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EDUCAÇÃO 4.0: CONCEITO, PERSPECTIVAS E DESAFIOS W B A 03 55 _v 1. 0 2 Luís Fernando Crespo Neide Rodriguez Barea Tavares Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 EDUCAÇÃO 4.0: CONCEITO, PERSPECTIVAS E DESAFIOS 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Giani Vendramel de Oliveira Revisor Vanessa Moreira Crecci Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) __________________________________________________________________________________________ Tavares, Neide Rodriguez Barea T231e Educação 4.0: conceito, perspectivas e desafios/ Neide Rodriguez Barea Tavares ,Luís Fernando Crespo Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020. 64 p. ISBN 978-65-86461-33-6 1. Educação 4.0 2. Tecnologia. I. Tavares, Neide Rodriguez Barea. II. Crespo, Luís Fernando. Título. CDD 371.3 ____________________________________________________________________________________________ Jorge Eduardo de Almeida CRB 8/8753 © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Origem e conceituação da Educação 4.0 ____________________________ 05 Educação 4.0: novas perspectivas educacionais e impactos no cotidiano escolar e corporativo _______________________________________________ 19 Educação 4.0: desafios e cuidados frente à inovação tecnológica ___ 35 A gestão da aprendizagem na Educação 4.0: professores e gestores mais competentes ________________________________________________________ 52 EDUCAÇÃO 4.0: CONCEITO, PERSPECTIVAS E DESAFIOS 5 Origem e conceituação da Educação 4.0 Autoria: Neide Rodriguez Barea Tavares Leitura crítica: Vanessa Moreira Crecci Objetivos • Conhecer a concepção de Indústria 4.0 e as necessidades oriundas dessa nova perspectiva global. • Identificar a origem e a conceituação de Educação 4.0. • Relacionar os conceitos de Indústria 4.0 e Educação 4.0. 6 1. Introdução A constante evolução em vários âmbitos da sociedade e seus impactos em cadeia global geram a necessidade de adaptações na formação escolar do indivíduo que viverá tal transição histórica, a fim de prepará- lo para o novo contexto e seus desafios. Assim, as transformações nos meios de produção, o emprego massivo da tecnologia e as novas relações sociais e de trabalho propõem a formação de um ser humano preparado para intervir nas situações que se apresentarão, ainda que não seja possível antecipar e prever quais serão. Estamos falando de um indivíduo adaptável, consciente, pronto a enfrentar desafios e a promover as transformações necessárias em seu tempo e espaço. Nesta leitura, veremos como a sociedade chegou à era da Indústria 4.0, quais são seus princípios e quais repercussões foram geradas. Compreenderemos também a necessidade das transformações acadêmicas para a formação dos novos cidadãos, adaptados ao seu tempo e preparados para agir em contextos em constante mudança. Esperamos que você realize boas aprendizagens e se prepare para um novo cenário educacional, que já está sendo introduzido nas escolas. 2. As revoluções industriais e a grande transformação proporcionada a partir da concepção da Indústria 4.0 Há várias formas de demonstrar os diferentes momentos da sociedade. Podemos pensar nos movimentos artísticos, tais como o Renascimento e o Modernismo, por exemplo, que determinaram a forma de representar a realidade; na Literatura, como o Classicismo e o Romantismo, por exemplo, que estruturaram a formas de aprender e refletir sobre a vida; 7 e até mesmo nas eras históricas, mais amplas e universalmente aceitas, tais como a Pré-história, a Antiguidade, as Idades Média, Moderna e Contemporânea, esta última na qual nos encontramos atualmente. Porém, apesar de a sociedade se encontrar em um dado período histórico, continuam ocorrendo transformações que, talvez, não sejam grandes o suficiente para determinar o fim de uma era histórica e o início de outra, mas são profundamente fortes ao ponto de provocar impactos globais. Estamos falando das revoluções industriais. Figura 1 – Sucessão histórica das revoluções industriais 1a Revolução Industrial (meados do século XVIII) - iniciada na Inglaterra, alterou as formas de produção com a introdução das máquinas movidas a vapor. 2a Revolução Insutrial (entre meados dos séculos XIX e XX) - lançamento de novos produtos, criação de novas máquinas, administração científica 3a Revolução Industrial (após a 2a Guerra Mundial) - introdução de equipamentos eletrônicos, integração entre ciência e produção industrial. 4a Revolução Industrial (Século XXI) - interconexão das etapas de produção, informações e dados digitalizados, internet das coisas. Fonte: elaborada pela autora. Antes de a humanidade se multiplicar em maior escala e constituir as cidades, os homens produziam pequenas intervenções na natureza. Quando perceberam que poderiam cultivar a terra e criar rebanhos, as sociedades começaram a se organizar melhor e a se fixar em um território, deixando de ser nômades (por volta de dez mil anos antes de Cristo). Isso propiciou que a população crescesse, já que podia ser mais bem cuidada, o que também estimulou o desenvolvimento de novas técnicas e a criação de novos instrumentos de produção e novas tecnologias. 8 O controle do fogo, a invenção da roda e a modelagem do ferro trouxeram grande avanço para a humanidade. As sociedades passaram a usar a força da água e do vento para criar moinhos para moer grãos e permitir outras formas de produção alimentar. Também passaram a canalizar a água e a criar sistemas de esgotos, demonstrando evolução constante. Ainda assim, não representavam grande impacto na natureza, mas o cenário se modificou drasticamente com as novas formas de produção industrial. É importante entender que transcorrem cerca de doze mil anos desde o estabelecimento territorial das sociedades nômades até o emprego de máquinas para a produção industrial, e, durante esse longo período, a humanidade apresentou inúmeros avanços no campo de produção de bens, além de gigantesco desenvolvimento cultural. Isso quer dizer que, em dado momento da história, o homem construiu fábricas e as equipou com máquinas, o que permitiu criar produtos em grande escala, mas também passou a empregar mais recursos da natureza. Estamos falando da 1ª Revolução Industrial, que teve início na Inglaterra em meados do século XVIII, marcando a transição dos meios de confecção de produtos, até então realizados de forma manual, para a produção semidesenvolvida por máquinas, com a mecanização de processos manuais, o que permitiu acelerar a produção e substituir certas etapas do trabalho humano. A principal invenção nesse período foi a máquina a vapor (TESSARINI JR; SALTORATO, 2018), que utilizava a queima de madeira e carvão para criar pressão e fazer os mecanismos operarem. Ela foi utilizada basicamentepara produção têxtil e impulsionou os meios de transporte, sobretudo na Europa, a partir da locomotiva a vapor, servindo tanto para transportar pessoas quanto produtos, superando distâncias com muito mais rapidez do que se fossem percorridas a cavalo. Apesar do desgaste da natureza e dos processos pouco dignos de trabalho que estabeleceu na época, a 1ª Revolução Industrial promoveu a criação de 9 novos empregos e novas ocupações; ampliou a produção, favorecendo o acesso da população a novos produtos; e também trouxe exploração das riquezas naturais do continente africano. Outros países, como Alemanha, França, Bélgica e Holanda, também criaram seus sistemas industriais. Já a 2ª Revolução Industrial ocorreu a partir da segunda metade do século XIX, durando aproximadamente 100 anos. A grande marca dessa revolução é a criação de uma série de produtos: o automóvel, o avião, o telefone, o rádio, a televisão, entre outros. Tessarini Junior e Saltorato (2018) lembram que o surgimento da eletricidade permitiu a criação das linhas de montagem, constatando-se a existência de grande avanço tecnológico, ou seja, as máquinas foram modernizadas e se tornaram mais especializadas. Ford e Taylor estudaram os processos de trabalho, criando técnicas e sistemas mais produtivos e dando início aos estudos conhecidos como Administração Científica. Henry Ford foi um engenheiro mecânico que criou a fábrica de automóveis Ford, desenvolvendo um modelo de produção estruturado a partir da montagem em série, o que ocasionou maior produtividade e lucro. Seu modelo de trabalho é conhecido como fordismo e influenciou grandemente a forma de produção industrial na época, além de influenciar a educação escolar, propondo sequenciamento didático, avanços sucessivos, premiação, funções repetitivas, fragmentação dos conteúdos em unidades pequenas, entre outras. Já Frederick Taylor, também engenheiro mecânico, preocupou- se em analisar e descrever os melhores processos produtivos, cuidando do chão de fábrica para que os funcionários pudessem ter um ambiente propício à produtividade; suas perspectivas científicas também influenciaram a educação na medida em que propiciou reflexão sobre o ambiente escolar propício à aprendizagem e supervisão e adequação metodológica ao público atendido. 10 É por volta da época da Administração Científica que o Brasil inicia seu processo de industrialização, já no final da 2ª Revolução Industrial. A 3ª Revolução Industrial começou em meados do século XX e é marcada por um grande avanço tecnológico, isto é, máquinas mais aprimoradas e informatizadas (máquinas passam a operar sozinhas, sem intervenção humana) e utilização de robôs, surgimento de conglomerados industriais e multinacionais. Novos produtos são criados e os mais antigos são aprimorados. É também a época da exploração espacial. Os conhecimentos científicos passam a ser amplamente empregados na indústria (fusão nuclear, biotecnologia, inteligência artificial, entre outros). O toyotismo surge como nova forma de administração das empresas, um modelo mais flexível e amplamente tecnológico. Esse modelo administrativo revolucionou a produção industrial, uma vez foi um dos primeiros a empregar robôs para a construção de veículos, permitindo a produção em larguíssima escala. Além disso, o chão de fábrica passou a ser limpo, os funcionários passaram a receber treinamento tecnológico e podiam participar de decisões da administração e contribuir com novas ideias – as que se tornavam efetivas eram premiadas em alta remuneração para o colaborador. A 3ª Revolução Industrial também é conhecida como Revolução Tecnocientífica. Ela também trouxe impactos para a escola, que passou a empregar recursos tecnológicos para favorecer a aprendizagem dos alunos (informática educacional, tecnicismo, entre outros). Por fim, chegamos à 4ª Revolução Industrial, também conhecida como Indústria 4.0. O primeiro a chamar a atenção para a 4ª Revolução Industrial foi Schwab (2016) e Tessarini Junior e Saltorato (2018), que apontam que estamos vivenciando, desde 2011, um momento de transformação baseado em um novo estágio tecnológico, no qual 11 se empregam dados digitais para reorganizar a indústria, em ampla conectividade com informações da nuvem e com a internet das coisas. Vamos detalhar a Indústria 4.0, que origina os processos da Educação 4.0, a seguir. 3. Indústria 4.0 e as novas demandas educacionais: o nascimento da Educação 4.0 Klaus Schwab (2016, p. 1) aponta “estamos no início de uma revolução que está mudando fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos um com o outro”. Vejamos, por exemplo, que a maior empresa de conteúdos é o Facebook, porém o próprio Facebook não produz conteúdo, são seus usuários que o fazem. Da mesma forma, a maior empresa de hospedagem do mundo, a Airbnb, não possui um único hotel, enquanto o maior vendedor do mundo, a Alibaba não possui estoque. Essas grandes empresas simplesmente conectam provedores com clientes. Trata-se de uma gigantesca revolução nos meios de produção e de relacionamento entre fornecedores, clientes e empresas. A Indústria 4.0 (I4.0) é marcada por uma grande revolução nos processos de produção, que passam a interconectar equipes e equipamentos. Para termos noção, já existe uma geladeira capaz de notificar seu dono sobre a baixa de estoque, ou seja, conforme os produtos vão sendo retirados, a geladeira contabiliza os débitos e é capaz de enviar uma mensagem ao proprietário informando que o estoque foi diminuído em tal porcentagem ou foi zerado. Agora, vamos imaginar essa situação em uma indústria: os equipamentos eletrônicos são capazes de contabilizar o uso das matérias-primas, controlando o estoque. Ao identificar que o estoque baixou, o próprio sistema emite uma nota para compra da matéria-prima diretamente para o equipamento de outra empresa, ao mesmo tempo em que notifica a necessidade de uma operação bancária 12 de pagamento para a aquisição da mercadoria. Os equipamentos da empresa fornecedora, por sua vez, recebem o pedido de compra, separam e embalam mecanicamente os produtos adquiridos; etiquetam com o endereço a ser entregue e notificam a transportadora, que levará o produto. Isso tudo é realizado sem a presença humana ou apenas com uma pequena supervisão: “nessas ‘fábricas inteligentes’, máquinas e insumos ‘conversam’ ao longo das operações fabris, agregando flexibilidade aos processos, que ocorrem de maneira autônoma e integrada” (TESSARINI JR; SALTORATO, 2018). As informações são digitalizadas e transitam pela nuvem (sistema de dados que opera sem o gerenciamento ativo direto do usuário, organizado em centros de dados que comportam informações de muitos usuários), sendo capazes de diminuir as falhas e os atrasos humanos e gerando mais produtividade e, consequentemente, lucratividade. Outra característica da I4.0 é que existe uma preocupação cada vez maior em não empregar energias não-renováveis, tais como carvão, petróleo e gás, buscando alternativas autossustentáveis, como energia eólica, solar, geotérmica, entre outras. Schwab (2016) aponta a existência de megatendências para a I4.0, estando algumas, inclusive, já em funcionamento, como a Internet das Coisas, as impressoras 3D, a inteligência artificial, entre outras. Quadro 1 – Megatendências da Indústria 4.0 Sistemas ciber-físicos (CPS – Cyber-Physical Systems) Capacidade cibernética associada ao mundo real, ou seja, sistemas capazes de operar em função de dados colhidos no mundo físico são empregados na aeronáutica, na saúde, na engenharia e, até mesmo, em transportes. 13 Internet das Coisas Possibilidade de controlar equipamentos e serviços (controle da energia, do ar-condicionado, de eletrodomésticos, incluindo serviços de segurança e acionamento de robôs etc.) por meio da internet, a partir de conexões entre empresa-residência- veículo. Internet de Serviços A Internet das Coisas propiciouo surgimento da Internet de Serviços, ou seja, processos que analisam o impacto da Internet das Coisas e é capaz de sugerir melhorias e economia de recursos, por exemplo. Veículos autodirigíveis Drones, trens e carros são alguns exemplos de veículos que podem ser dirigidos por equipamentos – são mais eficientes e seguros, mas ainda não estão empregados em ampla escala. Impressoras 3D Esse tipo de impressora é capaz de reproduzir fisicamente um objeto digital em 3D no computador; a impressão é feita camada sobre camada e, ao final, entrega-se um objeto real. Já existe tecnologia para imprimir casas, por exemplo, além de objetos menores. Robôs avançados São capazes de compreender o ambiente (por meio de sensores especializados) e desempenhar tarefas variadas, como conseguir controlar a força e os movimentos em cirurgias complexas. Os robôs foram criados, inicialmente, para realizar as tarefas repetitivas executadas por seres humanos e, agora, são capazes de desempenhar diversas outras funções. 14 Inteligência Artificial (IA) Sistema semelhante à inteligência humana capaz de tomar decisões considerando as informações captadas no ambiente – muitas ligações telefônicas atualmente já contam com sistemas de IA. Big Data Análise, armazenamento, compartilhamento, junção, interpretação, transferência, compreensão, visualização e informações sobre dados grandes demais para serem tratados por sistemas convencionais. Nanomateriais São metais mais leves e mais fortes que revolucionarão a indústria e os equipamentos eletrônicos no futuro; o grafeno, por exemplo, é 200 vezes mais forte que o aço e é muito mais fino que um fio de cabelo, sendo extremamente eficiente na condução de calor e eletricidade; são materiais recicláveis e adaptáveis às necessidades humanas. Nanosensores São sensores capazes de monitorar qualquer coisa; são conectados à internet, gerando enorme quantidade de dados; são utilizados para monitoramento do ambiente. Fonte: baseado em Schwab (2016). A verdade é que a 4ª Revolução Industrial não está modificando apenas os meios de produção, mas a forma como as pessoas se relacionam e, em uma visão a longo prazo, a forma como a própria identidade humana se inter-relaciona com a tecnologia. Schwab (2016) aponta que, no futuro, teremos tecnologias vestíveis (roupas tecnológicas capazes de monitorar o corpo físico e se adaptar – 15 aquecer ou resfriar, por exemplo); dispositivos implantados no corpo para monitoramento da saúde (em grande escala), óculos, lentes e fones de ouvidos capazes de levar olhos e orelhas à conexão com a internet; nuvem de dados com espaço infinito e gratuito para qualquer usuário; além de cidades inteligentes e cidades conectadas. É assim que se geram duas grandes questões: como preparar o ser humano do futuro? E de qual futuro estamos tratando? Fürh (2019) aponta a necessidade de desenvolver novas habilidades e competências nos indivíduos da nova era, estimulando a construção da autonomia, o desenvolvimento da criatividade e o exercício cada vez mais profundo da consciência crítica, capazes de aprender rapidamente e desenvolver novas habilidades prontamente. Trata-se de um grande desafio para a escola, pois esta precisará trabalhar com um currículo mais holístico, amplamente permeado por tecnologia de ponta, permitindo que os alunos possam extrapolar os limites da própria escola e criar métodos próprios de pesquisa e aprendizagem. A 4ª Revolução Industrial impõe uma revolução pedagógica, que se materializa na chamada Educação 4.0. 4. Compreendendo a Educação 4.0 Fürh (2019) aponta que o fenômeno da globalização trouxe em seu bojo o acesso às tecnologias da comunicação e da informação, onipresentes em qualquer espaço geográfico terrestre. Só esse fato já é o suficiente para compreender que a tecnologia fará cada vez mais parte dos processos educativos, exigindo, obviamente, uma nova relação do homem com a máquina. Porém, o desafio é ainda maior: o futuro não é mais desenhável, previsível ou moldado como antigamente. Hoje, a grande 16 preocupação da educação é formar os futuros cidadãos preparados para enfrentar contextos em mudança, incertos e multidimensionais. A Educação 4.0 é uma abordagem educacional executada a partir de um conjunto de estratégias didáticas, adequada para atender às necessidades impostas pela 4ª Revolução Industrial. Uma das novas tendências educacionais é conhecida como blended learning ou educação híbrida, que significa a mistura de métodos didáticos utilizados em aulas presenciais com métodos empregados em processos de aprendizagem on-line. Portanto, entende-se que a Educação 4.0 rompe com o espaço físico da escola e passa a ser executada em múltiplos locais de aprendizagem, com a participação de alunos empenhados, motivados, proativos e autônomos, capazes de criar percursos próprios de aprendizagem. Nesse modelo, professores, currículos e recursos tecnológicos estão a serviço do desenvolvimento das competências dos alunos, as quais são necessárias não apenas para que os alunos possam sobreviver à 4ª Revolução Industrial, mas para que possam intervir social e profissionalmente e criar um futuro melhor. Assim, os conteúdos são acessados conforme interesse dos alunos e com suporte dos professores, que vão orientando sobre a metodologia da pesquisa e as fontes de dados, intervindo na aquisição de conhecimentos e subsidiando a síntese das aprendizagens. Na Educação 4.0, parte-se da premissa de que é mais importante que os alunos aprendam a aprender, exercitando a capacidade de se adaptar, solucionar problemas, utilizar e ampliar a criatividade, do que apresentar conteúdos específicos, formatados e desarticulados com a realidade. Algumas premissas podem ser destacadas em relação à Educação 4.0: 1. Os estudantes terão papel central no processo de aprendizagem, sendo os verdadeiros protagonistas, e não mais 17 os professores ou os equipamentos, conforme tendências passadas. 2. A aprendizagem será personalizada, ou seja, os estudantes poderão decidir o que aprender, como e onde aprender, considerando seus valores pessoais, seus interesses, suas perspectivas, a comunidade onde habitam e sua visão de futuro. 3. Nesse sentido, os professores assumirão o papel de tutores, orientando o percurso e estimulando a aprendizagem e o avanço dos estudantes. 4. A aprendizagem ocorrerá em tempos e locais diversos, não havendo mais a necessidade de a escola ser a única fonte de aquisição de informações; não que a escola desaparecerá, mas haverá outras instituições parceiras e diversos cursos que comporão os espaços de aprendizagem. 5. A Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), as experiências e vivências, as visitas em campo, a interpretação e análise de dados, a busca por condições dignas de vida para todos os seres humanos, o cuidado com o planeta e a minimização dos impactos negativos que o homem gera na natureza serão o foco dos processos de ensino-aprendizagem. 6. Haverá larga produção de conteúdo, disponibilizados gratuitamente, divulgando conhecimentos e cultura de forma ampla e sem fronteiras. Ainda há muito a se discutir em relação à Educação 4.0 e às transformações que estão por ocorrer. Esta leitura inicial trouxe um panorama importante para compreendermos o momento atual e a perspectiva educacional que se introduz a partir das transformações da sociedade e das formas de produção. Percebe-se que o indivíduo da 4ª Revolução Industrial precisará desenvolver novas competências e novas formas de agir no mundo, função que a educação precisará 18 assumir, adentrando em aspectos e discussões que não eram muito associadas ao ambiente escolar, mas que agora urge assumir. Referências Bibliográficas FÜRH, R. C. Educação 4.0 nos impactos da quarta revolução industrial. Curitiba: Appris, 2019. SCHWAB, K. A quarta revolução industrial. São Paulo: Edipro, 2016. TESSARINI JUNIOR, G.; SALTORATO, P. Impactos da indústria4.0 na organização do trabalho: uma revisão sistemática da literatura. Revista Produção Online, Florianópolis, v. 18, n. 2, p. 743-769, 2018. Disponível em: https://producaoonline. org.br/rpo/article/viewFile/2967/1678. Acesso em: 3 jan. 2020. https://producaoonline.org.br/rpo/article/viewFile/2967/1678 https://producaoonline.org.br/rpo/article/viewFile/2967/1678 19 Educação 4.0: novas perspectivas educacionais e impactos no cotidiano escolar e corporativo Autoria: Luís Fernando Crespo Leitura crítica: Vanessa Moreira Crecci Objetivos • Entender que a realidade 4.0 impõe necessidades que devem ser pensadas pela educação. • Pensar a escola como instituição que ainda tem de se reformular para se adequar à realidade. • Refletir sobre o professor como de fundamental importância na mudança de eixo, do ensino para a aprendizagem. • Perceber que as possibilidades de inovação para a escola estão à mão, sendo necessário que se comece a mudança pelo pensamento dos envolvidos. • Olhar para a realidade da educação corporativa, que também pode se beneficiar com as novas propostas para a educação. 20 1. A educação na sociedade A educação é um dos elementos que constituem a base de um grupo social. Por meio dela, torna-se possível perceber quais os direcionamentos são escolhidos para delinear um determinado modelo de sociedade, a partir do modelo de ser humano entendido como objetivo do processo educativo. Desse modo, a educação se torna objeto de disputas sempre mais acirradas, seja no debate político ou no propriamente econômico (âmbitos que, muitas vezes, estão entrelaçados), pois ela sempre responde a interesses diversos. Ao olharmos para a história mais recente, para os últimos 20 ou 30 anos, por exemplo, é possível perceber o quanto foi mudada a concepção de educação para o Brasil: muitos projetos, ao se sucederem, foram apresentando novos elementos que pudessem melhorar a formação oferecida aos alunos, sempre tendo em mente a realização do que é previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei 9394/96) (BRASIL, 1996). Vale lembrar que mesmo essa lei sofreu diversas alterações, na tentativa de ser aperfeiçoada. De certo modo, então, nos mais de 20 anos, desde a LDB (1996), a prática educativa muda constantemente, mas nunca perdendo de vista o que é previsto pela legislação; a cada ano, novas propostas pedagógicas são pensadas, testadas, debatidas etc., a fim de fazer com que essa prática não estacione em um tempo, mas possa acompanhar os avanços, principalmente da sociedade tecnológica. É importante que se entenda a necessidade de que a educação acompanhe os avanços, porém sem ser subserviente aos ditames do âmbito tecnológico; educação e tecnologia devem ser âmbitos que colaboram um com o outro. A indústria é subjugada pela economia, mas a educação não pode ser subjugada, nem pelo mundo da produção nem pelo mundo da economia. 21 A partir disso, vem a reflexão sobre uma possível Educação 4.0: qual novo olhar podemos lançar para a educação? O que podemos entender com a terminologia “4.0” na prática educativa? Que modelo de escola temos e como ele é afetado? É o que veremos nesta unidade temática. 1.1 A educação na perspectiva do mundo 4.0 Marcando de maneira singular o desenvolvimento das sociedades ao longo do tempo, de modo especial a partir do final da Idade Média (séc. XIV), a ciência começa a atuar de modo mais direto no mundo, permitindo ao ser humano a transformação da natureza dirigida por seus anseios de realização. Por meio das diferentes técnicas (conhecimentos sobre como atuar), a ciência desenvolveu tecnologias (aplicação dos conhecimentos), que foram modificando o mundo. Ao longo dos séculos, as sociedades humanas foram se adaptando ao sempre novo mundo que surgia como fruto da aplicação das próprias tecnologias que elas desenvolviam. Tais eras de desenvolvimento são entendidas como gerações, ou revoluções, que, por sua vez, foram delimitadas a partir do tipo de novidade tecnológica utilizada. O termo “4.0” se refere à chamada 4ª Revolução Industrial; estamos pensando, então, em uma educação para o mundo da Indústria 4.0. É pensando na possibilidade de novos modos de ensinar e aprender que surge o conceito de Educação 4.0. A sociedade como um todo se aproveita daquilo que é fruto dos avanços tecnológicos, os quais, diretamente, vão modificando o cotidiano de todas as pessoas. Pensar a Educação 4.0 é refletir sobre as novas possibilidades para a educação a fim de que ela corresponda às necessidades da sociedade. A escola é uma das poucas instituições que “mantém uma rara e enorme capacidade de sobrevivência, apesar de suas múltiplas disfunções e de sempre ter ido a reboque das mudanças sociais, tecnológicas e culturais” (CARBONELL, 2002, p. 15). Ao se tratar da sociedade tecnológica, 22 a educação não pode estar alheia aos seus desenvolvimentos, pressupostos e necessidades. É importante ressaltar que se trata de uma transformação que deve ocorrer, primeiramente, no pensamento de quem trabalha com educação, pois é preciso um movimento de transformação, que não é rápido nem fácil. Isso se justifica, pois qualquer mudança traz certa insegurança aos envolvidos. Imaginemos os professores que têm atuado de uma certa maneira há bom tempo e, de repente, veem-se na obrigação de mudar. Sabemos que não é fácil e que pode haver resistência. Para o mundo da Indústria 4.0, a educação é também um instrumento que deve ser responsável para que seja possível a manutenção do 4.0. Isso significa que é necessário preparar as pessoas para que possam atuar profissionalmente segundo determinadas exigências, mas, acima de tudo, que possam tomar parte do amplo processo de inovação dentro da sociedade. 1.2 Da educação para a Educação 4.0 “Educação é educação, não há muito que mudar!”, essa pode ser a opinião de muitos professores quando se deparam com novas propostas sobre o que seja educar. No fundo, há uma raiz verdadeira em tal ideia, pois a concepção do que seja a educação guarda um centro que pouco se transforma: educar é dar condições para que habilidades – intelectuais e práticas – sejam desenvolvidas a fim de que os indivíduos em formação tenham condições de lidar com as necessidades que a vida social apresenta, respondendo de determinado modo às necessidades da sociedade. Por ser bem geral, essa ideia não está errada, mas, a partir dela, podemos pensar a relação entre o fazer educativo e aquilo que são as situações que o contexto impõe aos indivíduos. 23 A pergunta que sempre deve aparecer é “o que significa educar hoje?”. Ao longo do tempo, as comunidades humanas perceberam a necessidade de que alguns conhecimentos não fossem perdidos, entre eles conteúdos teóricos, técnicos, culturais etc. Podemos pensar que a própria identidade de um grupo humano depende de certos tipos de conhecimentos partilhados e preservados. Desse modo, a educação serve como meio pelo qual tais conhecimentos são passados das gerações mais velhas para as mais novas, fazendo com que estas assimilem um traço identitário e possam assegurar a realização de determinados valores. Durkheim (1978), logo no início de sua obra, já indicara a relação: A educação é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontrem ainda preparadas para a visa social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destine. (DURKHEIM, 1978, p. 41) Ainda que haja diferenças culturais, a sociedade globalizada fez com que houvesse um entrelaçamento de conteúdos, disponibilizando para a humanidade aquilo que era próprio de apenas um grupo. Assim, a educação acaba recebendo influência de diferentes localidades e situações. Além disso, na sociedade tecnológica, são lançados novos desafios que, por sua vez, levam-nosa pensar em novos modos de realizar a educação. Seguindo o desenvolvimento pelo qual a sociedade tem passado – velozmente, por conta da tecnologia –, diversos ambientes mudaram (a fábrica, a empresa etc.), mas a educação ainda segue modos de fazer que são os mesmos de séculos atrás. Isso mostra um descompasso: estando em uma mesma sociedade, a educação não caminha na mesma velocidade que os outros âmbitos da vida cotidiana. Nesse sentido, a educação perde. 24 O mundo muda velozmente e a educação deve, a todo momento, lidar com algo novo: um modelo novo, uma sociedade nova, um ser humano novo. E esse novo é ultrapassado sempre, ou seja, não é mais algo sólido que pode ser apreendido totalmente. Seguindo o pensamento de Bauman (2001), poderíamos dizer que tudo se torna líquido. Hoje, os padrões e configurações não são mais “dados, e menos ainda “auto-evidentes” eles são muitos, chocando-se entre si e contradizendo-se em seus comandos conflitantes, de tal forma que todos e cada um foram desprovidos de boa parte de seus poderes de coercitivamente compelir e restringir. E eles mudaram de natureza e foram reclassificados de acordo: como itens no inventário das tarefas individuais (BAUMAN, 2001, p. 7). A Educação 4.0 tem como objetivo principal dar condições para que os alunos atuem nessa sociedade tecnológica, conseguindo transformar ideias em coisas reais. Não se trata, porém, de simplesmente passar a ensinar o uso das tecnologias, pois manuais amplamente disponíveis (textos, vídeos etc.) dariam conta de fazer isso. Para a educação, resta a necessidade de formar indivíduos que saibam ler a realidade 4.0 e desenvolvam as diferentes e novas habilidades necessárias. Educar é trabalhar com o ser humano como um todo; a educação deve ensinar novos modos de relação humana que são importantes para o contexto 4.0. De certo modo, um processo já foi iniciado com a inserção dos alunos no mundo digital, agora é preciso que a educação se utilize disso e se aperfeiçoe. “A conduta desses jovens em atividades diárias em seus computadores muda também a maneira como agem quando não estão conectados” (KENSKI, 2015, p. 115-116). A Indústria 4.0 é a tentativa de fazer com que a produção seja adequada, em velocidade e qualidade, para o mercado, utilizando-se de todo o aparato tecnológico. A Educação 4.0, porém, não pode ser uma resposta ao mercado, já que a educação não pode ser um simples produto elaborado para ser oferecido a um consumidor. Ela é algo que a sociedade da indústria 4.0 exige; não é educação para o mercado, é 25 educação para novas habilidades e competências. Os trabalhos em grupo e colaborativos são de fundamental importância nesse sentido. Porém, para que essa transformação aconteça, o formato da escola deve ser repensado: os modelos formais ainda são tradicionais, presos a contextos que não existem mais. A partir dos pressupostos indicados, vejamos alguns pontos importantes a serem levados em consideração para o entendimento do novo contexto de educação: a. Complexidade Conhecimentos estanques, cada um em uma disciplina diferente, não conseguem dar conta de uma realidade que, cada vez mais, é pensada em sua complexidade. Significa que conhecimentos isolados não respondem às perguntas cada vez mais complexas. Pensar a complexidade do contexto atual leva à necessidade de que os conhecimentos se entrecruzem para que surjam novas elaborações teóricas e suas consequências práticas. No âmbito de uma empresa, por exemplo, há equipes multidisciplinares que atuam nos mesmos projetos, com cada pessoa dando sua contribuição a partir de um ponto de vista específico de sua formação. Aumentando a velocidade na divulgação do conhecimento, aumenta a consciência de que o que se aprende é pouco e rapidamente se torna obsoleto. Assim, nenhum estudante pode ter a pretensão de dar conta dos problemas que aparecerão em seu mundo de trabalho. Assim, é necessário entender que as soluções virão quando a elaboração de respostas for colaborativa, já que cada envolvido consegue entender apenas parte do problema (ninguém consegue estudar tudo). O conhecimento técnico pode ser muito útil, mas, nesse contexto, é insuficiente para as necessidades. 26 Pensemos um exemplo: antigamente, para ser um bom professor, era necessário que se tivesse feito um bom curso de sua formação, em uma boa instituição; na atualidade, e principalmente na realidade 4.0, um professor que fica apenas em sua área de formação pode atuar, mas corre sério risco de ser mediano. O professor mais completo e mais apto para atuar é aquele que, além de sua formação específica, tem conhecimentos de tecnologia, de psicologia, de neurociências etc. Tudo isso, porque o aluno vive em uma realidade complexa que o bombardeia com estímulos diversos que o fazem mais complexo. Assim, além de buscar outros conhecimentos, o professor deverá aprender a se relacionar com equipes cada vez mais multidisciplinares (as várias áreas trabalhando juntas, cada uma em seu caminho) e interdisciplinares (os caminhos das diferentes áreas se entrecruzam). b. Criticidade De forma singular, na Educação 4.0, o aluno deve aprender a criticidade. É fácil de entender este ponto: todo conhecimento teórico necessário para o aluno está à mão no mundo virtual; porém, junto com esse conteúdo, há uma quantidade incomensurável de informações desnecessárias ou mesmo não verdadeiras. O aluno precisa aprender, então, a ser crítico diante de tudo o que lhe aparece, e essa criticidade é algo que se aprende e desenvolve quando acompanhado por professores que sabem dirigir para tal habilidade. Significa que o aluno deve aprender a selecionar aquilo que é verdadeiro e importante para determinado propósito; nessa ação, ele será crítico diante daquilo que ele já conhece e precisa ser revisto. Diante da quantidade de conteúdo que todos os dias é lançada para o aluno, uma escolha deve ser feita a partir de parâmetros próprios para um conjunto de objetivos. Ser crítico é não aceitar sem antes avaliar. c. Lidar com problemas Tradicionalmente, o que aprendemos é que um problema aparece e tem de ser resolvido, com resposta clara e certeira; diante disso, considera- 27 se que um problema não solucionado implica fracasso daqueles que são responsáveis por ele. Na Educação 4.0, a postura diante do problema é outra. Nem todo problema tem solução, ou fácil solução, dentro de um contexto complexo, e a não resolução de um problema não significa fracasso, pois muito se é possível aprender com situações de problema. Assim, o mais importante é aprender a lidar com os problemas com análises mais completas, trazendo os diferentes olhares dos sujeitos envolvidos. Um problema indica elementos da situação que podem estar ocultos, que, ao aparecerem, permitem um conhecimento maior do processo como um todo. d. Colaboração A tecnologia digital desenvolveu ferramentas colaborativas que estão cada vez mais maleáveis e moldáveis às diferentes necessidades da aprendizagem. Por exemplo, os tradicionais softwares para produção de textos podem ser partilhados e acessados por diferentes pessoas ao mesmo tempo; as discussões feitas em fóruns apresentam cada vez mais recursos de compartilhamento; e as reuniões realizadas por videoconferências estão cada vez mais aperfeiçoadas. Desse modo, se a colaboração ainda não acontece, é preciso encontrar os pontos exatos de entrave. Depois de vencidos os primeiros esforços do início de utilização das novas ferramentas, o uso contínuo delas fará com que se aperfeiçoe a propria usabilidade; dizendo de outro modo, significa entender que o uso inicial pode ser igual para qualquer realidade, porém é preciso que haja uma moldagem a partir das necessidades específicas, e apenas o uso contínuo consegue alcançar isso. e. Metodologias ativas e inovadoras Diversas ferramentas e metodologias podem ser pensadas para tratar de problemas e com eles aprender, por exemplo, a aprendizagem baseadaem problemas (problem based learning), a aprendizagem baseada em projetos (project based learning), o design thinking, a sala de 28 aula invertida (flipped classroom) etc. São inúmeras as metodologias que podem ser adotadas, mas o importante diante de cada uma delas é ter em mente que “[a] aprendizagem mais profunda requer espaços de prática frequentes (aprender fazendo) e de ambientes ricos em oportunidades. Por isso, é importante o estímulo multisensorial e a valorização dos conhecimentos prévios dos estudantes para ‘ancorar’ os novos conhecimentos”. (BACICH; MORAN, 2018, p. 3) Mesmo que o esforço maior seja para que os alunos desenvolvam cada vez mais autonomia, o papel do professor continua de suma importância, mesmo que não esteja mais no centro. Toda a responsabilidade pelo processo passa pela ação daquele que ensina. Umas das transformações necessárias é, então, a mudança de concepção do que seja propriamente educar. 1.3 Que escola temos e que escola queremos? Ao se falar em inovação na educação, o primeiro questionamento a ser feito se refere ao entendimento do que significa inovar nesse âmbito. De maneira ingênua e precipitada, vem à mente a ideia de ser preciso atualizar a educação, trazendo-a para os modos de fazer e conhecer que vigoram no presente. De modo simples e direto, acredita-se que bastaria aplicar as ferramentas tecnológicas no fazer cotidiano, mas não é isso. A inovação é um processo de cuidado, primeiramente, com o conhecimento conservado: é com o que já se tem que se torna possível dar origem a novos conhecimentos. Além disso, uma escola inovadora é aquela que cria um modo de fazer que, por sua vez, gera inovação, ou seja, ela produz e reproduz inovação. A ideia de Saviani (1995, p. 29-30) é clara ao indicar que “inovar, em sentido próprio, será colocar a educação a serviço de novas finalidades, vale dizer, a serviço da mudança estrutural da sociedade”. A relação 29 é dialética, pois a educação transforma a realidade, que por sua vez a modifica. A tentativa de perpetuar o modelo tradicional pouco alcança, já que ele se sustenta em um determinado contexto. Uma pergunta a se fazer aqui é sobre quais são as novas finalidades que a realidade impõe para a educação. Há muita discussão sobre os modelos de escola que ainda vigoram, principalmente na crítica de um modelo que ainda privilegia unicamente o ensino, sem voltar a preocupação para a aprendizagem. O papel central do professor ainda é marcado em diferentes realidades como o único modo de realizar o ato educativo. Quem acredita em tal modelo, muitas vezes deixa passar a realidade de uma escola que caminha cada vez mais afastada da realidade dos alunos. Ao invés de dar conta de um conteúdo que “começa e termina” com uma disciplina, a nova escola tem como objetivo principal alcançar a aprendizagem; as teorias devem ser efetivamente apreendidas para que o aluno tenha condições de ir para uma prática social cada vez mais aprimorada. Sempre mais conectado, esse aluno enfrentará uma realidade sem se perder diante do tanto que o mundo tecnológico oferece. Aqui, o papel do professor na escola é o de ser auxílio, para que os melhores caminhos sejam conhecidos pelos alunos, e isso é feito não pela simples apresentação de tais caminhos, mas pelo ensino de um modo de pensar mais abrangente. Para todas essas necessidades, o professor tem muito trabalho, mas isso não é diferente do que ele enfrenta cotidianamente em sua atividade. Dizendo de outro modo, é entender que o professor já é desafiado pela realidade todos os dias e, de um modo ou outro, já desenvolve estratégias que reformulam seu fazer. Em sala de aula, os alunos estão do modo como a escola tradicional determina apenas por fora; seus corpos estão ali por obrigação e obediência, mas suas mentes e seu modo de aprender não são mais como antigamente. Significa que não 30 apenas seus celulares estão conectados, mas que seus cérebros estão interconectados de outro modo com a realidade, por meio da tecnologia. A função dos professores é criar condições para provocar uma reação fluida e significativa com o conhecimento mediante o máximo desenvolvimento das potencialidade (sic.) dos alunos. Esse trabalho de orientação e acompanhamento para que o aluno vá se familiarizando com a aprendizagem e descubra seu sentido está muito presente nas pedagogias inovadoras. (CARBONELL, 2002, p.110) Já que os alunos estão inseridos em uma realidade que não é a da escola, quando esta tenta se atualizar e inovar, tem de tomar o cuidado de não simplesmente inserir o uso das tecnologias em seu fazer diário, ela deve se transformar na concepção que tem de si própria. A escola tem de se repensar: corpo gestor, docente e discente devem ser, aos poucos, transformados de dentro para fora. O mercado de trabalho impõe exigências às quais a escola ainda não consegue responder satisfatoriamente; podem ocorrer casos em que alunos sejam certificados, mas sem plenas condições de assumir postos de trabalho de maneira satisfatória. Vale ressaltar que, a cada dia, a realidade 4.0 faz com que diversas profissões se tornem obsoletas. 1.4 E o mundo corporativo? A preocupação com a formação continuada de seus colaboradores tem feito com que as instituições invistam em educação corporativa. Buscando responder diretamente às exigências do mercado, foi necessário adequar a rotina de trabalho das empresas para que os colaboradores tivessem acesso a um aprendizado não apenas técnico, mas das habilidades apresentadas anteriormente. Inserida de maneira singular no âmbito da Indústria 4.0, a empresa tem de garantir a formação de um colaborador que esteja não apenas pronto para atuar em seu segmento específico, mas que esteja pronto para 31 aprender sempre mais de maneira integral, de maneira não restritiva, pois é na contribuição do grupo de colaboradores que o conhecimento adquirido pela empresa se mostra e se fortalece. A área de Treinamento e Desenvolvimento das corporações assume grande responsabilidade nesse ponto. Diferentemente do que sempre foi realizado com os treinamentos específicos dentro de uma determinada necessidade, a nova realidade exige que as empresas tenham um processo contínuo de formação, principalmente levando os aprendizes a não dependerem dos instrutores, mas que possam buscar o conhecimento e aprender de forma mais autônoma. Para tanto, as ferramentas e metodologias adotadas devem ser adequadas para um novo modo de aprender. A aprendizagem carrega uma visão diferenciada. Ela é mais profunda e, em parte, absorve o treinamento. Pode ser considerada um processo de mudança de comportamento, algo que pode ser obtido por meio de experiências construídas por uma soma de fatores diferentes (emocionais, neurológicos, relacionais e influências do meio ambiente). Nas condições modernas, o aluno é posto como centro do processo de ensino- aprendizagem e o docente passa a ser visto como coautor. (MUNHOZ, 2015, p. 133) Fazer com que alguém aprenda algo é, dessa forma, mais significativo que simplesmente treinar. Quando o colaborador aprende a aprender, ele transforma a si próprio. Trata-se de processo que não é rápido nem automático, pois ele se desliga da ideia que sempre teve de que era necessário frequentar uma aula ou participar de um treinamento O que significa “aprender a aprender”? Essa ideia não é algo novo no âmbito da educação, mas talvez seja a maior novidade no âmbito corporativo. A aprendizagem não acontece apenas quando o aprendiz está no momento reservado para se concentrar na aquisição de um conteúdo, com um livro ou ao assistir a um treinamento, principalmente quando pensamos que os nativos digitais (que já nasceram no mundo 32 tecnológico do século XXI) já estão trabalhando nas nossas empresas. Quando trabalham, seu modo de pensar é a extensão do modo como pensam quando estão no ambiente virtual – a agilidade, o jogo, o estabelecimento de relações etc. Um dadoimportante, no entanto, vem chamar mais ainda a atenção dos educadores: é que esses jovens jogadores – os hard players, como gostam de se chamar – desenvolvem novas habilidades e raciocínios, considerados valiosos em determinados tipos de ações profissionais. O primeiro deles é o espírito de equipe e o desenvolvimento de habilidades para levar um time à vitória. Desenvolvimento de estratégias, ambição coletiva, definição de papéis, entrosamento, respeito aos parceiros, comunicação e regras de bom comportamento em rede (netiqueta) são algumas das aprendizagens que esses jogadores incorporam e que são fatores importantes para seu desempenho em atividades profissionais. Isso, além do fato, é claro, da fluência digital necessária tanto para jogar quando para trabalhar. (KENSKI, 2015, p. 117) Por que, então, não utilizar a gamificação para a aprendizagem no mundo corporativo? O aprender se dá por meio de questões que suscitam curiosidade e criatividade, levando à busca de caminhos para a aquisição de novos conhecimentos e novas percepções para a resolução de problemas. Quais metodologias são mais adequadas para determinada empresa? Eis o desafio que cada uma deve assumir para encontrar o melhor caminho. No caso da educação, empresas desenvolvedoras de tecnologias de ensino, caso da Geekie, defendem o potencial da gamificação para motivar os alunos a resolver problemas com autonomia e criatividade, em ambientes dinâmicos e interativos. Esse processo de gamificação, com variadas narrativas, cenários e personagens, estimularia os estudantes a combinar recursos e habilidades para dar propósito às informações recebidas, usando-as para superar obstáculos encontrados na aprendizagem. (CAMPOS; LASTORIA, 2020) 33 “Autonomia e criatividade, em ambientes dinâmicos e interativos”: eis algo que pode mudar o modo como alguns setores do ambiente corporativo trabalham. É claro que os problemas são sempre novos e exigem novas soluções, mas, antes, é preciso que o professional adote uma nova postura diante deles e do modo como costuma agir para encontrar soluções. Concluindo, o objetivo central desta unidade temática foi o de perceber que o mundo da educação ainda não sabe se portar adequadamente diante da realidade 4.0. Porém, vimos que muitas tecnologias e ferramentas já existem, indicando, então, que todos os envolvidos com processos educativos devem se dedicar a conhecer a aplicabilidade delas e a fazer a transformação acontecer na educação do mesmo modo como aconteceu na indústria. É claro, não podemos nos esquecer de que ainda há uma distância grande entre a tecnologia e a vida cotidiana em algumas realidades; assim, antes de aplicar, é preciso que a tecnologia chegue a todos os lugares. Referências Bibliográficas BACICH, Lilian; MORAN, José (Orgs.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 2001. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l9394.htm. Acesso em: 23 mar. 2020. CAMPOS, Luis Fernando Altenfelder de Arruda; LASTORIA, Luiz Antônio Calmon Nabuco. Semiformação e inteligência artificial no ensino. Pro-Posições, Campinas, v. 31, 2020. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pp/v31/1980-6248-pp- 31-e20180105.pdf. Acesso em: 9 fev. 2020. CARBONELL, Jaume. A Aventura de inovar: a mudança na escola. Porto Alegre: Artmed Editora. 2002. DURKHEIM, Émile. Educação e sociologia. São Paulo: Melhoramentos, 1978. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm http://www.scielo.br/pdf/pp/v31/1980-6248-pp-31-e20180105.pdf http://www.scielo.br/pdf/pp/v31/1980-6248-pp-31-e20180105.pdf 34 KENSKI, Vani Moreira. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. Campinas: Papirus, 2015. MUNHOZ, Antonio Siemsen. Educação corporativa: desafio para o século XXI. Curitiba: Intersaberes, 2015. SACOMANO, José Benedito (Org.) et al. Indústria 4.0. São Paulo: Blucher, 2018. SAVIANI, Dermeval. A filosofia da educação e o problema da inovação em educação. In: GARCIA, Walter Esteves (coord.). Inovação educacional no Brasil: problemas e perspectivas. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 1995. p. 17-32. 35 Educação 4.0: desafios e cuidados diante da inovação tecnológica Autoria: Luís Fernando Crespo Leitura crítica: Vanessa Moreira Crecci Objetivos • Apresentar o novo contexto de educação na realidade 4.0. • Entender que é necessário um novo aprendizado do professor e do aluno. • Entender de que tipo são os desafios para fazer acontecer a Educação 4.0. • Relacionar os desafios aos cuidados que devem ser considerados. 36 1. O mundo da inovação tecnológica O mundo está configurado de tal modo que não é possível pensá- lo sem a tecnologia e as consequências de seu uso. É interessante observar que aquelas pessoas que já nascem em tal realidade sequer conseguem imaginar uma realidade anterior, que não tivesse à disposição todos os instrumentos e dispositivos tecnológicos que conhecemos. Significa entender que o mundo é moldado por tudo aquilo que é depositado nele e, aos poucos, tudo o que nele está passando a ser considerado normal. Porém, ao se olhar para décadas anteriores e pensar comparativamente, é possível perceber que a inovação tecnológica traz desafios, seja na consideração de sua aplicação ou nas consequências que requerem cuidado específico, por conta da mudança que trazem e do modo como a realizam. Na Educação 4.0, alguns pontos devem ser levantados, por exemplo, sobre o quanto a tecnologia pode ajudar ou prejudicar o aprendizado – é tecnologia para a educação ou tecnologia pela tecnologia? Muitos recursos são disponibilizados, mas quanto deles utilizar para que a aula não seja esfacelada em diferentes ações sem o devido trabalho com o conteúdo? A utilização de softwares cada vez mais avançados pode levar o aluno a estudar e aprender menos? A Educação 4.0 colabora com a melhoria da sociedade ou pode agravar a separação social? Trata-se de uma educação para todos ou de uma cada vez mais fechada para um grupo? São muitas as questões que podem ser levantadas, mas são desafios que devem levar a respostas práticas, na realização do ato educativo. Quando são identificados desafios, de maneira direta, temos de pensar sobre os cuidados que devemos ter para que a realização da educação mediada pelas novas pedagogias e permeada pela 37 tecnologia constitua aprimoramento das práticas educativas novas e dos resultados benéficos para toda a sociedade. Vamos pensar mais sobre esses desafios e cuidados! 1.1 Questão de novo aprendizado O mundo 4.0 é marcado, entre muitas coisas, pela velocidade na evolução das ferramentas tecnológicas. A chamada 4ª Revolução Industrial não conta apenas com um novo tipo de força para agir no mundo (energia a vapor, energia elétrica ou o trabalho com dados), mas conta com a velocidade na divulgação e nas trocas que ocorrem entre sujeitos das mais diversas áreas. Além disso, conta com outro tipo de inteligência, que serve para a modificação das próprias máquinas, que é a Inteligência Artificial. Primeiro, vivemos a era da informação, mas chegamos à do conhecimento, quando então o conhecimento é possibilitado (acessível) a todas as pessoas, que, por sua vez, estão autorizadas à produção de outros conhecimentos. Vivenciadas em grupos, com muitas interações e troca de informações, essas tecnologias não se encontram mais como espaços de ficção, mas de realidades, ainda que virtuais. Em alguns casos, pelas próprias condições em que são desenvolvidas, oferecem oportunidades de maior e melhor exploração e vivência do que os espaços concretos a que se referem. Suas especificidades nos possibilitam o registro, o acompanhamento (antes-durante-depois), a interação com outros meios, o enviode informações atualizadas e o recebimento de feedback imediato de outras pessoas que podem estar nos mais diferenciados locais do planeta (KENSKI, 2013, p. 67). Aos poucos, a tecnologia foi chegando a todos os pontos do país, embora haja recantos que não têm suas necessidades tecnológicas supridas. O que colabora para o desenvolvimento nesse aspecto é o setor industrial requerer tecnologia de ponta; assim, para que uma indústria seja instalada, toda uma infraestrutura tecnológica deve ser 38 preparada. Assim, ao se considerar que muitas empresas se instalam em áreas menos privilegiadas em busca de benefícios, acabam por auxiliar no desenvolvimento daquela localidade. E a educação? Ela está permeando os processos de aprendizagem em todos os âmbitos, seja quando as escolas estão preparando um novo indivíduo para as novas necessidades sociais, seja quando as faculdades estão preparando os novos profissionais para as novas exigências do trabalho, seja quando as empresas formam seus colaboradores por meio de formação continuada. É preciso aprender a agir no mundo, pois o conhecimento já está acessível a todas as pessoas. É preciso pensar um novo modo de realizar a educação, o que significa repensar: • O instrumental tecnológico e o ensino para que professores e alunos saibam e consigam se beneficiar dele; trata-se de aprendizado técnico. • Amparo pedagógico, entendendo que não se pode confiar em processos educativos que se façam “do nada”, sem fundamento. Tendo aprendido a utilizar a tecnologia, tanto professor como aluno precisam de um amparo sobre como devem atuar para que a aprendizagem ocorra. Significa que o professor deve rever suas posturas e entender que não se trata de um tipo de algo superficial e passageiro; a educação tradicional é cada vez mais questionada e vai cedendo espaço para as novas possibilidades do ato educativo. Porém, o aluno também, habituado a processos tradicionais de educação, tem de rever sua postura e perceber que o que se exige dele é, agora, mais que simplesmente estar em sala de aula e esperar que o professor faça o aprendizado acontecer por meio de um ensino unilateral. 39 O novo aluno ganha novo espaço na consideração e na própria ação. Ele passa a ser considerado de modo diverso: não mais é recebido como parte de um público homogêneo que aprende de um único modo. O aluno é considerado em sua singularidade e, assim, passa a ter à disposição diferentes caminhos para seguir buscando a aprendizagem. Como exemplo, pensemos o trabalho com um texto. Há alguns anos, não havia o que se pensar sobre o modo como um aluno aprende a partir de um texto escrito. Porém, agora essa ideia se apresenta de modo diverso, e o professor deve questionar: de quais modos esse conteúdo pode ser apresentado ao aluno? Ele pode ser trabalhado na leitura habitual, pode ser transformado em esquema de ideias, pode ser apresentado em mapa conceitual, pode ter como apoio um podcast do professor e assim por diante. Assim, o aluno recebe atenção diferenciada, mas algo é exigido em contrapartida. O aluno não mais é aceito em atitude passiva, ele deve agir mais que antes. Em primeiro lugar, espera-se que o aluno busque o conhecimento do modo como entende ser melhor para si (tendo em mente que deve responder à organização do conteúdo escolar), e ele deve estar atento para saber se realmente alcançou o conhecimento esperado. Para isso, será necessário que ele trabalhe mais com o conteúdo, seja preparando apresentações e/ou materiais para entrega; seja trabalhando colaborativamente, uma vez que há atividades que apenas podem ser realizadas no coletivo; e assim por diante. 2. Âmbitos de desafios Os desafios a serem enfrentados não podem ser resumidos a apenas uma ideia, já que tratam de questões diferentes que se ancoram em âmbitos diversos. Desse modo, o que tentamos fazer aqui foi reunir 40 os desafios em cinco ideias principais. Essas ideias não especificam todos os desafios que podem aparecer, já que são reflexões em torno de certos problemas, mas é possível vislumbrar que tipos de situações podem advir deles. Inicialmente, pense sobre as questões levantadas no trecho abaixo: Os executivos apontam que é preciso ter cuidado durante a inserção da tecnologia no contexto educacional para não causar impactos negativos no processo de formação, pois algumas delas possuem um caráter mais comercial que pedagógico. Para o futuro, é almejado a criação de um ecossistema que utilize dos dispositivos tecnológicos para gerar engajamento e transformar a figura do professor em um facilitador, que entenda a realidade de cada aluno e leve para a sala de aula ferramentas que permitam o desenvolvimento de habilidades sócio-emocionais (SANTANA, 2020, online). Mesmo que a tecnologia se apresente como possibilidade para inúmeros benefícios, há que se pensar nas necessidades de base para que ela possa assim se efetivar. Vejamos! 2.1 Infraestrutura e ferramentas Tecnologia é diferente de técnica. Enquanto a técnica se refere a um tipo de conhecimento, modo específico de atuar e modificar o mundo, a tecnologia se volta para âmbito mais prático de aplicação de conjunto de técnicas com a finalidade de atingir um fim específico. Inserir a tecnologia no âmbito da educação não pode ser, simplesmente, adotar um conjunto de tecnologias e tentar continuar o que se fazia antes, apenas de modo “mais incrementado”. É preciso mudar a concepção de educação, pois ter em mente as mesmas ideias de sempre não permite que se faça uso da tecnologia de modo efetivo em todas as suas possibilidades. Estamos falando de outro tipo de educação, não só de incrementos. 41 Assim, para que os projetos possam se realizar, é necessária uma nova estrutura: • Espacial: considerando que a educação tradicional cabia sempre dentro de um único espaço formatado para ela, o novo fazer exige a expansão do espaço para que novos ambientes permitam novos fazeres. Por exemplo, ao se trabalhar com projetos, o espaço da sala de aula não é suficiente para que as equipes discutam e trabalhem. É importante deixar claro que a mudança de espaço não se refere apenas a novos espaços, mas sim a um novo modo de utilizá-los. • Tecnológica: a pesquisa sobre as ferramentas deve ocorrer sempre de forma colaborativa, trazendo para a discussão os profissionais da área tecnológica, que conhecem sua usabilidade e seus objetivos, e os profissionais da educação, que sabem o que será necessário como educação. • Pedagógica: a pedagogia é um vasto campo de conhecimento que se atualiza constantemente, tentando dar conta das novas realidades que se apresentam. Entre as diversas teorias, é preciso encontrar qual delas melhor serviria como fundamentação. Como exemplo temos: ao considerarmos o contexto de inovação, construção do conhecimento e um processo educativo voltado para as especificidades do aluno, pode-se pensar o construtivismo como uma teoria com condições de abarcar muitas das especificidades da Educação 4.0. • Humana: pouco adianta a preocupação com os pontos indicados anteriormente, se não voltamos a atenção para os professores e demais profissionais envolvidos. Um projeto novo deve ser assumido pela comunidade educadora, mas ela precisa entender e aprender a trabalhar nele. Há diferentes ferramentas e, por isso, é preciso entender as necessidades e, a partir delas, buscar as que mais podem se adequar. 42 Por conta disso, é de suma importância haver uma equipe de suporte na área de T.I. (tecnologia da informação), que pode lidar e moldar a tecnologia para determinadas necessidades, como a criação de um ambiente virtual de aprendizagem. Vale lembrar que há adequação dentro de certos limites, por isso a importância de uma equipe que trabalhe com o usuário final (coordenador, professor, aluno). 2.2 Atualização e ressignificação da atuação do professor Como indicado anteriormente, o ponto central no processo educativo de décadas atrás era oconhecimento solidificado nos livros, com o professor como o único conhecedor e transmissor do conteúdo, traduzindo o conhecimento para a realidade do aluno. Era quando o professor conquistava seu respeito por conta do conhecimento que tinha do conteúdo, porém, agora, é necessário que ele atue de maneira diferenciada. Já que todo o conhecimento está à mão dos alunos em seus computadores, tablets e celulares, esse professor deve ressignificar seu fazer, pois ele ainda é importante e necessário, mas agora não como o único detentor e transmissor do conteúdo. Ele assume um novo papel, que é o de provocar e instigar o aluno para o conhecimento. Porém, como dar conta disso, diante das tecnologias que mudam constantemente? A palavra-chave é atualização. O professor que não se atualiza fica para trás rapidamente. Além disso, tão importante ou mais que a atualização em sua respectiva área de atuação, é a atualização em tecnologia, mais especificamente nas tecnologias voltadas para a educação, tecnologias digitais e tecnologias pedagógicas. Exige-se do novo profissional que ele tenha conhecimento (o mínimo necessário) das diversas áreas relacionadas ao novo fazer: tecnologia (softwares), administração (por exemplo, o trabalho com projetos já é realizado nas empresas) e pedagógicos (especialmente relacionados às metodologias chamadas “ativas”). 43 A valorização do que é novo, mais potente ou, simplesmente, diferente, já faz parte das concepções culturais e sociais presentes na atualidade. Queremos algo que potencialize nossa capacidade de interação, comunicação, acesso e armazenamento das informações. Na atualidade, construímos nossas relações em meio aos mais variados artefatos tecnológicos. A cultura contemporânea está ligada à ideia da interatividade, da interconexão e da inter-relação entre as pessoas, e entre essas e os mais diversos espaços virtuais de produção e disponibilização das informações. (KENSKI, 2013, p. 62) É claro que essa reformulação que o professor deve fazer de si não é algo fácil. Trata-se de um processo que deve levá-lo do novo aprendizado à nova atuação. A ideia de simplesmente “aprender na prática” não cabe aqui, pois a prática leva certo tempo para ensinar e as rápidas mudanças exigem agilidade. O novo professor é aquele que está “antenado” àquilo que ocorre no mundo da tecnologia e da educação; é aquele que anseia e assume os desafios diante da novidade. 2.3 O engajamento do aluno Engajar é conquistar para um compromisso, é levar a assumir uma responsabilidade. Nesse sentido, o desafio se refere à necessidade de que o professor leve o aluno a assumir algo de seu processo de aprendizagem. Mesmo que a realidade tenha mudado muito, principalmente nos últimos anos, ainda há um grande número de alunos que pensa que deve se portar como antigamente, apenas estando presente fisicamente nas aulas e acreditando que a aprendizagem é consequência natural do ensino. Por conta do contexto citado, temos de lidar com hábitos que os alunos trazem e que são prejudiciais ao aprendizado significativo. Talvez o principal seja do aluno passivo e copista, aquele que não busca agir, mas receber; que não produz, mas copia. Tais hábitos vêm de uma história, tendo o aluno entendido que poderia ser assim, e assim se fez. Trata- 44 se, então, de tentar mudar algo que já vem sedimentado, devendo o engajamento ser buscado por meio de conteúdos apresentados de novas maneiras, que conquistem a atenção e o interesse. Outro ponto significativo, e já fruto da realidade tecnológica, é o entendimento de que a tecnologia serve para facilitar a vida do aluno. Em certo sentido, facilita, mas não do modo costumeiro: para ele, facilitar, às vezes, é sinônimo de estudar menos e ter bons resultados. Assim, a vivência no âmbito tecnológico (entenda-se “ter acesso à internet”) faz com que a primeira ação de muitos alunos seja buscar em um ambiente virtual um resumo do texto a ser lido, um exercício já resolvido ou um vídeo que supra a necessidade de ler o texto, pois mais fácil é o que já está pronto. Resta claro que, quando o aluno não tem uma boa direção, a tecnologia colabora para que ele não conquiste (ou perca) seus hábitos ou métodos de estudos mais aprofundados. O hábito da busca pela facilidade o leva a viver em uma zona de conforto. Esse aluno precisa enxergar diante de si o que se alcança com os diferentes usos da tecnologia para que, assim, possa fazer sempre escolhas que contribuam mais para o seu aprendizado. A tecnologia deve abrir novas possibilidades de pensamento e aprendizagem aos alunos, mas não pensar por eles. O desafio de levar o aluno a um engajamento maior deve ser constante. Poder-se-ia dizer que esse desafio sempre existiu, e isso é verdade. O que muda com o contexto é que o professor tem que ser hábil em enxergar as diversas novas possibilidades de ensino. É um desafio maior, mas as ferramentas estão em maior número também. O projeto indicado pelo trecho a seguir mostra de que maneira foi buscado o engajamento de alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e, ao mesmo tempo, como foi incluída a tecnologia digital: 45 Queríamos inserir esses recursos na rotina dos alunos, mas com atividades que fossem significativas para eles. Se vamos editar um texto, não pode ser qualquer um. Como sugestão da professora de português, começamos a usar produções que se relacionavam com as memórias deles. Foi assim que a professora de música passou a trabalhar com o resgate de memórias musicais da infância, adolescência e idade adulta. Por sua vez, os professores de teatro passaram a orientar a composição de cenas relacionadas com essas músicas. Nas aulas de cultura digital começamos a desenvolver apresentações, envolvendo vídeos e pesquisas na internet. Ainda com a ideia de resgatar memórias, no segundo semestre os alunos trabalharam com áudio e tiveram que ouvir e analisar comerciais antigos. Também exploramos a criação e edição de arquivos sonoros com a produção de radionovelas. Eles recriaram e interpretaram esses conteúdos com o uso de personagens digitais, os chamados avatares. (RAPKIEWICZ, 2015) Memórias, vivências e necessidades engajam, pois despertam o interesse, já que se relacionam àquilo que os alunos são e àquilo que vivenciaram e se transformou em conhecimento para eles. Tal experiência mostra que o objetivo não foi apenas resgatar, mas reinterpretar e renovar e, por meio do uso da tecnologia, desenvolver novas habilidades. 2.4 O contato real vs. virtual Este ponto é bastante interessante, pois a relação entre real e virtual na educação deve ser algo manejado pelo professor. Manejo, nesse caso, significa o saber medir o quanto de real e de virtual é importante ou necessário para cada contexto; quanto deve ser aprendido por meio de um debate presencial e quanto deve ser deixado para uma discussão de um fórum interativo, por exemplo. Talvez a apresentação de um projeto a ser realizado requeira uma presença mais marcante do professor, enquanto as fases de realização podem ser conduzidas por meio de um fórum de discussão e de alguns podcasts. O professor mais atento consegue identificar as diferentes necessidades. 46 Em uma aula presencial, o professor chama a atenção dos alunos para que não se distraiam com seus aparelhos eletrônicos, pois aquele é o momento de voltar a atenção para o que é apresentado ao vivo. Engajamento é fazer com que o aluno não seja simplesmente laçado, mas que ele se proponha a seguir a organização proposta para a aula. O inverso também ocorre: em uma atividade que deve ser realizada por meio da tecnologia (de qualquer tipo), o professor deve chamar a atenção do aluno que acaba se distraindo e se perdendo naquilo que está ao seu lado fisicamente, seja um colega, um cachorro ou algo que esteja sendo transmitido pela televisão, por exemplo. Para a relação real vs. virtual, não existe medida exata; só o contexto momento-conteúdo-professor-aluno é que dáindícios das melhores práticas a serem adotadas. Fazer a passagem da prática ao virtual e do virtual à prática exige a habilidade do professor para saber conjugar os diferentes elementos e necessidades. Outra característica do contexto 4.0 é, também, a ideia de “faça você mesmo”; trata-se do aprender fazendo, o chamado movimento maker. Não temos como medir o quanto há de ensino prático na internet, podendo as pessoas aprenderem a fazer o que desejarem, até um aplicativo para celular, por exemplo. Figura 1 – Google Busca Fonte: Google (2020). 47 Como podemos observar na figura, uma simples busca na internet pode indicar diversos sites que ensinam a desenvolver aplicativos, por exemplo. Na educação, o movimento maker é importante para: desafiar, engajar em projetos, criar, avaliar sobre recursos, resolver problemas, estimular a colaboratividade etc. O exemplo da manchete a seguir mostra tudo isso, estando também aliado ao pensamento de melhoria social. “Conheça o Bobô, o robô-anjo que dá uma aula de inclusão e solidariedade – ‘Máquina’ faz um caminho programado para a ajudar uma aluna com Síndrome de Down e com um problema urinário” (Brembatti, 2016) 2.5 Interdisciplinaridade A interdisciplinaridade é um tema muito debatido dentro das modernas considerações sobre educação, já que a noção de realidade complexa exige um pensamento cada vez mais completo sobre os problemas – ainda que seja uma completude relativa, já que não é possível abarcar a realidade pelo pensamento de modo total. Um tema a ser tratado deve ser perpassado pelos diversos conhecimentos oferecidos pelas disciplinas para que se construa um conhecimento coeso, e não uma colagem de diferentes falas sobre um determinado assunto. Isso é um esforço coletivo, pois o aluno estará mais apto a entender a realidade de modo interdisciplinar, quando ele aprender a interdisciplinaridade em sua vivência na educação. Tratamos aqui da relação entre os fazeres dos diferentes professores: um professor que queira estar pronto para a realidade 4.0 deve ser maleável para conseguir trabalhar com seus colegas. Esse aspecto de trabalho conjunto pode ser facilitado sobremaneira por meio da tecnologia. De maneira especial, as ferramentas wiki são colaborativas e podem ser utilizadas pelos professores em conjunto, tanto na orientação quanto na avaliação das atividades, e ainda pode-se acompanhar o desenvolvimento delas. O trabalho interdisciplinar requer o 48 diálogo por meio de saberes cada vez mais abertos, lembrando que isso é consequência direta da abertura do professor em trabalhar assim. Nesse sentido, o artigo de Mariana Souza e Ivani Fazendo (2017) é interessante para pensarmos a importância da interdisciplinaridade. Além disso, as autoras mostram que a inovação não é algo que depende de ações grandiosas, mas sim da disposição em utilizar diferentes recursos. Para isso, elas apresentam dois projetos realizados. Não deixe de ler! 3. Ideias e práticas É importante refletir sobre as mudanças que devem ocorrer na concepção de educação no contexto 4.0. Estando conscientes das necessidades, professores e gestores devem criar possibilidades de atuação. No entanto, é importante conhecer aquilo que já é realizado nas diferentes realidades, o que significa que a partilha de experiências é de fundamental importância para um desenvolvimento cada vez maior. É preciso buscar! O site www.porvir.org pode ser um caminho para se começar a conhecer novas experiências em educação mediadas pela tecnologia. Trata-se de um portal cujo objetivo é, justamente, mapear as práticas inovadoras na educação, apontando as tendências, as necessidades e os sucessos alcançados. Figura 2 – Logo Porvir Fonte: PORVIR (2020). http://www.porvir.org 49 No site, as seções Como Inovar e Mão na Massa são bem interessantes e mostram como os profissionais podem começar um trabalho de inovação em suas práticas educativas. Muitos exemplos práticos das atividades inovadoras podem ser encontrados no e-book Desafio: diário de inovações (PORVIR; IBFE, 2019). Não deixe de verificar! Enfim, de tudo o que apresentamos nesta unidade temática, restará sempre um questionamento, cuja resposta mudará a cada instante: quais os desafios atuais para se realizar uma Educação 4.0? A realidade muda, o ser humano muda, os desafios mudam; sendo assim, a educação tem de mudar. Trata-se de um movimento que deve ser iniciado e sustentado pelo novo professor, que nunca é plenamente novo, mas disposto à renovação constante. Quando falamos de um professor mais completo, não estamos no âmbito da utopia, mas tratando de enxergar os pontos menores que podem ser alcançados em diversas atividades e que, em seu todo, indicam uma realidade nova para a educação. A educação tradicional deixará de existir totalmente? Não há resposta para essa pergunta, embora devamos entender que sempre haverá diferentes modelos coexistindo. Possivelmente, tal modelo não sumirá, mas pode ser que acabe se restringindo a poucas realidades, já que a mudança é exigida na maior parte dos sistemas de educação, em todos os níveis. A tecnologia mudou o professor em sua essência, de transmissor para orientador, o que significa que ele deve se reposicionar para si mesmo dentro do processo educativo. Uma primeira impressão, talvez, seja a de que o professor tenha perdido e que perderia de vez seu papel, substituído pela tecnologia, quando, na verdade, deve-se aceitar uma transformação que é parte de algo maior e mais global: a sociedade. Vivemos um momento de disrupção, e o professor deve se reinterpretar nele: 50 Em tecnologia, convencionou-se entender disrupção como a interrupção de um processo social e economicamente já estabelecido, pela emergência de novo ciclo de inovação que venha a afetar a sociedade em parte ou no seu todo. Em âmbito geral, disrupção descreve a interrupção de um processo em curso, geralmente associado à inovação. Este processo disruptivo, associado a todo o cenário que configurou o panorama do mundo contemporâneo, sobretudo a partir do século XX, contribuiu para a criação de um universo novo determinante para modos de ser e agir do indivíduo atual no qual os acontecimentos se sucedem em uma velocidade antes desconhecida, transformando em curto prazo de tempo os universos sociais e humanos (MELLO; ALMEIDA; PETRILLO, 2019, p. 16). Trata-se, então, do momento no qual um novo paradigma está se estabelecendo, questionando um modelo educacional que perdurou durante muito tempo. Toda mudança traz exigências, algumas já postas e outras que vão se construindo. O momento da disrupção exige maleabilidade por parte de todos os que nele estão envolvidos; porém, mais que isso, exige a disposição para um novo aprendizado. Não se trata da mudança da educação, mas da mudança dela como parte de um todo que está se transformando. De maneira especial, ao tratarmos do âmbito educacional, temos dois personagens principais, professor e aluno, que vão se reconstruir a partir de uma nova relação a ser pensada. Referências Bibliográficas BREMBATTI, Katia. Conheça o Bobô, o robô-anjo que dá uma aula de inclusão e solidariedade. Gazeta do Povo, [s.l.], 2 set. 2016. Disponível em: https://www. gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/conheca-o-bobo-o-robo-anjo-que-da-uma- aula-de-inclusao-e-solidariedade-9kmvcrwv146x9ahxjinjfzqtp/. Acesso em: 23 mar. 2020. CAMPOS, Luis Fernando Altenfelder de Arruda; LASTORIA, Luiz Antônio Calmon Nabuco. Semiformação e inteligência artificial no ensino. Pro-Posições, Campinas, v. 31, 2020. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pp/v31/1980-6248-pp- 31-e20180105.pdf. Acesso em: 9 fev. 2020. https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/conheca-o-bobo-o-robo-anjo-que-da-uma-aula-de-inclu https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/conheca-o-bobo-o-robo-anjo-que-da-uma-aula-de-inclu https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/conheca-o-bobo-o-robo-anjo-que-da-uma-aula-de-inclu http://www.scielo.br/pdf/pp/v31/1980-6248-pp-31-e20180105.pdfhttp://www.scielo.br/pdf/pp/v31/1980-6248-pp-31-e20180105.pdf 51 GOOGLE. Busca: como fazer um app. 2020. Disponível em: encurtador.com.br/ giKN4. Acesso em 26 de mar. 2020. KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e tempo docente. Campinas: Papirus, 2013. MELLO, Cleyson de Moraes; ALMEIDA NETO, José Rogério Moura; PETRILLO, Regina Pentagna. Metodologias ativas: desafios contemporâneos e aprendizagem transformadora. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2019. PORVIR; IBFE (Orgs.). Desafio: diário de inovações. 3. ed. 2019. Disponível em:https://s3.amazonaws.com/porvir/wp-content/uploads/2019/09/1618 2537/diario_inovacoes_ebook_ed3_vf-compactado.pdf. Acesso em: 5 mar. 2020. PORVIR. Logo Porvir. 2020. Disponível em: https://porvir.org/wp-content/themes/ inketa/images/navbar-brand.png. Acesso em: 5 mar. 2020. RAPKIEWICZ, Clevi Elena. Resgate de memórias muda uso de tecnologia na EJA. Porvir. 2015. Disponível em https://porvir.org/resgate-de-memorias-traz-inclusao- digital-eja/. Acesso em: 7 mar. 2020. SANTANA, Pablo. Como a tecnologia está transformando a sala de aula? Infomoney. 2020. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/negocios/como- a-tecnologia-esta-transformando-a-sala-de-aula-executivos-debatem-futuro-da- educacao/. Acesso em: 10 fev. 2020. SOUZA, Mariana Aranha de; FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Interdisciplinaridade, currículo e tecnologia: um estudo sobre práticas pedagógicas no ensino fundamental. RIAEE, [s.l.], v. 12, n. 2, p. 708-721, abr./jun. 2017. http://encurtador.com.br/giKN4 http://encurtador.com.br/giKN4 https://s3.amazonaws.com/porvir/wp-content/uploads/2019/09/1618 2537/diario_inovacoes_ebook_ed3_vf-c https://s3.amazonaws.com/porvir/wp-content/uploads/2019/09/1618 2537/diario_inovacoes_ebook_ed3_vf-c https://porvir.org/wp-content/themes/inketa/images/navbar-brand.png https://porvir.org/wp-content/themes/inketa/images/navbar-brand.png https://porvir.org/resgate-de-memorias-traz-inclusao-digital-eja/ https://porvir.org/resgate-de-memorias-traz-inclusao-digital-eja/ https://www.infomoney.com.br/negocios/como-a-tecnologia-esta-transformando-a-sala-de-aula-executivos https://www.infomoney.com.br/negocios/como-a-tecnologia-esta-transformando-a-sala-de-aula-executivos https://www.infomoney.com.br/negocios/como-a-tecnologia-esta-transformando-a-sala-de-aula-executivos 52 A gestão da aprendizagem na Educação 4.0: professores e gestores mais competentes Autoria: Luís Fernando Crespo Leitura crítica: Vanessa Moreira Crecci Objetivos • Pensar a necessidade de formação para gestor e professor 4.0. • Entender quais os elementos de competência para atuar no contexto 4.0. • Ver possibilidades para a internet das coisas na educação. • Falar sobre espaços para inovação e tecnologia na educação. 53 1. Gestão do processo Ao longo das unidades anteriores, foram apresentados alguns dos principais temas relacionados à Educação 4.0 no sentido de indicar de que modo o uso de tecnologias em outros âmbitos leva a educação a buscar novos caminhos de realização. Nesse sentido, professor e aluno foram tomados como personagens principais, a partir dos quais a efetivação da educação se torna possível. Porém, ainda que as tecnologias estejam disponíveis e tanto professor como aluno tenham plena consciência e disposição para o trabalho, um âmbito de suma importância é o da gestão de todo o processo da Educação 4.0. A ideia de gestão normalmente é trazida apenas como relacionada à prática de gerir ou administrar processos. Dizendo de outro modo, a gestão seria a maneira de organizar um conjunto de práticas para que estas levem a uma determinada finalidade, a um objetivo para um certo âmbito de atuação. Ainda que pareça um pouco mais poética outra concepção, é importante pensar a gestão como o gestar. Assim, gestar é permitir que algo se forme por inteiro, com condições de se realizar na vida prática. Desse modo, a gestão da Educação 4.0 não pode estar relacionada apenas à organização de práticas, pois, se fosse apenas isso, a área administrativa conseguiria dar conta também da educação. Ao se falar em educação, é preciso ter em mente que há séculos (talvez desde a Didática Magna, de Comênio) a ciência pedagógica vem aperfeiçoando suas teorias e propondo práticas que efetivem o ato educativo; trata-se de buscar aquilo que o próprio Comênio objetivou: fazer com que o professor ensine menos e o aluno aprenda mais. Porém, agora tudo ocorre com a mediação da tecnologia. Fazer a gestão depende do conhecimento técnico que se tem, mas também depende do modo como se aprende a ler a realidade por todos os lados, para 54 os quais as propostas tecnológicas, em sua aplicação, precisam de adequações. A tecnologia na educação não faz milagre e, mesmo com o aprimoramento delas, é demorado o processo para alcançar progressos significativos. Isso ocorre, pois a tecnologia está lá, mas nem sempre o professor (ou outro responsável) sabe fazer uso dela, ou sabe fazer um bom uso. Nesse sentido, há desafios em dois âmbitos da gestão: aquela que organiza os processos dentro das instituições de modo geral e aquela que atua diretamente com os alunos em sala de aula. Aqueles profissionais que atuam nos dois âmbitos têm de aprender não apenas a técnica de aplicação da tecnologia, mas também o modo de dosar, ou seja, de entender o quanto dela é necessário e qual o limite para que ela não seja causa de emperramento do processo. Por exemplo, para uma disciplina, o professor deve delimitar um número de ferramentas, para que os próprios alunos não se percam. Os desafios da boa gestão se ligam às ações de conciliar, conceder, segurar e assegurar, mas tudo isso não de qualquer modo, mas de forma equilibrada entre as ações envolvidas. O gestor deve ser a pessoa mais atenta ao mundo contemporâneo, pois é ele quem busca enxergar o contexto, com suas novidades e possibilidades. Sendo assim, o que a gestão pode fazer de modo prático para realizar a Educação 4.0? Indicamos a leitura do artigo Escolas Concept e Avenues: o que as “escolas do futuro” podem nos ensinar? (ESCOLAS EXPONENCIAIS, [s.d.]). O texto apresenta dois exemplos de escolas chamadas “do futuro” e elenca pontos importantes a serem observados em sua organização, como o ambiente, o ensino híbrido, a dimensão humana, entre outros temas. Saiba mais: O site Escolas Exponenciais é interessante para observarmos quais caminhos são seguidos por diversas escolas consideradas inovadoras. Há muitos artigos que podem ser do interesse de gestores e professores. Por exemplo: 55 • Como realizar uma boa reunião pedagógica; • Como integrar educação e tecnologia; • Como se manter atualizado; • E outros. Vejamos a seguir alguns pontos importantes para se pensar a gestão do ato educativo. 2. Saber técnico Há até certo tempo, entendia-se que aquele que faz a gestão dos processos deveria entender de tudo aquilo que sua equipe deveria realizar, era entender as ações como um todo e em seus detalhes. Com o passar do tempo e com as novas definições, principalmente do âmbito da administração, surge um novo modo de se pensar a gestão, que prega a necessidade de que as pessoas sejam bem lideradas para que, consequentemente, os processos ocorram como devem; cada um dos colaboradores é que teria a responsabilidade de acompanhar o bom andamento daquilo que faz. Porém, essa concepção acabou levando muitos gestores a não mais conhecerem os processos que sua equipe realiza. Um processo corre sérios riscos quando não há tal conhecimento por parte do responsável. A Educação 4.0 exige um gestor que realmente tenha um saber técnico sobre aquilo que deve ser realizado. Não significa que tal gestor tenha de ser formado, além da área específica de formação, em pedagogia ou tecnologia da informação. Porém, ele precisa buscar um saber mínimo que permita o acompanhamento, já que quem nada sabe sobre um assunto dificilmente consegue enxergar rapidamente pontos de atenção e necessidades diversas. Já o professor quevai trabalhar com 56 as novas tecnologias, sejam digitais ou pedagógicas, ao deter algum conhecimento sobre tudo o que está envolvido em seu fazer, no que vai ser proposto aos alunos, está mais apto a realizar as ações. Ao se falar em gestão, considera-se que a tomada de decisões é algo bastante importante, dando os direcionamentos de todo o projeto que será realizado. Cada detalhe deve ser pensado de modo articulado, relacionando objetivos e possibilidades. Os caminhos são definidos, principalmente, na relação entre as necessidades pedagógicas e as mídias disponíveis a serem escolhidas. (MOSTAFA, 2006, p. 15). Para que se possa escolher bem tudo aquilo que tomará parte de um determinado curso, este deve ser pensado como uma complexidade. Significa entender que, dentro dos objetivos gerais a serem alcançados, cada recurso (mídia ou tecnologia) utilizado deve possibilitar alcançar objetivos menores e mais específicos. É preciso ter uma visão do todo, que seja sistêmica e saiba entrelaçar necessidades e possibilidades. 3. Formação dos professores Como deve ser pensada a formação de um profissional que tem de atuar de modo cada vez mais amplo? É difícil responder de modo exato, mas é preciso ter em mente que o professor deve, acima de tudo, estar aberto para aprender sempre. Tudo aquilo que ele adquire de aprendizado em um momento, no momento seguinte pode já não mais vigorar, mas aquele conteúdo serve como base para o que vier a seguir. A ideia de “estar antenado” é bem adequada para esse professor: ele deve estar atento ao que acontece no mundo da educação como um todo, buscando o que há de novo para poder aperfeiçoar sua atuação. Acompanhar avanços em áreas que estão relacionadas à tecnologia exige uma disposição tal que pode parecer cansativo; porém, as 57 inovações que podem ser encontradas são enriquecedoras de tal modo que nutrem ainda mais o desejo de conhecer. Dizendo de outro modo, o professor que trabalha na Educação 4.0 tem mais conteúdo a ser buscado e essa busca é ampla. Vamos a um exemplo: façamos uma pesquisa em um site de busca com os termos “práticas inovadoras em educação”; no momento em que esse texto é escrito, o resultado da busca pelo Google é: Figura 1–Busca Google Fonte: Google (2020). Há um número aproximado de 15.700.000 resultados. Nesse número, há muitos resultados que nada servem para o que se quer encontrar. Sendo assim, como é possível fazer a seleção diante de um número como esse? Costumeiramente, quem está pesquisando começa a acessar os primeiros indicados na listagem, mas não se pode garantir que os demais sejam menos importantes. Como fazer, então? Apenas o hábito pode indicar um caminho para a escolha de fontes confiáveis; também é a prática que pode revelar maneiras de se refinar a busca, pois o resultado que aparece é dado por um algoritmo que tenta interpretar (cálculo) aquilo que se deseja. No entanto, apenas conhecer casos não leva um professor a desenvolver as habilidades necessárias para o contexto 4.0; é fundamental haver uma formação de forma regular e continuada. Não significa que o professor deva buscar apenas cursos regulares oferecidos pelas instituições de educação, mas que ele deve estar em constante formação por meio dos cursos que mais lhe convierem, de acordo com suas disponibilidade e necessidades. 58 [...] na atualidade, o domínio das TICs demanda a aquisição de competências necessárias à profissão docente. Essas novas competências se traduzem em um novo saber, que só garantirá a sua objetivação numa situação em que o seu uso se tornar homogêneo e facilitador, na busca de novas informações e conhecimentos, que devem se configurar em instrumento de trabalho, cuja apropriação e cujo domínio sejam acessíveis a todos os professores (FIDALGO, 2015, p. 158-159). O professor, ainda que sua atuação tenha sofrido grandes alterações, é um dos personagens principais para que a Educação 4.0 se efetive. Como mediador do conhecimento, ele deve estar atento ao modo como as características dos alunos devem ser consideradas diante das inúmeras possibilidades pedagógicas. O mundo da educação não se restringe mais ao âmbito da escola e deve ser ressignificada a noção de permitir que o conhecimento aconteça. De certo modo, ele tem sua tarefa aprimorada com o auxílio das chamadas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Na Educação 4.0, houve uma mudança de eixo, passando o aluno a estar como centro. Por conta disso, em um processo que ainda é construído, o professor vai recolocando tudo em nova disposição, inclusive a si próprio. Muda a posição, o foco muda. Não apenas professor e aluno são recolocados: os aparatos tecnológicos, que, em uma educação tradicional, eram proibidos, concebidos como prejudiciais ao aprendizado, ganham novo espaço e são os principais meios utilizados para a disponibilização do conteúdo. Porém, de todo modo, é o professor quem organiza o espaço de aprendizagem – agora, de uma forma diferente, entendendo que o saber não é homogêneo nem construído de forma linear. Nesse sentido, devem ser repensados os processos cognitivos, que passam a ser influenciados por outros fatores que não aqueles de dentro da sala de aula tradicional. (MOSTAFA, 2006, p. 89). Em tal usina, o que se busca produzir é conhecimento, mas não de qualquer modo, e sim guiados por um objetivo. É o professor que 59 cuidará para que isso ocorra, abrindo caminhos possíveis. Esse profissional que se reinventa, não tem seu conhecimento descartado, mas passa a buscar novos meios para que tal conhecimento possa se efetivar por outros caminhos. É preciso entender o contexto e encontrar o ponto de possível equilíbrio entre as novas possibilidades e as necessidades da área específica, dos conteúdos a serem apreendidos e das habilidades a serem desenvolvidas. Sair do linear para o não linear e do homogêneo para o não homogêneo não é tarefa fácil. 4. Espaços, metodologias e tecnologias Quando se fala em mudar as metodologias de ensino, é importante pensar que o fazer educativo não está ligado apenas a um ambiente específico (antes apenas a sala de aula padrão), pois ele passa a ser expandido, e, assim, o aprendizado pode se dar em diferentes espaços. Significa entender que a mudança não é algo pontual, mas na concepção mais geral que se tem do educar. A pergunta que fica é: onde existem tais espaços em uma escola (ou em uma faculdade)? É preciso criar espaços, rever a utilização de outros e criar novas condições para ensinar e aprender. Falamos de realidade 4.0, o que significa olhar para um mundo marcado pela Inteligência Artificial (I.A.) e por todos os resultados de sua aplicação. Uma Educação 4.0 deve ensinar o aluno a estar em tal mundo antes de poder atuar efetivamente nele. Dizendo de outro modo, ao aluno deve ser propiciada uma experiência que o faça conhecer e lidar com as novas tecnologias que, no futuro, estarão à sua frente no mundo do trabalho e da vida como um todo. Por exemplo, algo característico dessa realidade é a Internet das Coisas (no inglês, IoT – Internet of Things). Para alguns alunos que já estão no mundo do trabalho, principalmente nos âmbitos de produção, esta já 60 é uma realidade: máquinas cada vez mais inteligentes para as quais restam tarefas e atividades que, antes, eram executadas por pessoas. Será que algo poderia estar presente nas instituições de educação melhorando os processos e permitindo aos alunos um contato direto? Claro que sim. Por exemplo, algo que sempre fez com que se perdesse muito tempo de aula é a chamada dos alunos. Uma câmera com reconhecimento facial poderia poupar esse trabalho do professor e, inclusive, evitar erros de qualquer espécie; a entrada e saída de alunos pode ser automática e o controle em tempo real. Outra maneira possível, por exemplo, é ter um controle de presença por meio do acesso do aluno à rede da escola: o aluno pode chegar e já marcar sua presença. Parece pouco,mas, na somatória das aulas, ganha-se muito tempo, pois há mais tempo para se fazer algo que seja mais útil dentro do planejamento. Mesmo um planejamento de curso ou de aula pelo professor pode ser otimizado: em vez de partir apenas do conhecimento e dos interesses do professor (o que pode tornar o curso inadequado e aquém do interesse dos alunos), a I.A. consegue delinear quais os pontos de intersecção entre os objetivos de uma disciplina e os interesses dos alunos apenas fazendo uma varredura nos sites mais acessados por eles. Além de permitir um material sempre mais atualizado, faz com que ele responda a anseios dos próprios destinatários, o que deve aumentar o interesse, a qualidade e participação nas aulas etc. Débora Garofalo (2019) indica que: A plataforma adaptativa integra a sala de aula e oferece uma gama de benefícios, como relatórios que servem de aporte para que o professor possa tomar uma decisão em relação à aprendizagem dos estudantes. Algo que é necessário destacar é o papel do professor: ele é essencial ao processo por permitir interações, realizar o planejamento que melhor se adeque às necessidades dos estudantes e por mediar o processo cognitivo. (GAROFALO, 2019) 61 A plataforma adaptativa integra a sala de aula e oferece uma gama de benefícios, como relatórios que servem de aporte para que o professor possa tomar uma decisão em relação à aprendizagem dos estudantes. Nunca se pode deixar de destacar o papel do professor, pois ele é essencial ao processo por permitir interações, realizar o planejamento que melhor se adeque às necessidades dos estudantes e por mediar o processo cognitivo. Os novos espaços e tempos devem proporcionar mais experiências. A maior parte dos gestores e professores não faz parte dos chamados nativos digitais, aqueles que já nasceram no mundo tecnológico e têm contato com os diferentes modos de aprender e realizar tarefas propiciados pela tecnologia. Desse modo, são esses profissionais que devem se atentar para aprender o novo modo de olhar para o mundo e nele entender as novas relações entre sujeitos e objetos, que são as relações de conhecimento. Na verdade, não apenas esses dois grupos, mas toda a instituição deve assumir os novos projetos. As discussões e a implementação contam com a participação interdisciplinar. É preciso envolver as áreas acadêmicas, administrativas e tecnológicas, de forma transparente, em comunicação permanente e com decisões colegiadas. (...) A convergência tecnológica aponta para a digitalização de tudo que possa se tornar estímulo sensorial, o que permite inclusive simulações e aplicações que podem ser úteis no “fazer-aprender”, muito além do ambiente web (GUIMARÃES, 2003, p. 59). Quais espaços de tecnologia para aprendizagem e experiências estão disponíveis em nossas escolas e faculdades? E em nossas empresas? Há projetos arrojados ou todos caminham de modo tímido? Que experiências podem ser conhecidas? Vejamos alguns exemplos: 62 • Espaço MESCLA, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. • Espaço de Inovação da Samsung na USP. • Espaço de Criatividade e Inovação da Unesp. • Kroton e startups de educação no espaço Cubo. Sobre o último exemplo, desde 2018, a Kroton Educacional patrocina um espaço para auxiliar startups do setor educacional. Trata-se de um andar no Espaço Cubo cujo foco é o empreendedorismo, possibilitando desenvolvimento e testes de tecnologias voltadas para a educação. São muitas as experiências que já estão em vigor, e elas não cabem apenas para as grandes instituições, já que a tecnologia está à disposição de todos. A inovação trata mais da abertura de uma reflexão para novos rearranjos a partir do que a empresa, a faculdade ou a escola já têm ou já conhecem. A instituição como um todo pode se tornar um espaço de inovação. 5. Responsabilidade sobre o novo aprender dos alunos Do mesmo modo como o gestor e o professor têm de aprender um novo fazer educativo, o aluno também deve rever sua postura, percebendo que deve assumir um novo modo de ser para os novos modelos de educação. No entanto, enquanto os profissionais da educação já têm uma bagagem na vida de estudo e pesquisa, não necessitam de grande ajuda para encontrar os caminhos para sua aprendizagem; enquanto isso, os alunos muitas vezes eles dependem da instituição como um todo para poderem entender as novas necessidades e terem condições de assumi-las. 63 Aquilo que em muitos setores e situações é chamado de “ambientação” é o primeiro momento para que o aluno vá conhecendo a nova situação. Ambientação, aqui, deve ser não apenas a apresentação do novo ambiente, mas a recepção para que o aluno se sinta bem e comece a atuar nele. Possivelmente, quanto à tecnologia, muitos alunos já chegam conhecendo ferramentas bem avançadas; o principal para se ambientar é começar a dirigir o uso, que no seu cotidiano é desregrado, para um modo específico, que obedeça aos objetivos da educação. A instituição, então, deve garantir que os profissionais saibam instruir adequadamente. Locais e momentos, sejam virtuais ou presenciais, devem propiciar vivências significativas que introduzam o aluno em uma nova concepção do que seja a educação, o ensino e a aprendizagem. Entender o caminho traçado para a aprendizagem, estando pronto para receber e responder às dúvidas, é de suma importância para o professor. Nesse sentido, não pode haver parte do projeto que seja conhecida apenas de alguns setores (TI, secretaria etc.); o professor, do mesmo modo que todos os demais envolvidos, deve conhecer tudo o que está preparado para o curso e deve entender de todas as ferramentas que estarão à disposição dos alunos. Muitas vezes, quando há alunos que reclamam de falta de credibilidade da instituição, isso se deve à percepção que eles têm de que cada setor caminha para um lado, cada um conhece um pouco, mas ninguém sabe algo de modo completo. É preciso reforçar a ideia de que a educação acontece efetivamente apenas quando o aluno sabe o que se espera dele e confia em quem propõe as ações; e o professor é a instituição no contato direto com o alunado. 6. Mudanças, problemas e soluções Como visto ao longo das unidades até este momento, a realidade social muda constante e rapidamente. Dentro do contexto de uma 64 sociedade 4.0, nem todas as estruturas são atingidas em um primeiro momento de forma significativa, parecendo que podem ficar alheias ao movimento global. Porém, não leva muito tempo para que todos os âmbitos sejam envolvidos, já que se trata de uma mudança no modo como a sociedade produz. Esperar que a mudança atue diretamente para, depois, buscar entender as necessidades é uma atitude ingênua e pode levar ao insucesso das ações. Dizendo de outro modo, significa que, mesmo que ainda não seja atingida em seu todo, o movimento já foi desencadeado e se desenrola até chegar aos contextos mais ínfimos. Um professor ou gestor educacional que espera para se preparar apenas quando lhe for exigido algo diretamente está perdendo a oportunidade de estar à frente de seus pares. A mudança vem como um efeito dominó: começam pela tecnologia que atinge as indústrias, as quais, por sua vez, exigem profissionais com formação específica, e, por fim, atingem as instituições de educação e instrução, que devem responder pelos anseios e pelas necessidades impostos. Toda novidade gera inúmeras situações que se mostram como problemas, mas as soluções para eles estão prontas? De maneira nenhuma. Como tudo acontece ao mesmo tempo, a solução é construída pelos envolvidos com os processos educativos, seja na escola ou na faculdade, seja na empresa. Mais ainda neste momento, enquanto a educação formal não atingiu aquilo que dela é requerido, as próprias empresas têm se preocupado mais do que nunca em oferecer a formação adequada ao seu pessoal. O profissional que conhece e se prepara para enfrentar as questões relacionadas à Educação 4.0 ganha importância nas empresas,podendo: • Avaliar o contexto e entender as necessidades do mercado, relacionando-as àquilo que a instituição já tem ou pode ter. 65 • Desenhar projetos e propor soluções que sejam adequadas e factíveis dentro do contexto externo e interno. • Aplicar e acompanhar a implementação das mudanças nos processos e, principalmente, avaliar a evolução da proposta. 7. Desafios e oportunidades O principal desafio de todos os envolvidos com a Educação 4.0 é o da aprendizagem constante. Não é simplesmente aquilo sobre o que muito se fala de uma formação continuada, pois a necessidade e as propostas de tal formação existem aos montes, para os diferentes contextos. O que muda agora é o que se soma a ela, principalmente relacionado a novas habilidades. O tão citado “reaprender a aprender” não é algo que ocorre uma única vez, mas se mostra como um movimento de um novo aprender. Sendo assim, pode haver um início no processo, mas não se pode conceber um fim, pois, quando já se teria alcançado o que se objetiva, o objetivado apresenta sempre novas facetas. Torna-se fundamental, em cursos de formação continuada, relacionar a educação às inovações científicas e tecnológicas, pois é importante que o professor utilize as tecnologias digitais e comunicacionais como recursos para a aprendizagem dos alunos (FIDALGO, 2015, p. 145). Diante do desafio, o primeiro passo é a adaptação para que o professor construa para si uma nova identidade, o que não é tão simples, já que a história da educação sempre mostrou o mestre como o detentor de um conhecimento, se não estático, pelo menos estável. Agora não há mais estabilidade no conhecimento, e o professor é aquele que consegue dar um rumo para que os alunos possam aprender mesmo no meio das mudanças. 66 As mudanças são importantes e tocam a vida da sociedade como um todo. A escola, a faculdade e a empresa devem estar cientes das necessidades impostas pelo contexto e devem assumir a responsabilidade, já que as mudanças chegam até dentro das casas, nas vivências cotidianas das pessoas. Os problemas surgem e devem ser trabalhados, mesmo que nem sempre a resolução seja possível de modo completo. Nesse sentido, vemos que nenhuma solução é definitiva; são sempre tentativas, opções de resolução. A situação instável sobre as certezas do fazer educativo leva o docente a uma reformulação constante, ao desenvolvimento de novas habilidades que, uma vez adquiridas, tornam-se portas para o aprimoramento e para a aquisição de outras. A incerteza não é apenas da educação, pois esta é fruto de algo mais amplo, é fruto da mudança social, econômica e política. A adaptação agora não é mais um convite, mas sim uma exigência. Enfim, ao pensarmos sobre diversos modos como a sociedade 4.0 interfere no processo educativo, entendemos que o profissional precisa adentrar o âmbito das tecnologias para a educação. A tecnologia é sempre a aplicação de um conhecimento técnico, e, na educação, mesmo que não falemos diretamente das tecnologias digitais, vemos a possibilidade de seus diferentes elementos no fazer do ato educativo. O profissional da Educação 4.0 deve estar disposto a buscar sempre mais tais possibilidades, verificando o que há de novo para o aperfeiçoamento da prática docente. As mudanças se dão a todo momento e apenas professor e gestor atentos podem levar uma instituição a responder às necessidades que o contexto impõe a ela. Referências Bibliográficas ESCOLAS EXPONENCIAIS. Escolas Concept e Avenues: o que as “escolas do futuro” podem nos ensinar? Escolas Exponenciais, [s.d.]. Disponível em: https:// https://escolasexponenciais.com.br/inovacao-e-gestao/escolas-concept-e-avenues/ 67 escolasexponenciais.com.br/inovacao-e-gestao/escolas-concept-e-avenues/. Acesso em: 18 mar. 2020. FIDALGO, Fernando; OLIVEIRA, Maria A. M.; FIDALGO, Nara L. R. (Orgs.). A intensificação do trabalho docente: tecnologias e produtividade. Campinas: Papirus, 2015. FRARY, Mark. 5 IoT innovations that will change your life. Raconteur, 2020. Disponível em: https://www.raconteur.net/technology/iot-innovations-ces, Acesso em: 22 fev. 2020. GAROFALO, Débora. Como a inteligência artificial pode colaborar com sua escola. Nova Escola, 2019. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/18312/ como-a-inteligencia-artificial-pode-colaborar-com-sua-aula. Acesso em: 9 mar. 2020. GOOGLE. Busca: práticas inovadoras em educação. 2020. Disponível em: encurtador.com.br/pzCJ2. Acesso em: 13 mar. 2020. GUIMARÃES, Luciano S. R. Gestão de novas tecnologias no contexto educacional. In: PERROTTI, Edna M. B.; VIGNERON, Jacques (Orgs.). Novas tecnologias no contexto educacional: reflexões e relatos de experiências. São Bernardo do Campo: UMESP, 2003. KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 9. ed. Campinas: Papirus, 2010. MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 19. ed. Campinas: Papirus, 2011. MOSTAFA, Solange P. (Org.). Mídia e conhecimento: percursos transversais. Itajaí: UNIVALI; Maria do Cais, 2006. PERRENOUD, Philippe et. al. As competências para ensinar no século XXI: a formação dos professores e o desafio da avaliação. 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O mundo da inovação tecnológica 2. Âmbitos de desafios 3. Ideias e práticas Referências Bibliográficas A gestão da aprendizagem na Educação 4.0: professores e gestores mais competentes Objetivos 1. Gestão do processo 2. Saber técnico 3. Formação dos professores 4. Espaços, metodologias e tecnologias 5. Responsabilidade sobre o novo aprender dos alunos 6. Mudanças, problemas e soluções 7. Desafios e oportunidades Referências Bibliográficas