E ALTURAS 19 Na figura acima, Kandinsky representa os sons através dos elementos pictóricos básicos, os pontos e as linhas. Quais elementos musicais Kandinsky consegue representar com esse simples desenho? De que maneira ele representa a ideia de alturas sonoras? Atividade 6 – Criação de melodias a) Cante um som em um registro médio da sua voz, algo confortável que você não considere nem agudo nem grave, utilizando a vogal “A”. Em seguida cante um som ligeiramente mais agudo e um outro som ligeiramente mais grave utilizando a mesma vogal. Memorize a exata altura de cada um dos sons. b) Com base no desenho de Kandinsky, crie e desenhe melodias curtas combinando de diferentes formas as três alturas escolhidas no item anterior. As melodias devem ser compostas de no máximo oito notas em sequência umas das outras, ou seja, não sobrepostas. c) Após desenhar as melodias, tente executá-las com precisão através de seus desenhos, atentando para a afinação, a duração e outras características que você eventualmente quis indicar. d) Faça também o exercício contrário: crie melodias com as três notas em sua cabeça, cante-as até decorá-las, e depois as desenhe com a máxima precisão. e) Caso tenha a oportunidade, cante uma de suas melodias para um colega de curso e peça para que ele a desenhe da maneira mais fiel possível. Em seguida peça a ele que cante uma de suas melodias para que você possa desenhá-la. f) Se tiver vontade você também pode criar melodias com mais de três notas e desenhá-las da mesma maneira utilizando pontos e linhas. Antes de passar aos próximos exercícios ouça o primeiro movimento da sinfonia de Beethoven, e se possível a sinfonia completa. Há vídeos no YouTube nos quais é possível acompanhar a música com a partitura o que pode ser bastante interessante. Na 5ª Sinfonia, em especial seu primeiro movimento, Beethoven utiliza ao extremo sua capacidade de gerar música a partir de um pequeno elemento, o famoso motivo inicial. Perceba como o motivo é variado, acelerado, desdobrado, percorre diversos instrumentos, registros (regiões de alturas) e regiões harmônicas. Por ser uma das obras mais conhecidas e importantes da música erudita europeia, a 5ª Sinfonia foi gravada inúmeras vezes por diversas orquestras no mundo todo. Abaixo seguem o link de duas gravações bastante distintas da mesma peça. A primeira gravada em 1968 pela New Philharmonia Orchestra, sob a batuta de Pierre Boulez, e a segunda gravada em 1963 pela Filarmônica de Berlim sob a batuta de Herbert von Karajan. Ao ouvirmos as duas gravações temos como resultado duas músicas bastante diferentes, apesar de terem sido interpretadas a partir da mesma partitura. A 5ª regida por Boulez é muito mais lenta que a de Karajan, o que permite que algumas linhas secundárias emerjam, mudando as relações entre UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 20 figura e fundo que estamos acostumados a ouvir na peça. Já a gravação regida por Karajan, um dos mais renomados regentes do século XX e especialista em Beethoven, apresenta um caráter mais enérgico e um som orquestral mais coeso. Vale a pena ouvir uma gravação depois da outra e descobrir duas músicas diferentes em uma música só. DICAS As gravações citadas podem ser acessadas no YouTube através dos links: Gravação com partitura: <https://www.youtube.com/watch?v=NWEVKyEwi4A> Gravação com a Philharmonia Orchestra e Pierre Boulez: <https://www.youtube.com/watch?v=6gmYAv8NWbQ> Gravação com Filarmônica de Berlim e Herbert von Karajan: <https://www.youtube.com/watch?v=nLYHNLKp4RU>. Atividade 7 – Leitura de melodias a) Escolha uma outra altura em um registro confortável da voz, cante-a e a memorize. Em seguida escolha uma altura próxima acima e uma altura próxima abaixo da primeira altura escolhida. Memorize as três. b) Vamos agora utilizar a notação musical tradicional ao invés dos pontos e linhas para representar nossas melodias. Na partitura abaixo a nota escrita na linha representa a altura média, a nota abaixo da linha representa a altura grave e a nota acima da linha a altura aguda. Leia as linhas escritas cantando, utilizando a vogal “A”, parando a cada barra de compasso dupla. https://www.youtube.com/watch?v=NWEVKyEwi4A https://www.youtube.com/watch?v=6gmYAv8NWbQ https://www.youtube.com/watch?v=nLYHNLKp4RU TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DOS ASPECTOS RÍTMICOS E ALTURAS 21 Atividade 8 – Escuta e ditado Vamos ouvir a gravação da música Viola violar, de Milton Nascimento e Márcio Borges, do disco Milagre dos Peixes, ao vivo, gravado em 1974, no Teatro Municipal de São Paulo. Há muito para ser apreciado neste arranjo riquíssimo: a instrumentação variada, as mudanças estruturais delimitando seções da música, a letra que nos remete ao contexto da ditadura militar, além, é claro, da bela voz de Milton no auge de sua carreira. a) Façamos uma primeira audição tentando escutar a música como um todo, deixando vir à tona todos os elementos que chamarem atenção à nossa percepção, sejam eles puramente musicais (aspectos técnicos de composição, arranjo, interpretação), ou extramusicais (ideias, imagens, sentimentos suscitados pela música). b) Em uma segunda audição vamos nos atentar para a primeira parte da melodia e sua repetição com a letra modificada. Primeiramente vamos ouvir a melodia algumas vezes até conseguirmos decorá-la (não é necessário decorar a letra, somente a melodia). A seguir encontra-se a letra completa da música com destaque para os trechos de melodia que nos interessam no momento. c) Tendo decorado a melodia, vamos tentar identificar a altura mais aguda e a mais grave. Não é necessário descobrir a nota exata e seu nome, vamos apenas cantar e guardar em nossa cabeça a altura mais aguda e mais grave. d) Vamos agora pensar sobre a construção da melodia:• As alturas que se sucedem estão próximas ou distantes umas das outras? • Quantas alturas compõem este trecho de melodia? e) Por último, desenhe com traços e pontos o trecho de melodia em questão e faça a leitura cantando para se certificar de que sua notação funciona. UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 22 E amanhã mais vinte anos Desfilados na avenida Arranha céu, ave noturna No circuito dessa ferida Violar, vinte fracassos e mudar de tom Vinte morenas para desejar Vinte batidas de limão E amanhã mais vinte anos Desfiados na avenida Arranha céu, ave noturna É viola, toca ferida Violar, a velha brincadeira Violar, vinte morenas para desejar Vinte certezas nessa mão Eu estou bem seguro nessa casa Minha viola é resto de uma feira A minha fome morde seu retrato Brindando a morte em tom de brincadeira Eu estou bem seguro nessa casa Comendo restos nesta quarta-feira Minha viola toca se retrato Cantando a morte em tom de brincadeira Viola Violar (Milton Nascimento e Márcio Borges) 23 Neste tópico você aprendeu que: • A pulsação consiste em um intervalo de tempo de igual duração que se repete regularmente. Estabelecendo a pulsação pudemos fazer nossas primeiras leituras com figuras de 5, 4 e 2 tempos. • Os valores das figuras de som são calculados a partir de uma dada referência. Em nosso caso utilizamos a semibreve com o valor 4. • Em uma fórmula de compasso o numerador indica o número de tempos no compasso e o denominador o valor da semibreve. • O conceito de métrica diz respeito à divisão rítmica de uma música. Vimos também que o andamento está diretamente relacionado à velocidade das pulsações, e pode ser medido em BPM. Foram apresentados alguns exemplos da música brasileira nos compassos 2/4, 3/4 e 4/4, para que pudéssemos atentar para a métrica e os elementos que tornam possível identificá-la, tais como as linhas de percussão, levadas dos instrumentos harmônicos e construção das melodias. • Muito da terminologia musical e também a notação musical ocidental se baseia na relação entre som, imagem e tato. RESUMO DO TÓPICO 1 24 Uma fórmula de compasso é expressa em uma fração cujo número de cima, o _____________ indica o número de _____________ em um compasso, já o número de baixo, o denominador, indica o valor da _____________, bem como a figura que corresponderá à ____________ de tempo. a) ( ) numerador; pausas; semibreve; métrica b) ( ) andamento; tempos; mínima; unidade c) ( ) numerador; tempos; semibreve; unidade d) ( ) polinômio; frações; mínima; fórmula e) ( ) denominador; figuras; colcheia; fórmula Para nos reportar aos elementos musicais utilizamos, na maior parte das vezes, metáforas: a) ( ) visuais / do paladar b) ( ) sensitivas / olfativas c) ( ) táteis / sonoras d) ( ) visuais / táteis e) ( ) extrassensoriais Atividade de escuta – Identificar a métrica e organizar músicas por andamento. a) Após ouvir o repertório sugerido para as diferentes métricas, no item aspectos rítmicos, faça o exercício de identificar a métrica das músicas que você gosta de ouvir. Em alguns casos o exercício será mais fácil do que em outros, o que é absolutamente normal uma vez que em algumas músicas a métrica é bastante flagrante, outras não. Caso tenha dificuldades peça ajuda ao professor. b) Faça uma lista com músicas em divisão binária e outra com músicas em divisão ternária. Ordene as músicas na lista utilizando como critério o andamento, começando da música com andamento mais lento até a música com andamento mais rápido ou vice-versa. • Vale notar que em diversos exemplos o discernimento entre o compasso de dois tempos e o compasso de quatro tempos é bastante difícil, sendo que não raro encontramos diferentes partituras da mesma música escrita em compassos de dois e quatro tempos. Porém é importante que consigamos discernir ao menos se a métrica é binária ou ternária. AUTOATIVIDADE 1 Leia a frase e assinale a alternativa que completa corretamente as quatro lacunas dentre as opções listadas a seguir: 2 Assinale a alternativa correta: 25 TÓPICO 2 SOLFEJO E INTERVALOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Neste tópico vamos deixar de trabalhar com alturas identificadas somente em termos de grave, médio e agudo e vamos passar a trabalhar com notas. Antes de passarmos para a prática, vamos compreender como nosso sistema de notas foi inventado e como ele pode ser utilizado para as atividades de solfejo. Apresentaremos alguns métodos de solfejo, notadamente o sistema Dó Móvel e Dó Fixo, que serão utilizados por você e seu professor nas atividades de solfejo. Estas inicialmente serão realizadas com melodias construídas com poucas notas das escalas de Dó maior e Dó menor. Gradualmente vamos adicionar mais notas e explorar outras tonalidades. Daremos atenção especial aos intervalos de 2ª menor, 2ª maior, 3ª menor e 3ª maior, observando tais intervalos entre as primeiras notas das escalas maiores e menores. A ideia é que possamos nos familiarizar com a sonoridade de cada intervalo. Para auxiliar na fixação, vamos propor exemplos musicais conhecidos que tem como intervalos iniciais aqueles estudados por nós no tópico. Por último procederemos a atividades de escuta e ditado utilizando músicas do repertório da música brasileira. Tomamos o devido cuidado para que todos os trechos compostos para os exercícios de solfejo tenham um sentido musical, um contorno bem definido com início, meio e fim. Caso contrário os exercícios se tornam leituras mecânicas e sem relação com o fenômeno musical, o que não nos interessa. Mais uma vez nos baseamos nos livros de Hindemith (1975), Carr e Benward (2011), e Benward e Kolosick (2009) acrescentando ainda como principais referências o método de Lars Edlund (1974) e Aderbal Duarte (1996). No que diz respeito à teoria musical recorremos mais uma vez ao Atlas de Música, de Ulrich Michels (2003), ao livro de história da música de Grout e Palisca (2007) e especialmente ao artigo do professor Ricardo Freire (2008). UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 26 2 TEORIA DO SOLFEJO E EXERCÍCIOS O solfejo consiste na leitura cantada de notas escritas, no nosso caso, em notação musical ocidental tradicional. Porém, para que possamos praticar o solfejo de forma consciente e eficaz, é importante conhecer a teoria que fundamenta tal prática. Segundo Freire (2008, p. 114): As práticas de solfejo estão presentes em várias culturas do mundo e foram estabelecidas a partir do princípio de associação entre fonemas (sílabas, números ou letras) e alturas musicais. A metodologia de associar sons a sílabas é utilizada tanto no processo de transmissão oral quanto no ensino formal da música. O processo de decodificação das alturas sonoras transformando-as em notas musicais permite a formação de estruturas musicais, sendo que o uso de sílabas de solfejo auxilia na organização cognitiva da linguagem musical. No Brasil aprendemos desde cedo a associar as notas musicais às sílabas dó, ré, mi, fá, sol, lá e si, um método que tem sua origem no sistema de solmização proposto por Guido D’Arezzo no século XI. Para facilitar a leitura à primeira vista, o monge beneditino italiano propôs associar as alturas sonoras a uma série de seis sílabas, ut, re, mi, fa, sol, la, que são as primeiras sílabas de cada uma das seis frases do hino Ut queant laxis, dedicado à São João Batista. Segundo Michels (2003, p. 189), foi possivelmente o próprio D’Arezzo quem musicou o texto, e assim o fez de modo que cada frase começasse em uma altura logo acima da anterior, criando uma escala de seis sons sucessivos, um hexacorde. A primeira sílaba, ut, mais tarde seria substituída pela sílaba dó, já as sílabas subsequentes, re, mi, fa, sol, la, continuam as mesmas até hoje. FIGURA 12 – HINO A SÃO JOÃO BATISTA. PRIMEIRAS SÍLABAS DE CADA FRASE GRIFADAS PELO AUTOR DESTE LIVRO FONTE: Grout e Palisca (2007, p. 80) TÓPICO 2 | SOLFEJO E INTERVALOS 27 No hexacordeguidoniano, as distâncias entre as notas são sempre fixas: da primeira para a segunda e da segunda para a terceira nota, o intervalo é de um tom, assim como da quarta para a quinta e da quinta para a sexta. Contudo, da terceira para a quarta nota, o intervalo é menor, de apenas meio tom. Esta configuração intervalar, tom-tom-semitom-tom-tom, é idêntica à de uma escala maior moderna sem a sétima nota, tendo apenas um intervalo de meio tom. Podemos dividir o hexacorde em dois tricordes com um intervalo de meio tom entre eles. FIGURA 13 – DOIS TRICORDES SEPARADOS POR MEIO TOM FONTE: figura produzida pelo autor deste livro As sílabas propostas por Guido eram utilizadas para indicar alturas relativas, não absolutas. Isso quer dizer que nem sempre o ut, a primeira nota do hexacorde, corresponderia a altura sonora da nota Dó como conhecemos hoje, ou o re corresponderia a altura sonora da nota Ré. Os hexacordes poderiam começar tanto na nota Dó, quanto nas notas Fá ou Sol, porém a primeira nota da escala sempre se chamaria ut, a segundo re, a terceira mi, e assim por diante. Um hexacorde iniciado na nota Dó era chamado de hexachordum naturale, pois mantinha todas as notas da escala sem acidentes. Quando iniciado na nota fá, o hexacorde era chamado de hexachordum molle, pois sua quarta nota era o si bemol, designado também como “B” mole, termo que deu origem a palavra bemol. Já o hexacorde iniciado na nota sol era chamado de hexachordum durum, pois sua terceira nota era o si natural, chamado na época de “B” quadrado ou duro, que deu origem ao bequadro. Na prática musical do século XI, a nota Si era a única que permitia essas alterações de meio tom. A tessitura das alturas sonoras utilizada na época se estendia da nota sol da primeira linha da clave de fá, ou Sol 2, também designado pela letra grega Γ (gama), até a nota mi do último espaço da clave de sol, ou Mi 5, e dentro desta tessitura formavam-se sete hexacordes. Para a prática do solfejo a partir da proposta de Guido D’Arezzo, era necessário indicar em qual hexacorde se estava cantando, e então utilizar correspondentes as sílabas para cantar as notas. Caso a tessitura da música fosse maior que um hexacorde, fazia-se necessário passar ao hexacorde seguinte. UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 28 FIGURA 14 – OS SETE HEXACORDES COMEÇANDO EM SOL, DÓ E FÁ, NA TESSITURA ÚTIL À ÉPOCA FONTE: Michels (2003, p. 188) O sistema Guidoniano foi bastante difundido e utilizado na Europa, sendo modificado gradualmente até chegar a alcançar a oitava, por volta de 1600, passando assim a incluir a ter sete notas, incluindo sempre a nota si. Freire (2008) argumenta que a solmização de Guido teve grande influência nos modelos de solfejo da cultura ocidental, não somente pelo fato de que foi este o sistema que deu nome as notas como conhecemos hoje, mas também pelo princípio da mobilidade. Este princípio, que rege a utilização dos hexacordes, foi o “parâmetro principal na organização dos sistemas de solfejo móvel” (FREIRE, 2008, p. 115). Os sistemas de solfejo móvel, assim como o sistema Guidoniano, assumem que qualquer escala com os mesmos intervalos, como o hexacorde, ou uma escala maior ou menor moderna, deve ser denominada sempre pelas mesmas sílabas independentemente da sua tônica, ou seja, da altura sonora na qual ela começa. Assim, nos sistemas modernos de solfejo móvel, a tônica no modo maior ou menor será sempre Dó, a segunda nota será sempre Ré, a terceira Mi e assim por diante, mesmo que estejamos cantando as alturas sonoras de uma escala de Lá maior ou Sol menor, ou qualquer outra. A tal sistema de solfejo dá-se o nome de Dó móvel. TÓPICO 2 | SOLFEJO E INTERVALOS 29 Por vezes utiliza-se, ao invés de Dó, a sílaba Lá para denominar a tônica nas escalas menores, e assim a segunda nota será sempre Si, a terceira Dó e assim por diante. A escolha pela sílaba Lá nas escalas menores se dá pelo fato de que a escala de Lá menor natural é a única que conta somente com notas naturais, sem acidentes. Segundo Freire (2008, p.116), foi no século XVIII, na formação do Conservatório de Paris, originou-se o método de solfejo fixo, posteriormente conhecido como Dó fixo, no qual a denominação Dó corresponde somente à altura sonora que chamamos Dó, valendo o mesmo princípio para todas as outras notas. Ao utilizarmos o Dó Fixo, por exemplo, em uma escala iniciando na altura sonora Fá, a primeira nota deverá ser cantada com a sílaba Fá, a segunda com a sílaba Sol, a terceira Lá e assim por diante, sempre correspondendo a altura sonora e a sílaba utilizada. Neste caso o Dó seria a quinta sílaba, pois corresponde à quinta altura sonora da escala. Podemos ainda denominar as notas de uma escala por números, de 1 a 7, sendo que os números substituem as sílabas. O sistema numérico pode ser móvel, ou seja, a nota 1 é sempre a primeira da escala, independentemente da altura sonora, ou podemos estabelecer que determinada nota é sempre tal número, criando assim um sistema numérico fixo. Para o sistema fixo normalmente utiliza- se a nota Dó como sendo o número 0 (zero), e cada nota subsequente da escala, incluindo as notas com acidentes, recebe um número específico: Dó# = 1, Ré = 2, Ré# = 3 e assim por diante. Ao utilizarmos os sistemas silábicos, temos duas opões em relação as notas com acidentes: (1) podemos cantar as notas com acidentes sem alterar as sílabas, ou seja, a altura Dó# seria denominada apenas Dó, a altura Ré# seria denominada Ré, e assim por diante; ou (2) podemos denominar cada acidente com pequenas alterações nas sílabas. São diversos os sistemas criados para resolver este problema. A seguir trazemos três, sendo que o mais conhecido e utilizado é o método de Zoltan Kodaly, educador musical húngaro de grande importância na área na primeira metade do século XX. UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 30 FIGURA 15 – TRÊS SISTEMAS DE SOLFEJO COM DENOMINAÇÕES PRÓPRIAS PARA OS ACIDENTES FONTE: Freire (2008, p. 119) Após cinco anos de pesquisas e experimentações com vários métodos de solfejo junto aos alunos de Graduação em Música da Universidade de Brasília, O professor e pesquisador Ricardo Dourado Freire propôs seu próprio sistema de sílabas, alterando sensivelmente algumas sílabas para que elas sejam mais facilmente assimiladas e utilizadas pelo estudante brasileiro. TÓPICO 2 | SOLFEJO E INTERVALOS 31 FIGURA 16 – SISTEMA DE SÍLABAS PROPOSTO POR RICARDO FREIRE FONTE: Freire (2008, p. 124) Cada um dos sistemas de solfejo apresenta características distintas e privilegiam determinados aspectos do aprendizado musical. O método do Dó móvel privilegia o reconhecimento de cada grau da escala. Uma vez que as funções sempre terão o mesmo nome, ou seja, a tônica sempre será Dó, a dominante sempre será Sol, a relativa Lá e assim por diante, este método nos ajuda a reconhecer e fixar com maior precisão as “cores”, ou as sensações de cada grau da escala. O reconhecimento das distâncias entre os graus da escala, especialmente em relação à tônica, também é privilegiado neste método. Importante ressaltar que é necessário um conhecimento do contexto harmônico do trecho em questão para que se possa utilizar o método do Dó Móvel, já que precisamos saber qual é a tônica do trecho para podermos chamar de Dó. Já o método do Dó Fixo privilegia o reconhecimento das alturas absolutas, pois cada sílaba está vinculada a uma única nota específica (e suas oitavas). É um método que privilegia a leitura à primeira vista, pois não se faz necessária nenhuma transposição na hora do solfejo, portanto não é preciso conhecer o contexto harmônico de antemão, apesar de que tal conhecimento pode ajudar a estabelecer as relações intervalares. Para trechos atonais ou de contexto harmônico flutuante o emprego do Dó Fixo é quase indispensável, porém o sistema pode muito bem ser utilizado em contextos tonais, e nesses casos um conhecimento préviodos graus da escala em questão se faz extremamente útil. Para solfejar uma melodia em Mi maior utilizando o método de Dó Fixo é necessário conhecermos todas as notas que compõem a escala de Mi maior. Ambos os métodos são interessantes e podem nos ajudar a chegar a resultados expressivos, dependendo da maneira como forem empregados. Independentemente do método utilizado, vamos levar em consideração algumas estratégias propostas por Carr e Benward no prefácio de seu método para Leitura Cantada à Primeira Vista: UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 32 FIGURA 17– ESTRATÉGIAS PARA AUXILIAR A ATIVIDADE DE SOLFEJO FONTE: Carr e Benward (2011, p. 17) Atividade 1 – Solfejo A partir de agora vamos nomear as alturas sonoras, passando assim a chamá-las pelos nomes das notas musicais que conhecemos. Inicialmente trabalharemos com três notas, Si, Dó e Ré. O Dó servirá como nossa nota de referência, a tônica da escala, nosso centro. Nos exercícios de solfejo vamos partir do Dó e para ele vamos voltar. Por conta desta dinâmica que escolhemos as outras duas notas: o Si está exatamente abaixo, somente a meio tom de distância e tende a subir ao Dó, enquanto o Ré está acima e tende a descer também em direção ao Dó. Tomando a escala de Dó maior como referência utilizaremos a primeira nota, ou primeiro grau da escala, que é o Dó, o segundo grau, que é o Ré, e o sétimo grau que é o Si. Por hora utilizaremos o Si não acima, mas sempre meio tom abaixo de Dó, no papel de sensível, nome dado ao sétimo grau da escala quando o mesmo está somente a meio tom de distância da tônica. a) Leia e cante os trechos escritos a seguir utilizando os nomes das notas na vocalização. Orientações • Antes de começar o exercício toque algumas vezes a escala de dó maior, subindo e descendo, e em seguida faça o mesmo cantando, usando o nome de cada nota como sílabas para vocalização. Se for um instrumento harmônico é interessante TÓPICO 2 | SOLFEJO E INTERVALOS 33 também que você toque o acorde de dó maior, buscando memorizar as notas que o compõem. Em seguida, toque as três notas que serão utilizadas, o Si, o Dó e o Ré e procure memorizar sua sonoridade. • Realize as leituras sempre em um andamento confortável, mais lento, buscando respeitar as durações das notas. • Depois de iniciar o solfejo evite usar seu instrumento para ler as notas. Você pode utilizá-lo após as leituras para conferir se está cantando corretamente. Após algumas tentativas, caso não consiga acertar alguma nota ou trecho do solfejo, toque mais uma vez a escala completa, mas não o trecho do solfejo. O trecho em questão só deve ser tocado em última instância. • Caso venha a errar, especialmente na primeira leitura, procure recuperar a nota e seguir em frente, evitando parar e recomeçar muitas vezes. Depois de terminar a leitura volte nos compassos mais difíceis e os repita algumas vezes até conseguir executá-los com fluência. Uma vez dominados todos os compassos, leia mais uma vez a linha do início ao fim. • As vozes femininas cantarão na região do Dó4, ou Dó central do piano (aproximadamente 260Hz), enquanto as vozes masculinas cantarão na região do Dó3 (aproximadamente 130Hz). Na partitura, a primeira linha suplementar inferior da clave de sol representa o Dó4, porém os homens devem cantar como se lessem uma clave de tenor, na qual tudo o que está sendo lido é entoado uma oitava abaixo. UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 34 Atividade 2 – Solfejo Para os próximos exercícios de solfejo vamos acrescentar mais uma nota, que será a terceira nota da escala, ou simplesmente a 3ª, como costumamos chamar. Uma escala pode ter a 3ª pode ser maior ou menor, dependendo de sua distância em relação à tônica. Do ponto de vista da sonoridade há uma grande diferença entre escalas com a 3ª maior e com a 3ª menor. Na segunda unidade vamos estudar as escalas maior e menor em detalhes, porém no momento o importante é que você consiga perceber a diferença entre uma melodia com 3ª maior e outra com 3ª menor. a) Nos solfejos abaixo vamos acrescentar a 3ª maior que corresponderá a nota Mi, uma vez que estamos utilizando apenas a escala de Dó maior. Nas últimas linhas vamos acrescentar também a nota Fá e a nota Sol. Toque a escala de Dó maior mais uma vez antes de começar a solfejar e memorize a sonoridade das notas Mi e Sol, pontos de referência para o solfejo por serem as notas que constituem o acorde de Dó maior. TÓPICO 2 | SOLFEJO E INTERVALOS 35 b) Nos próximos solfejos substituiremos a nota Mi por Mib, alterando a 3ª de maior para menor. Nas últimas linhas novamente acrescentaremos o Fá e o Sol. Toque agora a escala de Dó menor atentando especialmente para as notas do acorde de Dó menor, que servirão de referência. Nesta unidade vamos utilizar as escalas menores sempre com a 7ª maior, ou seja, o sétimo grau da escala sempre estará a uma distância de meio tom da tônica. No caso de escala de Dó menor utilizaremos sempre um Si natural. Veremos na Unidade II que há outras variações da escala menor, porém por hora manteremos sempre a 7ª maior nas escalas menores. UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 36 Atividade 3 – Solfejo Depois da realização de solfejos e ditados em dó maior, vamos agora propor os mesmos exercícios em diferentes tonalidades. Antes de iniciar os solfejos atente às orientações a seguir. Orientações • Neste momento você tem as opções de empregar o método de solfejo do Dó Móvel ou do Dó Fixo, e também deve decidir se os acidentes receberão sílabas diferentes das notas naturais. Existe ainda a possibilidade de cantar todos os sons com a mesma sílaba (“la” ou “a”), porém cremos que esta não é a melhor opção no momento. Talvez seja interessante testar ambos os métodos, lembrando que o método do Dó Móvel privilegia o reconhecimento dos graus da escala e sua relação com a tônica, enquanto o Dó Fixo privilegia o reconhecimento das alturas absolutas. • Como já dito anteriormente, é importante que você conheça as escalas maiores e menores em várias tonalidades, contribuindo assim para um solfejo mais eficiente especialmente no método do Dó fixo. • Antes de começar a solfejar analise as melodias e identifique quantas notas da escala foram utilizadas. Toque a escala correspondente algumas vezes para memorizar sua sonoridade, atentando principalmente para as notas de referência, conforme sugestão das estratégias para o solfejo da Figura 17. • Os trechos aqui expostos estão em grau de dificuldade crescente, aumentando gradualmente o número de notas, chegando a seis, acrescentando ainda as colcheias. TÓPICO 2 | SOLFEJO E INTERVALOS 37 Atividade 4 – Solfejo a) As próximas melodias não iniciam mais na tônica, mas sim na terça. Proceda como no exercício anterior, analisando a melodia antes de iniciar o solfejo. UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 38 DICAS Para mais solfejos desse tipo você pode procurar pelo livro Modus Vetus, de Lars Edlund (1974). O livro trata especificamente de solfejo e treinamento auditivo, contando uma vasta coleção de melodias escritas para leitura cantada, começando com uma tessitura bem pequena, próxima ao que estamos trabalhando em nosso livro, evoluindo a melodias mais complexas. A indicação é especialmente válida se você teve dificuldades na realização dos últimos solfejos. 3 INTERVALOS DE 2ª E 3ª Neste item vamos atentar especificamente para os intervalos de 2ª e 3ª maiores e menores, com os quais nos deparamos até o momento em nossos exercícios de solfejo. Na música ocidental, mas também em músicas de outras culturas, a maior parte das melodias é construída a partir da sucessão de notas por graus conjuntos. Chama-se de grau conjunto uma nota situada imediatamente abaixo ou acima de uma nota de referência, por exemplo: se eu tenho uma nota Dó, as notas Si (imediatamente abaixo) e Ré (imediatamente acima) são seus grausconjuntos. Na teoria musical ocidental convencionou-se que todos os graus conjuntos são intervalos de 2ª, ou seja, a relação entre uma nota e sua anterior ou posterior será sempre uma relação de 2ª. Os intervalos de 2ª podem ser menores ou maiores. As 2ªs menores correspondem ao menor intervalo possível dentro do sistema temperado o meio tom, enquanto as 2ªs maiores correspondem a um tom inteiro. Existem ainda os intervalos de 2ª diminuta e 2ª aumentada, os quais não teremos oportunidade de estudar neste livro. Os intervalos de 3ª já não são mais considerados graus conjuntos, mas sim graus disjuntos. Para obtermos intervalos de 3ª precisamos tomar uma nota como referência, pular a próxima nota na sequência, a 2ª, e considerar a terceira nota, por exemplo: se nossa referência for Dó pulamos a próxima nota, o Ré, e TÓPICO 2 | SOLFEJO E INTERVALOS 39 consideramos a terceira nota na sequência, o Mi. Podemos fazer o mesmo cálculo na ordem descendente: temos Dó como referência, pulamos o Si, consideramos o Lá. Para todos os intervalos posteriores a lógica é a mesma, ou seja, se temos um intervalo de 4ª precisamos considerar a quarta nota na sequência, da mesma maneira com as 5ªs, 6ªs e assim sucessivamente. As 3ªs são extremamente importantes na música ocidental no que diz respeito à formação de acordes, já que estes são formados pela superposição de intervalos de 3ª a partir de uma determinada nota de referência. Falaremos um pouco mais a respeito da formação dos acordes na Unidade II. Apesar de serem graus disjuntos, as 3ªs ainda são intervalos relativamente próximos, e por isso aparecem com muita frequência nas melodias. Depois das 2ªs certamente são as 3ªs os intervalos melódicos mais utilizados. Assim como as 2ªs as 3ªs também podem ser menores e maiores. As 3ªs menores estão a distância de um tom e meio, enquanto as 3ªs maiores a distância de dois tons inteiros. As 3ªs também podem ser aumentadas e diminutas. Abaixo trazemos um quadro com as escalas de Dó maior e Dó menor, considerando o âmbito da escala com o qual trabalhamos até agora (da nota Si até a nota Sol), com todos os intervalos de 2ª e 3ª entre cada grau da escala. FIGURA 18 – INTERVALOS DE 2ª E 3ª NAS ESCALAS DE DÓ MAIOR E DÓ MENOR FONTE: O autor UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 40 Cada intervalo tem uma sonoridade específica, sendo assim, como observado nas estratégias propostas por Carr e Benward (Figura 17), devemos nos acostumar com as sonoridades dos intervalos. Uma 2ª maior, independente se considerarmos o intervalo de Dó para Ré ou de Fá para Sol, tem a mesma sonoridade, portanto, uma vez que memorizamos tal sonoridade conseguir cantar o intervalo partindo de qualquer referência. A mesma coisa acontece com a 2ª menor e com as 3ªs menores e maiores. Sendo assim, vamos proceder com alguns exercícios para nos familiarizarmos com os sons dos intervalos. Atividade 5 – Cantando os intervalos Abaixo temos uma pauta com notas escritas e indicações de intervalos. Sua tarefa é tocar a nota escrita com o seu instrumento, tomá-la como referência e cantar o intervalo indicado na direção indicada, por exemplo: se a nota Dó está escrita e acima há uma indicação de 3ª maior ascendente, você deve tocar o Dó e cantar a nota Mi acima. As notas que devem ser cantadas não estão especificadas, ou seja, no exemplo acima a nota Mi não estará escrita, somente a nota de referência, o Dó, portanto você precisa calcular os intervalos para saber exatamente qual nota deve cantar. Use o quadro da figura 18 para ajudá-lo. Uma vez descoberta a nota você pode escrevê-la. É importante que você não toque a nota a ser cantada antes de tentar efetivamente cantá-la, ou o exercício não valerá de nada. Utilize seu instrumento somente depois de cantar para verificar se a nota está correta. a) Na primeira pauta escrevemos somente notas da escala de Dó maior, sendo que os intervalos indicados também resultam em notas da mesma escala. Antes de iniciar o exercício toque a escala de Dó maior. Os intervalos maiores serão indicados com um “M” maiúsculo, e os menores com um “m” minúsculo: 2ªm, 2ªM, 3ªm, 3ªM. A direção ascendente será indicada por uma seta apontada para cima, e a descendente com uma seta para baixo. b) Na próxima pauta temos somente notas da escala de Dó menor e intervalos que resultam em notas da mesma escala. Antes de iniciar o exercício toque a escala de Dó menor. TÓPICO 2 | SOLFEJO E INTERVALOS 41 DICAS Existem diversos aplicativos para celular e sites na internet que disponibilizam ferramentas para treinamento auditivo, incluindo exercícios de reconhecimento de intervalos. Procure na internet ou em sua app store por “Ear training”, são diversas as opções disponíveis. Um dos mais completos e confiáveis aplicativos é o Complete Ear Trainer, do desenvolvedor Binary Guilt Software. As atividades realizadas com tais ferramentas complementam as atividades do livro, contribuindo consideravelmente para o seu desenvolvimento. Uma outra maneira eficaz de memorizar os intervalos é recorrer a músicas conhecidas que se iniciam com os intervalos estudados. Fizemos uma seleção de músicas brasileiras que iniciam com 2ª menor, 2ª maior, 3ª menor e 3ª maior, cuidando nesse momento para que tal intervalo seja em relação a tônica. Sugerimos fortemente que você faça suas próprias listas de músicas que começam com esses intervalos, levado em consideração os intervalos tanto ascendentes quanto descendentes. Exemplos musicais As músicas que escolhemos foram escritas nas tonalidades das gravações que utilizamos como referência, o que é interessante para que possamos estudar os intervalos em outras tonalidades para além de Dó maior. Escrevemos somente o início de cada música, porém recomendamos que elas sejam escutadas na íntegra. Para que as músicas sirvam de referência na memorização de intervalos, a melodia deve estar clara e prontamente acessível na memória. Logo após as figuras, no Uni Dica, estão os links para ouvir as gravações de referência. 2ª menor descendente: Triste – Tom Jobim. Tonalidade: Sol maior A música se inicia na tônica (Sol) e a melodia desce 2ª menor logo na segunda nota (Fá#). Logo em seguida o intervalo aparece também na ascendente. FIGURA 19 – TRISTE – 2ª MENOR DESCENDENTE FONTE: O autor UNIDADE 1 | BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO MUSICAL 42 2ª maior descendente: Lamentos – Pixinguinha e Vinicius de Moraes. Tonalidade: Ré maior O intervalo de 2ª maior aparece duas vezes na descendente nas três primeiras notas, incialmente do terceiro (Fá#) para o segundo grau (Mi) e em seguida para a tônica (Ré). FIGURA 20 – LAMENTOS – 2ª MAIOR DESCENDENTE FONTE: O autor 3ª menor ascendente: Assum Preto – Luiz Gonzaga. Tonalidade: Mi menor. A música inicia-se com um arpejo do acorde de Mi menor, com o intervalo de 3ª menor entre a tônica (Mi) e a terceira nota da escala (Sol). FIGURA 21– ASSUM PRETO – 3ª MENOR ASCENDENTE FONTE: O autor 3ª maior descendente: Águas de Março – Tom Jobim. Tonalidade: Sib maior. A música se inicia na terça (Ré), e logo no início o intervalo de 3ª maior se repete algumas vezes entre a terça (Ré) e a tônica (Sib). TÓPICO 2 | SOLFEJO E INTERVALOS 43 FIGURA 22 – ÁGUAS DE MARÇO – 3ª MAIOR DESCENDENTE FONTE: O autor DICAS As gravações de referência estão no YouTube e podem ser acessadas nos links: Triste: <https://www.youtube.com/watch?v=xWljdjvGbxQ> Lamentos: <https://www.youtube.com/watch?v=Px23z4t-oHI> Assum Preto: <https://www.youtube.com/watch?v=g2nbs-wPNmA> Águas de Março: <https://www.youtube.com/watch?v=E1tOV7y94DY>. DICAS Ao fim do livro de Aderbal Duarte (1996) há uma lista de músicas do repertório de música brasileira divididas pelo intervalo inicial, incluindo os intervalos desde 2ª menor até 13ªM. A música Lamentos, que consta em nosso material, também consta no material de Duarte. A referência bibliográfica do livro encontra-se ao fim da unidade. Atividade
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