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iElpj Elementos essenciais i 5a edição Sumário CAPÍTULO 1: INTRODUçÃO ......................... 1 Questões clínicas e epidemiologia cli'nica ........... 2 Desfechos de saúde A base científica para a medicina clínica Princípios básicos Variáveis Números e probabilidade .................................. 6 Populações e amostras Viés (erro sistemático) Viés de seleçáo Vié§ de ctfiriçáo Viés de confiMão (ou corifiÁndi:i'nento) ...............9 Os efeitos do viés e do acaso são cumulativos Vàlidade interna e externa ................................ 1 l lnformações e decisões ................................. 13 A organização deste livro ............................. 13 CAPÍTULO 2: FREQLUÊNCIA ......................... 19 As palavras sáo substitutos adequados para os números? ........................ 20 Prevalência e incidência ............................... 20 Prevalência Incidência Prevalência c incidência em relação ao tempo Relação entre prcvalência, incidência e duraçáo da doença ................... 22 Algumas outras taxas . Estudos de prevalência e incidência ............. 23 Estudos de prevalência Estudos de incidência Incidência cumulativa Incidência-densidade (pessoas-ano) ................. 24 Elementos básicos dos estudos de frequência 0 que é um caso? Definição do numerador ................................. 25 Qual é a população? Definição do denominador A amostra do estudo reprcsenta Distribuição da doença por tempo, lugar e pessoa Usos dos estudos de prevalência ................... 29 Para que servem os estudos de prevalência? ...... 29 Em que situações os estudos de prevalência não são particularmente CAPÍTULO 3: ANORMALIDADE .................... 34 Tipos de dados Dados nominais Dados ordinais Dados intervalares Desempenho das aferições ........................... 36 Vriidade Vdlíddde de conteúdo Vdlidade de critérío Wa,li,dddÁ: dÁ: con,Strut;o ........... ~ „ „ „ .... „ ......... 37 Confiabilidade Intervalo de variação Responsividade Interpretabilidade lx x Sumário Variação 39 Porqueasferramentasde Variação resultante da aferição ......................... 39 predição de risco não discriminam Variação resultante de diferenças biológicas Variação total Efeitos da variação Distribuições bem os indivi'duos 40 Usos cli'nicos dos fatores de risco e 40 das ferramentas de predição de risco ............ 62 41 Fatores derisco eprobabilidade 4i Pré-teste para testes diagnósticos ...................... 62 Descrição das distribuições ...... „..„ ........... „ ..... 41 Distribuições reais A distribuição normal Critérios para a anormalidade ..................... 44 Anormal = incomum Anormal = associado a doenças ........................ 46 Anormal = tratar a condição leva a um melhor desfecho cli'nico .......................... 47 Regressão à média ........................................ 48 CApi`TULO 4: Risco: pRiNCípios BÁsicos .................................. 53 Fatores de risco Reconhecendo o risco Latência longa Causas imediatas 2/c'rJz¢J causas distais ............... 55 Exposição comum a fatores de risco ................. 55 Baixa incidência de doenças ............................. 55 Rjsco pequeno Causas e efeitos múltiplos ................................ 56 0s fatores de risco podem ou Predizendo risco Combinando múltiplos fatores para predizer o risco Predição de risco em pacientes individuais e em grupos Avaliação das ferramentas de predição de risco Calibração Discriminação Sensibilidade e especificidade de uma ferramenta de predição de riscos .......... 6l Estratificação do risco Usando os fatores de risco para escolher o tratamento Estratificação de risco em programas de rastreamento .............................. 62 A remoção de fatores de risco pode prevenir doenças CAPÍTULO 5: RISCO: DA EXPOSIÇÃO À DOENÇA ............................................... 66 Estudos sobre risco Quando os experimentos não são possi'veis ou éticos ............................... 66 Coortes Estudos de coorte Estudos de coorte prospectiva e histórica ......... 68 Estudos de coorte prospecúud ......................... 6Í) Estudos de coorte históríca utilizi2ndo bãncos de ddos médicos .„ ........... „ ............... 69 Estudos de caso-coorte Vantagens e desvantagens dos estudos de coorte Formas de expressar e comparar os riscos .... 72 Risco absoluto Risco atribui'v€l Risco rela[ivo Interpretando o risco atribuível e o risco relativo Risco na população Levando em consideração outras variáveis Variáveis externas Descrições simples de risco .............................. 76 Viés de confiisão (confiindimento) .............. 77 Definição Potenciais confundidores ............ „„ ................. 77 Sumário xi Confirmando o viés de confiisão ...................... 78 Conuole do viés de confiisáo ....................... 78 Randomização Restriçáo Pareamento Estratificaçáo Padronização Ajuste multivariável Estratégia global para o controle do viés de confusão Estudos observacionais e causalidade .......... 82 Modificação do efeito CAPÍTULO 6: RISCO: DA DOENÇA .`i ExposiçÃo ............................................ 86 Estudos de caso-controle ............................. 87 Delineamento de estudos de caso-controle Seleção dos casos Seleçáo dos controles Aborddgem poi)uldáoncil ...............................89 Abordúgem aninhaclú em uma coort:e .............90 Controles em hospitais e ri,a comunidzide .........90 Múltiplos grupos-controle ..............................91 Múltiplos controles por ccíso ...........................91 Pareamento _fferição da exposição Exposições máhii]las Razáo de chances: uma estimativa. do risco relativo Conuole das variáveis externas .................... 95 Investigação de um surto de doença ............ 95 CAPÍTULO 7: PROGNÓSTICO .................... 100 Diferenças entre fatores de risco e fàtores prognósticos ................................ 100 0s pacientes são diferentes ............................ 101 0s desfechos são diferentes ............................ 101 .is taxas são diferentes Os fatorcs podem ser diferentes ..................... 101 Curso clínico e história natual da doença Elementos dos estudos sobre prognóstico A amostra de pacientes .................................. 102 Tempo zero Seguimento Desfechos de doença Descrição do prognóstico 103 103 103 104 Um contrabalanço: simplicidade z;c7íz# mais informação .................................. 104 Anális€ de sobrevida Sobrevida de uma coorte ............................... 105 Curvas de sobrevida Interpre[ação das curvas de sobrevida ............ 107 Identificação dos fatores prognósticos ....... 108 Série de casos Regras de predição Viés em estudos de coorte .......................... 110 Viés de amostragem Viés de migração Viés de aférição Viés decorrente de erro de classificação ``náo diferencial'' ......................... 112 Há viés, talvez, mas isso importa? .............. 112 Análise de sensibilidade ............................. 112 CAPÍTULO 8: DiAGNÓSTico .................... 116 Simplificação de dados ............................... 116 Acurácia do resultado de um teste ............. 117 Padrão-ouro Falta de informações sobre testes negativos Ausência de informação sobre os resultados de testes em não doentes ............... 118 Ausência de padrões objetivos para as doenças Consequências de padrões-ouro imperfeitos xii Sumário Sensibilidade e especificidade .................... 119 Definições Uso de testes sensi'veis Uso de testes específicos ................................. 12 l Contrabalanço entre sensibilidade e especificidade Curva ROC Como estabelecer a sensibilidade e a especificidade 0 espectro dos pacientes ............................... 123 Vàlor preditivo DefiniçõesDeterminantes do valor preditivo .................. 126 Como estimar a prevalência (proba.bilidade pré-teste) ................................ 127 Aumentando a probabilidade pré-teste de doença E§Pecificidddes dzi Situaçáo clínica ............... 12:8 Grui)os demográficos selecionado§ .......... „ .....12;8 Proces5o dj3 enca;minhd:mento ....................... 12:9 Implicações para a interpretação da literatura médica Razões de verossimilhança ..... „ .................. 130 Chances 0 uso de razões de verossimilhança ............... 130 Por que usar as razões de vcrossimilhança? Calculando as razões de verossimilhança Testes múltiplos Testes em paralelo Regras de predição clínica .............................. 135 Testes em série Razões de verossimilhança em série ................ 136 Pressuposto de independência ....................... 136 CAI>ÍTULO 9: TRATAMENT0 140 Ideias e evidências 0 teste das ideias Estudos sobre os efeitos de um tratamento Estudos observacionais e experimentais sobre os efeitos de um tra[amento Ensaios clínicos randomizados .................. 143 Amostragem Intervenção Grupos de comparação .................................. 146 Alocação do tratamento ................................. 147 Diferenças que surgem após a. randomizaçáo OS pacíentes podem náo ter a doença §ob estudo Cruzftmento Cointeruenções Cegamento 149 149 150 150 150 Avaliação dos desftchos ................................. 1 5 1 Eficácia e efetividade .................................. 152 Ensaios clínicos de intenção de tratar e explanatórios ................................. 152 Sup erioridade, equivalência e não inferioridade Variações dos ensaios clínicos randomizados básicos ........... Individualizando os resultados dos ensaios clínicos para cada paciente ............ 155 Subgrupos Efetivida.de em pacientes individuais ............. 156 Ensaios clínicos de JV= 1 ............................... 156 Alternativas aos ensaios clínicos randomizados ............................... 156 Limitações dos ensaios clínicos randomizados Estudos observacionais sobre intervenções Bases de dados clínicos .................................. 158 Estudos randomizados z/Grí% estudos Fases dos ensaios clínicos ........................... 158 Sumário xiii CApi-TULO 10: PREVENÇÃO ...................... 163 Atividades p reventivas em cenários clínicos Tipos de prevenção cli'nica ............................. 164 Imunizftção Rcütreamento Acons e lhamento comp ortamntcil (mudftfeças no estilo die vidzi) ....................... 164 QiÀímiopreuençáo Níveis de prevenção Prevenção primária Prevenção secundária Prevenção terciária Confiisão sobre prevenção primária, secundária e terciária Abordagem cienu'fica da prcvenção clínica Carga de sofrimento Efetividade do tratamento ......................... 168 Intervenções para a prevenção primária. Emsciios clínicos mndomizddos ..................... 168 Estudos obseruacionais .................... „ .......... 168 Segurançã Aconselhdmento Intcrvenções terapêuticas na prevenção secundária Intervenções terapêuticas na prcvenção terciária Questões metodológicas na avaliação de programas de rastreamento Vdor preditivo positivo baixo ........................ 176 Simplicidade e baixo custo ............................. 177 Segurança Aceitável pa.ra pacientes e clínicos .................. 178 Consequências não pretendidas do rastreamento ......................................... 178 Risco de resultado fflso-positivo .................... 178 Risco de efeito negativo do rótulo ............. „...179 Iüsco de sobrediagnóstico (pseudodoença) no rastreamento do câncer Incidentalomas Mudmças nos testes de rastreamento e nos tratamentos ao longo do tempo Pcsando os benefi'cios contra os danos da prevenção ............................... 182 CAPÍTULO 11: ACASO ............................. 188 Duas abordagens para o acaso ................... 188 Teste de hipótese Resultados estatísticos fàlso-positivos e fàlso-negativos i69 Conclusãodequeum tratamento funciona i69 Vàlores pdicotômicos e exatos ....................... i90 Significância estatística e |7o importânciaclínica Testes estatísticos Rastreios de prevalência e incidência .............. 171 Vieses especiais Viés de tempo ganho Viés d£ tempo dÁ: dura,Ção ............................ T]2 Viés de ddesão Desempenho dos testes de rastreamento ................................ 174 _flta sensibilidade e especificidade .................. 175 Métodos de detecção e dc incidência para calcular a sensibilidade ........................... 175 Conclusão de que um tratamento não fúnciona ............................... 193 Quantos pacientes são suficientes no estudo? ................................ 194 Poder estatístico Estimando as exigências de tamanho de amostra Magnítud2 do efieito Erro tipo 1 Erro tipo 11 Ccifacterísticas do§ dfldos ............................. L95 Inter-reldções 195 xiv Sumário Estimativas ponto e intervalos de confiança .. Poder estati'stico depois de completado o estudo Detecção de eventos raros .......................... 198 Comparações múltiplas ............................. 199 Análise de subgrupos ................................. 200 Múltiplos desfechos Métodos multivariáveis .............................. 201 Raciocínio bayesiano ................................. 204 CAPÍTUL0 12: CAUSALiDADE ................... 208 Princípios básicos Causas únicas Causas múltiplas Proximidade entre causa e efeito .................... 210 Evidências indiretas de causalidade ........... 212 Analisando estudos individuais ...................... 212 Hierarquia dos delineamentos de pesquisa Avaliando as evidências a favor e contra uma relação causal .............. 213 A causa precede o efeito? ............................... 214 Força da associaçáo Relações dose-resposta Associações reversíveis Consistência Plausibilidade biológica ................................. 216 Especificidade Analogia Estudos de risco agregado .......................... 216 Modelagem 0 peso das evidências ................................ 220 CAi.ÍTULO 13: RESUMiNDO AS EVIDÊNCIAS 224 Revisões tradicionais Revisões sistemáticas .................................. 225 Definindo uma questão especi'fica .................. 226 Identificação de todos os estudos relevantes Limitar as revisões sistemáticas a estudos cientificamente fortes e clinicamente relevantes ............................... 227 0s estudos publicados são uma amos[ra enviesada de todas as pesquisas que foram concluídas? ................... „ 227 0s melhores estudos são realmentc A qualidade científica está relacionada com os resultados das Resumo dos resultados .................................. 230 Combinação de estudos em metanálises Os estudos são suficientemente semelhantes para j ustificar 0 que se combina - estudos Como os resultados são combinados? ............ 233 Identificando razões para heterogcneidade Metanálise cumulativa ............................... 235 Revisões sistemáticas de estudos observacionais e de estudos sobre testes diagnósticos ........... 236 Pontos fortes e fracos das metanálises ........ 236 CAPÍTULO 14: GESTÃO DO CONHEciMENTO 241 Princípios básicos Fazer você mesmo ou delegar? ....................... 241 Que meio devo Graduando as informações ............................ 242 Relatos enganosos de achados de pesquisa Busca de respostas para questões clínicas Soluções Colegds clínícos Liuros-texto eletrônicos . . „ ............................2A5 Diretrizes ijara a prática clínica ..................2.46 The cochrane Librci:ry ................................2.46 Sumário xv Bamcos de dados de cítações(PubMed e outros) Outras fintes na ínternet ............................2A] Acompanhamento dos novos avanços ........ 247 Periódicos A "lcitura" dos periódicos .............................. 249 0rientando a busca do paciente por informações sobre sua saúde A gestão do conhecimento na prática ........ 251 APÊNDicE A: RESPoSTAS DAS QUESTÓES DE REVISÃ0 ....................... 255 APÊNDicE 8: LEiTURAS ADIcloNAis .......... 269 ÍNDicE..................................................273 Capítulo 1 Introdução Devemos estudar "os beneficios das intervenções médicas em relação a seus riscos e custos". - Kerr L. White 1992 PALAVRAS-CHAVE Ciências biológicas Ciências clínicas Ciências populacionais Epidemiologia Pesquisa em serviços de saúde Análise de custo-efetividade Análise de decisão Ciências sociais Epidemiologia clínica Medicina baseada em evidências Variáveis Variável independente Variável dependente Variável extei.na Covariáveis Populações Amostra lnferência Tomada de decisão quantitativa Viés Viés de seleção Viés de aferição Viés de confusão Acaso Vaíiação aleatória Validade interna Validade externa Capacidade de generalização Tomada de decisão compartilhada Um homem de 51 anos consulta por dor torácica que ele acredita ser "indigestão''. Ele esteve bem até du- as semanas atrás, quando percebeu um aperto retro- esternal, após uma farta refeição, ao subir uma la- deira. 0 aperto parou após dois ou três minutos de descanso. Um desconforto semelhante vem ocorren- do diversas vezes desde então, algumas vezes duran- te os exercícios e outras em repouso. Ele deixou de fumar um maço de cigarros por dia há três anos e j.á lhe foi dito que sua pressão arterial está "um pouco elevada". Fora isso, ele está bem e não está toman- do nenhum medicamento, mas está preocupado com sua saúde, especialmente com doenças cardíacas. Ele perdeu o emprego há seis meses e não tem plano de saúde. 0 exame físico completo e o eletrocardiogra- ma em repouso são normais, exceto pela pressão ar- terial de 150/96 mmHg. Esse paciente provavelmente tem diversas per- guntas. Estou doente? Você tem certeza? Se estou doente, o que está causando a minha doença? Co- mo isso irá me afetar? 0 que pode ser feito a res- peito? Quanto irá custar? Como clínico responsável por esse paciente, você se fàz as mesmas perguntas, embora as su- as reflitam uma compreensão maior das possibi- lidades. A probabilidade de uma doença grave e tratável é suficientemente grande para passar de imediato da simples explicação e da tranqui- lização do paciente para os testes diagnósticos? Até que ponto os diversos testcs distinguem en- tre as possíveis causas de dor torácica: angina de peito, espasmo esofagiano, distensão muscular, ansiedade, entre outras causas? Por exemplo, até que ponto um teste de esforço pode ser útil pa- ra confirmar ou descartar doença arterial coro- nariana? Se uma doença coronariana for encon- trada, por quanto tempo o paciente pode esperar sentir dores? Qual é a probabilidade de ocorre- rem outras complicações - insuficiência cardía- ca congestiva, infarto do miocárdio ou doença aterosclerótica de outros Órgãos? A doença en- curtará sua vida? A redução dos fatores de ris- co para doença coronariana (originários do ta- Éaã:s.:s:áeridoaph.i.pce::::s.ã:!.g::`;ns:íivr:i:fae,:.r::c:: risco? Se as medicações controlarem a dor, uma cirurgia de revascularização traria beneficio adi- cional - por exemplo, prevenindo futuros infar- tos ou mortalidade cardiovascular? Uma vez que o paciente está desempregado e não possui plano de saúde, será que procedimentos diagnósticos e tratamentos mais baratos terão o mesmo resulta- do que outros mais caros? 2 Epidemiologia clínica: elementos essenciais Questões clínicas e epidemiologia clínica As dúvidas do paciente e do médico no exemplo representam os tipos de questões clínicas mais co- muns na maioria dos encontros médico-pacien- te. 0 que é "anormal"? Qual a acurácia dos tes- tes diagnósticos utilizados? Com quc frequência a condição ocorre? Quais são os riscos para uma determinada doença e como determinamos es- ses riscos? A condição médica em geral se agrava, permanece estável ou se resolve (prognóstico)? 0 tratamento realmente ajuda o paciente ou somen- te melhora os resultados nos testes? Existe alguma forma de prevenir a doença? Qual é a causa sub- jacente da doença ou condição? E como podemos oferecer um bom cuidado médico de forma mais eficiente? Essas questões clínicas e os métodos epi- demiológicos para respondê-las são a base deste li- vro. Essas questões clínicas são resumidas na Ta- bela 1. 1. Cada uma também se refere a um tópico de capi'tulos específicos no livro. Os clínicos neccssitam das melhores respos- tas possi'veis a essas questões. Eles utilizam diver- sas fontes de informação: sua própria experiên- cia, o conselho de colegas e as conclusões a partir de seu conhecimento acerca da biologia da doen- ça. Em muitas situações, a fonte mais confiável é a pesquisa cli'nica, que envolve o uso de observa- Ções anteriores de pacientes semelhantes para pre- dizer o que acontecerá ao paciente cm tratamen- to. A maneira como tais observações são feitas e interpretadas determina a validade das conclusões e, dessa forma, até que ponto elas serão úteis pa- ra os pacientes. Desfechos de saúde Os eventos clínicos mais importantes na medici- na são os desfechos de saúde dos pacientes, como sintomas (desconforto e/ou descontentamento), deficiência fiincional, doença e morte. Esses des- fechos centrados no paciente algumas vezes são re- feridos como os "Cinco Ds" (Tabela 1.2). Eles são os eventos de saúde que interessam aos pacientes. Os médicos deveriam tentar entender, prever, in- terpretar e modificar esses desfechos ao cuidar dos pacientes. Os Cinco Ds podem ser estudados di- retamente apenas em humanos intactos, e não em partes de humanos (como neurotransmissores, culturas teciduais, membranas celulares e sequên- cias genéticas) ou em animais. A epidemiologia TABELA 1.1 11ópico Questão Frequência Com que frequência uma doença (Cap. 2) ocorre? Anormalidade O paciente está doente ou sadio? (Cap. 3) Risco Quais são os fatores que estão (Caps. 5 e 6) associados com um risco maior de doença? Prognóstico Quais são as consequências de se ter- (Cap. 7) uma doença? Diagnóstico Qual a acurácia dos testes utilizados (Cap. 8) para díagnosticar a doença? Tratamento Como o tratamento altera o curso de (Cap. 9) uma doença? Prevenção Uma intervenção em pessoas sadias (Cap.10) impede o surgimento da doença? Fazer a detecção e iniciar o tratamento precocemente melhora o curso da doença? Causa (Cap.12) Quecondições levam à doença? Quais são as origens da doença? a Quatro capítulos -Risco: Princípios Básicos (4), Acaso (11 ), Re- visões Sistemáticas (13) e Gestão do Conhecimento (14) -são pertjnentes a todos esses tópicos. clínica é a ciência que estuda os Cinco Ds em hu- manos intactos. Na medicina clínica moderna, é tão comum solicitar exames laboratoriais e tratar as alterações dcsses exames (por exemplo, glicemia, hematúria TABELA 1.2 Desenlace ou morte (death) Doença (c//.5ease)b Desconforto (discomfort) Deficiência funcional (disability) Descontentamento (dissatistaction) Um desfecho ruim, se for antes do tempo Um conjunto de sintomas, sinais físicos e anormalidades laboratoriais Sintomas como dor, náusea, dispneia, prurido e zumbido Limitação na capacidade de desempenhar asatividades normais em casa, no trabalho ou no lazer Reação emocional à doença e ao seu cuidado, como tristeza e raiva a Talvez um sexto D, despesa (de5r/.tutí.on), pertença a essa lista, porque o custo financeiro da enfermidade (para cada paciente guo:acr::ào:,àg:Feen't::Teancc?anàeg:::::a,mportantedadoença e troponinas elevadas) que nos esquecemos de que os resultados desses testes não são o que realmen- tc importa na prática clínica. Somos levados a crer que, sc pudermos mudar o resultado do teste de alterado para normal, tercmos ajudado o pacien- te. Porém isso só é verdadeiro se estudos cuida- dosos tiverem demonstrado uma relação clara en- tre os resultados de exames laboratoriais e um dos cinco Ds. A incidência de diabetes melito tipo 2 está aumen- tando drasticamente nos Estados Unidos. Em pesso- as com diabetes, o risco de óbito por doença cardíaca é duas a quatro vezes maior do que naquelas sem es- sa doença, e as doenças cardiovasculares são respon- sáveis por aproximadamente 70% de todos os óbitos em pacientes com diabetes. Novos esforços farmaco- lógicos para controlar o diabetes produziram uma classe de fármacos, as tiazolidinedionas, que aumen- tam a sensibilidade à insulina em músculos, gordura e fígado. Diversos estudos demonstraram que esses fár- macos reduzem os níveis de hemoglobina AI C em pa- cientes com diabetes. Um desses fármacos, a rosigli- tazona, foi aprovado para uso em 1999. No entanto, nos anos seguintes, diversos estudos de seguimento demonstraram um resultado su`rpreendente: pacien- tes recebendo rosiglitazona tinham uma probabili- dade maior, e não menor, de apresentar problemas cardíacos, com diferentes estudos demonstrando au- mento de infartos, insuficiência cardíaca, AVC e mor- talidade cardiovascular ou por todas as causas (1-3). Como muitos dos estudos que apresentavam resulta- dos positivos do medicamento sobre os níveis de gli- cose ou hemoglobina AIC não foram a princípio deli- neados para examinar os resultados cardiovasculares por um período mais longo, a maioria dos estudos de seguimento não eram ensaios clínicos rigorosos. En- tretanto, foram levantadas dúvidas suficientes para, em 2:010, o U.S. Food and Drug Administration res- tringir o uso de rosiglitazona; na Europa, essa medi- cação foí retirada do mercado. Durante seu treinamento, os cli'nicos mergu- lham na biologia da doença, a sequência de pas- sos que leva dos eventos subcelulares à docnça e às suas consequências. Assim, pareceria razoável pressupor que uma intervenção que reduzisse a glicemia em pessoas com diabetes ajudaria a pro- teger contra doenças cardíacas. No entanto, em- bora muito importantes para a medicina clínica, esses mecanismos biológicos não podem substi- tuir desfechos clínicos, a menos que existam for- tes evidências que confirmem a relação entre os dois. (Na verdade, os resultados de estudos com diversos medicamentos diferentes têm levantado a Capítulo l: lntrodução 3 possibilidade de que, no diabetes tipo 2, a redução agressiva da. glicemia não protege contra doenças cardíacas.) Mostrar melhora nos desfechos de saú- de dos pacientes é especialmente importante com novos fármacos, pois cm geral intervenções far- macológicas a.presentam diversos efeitos cli'nicos em vez de somente um. A BASE CIENTÍFICA PARA A MEDICINA CLÍNICA A epidemiologia clínica é uma das ciências bási- cas cm que os clínicos se apoiam para o cuidado com os pacientes. Outras ciências da saúde tam- bém são inerentes ao cuidado com o paciente e es- tão resumidas na Figura 1.1. Muitas das ciências se sobrepõem. A epidemiologia clínica é a ciência que faz pre- dições sobre pacientes individuais, utilizando a contagem de eventos cli'nicos (os cinco Ds) em grupos de pacientes semelhantes e valendo-se de métodos científicos sólidos para garantir que as predições sejam corretas. 0 objetivo da. epidemio- logia clínica é desenvolver e aplicar métodos de observação clínica que conduzam a conclusões vá- lidas, evitando o engano por erros sistemáticos e aleatórios. É uma abordagem importante para ob- ter o tipo de informação de que os clínicos neces- sitam para tomar boas decisões no cuidado com o paciente. CAMPO DE PESQUISA FOCO PRINCIPALH'i_[lHH Modelos animaisCélulas e transmissores Moléculas Genes Desenvolvimento de fármacos Pacientes individuais Questões sobre pacíentes indivíduaís Métodos populacionais Populações Sístemas de atenção à saúde Figura i .i As ciências da saúde e suas relações com- plementares. 4 Epidemiologia clínica: elementos essenciais 0 termo "epidemiologia clínica" deriva das duas disciplinas que lhe deram origem: a medici- na, clínica e a epidemiologia. Ela é "clínica" por- que se propõe a responder questões clínicas e a orientar a toma.da de decisão clínica com as me- lhores evidências disponi'veis. É "epidemiologia" porque muitos dos métodos utilizados para res- ponder a questões sobre como melhor cuidar dos pacientes foram desenvolvidos por epidemiologis- tas e porque o cuidado com cada paciente é visto no contexto do todo da. população da qual o pa- ciente faz parte. As ciências clínicas fomecem as questões e a a.bordagem que podem ser usadas no cuidado com pacientes individuais. Algumas ciências bio- lógicas, como a ana.tomia e a fisiologia, são tam- bém "clínicas", na medida em que fornecem informações sólidas para orientar as decisões clí- nicas. Por cxemplo, conhecer a anatomia do cor- po a.juda a detcrminar as possibilidades para diag- nóstico e tratamento de muitos sintomas. As ciências populacionais estudam gra.ndes grupos de pessoas. A epidemiologia é o "estudo da ocorrência de doença em populações humanas" (4), pela contagem de eventos de saúde nas pesso- as em relação ao grupo na.tural de ocorrência (po- pulação) do qual fazem parte. Os resultados de muitos desses estudos são diretamente aplicáveis ao cuidado de pacientcs individuais. Por exemplo, estudos epidemiológicos são utilizados como ba- se para acons€lhar a evitar comportamentos co- mo o tabagismo e o sedentarismo, que aumentam o risco para os pacientes. Outros estudos epide- miológicos, como aqueles que mostram os efei- tos nocivos do tabagismo passivo e outros perigos ambicntais e ocupacionais, são a base das reco- mendações de saúde pública. A epidemiologia clí- nica é um subconjunto das ciências populacionais que é útil para o cuidado de pacientes individuais. Os clínicos há muito dependem, até certo ponto, das evidências de pesquisas. Mas a com- preensão das evidências clínicas é mais importan- te nos tempos modernos do que no passado, por diversas razõcs. Uma extraordinária qua.ntidade de informações deve ser organizada. As interven- Ções diagnósticas e terapêuticas têm o potencial de grande efetividade, bem como riscos e custos; assim, há uma grande responsabilidade envolvida na escolha dessas intervenções. As melhores pes- quisas cli'nicas são muito confiáveis e, portanto, formam uma base sólida para as decisões clínicas. Entretanto, a credibilidade da pesquisa clínica va- TABELA 1.3 Medicina baseada em eminência Medicina baseada em veemência Medicina baseada em eloquência (ou elegância) Medicina baseada em Providência Medicina baseada em difidência Medicina baseada em nervosismo Medicina baseada em confiança Colegas mais experientes que acreditam que a experiência supera as evidências Substituição do volume e da estridência por evidências Elegância sartória e eloquência verbal A decisão é deixada nas mãos do Todo-Poderoso Muito tímido para tomar qualquer decisão médica 0 medo de um processo é um estímulo poderoso para o excessode investigação e de tratamento Bravata Adaptada a partir de lsaacs D, Fitzgerald D. 5ever) ô/ferr}af/.ves fo ev/.dence-ba5ed mec//.c/.ne. BMJ 1999; 319: 1618. ria de estudo para estudo; por isso, os clínicos pre- cisam ter uma abordagem para separar as evidên- cias fortes das fracas. A medicina baseada em evidências é um ter- mo moderno para a aplicação da epidemiologia clínica ao cuidado com os pacientes. Ela inclui a formulação de questões clínicas específicas, a bus- ca das melhores evidências de pesquisa disponí- veis sobre aquelas questões, o julgamento sobre a validade das informações e a integração da avalia- Ção crítica com a experiência do clínico e a situa- Ção e os valores do paciente (5). Este livro tratará de muitos aspectos da medicina baseada em evi- dências, especialmente a avaliação crítica das evi- dências sobre questões clínicas. Em cenários clínicos reais, outros tipos de "evidências" competem pela atenção do clínico e podem influenciar as decisões médicas. A Tabe- la 1.3 descreve alguns deles em uma paródia da medicina baseada em evidências que foi publica- da há alguns anos, mas que continua verdadeira ainda hoje. Provavelmente todos os clínicos já ex- perimentaram pelo menos um desses fatores du- rante scus anos de treinamento! Outro fator, não tão engraçado, mas muito relevante, tem sido des- crito como evidência de nível IV (6). Os clíni- cos tendem a lembrar casos em que as coisas vão terrivelmente mal no cuidado que oferecem pa- ra um paciente individual e têm maior probabili- dade dc mudar sua prática após [a] experiência do que após ler um cstudo bcm conduzido. Essas al- [ernativas, que são menos confiáveis do que a me- dicina ba.seada em evidências, podem ser bastan- tc a[rativas no nívcl emocional c podem fornec€r uma forma convcniente dc lidar com a incerteza, mas são más subs[itutas para as evidências basea- das cm pesquisas. A pesquisa em serviços de saúde é o cstudo de como fatores não biológicos (por cxemplo, fiin- cionários e instalaçõcs clínicas, a maneira como c) serviço é organizado e pago, as crenças dos clí- nicos e a cooperaçáo dos pacientes) afetam a saú- de dos pacientcs. Esses estudos têm demonstrado, por exemplo, que o cuidado médico difere subs- tancialmcnte de uma pequena área geográfica pa- ra outra (sem diftrenças correspondentes na saú- de dos pacientes); que as cirurgias em hospitais que costumam realiza[ um proccdimento especí- fico tendem a aprcsentar um dcsfccho mclhor do qiie em hospitais em que [al intervenção é rea- lizada com pouca frequência; e qiie a aspirina é poiico u[ilizada no tratamcnto do infar[o agudo do miocárdio, mesmo que se tenha demonstrado quc essa prá[ica simples reduz o número de even- tos vasculares subsequentes em cerca de 25%. Es- scs tipos de estudos orientam os clínicos em seus csforços para aplicar o conhecimento exis[entc so- bre as melhores prá[icas cli'nicas. Outras ciências relacionadas a serviços de saú- de também orientam o cuidado com o pacientc. A tomada de decisão quantitativa inclui análises de custo-efetividade, que descrevem c)s custos fimn- c€iros n€cessários para chegai a iim bom desfccho, como a pr€v€nção de morte ou doença, e análises de decisão, que estabeleccm a basc racional para decisões clínicas e para avaliar as consequências de cada escolha. As ciências sociais descrevem como o ambiente social afcta o compor[amento relacio- nado à saúdc e o uso dos serviços dc saúde. As ciências biológicas estudam a sequência de eventos biológicos quc levam da saúde à doen- ça e são uma forma eficaz de saber como os fe- nômenos cli'nicos podem fiincionar no nível hu- mano. Historicamen[e, foi sot)retudo o progresso nas ciências biológicas que es[abeleceu a aborda- gem cicn[ífica à mcdicina cl(nica e continua de- scmpenhando um papel central. A anatomia ex- plica as síndromes de compressão de nervos, suas causas, sintomas e mccanismos de alívio. A fisio- logia e a bioquímica orientam o mancjo da ce- Capítulo l: lntrodução 5 toacidose diabética. A genética molecular prediz a ocorrência de doenças que variam das doenças Qrdiovasculaies comuns e do câncer a.é raros er- ros inatos do me[abolismo, cc>mo fenilcctonúria e fibros€ cística. A compreensão da biologia da docnça, contu- do, muitas vezes não é uma base sólida para fazer pr€diçõcs em hurnanos intactos. Mui[c>s outros fatores contribuem para a saúde e para a doen- ça. Antes de tudo, os mccanismos da doença po- dcm não ser complctamentc comprccndidos. Por exemplo, a noção de qiie a glicemia em pacicntcs diabéticos é mais afetada pela ingestão de açúca- res simples (saca[ose ou açúcar de cozinha) do que por açúcares complexos, como o amido (como em batatas e massas), foi derrubada por estudos rigo- rosc)s que compararam os respcctivos efeitos des- ses alimentos na glicemia. Além disso, está fican- do claJo que os efeitos de anormalidades genéticas podem ser altcrados por um ambiente físico c so- cial complexo, como a dieta do indivíduo, a expo- sição a agentes infecciosos e químicos. Por exem- plo, a glicose-6-fosfato desidrogcnasc (G6PD) é uma enzima que protege as hemácias contra le- são oxidativa que l€va à hemólise. A deficiência de G6PD é a deficiência de enzimas maís comum em humanos, ocorrendo devido a mutações espe- cíficas do gene G6PD ligado ao cromossomo X. No cntanto, homens com variantes gené[icas de ocorrência comum da dcficiência de G6PD são em geral assintomáticos c desenvolvem hemólise e ic[cr(cia somente quando são cxpostos a fato- res ambientais qu€ geram es[rcssc oxidativc>, co- mo dete[mimdos fármacos ou infecções. Por fim, como mostrado no exemplo do tratamento com rosiglitazona para pacicn[es como diabetes tipo 2, os fármacos muitas vezcs têm múltiplos efeitos na saúdc dos pacicn[es, não somente o cfcito previs- to ao cs[udar a biologia da doença. Portanto, o co- nhecimento da biologia da doença produz hipóte- ses, frequentemente muito boas, sobre o que pode acontecer aos pacientes, mas essas hipóteses pre- cisam ser tcstadas po[ meio de estudos rigorosos com humanos intactos, antes de serem aceitas co- mc) fa[os cli'nicos. Em r€sumo, a epidcmiologia clínica é apenas uma entre as várias ciências quc são básicas para a medicina clínica. Na mclhor das hipótescs, as muitas ciências relacic>nadas à saúde s€ comple- mentam. As dcscobertas de iima são confirmadas em outra, e as dcscobertas da scgunda lcvam a no- vas hipóteses para a primeira. 6 Epidemiologia clínica: elementos essenciais Na década de 1980, médicos que atuavam em São Francisco, Califórnia, começaram a ver em homens homossexuais infecções e casos de câncer incomuns, que só haviam sido vistos antes em pacientes profun- damente imunocomprometidos. A nova síndrome foi chamada de "síndrome da imunodeficiência ad- quirida" (aids). Epidemiologistas mostraram que es- ses homens estavam sofrendo de uma doença trans- missível que afetava tanto homens quanto mulheres e que era transmitida não somente por atividade se- xual, mas também por compartilhamento de seringas e pela transfusão de sangue ou seus derivados. Cien- tistas de laboratório identificaram o vírus da imuno- deficiência humana (HIV) e desenvolveram novos me- dicamentos que buscavam atingir especificamente a estrutura e o metabolismo do vírus. Fármacos promis- sores, desenvolvidos com base na compreensão dos mecanismos biológicos, foram testados em ensaios clínicos. Uma nova especialidade clínica surgiu, foca- da no atendimento de pessoas infectadas pelo HIV. Sanitaristas passaram a promovero sexo seguro e ou- tros programas para prevenir a infecção pelo vírus. Dessa forma, clínicos, epidemiologistas, cientistas de laboratórío e sanitaristas contribuíram para o contro- le dessa nova doença, especíalmente em países de- senvolvidos, levando a um importante aumento na sobrevivência e melhoria na qualidade de vida dos in- divíduos infectados pelo HIV. PRINCÍPIOS BÁSICOS 0 objetivo da epidemiologia clínica é fomentar métodos de observação e interpretação cli'nica que levem a conclusões válidas e a um melhor cuida- do do paciente. As respostas mais convincentes às questões clínicas baseiam-se em alguns princípios básicos. Dois deles já foram analisados -as obser- vações deveriam focar nas questões com as quais se deparam os pacientes e os profissionais dc saú- de, e os resultados deveriam incluir desfechos de saúde centrados no paciente (os cinco Ds). Ou- tros princípios básicos são discutidos a seguir. Variáveis Os pesquisadores chamam os atributos dos pa- cientes e os eventos clínicos de variáveis - coisas que variam e que podem ser medidas. Em um es- tudo típico, existem três tipos principais de va- riáveis. Uma é uma suposta causa ou variável preditora, algumas vezes chamada de variável in- dependente. Outra é o cfeito possi'vel ou variá- vel de dcsfecho, algumas vezes chamada de variá- vel dependente. Outras va.riáveis podem ser parte do sistema sob estudo e podem afetar a relação en- tre as variáveis independentes e dependentes. Elas são chamadas de variáveis externas (ou covariá- veis), porque são alheias à questão principal, cm- bora talvez sejam parte do fenômeno em estudo. Números e probabilidade A ciência clínica, como todas as outras ciências, depende de aferições quantitativas. Impressões, intuições e crenças também são importantes na medicina, mas apcnas quando se somam a uma base sólida de informações numéricas. Essa base permite uma melhor confirmação, uma comuni- cação mais precisa entre clínicos e entre clínicos e pacientes, bem como uma estimativa de erro. Os desfechos clínicos, como a ocorrência de doença, morte, sintomas ou deficiência fiincional, podem ser contados e expressos em números. Na maioria das situações cli'nicas, o diagnósti- co, o prognóstico e os resultados do tratamento são incertos para um paciente individual. Uma pessoa experimentará um desfecho clínico ou não; a predi- Ção raramente é exata. Portanto, uma predição pre- cisa ser expressa como uma probabilidade. A pro- babilidade para cada paciente é mais bem expressa ao fazer referência à experiência passada com gru- pos de pacientes semelhantes - por exemplo, o ta- bagismo dobra o risco de morte em adultos na meia idade; os exames de sangue para troponinas detec- tam cerca de 99°/o dos infartos do miocárdio em pacientes com dor torácica aguda; e 2 a 6°/o dos pa- cientes submetidos à cirurgia eletiva para aneuris- ma da aorta abdominal morrerão até 30 dias após o procedimento, contra os 40 a 80°/o que morrem quando uma cirurgia de emergência é necessária. Populações e amostras Uma população são todas as pessoas em um cená- rio definido (como o estado da Carolina do Nor- te) ou com certas características definidas (como idade > 65 anos ou ter um nódulo de tireoide). Indivíduos não selecionados na comunidade são a. população habitual para estudos epidemiológicos de causa. No enta.nto, as populações cli'nicas in- cluem todos os pacientes com uma caracteri'stica cli'nica, como todos aqueles com pneumonia ad- quirida na comunidade ou estenose aórtica. Dessa forma, ffla-se na população geral, em uma popu- lação hospitalizada ou em uma população de pa- cientes com uma doença especi'fica. A pesquisa cli'nica é em geral conduzida em uma amostra, ou subconjunto de pessoas em uma populaçáo definida. Há interesse nas característi- cas da população definida, mas é necessário, por questões práticas, fazer uma estimativa por meio das caracteri'sticas de pessoas em uma amostra (Fi- gura 1.2). Faz-se, então, uma inferência, um jul- gamento racional com base em dados, de que as características da. amostra assemelham-se àquelas da população de origem. 0 grau em que uma amostra representa sua população, e, dessa forma, é um boa substitu- ta para ela, depende de como foi selecionada. Os métodos em que cada membro da população tem uma probabilidade igual (ou conhecida) de ser se- lecionado podem produzir amostras cxtraordina- riamente semelhantes à população de origem, pe- lo menos a longo prazo e para grandes amostras. Um exemplo cotidiano são as pesquisas de opi- nião utilizando amostragens em residências, com base em dados do censo. Em nossa própria pes- quisa clínica, com frequência utilizamos um com- putador para selecionar uma amostra representa- tiva de todos os pacientes em nossa ampla clínica de multiespecialidades, cada um com a mesma probabilidade de ser selecionado. Já as amostras obtidas por puro acaso ou por conveniência (is- so é, pela seleção de pacientes que sejam fáceis de se trabalhar ou que, casualmente, estejam fazen- do uma consulta na clínica quando os dados estão sendo coletados) podem não representar de mo- do correto a população de origem e, dessa forma, ser enganosas. Viés (erro sistemático) Viés é "um processo em qualquer estágio da infe- rência com tendência a produzir resultados que se afastem sistematicamente dos valores verdadei- FIGURA 1.2 População e amostra. Capítulo l: lntrodução 7 ros" (7). É um "erro na concepção e delineamen- to de um estudo - ou na coleta, análise, interpre- taçáo, publicação ou revisão de dados - que leve a resultados ou conclusões que sejam sistematica- mente (em oposição a aleatoriamente) diferentes da verdade" (8). Os pacientes com hérnia inguinal que passam por um reparo laparoscópico aparentemente sofrem menos de dor pós-operatória e retornam mais rápido ao tra- balho do que aqueles que são submetidos à cirurgia aberta tradicional. 0 clínico cuidadoso indaga: "Os resultados da cirurgia laparoscópica são realmente melhores ou eles podem parecer melhores como re- sultado de vieses na forma como as informações fo- ram coletadas?". Talvez o procedimento laparoscópi- co seja oferecido a pacientes que estejam em melhor estado ou que pareçam ter maior resistência tecidu- al devido à idade ou estado geral de saúde. Talvez os cirurgiões e os pacientes estejam mais inclinados a pensar que o procedimento deveria causar menos dor porque é novo, a cicatriz é menor e, dessa for- ma, os pacientes relatam sentir menos dor, e os cirur- giões, provavelmente, perguntem menos sobre a dor ou façam menos registros do fato. Talvez os pacien- tes que são submetidos à cirurgia laparoscópica se- jam em geral instruídos a voltar ao trabalho mais ce- do do que aqueles que sofrem uma cirurgia aberta. Se qualquer uma dessas possibilidades for verdadeira, os resultados favoráveis podem estar relacionados às diferenças sístemáticas de como os pacientes são sele- cionados para o procedimento laparoscópico, ao mo- do como eles relatam seus sintomas, ou a como eles foram instruídos sobre o que podem fazer -não ha- vendo uma diferença real nas taxas de sucesso. Co- mo será discutido no Capítulo 5, existem maneiras de se proteger contra esses possíveis vieses. Os estudos que evitaram esses vieses demonstraram que os pa- cientes que se submetem à cirurgia laparoscópica, de fato, sentem menos dor (mas apenas inicialmente) e são capazes de retornar ao trabalho mais rápido. A ci- rurgia laparoscópica, porém, é mais demorada, e di- versos estudos mostraram que pacientes submetidos a ela apresentaram complicações mais graves, bem como alto índice de recidiva, sobretudoem homens mais velhos (9, 10). Em resumo, estudos cuidadosos constataram que a escolha entre os dois procedimen- tos não é tão simples assim. As observações dos pacientes (seja para o cui- dado do paciente ou para pesquisa) são particu- larmcnte suscetíveis a viés. 0 processo tende a ser desorganizado. Como participantes em um estu- do, os seres humanos tendem a ter o desconcer- tante hábito de fazer o que preferem e não o que seria necessário para produzir respostas cientifica- mente rigorosas. Quando os pesquisadores ten- 8 Epidemiologia clínica: elementos essenciais tam conduzir um experimento como seria feito em laboratório, as coisas tendem a dar errado. A1- gumas pessoas se recusam a participar, enquanto outras desistem ou escolhem outro tratamento. Além disso, os clínicos cstão inclinados a acredi- tar que suas terapias têm sucesso. (A maioria dos pacientes não iria querer médicos que pensassem diferente.) Essa atitude, tão importante na práti- ca da medicina, torna as observações clínicas espe- cialmente vulneráveis ao viés. Embora dezenas de vieses tenham sido defini- dos (11), a maioria se enquadra em uma de três categorias amplas (Tabela 1.4). Viés de seleção 0 viés de seleção ocorre quando são feitas com- parações entre grupos de pacientes quc diferem de outras maneiras que nãç> os principais fatores sob estudo, maneiras essas que a.fetam o desfecho. Os grupos de pacientes frequentemente diferem de muitas maneiras -idade, sexo, gravidade da doen- ça, presença de outras doenças, cuidado que rece- bem e assim por diante. Caso se compare a expe- riência de dois grupos que diferem quanto a uma determinada característica de interesse (por exem- plo, um tratamento ou uma causa que se suspei- te ser a da doença), mas que são também diferen- tes quanto a essas outras maneiras, e as diferenças são relacionadas ao desfecho, a comparação esta- rá enviesada e pouco poderá ser concluído sobre os efeitos independentes das características de in- teresse. No exemplo da herniorrafia, o viés de se- leção teria ocorrido se os pacientes submetidos ao procedimento laparoscópico fossem mais saudá- veis do que os que sofrera.m uma cirurgia aberta. TABELA 1.4 Viés de seleção Viés de aferição Viés de confusão Ocorre quando são feitas comparações entre grupos de pacientes que diferem em outros determinantes de desfecho, além do que está sendo estudado. Ocorre quando os métodos de aferição são diferentes entre grupos de pacientes. Ocorre quando dois fatores estão associados (andam juntos) e o efeito de um se confunde com ou é distorcido pelo efeito do outro. Viés de aferição 0 viés de aferição ocorre quando os métodos de aferição levam sistematicamente a resultados in- corretos. Os níveis da pressão arterial são preditores poderosos de doença cardiovascular. No entanto, múltiplos estu- dos demonstraram que medir a pressão arterial não é tão simples quanto parece (12). Para aferi-la corre- tamente, deve-se utilizar um tamanho de manguito maior para adultos acima do peso e obesos, posicio- nar o paciente de forma que o braço fique abaixo do nível do átrio direito e que ele não tenha que man- ter o braço elevado, fazer a aferição em um ambien- te calmo e repeti-la várias vezes. Se qualquer desses procedimentos não for feito de modo correto, as afe- rições provavelmente estarão incorretas e sistemati- camente elevadas. Um outro fator que leva a leituras de pressão arterial sistematicamente elevadas, algu- mas vezes chamadas de "hipertensão do jaleco bran- co" (Figura 1.3), ocorre quando a pressão é aferida por médicos, sugerindo que a consulta médica cau- se ansiedade nos pacientes. No entanto, os clínicos que esvaziam o manguito mais rápido que 2-3 mm/ seg irão provavelmente subestimar a pressão sistóli- 0510 Duração da consulta (minutos) FIGURA 1.3 Hipertensão do jaleco branco. Aumen- to na pressão sistólica, determinado por monito- ração contínua da pressão intra-arterial, quando a pressão é aferida manualmente por um médico ou por enfermeiro sem vínculo prévio com o paciente. (Redesenhada com permissão de Mancia G. Para- ti G, Pomidossi G, et al. ''Alerting reaction and rise in blood pressure during measurement by physician and nurse." Hypertension 1987;9:209-215.) Capítulo l: lntrodução 9 ca (mas superestimar a diastólica). Estudos também demonstraram uma tendência de os clínicos registra- rem valores que estejam no nível normal em pacien- tes no limite para pressão arterial alta. Erros sistemá- ticos na aferição da pressão arterial podem, portanto, levar a excesso ou falta de tratamento de pacientes na prática clínica. A pesquisa clínica baseada em afe- rições da pressão arterial feitas durante o cuidado ro- tíneiro de pacientes pode levar a resultados engana- dores, a menos que procedimentos cuidadosamente padronizados sej.am usados. Esses tipos de vieses le- varam ao desenvolvimento de instrumentos de afe- rição da pressão arterial que não envolvam ouvidos e mãos humanas. Viés de confusão (ou confundimento) 0 viés de confusão (ou confiindimento) pode ocorrer quando se tenta descobrir se um fator, co- mo um comportamento ou a exposição a um me- dicamento, é, por si só, uma causa de doença. Se esse fator estiver associado ou "andar junto" com outro fator, que está por sua vez relacionado ao desfecho, o efeito de um pode ser confiindido ou distorcido pelo efeito do outro. Suplementos de antioxidantes, como as vitaminas A, C e E, são populares entre o público leigo. Experimen- tos de laboratório e estudos realizados com pessoas que escolhem ingerir antioxidantes sugeriram que eles previnem doenças cardiovasculares e alguns ti- pos de câncer. No entanto, cuidadosos ensaios clínicos FIGURA 1.4 Viés de confusão. A relação entre a ingestão de antio- xidantes e o risco de doenças car- diovasculares é potencialmente confundida pelas características do paciente e por comportamen- tos relacionados tanto ao uso de antioxidantes quanto ao desen- volvimento de doenças cardio- vasculares. randomizados, capazes de evitar o viés de confusão, não mostraram grandes efeitos dos antioxidantes (13,14). De fato, quando os resultados desses estudos foram combinados, o uso de antioxidantes, especial- mente em altas doses, foi associado a um pequeno aumento, não redução, nas taxas de mortalidade. Co- mo conciliar os resultados dos estudos iníciais com os achados opostos dos ensaios clínicos posteríores, cui- dadosamente controlados? Sugeriu-se que houve vi- és de confusão, como mostra a Figura 1.4. As pessoas que ingerem antioxidantes por conta própria tendem a fazer outras coisas de forma diferente daqueles que não tomam antioxidantes -como fazer mais exercí- cios, cuidar do peso, comer mais vegetais e não fumar -e podem ser essas atividades, não os antioxidantes, que levaram a uma redução na taxa de mortalidade nos estudos que não randomízaram a intervenção. A maioria das pesquisas clínicas, sobretudo es- tudos que observam pessoas durante um perío- do de tempo, rotineiramente tentam evitar o viés de confiisão, "controlando" para possíveis variá- veis confimdidoras na análise (veja o Capítulo 5). Variáveis como idade, sexo e raça quase sempre são a.nalisadas como potenciais confimdidoras, pois muitos desfechos de saúde variam de acordo com elas. Estudos que envolvem comportamento humano (como a ingestão regular de antioxidan- tes) são especialmente propensos a viés de con- fiisão, uma vez que o comportamento humano é tão complexo que é difícil analisar todos os fato- res que podem influenciá-lo. Uma variável não precisa ser uma causa da doen- ça ou outra. condição de interesse para ser confun- didora.Ela pode estar relacionada à condição, em 10 Epidemiologia c[ínica: elementos essenciais um determinado banco de dados, devido ao viés de seleção ou ao acaso, mas não relacionada na na- tureza. Scja. a relação apenas nos dados ou na na- tureza, a consequência é a mesma: a. impressáo er- rônea dc que o fator de interesse é uma causa. real e independente quando, na verdade, não é. 0 viés de seleção e o de confiisão são relacio- nados. Entreta.nto, eles são descritos separada- mente, porque apresentam problemas em pontos diferentes em um estudo clínico. 0 viés de sele- ção é relevante principalmente quando os pacien- ::sntseã:oespc|:Lheij€o:eE:;adaeLn:e:::ãadg.oÉenécieTspá:i: trata.r do viés de conftisão durante a a.nálise dos dados, após as observações já terem sido feitas. Um mesmo estudo pode envolver diversos ti- pos de vieses ao mesmo tempo. Surgiram preocupações de que o consumo de cafeí- na durante a gravidez pudesse levar a desfechos fe- tais adversos. Não sería ético determinar se a cafeína é perigosa para fetos por meio de um experimento, designando algumas gestantes para ingerir altas do- ses de cafeína e outras não; portanto, pesquisadores avaliaram os desfechos na gestação de acordo com a quantia de cafei.na Íngerida. No entanto, muitos des- ses estudos apresentaram diversos vieses (15). Pode ter ocorrido viés de aferição, uma vez que muitos es- tudos se fizeram valer do relato das gestantes quan- to ao consumo de cafeína. Um estudo demonstrou vi- és recordatório, um tipo de viés de aferição que se refere ao diferencial nas recordações de pessoas que apresentaram um desfecho adverso, em comparação com aquelas que tiveram um desfecho normal. Des- cobriu-se uma associação entre consumo de cafeína e aborto espontâneo quando as mulheres foram en- trevistadas após o aborto, mas não quando elas fo- ram questionadas sobre o consumo antes do aborto (16). Se algumas mulheres foram recrutadas para os estudos sobre cafeína durante as consultas de pré-na- tal (mulheres com maior probabilidade de serem par- ticularmente cuidadosas com a saúde) e outras recru- tadas no final da gestação, as diferentes abordagens para recrutamento poderiam levar a viés de seleção, o que poderia invalidar os resultados. Por fim, sabe-se que o alto consumo de cafeína é associado ao hábi- to do tabagismo, níveis socioeconômicos mais baixos, maior consumo de bebidas alcoólicas e geralmente menor consciência com relação à saúde. Todos esses itens poderiam confundir qualquer associação entre cafeína e desfechos fetais adversos. 0 potencial para viés não significa que o vi- és esteja realmente presente em um estudo ou, se estiver, que teria um cfeito suficientemente gran- de nos resultados para ter relevância. Para um pes- quisador ou um leitor lida.r de forma adequada com o viés, é necessário primeiro saber onde e co- mo procurar por ele e o que pode ser feito. Mas não se deve parar por ai'. Também é necessário de- terminar se o viés está de fato presente e qual é o seu tamanho provável e, então, decidir se é impor- tante o bastante para modificar as conclusões do estudo de forma clinicamente relevante. Acaso As observações sobre as doenças são normalmente fcitas em uma amostra de pacientes, uma vez que não é possível estudar todos os pacientes que so- frem da doença em questão. Os resultados de uma amostra não enviesada tendem a se aproximar do valor verdadeiro. No entanto, uma determinada amostra, mesmo se selecionada sem viés, pode re- presentar erroneamente a situação na população como um todo por causa do acaso. Se as obser- vações fossem repetidas em mais amostras de pa- cientes da mesma populaçáo, os resultados iriam se aglomerar em torno do valor verdadeiro, com um número maior deles próximos, em vez de dis- tantes, do valor verdadeiro. A divergência entre a observa.Ção em uma amostra e o valor verda.dei- ro na população, devida exclusivamente ao a.caso, chama-se variação aleatória. Todos nós estamos familiarizados com o aca- so como uma explicação de por que uma moeda, quando jogada para o alto, digamos, cem vezes, não resulta em cara em 50°/o delas. 0 mesmo efei- to, a va.riação aleatória, aplica-sc quando se com- param os efeitos do reparo laparoscópico e da ci- rurgia aberta para hérnia inguinal, já discutidos. Suponha que todos os vieses tenham sido removi- dos de um cstudo sobre os efeitos dos dois proce- dimentos. Suponha, também, que os dois proce- dimentos sejam, na verdade, igualmente eficazes em termos de dor pós-operatória, cada um segui- do por dor em 10°/o dos pacientes. Mesmo assim, exclusivamente em decorrência do acaso, um úni- co estudo com um número pequeno de pacientes em cada grupo de tratamento poderia facilmente descobrir que os pacientes ficam melhores com a laparoscopia do que com a cirurgia aberta (ou vi- ce-versa). 0 acaso pode afetar todos os estágios envolvi- dos nas observações cli'nicas. Na avaliação das du- as formas de reparo de hérnia inguinal, a variação aleatória ocorre na amostragem dos pacientes pa- ra o estudo, na seleção dos grupos de tratamen- to e nas aferições de dor e de retorno ao trabalho. Ao contrário do viés, quc tende a distorcer os resultados para uma direção ou outra, a varia- Ção aleatória tem tanta probabilidade de resultar em observações acima do valor verdadeiro quan- to abaixo. Consequentemente, a média de mui- tas observações não enviesadas em amostras tende a se aproximar do valor verdadeiro na população, embora isso possa não ocorrer com os resultados de amostras pequcnas. No caso do reparo da hér- nia inguinal, múltiplos estudos, quando avalia.dos em conjunto, mostraram que o reparo laparos- cópico resulta em menos dor nos primeiros dias após a cirurgia. A estati'stica pode ser utilizada para estimar até que ponto o acaso (variação aleatória) é res- ponsável pelos resultados de um estudo clínico. 0 conhecimento sobre estati'stica também pode au- xiliar a reduzir o papel do acaso ao ajudar a elabo- rar um melhor delineamento e plano de a.nálises. Entretanto, a variação aleatória não pode jamais ser totalmente eliminada, de forma. que o acaso sempre precisa ser considerado quando se avaliam os resultados de observações clínicas. 0 papel do acaso em observações clínicas será discutido em mais detalhes no Capítulo 1 1. Os efeitos do viés e do acaso são cumulativos As duas fontes de erro - viés e acaso - não são mutuamentc exclusivas. Na maioria das situações, ambos estão presentes. A relação entre eles é ilus- trada na Figura 1.5. A mcdida da pressão diastóli- Pressão arterial Medida da verdadeira (cânula pressão arterial intra-arterial) (esfigmomanômetro) 80 90 Pressão diastólica (mmHg) FIGURA 1.5 Viés e acaso. Pressão arterial verdadei- ra por cânula intra-arterial e medida clínica por es- figmomanômetro. Capítulo l: lntrodução 11 ca em um único paciente é usada como exemplo; cada ponto representa uma observação daque- le paciente. A pressão arterial verdadeira, quc é de 80 mmHg para esse paciente, pode ser obti- da por meio de uma cânula intra-arterial, mas esse método não é facti'vel para aferições de ro- tina. A pressão arterial é em geral medida indire- tamente, utilizando um esfigmomanômetro (um manguito de pressão arterial). Como foi discuti- do em um exemplo anterior, o instrumento mais simples é propenso a erro ou desvio do valor ver- dadeiro. Na figura, o erro é representado por to- das as leituras do esfigmomanômetro, que ficam à direita do valor verdadeiro. 0 desvio das leituras do esfigmomanômetro para valores mais elevados (viés) pode ter diversas explicações (por exemplo, um tamanho de manguitoerrado, paciente ansio- so ou "hipertensão do jaleco branco"). As leituras da pressão arterial individual também estão sujei- tas a erro, devido à variação aleatória na medição, como ilustrado pela dispersão das leituras do es- figmomanômetro em torno do valor médio (90 mmHg). A razão principal para a distinçáo entre viés e acaso é que eles são tra.tados de forma diferen- te. Em teoria, o viés pode ser evitado pela condu- Ção de investigações clínicas apropriadas ou pode ser corrigido durante a análise dos dados. Se não for eliminado, o viés pode ser frequentemente de- tectado pelo leitor perspicaz. Grande parte deste livro é sobre como reconhecer, evitar ou minimi- zar o viés. 0 acaso, no entanto, não pode ser eli- minado, mas sua influência pode ser reduzida. por meio de um delineamento de pesquisa apropria- do, e o efeito remanescente pode ser estimado pe- la estati'stica. Não há tratamento estatístico capaz de corrigir os vieses desconhecidos nos dados. A1- guns estatísticos chegam a sugerir que a estatística não deve ser aplicada a dados que sejam vulnerá- vcis ao viés em consequência. de um ma.u planeja- mento de pesquisa, para não dar uma fàlsa aura de respeitabilidade a um trabalho fiindamental- mente enganoso. Validade interna e externa Ao fazer inferências sobre uma população a par- tir da observação de uma amostra, os clínicos pre- cisam decidir sobre duas questões fimdamenta.is. Em primeiro lugar, as conclusões da pesquisa são corretas para as pessoas na amostra? Em segundo, se são, a amostra representa de forma adequada os 12 Epidemiologia clínica: elementos essenciais pa.cientes que lhes interessam mais, o tipo de pa- cientes que atendem ou, talvez, um paciente espe- ci'fico (Figura 1.6)? A validade interna é o grau em que os resulta- dos de um estudo estão corretos para a amostra de pacientes sob análise. É "interna" porque se aplica às condições do grupo especi'fico de pacientes sen- do observado, e não necessariamente a outros. A validade interna da pesquisa clínica é determinada pela. forma como o delineamento, a coleta de dados e as a.nálises são conduzidos e é ameaçada por todos os vieses e variações aleatórias já discutidos. Para que uma observação clínica scja útil, a validade in- terna é uma condição necessária, mas insuficiente. A validade externa é o quanto os resultados de um estudo se aplicam em outros cenários. Um ou- tro termo para isso é capacidade de generalização. Para um clínico, é a resposta à qucstão: "Presumin- do que os resultados de um estudo sejam verdadei- ros, eles podem ser aplicados aos meus pacientes também?". A capacidade de generalizaçáo expressa a validade de se presumir que os pacientes em um estudo são semelhantes a outros pacientes. Estudos com boa validade interna são genera- lizáveis a pacientes muito parecidos com aqueles do estudo. Entretanto, um estudo incontestável, com validade interna alta, pode ser totalmente en- ganoso se os resultados forem generalizados aos pacientes errados. A capacidade de generalização das observações clínicas, mesmo daquelas com validade interna al- ta, é uma questão de julgamento pessoal, sobre a Todos os pacientes com a condição clínica de interesse VALIDADE INTERNA FIGURA 1.6 Validade interna e externa. Qual é a taxa de morte a longo prazo da anorexia nervosa, um transtorno alimentar que aflige prin- cipalmente mulheres jovens? Em uma síntese de 42 estudos, a mortalidade estimada foi de 15°/o em 30 anos (17). Esses estudos, como a maioria das pesqui- sas clínicas, foram realizados com pacientes identifi- cados em centros de referência, onde os casos relati- vamente graves são atendidos. Um estudo de todos os pacientes que desenvolveram anorexia em uma população definida forneceu uma visão diferente da doença. Os pesquisadores da Mayo Clinic consegui- ram detectar todos os pacientes que desenvolveram a doença em sua cidade, Rochester, no estado norte- •americano de Minnesota, de 1935 a 1989 (Figura 1.7) (18). A mortalidade por todas as causas em 30 anos foi de 7%, a metade do que havia sido relatado nos estudos. A mortalidade prevista em pessoas sem ano- rexia nervosa de mesma idade e sexo foi mais ou me- nos a mesma, 6°/o. Portanto, embora alguns pacientes de fato morram de anorexia nervosa, a maioria dos estudos publicados superestima muito o risco, presu- midamente porque relatam a experiência com casos mais graves. 42 estudos com Estudo com base base clínica populacional FIGURA 1.7 Viés de amostragem. Mortalidade em 30 anos por todas as causas em pacientes com ano- rexia nervosa. A comparação entre uma síntese de 42 estudos publicados, principalmente de centros de referência, e um estudo de todos os pacientes com anorexia na população. (Fonte: Sullivan PF. ''Mortality in anorexia nervosa". Am J Psychiatry. 1995; 152:1073-1074; e Korndorfer SR, Lucan AR, Suman VJ, et al. `'Long-term survival of patients wi- th anorexia nervosa: a population-based study in Ro- chester, Minn". Mayo Clinic Proc. 2003; 78: 278-284.) qual pessoas sensatas podem discordar. Frequen- temente surge um dilema quando os clínicos pre- cisam decidir sobre utilizar ou não os resultados de um estudo bem conduzido para definir a con- duta paTa um pacicnte mais vclho do que o grupo estudado, de um gênero diferente ou mais doen- te. Por exemplo, pode ser que um tratamento que fiincione bem em homens jovens e saudáveis fa- ça mais mal do que bem a mulheres mais velhas e mais doentes. A capacidade de generalização raramente po- de ser tratada de forma satisfatória em qualquer estudo. Até mesmo uma população definida com base geográfica é uma amostra enviesada de po- pulações maiores. Por exemplo, os pacientes hos- pitalizados são amostras enviesadas dos rcsidentes de uma cidade; cidades, de estados; estados, de re- giões e assim por diante. 0 melhor que o pesqui- sador pode fazer acem da capacidade de generali- zação é garantir a validade interna, atuar de forma que a população do estudo se enquadrc na questão da pesquisa, descrever os pacicntcs do estudo cui- dadosamente e evitar estudar pacientes que sejam tão incomuns que a experiência com eles possa ser generalizada somente para um número pequeno de pessoas. Cabe então a outros estudos, em outros ce- nários, ampliar a c2pacidade de gcneralização. lNFORIVIAÇÕES E DECISÕES As principais preocupações deste livro são a quali- dade das informações cli'nicas e a sua correta inter- %.etfç;::dídt:T::a±g:ciàõe::séõ:smd:::àod::uà: boas informações, mas elas cnvolvem muito mais, incluindo julgamentos de valor e o peso dos riscos e dos beneficios, que competem entre si. Nos últimos anos, a tomada de decisão médi- ca vem se tornando uma disciplina valorizada por mérito próprio. 0 campo inclui estudos qualitati- vos de como os clínicos tomam decisões e como o processo pode sofrer vieses e ser melhorado. Tam- bém inclui métodos quantitativos, como análise de decisão, de custo-benefi'cio e de custo-efetivi- dade, que colocam o processo de tomada de de- cisão de uma forma expli'cita, de modo que seus componentes e as consequências dc se atribuir vá- rias probabilidades e valores para eles possam ser examinados. Os pacientes e os clínicos tomam decisões clí- nicas. Na melhor das hipóteses, eles tomam deci- Capítulo l: Introdução 13 sões em conjunto, um processo denominado to- mada de decisão compartilhada, reconhecendo que a experiência de ambas as partes são complc- mentares. Os pacientes são especialistas no que eles esperam obter de seu cuidado médico, devido a suas experiências e preferências singulares. Eles podem ter descoberto muitas informações sobre a sua doença (por exemplo, pela internet), mas não estão certos dc como separaras alegações veri'di- cas das errôneas. Os médicos são especialistas em avalia.r a possibilidade de atingir os objetivos dos pacientes e em como fazê-lo. Para isso, eles de- pendem do corpo de evidências de pesquisa e da capacidade, com base nos princi'pios da epidemio- i:ÍÍs:lÉn:f=.dàf:s:isn:,:i:ca.sse,vaiáêbnéciastr£:zret:j:: ra. a consulta sua experiência de como a doença se apresenta e as consequências humanas do cuida- do, como a sensação de ser intubado ou de sofrer uma amputação, com as quais os pa.cientes po- dem estar pouco familiarizados. Para que os clíni- cos possam fazer sua parte nesse trabalho de equi- pe, eles precisam ser especialistas na interpretação das informações clinicamente relevantes. As preferências dos pacientes e as evidências científicas sólidas são a base para a escolha entre as opções de cuidado à saúde. Por exemplo, um pa- ciente que sofre de valvulopatia cardi'aca podc pre- ferir a possibilidade de uma vida saudável a lon- go prazo oferecida pela cirurgia, embora ela esteja associada com desconforto e risco de morte a cur- to prazo. 0 clínico, armado da leitura cri'tica e da habilidade comunicativa, pode ajudar o paciente a entender a magnitude dos potenciais riscos e be- nefi'cios e com que grau de certeza eles foram es- tabelecidos. Alguns aspectos da análise de decisão, como a avaliação dos testes diagnósticos, estão incluídos neste livro. Entretanto, decidimos não nos apro- fiindar na tomada dc decisão. Nossa justificativa é que as decisões são tão boas quanto as informações utilizadas para que sejam tomadas, e já encontra- mos conteúdo suficiente para ter o que fàlar sobre os elementos essenciais da coleta e interpretação de informações clínicas para encher um livro. A ORGANIZAÇÃO DESTE LIVRO Na maioria dos livros-tcxto sobre medicina cli'ni- ca, as infórmações sobre cada doença estão apre- sentadas como respostas às questõcs clínicas tra- 14 Epidemiologia clínica: elementos essenciais dicionais: diagnóstico, curso cli'nico, tratamento e assim por diante. Entretanto, a maioria dos livros sobre epidemiologia está organizada em torno das estratégias de pesquisa, como ensaios cli'nicos, in- quéritos, estudos de caso-controle, etc. Essa forma de organizar um livro pode ser boa para aqueles que realizam pesquisas cli'nicas, mas é, em muitos casos, pouco útil para os clínicos. Nós organizamos este livro principalmente de acordo com as questõcs com que os clínicos se de- param quando cuidam dos pacientes (veja a Tabe- la 1.1). A Figura 1.8 ilustra como essas questões correspondem aos capi'tulos do livro, tomando o vi'rus da imunodeficiência humana (HIV) como exemplo. As questões se relaciomm à história na- tural completa da doença, do momento em que Fatores de risco Sexo sem proteção Compartilharseringas lnfecção lnício da doença lnfecção primária Doença definidora da aids Sarcoma de Kaposi lnfecção por Pneumoc}5t/.5 lnfecção disseminada por Mycobacterium avium Tratamento Desfechos Morte Doente por causa da aids Bem Causa Risco Prevenção p. 208 p. 53, 66, 86 p.163 Frequência p.19 Anormalidade p. 34 Diagnóstico p.116 Prevenção p.163 g%Tratamento ¢ p. 140 Cb Prognóstico p.100 FIGURA 1.8 A organização deste livro em relação à história natural da infecção pelo vírus da imunodefi- ciência humana (HIV). Os Capítulos 11,13 e 14 descrevem temas transversais, que se relacionam a todos os pontos na história natural de uma doença. as pessoas sem o vírus são expostas ao risco, pas- sando por quando alguns adquirem a doença e se tornam pacientes, por meio das complicações da doença, doenças definidoras de aids, até a sobre- vida ou a mortc. Em cada capítulo, descrevemos estratégias de pesquisa utilizadas para responder às questões clí- Capítulo l: lntrodução 15 nicas do capítulo. Algumas estratégias, como cstu- dos de coorte, são úteis para responder a diversos tipos diferentes de questões clínicas. Por motivos didáticos, discutimos cada estratégia com mais detalhe em um capítulo e simplesmente nos re- ferimos à discussão quando o método é relevante para outras questões, em outros capítulos. As questões 1.1 a 1.6 baseiam-se no caso clínico a seguir. Uma mulher de 37 anos, sofrendo de dor lom- bar nas últimas quatro semanas, quer saber se vo- cê recomenda cirurgia. Você prefere embasar su- as recomendaçóes de tratamento em evidências de pesquisas, sempre que possível. No melhor estudo que você consegue encontrar, os pesquisadores re- visaram os registros médicos de 40 homens con- secutivos com dor lombar sob cuidados na clíni- ca. Destes, 22 foram encaminhados para cirurgia e outros 18 permaneceram sob cuidados médicos sem cirurgia. 0 estudo comparou as taxas de dor incapacitante após dois meses. Todos os pacien- tes tratados com cirurgia e dez dos que receberam tratamento médico continuaram consultando a clínica durante esse período. As taxas de alívio da dor foram levemente mais altas nos pacientes sub- metidos à cirurgia. Para cada uma das questões abaixo, escolha a resposta que mais bem representa a ameaça à validade. 1.1 Uma vez que existem relativamente pou- cos pacientes nesse estudo, ele pode passar uma impressão errônea do efeito real da ci- rur8ia. A. Viés de seleção 8. Viés de aferição C. Viés de confusáo D. Acaso E. Vdidade externa (capacidade de gene- ralizaçáo) i.2 0s resultados desse estudo podem náo se aplicar a seu paciente, uma mulher, porque todos os pacientes do cstudo eram homens. A. Viés de seleçáo 8. Viés dc aferiçáo C. Viés de confusão D. Acaso E. Vdidade externa (capacidade de gene- ralizaçáo) i.3 Menos pacientes que náo sofreram a cirur- gia permaneciam sob os cuidados da clíni- ca dois meses após a cirurgia. A. Viés de seleçáo 8. Viés dc aferiçáo C. Viés de confusão D. Acaso E. Vdidade extcrna (capacidade de gene- ralização) i.4 0s pacientes que foram indicados para ci- rurgia eram ma.is jovens e estavam em me- lhores condiçóes físicas do que aqueles que permaneceram sob cuidado médico. A. Viés de seleçáo 8. Viés de aferição C. Viés de confiisão D. Acaso E. Vdidade externa (capacidade de gene- ralizaçáo) i.5 Em comparação com os pacientes que tive- ram somente o tratamento médico, os que foramsubmetidosàcirurgiapodemteresta- do menos propensos a relatar qualquer dor que tenham sentido e os médicos responsá- veis menos inclinados a registrar o fato. A. Viés de seleçáo 8. Viés de aferição C. Viés de confiisáo D. Acaso E. Vdidade externa (capacidade de gene- ralizaçáo) i.6 0s pacientes que não apresentavam outras condições médicas tiveram maior probabi- 16 Epidemiologia clínica: elementos essenciais lidade de recuperação e de ser encaminha- dos para a cirurgia. A. Viés de seleçáo 8. Viés de aferiçáo C. Viés de confiisáo D. A"o E. Vdidade externa (capacidade de gene- ralização) Para as questões 1.7 a 1.11, selecione a melhor resposta. 1.7 A histamina é um mediador inflamatório em pacientes com rinite alérgica ("febre do feno") . Com base nesse fato, qual dos itens a seguir é verdadeiro? A. Os fármacos que bloqueiam os efeitos das histaminas aliviaráo os sintomas. 8. Uma queda nos níveis de histamina no nariz é um marcador confiável do su- cesso clínico. C. Os anti-histamínicos podem ser efe- tivos, e seus efeitos sobre os sinto- mas (como prurido no nariz, espirros e congestão) devem ser estudados em pacientes com rinite alérgica. D. Outros mediadores náo sáo importan- tes. E. Se os estudos de pesquisa básica sobre a doença forem convincentes, a pes- quisa clínica será desnecessária. 1.8 Qual das seguintcs afirmaçóes sobre amos- tras de populaçóes está incorreta? A. As amostras de populações podem ter características
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