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O processo de Planejamento do Desenvolvimento Rural Sustentável1 César Augusto Da Ros2 1. Introdução O objetivo desta aula é oferecer aos alunos da disciplina de extensão rural uma visão geral sobre os principais componentes de um processo de planejamento do desenvolvimento rural sustentável, destacando a sua importância para o trabalho dos extensionistas rurais. 2. O conceito de Planejamento: “É um processo permanente e metódico de abordagem racional e científica de questões que se colocam no mundo social (e dentro dele o mundo rural). • É permanente porque supõe uma ação contínua sobre um conjunto dinâmico de situações num dado momento histórico. • É metódico porque implica uma abordagem racional e científica supondo uma seqüência de atos decisórios, ordenados em momentos definidos e baseado em conhecimentos teóricos, científicos e técnicos. • Por tudo isso, o processo de planejamento implica: a) A seleção das atividades necessárias para atender as questões determinadas e à otimização de seu inter-relacionamento, levando em conta os condicionantes impostos (a realidade social). b) A decisão sobre os caminhos a serem percorridos pela ação e as providências necessárias à sua adoção, ao acompanhamento da execução, ao controle, à avaliação e a redefinição da ação. 3. As principais operações de um planejamento são: 3.1. Reflexão: diz respeito ao conhecimento dos dados, à análise e estudo de alternativas, a superação e a reconstrução dos conceitos e técnicas de diversas disciplinas relacionadas à explicação e quantificação dos fatos sociais (Conhecimento da realidade). 3.2. Decisão: se refere às escolhas de alternativas, à determinação dos meios, à definição de prazos, etc. 3.3. Ação: relacionada à execução das decisões. É o foco central do planejamento. 1 Texto introdutório preparado para as aulas teóricas da disciplina de Extensão Rural (IH 447) referente à Unidade 7: O processo de planejamento do desenvolvimento rural sustentável – Rio de Janeiro: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2008. 2 Engenheiro Agrônomo pela UFSM, Doutor em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA/UFRRJ – Professor Adjunto do DLCS/UFRRJ – Coordenador da Área de Extensão Rural. 2 3.4. Retomada da reflexão: operação crítica dos processos e dos efeitos da ação planejada, a fim de embasar ações posteriores. Figura 1: Etapas de um processo de Planejamento 4. O planejamento como processo político: • A dimensão política do planejamento decorre do fato de que ele é um processo contínuo de tomada de decisões, inscritas nas relações de poder, o que caracteriza ou envolve uma função política. • Neste sentido não basta que o planejamento se volte apenas para dimensão técnica, sem levar em conta o jogo de vontades políticas e as diferentes percepções dos grupos sobre os problemas e prioridades de ação. 3 Figura 2: Seqüência de atividades do planejador como mediador do planejamento: 4.1.1. Equacionamento: Corresponde ao conjunto de informações significativas para a tomada de decisões. • Tal função não é exercida pelo planejador distanciada do contexto das relações sociais e da sua visão sobre a mesma (Não é neutra, nem imparcial). 4.1.2. Decisão: Corresponde às diferentes escolhas necessárias no decorrer do processo. 4.1.3. Operacionalização: relaciona-se ao detalhamento das atividades necessárias à efetivação das decisões tomadas, cabendo aos técnicos as transformarem em planos, programas e projetos, implantando-as no momento oportuno. 4.1.4. Ação: refere-se às providências que transformarão em realidade o que foi planejado. 5. O planejamento como processo técnico-político: • O planejamento se realiza a partir de um processo de aproximações, que tem como centro de interesse a situação delimitada como objeto de intervenção. • Essas operações se constituem no método e ocorrem em todos os tipos e níveis de planejamento. • A decisão de planejar, a partir do movimento reflexão-decisão-ação-reflexão é constituida das seguintes aproximações: • 5.1. Construção reconstrução do objeto: • O objeto do planejamento da intervenção técnica é o segmento da realidade que é posto como desafio e sobre o qual se formulará um conjunto de reflexões e proposições. • Por isso, a construção do objeto ocorre a partir da localização da questão central a ser trabalhada e das idéias básicas que nortearão o processo. 4 • Por isso, a construção do objeto ocorre a partir da localização da questão central a ser trabalhada e das idéias básicas que nortearão o processo. • Em virtude da realidade social ser dinâmica, o objeto do planejamento pode ir se construindo e reconstruindo permanentemente. 5.2. Estudo da situação (Diagnóstico): • Consiste na caracterização (descrição interpretativa), na compreensão e na explicação de uma determinada situação tomada como problema para o planejamento, determinando a natureza e magnitude das suas limitações e possibilidades. 5.3. Identificação de prioridades de intervenção: • Constitui-se no momento em que o planejador é desafiado a estabelecer prioridades de ação, levando em consideração os recursos existentes na propriedade, e valendo-se de critérios de relevância e viabilidade. 5.4. Definição de objetivos para ação: • Os objetivos expressam a intencionalidade da ação planejada, direcionada para algo ainda não alcançado. • Os objetivos antecipam os resultados esperados, fornecendo um eixo analítico para a escolha de alternativas. • Ao propor objetivos, o planejador nega a realidade posta e afirma a possibilidade de alcançar outra, desejável e possível. 5.4.1. Objetivos gerais: Indicam a natureza do conjunto dos resultados pretendidos pelo planejemento. 5.4.2. Objetivos específicos: apontam os resultados a serem alcançados em áreas determinadas. 5.4.3. Objetivos operacionais: determinam as ações pelas quais os objetivos gerais e específicos serão alcançados. Podem ser de curto, médio e longo prazo. 5.5. Formulação e escolha de alternativas: • Consiste na definição das formas de enfrentamento e/ou solução dos problemas identificados. • É um processo complexo, no qual é preciso levar em conta, a dinâmica histórica, o equacionamento dos recursos, as facilidades e dificuldades, a expectativa da população alvo, os hábitos culturais das pessoas, as características psicológicas, sociais e políticas dos grupos. 5.6. Planificação: • Consiste na fase do planejamento em que se inicia o trabalho de sistematização das atividades e dos procedimentos necessários ao alcance dos resultados previstos. 5 • As decisões são explicitadas, sistematizadas, interpretadas e detalhadas em documentos que representam graus decrescentes dos níveis de decisão: Planos, programas e projetos. • 5.6.1. Plano: Delineia as decisões de caráter geral do sistema, suas grandes linhas políticas, suas estratégias, suas diretrizes e precisa responsabilidades. Deve ser formulado de forma clara e simples a fim de nortear os demais níveis da proposta. • 5.6.2. Programa: é o documento que detalha, por setor, a política, diretrizes metas e medidas instrumentais. Trata-se de um desdobramento do plano: os objetivos setoriais do plano irão se constituir nos objetivos gerais do programa. 5.6.3. Projeto: é o documento que sistematiza e estabelece o traçado prévio da operação de um conjunto de ações. • Constitui-se na proposição de produção de algum bem ou serviço, com o emprego de determinadas técnicas, com o objetivo de obter resultados definidos em um determinado período de tempo e de acordo com um determinado limite de recursos. 5.7. Implementação: • Implementar significa tomar providências concretas para a realização de algo planejado. •A fase de implementação pode ser considerada como a busca, formalização e incorporação de recursos humanos, físicos, financeiros e institucionais que viabilizem o projeto. 5.8. Implantação e Execução: É a operação, nos espaços e nos prazos determinados, das ações previstas no planejamento. É nesta fase que se dá a instalação e o início do funcionamento do empreendimento. 5.9. Controle da Execução: é o instrumento de apoio e racionalização da execução, no sentido de assegurar a observância ao programado, prevenindo desvios. 5.10. Avaliação: Não é o momento final do processo, uma vez que está em todos os momentos do planejamento. • A avaliação tem por objetivo a realização de uma análise crítica de todas as fases do processo e dos resultados atingidos, a fim de identificar os seus aspectos positivos e negativos que possibilitem corrigir os projetos futuros. 6 Quadro 1: Caracterização das Fases metodológicas de um Planejamento e dos documentos decorrentes delas Processo Racional Fases Metodológicas Documentação decorrente Reflexão Construção do Objeto Proposta Preliminar Estudo de Situação Estabelecimento de Prioridades Diagnósticos Propostas Alternativas Estudos de viabilidade Anteprojetos Decisão Escolha de prioridade Escolha de Alternativas Definição de objetivos e metas Planos Programas Projetos Ação Implementação Implantação Execução Controle Roteiros Rotinas Normas Relatórios Retorno da reflexão Avaliação Retomada do processo Relatórios avaliativos Novos planos, programas e projetos Bibliografia Consultada: BAPTISTA, M.V. Planejamento Social: intencionalidade e instrumentalização. São Paulo: Veras; Lisboa: CPIHTS, 2000.