Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
< DESCRIÇÃO O percurso da Arte contemporânea após a Segunda Guerra Mundial, sua expansão, seus desdobramentos e a descoberta de novos espaços. PROPÓSITO Apresentar o conceito de Arte contemporânea como ponto de partida para a compreensão dos movimentos artísticos que aconteceram após a Segunda Guerra Mundial. PREPARAÇÃO Para acompanhar sua trajetória pela Arte contemporânea, você deve conhecer as obras, e nada melhor que acessar virtualmente os principais museus da atualidade. No site do Solomon R. Guggenheim Museum and Foundation, New York, Estados Unidos, você consegue ver e estudar dezenas de obras! OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar as características da Arte contemporânea e os fatores que levaram ao seu surgimento a partir de 1946 MÓDULO 2 Distinguir os principais movimentos artísticos no período pós-Segunda Guerra para representar a expansão do campo da arte MÓDULO 3 Reconhecer as interseções que se tornaram possíveis mediante processos disruptivos que ocorreram no espaço da arte Going West , Jackson Pollock, 1934 a 1935. INTRODUÇÃO Você já parou para pensar que os historiadores da Arte contemporânea viveram os momentos em que registravam os movimentos da arte? Como disse Gombrich (1995), a proximidade em que estava de seu próprio tempo, enquanto escrevia sobe a história da arte, tornava para ele mais difícil distinguir o que era passageiro das realizações duradouras. Este, talvez, seja o conceito mais representativo da Arte contemporânea: o efêmero que se tornou duradouro; o inacabado e imperfeito que se tornou obra-prima. Existe certa subversão de conceitos para apresentar a arte que transcende o instante. Começa a imaginar? Um pouco confuso? Vontade de entender? Então você está pronto! Seja bem-vindo à Arte contemporânea! MÓDULO 1 Identificar as características da Arte contemporânea e os fatores que levaram ao seu surgimento a partir de 1946 ARTE CONTEMPORÂNEA Beethoven , de Andy Warhol, 1997. Marcada pela ressignificação de materiais e objetos, a Arte contemporânea expande os contornos antes rígidos da arte. Certamente, você poderá se deparar com uma estranheza, principalmente vinda do senso comum que reconhece na pintura, no desenho e na escultura, a arte autêntica. Michael Archer (2012) afirmou que de início, parece que, quanto mais olhamos, menos certeza podemos ter quanto àquilo que, afinal, permite que as obras sejam qualificadas como “arte”, pelo menos do ponto de vista tradicional. Qualquer material pode ser transformado em arte, dessa forma, ser “arte” não é mais privilégio de poucas obras. A partir de 1946, assistimos a um desfile de movimentos artísticos iniciados com a Op art , ainda no período da Segunda Grande Guerra. E a arte seguiu abrindo novos caminhos com as instalações, a Pop art , a Arte conceitual, a arte povera , o Minimalismo, entre outros. Double Mona Lisa , de Andy Warhol, 1963. Observamos as tecnologias emergentes ganharem terreno e prestígio dentro das artes. Presenciamos a ascensão da arte fotográfica, da videoarte, da arte computacional e da arte digital. A arte foi para as ruas com a arte urbana e as performances , invadiu territórios com a Land Art e fez do corpo uma tela, reconhecendo, na tatuagem, uma de suas formas de expressão. La-gitane-a-la-guitare , de Blek le Rat, 1990. Nesse contexto, muitas vezes, o artista se torna parte da obra, quando não é a própria obra. Perde-se o seu sentido utilitário, pragmático, é óbvio. Se para o senso comum, inicialmente, o reconhecimento da arte se torna complexo, com o passar das décadas, a arte ganha propósito, incorpora movimentos sociais e se torna também causa. Propomos um sobrevoo para que você possa compreender a riqueza dos movimentos da Arte contemporânea e a liberdade de expressão conquistada. CONCEITOS Até meados dos anos 1940, a arte era dotada de privilégios, mas para poucos iniciados! A ideia de que a arte poderia ser popular era, inclusive, mal vista; apreciada por cineastas, o espaço da aristocracia artística deveria ser preservado. Uma obra literária poderia até circular, mas sua essência é para clube de especialistas. As artes plásticas e afins, essas definitivamente não eram para o grande público. Ocupavam lugares específicos, admiradas por meio de uma aura. Criadas a partir de materiais próprios destinados à pintura e à escultura. O que você verá é que a Arte contemporânea vai na direção contrária. Isso porque ela rompeu com alguns aspectos da arte moderna; chegou a hora de reconstruir, mudar a forma de pensar e experimentar a arte. ATENÇÃO Contemporâneo é um adjetivo que faz referência ao que é do mesmo tempo, que viveu na mesma época. Designa quem ou o que partilha ou partilhou o mesmo tempo, o mesmo período. Seguindo a lógica do conceito, Arte contemporânea pertence ao tempo em que ela acontece. Caracterizada por representar o presente. Traz consigo todo o turbilhão que caracteriza o momento social, político, econômico, cultural de sua época. Wundermaschine - Méta-Kandinsky I , de Jean Tinguely, 1956. Imagine que no período do pós-guerra predominasse o sentimento de reconstrução da sociedade, das cidades e dos valores. A arte estabelece uma comunicação direta com o público ao trazer, para as obras, elementos retirados da cultura de massa e do cotidiano. Torna-se assim representativa da contemporaneidade, carregada de signos e símbolos. A Arte contemporânea representa a comunhão entre arte e vida, indo, por isso, em sentido contrário aos padrões do que seria arte. Os artistas buscam, a partir de então, inovar em materiais e processos, incorporando diferentes formas de se expressarem. Nesse período, observamos ainda o desenvolvimento tecnológico, com o surgimento de novas mídias; e os artistas, em busca do novo, apoiaram-se nessas tecnologias. Seus materiais estão por todos os lugares: madeira, metal, pedra, papel, tecido, tinta, e outros como ar, luz, som, pessoas, comida e o que se puder imaginar. O difícil passou a ser identificar o que é ou não é arte. Identificar o artista, que, muitas vezes, confunde-se com a própria obra. E se a Arte contemporânea está na linha tênue do que pode representar ou não arte, isso significa que todas as ideias anteriores caíram por terra. Babel , de Cildo Meireles, 2018. Inmensa , de Cildo Meireles, 1982/2002 (Reprodução alocada em Inhotin, Brumadinho da obra de 1982). O QUE VOCÊ COMPREENDE COMO ARTE CONTEMPORÂNEA? Big Campbell’s Soup Can 19c (Beef Noodle) , de Andy Warhol, 1962. A Arte contemporânea é de natureza subjetiva. A obra é valorizada pelo seu conceito, pela ideia que lhe deu origem e não pelo resultado apresentado. As obras contemporâneas não existem para serem simplesmente observadas; são peças para reflexão, interação, intervenção, ação. A CONTEMPORANEIDADE É UMA SINGULAR RELAÇÃO COM O PRÓPRIO TEMPO, QUE ADERE A ESTE E, SIMULTANEAMENTE, DELE TOMA DISTÂNCIAS [...]. AQUELES QUE COINCIDEM MUITO PLENAMENTE COM UMA ÉPOCA, QUE EM TODOS OS ASPECTOS A ESTA ADEREM PERFEITAMENTE, NÃO SÃO CONTEMPORÂNEOS PORQUE, EXATAMENTE POR ISSO, NÃO CONSEGUEM VÊ-LA [...]. (AGAMBEN, 2010) Por ser contemporânea, ela trata de questões presentes, vividas no momento em que acontecem. Não há distanciamento histórico, os acontecimentos em profusão não deixam que o artista se distancie do seu objeto. A Arte contemporânea se mistura ao seu próprio tempo e a todos os acontecimentos. Reflete os conflitos, as instabilidades, as incertezas e todo o espectro da realidade. Já pensou como é estar imerso nos diferentes aspectos de tudo o que acontece: questões existenciais, violência, sexualidade, consumo, informações em excesso... tudo o que diz respeito ao indivíduo e à sociedade? É isso que torna a Arte contemporânea intensa e visceral, representando todo esse emaranhado de razões e emoções. O QUE VOCÊ FARIA COM TANTA INFORMAÇÃO? Os artistas decidiram também criar em profusão. Eis por que vemos tantos artistas, com tantas linhas e tantospensamentos distintos, orientações artísticas diversas, cada um buscando, a seu modo, uma maneira de representar esse momento. Assim, vemos os artistas se dirigirem ao mundo e direcionarem a arte para a natureza, para as questões urbanas, para as tecnologias, para todas as nuances do mundo. Fazem surgir obras que exploram diferentes linguagens - pintura, escultura, teatro, dança, música, literatura - e muitas outras que fogem às convenções e classificações tradicionais. Broken Circle , de Robert Smithson, 1971. A Arte contemporânea cria suas representações artísticas e a própria definição de arte. Seus representantes são críticos, questionadores do mercado e do sistema que valida a arte. CARACTERÍSTICAS DA ARTE CONTEMPORÂNEA Você percebe como a Arte contemporânea representa um vulcão em erupção? Tudo bem, a imagem em si pode até ser um pouco exagerada! E o exagero é uma característica desse momento, no qual se vai do mínimo ao máximo. Toda essa diversidade está presente nas características da Arte contemporânea: Obras interativas Obras em processo Obras abertas Obras questionando a definição de arte Obras que se aproximam da cultura popular Abandono dos suportes tradicionais Uso de diferentes materiais para a produção das obras Uso das novas tecnologias e mídias Mistura de estilos artísticos Combinação de processos de produção Fusão entre arte e vida Liberdade e efemeridade artística Transitoriedade Liberdade de estilos Se você olhar o conjunto das obras que representam a Arte contemporânea, perceberá cada uma dessas características no todo. Outras poderão ser identificadas, afinal, Arte contemporânea é validada por meio de críticas, discussões, questionamentos e pelo olhar dos próprios artistas e seus pares. Contingent , de Eva Hesse, 1968. ARTISTA E MOVIMENTOS Antes de falarmos dos principais movimentos que integram a Arte contemporânea e como atravessam as décadas e se transformaram, apresentaremos pontualmente alguns representantes dessa linha histórica para que você possa olhar para a diversidade. LINHA HISTÓRICA Alguns artistas estiveram presentes em diferentes movimentos. Fazem parte das interseções que a Arte contemporânea proporciona: Expressionismo abstrato - Mark Rothko, Jackson Pollock Pintura figurativa europeia - Lucian Freud, Francis Bacon, Georg Baselitz Pop art - Andy Warhol, Roy Lichtenstein javascript:void(0) Arte fotográfica - Cindy Sherman, Robert Mapplethorpe Novo realismo - Pierre Restany, Yves Klein, Jean Tinguely Arte conceitual - Marcel Duchamp, Sol LeWitt, Piero Manzoni, Joseph Kosuth Instalações - Olafur Eliasson, Christo e Jeanne-Claude, Ed Kienholz Happennings - Alan Kaprow Arte performática - Grupo Fluxus, Marina Abramovic, Vito Acconci Arte povera - Mario Merz, Jannis Kounellis, Michelangelo Pistoletto Minimalismo - Carl Andre, Dan Flavin, Donald Judd, Frank Stella Op art - Victor Vasareli, Bridget Riley, Tadasky, Almir da Silva Mavignier Videoarte - Bill Viola, Nam June Paik, Mattew Barney, Shirin Neshat Land Art - Robert Smithson, Nancy Holt, Richard Serra, Hiper-realismo - Denis Peterson, Duane Hanson, Richard Estes Arte digital - Harold Cohen, Thomas Ruff, Jeff Wall, Christopher Bruno Arte urbana - Keith Haring, Jean-Michel Basquiat, Bansky Assista ao vídeo a seguir para conhecer mais sobre os artistas e seus movimentos. POR ONDE DEVEMOS COMEÇAR A FALAR DA ARTE CONTEMPORÂNEA? Fayga Ostrower (2004), ao ministrar o curso de artes para os operários de uma fábrica, escolheu começar trazendo o Dadaísmo. O movimento começou em 1916, teve adesão de artistas de todas as áreas - teatro, música, artes plásticas, literatura -, suas obras subverteram as formas tradicionais. O Dadaísmo criou a arte do absurdo, os artistas queriam chocar. E, para isso, substituíam materiais nobres por outros artesanais, trabalhavam processos demorados de criação das obras como as colagens realizadas na pintura. Revolucionário por reformular a linguagem da arte, a atitude dos artistas e os conceitos, o Dadaísmo foi, na fala de Ostrower (2004), um ponto de partida para várias tendências da arte no século XX. No Dadaísmo, encontramos a Roda de bicicleta (2013) de Marcel Duchamp (1887-1968), artista com presença marcante na Arte conceitual. E ainda manifestações inusitadas e, por vezes, grosseiras, dariam origem aos happenings e às performances . Porém, antes dos movimentos da Arte contemporânea ganharem corpo, teríamos mais uma guerra mundial por vários anos. javascript:void(0) Roda de bicicleta , de Marcel Duchamp, 1913. HAPPENINGS O happening é uma expressão das artes visuais que, de certa forma, apresenta características das artes cênicas. Nesse tipo de obra, quase sempre planejada, incorpora-se algum elemento de espontaneidade ou improvisação, que nunca se repete da mesma maneira a cada nova apresentação. Veremos outros movimentos fazerem parte do período de transição entre o Modernismo e a Arte contemporânea. Escutamos falar do Expressionismo abstrato pela primeira vez nos idos de 1920, em referência às pinturas de Wassily Kandinsky (1866-1944), seguido pouco depois por Kasimir Malevich (1878-1935). Outros representantes desse período, em que o abstrato aparece como elemento que encerra em si mesmo seu significado como expressão mística ou emocional, são Paul Klee (1879-1940), Piet Mondrian (1872-1944), Franz Kline (1910-1962) e Pierre Soulages. Mesmo que muitos dos artistas desse movimento tenham iniciado suas carreiras na década de 1930, eles representam os antecedentes do Expressionismo abstrato que presenciamos após 1946. Composition VI , de Wassily Kandinsky, 1913. Seu próximo passo é escolher alguns artistas e pesquisar sobre suas obras. O pioneirismo é uma das características presentes nos trabalhos dos artistas contemporâneos. Cada artista escolheu seu estilo, colocou sua marca em sua arte, tornando-os pioneiros no traçado, no suporte, no material, na leitura. Desvende um pouco desse contexto que levou a essa diversidade conhecendo a obra de alguns desses artistas. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 2 Distinguir os principais movimentos artísticos no período pós-Segunda Guerra para representar a expansão do campo da arte EXPRESSIONISMO ABSTRATO, ONDE A EXPRESSÃO E A EMOÇÃO HUMANA SUPERAM O RACIONALISMO Aparece no início da Segunda Guerra Mundial, como um dos primeiros movimentos da Arte contemporânea, sendo o seu auge logo após o término do confronto. O movimento é baseado em conceitos que expressam o inconsciente coletivo da sociedade. Conhecido por expressar emoção e subjetividade, coloca essas características ao comunicar verdades sobre a condição humana. O Expressionismo abstrato tem um forte caráter de vanguarda, carrega aspectos do Expressionismo alemão e de movimentos como a Arte abstrata, o Futurismo, o Cubismo e o Surrealismo. Ficou conhecido como Escola de Nova York, originou-se nos Estados Unidos e ganhou reconhecimento internacional em seu principal representante, Jackson Pollock. Blue (Moby Dick) , de Jackson Pollock, 1943. Jackson Pollock (1912-1956) utiliza a técnica da pintura em ação (action painting ) associada ao dripping (técnica criada por Marx Ernst (1871-1976)), que tem como base o respingo da tinta sobre a superfície da tela. As pinturas de Pollock são seu movimento, resultam do pingar, do arremessar, do deixar escorrer e do derramar tinta na tela esticada no chão. Ele retira a tela do cavalete, da parede e a estica no chão, em grandes dimensões, para que possa andar em volta da tela. Os trabalhos criados por Pollock são carregados de emoção e expressão gestual. Suas pinturas dependem dos movimentos do artista, de sua interação com a obra, da forma como, utilizando-se do pincel e de outros objetos, lança a tinta sobre a tela, revelando a espontaneidade da ação e não previsibilidade do resultado. Olhar uma foto de uma das telas de Pollock não dará a você a sensação da força e do movimento, pois falta aprofundidade. É na textura da obra que encontramos as idas e vindas do artista ao redor da tela, antes finalizá-la. Na imagem, percebemos a fluidez, a liberdade de expressão do artista em meio das linhas e dos pontos que compõem as suas obras. São obras que expressam a fundo as emoções do artista em uma ação subconsciente, próxima ao êxtase da própria criação. Reflection of the Big Dipper , de Jackson Pollock, 1947. Escolhemos trazer uma fala do próprio Pollock para dar uma ideia a você de como ele se sentia. QUANDO ESTOU NA PINTURA, NÃO TENHO CONSCIÊNCIA DO QUE ESTOU FAZENDO. SÓ VEJO O QUE FIZ DEPOIS DE UM PERÍODO DE “CONSCIENTIZAÇÃO”. NÃO TENHO MEDO DE FAZER MUDANÇAS, DESTRUIR A IMAGEM ETC., PORQUE A PINTURA TEM VIDA PRÓPRIA. É SÓ QUANDO PERCO CONTATO COM A PINTURA QUE O RESULTADO É RUIM. CASO CONTRÁRIO, HÁ PURA HARMONIA, UMA TROCA TRANQUILA, E A PINTURA FICA ÓTIMA. (POLLOCK, apud KARMEL; VARNEDOE, 1999) Mark Rothko (1903-1970), em seus quadros, usa faixas de pouco brilho, e sutis passagens de tons podem ser vistas como um retorno às origens, como a busca pelas forças elementares e emoções primárias. Verificamos a ausência de modelos, base do Abstracionismo. No Expressionismo abstrato, como veremos também em Willem de Kooning (1904-1997), não querem oferecer uma chave de leitura, a espontaneidade relacionada do trabalho artístico e o gesto expressivo do pintor não impedem a identificação das problemáticas subjacentes às obras produzidas. The Visit , de Willem de Kooning, 1967. As principais características do Expressionismo abstrato são: Expressividade e simbolismo Uso de formas geométricas básicas, linhas e cores Influência das vanguardas europeias (Surrealismo, Cubismo e Futurismo) Rompimento com a pintura tradicional Liberdade estilística, subjetivismo, improvisação e espontaneidade Influência da Psicanálise e do existencialismo Explora a pintura automática e o subconsciente E se pensarmos em como esses artistas se colocaram em seus processos de criação, a intensidade com que se despiram para deixar suas obras puras, acabaremos levados para a instauração da Arte efêmera. Contemporary Art Design Furniture Light Ball Bench Manfred Kielnhofer , de Manfred Kielnhofer, 2010. INTENÇÃO, EXPRESSÃO, AÇÃO, TRANSITORIEDADE COM FOCO NO PRESENTE Se é para ser, que seja agora! Nada é para sempre, a intensidade do momento é que fica. A Arte efêmera reúne: PERFORMANCE INSTALAÇÕES HAPPENINGS Por ser efêmera, prende-se ao instante, ao contrário da pintura e da escultura. Se o mundo estava em transição e nada parecia ter um lugar certo ou definitivo, a Arte efêmera é experimentação, arte como experiência. Importa a duração da experiência, o processo e seu progresso e não a garantia de durabilidade e permanência da obra, diferentemente das expressões tradicionais da arte, das quais nos acostumamos a ver o objeto acabado, seja um quadro ou uma escultura em si. Quando falamos de efêmera, entendemos a arte em processo, proposta pelo artista, vendo-a como obra aberta, como um campo de possiblidades, como reflexão e ação. Os movimentos da Arte efêmera criticam a necessidade do objeto acabado como resultado, o que fica são registros, fotografia, vídeo ou áudio, não a obra. The London Mastaba , Serpentine Lake, Hyde Park, de Christo and Jeanne-Claude, 2016 a 2018. O público é, muitas vezes, parte da obra, é quem faz a obra acontecer, quem dá sentido ao processo, quem contribui na criação e no processo apresentado. O público deixa de ser observador passivo e ganha lugar com sua participação ativa. A obra torna-se um espaço de interação, passando a existir em virtude dessas interações. Assistimos à saída da arte dos espaços institucionalizados, das galerias e dos museus, e a vimos expandir-se. A arte ganha todos os lugares, não importa o espaço, público ou privado, incluindo o corpo do artista e do público. As principais características da Arte efêmera são: Foco no processo de criação e execução Uso de diferentes espaços Utilização de diferentes materiais e mídias Público participante Rompimento com a obra acabada, com o objeto final Transitoriedade, efemeridade Obra referenciada pelo registro do processo HAPPENING , EVENTO TRANSFORMADO EM ARTE Imagine receber o convite para participar de uma virada cultural, ou de um encontro de artistas pelos corredores da universidade, ou em uma praça pública. O QUE VOCÊ FARIA AO SER CONVOCADO A EMPILHAR BLOCOS DE GELO, SIMPLESMENTE PARA DEPOIS ABANDONÁ-LOS A FIM DE QUE POSSAM DERRETER? Esse foi o convite que vários voluntários receberam de Allan Kaprow em outubro de 1967. Em diferentes lugares públicos da Califórnia, Fluids ganhou materialidade, estruturas com cerca de 9m de comprimento, 3m de largura e 2,4m de altura, usando blocos de gelo como material. Após construídas, as estruturas de gelo foram deixadas para derreter. Fluids , de Allan Kaprow, 1967. Essa é a cara do happening . Um acontecimento com tudo junto e misturado, em uma tarde ou uma noite, montado em um chamado de ocupação coletiva e temporária, transformando o espaço, em local de artes. SAIBA MAIS Allan Kaprow (1927-2006) é o pai do happening . O termo designa a combinação de artes visuais, música, dança e teatro sui generis , sem texto nem representação. Eventos que reúnem diferentes artistas que trabalham materiais diversos, reunidos com um propósito comum ou um tema base, aberto à participação do público. O público se coloca em cena. São eventos sem formato definido, sem começo, meio e fim. O happening ocorre em tempo real, em contextos variados como ruas, espaços vazios, galerias de lojas, corredores e outros. Livre de convenções artísticas, sem certo ou errado, conduzido por improvisações. Não há separação entre o público e o evento. O happening é criado na ação de artistas e público geral. Não tem por objetivo ser reproduzido, aproxima-se da vida real e de suas rotinas. Allan Kaprow realizou mais de uma centena de happenings catalogados, tais como Garage environment e An apple shrine (1960), e Chicken (1962). Por ser a Arte contemporânea um caldeirão de movimentos, eles se atravessam e contaminam mutuamente. Aqui, veremos a influência do trabalho experimental do músico John Cage (1912- 1992), assim como do action painting de Jackson Pollock, amparados na arte como experiência do filósofo John Dewey (1859-1952). PERFORMANCE, ENCENAÇÃO, IMPROVISO, ENSAIO, TESTANDO OS LIMITES DA ARTE VOCÊ JÁ TEVE OPORTUNIDADE DE IR A ALGUMA GALERIA DE ARTE OU A UM MUSEU? E SE AO CHEGAR LÁ, PARA ENTRAR, VOCÊ TIVESSE QUE ATRAVESSAR UMA PORTA ESTREITA ONDE UM CASAL NU ESTIVESSE POSICIONADO COMO SENDO PARTE DESSA PORTA? DETALHE, VOCÊ SÓ CONSEGUIRIA ENTRAR COLOCANDO SEU CORPO EM CONTATO COM O DELES! Foi em 1977 que Marina Abramovic e Ulay (1943-2020) executaram Imponderabilia , ao se posicionarem nus na entrada do museu, em uma passagem estreita; dessa forma, os visitantes, para transitarem pela passagem, precisavam enfrentar os corpos do casal. Essa é talvez a performance mais famosa dessa parceria que durou 12 anos. The House with the Ocean View , de Marina Abramovic, 2002. A performance dialoga com o happening , sendo que este último necessariamente tem o público como participante ativo, enquanto na primeira não há interação, sendo um ato envolvendo apenas o performer . Ao combinar elementos do teatro, da dança, das artes visuais, da literatura e da música, a performance rompe com enquadramentos sociais e artísticos, criando experiências, muitas vezes, contaminadas por questões cotidianas. Com presença marcante no cenário artístico a partir de 1960, a performance se insere em um contexto de irrompimentos carregado de movimentos derivados do Surrealismo e do Dadaísmo, em meio à arte pop , ao Minimalismo e à Arte conceitual. Ou seja, a performance se equilibra entre arte e não arte. SAIBA MAIS Um dos grandes representantes do movimento é o Grupo Fluxus, a começar pelasintervenções de Georges Maciunas (1931-1978), entre 1961 e 1963. Formado por artistas de diferentes países, com diferentes formações e atuações, tais como Ben Vautier (França); Robert Watts (1923-1988, EUA), Yoko Ono (Japão); Shigeko Kubota (Japão); Joseph Beuys (1912-1986, Alemanha), Nam June Paik (1932-2006, Coreia do Sul) entre tantos outros. O Grupo Fluxus marcou o momento das experimentações. Arte de Marina Abramovic. A performance não segue padrões. Veremos trabalhos diferentes, carregados de enfrentamentos, questionamentos, ou mesmo contradição. São cheias de experimentações, no espaço, no tempo, ressaltando a individualidade do artista ou o grupo coeso ou até caótico, não importa. Trabalhos descritos como performances dificultam a delimitação de contornos dessa arte por lidarem com extremos. Encontramos em performance as intervenções de um grupo de Viena, o Actionismus, que reúne Rudolf Schwarzkogler (1941-1969), Günther Brüs, Herman Nitsch e outros. As esculturas vivas e fotografias dos anglo-saxões, Gilbert e George (Gilbert Proesch e George Passmore). Os trabalhos de Bruce Nauman que conversam com a body art . Ou performances de Vito Acconci (1940-2017) como Trappings (1971), onde o artista veste o seu pênis com roupas de bonecas, por horas, enquanto “conversa” com ele. No Brasil, o pioneirismo nas performances a partir dos anos de 1950 é atribuído a Flávio de Carvalho (1899-1973) ao desfilar seu New look (Experiência nº 3) nas ruas de São Paulo em 1956. E podemos trazer ainda o exemplo dos irreverentes parangolés, de Hélio Oiticica (1937- 1980), resultante de suas experiências na Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira, no Rio de Janeiro, na década de 1960. Assista ao vídeo a seguir para conhecer mais dessa relação da Arte contemporânea e o carnaval. Vamos partir dos parangolés, e daí para outras como a própria rosa e carros ícones. Som de surdo 1. INSTALAÇÕES - IMERSIVAS, INTERATIVAS, COLABORATIVAS, COMPOSIÇÕES O termo “instalação” é incorporado, nos anos 1960, às artes visuais, designando assemblage ou “ambiente construído em espaços de galerias e museus”. O termo assemblage representa uma junção da pintura com a escultura, ao trazer para a tela diferentes materiais como papéis, tecidos, madeira, metais colados e amontoados. Foi usado pela primeira vez em referência ao trabalho de Jean Dubuffet para a exposição The art of assemblage , no Museu de Arte Moderna (MOMA), de Nova York, em 1961. 18 Happenings in 6 Parts , de Allan Kaprow, 1968. SAIBA MAIS Allan Kaprow usou o termo "ambientação" (environment ), em 1958, para descrever os espaços interiores transformados por ele. Depois, adotou termos como "arte projeto" e "arte temporária” para designar esses mesmos espaços. E, somente mais tarde, esses espaços modificados passaram a ser chamados de instalação. O que é próprio da instalação é a modificação, a transformação do espaço, sendo o local ocupado pela instalação tomado como parte integrante da obra. E como era de se esperar, desde o início das montagens das instalações, assim como observamos com os happenings e com as performances , seus contornos não foram bem definidos. Podemos dizer que instalações tiveram origem com os trabalhos intitulados Merz (1919), de Kurt Schwitters (1887-1948) e obras de Marcel Duchamp (1887-1968), sobretudo duas que ele cria para exposições realizadas em Nova York, em 1938 (em que o artista coloca sacos de carvão no teto e força a mudança de perspectiva de observação); e em 1942 (Milhas de barbantes , em que o artista atravessa “milhas” de barbantes pelo espaço do museu). Observamos que a instalação cria novos contextos a partir da modificação dos espaços. A apreensão da obra depende do envolvimento do público com o espaço da montagem, sendo que, em alguns casos, a obra somente acontece a partir da intervenção e da participação desse público, como nas instalações interativas. Existe, com isso, o deslocamento do processo de contemplação para o processo de imersão, por inserir a instalação em um contexto espaço-temporal próprio e único, envolvendo o espectador, a quem é aberta a possibilidade de imersão/interação. The Lego Project , de Olafur Eliasson, 2019. As instalações podem ser temporárias ou permanentes, construídas em espaços de exposições, tais como museus e galerias, bem como os espaços públicos e privados. Por serem espaços modificados, não são peças de arte colecionáveis. Afinal, muitas instalações são projetadas para existir apenas no espaço para o qual foram criadas. São obras híbridas, por incorporarem uma ampla gama de objetos do cotidiano e de materiais naturais com o intuito de envolver, despertar o interesse e a curiosidade, causar estranhamento. Desvio para o vermelho , de Cildo Meireles. Impossível deixar de pensar no impacto causado ao entrarmos em Desvio para o vermelho , no museu Inhotim-MG. A obra do brasileiro Cildo Meireles foi montada, pela primeira vez, em 1967, retratando sentimentos, como a paixão, a revolta e a violência, relacionados à ditadura militar. Você imediatamente se vê cercado de vermelho! Em cada um dos três ambientes tudo é vermelho; o primeiro é uma sala na qual todos os objetos são vermelhos, criando estranhamento. Não necessariamente as instalações são construídas como ambientes cenográficos, em espaços geralmente fechados, possuindo diversas formas de expressão artística que, em conjunto, buscam estimular os sentidos humanos; objetiva-se, assim, envolver o visitante da exposição. O conceito é amplo. Atualmente, consideramos a utilização de recursos tecnológicos e mídias digitais como vídeo, som, realidade virtual e aumentada, internet, dispositivos não convencionais de interação, podendo serem combinados a performances . Desde então, muitos artistas vieram descobrindo maneiras de reinventar o espaço e envolver o público nas instalações. Para citar alguns: Waterfall , de Olafur Eliasson, 2016. Olafur Eliasson (1967), artista dinamarquês-islandês, cria suas instalações empregando materiais elementares, tais como luz, água e temperatura do ar para melhorar a experiência do espectador. The Floating Piers , de Christo and Jeanne-Claude, 2016. Christo (1935-2020) e Jeanne-Claude (1935-2009) foram um casal de artistas conhecidos mundialmente por suas instalações, viveram juntos por 51 anos. A partir de 1994, o casal passou a usar oficialmente os dois nomes juntos, com direitos iguais para as suas obras. Cloud Gate/The bean , de Anish Kapoor, 2004. Anish Kapoor, artista indiano-britânico, traz para suas obras a simplicidade das curvas monocromáticas. NO FINAL, O QUE IMPORTA É O CONCEITO Podemos considerar que tudo isso começou com Marcel Duchamp com os ready-mades , desmistificando a obra de arte e a figura do artista, transformando objetos industriais em arte. Quando apresentou a Roda de bicicleta (1913) e a Fonte (1917), o artista queria que o observador identificasse a singularidade da obra de arte. O simples designá-los como obras de arte já os tornava arte? A Arte conceitual está no centro da Arte contemporânea. Praticamente, todos os movimentos e todas as expressões da arte a que se refere a Arte contemporânea atravessam a Arte conceitual. Ela está além das formas, dos materiais ou das técnicas. Observamos o predomínio das ideias, a transitoriedade dos meios, a precariedade dos materiais. One and Three Chairs , de Joseph Kosuth, 1965. SAIBA MAIS O termo “Arte conceitual” foi utilizado pela primeira vez, em 1961, por Henry Flynt, artista, escritor e filósofo estadunidense, ao referir-se às atividades do Grupo Fluxus. Cristina Freire (2006) afirma que a Arte conceitual opera uma análise crítica das condições sociais e epistemológicas da prática visual ao revelar a dinâmica dos circuitos ideológicos e institucionais de legitimação da arte. Em outras palavras, a Arte conceitual questiona a própria arte em seus aspectos. Pedra de roseta , de Joseph Kosuth,em Figeac, França, local de nascimento de Jean- François - primeiro estudioso a decifrar hieróglifos. A ideia ou o conceito é o aspecto mais importante. Tudo é pensado e projetado antecipadamente pelo artista, enquanto a execução da obra acaba, por ser algo mecânico. Aliás, a execução nem precisa ser feita pelo próprio artista. Interessante você pensar que é a ideia originalmente concebida pelo artista que valida a obra, como obra. Ou ainda, a apreensão e interpretação dada pelo observador valida conceitualmente a produção. VOCÊ ENTENDEU A PROPOSTA DE KOSUTH? É DE FÁCIL COMPREENSÃO PARA VOCÊ? FICA CLARO E EVIDENTE POR QUE SE TRATA DE ARTE CONCEITUAL? Certamente que não! Afinal, esse é exatamente o maior problema da Arte conceitual. Fazer com que o observador entenda a intenção do artista, a ideia e o conceito que antecedem e resultam na obra em si. É quando esbarramos em Sol LeWitt (1928-2007). Para ele, a ideia da obra em si não é suficiente, visto que ela só está manifesta depois da obra acabada. Esse pensamento contamina a racionalidade com que é vista a Arte conceitual, tornando-a também intuitiva. Tudo bem que LeWitt era superliteral nos nomes que dava para suas obras como Quatro tipos básicos de linhas retas e suas combinações (1969); à primeira vista remete mais provavelmente a uma equação matemática ou a um desenho geométrico do que a uma obra, resultado de processos criativos. Ao mesmo tempo que existe uma racionalidade explícita, ficamos reféns do subjetivismo das obras conceituais. As principais caraterísticas da Arte conceitual são: Crítica ao materialismo e ao consumo Crítica às instituições ligadas ao mercado da arte Rompimento com a arte formal clássica Popularização da arte Retirada da importância da execução da obra Arte como ideia Ruptura com a arte clássica e formal Uso de diferentes mídias (fotografias, textos, vídeos) Incorporação de outros movimentos e expressões da Arte contemporânea, tais como instalações e performances . A Arte conceitual nos leva ao campo das ideias onde as obras são criadas. Sua execução é processo e objeto acabado, e perde a importância diante do que foi pensado para a obra. Se a execução se vê esvaziada, os registros ganham também status de arte. Ao considerarmos as obras transitórias, efêmeras e que duram o tempo do evento em si, considerar a validação da obra pelos registros torna-se essencial. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 3 Reconhecer as interseções que se tornaram possíveis mediante processos disruptivos que ocorreram no espaço da arte DE PORTAS ABERTAS PARA A ARTE Desde a Segunda Guerra Mundial, assistimos a um desfilar de movimentos sociais, de mudanças econômicas e políticas; vimos a globalização promover aproximações inimagináveis; presenciamos a arte e a cultura saírem das galerias e dos museus e entrarem na era da reprodutibilidade técnica, nas palavras de Walter Benjamin (1892-1940). A humanidade tornou-se campo fértil para o desenvolvimento de movimentos disruptivos, na contramão das tradições, reinventando espaços, colocando a arte definitivamente no campo das experimentações. WALTER BENJAMIN (1892-1940) Foi um ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo judeu alemão; associado à Escola de Frankfurt e à Teoria Crítica. Fonte: Wikipédia A ordem é não ter ordem, regras predefinidas, é quebrar paradigmas, deixar de lado convenções, “seguir o fluxo”. Os artistas, cada vez mais ecléticos em suas criações, passaram a tirar inspiração do agora, no “olho do furacão”, na vida e nos espaços disponíveis, sejam abertos, fechados, em composições urbanas, em meio à natureza, em virtualizações imersivas, em realidade aumentada, impressos no corpo do próprio artista e do público, ou em seus javascript:void(0) espaços mais íntimos. Um prato cheio para filósofos e teóricos que estudam a beleza, a estética e as poéticas da criação. Neon , de Michelangelo Pistoletto, 2015. Daqui a pouco, a Arte contemporânea completa um século, tão contemporânea quanto foi em seus primórdios: reinventando tendências, absorvendo influências, sendo crítica, questionadora, rebelde, expressão criativa dos processos. São os mistérios da Arte contemporânea que fascinam! Aquilo que não somos capazes de discernir literalmente, não compreendemos. E o que não compreendemos, causa estranhamento, reflexão, rejeição e mesmo paixão. Muitos dos movimentos que surgiram, no mesmo caldeirão que a Arte conceitual, têm a prerrogativa de causarem incômodo, desconforto e incompreensão. Convidamos você a reconhecer algumas dessas interseções presentes na Arte contemporânea. Movimentos que apresentam características bem definidas, permitindo-lhes existirem de forma individualizada e que, no entanto, trazem elementos comuns desse período controverso e instigante da arte. Assista ao vídeo a seguir para conhecer mais sobre os movimentos de Pop art , Op art e Minimalismo. NEM TUDO QUE VEMOS É O QUE PARECE SER. OP ART Optical art (arte ótica) ou, simplesmente, Op art surgiu na década de 1960, nos Estados Unidos, trazendo para as obras a precisão matemática nas linhas e formas abstratas, geralmente colocando em contraste o preto e branco. Apesar do rigor com que cada obra é construída, a Op art cria a ilusão de movimento, simbolizando a instabilidade do mundo que está em constante mudança. As imagens brincam com os processos de percepção visual ao adotarem uma abordagem científica, empregando habilidades técnicas e matemáticas. Essa é a forma encontrada pelos artistas da Op art para criticar a indústria e os avanços tecnológicos. Circa , selo de correios desenvolvido por Josef Albers, 1980. Vonal Stri , de Victor Vasarely, 1975. A expressão optical art foi usada pela primeira vez em outubro de 1964 pela Revista Time. Porém, foi com a exposição The responsive eye (1965, MoMA, NY) que a expressão ficou conhecida. O movimento artístico ganhou popularidade em comerciais e foi parar nas mãos de estilistas e de artistas gráficos. Posteriormente, toda arte que causasse efeitos psicofisiológicos, em função do uso de perspectiva reversível, interferência de uma linha, vibração cromática ou contraste de cores causando ilusão e efeitos ópticos passaria a ser chamada de Op art . Considerado o pai da Op art , Victor Vasarely (1908-1997), influenciado pela arte cinética, construtivista e abstrata e pela Bauhaus, cria, nos anos 1930, trabalhos compostos por listas diagonais em preto e branco, curvadas de tal modo que dão a impressão tridimensional de uma zebra sentada - Zebra (1938). Antes dessa data, porém, encontramos trabalhos de Piet Mondrian (1872-1944) identificados como Op art (Composição em linhas , 1917). Artes de Victor Vasarely. Bridget Riley é a mais conhecida dos artistas da Op art , e certamente a mais emblemática. Inspirada por Vasarely, apresentou construções geométricas e combinações de cores calculadas para provocar essa sensação de movimento e instabilidade. Sua primeira exposição individual foi em 1962, na Gallery One, EUA. Desenvolveu um método próprio para criar suas pinturas, elaborando as imagens de forma intuitiva em papel quadriculado. Regra geral, eram seus assistentes que executavam suas obras. O processo produtivo, defendido na Arte conceitual, faz-se presente, ou seja, é a combinação de conteúdos, as escolhas e a concepção da imagem que tornam Riley autora. Movement in Squares , de Bridget Riley, 1961. Outros artistas merecem destaque no movimento: Homage to the Square , 1976, de Josef Albers (1888-1976). A12 , de Tadasky (1935), 1962. Formas , de Almir da Silva Mavigner (1935-). Concreção 9202 , de Luiz Sacilotto (1924-2003), 1992 - principal representante da Op art e da arte concreta no Brasil. São características do movimento: Formas geométricas e linhas Abstração Tridimensionalidade Efeitos óticos e visuais Movimento aparente Contraste de cores Tons vibrantes, especialmente preto e branco Observadorparticipante QUER DIZER QUE TODA ILUSÃO DE ÓTICA É OP ART? Certamente não, mas toda obra estática e bidimensional, abstrata, que usa em sua estética recursos que confundem a visão por meio de contraste e combinação de linhas, dando a impressão de que a imagem está em movimento é Op art . Praticamente, no mesmo período, veremos nascer a Pop art . Se a Op art critica a sociedade da época a partir da adoção de princípios científicos e matemática, para a criação dos trabalhos artísticos a Pop arte lança sua crítica por meio da utilização de objetos e imagens símbolos do consumismo. POP ART LANÇA CRÍTICA ABERTA AO CONSUMISMO Ao considerarmos as origens da Pop art , fica fácil estabelecer sua relação com o consumo. Para reconstruir a economia, nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, era preciso incentivar e popularizar o consumo. Ao aproveitar uma brecha, deixada pela arte aplicada e a arte comercial, a Pop art preenche um lugar de fácil compreensão para os leigos. Vem para confrontar toda essa ideologia dos padrões de consumo instituídos pelas mídias. Com um toque de ironia, critica a sociedade cultural por meio da crítica aos objetos de consumo, aqueles mesmos usados no cotidiano da população. Por isso, falamos do movimento como uma forma irônica de tratar a massificação de gostos e costumes dados pelas mídias de massa, além de fazer uma clara oposição ao Expressionismo abstrato, movimento que marca o início da Arte contemporânea. Diamond Dust Shoes , de Andy Warhol, 1980. SAIBA MAIS O termo Pop art foi utilizado pela primeira vez em 1954, pelo crítico inglês Lawrence Alloway (1926-1990), para chamar de arte popular as criações em publicidade, no desenho industrial, nos cartazes e nas revistas ilustradas. Lawrence Alloway é considerado um dos precursores do movimento e, como fundador do Independent Group, reuniu um grupo de artistas independentes composto por pintores, escritores, escultores e críticos, que desafiou as bases do Expressionismo abstrato. Sendo a Inglaterra o berço da Pop art , em meados da década de 1950, foi nos Estados Unidos que o movimento ganhou destaque, no início dos anos 1960, especialmente em Nova York. In the car , de Roy Lichtenstein, 1963. Óleo sobre tela (172x 203,5cm), Scottish National Gallery of Modern Art, Edinburgh, Escócia, UK. É aqui que um quadrinho de história vira pintura, que o semblante de um ícone pop , repetido várias vezes, ganha status de arte, ou que um elemento inflável pode ser chamado de escultura. A Pop art tem referência na fotografia, nos quadrinhos, na publicidade, na televisão e no cinema. Até aquele momento, não havia sido considerado fazer de peças, que mais carregavam caráter publicitário, arte, como as sopas Campbell ou as garrafas de Coca-Cola de Andy Warhol (1927- 1987). A irreverência de Warhol fez dele o pai da Pop art ; revolucionou o movimento ao utilizar a serigrafia (silk screen ) como técnica para reproduzir mensagens repetidas e expressar sua crítica ao consumismo, à impessoalidade e à despersonalização das figuras públicas, à massificação e à mecanização da sociedade. Ele era uma daquelas figuras cuja imagem já era emblemática; ao mesmo tempo em que despia os objetos de significado, esvaziava as pessoas de sua celebridade; ele se revestia como um ícone da própria cultura pop . Self-Portrait , de Andy Warhol. Ingrid Bergman (como ela mesma) , de Andy Warhol, 1983. Mais uma vez surge a pergunta: O QUE MERECE SER CHAMADO DE ARTE? A Pop art se aproxima da população que não tinha acesso a galerias e museus, estando à margem da aura que cercava a arte. Tudo bem que essa aura já não era tão maculada quanto antes da Segunda Guerra Mundial. Só que, agora, as formas tradicionais de arte foram convertidas a impressões e colagens de elementos incompatíveis dentro de uma estética formal. SE A TELEVISÃO E O CINEMA DITAVAM OS GOSTOS E COSTUMES, POR QUE NÃO REFERENCIÁ-LOS? Para gerar modismos que aproximaram do gosto das massas ou que pelo menos criavam ponto entre elementos que eles reconheciam à primeira vista. Sem segundas intenções, uma lata de sopa é uma lata de sopa! São as principais características da Pop art : Linguagem figurativa e realista Temática urbana das grandes cidades, de seus aspectos sociais e culturais Representação de caráter inexpressivo, preferencialmente frontal e repetitiva Ausência de planejamento crítico Combinação da pintura com colagens de objetos Formas e figuras em escala natural e ampliada Uso de materiais inspirados na indústria e nos objetos de consumo Reprodução exagerada de objetos do cotidiano O reconhecimento de Andy Warhol é dado pela sua produção e forma como esvazia de significado os objetos e as pessoas que representa, mas também por ter produzido discos, filmes outros artistas e até uma revista. Ou seja, ele se fez presente no cenário cultural e social da época. Outros artistas também se destacaram: Jasper Johns e Robert Rauschenberg foram os pioneiros da American Pop art . Rauschenberg ficou conhecido pelas pinturas “combinadas” (introduz o conceito combine painting ) com objetos de consumo e pelas colagens contaminadas com grossas pinceladas de tinta. Enquanto Johns foi, inicialmente, conhecido pelo modo como tratava suas telas, diluindo a tinta em cera quente (técnica encáustica), passando a inserir objetos reais aos seus quadros, sendo o único a trazer mapas e bandeiras para seus quadros. Já Roy Lichtenstein (1923-1997) ganhou destaque com as histórias em quadrinhos como tema artístico. Em seus quadros a óleo e tinta acrílica, trouxe quadrinhos de HQ e de anúncios comerciais, realizando uma reprodução fiel em pintura dos procedimentos gráficos. O aspecto visual chama atenção em suas obras, cores brilhantes, planas e limitadas; usou do pontilismo para realçar o aspecto gráfico e delineou as imagens. Com isso, buscou fazer uma reflexão sobre as diferentes linguagens artísticas e formas de expressão. Ao serem retirados dos contextos das histórias, os quadros se tornam uma crítica aos símbolos do mundo contemporâneo e às suas referências. O resultado é a combinação de arte comercial e abstração. Se a Arte conceitual torna representativa a ideia da construção da obra e a definição dos processos como mais importante que a própria obra, veremos, na Pop art , um esvaziamento de conceitos, trazendo as peças da cultura pop como objetos de consumo. Sem questionamentos, a escolha pela escolha. Nosso próximo passo nos leva a pensar e a fazer o máximo com o mínimo, o esvaziamento de emoção, o significado das obras. Modern Art I , de Roy Lichtenstein, 1996. DO TUDO AO NADA Em meio à efervescência de movimentos artísticos que aconteceram, em Nova York, entre fins dos anos 1950 e início dos 1960, nasce o Minimalismo. Imagine que temos o Expressionismo abstrato com Jackson Pollock e Willem de Kooning; os movimentos de contracultura regados às experimentações da arte pop com Andy Warhol; sem falar nas performances do Grupo Fluxus. E as instalações, que, nesse momento, ainda nem eram chamadas e reconhecidas como tal. Mas, já ali, uma presença de valorização da interação da arte marcar de formas diversas - na experiência individual, ao invés do grande movimento, o menor, o mais específico -, e assim proposições, como a do Minimalismo, fazem sucesso. O Minimalismo engloba movimentos que dão preferência à utilização mínima de recursos e elementos, a obra é reduzida ao seu essencial. A expressão “Minimalismo” (do inglês, Minimal art ) faz referência aos movimentos que influenciaram artes visuais, arquitetura, design, música, desenho industrial e programação visual. O termo apareceu, em 1965, em um ensaio escrito pelo filósofo e crítico de arte Richard Arthur Wollheim (1923-2003). Untitled , Dan Flavin, 1969. Se o objetivo do artista é reduzir ao mínimo os elementos para chegar ao ideal, o Minimalismo refere-se a uma expressão da Arte abstrata. Nele, encontraremos elementosde outros movimentos artísticos abstratos: o suprematismo, o construtivismo, o De Stijl e o Concretismo. E, mesmo que o Minimalismo tenha raízes, lá no suprematismo russo, nesse momento, o foco é trazê-lo para o centro da Pop art , que empurra para que haja um esvaziamento de todos os excessos, descartando as futilidades em busca da essência. O Minimalismo está representado de maneira abstrata crua, despida de significado e revela sua composição material, suas cores, sua disposição de formas. Os trabalhos de arte são simplesmente objetos materiais, não carregam ideias, conceitos nem emoções. Traz consigo uma proposta de despojamento, simplicidade e neutralidade e, para apresentar a subtração que a obra em si representa, utilizam materiais como vidro, aço, acrílico, madeira, lâmpadas, entre outros em uma combinação de formas e cores. Untitled , Dan Flavin, 1981. As obras minimalistas, regra geral, esculturas, ocupam e se destacam no espaço sem dependerem de um observador para completar a obra. E, mesmo aquelas que possibilitam a interação, não têm a interação como uma necessidade para que existam como obra. As obras transformam o ambiente em que se inserem, tanto no rearranjo de estruturas como na composição de luzes - lâmpadas fluorescentes, como no caso de Dan Flavin (1933-1996). Entre os principais artistas do Minimalismo, encontramos: Sol LeWitt (1928-2007), Frank Stella (1936), Donald Judd (1928-1994), Dan Flavin (1933-1996), Carl Andre e Robert Smithson (1928-1994). De todos os artistas minimalistas, Carl Andre foi o que se manteve mais próximo dos parâmetros declarados do movimento. Sobre sua obra, ele diz: MINHA OBRA É ESTÉTICA, MATERIALISTA E COMUNISTA. É ESTÉTICA PORQUE NÃO POSSUI FORMA TRANSCENDENTE, NEM QUALIDADES INTELECTUAIS OU ESPIRITUAIS. MATERIALISTA PORQUE É FEITA COM SEUS PRÓPRIOS MATERIAIS, SEM PRETENSÃO DE EMPREGAR OUTROS. E É COMUNISTA PORQUE SUA FORMA É ACESSÍVEL A TODOS OS HOMENS. (ANDRE apud STEPHEN, 2010) São as principais características do Minimalismo: Poucos elementos para fundamentar suas obras Poucas cores Formas geométricas simples, puras, simétricas e repetitivas Redução na quantidade de objetos Reprodução de objetos em série Ausência de emoção Estruturas bi ou tridimensionais Caráter geométrico ARTE CONTEMPORÂNEA, UMA REFLEXÃO Trazer um conceito único para o caldeirão de movimentos que é a Arte contemporânea, pode levar-nos a cometer um erro. É fato que acharemos diversas formas de expressar os excessos, assim como encontraremos movimentos que se esvaziaram de todos os possíveis significados para mostrar que apenas são o que são. Lembre-se de que é um momento no qual foram abertas as possibilidades de se expor, de criticar tudo e todos os aspectos possíveis da sociedade, da política, da economia, da cultura e da própria vida. Razão pela qual muitos dos movimentos, iniciados nos anos de 1950, persistem até os dias atuais, mesmo que o momento histórico tenha mudado, as condições continuam similares em vários aspectos. ONDE ME ENCONTRO NESTE CONTEXTO Agora, a professora Alexandra Caetano, autora deste material nos deixa um depoimento vivo que vale ser escutado. VERIFICANDO O APRENDIZADO CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Os anos do pós-Segunda Guerra Mundial foram de muitos questionamentos, ruptura e enfrentamento. Assistimos à contaminação da arte a partir da diversidade de movimentos e experimentações artísticas. Passamos pelo deslocamento da arte para fora dos museus e das galerias, emergindo na rua, nos corpos, na paisagem. Presenciamos a arte em forma de conceito, rompendo barreiras na utilização de materiais, processos, tecnologias e métodos. Questionamos, em diferentes momentos, sobre o que é realmente arte e como ela é representada no mundo contemporâneo. Vimos a escrita de outra história da arte, híbrida, misturada, que expande a pintura e a escultura para se tornar viva, aberta, sensível, experimental, expressão dos momentos conturbados, da busca pela identidade e pelo equilíbrio. A Arte contemporânea atravessa décadas para chegar aos dias atuais em constante combinação e ressignificação. A Arte contemporânea tem muitos nomes e faces, sendo, portanto, múltipla em sua natureza. PODCAST Agora o professor Rodrigo Rainha, com a participação da professora Luana Barbosa, encerra o tema falando sobre Arte contemporânea. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS AGAMBEN, G. Medios sin fin: notas sobre la política. Valencia: Pre-textos, 2010. ARCHER, M. Arte contemporânea: uma história concisa. 2 ed. Coleção mundo da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2012. BISHOP, C. Installation Art: a critical history. UK: Tate Publishing, 2010. FARTHING, S. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2010. FREIRE, C. Arte conceitual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. GOMBRICH, E. H. Uma história sem fim. In: GOMBRICH, E. H. A história da arte. 16 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1995. KARMEL, P.; VARNEDOE, K. Jackson Pollock: interviews, articles, and reviews. Museum of Modern Art, 1999. OSTROWER, F. Universos da arte. 24. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004 EXPLORE+ Se há um tema que é a cara da Arte contemporânea, ele é o ”gosto”. Quem já não ouviu o dito popular: “Gosto não se discute, lamenta-se.”? Procure ler o ensaio Marcel Duchamp e o fim do gosto: uma defesa da Arte contemporânea , que Arthur C. Danto, professor emérito da Universidade de Colúmbia, escreveu em resposta a uma fala de Jean Clair, diretor do Museu Picasso. A Arte contemporânea trouxe inúmeros desafios para críticos e artistas por se desprender de regras, de materiais e conceitos predeterminados. O artista tem espaço para inventar ou para criar. No texto de Suely Rolnik, Subjetividade em obra , especialmente nas páginas 45 e 46, você encontra detalhes de como são vistos os elementos da Arte contemporânea. Você já ouviu falar que, no Brasil, temos uma longa história de artistas contemporâneos e da participação deles em movimentos diferenciados, reconhecidos em diferentes lugares do mundo? Somos ousados, inventivos, criativos. Quanto mais conhecemos dos nossos artistas, mais nos aproximamos dos seus processos, afetos, onde suas histórias se misturam com sua arte. Por isso, busque ler o texto de Fernando Cocchiarale, A (outra) Arte contemporânea brasileira , onde as intervenções urbanas se confundem com as regiões, os espaços de formação de redes. CONTEUDISTA Alexandra Cristina Moreira Caetano CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
Compartilhar