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1 Garantia e Direitos da Pessoa Idosa Redes de Proteção e seus Instrumentos de Ação ao Enfrentamento dos Abusos Contra os Idosos 3 2 Enap Escola Nacional de Administração Pública Enap, 2021 SAIS - Área 2-A -70610-900 - Brasília, DF Conteudista: Sheila Fabiana de Quadros (Conteudista, 2021); Diretoria de Desenvolvimento Profissional. 3 Sumário Unidade 1. Redes de atenção e cuidados à pessoa idosa ..................................................... 4 1.1 Programas de atenção à pessoa idosa e suas funcionalidades enquanto rede protetiva ............4 1.2 Equipes de atenção à pessoa idosa e seu trabalho de suporte social, acolhimento e cuidado ..6 Unidade 2. Redes de proteção e defesa dos direitos da pessoa idosa ............................... 7 2.1 Vulnerabilidade e violação na busca de efetivação dos direitos da pessoa idosa ..........................7 2.2 Instrumentos de ações e suas capacidades de enfrentamento dos abusos contra os idosos ....11 2.3 As políticas públicas e sua relação com as redes de proteção da pessoa idosa .............................14 4 Unidade 1. Redes de atenção e cuidados à pessoa idosa Ao final desta unidade, você será capaz de especificar as barreiras e os fatores facilitadores para implementação das redes de proteção à pessoa idosa Você conhece as redes de atenção à pessoa idosa? Você sabe o que é a RENADI? - REDE DE PROTEÇÃO E DEFESA DA PESSOA IDOSA? No ano de 2006, ocorreu, no Brasil, a I Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, enfocando a criação da RENADI - Rede Nacional de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa, para se elencar oportunidades de haver uma integração nacional a fim de se discutir e estabelecer metas que alcançassem a população nacional como um todo, justamente porque a demanda de vulnerabilidade se constatava desde aquela época. Na referida Conferência, foram aprovadas deliberações, divididas em eixos temáticos voltados para o envelhecimento saudável e sua promoção nas mais diversas esferas da vida social, tais como família, saúde pública e assistência social. Qualquer sujeito que vive possui direitos preconizados legalmente, os quais precisam ser adquiridos não somente pela existência necessariamente de leis, mas para efetivar o compromisso social de cidadãos de direito. Redes de Proteção e seus Instrumen- tos de Ação ao Enfrentamento dos Abusos Contra os Idosos M Ó D U LO 3 1.1 Programas de atenção à pessoa idosa e suas funcionalidades enquan- to rede protetiva Rede protetiva e os processos de prevenção e cuidado Fonte: Algumas políticas públicas para a pessoa idosa 5 DESTAQUE As políticas públicas que desencadeiam as ações em torno da pessoa idosa em cenário nacional implicam em atenção na perspectiva tanto de prevenção como de cuidado. O eixo preventivo promove a conscientização da sociedade como um todo quanto aos aspectos de violação de direitos e o eixo de cuidado ocupa o espaço de atendimento em si às possíveis demandas que emergem quando já ocorreu a violação de direitos. Assim, a rede de atenção à pessoa idosa é formada por diversos componentes, os quais refletem tanto o planejamento como as próprias ações necessárias, a depender das demandas de cada local e sua realidade específica. Independente quais sejam as questões que impliquem na regionalidade de cada espaço, o foco deve ser a atenção integral à pessoa idosa, a partir das condicionalidades disponíveis, buscando, sempre que possível, o incentivo de decisões colegiadas, como o Conselho Municipal ou Estadual da Pessoa Idosa em torno dos interesses e necessidades de atendimento a este público específico. Vale lembrar que são nestes espaços que ocorrem os planejamentos necessários de implementação de ações em torno das reais demandas e enfrentamentos. Dentro dos quadros de atenção à pessoa idosa, encontramos redes específicas de atenção que podemos citar como destaque o Sistema Único de Assistência Social-SUAS e o Sistema Único de Saúde-SUS, os quais possuem direcionamentos de atividades e operacionalização de serviços que atendem a pessoa idosa de maneira específica. Dentre as instituições que integram a rede de atenção, encontramos: • Conselhos Municipais e/ou Estadual do Idoso; • Centro de Referência Especializada em Assistência social - CREAS; • Centro de Referência em Assistência Social - CRAS; • Grupos sociais denominados “Terceira Idade”; • Secretarias de Saúde e Assistência Social; • Casas e/ou Centros de convivência; • Instituições de longa permanência. 6 O cuidado percorre todos os caminhos existentes no trabalho de atenção à pessoa idosa, independente da área em que as equipes estejam atuando, e toda pessoa idosa deve poder contar com o apoio do serviço de atenção. Partindo das particularidades que estruturam as vivências da pessoa idosa na sociedade contemporânea, podemos citar situações que vão desde as condições naturais de sua vida, passando por necessidades individuais de convivência social, bem como das situações específicas de atenção e cuidado. Inicialmente, podemos citar o direito à convivência familiar e comunitária, fatores determinantes quanto às formas de viver de maneira saudável. Para isso, toda pessoa idosa pode e deve contar com a rede de atenção básica que opera em várias instâncias, sendo dever do poder público garantir a eficácia do atendimento às necessidades de seus usuários. A Proteção Social Básica tem o intuito de prevenir situações de risco, por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, avaliando um conjunto de serviços, programas, projetos e benefícios, sempre na perspectiva da inclusão. Estão organizados em rede, buscando incluir, nas diversas ações ofertadas, o atendimento às famílias, com as ofertas que se estabelecem a partir do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS). A proteção social especial prevê um conjunto de serviços e programas especializados de média e alta complexidade a famílias e indivíduos em situação de risco ou com direitos violados. Inclui os riscos e violações relacionados à situação de dependência de cuidados com terceiros em virtude da idade. Busca contribuir para o fortalecimento de vínculos familiares, sociais e comunitários, reconstruindo vínculos familiares fragilizados ou rompidos; e protegendo famílias e indivíduos para o enfrentamento das situações de violação de direitos. Dessa forma, convidamos vocês para assistir ao vídeo que segue, o qual trata das especificidades da proteção social contextualizada: Vídeo 1: PROTEÇÃO BÁSICA X PROTEÇÃO ESPECIAL E UM MUNDO DE SIGLAS Fonte: Canal do YouTube: SUAS Conversas 1.2 Equipes de atenção à pessoa idosa e seu trabalho de suporte social, acolhimento e cuidado Proteção social básica e especial Fonte: Proteção Social Básica e Especial: o que é o quê? - Blog do GESUAS https://www.youtube.com/watch?v=-Hjj1YNtoO8 7 DESTAQUE Com destaque às questões de proteção especial, sempre que houver violação de direitos da pessoa idosa, a rede de enfrentamento à violência é acionada no sentido de minimizar danos à vida dos mesmos. É importante que o atendimento ocorra em rede, pois cada espaço de trabalho atende a uma demanda, e muitas vezes precisa haver constantes articulações e debates sobre os casos vivenciados, posto que as exigências do atendimento variam entre as queixas apresentadas e a situação materializada. Unidade 2. Redes de proteção e defesa dos direitos da pessoa idosa Ao final desta Unidade, você será capaz de retratar o funcionamento das redes de proteção e defesa dos direitos da pessoa idosa, e o alcance dos seus instrumentos de ações. 2.1 Vulnerabilidade e violação na busca de efetivação dos direitos da pes- soa idosa A concepção de vulnerabilidade se configura a partir de muitas variáveis, dentre elas demográficas, biológicas e econômicas. A população idosa, na medida em que cresce, é projetada para uma série de necessidadese preocupações, as quais não faziam parte, historicamente, das discussões sobre essa demanda. As autoras Keila Talitha Fernandes Barbosa, Fabiana Maria Rodrigues Lopes de Oliveira e Maria das Graças Melo Fernandes, na publicação “Vulnerabilidade da pessoa idosa: análise conceitual”, da Revista Enfermagem, de 2019, apontam que o aumento na proporção de pessoas idosas no Brasil provocou debates sobre instrumentos que busquem atender suas necessidades em sua amplitude e complexidade. Ainda de acordo com esta publicação, a vulnerabilidade é definida pela gerontologia, dentre várias possíveis definições, pela suscetibilidade de danos a qual o indivíduo pode estar exposto, acima de tudo na qualidade de vida. Assim, existem vulnerabilidades em situações individuais e coletivas, em que o envelhecimento acarreta riscos, ainda maiores, pelas suas mudanças biológicas. Há também uma dimensão programática também intitulada como institucional, desenvolvida pela pesquisadora Fernanda Amendola. Ela apresenta como as instituições de saúde, educação, bem-estar social e cultural podem atuar na reprodução de condições socialmente dadas de vulnerabilidade. Existem vulnerabilidades antes do envelhecimento que podem ser determinantes com o avançar da idade. As condições de deterioração precoce da saúde, os cuidados não preventivos da área mental, a necessidade do trabalho prolongado, seja vertical (dia) ou horizontal (anos), exposição a situações de estresse contínuo, falta de lazer, entre outros, geram efeitos estruturais que repercutem no contexto biopsicossocial e na qualidade de vida das pessoas que envelhecem. Assim, a vulnerabilidade está relacionada a uma diversidade de combinações de outros elementos vinculados à experiência vivida pela pessoa idosa e às facilidades e dificuldades da vida. 8 Embora o envelhecer seja um processo natural, devido ao aspecto fisiológico, o como envelhecer é um fato que precisa ser planejado . Nesse sentido, apesar de existir um declínio da qualidade de vida no processo de envelhecimento, os fatores que geram a vulnerabilidade nem sempre advém somente desse momento da vida. É nesse caminho reflexivo que a questão socioeconômica, com suas variáveis de acesso à educação e à cultura, se mostra muito importante. Segundo as autoras Keila Talitha Fernandes Barbosa, Fabiana Maria Rodrigues Lopes de Oliveira e Maria das Graças Melo Fernandes, as pessoas idosas com menor nível de escolaridade têm dificuldades para acessar serviços como saúde e segurança, tendo ora desconhecimento sobre os seus direitos, ora dificuldade de lutar pela efetivação destes. Essa situação de vulnerabilidade pode também estar ligada à violação dos direitos da população idosa por meio da omissão do Estado na oferta ou facilidade para o acesso à educação permanente. Assim, percebe- se que a vulnerabilidade, também, é resultado da combinação de como o indivíduo consegue informações, recursos materiais, e de como enfrenta barreiras culturais e imposições violentas. Essa concepção tem sua origem nas desigualdades sociais, próprias da estrutura de uma sociedade de Estado com ação mínima. Promoção do bem-estar de idosos moradores de rua. Fonte: Projeto Envelhecer na rua: acompanhamento psicossocial e promoção da qualidade de vida de idosos em situação de vulnerabilidade em Belo Horizonte, sob Coordenação da Profª. Sônia Maria Soares, Site da Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG/ Diretoria de Cooperação Institucional-COPI Projeto leva alimento e transforma a vida de idoso em situação de vulnerabilidade social Fonte: Projeto leva alimento e transforma a vida de idoso em situação de vulnerabilidade social. Revista Notícias Adventistas. 25 ago. 2020 9 As autoras Isabela Thaís Machado de Jesus, Ariene Angelini dos Santos Orlandi, Eliane da Silva Grazziano e Marisa Silvana Zazzeta, em trabalho publicado em 2017, afirmam que as demandas de políticas públicas relacionadas à assistência social, saúde e educação são extremamente importantes para superação das condições de vulnerabilidade. São elas que podem auxiliar na retomada ou construção da autonomia da pessoa idosa, proporcionando a construção de projetos de vida melhor elaborados. A capacidade da pessoa idosa de permanecer ou se tornar autônoma e, assim, participar ativamente na sociedade precisa ser uma preocupação na elaboração das políticas públicas no Brasil. As circunstâncias da vulnerabilidade física na medida em que se envelhece não podem afetar os outros aspectos de desenvolvimento do indivíduo. Uma das necessidades para superação dessa condição é o apoio afetivo, seja de amigos ou familiares. A integração social pela participação em atividades culturais, políticas e educacionais pode provocar encontros para esse acolhimento afetivo. Assim, as habilidades mentais e, mesmo as físicas, terão impactos positivos. O estímulo dos elementos sociopsicológicos nas atividades de lazer e a participação em grupos criam vínculos que garantem segurança, a qual representa um bem-estar que pode prevenir demências e criar qualidade de vida. Melhores condições de renda, acesso e melhores condições de estudos formais e diversidade nas opções educativas não formais fazem parte de contextos de superação da vulnerabilidade biológica que o envelhecimento acarreta. A pessoa idosa deve ser reconhecida e reconhecer-se como cidadão, o que significa compreender o próprio processo de envelhecimento que lhes afeta e atuar preventivamente para as consequências do tempo. Para isso, é preciso fomentar estratégias que ampliem a atenção ao idoso, auxiliando-o na ação participativa e ativa na sociedade. Pelas dimensões da situação de vulnerabilidade, o modelo de atenção integral às pessoas idosas deve se concentrar nos princípios: dignidade, concorrência, autonomia, participação, abrangência, independência, individualidade, inclusão social, bem-estar e continuidade de cuidados. Assim, a superação da vulnerabilidade, considerando as dimensões individuais, coletiva e programática, refere-se ao direito das pessoas idosas, sua participação política ou empoderamento e a organização estrutural e histórica da sociedade. As intervenções das políticas públicas devem considerar a especificidade da pessoa idosa diante do acesso universal de atendimento aos cidadãos, elaborando planejamentos frente às vulnerabilidades. O cuidado dos sistemas públicos precisa ter um foco multidisciplinar, observando as condições do envelhecimento, otimizando as ações junto a essa demanda e potencializando o cuidado integral e em rede. Até que ponto os idosos são vulneráveis ao coronavírus? Fonte: Revista Exame Online - Publicado em: 26/04/2020 às 14h05 10 Vamos entender um pouco mais sobre vulnerabilidade da pessoa idosa? Para tanto, assista o vídeo “Longevidade, vulnerabilidade e adaptações: como garantir um envelhecimento saudável na sociedade moderna?” do Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim (CEJAM). Nele, os palestrantes falam sobre os fatores de risco para o idoso, o aumento da expectativa de vida e as ferramentas e ações necessárias para garantir o bem-estar social, psíquico e físico dos idosos nos dias atuais. Vídeo 2 – CUIDADO DO IDOSO: LONGEVIDADE, VULNERABILIDADE E ADAPTAÇÕES Fonte: CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim SAIBA MAIS https://www.youtube.com/watch?v=nFyLJLaFc5s 11 O manual de Enfrentamento à Violência contra a Pessoa Idosa, de 2014, define a violência como uma concepção referente aos processos e às relações sociais interpessoais de grupos, classes, gênero ou objetivadas em instituições, quando empregam diferentes formas, métodos e meios de aniquilamento ou de coação direta ou indireta, causando danos físicos, mentais e morais. O enfrentamento à violência contra a pessoa idosa se estabelece com a parceria entre governo e sociedade, por meio da construção de uma rede de proteção a esse segmento populacional. Convém destacar que a violência é um problema social queocorre não apenas em espaços externos, mas também em ambientes domésticos. Há casos em que a fragilidade da pessoa idosa no nosso país está na violência intrafamiliar. Quando nos referimos à pessoa idosa, o “Caderno de Atenção Básica n. 19: Envelhecimento e saúde da pessoa idosa” indica que o problema é redimensionado para duas formas: a violência estrutural, fundamentada pela desigualdade social, e a institucional, estabelecida na aplicação ou omissão da gestão de políticas sociais. Nesse sentido, a violência acontece pela ação e/ou omissão, em casa ou fora dela, por membros da família ou por afetividade. Os episódios podem ser cotidianos ou esporádicos, levando da dependência física e psicológica ao agravamento do homicídio ou suicídio. A identificação de sinais de violência contra as pessoas idosas não pode ser negligenciada e cabe a todos cidadãos sua denúncia. Na Gerontologia, a atenção é identificada a partir de três planos, os quais devem buscar ajudar o profissional que atua na gestão. O primeiro plano refere-se à vida e cuidados e configura-se como uma ferramenta básica para os profissionais coletarem as avaliações, informações, objetivos pessoais, ideias, propostas de intervenção personalizada de apoio e recomendações para a pessoa adquirir o mais alto grau sobre suas vidas diárias. O Plano de Cuidado Personalizado é tratado com a participação da pessoa idosa, de seus familiares e dos profissionais. Define como serão os cuidados e a assistência pessoal não-médica ou de enfermagem para idosos e adultos que, após uma doença ou enfermidade, se encontram num processo gradual de recuperação, ou com deficiências ou com qualquer tipo de limitação, para que realizem as suas atividades diárias. Já o Plano de Atenção e Vida (PAV), propõe incorporar um formato próximo aos planos de cuidados para serem utilizados nos serviços gerontológicos. Visa agir de maneira preventiva e terapêutica, promovendo a saúde integral da população idosa, refletindo, na Saúde Pública, a diminuição de gastos com, com internação, institucionalização e mortalidade. 2.2 Instrumentos de ações e suas capacidades de enfrentamento dos abusos contra os idosos Saúde da pessoa idosa Fonte: Facebook do Ministério da Saúde 12 Embora focados na saúde, os planos demonstram o caráter sistêmico do atendimento à pessoa idosa e identificam atores importantes para o sucesso, como o próprio idoso e seus familiares. Na superação das vulnerabilidades, é importante se pensar que muitas delas estão relacionadas com a violência gerada por familiares dentro do espaço que deveria ser acolhedor para uma melhor qualidade de vida no envelhecimento. As violências como negligência e abandono, em sua grande maioria, são marcadas por familiares, podendo levar à morte. Além disso, muitas outras violências como físicas, psicológicas, financeiras e materiais são identificadas junto a essa demanda. Para tanto, a Assembleia Geral das Nações Unidas em 2011, após solicitação da Rede Internacional de Prevenção ao Abuso de Idosos (INPEA), reconheceu em junho de 2006, o Dia Mundial da Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa, o qual representa uma manifestação do mundo todo contra os abusos às gerações mais velhas. O Plano de Ação para o Enfrentamento da Violência Contra a Pessoa Idosa, publicado em 2005, pelo Conselho Nacional dos Direitos dos Idosos (CNDI), com a participação do Governo Federal e movimentos sociais, busca estabelecer as estratégias sistêmicas de ação, no processo de planejamento, organização, coordenação, controle, acompanhamento e avaliação de todas as etapas de execução das ações de prevenção e enfrentamento da violência contra a pessoa idosa. Esse documento é um instrumento que auxilia na implementação da Política de Promoção e Defesa dos Direitos aos segmentos da população idosa do Brasil, objetivando a construção de uma sociedade tolerante e com boa convivência intergeracional, fortalecendo e efetivando mecanismos e instrumentos institucionais na garantia de direitos. O foco do enfrentamento está na luta contra a violência e na superação da exclusão social, os quais geram situações de cada vez mais vulnerabilidade. Além disso, reconhecem a pessoa idosa como um cidadão, um sujeito de direitos que precisam ser defendidos. A pessoa idosa sofre com estigmas e discriminações pautados na relação de desigualdade social, muitas vezes, naturalizados pelas relações de produção econômica e reprodução social, rotulando as pessoas idosas como um peso social por não serem “produtivas”. Além disso, a violência pode apresentar-se pela desigualdade social e omissões institucionais advindas de gestão das políticas do estado. Mês de conscientização da violência contra a pessoa idosa Fonte: Agência Brasília 13 Quais foram suas percepções frente à necessidade de instrumentalizar ações para capacitar o atendimento, diante das redes de enfrentamento? Para complementar os estudos, indicamos a leitura do Caderno Violência Contra a Pessoa Idosa: perguntas mais frequentes sobre direitos das pessoas idosas. Trata-se de um material publicado em 2020 para a campanha nacional de enfrentamento à violência contra a pessoa idosa, pela Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, do Governo Federal. Convidamos, também, a assistir a live do Ministério Público de Santa Catarina a qual trata dos casos de violência física, financeira e psicológica que acontecem dentro de casa. O coordenador do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos e Terceiro Setor (CDH), o Promotor de Justiça Douglas Roberto Martins vai responder todas as dúvidas. Caderno Violência Contra a Pessoa Idosa: perguntas mais frequentes sobre direitos das pessoas idosas Fonte: Secretaria nacional dos direitos da pessoa idosa do Ministério da mulher, da família e dos direitos humanos Vídeo 3 – VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO: CONHEÇA, PREVINA E COMBATA Fonte: YouTube canal do Ministério Público de Santa Catarina/2021 SAIBA MAIS Nesse caminho, o enfrentamento em rede contra a violência é muito importante. Um trabalho com a perspectiva de rede pela qual as autoras Michele Rinco, Andrea Lopes e Marisa Accioly Domingues sinalizam estar dividida em informal e formal. A rede informal são os familiares, amigos e vizinhos. Já a rede formal são as organizações e profissionais, como os atendimentos domiciliares oferecidos por algumas universidades públicas, programas da Secretaria de Saúde, como a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Acompanhantes de Idosos (PAI). Tais redes de suporte social são construídas com objetivos de atender mecanismos importantes na velhice, como dar e receber apoio emocional, ajudar de forma material ou de serviços, manter e afirmar a identidade social, entre outras. CMDI de criciúma adere campanha nacional de enfrentamento à violência contra o idoso Fonte: Redação Engeplus https://youtu.be/9L5x90jePU8 14 2.3 As políticas públicas e sua relação com as redes de proteção da pessoa idosa A Cartilha Rede de Proteção à população vulnerável, criada pelo Centro de Apoio Operacional aos Direitos Humanos do Ministério Público do Rio Grande do Sul, publicada em 2018, descreve que a rede institucional é uma forma de articulação entre os diferentes setores envolvidos para atender uma demanda. Ainda, a rede institucional tem como meta encontrar soluções comuns para atender o indivíduo. A rede intersetorial é aquela que compartilha os serviços de organização governamental, não governamental, do setor privado e da comunidade. O trabalho em rede busca viabilizar a articulação de saberes e experiências para planejamento e concretização de políticas públicas. É nesse sentido que a intersetorialidade se apresenta como uma construção conjunta de ações e políticas entre diferentes setores, dentre eles saúde, assistência social e direitos humanos. No âmbito da pessoa idosa, as redes de proteção intersetoriais buscamo enfrentamento das violências num entrelaçamento em que os segmentos se conectam e se sustentam sem predominância de um sobre o outro, numa interdependência de esforços. Isso significa políticas amplas, que envolvam não apenas a pessoa idosa, mas sua família, a comunidade e todo o contexto social no qual esta pessoa está inserida. Deste modo, é importante destacarmos os atores que ocupam espaço diante da rede de enfrentamento da violência, que podem ser identificados em espaços públicos destinados a atender toda e qualquer demanda de violência que possa atingir a população idosa em cenário nacional. Dentre tais espaços, encontramos a Defensoria Pública, a qual se define por uma instituição essencial aplicada à função jurisdicional do Estado, em que se incumbe a orientação jurídica e a defesa, de todos aqueles que dela necessitem. O papel da Defensoria Pública se encontra previsto e amparado pela Constituição Federal, posto que cabe ao estado subsidiar a assistência jurídica, de maneira integral e gratuita, a qualquer cidadão que não disponha de condições para custear tais serviços. De igual forma, a OAB - Ordem dos Advogados do Brasil disponibiliza atendimento e acompanhamento jurídico gratuito às pessoas idosas mais vulneráveis e que recebem até dois salários mínimos. Outro importante ator a ser citado é o Ministério Público, órgão que tem por responsabilidade a manutenção da ordem jurídica no Estado e a fiscalização do poder público, bem como prima pela garantia e efetivação dos direitos assegurados legalmente. Destacam-se as promotorias especializadas na temática da pessoa idosa, que atuam na tutela dos direitos de pessoas idosas a fim de assegurar o respeito a essa faixa etária, por parte do poder público e da sociedade em geral, conforme preceituado na legislação brasileira. Maus tratos a idosos e a obrigação prioritária de proteção do poder público Fonte: Jornal I44News 15 Ainda, o trabalho das promotorias especializadas compreende medidas judiciais e extrajudiciais. Ocorrendo ameaça aos direitos da pessoa idosa, o Promotor de Justiça ou o Juiz, podem determinar medidas protetivas como: encaminhamento à família ou curador; orientação e acompanhamento temporários; requisição para tratamento de saúde, em regime ambulatorial, hospitalar ou domiciliar; abrigo em entidade; inclusão em programa de auxílio, orientação e tratamento a usuários dependentes de drogas, lícitas ou ilícitas, à pessoa idosa ou à pessoa de sua convivência que lhe cause perturbação. Cabe ao Ministério Público também a fiscalização e apuração de irregularidades em entidade governamental e não-governamental de atendimento à pessoa idosa. Somam a esse contexto, as Delegacias especializadas de proteção à pessoa idosa e a Polícia Militar, que atuam no enfrentamento às violações de direitos dessa faixa etária e dispõem de equipes profissionais que podem ser acionadas a depender da exigência que cada caso disponha. Os municípios contam, ainda, com os serviços das equipes especializadas dos CREAS - Centro de Referência Especializada em Assistência Social, que contribuem para a prevenção de agravamentos e para o enfrentamento de situações que envolvam risco pessoal e social, violência, fragilização e rompimento de vínculos familiares, comunitários e/ou sociais. Algumas situações podem ser citadas como violência física, psicológica e negligência; abandono; violência sexual; situação de rua; afastamento do convívio familiar, dentre outras. Tem destaque nessa discussão a Central Judicial do Idoso, referência no atendimento à pessoa idosa, que se consubstancia conforme a seguir: Por fim, ressalta-se o Disque 100 como um importante instrumento de conexão da rede de proteção, sendo um serviço gratuito que atende, recebe e analisa, via telefone, denúncias de maus tratos envolvendo a pessoa idosa. Tais encaminhamentos podem ser feitos pela própria pessoa acometida pela violência, caso seja possível, ou ainda, por qualquer cidadão civil que almeja evitar que uma violência ocorra. As Políticas Públicas se materializam a partir de planos, programas e projetos. No caso do envelhecimento, as diretrizes estão alicerçadas na promoção e efetivação dos direitos da pessoa idosa na prática. Para a elaboração e a implementação de tais políticas cabe à Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa (SNDPI), alicerçado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, coordenar e propor ações de promoção, defesa, proteção e enfrentamento a violações de direitos da pessoa idosa, pautados no aperfeiçoamento e fortalecimento da Política Nacional do Idoso. Nesse sentido, tendo como base a perspectiva da família, fortalece os vínculos familiares e a solidariedade intergeracional. Como compromisso se estabelece pelo Pacto Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa (PNDPI), previsto para o período de 2020 a 2030, o qual busca engajamento formal entre os governos federal, estadual e municipal na implementação das principais políticas públicas com a proposta de difundir a Política Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, em especial o Estatuto do Idoso, em território nacional; ampliar o número de Conselhos dos Direitos das Pessoas Idosas; e reduzir o índice de violência contra a pessoa idosa. DESTAQUE É um serviço ofertado no Distrito Federal, destinado à pessoa idosa que tenha seus direitos ameaçados ou violados e que necessite de orientação e atendimento na esfera da Justiça. Tem como principais objetivos: garantir a efetiva aplicação do Estatuto do Idoso, prover a comunidade do DF de informações, promover a articulação com instituições para atendimento das demandas existentes e assessorar autoridades competentes. Fonte: Central Judicial do Idoso — Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios 16 Uma das materializações dessas políticas, é o Programa Viver - Envelhecimento Ativo e Saudável, instituído pelo Decreto nº 10.133, de 26 de novembro de 2019, o qual possui o objetivo de proporcionar a inclusão digital e social da pessoa idosa, contribuindo para a promoção do direito ao envelhecimento ativo e saudável, sendo desenvolvidos por meio de quatro campos de ação: tecnologia, saúde, mobilidade física e educação, os quais devem ser fomentados pelo ente federativo que aderir ao Programa por meio de atividades, oficinas e cursos nas temáticas citadas. Quanto às propostas de parcerias internacionais, está a Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa, instituída em 2021, a qual é desenvolvida pelo Governo Federal em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa ação tem por objetivo levar qualidade de vida aos idosos e promover o envelhecimento saudável e ativo da população e reúne ações dos setores governamentais, organismos internacionais e instituições públicas e privadas. O acompanhamento, monitoramento e avaliação têm como alicerce os Conselhos de Direitos da Pessoa Idosa. Sua equipagem é feita pelo Programa de Equipagem e de Modernização da Infraestrutura dos Órgãos, das Entidades e das Instâncias Colegiadas de Promoção e de Defesa dos Direitos Humanos - Pró- DH, instituído em 2020. O programa do governo federal faz a doação de equipamentos essenciais nos municípios e nas unidades federativas, garantindo o atendimento das pessoas idosas, assegurando seus direitos e promovendo sua defesa, sendo feitos nos espaços internos com os equipamentos de informática e nos espaços externos com o veículo. Órgãos de proteção ao idoso Fonte: Grupo Altevita – Centro Geriátricos O que achou da discussão sobre as redes de proteção da pessoa idosa? Conseguiu relacioná- las com a Política de Proteção? Com o objetivo de aprofundar seus conhecimentos, assista a live “Campanha Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Pessoa Idosa: Fortalecendo as Redes de Proteção de Direitos”, promovida pela Secretaria Nacional de Promoçãoe Defesa do Direitos da Pessoa Idosa, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), em parceria com a Associação Brasileira de Educadores Financeiros, a Central Judicial do Idoso, do Tribunal da Justiça do Distrito Federal e Territórios, e a Defensoria Pública da União. Vídeo 4 – CAMPANHA NACIONAL DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO: FORTALECENDO AS REDES DE PROTEÇÃO DE DIREITOS Fonte: Canal do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH)/2021 no YouTube SAIBA MAIS https://www.youtube.com/watch?v=SVX7gCRo2-Y https://www.youtube.com/watch?v=SVX7gCRo2-Y Unidade 1. Redes de atenção e cuidados à pessoa idosa 1.1 Programas de atenção à pessoa idosa e suas funcionalidades enquanto rede protetiva 1.2 Equipes de atenção à pessoa idosa e seu trabalho de suporte social, acolhimento e cuidado Unidade 2. Redes de proteção e defesa dos direitos da pessoa idosa 2.1 Vulnerabilidade e violação na busca de efetivação dos direitos da pessoa idosa 2.2 Instrumentos de ações e suas capacidades de enfrentamento dos abusos contra os idosos 2.3 As políticas públicas e sua relação com as redes de proteção da pessoa idosa
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