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Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário VI - Contribuições Questões Seminário VI - CONTRIBUIÇÕES 1. Definir o conceito de “contribuição”. Quais as espécies de contribuição existentes na CF/88? A destinação do produto da arrecadação tributária é relevante para a classificação jurídica das contribuições? Se os valores arrecadados a título de contribuição não forem aplicados na destinação prescrita na lei, pode o contribuinte requerer restituição do tributo pago? Sob qual fundamento? Justificar. O conceito de contribuição pode ser resumido como o exercício do poder de tributar pelo sujeito ativo, que institui as contribuições como uma forma de arrecadação de recursos para exercer uma atuação do Poder Público em algum setor específico. Em relação às espécies de contribuição, o art. 149 da CF/88 faz referência a três contribuições que podem ser instituídas pela União, diferenciadas conforme as finalidades a que se destinem, quais sejam: Contribuições Sociais; Contribuições de intervenção no domínio econômico; e Contribuições de interesse das categorias profissionais. Cumpre mencionar que às contribuições também são divididas em duas categorias, quais sejam: As genéricas, previstas no art. 149 voltadas aos diversos setores compreendidos no conjunto da ordem social, como educação, habitação e a específica, prevista no art. 195, destinada ao financiamento da seguridade social, compreendendo a saúde, previdência e assistência social. Quanto à relevância da destinação do produto da arrecadação tributária das contribuições, entendo que em virtude da natureza das contribuições, é necessária a aplicação destas nas áreas sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse de categoria profissional ou econômica. A instituição e a arrecadação de valores a título de contribuições funcionam como meio para atingir as finalidades prescritas no art. 149, caput, do Texto Maior. Com a máxima vênia, discordo com a redação do art. 4º, II do CTN, que disciplina que a natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário VI - Contribuições gerador da respectiva obrigação sendo irrelevante para qualificar a natureza do tributo a denominação e demais características formais adotadas pela lei. Isso posto, compreendo que em caso de valores arrecadados a título de contribuição que não forem aplicados na destinação prescrita na lei, pode o contribuinte requerer restituição do tributo pago, com base no art. 150, § 7º da CF/88 “A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido.” 2. Sobre a hipótese de incidência das contribuições, pergunta-se: a) A União pode, na criação de contribuição com fundamento no art. 149 da CF, utilizar uma das materialidades que lhe foram atribuídas constitucionalmente para a instituição de impostos? Primeiramente, faz-se necessário entender o que é a materialidade dos tributos. De acordo com Gama1, toda referência à materialidade está diretamente ligada aos verbos e seus respectivos complementos. Tomando como exemplo o ISS, a materialidade é a prestação de serviços. Dito isso, a materialidade do tributo, em síntese, é o evento sobre o qual pode incidir a tributação. O art. 149 da CF/88 estabelece algumas observações sobre a criação de contribuições sociais pela União, como observância ao disposto nos art. 146, III - cabe à lei complementar a instituição -, 150, I e III - princípio da legalidade e anterioridade - e 195, § 6º - anterioridade nonagesimal -, ambos da CF/88. Nos ensina Carvalho2 que as contribuições são tributos que, como tais, podem assumir a feição de impostos ou de taxas, com exceção da contribuição de melhoria, pois esta espécie foi concebida em termos de estreito relacionamento com a valorização do imóvel, traço que não só prejudica como até impede seu aproveitamento como forma de exigência e cobrança das contribuições. 2 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 31. ed. São Paulo: Noeses, 2021, p. 46. 1 GAMA, Tácio Lacerda. Competência Tributária e a sua estrutura normativa - Disponível em: http://www.ibet.com.br/download/Competencia%20Tributaria%20por%20TLG.pdf - acessado em 25/10/2022. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário VI - Contribuições Nesse sentido, de acordo com Carvalho3 apenas as contribuições para a seguridade social encontram, na Carta Magna, disciplina exaustiva das suas hipóteses de incidência, exigindo, para criação de novas materialidades, estrita observância aos requisitos impostos ao exercício da competência residual: instituição mediante lei complementar, não cumulatividade e hipótese de incidência e base de cálculo diversos dos discriminados na Constituição (art. 195, § 4º). Dito isso, entendo que a União não pode se utilizar das mesmas materialidades dos impostos, sob o risco de ferir vários princípios tributários, como o bis in idem, devendo observar os pressupostos do art. 149 da CF/88 para as contribuições residuais, quais sejam a veiculação em lei complementar, a não cumulatividade e fato gerador e base de cálculo diversos dos discriminados na Constituição. b) A hipótese de incidência destas contribuições pode abranger fatos que, por ocasião da repartição constitucional de competências para a instituição de impostos, foram atribuídos como materialidades próprias dos Estados, Distrito Federal e Municípios? Entendo que as hipóteses de incidências das contribuições não podem abranger fatos resultantes da repartição de competência para a instituição de impostos próprios dos Estados, Distrito Federal e Municípios, sob a égide da competência tributária, atribuição conferida pela Constituição Federal aos entes federativos no art. 145, por meio da qual eles estão autorizados a instituir determinados tributos em seu território. Sendo assim, na hipótese de incidência das contribuições, é mister respeitar a competência tributária de cada ente político, não podendo um ente tributante invadir a competência do outro, sob o risco de incorrer em norma inconstitucional. 3. Por força do que prescreve o art. 195, I, “a”, da Constituição da República, a legislação exige que o empregador recolha contribuição sobre a 3 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 31. ed. São Paulo: Noeses, 2021, p. 47. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário VI - Contribuições folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço. Neste contexto, pergunta-se: a) O que é “salário”? E “rendimentos do trabalho”? O termo "salário" pode ser conceituado como a remuneração pelo trabalho desenvolvido pelo empregado que possua o vínculo empregatício, conforme estabelecido pelo art. 3º da CLT considera empregado toda e qualquer pessoa física que presta serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário. Nesse sentido, os requisitos para a caracterização do vínculo empregatício são: serviço prestado por pessoa física, pessoalidade, não eventualidade, subordinação e onerosidade. Noutro giro, referente ao termo “rendimentos do trabalho”, entendo ser os rendimentos auferidos pelo trabalhador que não possui vínculo empregatício com o empregador. Em resumo, nos ensina Carvalho4 a distinção entre salário e rendimento do trabalho quanto a contribuição sobre a folha de salários, qual seja: São dois, portanto, os fatos susceptíveis de sofrerem a incidência da contribuição previdenciária prevista no art. 195, 1, "a", da Constituição: (i) pagamento de folha de salários em razão de serviços prestados na vigência de relação de emprego; e (ii) pagamento de remuneração ao trabalhador que preste serviços sem vínculo empregatício. Dito isso,independentemente de o rendimento auferido pelo trabalhador ser oriundo de salário ou de rendimento do trabalho, haverá a incidência da contribuição sobre folha. O Decreto 3.048/99, no art. 214, I, apresenta um conceito para o salário de contribuição, qual seja: Art. 214. Entende-se por salário-de-contribuição: I - para o empregado e o trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante 4 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: linguagem e método. 7. ed. São Paulo: Noeses, 2018, p. 827. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário VI - Contribuições o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa; b) Levando em consideração a resposta, quais das parcelas abaixo estão ou não sujeitas à incidência deste tributo, justifique: Para a resposta deste item, cumpre mencionar que o atual entendimento jurisprudencial para a classificação de tais remunerações como incidentes ou não de contribuição social é o objetivo de cada uma das remunerações. Com base na leitura do anexo I do presente seminário, percebo que no caso das remunerações pagas ao trabalhador a título indenizatório, não há que se falar em incidência da contribuição social, sendo estas excluídas do que a lei chama de "salário de contribuição", ao passo que quando os pagamentos forem efetuados a título remuneratório, haverá a incidência da referida contribuição. Dito isso, elenco os proventos quanto a incidência e não incidência da contribuição social: - Incidência pelo caráter remuneratório: (xi) salário-maternidade - O salário-maternidade tem natureza salarial e a transferência do encargo à Previdência Social (pela Lei 6.136/74) não tem o condão de mudar sua natureza. Atualmente, o art. 28, § 2º, da Lei 8.212/91 dispõe expressamente que o salário maternidade é considerado salário de contribuição. Nesse contexto, a incidência de contribuição previdenciária sobre o salário maternidade, no Regime Geral da Previdência Social, decorre de expressa previsão legal; - Não incidência pelo caráter indenizatório: (i) os serviços extraordinários (horas extras) - o STF fixou a seguinte tese no RE 593.068: "Não incide contribuição previdenciária sobre verba não incorporável aos Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário VI - Contribuições proventos de aposentadoria do servidor público, tais como terço de férias, serviços extraordinários, adicional noturno e adicional de insalubridade.". ; (ii) terço constitucional - Em relação ao adicional de férias concernente às férias gozadas, tal importância possui natureza indenizatória/compensatória, e não constitui ganho habitual do empregado, razão pela qual sobre ela não é possível a incidência de contribuição previdenciária (a cargo da empresa); (iii) férias indenizadas - No que se refere ao adicional de férias relativo às férias indenizadas, a não incidência de contribuição previdenciária decorre de expressa previsão legal (art. 28, § 9º, “d”, da Lei 8.212/91 – redação dada pela Lei 9.528/97).; (iv) aviso-prévio indenizado - o aviso prévio indenizado, visa a reparar o dano causado ao trabalhador que não fora alertado sobre a futura rescisão contratual com a antecedência mínima estipulada na Constituição Federal (atualmente regulamentada pela Lei 12.506/2011). Ressalte-se que, “se o aviso prévio é indenizado, no período que lhe corresponderia o empregado não presta trabalho algum, nem fica à disposição do empregador. Assim, por ser ela estranha à hipótese de incidência, é irrelevante a circunstância de não haver previsão legal de isenção em relação a tal verba”; (v) adicional de insalubridade - o STF fixou a seguinte tese no RE 593.068: "Não incide contribuição previdenciária sobre verba não incorporável aos proventos de aposentadoria do servidor público, tais como terço de férias, serviços extraordinários, adicional noturno e adicional de insalubridade."; (vi) adicional de periculosidade - o STF fixou a seguinte tese no RE 593.068: "Não incide contribuição previdenciária sobre verba não incorporável aos proventos de aposentadoria do servidor público, tais como terço de férias, serviços extraordinários, adicional noturno e adicional de insalubridade."; (vii) adicional noturno - o STF fixou a seguinte tese no RE 593.068: "Não incide contribuição previdenciária sobre verba não incorporável aos proventos de aposentadoria do servidor público, tais como terço de férias, serviços extraordinários, adicional noturno e adicional de insalubridade."; Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário VI - Contribuições (viii) auxílio-educação - o STF fixou a seguinte tese no RE 593.068: "Não incide contribuição previdenciária sobre verba não incorporável aos proventos de aposentadoria do servidor público, tais como terço de férias, serviços extraordinários, adicional noturno e adicional de insalubridade."; (ix) auxílio-creche - o STF fixou a seguinte tese no RE 593.068: "Não incide contribuição previdenciária sobre verba não incorporável aos proventos de aposentadoria do servidor público, tais como terço de férias, serviços extraordinários, adicional noturno e adicional de insalubridade."; (x) auxílio-doença - a importância paga pelo empregador ao empregado durante o afastamento por motivo de doença não incide a contribuição previdenciária, por não se enquadrar na hipótese de incidência da exação, que exige verba de natureza remuneratória. Cumpre ressaltar que o pagamento efetuado pelo empregador não é destinada a retribuir o trabalho, haja vista que ocorre a interrupção do contrato de trabalho, ou seja, nenhum serviço é prestado pelo empregado no período; (xii) prêmio assiduidade - o STF fixou a seguinte tese no RE 593.068: "Não incide contribuição previdenciária sobre verba não incorporável aos proventos de aposentadoria do servidor público, tais como terço de férias, serviços extraordinários, adicional noturno e adicional de insalubridade."; (xiii) vale-transporte - o STF fixou a seguinte tese no RE 593.068: "Não incide contribuição previdenciária sobre verba não incorporável aos proventos de aposentadoria do servidor público, tais como terço de férias, serviços extraordinários, adicional noturno e adicional de insalubridade."; e Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário VI - Contribuições (xiv) descanso remunerado - o STF fixou a seguinte tese no RE 593.068: "Não incide contribuição previdenciária sobre verba não incorporável aos proventos de aposentadoria do servidor público, tais como terço de férias, serviços extraordinários, adicional noturno e adicional de insalubridade.". 4. Com relação ao creditamento do PIS-COFINS, pergunta-se: a) Estabeleça diferença entre o regime monofásico e não cumulativo. Regime monofásico: O regime monofásico, também conhecido como tributação monofásica ou concentrada, consiste em aplicar uma única vez o tributo devido em toda cadeia de um produto ou serviço. Um exemplo, é a Lei 10.147/2000, que criou o regime monofásico para produtos de higiene pessoal, medicamentos e cosméticos, que tornou os importadores e industriais desses produtos responsáveis pelo recolhimento do PIS e da COFINS incidentes sobre a cadeia de produção e consumo mediante a aplicação de uma alíquota global de 12,50% e reduziu a zero a alíquota do PIS e da COFINS para revendedores e varejistas. Nesta situação exemplificada, as distribuidoras de remédios e as farmácias, quando revendem os medicamentos com tributação monofásica, não pagam PIS e COFINS, tendo em vistaque o recolhimento monofásico fora efetuado pelo importador ou indústria. Regime não cumulativo: Trata-se de um princípio constitucional erigido com a finalidade de evitar a superposição de cargas tributárias, impedindo a incidência de um mesmo tributo mais de uma vez sobre valor que já serviu de base à sua cobrança na fase anterior do processo econômico. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário VI - Contribuições Desse modo , o sujeito passivo poderá aproveitar créditos de PIS e COFINS em relação a bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda. b) Qual o alcance da não cumulatividade do PIS-COFINS prevista no art. 195, § 12, da CF/88? Referente ao alcance da não cumulatividade do PIS-COFINS disciplina o art. 195, § 12, da CF/88 que lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão não-cumulativas. Dito isso, entendo que o alcance da não cumulatividade do PIS-COFINS deverá ser aplicado para determinados setores da economia, conforme lei, em relação às contribuições para a seguridade social incidentes sobre a receita ou o faturamento. Sendo assim, as Leis n. 10.637/2002 e 10.833/2003 instituíram a não cumulatividade para o PIS e a Cofins. Em resumo, não será aplicado o referido princípio para todo e qualquer sujeito passivo. Para que seja legalmente possível o aproveitamento dos PIS-COFINS deverá o sujeito passivo estar autorizado por lei específica. c) O que caracteriza “insumo” para fins da não cumulatividade do PIS e da COFINS? Valores gastos com contratação de mão de obra terceirizada geram créditos de PIS/COFINS? (Vide anexos II a VII). Em relação às características de insumo para fins da não cumulatividade do PIS-COFINS, entendo que está diretamente ligado à possibilidade de aproveitar créditos de PIS e COFINS em relação a bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda. Sendo assim, deve ser considerado insumo aquele que for UTILIZADO direta ou indiretamente pelo contribuinte na produção/fabricação de produtos/serviços; for INDISPENSÁVEL para a formação do produto/serviço final e for RELACIONADO ao objeto social do contribuinte. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário VI - Contribuições Consideranto as Leis n. 10.637/02 e n. 10.833/03, o vocábulo “insumo” há de ser entendido como todos os custos com a produção e comercialização de mercadorias, ou prestação de serviços. Engloba (i) matérias-primas, consistentes nos bens que integram fisicamente o produto; (ii) mão-de-obra, caracterizada pelos atos de execução do processo produtivo, de comercialização ou de prestação de serviço; e (iii) gastos gerais, tidos como custos indiretos da produção ou serviços. Dito isso, o insumo pode ser considerado como todos os gastos necessários à consecução da atividade do sujeito passivo. Para corroborar tal entendimento, vejamos o que foi decidido pelo STJ, nos autos do REsp n. 1.246.317-MG, que: “(...) 5. São ‘insumos’, para efeitos do art. 3º, II, da Lei n. 10.637/2002, e do art. 3º, II, da Lei n. 10.8332003, todos aqueles bens e serviços pertinentes ao, ou que viabilizam o processo produtivo e a prestação de serviços, que neles possam ser direta ou indiretamente empregados e cuja subtração importa na impossibilidade mesma da prestação do serviço ou da produção, isto é, cuja subtração obsta a atividade da empresa, ou implica em substancial perda de qualidade do produto ou serviço daí resultantes. Já em relação aos valores gastos com contratação de mão de obra terceirizada para aproveitamento de créditos de PIS/COFINS, entendo que todos os gastos que estejam relacionados com a atividade do contribuinte geram créditos, conforme Solução de Divergência COSIT nº 29/2017, ao estabelecer que permitem a apuração de crédito da não cumulatividade da Cofins, na modalidade aquisição de insumos (inciso II do art. 3º da Lei nº 10.833, de 2003), os dispêndios da pessoa jurídica com a contratação de empresa de trabalho temporário para disponibilização de mão de obra temporária aplicada diretamente na produção de bens destinados à venda ou na prestação de serviços a terceiros. Cumpre mencionar que em relação aos insumos, devem ser excepcionados apenas os bens, serviços e despesas pagos a pessoa jurídica não domiciliada no Brasil, e os valores de mão-de-obra pagos a pessoa física (§ 2” do art. 3” das Leis n. 10.637/02 e n. 10.833/03). Para corroborar tal entendimento, vejamos o que foi julgado pelo AgRg no REsp n. 1.238.358/RS: “A mão de obra de pessoa física não gera direito a creditamento, ante a expressa vedação contida no art. 3º, § 2º, inciso I, das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003.”. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário VI - Contribuições d) A previsão do artigo 17 da Lei nº 11.033/04 é aplicada para todos contribuintes sujeitos à tributação monofásica? Fundamente. (Vide anexo VIII) O art. 17 da Lei nº 11.033/04 disciplina que mesmo as vendas efetuadas com suspensão, isenção, alíquota 0 (zero) ou não incidência da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS não impedem a manutenção, pelo vendedor, dos créditos vinculados a essas operações. Da leitura do anexo VII do presente seminário, combinado com o art. 17 da Lei nº 11.033/04, entendo que o referido aproveitamento de crédito deverá ser concedido tanto para os regimes monofásicos quanto não cumulativos. Isso porque, conforme AgRg no REsp 1.051.634/CE, foi decidido pelo Tribunal que o benefício fiscal consistente em permitir a manutenção de créditos de PIS e COFINS, ainda que as vendas e revendas realizadas pela empresa não tenham sido oneradas pela incidência dessas contribuições no sistema monofásico, é extensível às pessoas jurídicas não vinculadas ao REPORTO, regime tributário diferenciado para incentivar a modernização e ampliação da estrutura portuária nacional, por expressa determinação legal (art. 17 da Lei n. 11.033/04). 5. A Lei Federal n. 10.865/04 instituiu a Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público incidente na importação de produtos estrangeiros ou serviços (PIS/PASEP-Importação) e a Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social devida pelo importador de bens estrangeiros ou serviços do exterior (COFINS-Importação). Analisando criticamente o art. 7º da referida lei, e os enunciados constitucionais que atribuem competência para a União instituir contribuições, bem como o conceito de valor aduaneiro, pergunta-se: a) É possível identificar um conceito constitucional de valor aduaneiro? (Vide anexo IX). Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário VI - Contribuições Importante mencionar que a Constituição não traz de forma expressa e simplificado o conceito de valor aduaneiro, sendo necessário analisar de forma doutrinária, seguindo um regime normalmente civil ou comercial. O art. 149, § 2º, II da CF/88 disciplina somente que a alíquota poderá ser ad valorem tendo por base de cálculo para a contribuição do PIS-COFINS importação o valor aduaneiro. Diante da falta de definição constitucional do “valor aduaneiro”, no RE n. 559.607/SC - RG do STF ficou evidente a repercussão geral da matéria que julgará a constitucionalidade do valor aduaneiro trazido pelo art. 7º da lei 10.865/04. Importante mencionar que, conforme art. 110 do CTN, a lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias. Diante disso, entendo que o conceito de valor aduaneiro trazido pelo art. 7º da lei 10.865/04 deverá estar de acordo com a intençãodo constituinte, sob o risco de inconstitucionalidade, cabendo ao STF decidir sobre a matéria. b) O que compreende o valor aduaneiro para fins de quantificação do PIS-Importação e da COFINS-Importação? De acordo com a redação do art. 7º da Lei 10.865/07, o valor aduaneiro para fins de quantificação do PIS-COFINS importação será o valor pago, creditado, entregue, empregado ou remetido para o exterior, antes da retenção do imposto de renda, acrescido do Imposto sobre Serviços de qualquer Natureza - ISS e do valor das próprias contribuições, na hipótese do inciso II do caput do art. 3º desta Lei ou valor pago, creditado, entregue, empregado ou remetido para o exterior, antes da retenção do imposto de renda, acrescido do Imposto sobre Serviços de qualquer Natureza - ISS e do valor das próprias contribuições, na hipótese do inciso II do caput do art. 3º desta Lei. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário VI - Contribuições c) É possível sustentar a inconstitucionalidade da base de cálculo do PIS-Importação e da COFINS-Importação constante da Lei Federal n. 10.865/04, ou a sua ilegalidade, tendo em vista o que dispõe o art. 110 do CTN? (Vide anexos X e XI). Cumpre mencionar que o entendimento do STF, por meio do RE n. 559.937/RS é no sentido de que a base de cálculo do PIS-Importação e da COFINS-Importação constante da Lei Federal n. 10.865/04 é inconstitucional, tendo em vista que a base de cálculo determinada pela Lei 10.865 extrapolou a norma constitucional do art. 149, § 2º, III, a, conforme segue: A Lei 10.865/04, ao instituir o PIS/PASEP e a COFINS Importação, não alargou propriamente o conceito de valor aduaneiro, de modo que passasse a abranger, para fins de apuração de tais contribuições, outras grandezas nele não contidas. O que fez foi desconsiderar a imposição constitucional de que as contribuições sociais sobre a importação que tenham alíquota ad valorem sejam calculadas com base no valor aduaneiro, extrapolando a norma do art. 149, § 2º, III, a, da Constituição Federal. Sendo assim, com base no art. 110 do CTN, que veda expressamente a alteração, definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias, entendo que a base de cálculo do PIS-COFINS importação determinada pela Lei 10.865 é inconstitucional por extrapolar norma constitucional. 6. Sobre as contribuições de intervenção no domínio econômico, pergunta-se: a) Que se entende por intervenção no domínio econômico? As causas de intervenção estão restritas aos arts. 170 a 181 da Constituição Federal? As Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), assim como as contribuições sociais e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário VI - Contribuições estão previstas no art. 149 da Constituição Federal, podem ser entendidas como instrumento de atuação da União em suas respectivas áreas, natureza extrafiscal e de arrecadação vinculada. Cumpre ressaltar que conforme redação do art. 174 da CF/88 que compete ao Estado a função de regular, incentivar e planejar a economia. A contribuição interventiva não tem, pois, cunho arrecadatório. Consigne-se, porém, que a ação interventiva do poder público não pode implicar atentado ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV, da CF), que pressupõe prevalência da propriedade privada na qual se assenta a liberdade de empresa, a liberdade de contratação e a liberdade de lucro, sem prejuízo da função social da propriedade, elemento estrutural da própria propriedade (art. 170, II e III, da CF). Em relação às causas de intervenção, entendo que devem estar restritas ao que é disciplinado pela nossa Constituição, nos arts. 170 a 181. Cada um desses enunciados veicula um comando que deve ser atendido na prescrição de uma intervenção do Estado no domínio econômico. Uma intervenção que atente contra qualquer desses valores será incompatível com o texto da Constituição e havendo inconstitucionalidade da intervenção, seguirá a mesma sorte o tributo criado. b) O produto da arrecadação da CIDE deve ser legalmente destinado à intervenção no setor econômico de que trata a contribuição (intervenção positiva), ou pode ser instituída com finalidade de desestimular determinada atividade, ou seja, com caráter extrafiscal (intervenção negativa)? Entendo que as contribuições interventivas têm por função o custeio da intervenção do Estado no domínio econômico, conforme o artigo 149 da Constituição. Sendo assim, tais tributos servem como instrumento da intervenção na medida em que fornecem recursos para que o Estado atue no domínio econômico. Tendo em vista a CIDE é utilizado pela União como mecanismo de atuação no domínio econômico, que é a destinação específica que autoriza a criação da CIDE, além do fato de possuir função predominantemente extrafiscal, entendo que a destinação daquilo que se arrecada com esses tributos deve obrigatoriamente Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário VI - Contribuições atingir o objetivo de intervenção específica, podendo ser tanto positiva quanto negativa. Caso não cumpra esse propósito, não estaríamos diante de uma contribuição interventiva, mas sim de outras espécies de exação. c) A sua materialidade e o sujeito passivo devem estar relacionados com a destinação escolhida pelo legislador como forma de intervenção no domínio econômico? (Vide anexo XII). Entendo que tanto a materialidade quanto o sujeito passivo devem estar relacionados com a destinação escolhida pelo legislador como forma de intervenção no domínio econômico, atendendo ao princípio da legalidade e à necessidade de destinação específica que autoriza a criação da CIDE. Com a máxima vênia, discordo da jurisprudência assentada pelo STF, pelo AgRg no RE n. 632.832/RS, ao afirmar ser prescindível a existência de vinculação direta entre o contribuinte e o benefício proporcionado pelas receitas tributárias arrecadadas. Isso porque a destinação daquilo que se arrecada com esses tributos deve obrigatoriamente atingir o objetivo de intervenção específica, podendo ser tanto positiva quanto negativa. Caso não cumpra esse propósito, não estaríamos diante de uma contribuição interventiva, mas sim de outras espécies de exação. d) a remuneração por direitos autorais em operações com o exterior se classificam como royalties para fins da incidência da Cide? (Vide Anexo XIII) Entendo ser legítima a incidência da CIDE sobre a remuneração por direitos autorais em operações com o exterior se classificados como royalties. Para corroborar tal afirmação, cito o posicionamento do STJ em relação ao tema, no RE nº 1.642.249 – SP. O Tribunal se posicionou favorável à incidência da CIDE na referida operação sob o argumento de incentivar o comércio nacional. Ora, como dito nas questões anteriores, como a CIDE possui caráter extrafiscal, poderá ser utilizada como forma de incentivo ou desestimulação a determinadas práticas. Nesse contexto, se posicionou o STJ no sentido de não haver contradição deste raciocínio com as finalidades da Lei n. 10.168/2000, qual seja o de incentivar o desenvolvimento tecnológico nacional, visto que a contribuição CIDE - Remessas Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário VI - Contribuições onera a importação da tecnologia estrangeira nas mais variadas formas. O objetivo então é fazer com que a tecnologia (nas várias vertentes: licença, conhecimento/comercialização, transferência) seja adquirida no mercado nacional e não no exterior, evitando-se as remessas de remuneração ou royalties. No mesmo sentido, conforme leitura do anexo XIII do presente seminário, o Acordão do CARF nº 9303-005.293 ratificou que a partir de 1/1/2002, a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) incidetambém sobre o valor de royalties, a qualquer título, que a pessoa jurídica pagar, creditar, entregar, empregar ou remeter a residente ou domiciliado no exterior, inclusive os royalties decorrentes de licença e direito de uso na exploração e transmissão de filmes, programas e eventos em televisão por assinatura. 7. Considerando que a LC 110 que instituiu a antiga contribuição social geral de 10% sobre os saldos do FGTS em caso de demissão sem justa causa previa apenas a destinação dos recursos ao Fundo, sem discriminação da respectiva finalidade, e que tal registro encontra-se na exposição de motivos e nos debates legislativos, responda: i) qual o papel normativo da exposição de motivos e dos debates legislativos sobre o texto legislado? O papel normativo da exposição de motivos pode ser resumido como um texto que acompanha os projetos de lei e outras proposições de autoria do Poder Executivo com a mesma função de uma justificativa: explicar a proposta e/ou expor as razões de se editar a norma. Em geral, encontra-se no corpo da Mensagem (MSC) encaminhada pelo Poder Executivo ao Poder Legislativo e é identificada pela sigla EM. ii) qual a invalidade da destinação neste caso? Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário VI - Contribuições A invalidade da destinação neste caso foi questionada, pelo fato da perda de finalidade da contribuição para justificar o afastamento da incidência. Tal alegação tem por base a inconstitucionalidade da referida contribuição, tendo em vista a relevância da destinação do produto da arrecadação tributária das contribuições, entendo que em virtude da natureza das contribuições, é necessária a aplicação destas nas áreas sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse de categoria profissional ou econômica. A instituição e a arrecadação de valores a título de contribuições funcionam como meio para atingir as finalidades prescritas no art. 149, caput, do Texto Maior. Contudo, o STF assentou a constitucionalidade da contribuição social de 10% sobre o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a ser paga pelo empregador em caso de demissão sem justa causa. No voto condutor do julgamento, o ministro Alexandre de Moraes disse que a finalidade da contribuição não deve ser confundida com os motivos determinantes de sua criação. Segundo ele, o motivo da criação foi a preservação do direito social dos trabalhadores referente ao FGTS, sendo esta sua genuína finalidade. Em decorrência dessa destinação principal, foi autorizada a utilização dos recursos para a compensação financeira das perdas das contas do FGTS decorrentes dos expurgos inflacionários. Esta destinação, prevista no artigo 4º da lei, “é apenas acessória e secundária” e, a seu ver, não exaure integralmente a finalidade a que a contribuição se destina. Respeitosamente, não concordo com o entendimento do STF dado ao caso concreto. Com a máxima vênia, como já discutido no presente seminário, defendo que a instituição de contribuições deve atingir o objetivo específico de sua criação. Caso não cumpra esse propósito, não estaríamos diante de uma contribuição interventiva, mas sim de outras espécies de exação.
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