Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 CONDUTAS, TÉCNICAS E NORMAS NA ENFERMAGEM ESTÉTICA 1 Sumário Sumário .................................................................................................................... 1 NOSSA HISTÓRIA ..................................................................................................... 2 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 A SITUAÇÃO DOS ENFERMEIROS, TÉCNICOS E AUXILIARES DE ENFERMAGEM EM ATUAÇÃO NO BRASIL ............................................................. 4 HIPÓTESE .................................................................................................................. 8 O ESTADO DA QUESTÃO ......................................................................................... 9 MÉTODO................................................................................................................... 13 ESTRUTURAS E PADRÕES ESTÉTICOS NA HISTÓRIA CULTURAL DA ENFERMAGEM ........................................................................................................ 17 A ESTÉTICA E SUAS FONTES NA HISTÓRIA CULTURAL DOS CUIDADOS ...... 19 ASPECTOS LEGAIS DA ENFERMAGEM ESTÉTICA NO BRASIL ........................ 20 ESTÉTICOS .............................................................................................................. 22 O QUE ENTENDEMOS POR ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA ESTÉTICA ......... 26 CONTRA INDICAÇÕES (DIAGNÓSTICOS QUE PRECISAM SER FEITOS POR UM MÉDICO) ................................................................................................................... 37 ESPECIALIDADES DO ENFERMEIRO POR ÁREA DE ABRANGÊNCIA .............. 40 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 46 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia-se com a ideia visionária e da realização do sonho de um grupo de empresários na busca de atender à crescente demanda de cursos de Graduação e Pós-Graduação. E assim foi criado o Instituto, como uma entidade capaz de oferecer serviços educacionais em nível superior. O Instituto tem como objetivo formar cidadão nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em diversos setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e assim, colaborar na sua formação continuada. Também promover a divulgação de conhecimentos científicos, técnicos e culturais, que constituem patrimônio da humanidade, transmitindo e propagando os saberes através do ensino, utilizando-se de publicações e/ou outras normas de comunicação. Tem como missão oferecer qualidade de ensino, conhecimento e cultura, de forma confiável e eficiente, para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. E dessa forma, conquistar o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos de qualidade. 3 INTRODUÇÃO O mercado de trabalho pode ser definido como a relação de troca que aproxima aqueles que ofertam a força de trabalho e aqueles que a demandam, podendo também ser entendido como a relação entre os que oferecem o emprego e os que estão à procura de um trabalho. De um lado, o sistema produtivo precisa ser provido com o trabalho necessário para a geração de riqueza; do outro, os indivíduos detentores da força de trabalho necessitam dos meios monetários (salário e benefícios) e sociais para assegurar sua sobrevivência (AMARAL et al., 2012). Além disso, o mercado de trabalho é um espaço de socialização do indivíduo e um aspecto de suma importância reside no fato de ser o local onde estes transacionam sua capacidade trabalhista. O mercado é um espaço que sofre influência de vários fatores sociais, políticos e econômicos, tais como a abertura em um mundo globalizado e o desenvolvimento tecnológico, que propiciam o desenvolvimento humano em decorrência de maior interação entre as pessoas (SILVA et al., 2013). O processo de globalização é marcado por diversas modificações nas relações políticas, sociais, econômicas e culturais, que resultaram na liberalização das relações comerciais; fluxos de capital econômico; ampliação dos meios de comunicação; introdução e avanço de tecnologias; aumento da produção de bens e serviços; facilidade de difusão de conhecimentos; transformações ambientais; crescente migração das populações em busca de melhores condições de vida e de trabalho; crescimento de mercado financeiro e, por consequência, aumento da competitividade de trabalho (PRETO et al, 2015.). O mercado de trabalho, cada vez mais competitivo, busca profissionais com habilidades e competências renovadas. Além disso, valoriza perfis profissionais pautados na competência e no desenvolvimento de habilidades, pelo fato de que o mercado de trabalho necessita de profissionais atualizados e conscientes de sua realidade (APRIGIO, 2013). No Brasil, vive-se uma situação política e econômica instável que reflete nas taxas de desemprego. Em 2017, houve 4 uma significativa queda na taxa de desocupação, de 12,4% para 11,8%, caracterizando o pior ano para o mercado de trabalho no país desde 2012. A menor taxa apresentada anteriormente foi em 2014, com 6,8% de desocupação (BRASIL, 2018). Em relação à Enfermagem, a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), em parceria com o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), em 2015, fez um levantamento detalhado da 1 De acordo com o IBGE, são classificadas desocupadas as pessoas que estavam sem trabalho durante a semana em que a pesquisa foi realizada, e que tomaram ou não alguma providência efetiva para consegui-lo no período de referência de 30 dias. A SITUAÇÃO DOS ENFERMEIROS, TÉCNICOS E AUXILIARES DE ENFERMAGEM EM ATUAÇÃO NO BRASIL Constata-se que a Enfermagem é uma profissão ativa, em que a maioria dos profissionais, 91,8%, estão inseridos no mercado de trabalho. No entanto, há um alerta para o desemprego e o afastamento de profissionais, que atinge um total de 9,5% da categoria, somando mais de 100 mil trabalhadores que experimentaram o desemprego e encontraram dificuldade na reinserção no mercado de trabalho (MARTINS; GOMES, 2015). As principais causas de desemprego destacadas no levantamento supracitado foram: a dificuldade de encontrar emprego devido à falta de experiência, a escassa oferta de empregos em tempo parcial, a ausência de concursos públicos, poucas oportunidades na área de especialização, pouca informação e divulgação a respeito das vagas de emprego (MACHADO et al., 2015; MARTINS; GOMES, 2015). Surge então o empreendedorismo como uma possibilidade para a prática autônoma e como forma de se chegar à satisfação no trabalho (ANDRADE; DAL BEN; SANNA, 2014). Intensificado na década de 1970, o estudo sobre empreendedorismo vem avançando ao longo da história (COLICHI; LIMA, 2018). Atualmente, o empreendedor está sendo relacionado à exploração de novas oportunidades de 5 negócios; à responsabilidade pelas transformações no ambiente organizacional; às transformações intercedidas em favor da sociedade; ao progresso de novas tecnologias; aos novos procedimentos gerenciais e à inclusão social (COLICHI; LIMA, 2018). Além disso, o empreendedorismo ajuda a ampliar a visibilidade da profissão frente à sociedade, por meio da criação de novos espaços de atuação, impulsionando o crescimento econômico do país e possibilitando a abertura de novos negócios com atividades de Enfermagem condizentes com as demandas sociais, e também com as necessidades do mercado de trabalho (MORAIS et al., 2013). Ao longo de sua construção histórica, a Enfermagem vem avançando na descoberta do conhecimentotécnico-científico, expressando assim, cada vez mais, o interesse em estabelecer uma identidade própria a partir da busca por reconhecimento e valorização social. Mediante essa construção, observa-se que inúmeras atividades que permeiam o mercado de trabalho não foram, até o momento, exploradas por essa categoria profissional, além de outras que ainda estão em desenvolvimento (POLAKIEWICZ et al., 2013). Segundo um estudo que analisou os aspectos gerais do mercado de trabalho da Enfermagem, a categoria possui pouca tradição em atuar como profissional liberal (autônomo) e, muito mais, como assalariado. É uma profissão que se caracteriza por atividades institucionalizadas, com forte inserção nas estruturas formais de emprego, seja no público, privado ou filantrópico (MACHADO et al., 2015). As empresas abertas por profissionais da saúde refletem novos mercados de trabalho e sua análise pode ser interpretada como importante indicador de empreendedorismo de negócios, bem como indicador da expansão da atuação desses profissionais no cenário atual. Na área de enfermagem, recentemente foi publicada a Resolução do COFEN nº 568/18, que regulamenta o funcionamento dos consultórios e clínicas de Enfermagem, valorizando o caráter empreendedor do enfermeiro ao reconhecer a personalidade jurídica desses serviços (COLICHI; LIMA, 2018). Percebe-se que a profissão está em ascensão na prática do empreendedorismo, buscando oportunidades para explorar novos campos. Um exemplo é a área estética, que 6 promove o bem-estar físico, social e emocional dos pacientes, e está sendo consolidado na Enfermagem como uma área emergente de cuidado e implementando-se como uma legítima especialidade em diversos países, variando em sua nomenclatura e regulamentação, como especialidade de Enfermagem estética, estética não cirúrgica, plástica ou cosmética (ANDRADE; DAL BEN; SANNA, 2014). No Brasil, em 2014, o COFEN, por meio do parecer 197/2014, esclarece que não há nenhum impedimento técnico legal da atuação da categoria de Enfermagem junto a procedimentos estéticos de natureza não invasiva perfurocortantes ou injetáveis (BRASIL, 2014). Em 2016, a Resolução COFEN Nº 529/2016, estabeleceu diretrizes que normatizam a atuação específica do Enfermeiro na área de Estética. Constituiu-se como competência do Enfermeiro: realizar consulta de enfermagem, anamnese e estabelecer o tratamento adequado; prescrever cuidados domiciliares e orientações para o auto cuidado; a realização dos procedimentos: ultrassom cavitacional, nutricosmético, intradermoterapia, escleroterapia, depilação a laser, entre outros; registrar em prontuário dados e ocorrências referentes ao procedimento; realizar processo de seleção de compra de materiais para uso estético; estabelecer protocolos dos procedimentos estéticos; manter-se atualizado (BRASIL, 2016). No entanto, em 2017, a referida Resolução, que normatiza a atuação do Enfermeiro na área de Estética, foi suspensa devido à ação movida por entidades médicas. O COFEN destacou que os procedimentos de estética são realizados por enfermeiros especialistas com pós-graduação lato sensu em estética, de acordo com a legislação estabelecida pelo Ministério da Educação, com no mínimo 100 horas de aulas práticas. Assim, na defesa da Enfermagem, o COFEN está tomando medidas cabíveis para recorrer à decisão judicial, na busca do reconhecimento de que a Enfermagem estética já é uma realidade no Brasil e que regulamentar os recursos terapêuticos e procedimentos é importante para a segurança profissional e do paciente (COFEN, 2017). Nesse sentido, vale destacar a importância da Sociedade Brasileira de Enfermeiros em Saúde Estética (SOBESE), que desde 2016 promove e contribui para o progresso e evolução da Enfermagem em saúde estética, através da 7 promoção da educação, produção e divulgação científica nacional, lutando pela efetivação da regulamentação profissional e colaborando no desenvolvimento técnico científico, de acordo com os princípios éticos e legais para atuação do enfermeiro na promoção da saúde (SOBESE, 2016). Diante das transformações econômicas, globalização e inovações tecnológicas que causam grandes impactos na configuração do mercado de trabalho, resultando em aumento da instabilidade no emprego, elevação da taxa de desemprego, redução de salários e mercados mais competitivos, considera-se que a Enfermagem estética é uma temática promissora para a Enfermagem brasileira, já que na modernidade cuidar da beleza deixou de ser considerada uma atividade supérflua e passou a ser tratado como uma questão de saúde, bem-estar e, inclusive, ter relação com a auto motivação, sendo assim uma área pertinente a ser explorada no mercado pelos enfermeiros (BORBA; THIVES, 2011; MORAIS et al., 2013). Os historiadores que estudaram os modos de produção, como fonte fundamental, esqueceram da incidência da estética e dos valores para explicar a existência das classes sociais no referencial do materialismo dialético, ou a subordinaram ao ideário do mesmo, como nas obras econômico-filosóficas características do marxismo. Da mesma forma, especialidades como a história da mulher e os estudos de gênero em muito relegaram a incidência dos sentimentos, os valores e as crenças no processo de socialização laboral em geral e dos cuidados da enfermagem em particular. Referindo-se, aqui, aos cuidados, considerando a enfermagem na sua acepção mais clássica e generalizada como a arte mais antiga e a ciência mais moderna. Esse termo engloba tanto a enfermagem pré-profissional como a profissional (que abrange, como antecedentes não profissionais ao longo da história: cuidados de sobrevivência, cuidados maternais, parto, perinatal, amamentação, criação etc.). Embora os cuidados da enfermagem nas suas diferentes fases históricas foram vinculados a estruturas: sociais como a unidade funcional (tribo, família, corporação profissional), espaciais como o referencial funcional e a atores sociais que assumem o papel de cuidadores pré-profissionais e profissionais (mulher, 8 esposa, religiosa, enfermeira) que respondem pelos padrões estéticos que determinaram diferentes formas de organizar, aplicar e interpretar os cuidados - verifica-se lacuna no conhecimento estético dos cuidados, tanto pré-profissionais como profissionais, em relação a suas correspondências estruturais, quer dizer, o sentimento de parentesco e a estrutura tribal ou familiar, ou o sentimento de maternidade, o sentimento do profissional de cuidados ou “profissionalismo” e a corporação ou família profissional. Todos eles trazem seus valores e sentimentos, associados na sua correspondente escala, seja tribal, familiar ou profissional. Expressado de outra forma, existe grande déficit no conhecimento sobre as conexões entre os mecanismos de pressão cultural (valores, moral, mitos, tradições, sentimentos e religiões) que configuram os padrões estéticos correspondentes às estruturas envolvidas nos cuidados. Este estudo teve os seguintes objetivos: 1) esclarecer o papel da estética nos cuidados, avaliando sua incidência na organização e motivação dos cuidados pré-profissionais e profissionais, a partir da perspectiva da história cultural da enfermagem, e 2) identificar as estruturas que contribuíram na organização, fundamentação e motivação dos cuidados de enfermagem (pré-profissionais e profissionais) nas diferentes fases históricas, relacionando-as aos seus correspondentes padrões estéticos (núcleos de sentimentos motivadores da ação de cuidar pré-profissional e profissional). HIPÓTESE A história cultural permite o estudo e análise dos valores e sentimentos e sua incidência na organização e motivação dos cuidados pré-profissionais e profissionais, assim, é pertinente para o estudo da estética dos cuidados. Os sentimentos de maternidade,altruísmo, caridade e piedade têm funcionado como bases de sustentação para a estética dos cuidados pré- profissionais, durante grande parte da história da enfermagem. 9 Os valores projetam sentimentos, “ressonâncias subjetivas”, que correspondem a ferramentas de pressão cultural que determinam a organização e motivação dos cuidados (pré-profissionais e profissionais). Perguntas de pesquisa: quais os valores e sentimentos estéticos que têm fundamentado e motivado os cuidados pré-profissionais e profissionais? E em quais estruturas têm sido socializados historicamente? O ESTADO DA QUESTÃO O tema estético tem sido monopolizado durante muito tempo por disciplinas como a filosofia, a psicologia e a arte. Porém, os sentimentos são considerados elementos fundamentais para análise na área de enfermagem. A preocupação com a estética data da Antiguidade. Os filósofos da Grécia Antiga, porém, trataram o tema ao identificar a forma ou ideia do bem como valor supremo. Na perspectiva poética, dramatúrgica e histórica, se interpretava a estética como uma lógica da sensibilidade. Outros autores reinterpretaram o princípio platônico de que “o bom é belo”, vinculando a ética à estética no referencial dos cuidados de enfermagem. De fato, a história tem demonstrado que os cuidados ficaram por muito tempo sob a responsabilidade de pessoas que sintonizavam com valores supremos, como a maternidade e a religiosidade, e que determinaram esteticamente a morfologia e funcionalidade das estruturas sociais implicadas nos cuidados. Também, a função coercitiva dos valores vinculados à estética tem sido pesquisada e avaliada como algo consubstancial e preciso para que as pessoas realizem as funções socialmente determinadas, com certo convencimento de estarem atuando com legitimidade. Outros pesquisadores descrevem os mecanismos de pressão cultural necessários para que, por exemplo, a mãe se dedique às atividades domésticas, entre as quais os cuidados têm papel centra. A hermenêutica interpretativa contribui com o estudo dos sentimentos, demonstrando que constituem referência universal para a humanidade, permitindo realizar análise comparativa entre estética e hermenêutica. A partir desse mesmo contexto interpretativo, afirma-se que a identidade artística de qualquer obra deriva do seu potencial de compreensão, por meio de um 10 ato hermenêutico, que ocorre no âmbito da conexão entre o ato do cuidado e a necessidade de compreensão que o mesmo implica. Os historiadores culturais, a maioria dos quais tem suas origens na história social, dedicam-se ao estudo tanto dos sentimentos e valores da sociedade como dos mecanismos de transmissão e pressão cultural. Da Escola de Birmingham surgiu um núcleo importante de historiadores culturais que estudam a literatura, os Mass Media, e sua incidência nas formas de pensar e sentir da população, potenciando a padronização da estética de massas. A partir de outra perspectiva, fenômenos como a grande resistência à mudança de papel da mulher na família e do religioso/religiosa em uma dada ordem têm sido estudados, e ambos no contexto dos cuidados. A enfermagem tem estudado o fator referencial e organizador dos sentimentos, partindo daqueles inspirados pela própria natureza biológica nas culturas primitivas, além do caráter estruturador de todo esse processo na construção do conhecimento da enfermagem, aprofundando na natureza desse conhecimento. Em estudo, que pode ser considerado modelo sobre os padrões de conhecimento da enfermagem, esses são classificados em quatro níveis: empírico científico, ético, pessoal e estético. Essa classificação dos padrões de conhecimento de enfermagem tem sido seguida por numerosos pesquisadores, a partir de diferentes perspectivas, mas respeitando o essencial da classificação e os princípios marcados pela autora. Alguns anos depois, foi publicado trabalho que desenvolve análise crítica das contribuições de Carper, e também manifesta os aspectos positivos do seu trabalho, adicionando um novo padrão - o sociopolítico - que supõe, seguindo o conceito heideggeriano de estar “aí” desenvolvido em “O ser e o tempo”, a consideração do contexto histórico, geográfico, ideológico e sociocultural nas formas de estruturar o conhecimento. As novas fronteiras do conhecimento da enfermagem são abordadas em uma perspectiva que assume a complexidade dos cuidados. Outros pesquisadores têm estudado e analisado dialeticamente a enfermagem como uma arte. 11 Também são vários os autores que olharam a estética dos cuidados sob diversos pontos de vista, por exemplo: desde a ética e filosofia, explicitando a necessidade de que a enfermagem desenvolva e aplique espaços e estratégias profissionais para a expressão subjetiva dos sentimentos, a poesia, a sociopoética e a prosa escrita como forma de expressar e armazenar o conhecimento estético produzido na intensidade dos processos de interação enfermeira/paciente. Outros estudos enfocaram a contemplação, análise e reflexão de obras de arte iconográficas como instrumento de construção do conhecimento estético dos cuidados. A estética dos cuidados e sua função coadjuvante na adoção de um modelo social, de valores, tradições e sentimentos tem sido estudada em um meio com grande potencial de transmissão e pressão cultural – o cinema. Paradigma, referencial teórico e metodologia empregada. Este estudo parte dos pressupostos do paradigma hermenêutico desenvolvido por Gadamer, dado seu grande potencial de interpretação estética. Com o objetivo de explicar os lentos processos históricos que ocorrem nas estruturas sociais, implicadas nos cuidados e sua estética, é pertinente considerar os princípios do paradigma sócio crítico e o pensamento crítico como ferramenta de análise do fenômeno de transformação dos padrões estéticos, na sociedade e na vida cotidiana, como resultado das mudanças estruturais que a estética dos cuidados experimenta, como consequência dos mecanismos de pressão cultural, e que incidem no processo de transição da estética pré-profissional à estética profissional dos cuidados. O referencial teórico de partida, a história cultural e estética, que tem sua origem na escola de Bimingham, é caracterizado pelo estudo tanto dos sentimentos e valores da sociedade como dos mecanismos de transmissão e pressão cultural. Para entender adequadamente a história cultural, é preciso partir de uma ideia coerente de história (com relação à cultura). A história pode ser interpretada essencialmente seguindo Aróstegui, como: “a qualidade temporal que tem tudo que existe e também sua manifestação empírica”. Dessa forma, nada escapa à história, porque nada é sem ser através do tempo. Uma panorâmica holística da disciplina histórica foi oferecida ao afirmar que a história deve ser considerada como a única ciência que, sendo dinâmica e global, oferece visão sintética do fenômeno humano. 12 A seguinte definição esclarece a relação entre a história e a estética como núcleo dos sentimentos humanos: a estética está integrada na qualidade temporal dos cuidados aos quais dá forma e estilo, marcando as tendências que distinguem os cuidados através do tempo, em diferentes culturas. Por outro lado, de acordo com Vilar, a história como ciência simultaneamente dinâmica e global, que apresenta de forma sintética os fenômenos, ocupa-se do estudo da evolução dos sentimentos e valores e sua incidência na configuração estética dos cuidados. Para esclarecer o núcleo teórico que inspira este estudo, é preciso explicitar uma definição sobre a história cultural que resulte ampla, precisa e que abranja o mais essencial dos enunciados usados no intuito de expressar as características de necessidade, cultura, cuidados, antropologia, estética e história. A história cultural dos cuidados poderia definir-se comouma especialidade da ciência histórica, que visa o estudo do ser humano imerso na sua cultura, através do tempo, considerando todos aqueles comportamentos, ideias, sentimentos, símbolos e significados que acontecem em um determinado contexto social, econômico, familiar, laboral e que estão implícitos no processo de satisfação das necessidades de saúde de um grupo humano. A história cultural dos cuidados constitui ferramenta pertinente para o estudo da estética dos cuidados em relação aos fatores culturais e axiológicos. Etimologicamente, a palavra estética deriva do grego (aisthetikê) “sensação, percepção” e de (aisthesis) “sensação, sensibilidade”. Pode-se interpretar como a ciência que estuda e investiga a origem sistemática do sentimento puro e sua manifestação, que é a arte, conforme afirma Kant. As estruturas sociais e mentais básicas que serão estudadas e analisadas, a partir da perspectiva da história cultural e estética dos cuidados, de acordo com Siles, são: 1- unidade funcional: família, religião, mitos, ciência (estrutura social ou mental que socializa e dá significado aos cuidados), 2- referencial funcional: lar, hospital, centro de atenção primária, templo (estrutura espacial de onde se fornecem os cuidados) e 3- elemento funcional: mulher, feiticeiro, bruxa, religioso, profissional (ator social encarregado de fornecer os cuidados. 13 MÉTODO Para evitar vieses seletivos no processo heurístico, foi estabelecido um protocolo de avaliação de artigos por tema, com filtros em três níveis: título, resumo e conteúdo na íntegra. O período cronológico estabelecido foi entre 1988 e 2010, durante o qual podiam ser consultados artigos em revistas com sistema de revisão por pares e monografias, referentes ao tema, escritas em inglês, espanhol e português. A busca foi realizada mediante descritores que refletiam os objetivos, hipóteses e a pergunta da pesquisa (estética, cuidados, estética dos cuidados, enfermagem e estética, história cultural dos cuidados, sentimentos e cuidados, estruturas funcionais e cuidados, arte e cuidados, padrões de conhecimento e estética), em fontes secundárias ou derivadas que foram selecionadas por possibilitar a busca de acordo com os critérios previamente estabelecidos (CUIDEN, CINAHL, MEDLINE, BIREME), das quais foram extraídas as fontes primárias selecionadas. Os critérios de inclusão, com vistas à maior adequação do estudo aos seus objetivos, foram: trabalhos que continham informação sobre a estética dos cuidados através da história; estudos sobre estética com enfoque integrador das dimensões sentimentais e técnicas de enfermagem; trabalhos que permitiram analisar as relações entre o padrão estético e as estruturas funcionais envolvidas nos cuidados (unidade funcional, referencial funcional e elemento funcional) e estudos que desenvolvem enfoques sintéticos entre aspectos culturais, estéticos, fisiológicos e axiológicos. Após período de busca de 60 dias, obteve-se o total de 102 publicações inicialmente selecionadas, das quais foram descartadas 58,82% daquelas selecionadas, após revisão, de acordo com os filtros e critérios de inclusão. Para categorizar e analisar os dados, com o fim de estabelecer as relações entre padrão estético, sentimentos, valores e símbolos estéticos, foram usados os termos habitus de Bourdieu e conformismo lógico, de Durkheim. 14 Para proceder à integração estrutural do padrão estético sob a perspectiva dos cuidados, foram usadas as estruturas funcionais dos cuidados de Siles: unidade funcional, referencial funcional e elemento funcional. Desenvolvimento do tema: a hierarquização de valores como mecanismo de pressão cultural e sua relação com os padrões estéticos dos cuidados. A partir de uma penumbrosa posição de invisibilidade - pelo menos para a história tradicional - os valores, as crenças, os sentimentos e os símbolos têm influenciado a forma manifesta de organizar os cuidados. O caráter universal dos valores corresponde a um ideário inapreciável por si só, a não ser que estejam encarnados em pessoas que os manifestam como qualidade ou atributo de seu ser. Assim, o que se percebe dos valores são as qualidades desses depositários: a beleza de uma pintura, a harmonia de uma melodia, a ternura de uma mãe cuidando de sua prole, a religiosidade de um membro de uma ordem religiosa que dedica sua vida a socorrer os pobres enfermos, o profissionalismo de uma enfermeira com formação científica, entre outros. Os valores foram hierarquizados, em meados do século XX, pelo filósofo alemão Max Scheller em quatro modalidades, em função de sua duração e universalidade. Das formas de valor mais específicas e locais os mais complexos e universais, Scheller apresenta essa classificação, na qual se valoriza a grande inter-relação entre os valores e os sentimentos. A saúde e a doença, assim como o vigor e as vivências emocionais, fazem parte dos “valores vitais” e ocupam o segundo nível na escala crescente. A estética dos cuidados poderia ser incluída no terceiro nível (espiritual), o tipo de interpretação, tanto das causas como dos tratamentos dos problemas de saúde, estaria localizado no nível mais elevado: o religioso ou profano N4: valores religiosos O santo e o profano (interpretação sobrenatural ou racional dos cuidados) N3: valores espirituais Estéticos, justiça, verdade (estética dos cuidados) N2: valores vitais Saúde/doença/bem-estar/vivências emocionais N1: valores sensíveis Afeto, prazer, dor 15 Para que as pessoas realizem as funções determinadas socialmente, a coerção necessita da superposição artificial de valores de forma vertical; esse processo está estreitamente vinculado aos processos de comunicação humana, à tecnologia e, principalmente, aos sentimentos implicados nos mesmos (Mass Media). Os conceitos de saúde e doença têm sido categorizados como valores vitais que geram sentimentos ou “ressonâncias subjetivas”, integrados em símbolos com significado estético que os têm representado e projetado sobre a sociedade, determinando uma particular estética dos cuidados. Esses valores, seus sentimentos (ressonâncias subjetivas) e sua simbologia, que incidem na configuração estética dos cuidados, têm estado sujeitos a variações histórico-culturais que constituem parte importante do objetivo de estudo da história cultural. Uma das consequências das variações histórico-culturais dos cuidados é a mudança de valores e sentimentos, desde a maternidade ao profissionalismo e à técnica. A transformação de uma estética dos cuidados pré-profissionais, estruturada em valores e sentimentos maternais, é substituída mediante um processo de desconstrução, propiciado pelo pensamento feminista e o pensamento crítico, durante o último terço do século XIX e a primeira metade do século XX(7). Essa nova estética dos cuidados profissionais, progressivamente, se assenta nos valores e sentimentos propiciados pelo pensamento racional tecnológico, a ciência e o profissionalismo. Una visão histórico-cultural sobre as relações entre as estruturas sociais e a estética dos cuidados: o conformismo lógico, o habitus e os padrões estéticos da enfermagem. As estruturas, na organização da sociedade, que cumprem função configuradora da estética dos cuidados, tais como a família parental, a família profissional ou o corporativismo, e as estruturas mentais, enraizadas em crenças e valores de ordem religiosa ou profissional, têm contribuído para complementar a função de cuidador (préprofissional e profissional) na sociedade, e são motivadas por uma constelação de símbolos com significado estético, dos quais fluem os sentimentos e valores que, sendo diferentes - a maternidade e o mundo feminino, o mundo interior afastado das paixões e debilidades do corpo (mas intensamente dogmatizado do simbolismo religioso),o profissionalismo regulado eticamente e centrado em valores e os conhecimentos e crenças profissionais - confluem para um mesmo fim: os cuidados, mesmo com estéticas diferenciadas em função da fase 16 histórica, quer dizer, a estética dos cuidados pré-profissionais (família, religião), estética dos cuidados profissional (corporativismo ou família profissional e os conhecimentos e princípios científicos). Na história da enfermagem, pode–se encontrar padrões estéticos cujas características estão condicionadas por diferentes tipos de valores: magia, animismo e religiosidade (interpretação sobrenatural das doenças e seu conseguinte tratamento em relação a essas causas); maternidade, altruísmo, solidariedade, empirismo, cientificismo (interpretação natural, doméstica, empírica, racional e científica dos cuidados e seu conseguinte tratamento em relação a suas causas). Os padrões de conhecimento, elaborados por Carper, a saber: empírico, ético, pessoal e estético, têm características e objetivos diferentes, mas isso não quer dizer que possam ser entendidos como entes isolados, pois constituem núcleos inter-relacionados de grande transversalidade, nos quais incidem as formas de pensamento e sentimento religiosos, domésticos, profissionais e científicos. O padrão de conhecimento estético tem sido reduzido por alguns autores a pouco menos que a “arte” de saber fazer as técnicas ou procedimentos. Essa tendência estética, aplicada aos cuidados, daria como resultado estética dos cuidados centrada, exclusivamente, no “saber fazer” e nas técnicas ou procedimentos de cuidados. Porém, como assinala Schiller, o mundo do estético corresponde também ao sensualismo empirista e aos sentimentos que têm lugar em cada experiência pessoal, profissional, ética e cultural. Nesse sentido, a estética dos cuidados vai além do puramente técnico, já que integra o mundo dos valores, os sentimentos e os aspectos éticos e culturais que constituem as experiências estéticas nos processos de cuidar. A pressão cultural propicia nas estruturas sociais e mentais que, através da socialização imperativa de sentimentos, valores, crenças, mitos e tradições, impõem - utilizando os padrões sociopolíticos, uma forma de pensamento, organização e ação - tudo o que diz respeito a cuidados e contribuem para a construção de determinada estética de cuidados. A unidade funcional, como estrutura social básica de convivência e socialização (família, religião, humanismo, neopositivismo ou pensamento tecnológico, colégio ou sociedade profissional, entre outros), é a que determina a 17 motivação dos cuidados pré-profissionais e profissionais, a partir de uma estética que é produto da convivência e do processo de socialização do grupo. A unidade funcional também se torna fundamental para a aquisição de valores, normas, crenças, tradições, papéis e outros. O padrão estético de cuidados é baseado nos sentimentos emanados da unidade funcional (maternidade, altruísmo, caridade, solidariedade, profissionalismo, tecnicismo, entre outros). O marco funcional é a estrutura espacial na qual se prestam os cuidados, determinada pelas tendências estéticas fixadas pela unidade funcional. ESTRUTURAS E PADRÕES ESTÉTICOS NA HISTÓRIA CULTURAL DA ENFERMAGEM Considerando essas estruturas e analisando-as comparativamente em relação aos sentimentos, valores e crenças que dinamizarão o processo de socialização dos cuidados, valoriza-se como, somente a partir da influência dos sentimentos, símbolos e valores, se compreende o “conformismo lógico” das mulheres que, durante milênios, têm dedicado a parte central de suas vidas às mesmas tarefas. Dessa forma, os sentimentos, símbolos e valores têm um componente utilitarista que repercute na geração e manutenção das estruturas sociais que cumprem funções tão importantes como os cuidados pré profissionais e profissionais. A integração dos indivíduos que possibilitam o funcionamento dessas estruturas (a mulher na família, o religioso ou religiosa em uma ordem dada) se faz de forma inconsciente em relação a um plano, cujos objetivos contribuem para essa realização. A mulher que cuida dos seus filhos está impelida por sentimento maternal que deriva do poder simbólico da maternidade e determina essas práticas de cuidados, em que todas aquelas mulheres que as realizam, observando uma inclinação ou habitus cultural, são reconhecidas como pares. Para Bourdieu, o habitus constitui mecanismo de interiorização das classificações ou categorias de sentimentos, culturalmente estabelecidas. Nessa mesma linha, para entender o motivo pelo qual se tem mantido vigentes as funções cuidadoras de estruturas 18 sociais, como a família e ordens religiosas (como as dedicadas ao cuidado de doentes), o conceito de conformismo lógico, de Durkheim, torna-se extremamente esclarecedor. A estética como teoria do conhecimento do sensível e sua interpretação a partir da perspectiva da enfermagem Antes de afirmar que a história cultural da enfermagem tem que se ocupar de tal e qual parcela da vida humana (neste caso do mundo dos sentimentos), é preciso esclarecer as suas características através do estudo epistemológico e etimológico pertinente. A íntima conexão entre sentimento maternal e estética dos cuidados (pré-profissionais) é comprovada ao se analisar a palavra empregada no âmbito anglo-saxão para identificar “enfermagem”, que é nurse, derivada de nutrix e nutrire (ama de leite, nutrir). A manifestação estética do sentimento de alimentar a criança, mediante o aleitamento materno, é tão universal quanto cheia de simbologia e significados estéticos, por exemplo: Vênus de diferentes lugares (na pré-história), Virgens dando de mamar ou cuidando da criança (Antiguidade, Idade Média e Renascimento), mulheres dando de mamar ou cuidando de crianças (desde a Antiguidade até nossos dias), entre outras. A teoria estética se integra à ciência filosófica como teoria do conhecimento vulgar (do sensível). Também, o conhecimento estético está separado do racional porque está fundamentado na individualidade da sensibilidade humana. Porém, as ideias estéticas são necessárias para dotar de representação as ideias racionais, mediante o desenho de uma forma estética (sensível). Quando Gadamer sustenta que é a experiência da arte – entre tudo que se encontra na natureza e na história – aquilo que comunica de forma imediata, próxima e familiar, como se todo encontro com uma obra de arte significasse um encontro consigo mesmo, o que afirma a universalidade dos sentimentos. A estética supera a hermenêutica, que constitui uma ponte para salvar a distância histórica, humana ou cultural entre as pessoas, enquanto a estética rompe diretamente essa separação devido à universalidade dos sentimentos. O conhecimento estético dos cuidados supera o potencial de comunicação da hermenêutica em termos de urgência. As ideias estéticas estão no meio do caminho entre o instinto e o conceitual, entre a sensibilidade e o entendimento, não produzem conhecimento, mas sim o regulam, dotando-o de forma; consequentemente, os conceitos de cuidado, doença, 19 saúde, dor, morte e outros são regulados pelas suas correspondentes formas estéticas. A estética dos cuidados se ocupa daquela parte do conhecimento vulgar (sensível) que provém da prática dos cuidados e que está muito inter-relacionada às capacidades perceptivas integradas nos cinco sensos do ser humano. A enfermeira que está cuidando de um idoso vive sentimentos individuais que não são mais que seus, na sua particularidade, e brotam dessa pessoa idosa da qual está cuidado, mas, quando tem a ocasião de observar uma pintura, assistir um filme, ler um romance ou escutar uma canção, cujas mensagens ou tramas contenham representação da ideia racional “cuidado de idosos”, em qualquer uma das suasinfinitas variedades espaciais, temporais, pessoais, culturais, lhe sobrevirão sentimentos que no fundo são partilhados universalmente. A ESTÉTICA E SUAS FONTES NA HISTÓRIA CULTURAL DOS CUIDADOS A reflexão epistemológica acima facilita o esclarecimento da natureza estética do conhecimento de enfermagem, uma das dimensões desse conhecimento que continuou praticamente invisível para a enfermagem profissional e científica. Como no caso de outros tipos de exclusão, por exemplo: gênero, raça, classe social, entre outras; a história tem a responsabilidade de resgatar do tempo passado esse “tesouro” que faz parte do acervo dos cuidados, desde a existência do ser humano – os sentimentos implicados nos cuidados – e de contribuir com seus resultados para a reinterpretação das formas de pensamento profissionais e científicas da enfermagem. O sentimento como objetivo de estudo torna-se tão crucial para entender as causas dos amotinamentos quanto os fatos que os provocam. A história dos sentimentos, integrada à história cultural dos cuidados, pode contribuir para responder questões como esta: o que mantém a mãe tanto tempo atada ao hábito doméstico e ao dos cuidados… deve-se somente à submissão provocada pelo poder 20 do homem? Ao analisar os sentimentos integrados nos cuidados, o historiador cultural dos cuidados identifica a estética dos cuidados de cada fase histórica. ASPECTOS LEGAIS DA ENFERMAGEM ESTÉTICA NO BRASIL No Brasil, a enfermagem estética é uma nova forma de atuação para o exercício do cuidado, pois o reconhecimento da atuação e da inserção desta área no mercado de trabalho é recente, por isso, encontra-se em um delicado processo de desenvolvimento e progressão (BRASIL, 2014). A trajetória da enfermagem estética atuante nesse nicho do mercado oficializa-se quando o parecer 197-2014 é publicado pelo COFEN afirmando que não há nenhum impedimento técnico legal para atuação do enfermeiro, junto a procedimentos estéticos de natureza não invasiva perfurocortantes ou injetáveis. Nessa mesma publicação, o conselho também manifesta que se faz necessária a publicação da Resolução da Enfermagem Estética para o reconhecimento da especialidade profissional (BRASIL, 2014). Em novembro 2016 a Resolução nº 0529/2016 foi publicada pelo COFEN, regulamentando a atuação do enfermeiro na enfermagem estética. Os seguintes procedimentos foram regulamentados: micropuntura, carboxiterapia, cosméticos, cosmecêuticos, criolipólise, depilação à laser, eletroterapia, escleroterapia, intradermoterapia, mesoterapia, laserterapia, terapia combinada de ultrassom e microcorrentes, micropigmentação, nutracêuticos, nutricosméticos, peelings, ultrassom cavitacional e vacuoterapia (BRASIL, 2016). Em abril de 2017, foi publicada a ampliação da Resolução 0529/2016, onde foram inseridos mais procedimentos como parte legal da atuação dos enfermeiros, entre eles: o peeling médio, aplicação de Botox, preenchimentos dérmicos, fios de sustentação absorvíveis e Procedimentos Estéticos Injetável para Microvasos (PEIM) (COFEN, 2017a). No entanto, diante desses avanços, em maio de 2017, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) entrou com uma liminar contra o COFEN, que suspendeu temporariamente a Resolução 0529/2016. 21 A liminar tem as seguintes alegações: (1) os limites legais de atuação regulamentar dos conselhos profissionais; (2) os procedimentos estéticos invasivos não cirúrgicos descritos na Resolução vão de encontro à lei do ato médico, que define como ato médico a indicação e execução de procedimentos invasivos; (3) na defesa à saúde da população exposta a riscos, caso haja atendimento por profissional não médico inabilitado científico e legalmente (COFEN, 2017b). Em agosto de 2017 foi realizada uma audiência de conciliação entre SBD e COFEN, no entanto, não houve acordo. A juíza deferiu o pedido da SBD e suspendeu, temporariamente, a Resolução 0529/2016, o que impede os enfermeiros de atuar na área. Nesta decisão, ficou restrito apenas à medicina os procedimentos: micropuntura (microagulhamento); laserterapia; depilação à laser; criolipólise; escleroterapia; intradermoterapia/mesoterapia; prescrição de nutracêuticos/nutricosméticos e peelings (BRASIL, 2016). Entretanto, as discussões, debates e preparos de argumentações se mantiveram dentro dos conselhos e sociedades de enfermagem, como a Sociedade Brasileira de Enfermeiros em Saúde Estética (SOBESE), a Sociedade Brasileira de Enfermagem Estética (SBEE), a Sociedade Brasileira de Feridas e Estética (SOBENFeE) e a Associação Brasileira Enfermagem em Dermatologia (SOBENDE) (COFEN, 2017). Em 2018 o COFEN lançou nota de esclarecimento e declarou que estava tomando todas as medidas cabíveis para recorrer à decisão da juíza, afirmando que a atuação na área estética é uma realidade no Brasil e no mundo e que regulamentar os procedimentos e recursos terapêuticos são importantes para a segurança do paciente e dos profissionais. Em 2019, o deputado federal Fred Costa apresentou projeto de lei (PL) dispondo sobre o reconhecimento da área de estética e cosmetologia e/ou saúde estética aos profissionais da saúde. 22 O PL 1559/2019 prevê que enfermeiros, biólogos, biomédicos, farmacêuticos, fonoaudiólogos e cirurgiões-dentistas possam atuar na área de estética, desde que possuam formação especializada lato sensu em “estética avançada”, reconhecida pelo Ministério da Educação. O PL entrou em consulta pública no site da Câmara dos Deputados e venceu com 51% dos votos (COFEN, 2019). Até o presente momento deste estudo, a regulamentação da Enfermagem Estética continua suspensa por determinação judicial. O COFEN encontra-se impedido de “editar nova norma que trate da atuação de Enfermeiros em cirurgia plástica, cirurgia vascular, dermatologia e estética” e segue apresentando recursos contra decisões liminares proferidas pela Justiça Federal do Rio Grande do Norte e do Distrito Federal (Processo nº. 0804210-12.2017.4.05.8400 e 20776- 45.2017.4.01.3400), que suspenderam os efeitos da resolução que normatiza a atuação dos enfermeiros na área da estética, independentemente de o profissional possuir especialização lato sensu. Esclarece-se, adicionalmente, que o Cofen aguarda um posicionamento definitivo do judiciário sobre essa questão (COFEN, 2019). ESTÉTICOS Constata-se, a cada dia, o crescimento da demanda por procedimentos denominados como “estéticos”, os quais foram originalmente introduzidos e realizados por médicos com especialização em Cirurgia Plástica, Dermatologia e Cirurgia Dermatológica e mais recentemente, pela área da Medicina que se convencionou chamar de “Medicina estética”, especialidade ainda não reconhecida pelos órgãos de classe da Medicina, como o Conselho Federal de Medicina ( Di Maio, 2014) Tais procedimentos continuam a aumentar em popularidade, verificando-se o crescimento em sua busca, pela veiculação midiática de seus “resultados”, somado aos novos anseios das pessoas em relação ao seu corpo e sua imagem, como demonstram os estudos de mercado neste segmento do que se convencionou chamar “mercado da beleza” ( ABIFARMA, 2015) Com isto, é crescente o número de “profissionais não médicos” que vem se inserindo neste 23 contexto, buscando encontrar nichos de atuação e oferta de serviços das mais variadas naturezas frente ás novas necessidades de saúde. Muitos jovens são hoje atraídos por apelos de que encontrarão neste segmento, “um promissor e lucrativo” mercado, o que os leva a solicitarem amparo legal para realizar muitos dos procedimentos incluídos neste rol de novas tecnologias, sem, contudo, considerarem uma série de variáveis envolvidas com mudanças nas legislações e mesmo, na cultura e valores da sociedade acerca do que esperam de cada profissional neste novo cenário (Mandelbaum,2010). O chamado “mercado da beleza”, que segundo os dados mais recentes, movimenta mais de 60 bilhões de dólares por ano no mundo, e cresce vertiginosamente, é extremamente diverso, heterogêneo e complexo, incluindo-se nele, desde os cuidados pessoais, higiene, serviços de cabeleireiro e manicure, visagismo, maquilagem, dentre outros, como também, os mais complexos procedimentos como as cirurgias estéticas, aplicação de substâncias e produtos ativos, uso de aparelhos e tecnologias altamente especializados, e que atuam em estruturas profundas do corpo humano, requerendo formação e capacitação adequados, para sua utilização e para realização destes procedimentos. Configura-se hoje um grande conjunto de ações, recursos tecnológicos e procedimentos que se procura caracterizar como “Saúde estética”, cada vez mais preocupada em ampliar a oferta de serviços e soluções para as pessoas. Especialmente no que concerne aos procedimentos e tecnologias, constata-se a volatilidade com que são lançados, substituídos ou mesmo refutados, o que torna extremamente rápida a obsolescência de equipamentos, e ao mesmo tempo, da capacitação dos profissionais. Este ponto deve ser alvo de profunda reflexão quando se pensa em “ autorizar este ou aquele procedimento”, pois as legislações não podem ser alteradas com a velocidade da criação de tais tecnologias ou a oferta dos novos procedimentos, ou mesmo, novas formas de se utilizar antigos equipamentos. As empresas de tecnologia buscam ampliar a cada dia o espectro de profissionais que utilizem seus equipamentos, pois certamente seus objetivos concentram-se especialmente em metas de vendas e produção em larga escala, não lhes cabendo nenhuma forma de responsabilização pela adequada utilização dos mesmos por estes profissionais, tarefa esta que cabe aos conselhos das profissões regulamentadas. Assim, além dos profissionais da área médica, observa-se a 24 gradativa busca pela inserção de outros profissionais de saúde, como os odontológos, fisioterapeutas, enfermeiros, biomédicos, tecnólogos, técnicos e esteticistas no contexto dos chamados “procedimentos estéticos”, tanto aqueles que são denominados como “mais superficiais, ou não invasivos”, como procedimentos “injetáveis, ou invasivos”, tanto em clínicas, spas, salões de beleza, centros de estética, e mesmo em instituições tradicionais como hospitais e clínicas especializadas em cirurgia plástica e estética. A Enfermagem, por sua trajetória histórica, tem longa atuação nos procedimentos pré e pós-operatório em cirurgias plásticas, tanto estéticas como reparadoras, assim como, na recuperação estética e funcional pós-danos como queimaduras e sequelas (Mandelbaum, 1994). Além disto, a Enfermagem é o maior contingente de profissionais de saúde, atuando nos mais diversos cenários, desde a atenção básica á especializadas, realizando inúmeros procedimentos estabelecidos em protocolos e amparados em legislação e diretrizes. Da mesma forma, a Enfermagem faz parte da equipe multiprofissional e interdisciplinar de saúde, acompanhando a evolução de todos os tipos e modalidades de tratamento e das novas opções terapêuticas para o cuidado preventivo, a recuperação e a reabilitação da saúde das pessoas. A enfermagem tem ainda, dentro de suas competências, o atendimento ás necessidades estéticas, a dimensão do sensível das pessoas, e seu bem estar e qualidade de vida ( Santos, Brandão, 2014). É importante que se ressalte que embora se imagine que a Estética seja algo “ novo” na enfermagem, tal componente do cuidado já foi tema central de vários congressos, inclusive do Congresso Brasileiro de Enfermagem da ABEn, havendo vasto material bibliográfico acerca do assunto para consulta, o que não justifica, afirmações usuais de que” inexiste bibliografia acerca do mesmo”. Assim, é importante que se reflita que, a inserção da Enfermagem na área do que se denomina hoje como “Saúde estética”, não pode ser vista de forma diferente que o foi, a inserção da profissão nas demais especialidades que surgem a cada dia na saúde, como a Oncologia, o Tratamento intensivo, a Geriatria, e todas as áreas e campos de atuação que surgem cotidianamente, para melhoria dos resultados e da qualidade da atenção à saúde e o bem-estar das pessoas. Apesar de toda esta 25 evolução da Enfermagem, e do seu crescente acúmulo de conhecimentos e experiências, em todas as áreas da saúde, com sua crescente especialização e capacitação, surgem a cada dia, novas demandas e anseios dos profissionais, tanto por maior autonomia, como por proteção e amparo legal dos órgãos de fiscalização, para que novas áreas sejam incorporadas pela Enfermagem. Esta demanda é natural, salutar, mas, precisa ser precedida de um amplo debate e reflexão, da qual participem os órgãos de formação, regulação profissional, vigilância sanitária, assim como, as entidades representativas das profissões de saúde com as quais a Enfermagem atua em equipe, sempre com respeito legal e ético, como tem sido reconhecida e valorizada historicamente. Este legado de credibilidade e respeito, conquistado pela Enfermagem mundial, como comprovam pesquisas como as que foram realizadas pelo Instituto Gallup, deve ser preservado e ampliado, e acreditamos que ao discutirmos sobre estas novas áreas de atuação, devem balizar nossas discussões e reflexões, pois demonstram que “somos vistos como sérios, respeitosos, éticos e confiáveis” (Gallup Institute, 2014,2015). Também junto aos demais profissionais da saúde, a Enfermagem sempre gozou e ainda goza, de profundo respeito, tanto por seu papel de cuidado das pessoas diuturnamente, como pelos preceitos éticos que envolvem a prática da profissão. A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), entidade representativa dos dermatologistas brasileiros, reconhece “a importância de atuação em equipe e o papel da enfermagem nesta área, por sua postura ética, cientifica, técnica e competente ao longo da história de mais de 100 anos da especialidade no Brasil (Lupi, Omar, 2012)” Em levantamento realizado pela SOBENDE em 2014, verificou- se que existem inúmeras ações junto ao Ministério Público, por parte do Conselho Federal de Medicina e associações médicas, relativas à realização de “procedimentos estéticos invasivos por profissionais não médicos”. Nenhum destes processos envolve até o momento os Enfermeiros, e é nosso desejo que continuem inexistindo. Estas reflexões iniciais visam trazer para o cenário das discussões acerca da Normatização da atuação da enfermagem nos chamados “procedimentos estéticos”, algumas discussões que a SOBENDE vem realizando em seus eventos e fóruns, 26 dentre os quais poderíamos citar alguns questionamentos que devemos nos fazer quando pensamos na necessidade de normatização da atuação da Enfermagem na Estética. O QUE ENTENDEMOS POR ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA ESTÉTICA A Enfermagem é uma profissão regulamentada por Lei (Lei n° 7.498/1986 ) , a qual tem explicito quais são as atribuições privativas do enfermeiro, e dentre elas, a Consulta de enfermagem, a realização da Sistematização da Assistência e a supervisão da equipe de enfermagem, com o planejamento do processo assistencial em todas as suas etapas. Cabe ao Enfermeiro, realizar as ações de maior complexidade, podendo “prescrever medicamentos estabelecidos em protocolos nas instituições, conforme a legislação de enfermagem”. Assim, a SOBENDE entende que a Enfermagem deve considerar, no estabelecimento destas novas áreas de atuação, toda a legislação que permeia sua atuação, desde a Constituição Federal, a Lei do Exercício profissional em vigor, o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem e todos os Pareceres e Resoluções vigentes e disponíveis para consulta em nosso site, ou no site do Sistema Conselho Federal de Enfermagem e Conselho Regional deEnfermagem (Cofen-Coren). Dentre elas, ressalta-se, na presente matéria em consulta pública, a Resolução 389/2011, que estabelece as especialidades da Enfermagem. Hoje, com base na Resolução 389/2011, a especialidade de Enfermagem que abrange a área da “Estética”, é a Enfermagem em Dermatologia. Não apenas pelo aspecto legal, mas também, por toda a produção e o acúmulo de conhecimento sobre a atuação do Enfermeiro nesta área, realizada pelos especialistas em Enfermagem em Dermatologia nestes 15 anos de existência da especialidade e da SOBENDE, conforme podem ser comprovados por meio dos anais dos congressos e eventos, onde se podem encontrar inúmeros trabalhos , 27 pesquisas e relatos de experiência acerca da atuação do Enfermeiro na estética, em todas as fases do ciclo de vida, com base no Cuidado integral e na promoção da saúde da pele, qualidade de vida e bem estar das pessoas ( Site da SOBENDE, Eventos realizados ). Assim, entendemos que, no momento, o critério mínimo deva ser que o Enfermeiro tenha pós graduação em Dermatologia, em instituições devidamente registradas no MEC, ou por meio de prova de títulos, conforme prevê a Resolução 389/2011 do Cofen. Este Enfermeiro especialista deve ainda ter capacitações especificas, por meio de cursos devidamente normatizados, com carga horária de teoria e prática, minimamente disciplinados e estabelecidos. Deverá ainda registrar junto ao Sistema CofenCoren, esta especialização, conforme já prevê a Resolução 389/2011 do Cofen. Esta formação e capacitação devem ser permanentes, contínuas, para que se possa emitir, por meio da referida Resolução, amparo legal para que o Enfermeiro possa realizar os procedimentos que vierem a ser estabelecidos na mesma. Entendemos que esta definição deva ser precedida de um amplo debate com os Enfermeiros, sob coordenação do Cofen, com a participação das Associações de Enfermeiros da área, e docentes dos cursos de Enfermagem da área da Dermatologia, face á Resolução 389/2011, podendo ainda ter a participação de áreas afins da Enfermagem, devido ás interfaces do cuidado de Enfermagem. A SOBENDE não entende que o Enfermeiro, ao atuar na estética, deva desconsiderar toda a sua formação holística, humana e ética, e sim, buscar uma especialização e uma capacitação, para oferecer à população, o atendimento de suas necessidades estéticas, dentro do processo do “cuidar em Enfermagem”, como todo o arsenal de conhecimentos, teorias de Enfermagem, tecnologias e recursos existentes e à disposição dos Enfermeiros interessados em atuar nesta área e campo do conhecimento (Brandão, 2014). Hoje, entendemos que a estética é uma das áreas de atuação dos especialistas em Dermatologia, diante da trajetória histórica, da legislação vigente e da realidade de atuação e formação dos Enfermeiros. Assim, temos grande interesse em que se elabore uma Resolução especifica para atuação dos especialistas em dermatologia nesta área, mas, sempre com sua inserção dentro de 28 todo o arcabouço ético, legal, técnico, cientifico e tecnológico que ampara a atuação do Enfermeiro. A SOBENDE entende que “somos Enfermeiros, atuando numa especialidade, que é a Dermatologia, dentro de uma área especifica, que é a Estética”. Alguns pontos merecem profunda reflexão neste momento, para que possamos estabelecer um novo marco legal, que venha de fato amparar a atuação do Enfermeiro no cuidado especializado, dentro desta área de atuação do especialista em Dermatologia. Algumas questões merecem nossa reflexão neste momento e que trazemos para esta consulta pública: 1. Quando falamos na realização de procedimentos estéticos pela Enfermagem, falamos em todos os profissionais da enfermagem, ou apenas alguns deles, como Enfermeiros? A Enfermagem atua em equipe, com atribuições diferentes, e uma Resolução na área da Estética precisa considerar este cenário e não pode se restringir ao enfermeiro, devendo explicitar os diversos papéis da equipe de enfermagem nesta área, assim como já o temos em áreas como o cuidado intensivo, urgências, e outras, em que há claro perfil de competências de cada um dos profissionais da enfermagem. 2. Qual o conceito de “procedimento estético” estamos utilizando? Por que falar em “ procedimento”, e não em “ cuidado”? A Enfermagem utiliza uma série de procedimentos no processo do cuidar, e nem por isso, existe resolução especifica sobre cada um deles, visto que fazem parte do processo de cuidar dentro de um determinado âmbito de necessidades humanas, por meio da SAE. 3. O que se entende por procedimento invasivo e não invasivo, procedimento injetável, prescrição de medicamentos baseados em protocolos? Quais as interfaces destas questões, entre Enfermagem e demais profissões da área da saúde? O que de fato é da natureza da Enfermagem, e o que se pretende “ copiar de outras áreas”, as quais não possuem um arcabouço ético e legal similar ao da Enfermagem? 4. Como a Lei do Exercício Profissional da Enfermagem ampara ou não os profissionais e quais as suas lacunas? 5. Que tipo de aparato legal se faz necessário para que a Enfermagem possa ter uma atuação nesta área? 29 6. O que desejam os profissionais, de fato, nesta área chamada “estética”, e o que imaginam e desejam realizar no que se convencionou chamar “procedimentos estéticos” e uso de equipamentos e aparelhos destinados aos tratamentos estéticos? 7. Quais são, de fato, os limites para que o Enfermeiro possa atuar e realizar ações de enfermagem e o cuidado de enfermagem na área da “Estética”? 8. Qual o papel do enfermeiro nestes locais e cenários de atuação, como centros de estética, clínicas, e outros, com base no que prevê a legislação vigente, em relação à Consulta de Enfermagem e a aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) neste campo de atuação? 9. Estamos falando exatamente sobre o que; – uma especialidade da Enfermagem – uma área de atuação interdisciplinar, dentro de uma especialidade – um campo do conhecimento da Enfermagem, transversal e universal? 10. Qual a responsabilidade técnica, ética e legal do Enfermeiro na realização dos chamados “procedimentos estéticos”? 11. . Existe uma busca do enfermeiro por “autonomia” e por trabalhar sem vínculo empregatício, de forma empresarial e empreendedora, mas, será que a categoria está devidamente preparada para esta nova forma de atuar, assumindo todos os riscos e responsabilidades inerentes a este tipo de atuação? Existem legislações diferentes em cada município e nem sempre o Enfermeiro consegue liberação das secretarias de finanças e vigilância sanitária para trabalhar como autônomo ou profissional liberal – Existem legislações diferentes em cada município e nem sempre o Enfermeiro consegue liberação das secretarias de finanças e vigilância sanitária para trabalhar como autônomo ou profissional liberal Todas estas perguntas merecem nossa discussão, tanto nas instituições formadoras, como juntos aos órgãos de regulação, e aos gestores e mercado de trabalho. Grande parte desses procedimentos, chamados, “Procedimentos Estéticos”, são geralmente associados a um perfil de risco favorável quando realizados por 30 médicos treinados e qualificados, com graduação em medicina, residências e capacitação permanente. Muitos cursos que oferecem capacitação para estes procedimentos, já mencionam no programa, aspectos relacionados a “ o que fazer quando ocorrem complicações”. Um exemplo recente, é um curso sobre o uso de Criolipólise, onde um dos temas é “ Se queimar, o que fazer “. Embora possa parecer absurdo, estes cursos são hoje frequentados por enfermeiros, que acabam considerando “ natural que estes tipos de iatrogenias sejam aceitáveis durante estes procedimentos” . A SOBENDE entende que isto fere frontalmente o Código de ética dos profissionais deenfermagem, que preconiza que devemos oferecer um cuidado seguro e livre de danos ao nosso cliente Preocupamo-nos em demasia, enquanto Associação de Enfermagem em Dermatologia, com a “proliferação e banalização” da utilização de equipamentos denominados “estéticos”, muitos deles com utilização de substâncias que demandam prescrição médica, por sua ação em estruturas extremamente delicadas e importantes, como a face, e a realização destes procedimentos por “ profissionais não médicos” , muitas vezes inadequadamente capacitados e supervisionado e sem o devido amparo legal para prescrever produtos e insumos neles utilizados. Preocupamo-nos sobremaneira, com o que nos parece ainda mais grave, que não se leve em conta a devida autonomia e preparo para agir nos casos em que ocorram iatrogenias, efeitos adversos ou erros na utilização e aplicação dos mesmos. Em muitas das complicações ou iatrogenias relatadas na literatura acerca de procedimentos denominados “ estéticos”, para a reversão das mesmas são necessárias substâncias que exigem prescrição médica, e sua presença, o que certamente não ocorre em muitos destes estabelecimentos onde tais procedimentos são hoje realizados, e certamente hão de se ampliar, à medida que outros profissionais passem a realiza-los. Preocupamo-nos ainda, com as centenas de “cursos de capacitação para procedimentos estéticos”, oferecidos aos diversos profissionais de saúde, dentre eles os Enfermeiros, sem que haja qualquer fiscalização sobre o conteúdo e principalmente, sobre as atividades práticas destes cursos. 31 A SOBENDE preocupa-se e alerta para a banalização destes cursos, sem a presença de Enfermeiros no quadro docente, e que se destinam a capacitar Enfermeiros! O que se observa, é que a maioria destes cursos se tornou de fato, um grande “negócio”, pois os profissionais, sem o devido amparo legal, realizam investimento financeiro nos mesmos, e certamente desejam retorno deste investimento. Entretanto, os responsáveis por tais cursos, na maioria das vezes, também não possuem amparo legal para realizar, eles próprios, os procedimentos para os quais estão capacitando os profissionais, tanto da Enfermagem, como de outras áreas da saúde. Isto tem gerado inúmeros conflitos entre os profissionais, pois o correto seria que a oferta destes cursos só fosse permitida, após o devido amparo legal dos profissionais para realização dos referidos procedimentos, e não o inverso, como se observa hoje. Pesquisa realizada pela Dermatology Nursing Association em 2013 demonstra que as pessoas não esperam que o Enfermeiro, mesmo o especialista, realize procedimentos como esclerose de vasos, lipoaspiração e também os procedimentos denominados injetáveis. Esta pesquisa revela que esta percepção, de que tais procedimentos sejam de âmbito médico, é bastante semelhante entre os usuários, os médicos e os próprios enfermeiros especialistas. Importante lembrar que esta pesquisa foi realizada em um país onde existe o enfermeiro prescritor em dermatologia (NP dermatology nurse), cuja especialização é de no mínimo 18 meses! A SOBENDE não apoia e não reconhece estes cursos para fins de pontuação em seu concurso para titulação, e ampara sua decisão na importante campanha do Conselho Federal de Enfermagem contra o Ensino á distância na Enfermagem, parabenizando o Cofen por esta iniciativa. Acreditamos que se faz necessária uma Resolução específica, oriunda do Conselho Federal de Enfermagem, que estabeleça de forma clara quais as atividades especificas e quais dos procedimentos denominados “estéticos”, podem ser realizados pelo Enfermeiro, mas, ao mesmo tempo, qual deve ser a formação deste Enfermeiro para realiza-las. É fundamental que o estabelecimento destas atividades específicas estejam inseridas dentro de uma visão da natureza e a essência da Enfermagem como 32 profissão, que é o cuidado, e não apenas a realização deste ou daquele procedimento. Temos assistido cotidianamente que a crescente oferta destes “procedimentos cosméticos e estéticos” levou a um significativo aumento na incidência de complicações, tais como queimaduras e alterações pigmentares permanentes, bem como erros de diagnóstico de condições médicas graves (SBD,2015) Alguns fatores que podem contribuir para o crescimento destes problemas , especialmente quando realizados por “profissionais não médicos”, dentre os quais nós incluímos como Enfermagem são: falta de leis claras definindo a prática da medicina e das demais profissões, a distinção ambígua entre os procedimentos médicos e tratamentos de beleza , a proliferação dos institutos e centros de estética sem a devida fiscalização pelos órgãos responsáveis, e a falta de normatização acerca da venda e comercialização de produtos e equipamentos destinados aos tratamentos estéticos, com delimitação sobre seu manuseio e sua veiculação. Hoje se pode observar, em cada esquina do Brasil, os mais diversos profissionais fazendo divulgações diversas por meio de anúncios, outdoors, mídia falada, escrita e televisionada sobre “tratamentos estéticos milagrosos”, com os mais variados custos, e sem que haja qualquer forma de controle sobre tal “ mercado”. A Enfermagem possui um Código de Ética e a Lei do Exercício Profissional, que estão em vigor e devem ser seguidos pelos profissionais, servindo como proteção a eles e à população sobre os potenciais riscos ou mesmo, propaganda enganosa acerca de tais procedimentos. Especificamente em relação ao objeto desta consulta, é importantíssimo ponderar que, com relação á realização dos chamados “Procedimentos Estéticos pelo Enfermeiro“, deve-se ressaltar, inicialmente, que a SOBENDE entende que não se pode emitir um parecer único, geral e universal, pois a realidade e os contextos são extremamente heterogêneos com relação à formação, capacitação, competência técnica e ética dos Enfermeiros para sua utilização, conforme já exposto em parecer anterior, elaborado para o Conselho Regional de Enfermagem de SP (Parecer Coren-SP sobre uso do laser pelo Enfermeiro). Essencial que se lembre, inicialmente, que não existe um único tipo aparelho, ou mesmo, procedimento padronizado, e que a decisão sobre o que 33 será realizado ou qual o tipo de intervenção será indicado em cada situação, com base na Avaliação clínica do profissional, pautada na sua capacitação e experiência, utilizando-se das melhores evidências da Ciência e de Guias de Boas práticas para atuação da Enfermagem em Dermatologia e Estética, como já existe em outros países onde esta área de atuação já está mais consolidada (DNA,2012) Assim, entendemos que o primeiro aspecto a ser considerado, é a avaliação do cliente como um todo, durante a Consulta de Enfermagem, pelo Enfermeiro especialista. Esta avaliação precisa estar pautada no Processo de Enfermagem e guiada pela SAE, documentada, com todos os Diagnósticos de Enfermagem, assim como as indicações de Intervenções de Enfermagem e Avaliação dos Resultados. Esta avaliação norteará todas as condutas e indicações de intervenções, tanto aquelas que serão realizadas pelo Enfermeiro especialista, como os encaminhamentos para outros profissionais, conforme as situações identificadas. A prescrição das Intervenções de Enfermagem, após esta avaliação (anamnese), caberá ao Enfermeiro especialista, com base no que prevê a Lei do exercício profissional, e podem ser intervenções de 3 tipos, como refere Mandelbaum, (2013): 1. Intervenções próprias do Enfermeiro, que são aquelas para os quais o enfermeiro tem total autonomia, e que se relacionam aos cuidados diários com a pele, higienização, orientação e educação para a promoção da saúde da pele, ou procedimentos que o Enfermeiro pode realizar de forma autônoma, como limpeza de pele, peelings superficiais, tratamentos corporais que não implicam na utilização desubstancias que exigem prescrição médica, uso de equipamentos eletroterápicos permitidos ao enfermeiro, prescrição de cosméticos, cosmecêuticos, correlatos, dentre outros cuidados de enfermagem Neste grupo, inserem-se os procedimentos, atividades e uso de tecnologias para os quais o Enfermeiro tenha a devida especialização e posterior capacitação técnicas, e que não conflitem com a legislação vigente nem sejam privativas de outros profissionais. 2. Intervenções que exigem prescrição médica ou de outro profissional, que são aquelas que o Enfermeiro pode realizar, sob delegação do médico ou de outro profissional, que tem autoridade para prescrever substâncias ou terapias, e que podem ser realizadas pelo Enfermeiro mediante Protocolo Institucional, com 34 anuência da equipe e amparo institucional ou legal Neste grupo, inserem-se os procedimentos e atividades que o Enfermeiro pode realizar, em equipe multiprofissional, mediante delegação de outro profissional, estabelecida em protocolo devidamente registrado e amparado legalmente 3. Intervenções que demandam encaminhamento para outros profissionais da equipe de saúde, como os médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, odontólogo, fonoaudiólogo, educador físico, etc. Neste caso, o cuidado significa encaminhar para outro profissional, mas, continuar sendo responsável pelo cliente, pelo seu acompanhamento e monitoramento. Neste grupo, inserem-se as atividades privativas ou preferencialmente de outros profissionais, e que o Enfermeiro encaminha o cliente, mas mantém-se responsável pelo seu acompanhamento e continuidade do seu cuidado até conclusão do tratamento ou alta. Em cada uma destas áreas, podem ser descritos os diversos procedimentos e técnicas utilizadas para os chamados “ tratamentos e procedimentos com finalidade estética”, conforme o contexto e realidade local de atuação do profissional. Um exemplo deste tipo de situação, é o que ocorreu com a “utilização do Laser pelo Enfermeiro“. No início, havia uma angustia para que os órgãos de classe emitissem um posicionamento único, autorizando ou proibindo sua utilização pelo Enfermeiro. À medida que se abriram discussões com os profissionais, percebeu-se que não se tratava de uma decisão unilateral, mas sim, de se criar um conjunto de recomendações e normatizações , que considerasse não só a diversidade dos equipamentos existentes, mas acima de tudo, a realidade dos profissionais e instituições. O que se observou com o Laser, e que vale trazer para reflexão na área da Enfermagem em estética, é que este é um nome que acabou se generalizando, para todo e qualquer tipo de luz que se utiliza nos tratamentos, muitas vezes de forma incorreta, sem se referir necessariamente ao que se entende por “ Laser”. Nos últimos vinte anos o uso do Laser na medicina tem evoluído bastante, os equipamentos tornaram-se mais eficazes e menos agressivos. Na Dermatologia, dispomos de aparelhos que podem tratar cicatrizes inestéticas, lesões vasculares, lesões pigmentares (tatuagens e manchas hipercrômicas), fazer depilação, foto rejuvenescimento e, até mesmo, tratar vitiligo e psoríase. Por outro lado, a 35 banalização do método e a má utilização dos aparelhos, vem trazendo uma série de problemas e, casos de lesões cicatriciais e queimaduras em vários pacientes, provocando sequelas e traumas definitivos e irreversíveis. A Sociedade Brasileira de Dermatologia juntamente com a ANVISA elaborou uma tabela com a classificação de riscos para todos os equipamentos que possuem autorização da ANVISA para serem utilizados no Brasil. A maioria dos Lasers usados na Dermatologia, ocupam a posição com grau de risco II, III e IV. Como, numericamente, as principais complicações do uso inadequado do Laser na estética ocorrem com a remoção de pelos, vamos discorrer mais sobre esse tópico. Para a remoção dos pelos com luz podem ser utilizados dois diferentes tipos de tecnologia, a saber: os equipamentos a Laser com comprimentos de onda do espectro eletromagnético que estão aproximadamente entre 750 e 1064nm ou a Luz Intensa Pulsada que abrange comprimentos de onda entre 400-900nm. Além de uma avaliação clínica objetiva quanto à saúde da pele, o dermatologista deve avaliar as características dos pelos, a quantidade a ser removida e a região a ser tratada. Deve ser descartada qualquer doença no local, inclusive uma pinta preta para um leigo pode representar um câncer maligno, um melanoma, que pode ter uma evolução acelerada quando atingido pelo Laser, podendo inclusive causar a morte no paciente. Vale lembrar que o câncer de pele é o mais frequente no Brasil. Além disso, é necessário calcular a energia e o comprimento de onda adequada, assim como orientar os pacientes com relação ao procedimento, ao número de sessões, aos possíveis efeitos colaterais, bem como à expectativa de resposta clínica após o tratamento. Portanto, é um procedimento extremamente individualizado e de muitas variáveis no qual um pequeno descuido pode causar cicatrizes definitivas nos pacientes. Os estudos sobre física e fundamentos do Laser e da luz intensa pulsada mostraram vários comprimentos de ondas capazes de servir para diversas finalidades terapêuticas, como remoção de manchas, vasos, pelos, rejuvenescimento e tratamento de cicatrizes. 36 As ondas eletromagnéticas têm objetivos e efeitos definidos e, portanto, se mal calculados em relação ao comprimento adequado, à intensidade correta de energia, à definição certa da estrutura-alvo a ser atingida, à etnia do paciente, à região do corpo a ser tratada; podem também levar a consequências adversas à saúde do paciente, como queimaduras e cicatrizes irreversíveis, manchas escuras ou mais claras que o tom natural da pele original. O que é o procedimento? O procedimento necessita de aparelho especializado com luzes de comprimentos de ondas eletromagnéticas variáveis que visam o pigmento melanina presente no pelo (porém, deve ser tomado muito cuidado, pois há melanina na pele devido ao sol (bronzeamento natural) ou a outras manchas hipercrômicas como o melasma, nevo de Becker, manchas café-aulait, nevo de Ota, eritema fixo pigmentar, dentre outras. No geral, a máquina contém duas partes: uma plataforma de controle da energia (fluência), tempo de pulso, número de disparos, comprimento de onda utilizado; a outra parte consiste num braço móvel e um dispositivo de mão, que controla o disparo da energia no exato local do tratamento. Os comprimentos de onda eletromagnética mais usados são, para o laser, entre 750 e 1064 nm e, para a luz intensa pulsada, entre 400- 900nm. Como é realizado? Cada aparelho desenvolvido, através da plataforma, mostra ao especialista suas características específicas, como fluência, tamanho das ponteiras, tempo de pulso, número de disparos, comprimento de onda a ser utilizado; assim, cabe ao médico avaliar e calcular o tipo de energia adequado para cada tipo de pele, local a ser tratado, avaliar as comorbidades do paciente e seu estilo de vida, afastando as contraindicações ao procedimento. Orientar o pós-tratamento é fundamental para uma resposta efetiva. O conhecimento acadêmico sobre o assunto é imprescindível para permitir uma avaliação adequada. Quais equipamentos podem ser utilizados? Os equipamentos regulamentados pela ANVISA com finalidade de remoção de pelos são: LightSheer, Etherea, Star Lux, Harmony, LEDA, Indicações MÉDICAS (ou seja, com diagnóstico médico): Após uma consulta médica dermatológica, em que se descartaram doenças diversas que provocam o crescimento e/ou o nascimento de pelos em áreas do 37 corpo onde não existiam, bem como, foi questionado sobre a dieta de rotina dos alimentos e suplementos, o médico poderá solicitar exames laboratoriais complementares de sangue e/ou de imagem para descartar alguma suspeita diagnóstica
Compartilhar