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ISLAMISMO E CRISTIANISMO MEDIEVAL

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ISLAMISMO E CRISTIANISMO MEDIEVAL 
 Dr. Tássio Acosta 
GUIA DA 
DISCIPLINA 
 
 
 
1 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
1. IDADE MÉDIA 
Objetivo 
Distinguir a Idade Média para entendimento de como esta se consolidou enquanto 
um período de expansões diversas, desde a ruralização na Alta Idade Média como a 
consolidação dos burgos ao fim da Baixa Idade Média. 
 
Introdução 
Foi o período posterior à idade antiga, com a queda do Império Romano do Ocidente, 
em 476 d.C., quando ‘Roma Ocidental’ foi invadida, e anterior à descoberta da América, em 
1492, conhecida como idade Moderna. Ao longo desse período, instituiu-se a Idade Média. 
Durante muito tempo, a Idade Média foi chamada pejorativamente como Idade das Trevas, 
uma vez que o controle da Igreja sobre o pensamento e a ciência era visto como algo 
negativo. 
 Entretanto, a partir de uma visão mais atualizada deste período, reconhece-se 
alguns importantes avanços como a criação de universidades, cidades, burocracia 
organizacional. Com a chegada dos povos germânicos ao Império Romano, houve um 
intercâmbio cultural entre estes dois povos, fosse de forma harmoniosa ou em decorrência 
das invasões germânicas ao Império Romano do Ocidente. 
Período marcado por guerras, Roma tinha sistema escravista e, portanto, havia a 
necessidade de constantes empreendimentos em buscas de conquistas territoriais e 
populacionais para trabalharem aos seus interesses. As guerras de conquistas começaram 
a se tornar escassas por uma série de motivos, levando ao enfraquecimento do poder 
romano. Outro elemento determinante para a degradação social se deu pela disputa pelo 
poder na instituição romana e os inúmeros casos de corrupção envolvendo seus detentores, 
vulnerabilizando os povos, corroendo as fronteiras e enfraquecendo a organização social. 
Migrações germânicas começaram a ocorrer em buscas de terras mais férteis e 
fugindo das severas condições climáticas que traziam uma série de problemas, sobretudo 
no que se refere à fome. Entre os povos germânicos, os mais conhecidos são visigodos, 
ostrogodos, saxões e anglos, conforme imagem a seguir. 
 
 
2 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
(Disponível em https://pt-static.z-dn.net/files/d61/7266040a06d741b6da53e9c1375e8a6f.jpg acesso 9 mar. 
2023) 
Com as migrações germânicas em massa ao Oriente, o Império Romano buscou 
reestruturar sua organização política, mudando a capital para Constantinopla, dividiu o seu 
império entre Ocidente e Oriente, congelamento dos preços para controle da inflação já que 
o comércio romano era bastante forte, dentre outros. Entretanto, nenhuma dessas 
mudanças foi capaz de evitar a sua erosão, sobretudo porque os povos germânicos 
conquistavam cada vez mais territórios pertencentes ao Império Romano do Ocidente, mais 
próximo de suas fronteiras. 
Com a fuga dos romanos de seus centros urbanos para regiões mais afastadas, 
sobretudo nas zonas rurais, os grandes proprietários dessas terras estabeleceram uma 
espécie de acordo com estes migrantes: poderiam morar em suas terras em troca do 
pagamento de impostos e produção de mercadorias para eles. Ou seja, assim se iniciou o 
feudalismo. 
A seguir, dividiremos a Idade Média em dois momentos, a Alta Idade Média e a Baixa 
Idade Média. Esta divisão serve apenas para facilitar o processo de aprendizagem, visto 
que ele não é linear e de fato separado. 
 
https://pt-static.z-dn.net/files/d61/7266040a06d741b6da53e9c1375e8a6f.jpg
 
 
3 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1.1. Alta Idade Média 
 Ocorrida entre o séc. V ao séc. XX d.C., onde entendemos hoje como Europa, esse 
período foi marcado por intensas mudanças econômicas, sociais, políticas e religiosas. A 
ruralização da Europa mudou substancialmente sua organização sociopolítica. 
 
O feudo era uma organização 
senhorial das terras que eram 
arrendadas para os 
camponeses trabalharem nela 
em troca da proteção do 
donatário, o rei local. Logo, 
quando de alguma invasão, os 
camponeses podiam se 
refugiar dentro das muralhas. 
Com a migração da população dos centros urbanos para as zonas rurais, fugindo 
das guerras, houve significativa diminuição da circulação monetária, visto que, em troca do 
direito a morarem nas terras rurais, os camponeses (agricultores e artesãos) deveriam 
pagar por esse direito com um percentual de sua produção e altas taxas de impostos. Esta 
relação de trabalho ficou conhecida como servidão e, em troca, recebiam a proteção do rei. 
A proteção era oriunda de uma relação de interdependência com outros nobres, visto 
que o rei não tinha à sua disposição uma grande quantidade de soldados para a defesa de 
seu reino. Logo, essa relação ficou conhecida como vassalagem, consistindo na junção de 
outros nobres ‘emprestando’ seus soldados para o rei, em troca de também terem 
privilégios no feudo. 
 Os camponeses não eram escravos, visto que eram remunerados por seus trabalhos 
e tinham ‘liberdade’ de migrarem para outros feudos. Entretanto, a remuneração recebida 
era tão ínfima e os impostos pagos eram tão altos que acaba por impossibilitar as suas 
emancipações e liberdades de fato. 
 Estes impostos são: 
 - Corveia: obrigação de trabalhar nas terras senhorias, alguns dias por 
semana, gratuitamente para abastecer o castelo senhorial. 
 
 
4 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 - Talha: obrigação em dedicar um percentual de sua produção para o castelo 
senhorial. 
 - Banalidade: obrigação de pagar taxas pela utilização de equipamentos do 
feudo, como moinhos e fornos. 
 Esta impossibilidade de emancipação social é conhecida como sociedade 
estamental, ou seja, um servo não teria condições de ascender socialmente à camponês. 
No caso de alguém com origem nobre, manter-se-ia esse privilegio ao longo de toda a sua 
vida e seria hereditário. Ainda nesse contexto, dois impérios se tornaram notórios, o 
Carolíngio e o Bizantino. Foi no império Carolíngio que se fortaleceu a relação de 
vassalagem entre reis e a nobreza. 
 Dentre os principais acontecimentos iniciados na Alta Idade Média, citamos as 
Cruzadas – embora estas tenham se fortalecido na Baixa Idade Média. Pode-se dizer que 
elas foram empreendimentos de conquista territorial com notório aumento das rotas 
comerciais, uma vez que, enquanto se aumentavam as conquistas territoriais, ‘novos 
lugares’ e povos eram descobertos. Foi também nesse período que houve o surgimento do 
islamismo, conforme veremos ainda nesta semana. 
 
Recomendo a leitura do artigo As invasões germânicas e o império romano: 
conflitos e identidades no baixo império. 
Resumo: O artigo começa com uma discussão das questões teóricas relativas 
ao estudo das identidades no mundo antigo. Após uma discussão da teoria 
social e de diferentes modelos interpretativos, enfatiza-se a importância do 
uso de uma variedade de fontes: literárias, iconográficas, arqueológicas. Foi 
usado um importante material numismático do acervo do Museu Histórico 
Nacional, referente ao contato tardio entre romanos e germanos. 
 
1.2. Baixa Idade Média 
Ocorrida entre o século XI ao século XV d.C., foi marcada pelo auge do feudalismo, 
entre os séculos XI e XIII, e sua posterior derrocada, surgindo uma nova concepção de 
mundo. Como vimos anteriormente, a importância do feudalismo se deu pela ruralização 
da sociedade e sua organização em feudos, tendo o Rei de um determinado território como 
o seu mandatário-chefe em uma sociedade extremamente estamental. 
https://revistas.ufpr.br/historia/article/download/15298/10289
https://revistas.ufpr.br/historia/article/download/15298/10289
 
 
5 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Em virtude da inserção da igreja no campopolítico da Idade Média, muitas delas 
foram instaladas nos próprios feudos, participando da organização social e da imposição 
dos costumes. Conforme imagem a seguir, percebe-se que a estrutura social do medievo 
era bastante rígida e com parcas possiblidades de alteração. 
 
(Fonte: https://www.coladaweb.com/wp-content/uploads/2014/12/20190608-sociedade-feudal.jpg acesso 9 
mar. 2023) 
Dada a sua organização, percebe-se aumento da densidade populacional, sobretudo 
porque os períodos de guerras foram diminuídos ao passo que os feudos se organizavam 
em estruturas sociais munidas de ‘exércitos’ próprios para a sua defesa. O fator climático 
também merece destaque, visto que, ao contrário da Alta Idade Média, o clima foi mais 
ameno no período XI a XV d.C. Regiões antes pantanosas começaram a secar e mais solos 
foram abertos para o plantio. 
Estima-se que a população da Europa Ocidental, onde se concentravam estes 
feudos, chegou a dobrar de quantidade, atingindo, aproximadamente, 50 milhões de 
pessoas. 
Sendo uma sociedade de bases rurais, avanços agrários foram produzidos, 
sobretudo com o uso da tração animal para o aumento da produção alimentar. Deixou-se 
de adotar a monocultura, sobretudo do trigo, para a implementação do sistema de utilização 
do solo para diferentes produtos a cada três anos, enriquecendo-o e mantendo-o sempre 
preparado para a produção de novos alimentos. 
https://www.coladaweb.com/wp-content/uploads/2014/12/20190608-sociedade-feudal.jpg
 
 
6 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Em vista do aumento populacional e aumento da produção agrícola, o comércio 
voltou a se fortalecer, sobretudo a partir das feiras livres que atendiam não apenas as 
pessoas do próprio feudo como aquelas que por ele passava enquanto rota. Ao passo que 
se aquecia o comércio, novas necessidades foram surgindo, sobretudo no que se refere às 
moradias. Logo, muitos camponeses começaram a se mudar dos feudos estamentais e 
buscaram espaços nas cidades com centros urbanos mais aquecidos e com maiores 
condições de ascensão social. 
As feiras que até então eram temporárias e de acordo com a sazonalidade dos 
produtos, começou a se fixar nos entornos das cidades e ficaram conhecidas como burgos 
– o que deu a origem à palavra-conceito burguês. É nesse momento que as Cruzadas 
ganham preponderante papel na mudança da Baixa Idade Média. 
Suas missões/guerras para o Oriente abriam novos caminhos e encontravam novas 
cidades, ampliando as rotas comerciais e produzindo um intercâmbio de produtos até então 
não possíveis entre Ocidente e Oriente. Muitos desses tidos como exóticos, dada a sua 
inexistência entre os dois lados. 
 
(Fonte: DUBY, Georges. Altas historique mondial. Paris: Larouse, 2003, p. 66) 
Como o fortalecimento do papel dos Reis aumentava com o passar do tempo, 
formavam-se os Estados Nações, controladas pelo monarca. Sua autoridade máxima aliada 
com o clero local, produzia controles ainda maiores sobre os territórios. O declínio da Baixa 
 
 
7 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Idade Média decorreu de novas mudanças climáticas que, com frios recordes, as colheitas 
foram precárias e a fome se alastrou. O contraste entre a fome dos camponeses e os 
privilégios da nobreza, clero e realeza serviu de combustível para uma série de rebeliões. 
No séc. XIV a peste bubônica se alastrou de forma pandêmica por toda a Europa, 
dizimando a sua população em aproximadamente 1/3 da original. Regiões como a atual 
Inglaterra, por exemplo, chegou a perder em torno de 2/3 de sua população. A igreja 
começou a ser posta em xeque pela população local que, sendo dizimada entre fome, peste 
e guerras que ressurgiam neste mesmo período, passou a promover levantes contrários à 
manutenção dessa sociedade estamental. 
 
Recomendo a leitura do artigo Mudanças técnicas na agricultura medieval e o 
processo de transição para o capitalismo 
Resumo: Trata o presente ensaio de proceder a uma reconstrução da trajetória 
das mudanças técnicas na agricultura camponesa medieval e seu impacto na 
restauração das cidades, utilizando como fonte a historiografia econômica e a 
historiografia das ciências agrárias. Com efeito, o que se pretende é chamar a 
atenção para o papel desempenhado pela agricultura de base familiar no 
abastecimento das populações urbanizadas e no estímulo às atividades 
econômicas que expandiram o mercantilismo e abriram caminho para a 
Revolução Industrial. 
 
https://seer.sct.embrapa.br/index.php/cct/article/view/8980
https://seer.sct.embrapa.br/index.php/cct/article/view/8980
 
 
8 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
2. POVOS ÁRABES 
Objetivo 
Conhecer como os povos árabes se uniram em uma única religião, o islamismo, e 
suas influências na política e sociedade da península arábica. 
Introdução 
O período anterior à Idade Média é conhecido como Antiguidade, foi marcado pelas 
religiões politeístas, acontecimento de guerras, criações de leis (como o Código de Amurab) 
e o desenvolvimento das artes. Com o seu declínio e a ascensão da Idade Média, vimos, 
na aula passada, que inúmeras mudanças foram vivenciadas nos quesitos sociais, 
culturais, políticos e tecnológicos. 
Entretanto, para continuarmos a nossa disciplina de Islamismo e Cristianismo 
Medieval, necessitamos, agora, nos aproximarmos dos povos árabes. Originários na 
Península arábica, entre o Nordeste da África, o Sul da Europa e o Oeste da Ásia, os povos 
que ali moravam compartilhavam das mesmas características culturais, sobretudo das 
línguas. 
Em torno de 300 etnias dividiam-se em dois grandes grupos: aqueles que habitavam 
as regiões desérticas e aqueles que ocupavam na costa do Mar Vermelho – dada as algas 
de pigmentação avermelhadas. 
Aos primeiros, conhecidos como beduínos, eram povos nômades, dedicados à 
criação de cabras, ovelhas e camelos, responsáveis pelo comércio de mercadorias na 
região desértica do Norte da África. Costumavam comercializar produtos de gênero 
alimentícios, como tâmaras e trigos e montavam suas tendas perto de oásis destas regiões 
desérticas. Família estruturada de forma patriarcal, nem todos os grupos nômades eram 
vistos à mesma maneira, uma vez que suas origens influenciavam as percepções. 
Aos segundos, conhecidos como Povos de Eritreu, viviam no golfo do Oceano Índico, 
no estreito de Babelmândebe. Dada a sua estratégica localização geográfica, as etnias que 
ali moravam desenvolveram importantes atividades comerciais, sobretudo de especiarias. 
Este estreito também era conhecido como mar arábico, pois a hegemonia de seus povos 
 
 
9 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
que ali viviam os tornaram detentores das navegações1, antes mesmo dos europeus. Seus 
veleiros eram capazes de transportar produtos, escravos e animais, sendo, portanto, 
importante intercambio sociocultural. 
 
Povos Beduínos, na região desértica 
 
 Povos de Eritreu, no Mar Vermelho (red sea, no mapa) 
A religião destes dois ‘grupos’ era politeísta, ou seja, acreditavam em múltiplas 
divindades, sobretudo as relacionadas à astrologia – dada a sua importância no 
desenvolvimento de seus povos, tantos dos que viviam nos desertos como aqueles que 
viviam na costa do mar vermelho. 
No séc. VII, começaram-se a se organizarem a partir de um eixo em comum: o islã. 
Religião recém-originada a partir do monoteísmo, como veremos mais à frente. Estes, já 
organizados, fundaram grandes impérios desde o séc. VII e que só ruíram, enquanto 
organizações únicas, com o fim da Baixa Idade Média. A sua influência, perceptível até os 
tempos atuais por onde passaram, sobretudo na cultura e educação, terá destaque ao longo 
de nosso curso. 
 
2.1. Península arábica 
Conforme estamos vendo, os povos árabes se organizaramno que hoje entendemos 
como Norte da África e Sul da Europa. Seus saberes extrapolam em muito ao que 
aprendemos na escola. Detinham conhecimentos matemáticos, cartografia, geografia, 
astronomia e navegações que influenciam nossos cotidianos. Ao que nos interessa, 
momentaneamente, nos atentaremos à importância da astronomia e das navegações para 
 
1 Futuramente, a Europa entre em conf l i to com estes povos pelo monopól io comercia l 
f luvia l. 
 
 
10 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
o seu desenvolvimento, sobretudo porque muitas vezes associamos os povos árabes 
apenas ao beduínos que viviam no deserto. 
A península arábica, como vemos na imagem abaixo, teve o seu apagou após o 
nascimento do Maomé, em 570. Oriundo de família pobre, tornou-se mercador e, aos 25 
anos, se casa com uma viúva de classe alta. Com estabilidade financeira, começou a viajar 
para diversas regiões e a conhecer católicos e judeus. Aos 40 anos de idade, começa a ‘ter 
visões e ouvir vozes’, de quem acreditava ser do Anjo Gabriel. 
Em uma destas aparições, revelou-se à Maomé que ele era o profeta e que havia 
apenas uma única divindade a ser seguida: Allah. Com a crença e apoio de sua família, 
começou a pregar o monoteísmo e fim da crença à ídolos e imagens à todas as etnias. Os 
ensinamentos de Maomé foram compilados em um livro sagrado, conhecido como Alcorão. 
Como as suas ideias iam contra a tradição politeísta, passou a sofrer perseguições 
diversas e teve ganhou muitos inimigos em Meca, onde vivia. Em 622, refugia-se na atual 
Medina, episódio entendido à época como o início do calendário árabe. Em Medina, 
organiza-se como líder político, religioso e militar, empreendendo uma guerra para retomar 
Meca e a fortalecer o islã – no que foi entendido como jihad. 
 
(Fonte: https://g.co/arts/8K4UyFGAcnTG9oSZ8 acesso 9 mar. 2023) 
 
2.2. Retomada de Meca 
Ao lograr sucesso em sua guerra de retomada de Meca, consolida o islamismo como 
religião sagrada dos árabes e organiza social e politicamente as etnias que até então viviam 
descentralizadas para viverem como um único povo: os árabes islâmicos. Como estes já 
https://g.co/arts/8K4UyFGAcnTG9oSZ8%20acesso%209%20mar.%202023
 
 
11 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
viviam em todo o Norte da África, sua Palavra foi facilmente levada por todos os que viviam 
de sua mesma cultura de mercadores. Ou seja, enquanto viajavam para a compra e venda 
de mercadorias, compartilhavam a Palavra de Maomé em seu itinerário. 
 
 Com a morte de Maomé, dois anos depois da reconquista de Meca, os povos árabes 
viram-se imergido numa grande disputa pela sucessão de seu poder. De um lado, os seus 
familiares entendiam que a sucessão deveria ser hereditária e seguindo rigorosamente os 
conhecimentos registrado no Alcorão – conhecidos como xiitas. De outro lado, os seus 
seguidores entendiam que a escolha de um novo líder deveria ocorrer a partir de uma 
eleição, além de convergirem no entendimento de que o livro com ditos e exemplos de 
Maomé, conhecido com Sunas, também deveria ser utilizado na base moral do islamismo 
– estes, conhecidos como Sunitas. 
 
Para além das disputas internas, a importância de Maomé se dá pela união árabe 
num único povo, a divulgação da fé monoteísta islâmica e a expansão territorial em direção 
ao Ocidente. Entre batalhas e conquistas, em 732, o franco Carlos Martel e então prefeito 
do palácio dos Merovíngios, impôs severas derrotas na expansão islâmica à Europa. 
Concomitantemente, a expansão ocorria à Leste, sobretudo com as ocupações da 
Mesopotâmia, Persa e uma significativa parte da Índia. 
 
Dado o seu caráter político, para além do religioso, os povos árabes conseguiram se 
organizar a partir de um líder-comum (califas). Apenas no séc. XV começaram a vivenciar 
significativas perdas territoriais, tanto de uma parte da Ásia como na Península Ibérica. 
 
 
12 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Ainda assim, os árabes continuaram influenciando os povos por onde passavam, mesmo 
quando da queda dos territórios controlados. 
 
(Fonte: https://static.todamateria.com.br/upload/pa/is/paisesarabes-cke.jpg acesso 10 mar. 2023) 
 Para se ter uma noção da importância do Islã no mundo, em tempos atuais, o 
islamismo é a segunda maior religião do mundo, ‘atrás’ apenas do cristianismo e 
anualmente assistimos à bela peregrinação à Meca. 
 
Os cinco pilares do islamismo (arkan al-Islam) 
Fé ao islamismo (Shahadah); 
Orar cinco vezes ao dia, em direção à Meca (Salah); 
Jejuar no período do Ramadã (Saum); 
Fazer caridade aos necessitados (Zakat); 
Peregrinar, ao menos uma vez na vida, à Meca (Hajj) 
https://static.todamateria.com.br/upload/pa/is/paisesarabes-cke.jpg
http://www.islambr.com.br/wp-content/uploads/2019/03/pilares-da-f%C3%A92013.pdf
 
 
13 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3. LEGADO ISLÂMICO 
Objetivo 
Valorizar o legado nas ciências deixado pela cultura islâmica ao mundo. 
 
Introdução 
A valorização das ciências consta no Alcorão, sobretudo a medicina, entendida como 
próxima à divindade, dado o seu caráter de cura. No início dos anos 1000, do calendário 
cristão, o califa Almamune cria a Casa da Sabedoria (Bayt al-Hikmah), em Bagdá. Lá, 
dedicavam-se às tradução de manuscritos e reflexões. Dada a característica de mercadores 
e com o próprio Maomé tendo contato com povos de outras religiões, em especial cristãos 
e judeus, interessavam-se pelos debates filosóficos existentes. 
 
Interessante destacar que o papel era um conhecimento bastante presente entre os 
chineses, e não tão disseminado pelo mundo. Até então, os escritos eram produzidos em 
couros de animais e, apenas após a Batalha de talas, em 751 d.C., com a conquista de 
chineses, que os árabes passam a dominar a produção de papel. 
A Casa da Sabedoria, importante local para a profusão do conhecimento islâmico, 
operou entre os séculos IX e XIII, dedicava-se às diversas ciências, da medicina à 
geografia, da zoologia à alquimia e conhecida também por seu observatório astronômico. 
Em virtude também da troca que ocorria com as outras civilizações, dada a característica 
de mercadores dos Beduínos e Eritreus, os conhecimentos originários dos persas, indianos 
e gregos também eram traduzidos e debatidos no local. 
 
Essa questão se fez perceptível quando manuscritos de Platão e Aristóteles, por 
exemplo, foram traduzidos, debatidos e assimilados pelos árabes. Ampliando os 
conhecimentos debatidos na Antiguidade, os árabes consolidam as suas ciências a partir 
do método de observação e experimentação, ao contrário do lógus grego. 
 
Não obstante, a importância de Bagdá para a Casa da Sabedoria era inversamente 
proporcional, ou seja, uma era importante para outra, pois Bagdá era conhecida como a 
cidade mais rica e mais populosa do mundo, além de importante centro da intelectualidade. 
 
 
14 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
A sua influência é percebida até os dias de hoje, em diversas ciências e a partir de uma 
imensa gama de intelectuais árabes. 
 
3.1. Na matemática 
Os algoritmos matemáticos, tão usados nos aplicativos de celulares hoje em dia, 
foram criados por Abu Abdallah Muḥammad ibn Mūsā al-Jwārizmī, traduzido ao 'mundo 
Ocidental' como Al-Khwarizmi. Viveu entre os anos de 780 e 850, construiu o entendimento, 
a partir da influência das ciências hindu, de que se é possível representar qualquer número 
com apenas 10 símbolos simples e, a partir desta numeração, pode-se derivar outros 
maiores a partir de sua soma (0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9). 
Não obstante, a nomenclatura 
algoritmo se deu por influência de seu 
nome na forma ocidentalizada (Al-
Khwarizmi)2 – pronuncia-se Alcuarismi. Foi 
ele ainda que, a partir da geometria, 
constrói um conjunto de regras capazes de 
determinar áreas e volumes - algo bastante 
presente em sua arquitetura. 
Outros importantes matemáticos árabes3 foram Omar Khayyam, responsável pela 
construção do entendimento sobre equação de 3º grau e definiu a teoria das proporções, e 
Sharaf al-Din al-Tusi, autor da simplificação de equações matemáticas a partir de modelos 
binômios. Seguindo os conhecimentos de Ptolomeu, sobre seno e cosseno, desdobraram 
novas noções sobre tangente, cotangente, secante e cossecante. 
O conhecimento árabe na matemática extrapola os números, chegando na 
astronomia. Com a biblioteca de Alexandria sendo incendiada e muitas importantes fontes 
de conhecimento sendo perdidas, foi graças às traduções árabes que se mantiveram os 
escritos astronômicos produzidos por Ptelomeu. 
 
2 Disponível em ht tps: / /www.bbc.com/portuguese/curiosidades -60758539 acesso 10 mar. 
2023 
3 Disponível em 
ht tps: / /eadcampus.spo. ifsp.edu.br/pluginf i le.php/7457/mod_resource/content /0/TCC_And
erson%20Costa.pdf acesso 11 mar. 2023 
https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-60758539
https://eadcampus.spo.ifsp.edu.br/pluginfile.php/7457/mod_resource/content/0/TCC_Anderson%20Costa.pdf
https://eadcampus.spo.ifsp.edu.br/pluginfile.php/7457/mod_resource/content/0/TCC_Anderson%20Costa.pdf
 
 
15 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
Estudiosos em ciências e matemática no mundo islâmico medieval, importante 
obra sistematizada em português, pela Editora da Universidade Estadual do 
Ceará, discorre, em seus nove capítulos, os principais pensadores e 
conhecimentos matemáticos originados no mundo árabe-islâmico. 
 
 
3.2. Na astronomia 
Influenciada pela astronomia persa e 
indiana, passou a incorporar os 
conhecimentos astronômicos produzidos 
pela Grécia clássica. Com a Casa da 
Sabedoria investindo no desenvolvimento 
das ciências, a astronomia ganhou 
significativa atenção. 
 
Debruçando-se nos ensinamentos 
matemáticos deixados por Ptelomeu, o 
Observatório de Maraghah possibilitou o 
avanço de modelos matemáticos para 
estudos de órbitas planetárias. 
 
Surgiu, então, no Cairo, o estudo da 
ótica a partir da dissecção de olhos, 
produzindo conhecimento sobre a refração 
atmosférica (os raios do sol são "dobrados" 
ao entrarem na atmosfera). 
 
 
Interessados cada vez mais a geolocalizarem a posição dos corpos celestes foi de 
grande importância para os estudos de ângulos. Com isso, melhoraram o astrolábio 
desenvolvido por Ptelomeu; no Observatório Samarkand, em 1420, estudo realizado com 
tal melhoria foi capaz de determinar a duração de um ano com apenas um minuto de 
defasagem. 
https://www.uece.br/eduece/wp-content/uploads/sites/88/2021/11/Estudiosos-em-ci%C3%AAncias-e-matem%C3%A1tica-no-mundo-islamico-medieval______2021.pdf
 
 
16 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
Outro exemplo do conhecimento 
árabe-islâmico se deu sobre as três marias 
que conhecemos desde a nossa infância ao 
olhar para os céus (e que, de acordo com a 
crendice popular, não poderíamos apontar 
porque nasceriam verrugas em nossos 
dedos). 
Seu nomes originais são Alnitak, 
Alnilam e Mintaka (e significam o cinto, a 
pérola e a corda). 
 
Recomendo a leitura do artigo Astronomia islâmica entre Ptolomeu e 
Copérnico: Tradição Maraghah. 
Resumo: Este artigo apresenta a descrição, análise e comparação dos modelos 
da astronomia islâmica na Idade Média com os modelos ptolomaicos para 
estabelecer o processo de evolução dos modelos cinemáticos na Tradição 
Maraghah e a motivação para o desenvolvimento destes modelos não 
ptolomaicos. 
 
3.3. Na medicina 
Alargando os conhecimentos produzidos por Hipócrates e Galeno, e a partir do 
método de observação e experimentação, Ibn al-Nafis foi o grande responsável pela 
continuidade dos estudos gregos sobre o corpo humano, sobretudo com seu estudo sobre 
a circulação sanguínea nos pulmões. Outra grande descoberta árabe na anatomia se deu 
sobre os olhos, quando Alhazen compreendeu que o globo ocular funciona no princípio da 
ótica, escrevendo um livro intitulado O Livro de Ótica, utilizado ao longo de muitos séculos. 
Graças ao intercâmbio cultural com mercadores, sobretudo com o povo hindu, 
remédios naturais passaram a serem estudos como, por exemplo, a Papoula e a Cannabis. 
Vale destacar que a política proibicionista às ‘drogas’ naturais é algo recente na História da 
Humanidade e, portanto, elas eram comumente utilizadas em diversos momentos, desde 
processos de curas de doenças à rituais religiosos em diversas partes do mundo, dada a 
importância da Botânica nos estudos científicos à época. 
https://www.scielo.br/j/rbef/a/dPt8FPn3GdTqfD9Mp8MRXyM/?format=pdf&lang=pt
https://www.scielo.br/j/rbef/a/dPt8FPn3GdTqfD9Mp8MRXyM/?format=pdf&lang=pt
 
 
17 Islamismo E Cristianismo Medieval 
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Enquanto a papoula, produtora do ópio, era bastante popular no Egito e bastante 
usada na medicina e vendida no comércio entre Ocidente e Oriente, a cannabis, produtora 
do cânhamo/haxixe, era entendida na religião hindu como um presente dos deuses e 
popular entre os asiáticos, possivelmente tendo chegado ao mundo árabe por meio da Rota 
de Seda. 
 A importância destas drogas para a medicina é de suma relevância, sobretudo por 
seus poderes anestésicos e hipnóticos, ajudando no tratamento de doenças, psicoses e na 
realização de cirurgias, principalmente as oculares, como de catarata. A Batalha das 
trincheiras, guerra ocorrida em março de 627 d.C. entre muçulmanos e judeus, foi fator 
preponderante para a criação de hospitais, dada a quantidade de soldados feridos nestas. 
Evitando perdas no front, Maomé teria ordenado a criação de barracas para atendimentos 
aos feridos; visto que o resultado desses foi positivo e muitos se recuperaram, governantes 
árabes expandiram a existência destas tendas, no que hoje conhecemos como hospitais. 
Outro fator preponderante para a ampliação dos hospitais se deu em virtude do 
crescimento populacional no ‘mundo árabe’, como no caso de Bagdá que era a mais 
populosa à época, havendo a necessidade da criação de hospitais para tratamento de 
doenças, epidemias ou cirurgias. 
 Um problema muito comum à época era decorrente das infecções generalizadas, 
algo prontamente diminuído quando os árabes começaram a utilizar infusões de ervas e 
óleos na lavagem do corpo e da ferida, tanto antes das cirurgias como também depois 
destas. Conjuntamente com estas, o ópio era utilizado no alívio das dores e bastante 
importante quando da realização de cirurgias. 
 
Caso tenha interesse em conhecer mais sobre as ciências e o mundo árabe-
islâmico, o Qatar disponibiliza gratuitamente este histórico acervo de forma 
digitalizada, em https://www.qdl.qa/en 
 
https://www.qdl.qa/en
 
 
18 Islamismo E Cristianismo Medieval 
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4. POVOS CRISTÃOS 
 
Objetivo 
Analisar como se deu o surgimento do cristianismo na Antiguidade, sua 
institucionalização como religião oficial no Império Romano e o seu apogeu na Idade Média. 
 
Introdução 
O seu início, conhecido como cristianismo primitivo, deu-se a partir de uma divisão 
judaica. ‘De um lado’, os fariseus, dedicados à vida religiosa e estudo do Torá; ‘de outro’, 
os essênios, pregavam a vinda de um Messias que lideraria os judeus à liberdade. Em meio 
à dinastia de Otávio, no Império Romano, nasceu, em Belém, Jesus de Nazaré, de origem 
judaica, conforme narrado no Antigo Testamento da Bíblia. 
 
Batizado nas águas do Rio Jordão, aos 30 anos, tornou-se notório pela pregação de 
suas ideias: amor, perdão e respeito ao próximo. Contraponto ao que se esperava de um 
Messias, sua vida simples com pregação aos pobres e necessitados gerouuma onda de 
negação à sua ‘divindade’. Considerado dissidente, foi condenado pelos romanos à 
crucificação – pena bastante comum à época; por exemplo, na Revolta de Espártaco, 
quando 200 mil escravos se opuseram ao governo romano, em torno de seis mil escravos 
foram crucificados num único dia. 
Como podemos ver, a prática da 
crucificação na antiguidade era bastante 
comum. Presente no Direito Romano, 
tinha-se, como objetivo, infringir dolorosa 
e humilhante morte, costumeiramente 
utilizada contra escravos, piratas e 
quaisquer pessoas que se opusessem ao 
governo local, tornando-as inimigas 
públicas. 
 
 
Despidas na frente de todos, eram torturadas vagarosamente para que seus castigos 
servissem de exemplos às outras pessoas. Pois, não bastasse todas as humilhações e 
 
 
19 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
dores, os cravos utilizados para ‘pregar’ a pessoa na cruz eram postos em regiões do corpo 
que não imputassem a morte instantânea, mas sim de forma vagarosa e dolorosamente. 
Como as ideias do perdão ganhavam cada vez mais atenção no Império Romano, 
sobretudo porque seus propagadores (apóstolos) eram pescadores e passaram a partilhar 
a Palavra de Jesus pelas regiões em que se locomoviam, percebeu-se que a sua Palavra 
era compartilhada para todos os povos, e não apenas aos judeus. Esse caráter 
universalizante da disseminação fez com que ele fosse conhecido como Cristo (significa ‘o 
ungido’) – essa importante função ficou com o apóstolo Paulo. A perseguição aos cristãos, 
ao longo do Império Romano, se deu porque se opuseram à divindade imperial romana, 
acreditando apenas na Palavra de Jesus Cristo. 
 
4.1. Cristãos no Império Romano 
Num contraponto aos diversos pobres e escravos que já se convertiam ao 
cristianismo na esperança de um paraíso eterno, enquanto contraponto à vida sofrida que 
levavam, a conversão de muitos romanos, sobretudo os de alta classe ao Cristianismo 
impossibilitou que a religião fosse ignorada pelos Imperadores, visto que, pensando sob a 
perspectiva política de poder, não se justificaria tamanha disputa interna com os ricos 
detentores do poder e influentes locais. 
 
Ainda assim, conforme imagem ao lado, 
em quadro intitulado A última prece dos 
mártires cristãos, de Jean-Léon Gérôme, 
pode-se perceber que muitos daqueles 
que desafiavam o Império Romano a 
professarem a fé cristã eram utilizados em 
espetáculos em coliseus. 
Era questão de tempo para que, com a influência cristã no Império Romano, as 
igrejas fossem organizadas e o clero institucionalizado. Pouco a pouco os territórios 
romanos foram divididos em províncias eclesiásticas (sob a égide da Igreja) e os bispos 
locais ganhavam cada vez mais influências nas decisões políticas. Nesse sentido, o 
bispado de Roma empreendeu campanha de liderança central, sob a justificativa de que, 
com Jesus era da região, caberia a eles o domínio de determinadas ações. 
 
 
20 Islamismo E Cristianismo Medieval 
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O Imperador Constantino, foi o grande responsável por tornar o cristianismo religião 
quase como uma religião oficial de Roma, após ser apresentado a ela pela sua mãe. Após 
ter uma visão no cair da tarde, ao olhar para o céu que se punha, viu as letras gregas XP 
entrelaçadas a uma cruz. Com isso, determinou que todos os escudos de seus soldados, 
que se encontravam em guerra na Batalha da Ponte Mílvia, em 312 d.C., fossem pintados 
com uma cruz em branco. 
Com o risco de perda do poder pela tetrarquia, o Imperador Constantino publica o 
Édito de Milão, em 313 d.C, em nome da tolerância religiosa e beneficiando os cristãos que 
ainda eram perseguidos. Em troca, obteve apoio dos Bispos para a extinção da tetrarquia, 
tornando-se imperador único do Império Romano. Já em 391 d.C., o Imperador Teodósio 
institui o cristianismo como religião oficial e passa a perseguir todos aqueles que 
professassem outras religiões. Como podemos ver na imagem a seguir, as províncias 
eclesiásticas, criadas em 325 d.C., com o Concílio de Niceia, passaram a dominar todo o 
Império. 
 
(Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/48/Roman_Empire_with_dioceses_in_300_AD-
pt.gif acesso em 14 mar. 2023) 
Percebe-se, assim, que o cristianismo deixou de ser as ideias até então difundidas 
pelos apóstolos para se tornar a religião oficial de Roma e, como consequência, a junção 
entre política e religião produziu outros entendimentos, tal qual vemos até os dias atuais e 
mais recentemente no Brasil. 
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/48/Roman_Empire_with_dioceses_in_300_AD-pt.gif
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/48/Roman_Empire_with_dioceses_in_300_AD-pt.gif
 
 
21 Islamismo E Cristianismo Medieval 
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O grande responsável por oficializar o cristianismo como religião oficial de Roma foi 
o imperador Teodósio, em 380. Um ano depois, realizou-se, em Constantinopla, um concílio 
transformando a região na ‘nova Roma’. Com a queda do império romano ao longo do 
século seguinte, novas influências pela igreja serão vivenciadas à época, conforme 
veremos a seguir. 
 
Para saber mais sobre a queda do Império Romano, ler A antiguidade tardia, 
a queda do império romano e o debate sobre o “fim do mundo antigo” 
Resumo: A Antiguidade tardia está hoje consolidada seja como campo de 
estudos ou como um período histórico. No entanto, desde sua concepção até 
a sua “explosão”, para usarmos uma expressão de Andrea Giardina, esta 
periodização colocou questões historiográficas de imensa importância que 
permanecem pouco exploradas. Ao chamar a atenção de estudiosos e leitores 
em geral para as continuidades entre o mundo antigo e o período que o seguiu, 
a Antiguidade tardia deixa de lado importantes questões que eram 
fundamentais para uma historiografia mais tradicional e que continuam 
relevantes como o problema da assim chamada queda do Império romano. 
Neste artigo, pretendemos discutir estas questões, levando em considerações 
os importantes desenvolvimentos observados nas últimas décadas. 
 
4.2. Na Idade Média 
4.2.1. Cruzadas 
 Com o estabelecimento do cristianismo como instituição, no final do Império 
Romano, a Igreja Católica foi se consolidando à medida que Roma e Constantinopla se 
desmantelavam. Sendo assim, doutrinas religiosas ou pessoas que tinham 
posicionamentos contrários à Igreja eram acusados de heresias (ou hereges). 
 Vale lembrar que concomitantemente o islamismo vinha ganhando bastante 
seguidores. Nesse encontro entre duas religiões monoteístas pregando seus deuses únicos 
e suas Palavras únicas, o embate entre ambas era algo iminente. Assim como o islamismo 
tinha a jihad como forma de ampliação de sua influência e seu domínio, o catolicismo criou 
as Cruzadas com o mesmo intuito. Entretanto, enquanto a jihad não tinha um ‘alvo’ em 
específico, mas qualquer um que não seguisse a sua Palavra, no caso do catolicismo as 
Cruzadas miravam mais exclusivamente os próprios muçulmanos. 
https://www.redalyc.org/pdf/2850/285043516004.pdf
https://www.redalyc.org/pdf/2850/285043516004.pdf
 
 
22 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Ao todo foram realizadas oito cruzadas ao longo de mais de cem anos. A primeira 
Cruzada ficou marcada pela violência da conquista da cidade de Jerusalém em 
1099. Foi estabelecido a partir daí um breve reino cristão na Palestina. A cidade de 
Jerusalém foi reconquistada pelos muçulmanos em 1187. A quarta Cruzada marcou 
o saque de Constantinopla pelos cristãos em 1204. As últimas Cruzadas foram 
lideradas por São Luís e resultaram em grande fracasso. Os últimos domínios 
cristãos na Palestina, Acre e Tiro, foram reconquistados pelos muçulmanos em 
1291. As Cruzadas contribuíram para aumentar o afastamento entre cristãos emuçulmanos.4 
 
A justificativa para a utilização da violência para a diminuição do islamismo e para a 
conquista de novos cristãos foi dada a partir da noção de Guerra Justa. Ou seja, ao dar 
uma noção utilitarista para a guerra, permitia-se deixar de lado a Palavra cristã concebida 
por Jesus Cristo e aplicá-la às questões políticas. Esse utilitarismo da religião para a sua 
inserção na política, que começou desde o Império Romano, ainda é visto em diversas 
regiões do mundo, sobretudo no Brasil, quando da associação de campanhas políticas ao 
púlpito. 
 
Como podemos imaginar, quanto mais a Igreja empreendia guerras, batalhas e 
perseguições aos diferentes, àqueles que não professavam da mesma fé e portanto eram 
vistos como hereges, mais distanciamentos ela criava perante o Outro. No caso das 
Cruzadas, em si, o Outro eram os muçulmanos que passaram a serem alvos destes 
movimentos. 
 
4.2.2. Inquisição 
Com a ‘institucionalização’ do cristianismo no Império Romano, a igreja viu seu poder 
ser posto em descrença quando da ruína do Império Romano do Ocidente e ruralização da 
sociedade aos feudos. Para a sua sobrevivência nesta ruptura, ela se aliou à política como 
forma de manter a sua influência sobre a sociedade, ao passo que convertia os reis dos 
feudos ao cristianismo. Quando do batismo da igreja a um rei feudal, sua influência ficava 
cada vez mais notória naquele novo reinado. 
 
4 Disponível em ht tps: / /www.histor iadomundo.com.br/ idade-media/a- igreja-medieval.htm 
acesso 14 mar. 2023 
https://www.historiadomundo.com.br/idade-media/a-igreja-medieval.htm
 
 
23 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Outro ponto que vale destaque se dá ao poder político que a Igreja já tinha à época, 
sobretudo com a concentração de terras e rendas, chegando ao ponto de o Papa ser 
superior aos reis, demonstrando a sua importância na mentalidade da sociedade. Com o 
seu poder cada vez mais notório e influenciando o cotidiano feudal, a Igreja Católica passa 
a perseguir pessoas dissidentes à sua fé e aquelas que, com seus estudos conhecimentos, 
se opusessem àquilo imposto pela instituição religiosa. Esse período, conhecido como 
Santa Inquisição, foi responsável pela perseguição, tortura e assassinatos em fogueiras de 
diversas pessoas, sobretudo as mulheres – o que demonstra a questão de gênero na 
perseguição às mulheres, costumeiramente associadas à bruxaria. 
 
 
Para que a Santa Inquisição obtivesse seu 
maior êxito, foi-se necessária a criação de método 
para a sua execução. Práticas religiosas que se 
utilizassem de animais, sobretudo de seu sacrifício, 
eram consideradas pecaminosas5 e, portanto, seus 
praticantes merecedores dos castigos registrados 
no Directorium Inquisitorum (Diretório Inquisitorial). 
Os muçulmanos são nomeados no Diretório 
Inquisitorial como um dos hereges por suas crenças 
a Maomé. Já quanto à ciência, qualquer 
conhecimento que se opusesse às crenças da 
Igreja também era interpretado como adorações 
perigosas e, portanto, passíveis de penalizações. 
 
 
 
5 Em outro parale lo interessante com os tempos atuais, tem -se reg istrado, no Brasi l , 
diversos episódios de intolerânc ia re l ig iosa com sistemát icas perseguições às casas de 
rel igiões de matr iz afr icana, sob a mesma just i f icat iva. 
https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/tede/6013/1/arquivototal.pdf
 
 
24 Islamismo E Cristianismo Medieval 
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5. LEGADO CRISTÃO 
 
Objetivo 
Localizar os motivos de a igreja investir na alfabetização de seus religiosos para as 
suas ordenações e, a partir de então, como a ‘escolarização’ passou a ser de fundamental 
importância para a ascensão clerical. 
 
Introdução 
Assim como no caso do islamismo, em que a guerra foi utilizada de maneira tal a 
empreender novas conquistas territoriais e políticas, o mesmo ocorreu, como vimos na aula 
passada, com o cristianismo. Entretanto, tal qual houve investimento em ciências e 
conhecimento por parte do islamismo, também ocorreu tal investimento por parte do 
cristianismo. 
 
Evidentemente que, em ambos os casos, apenas eram validados aqueles 
conhecimentos congêneres à crença da religião em questão. Ou seja, os investimentos 
religiosos no conhecimento só valiam para aqueles que não fossem contrários à fé 
professada pela religião em questão. Essa relação, entre uma forma de mecenato e 
clientelismo, muito presente até os dias atuais, pode ser lida em seu limite como danosa 
para o desenvolvimento do conhecimento; isso porque, quando ocorre movimentos 
persecutórios e censores aos divergentes, aos que pensam diferentes, práticas 
obscurantistas ditatoriais podem ser normalizadas. Taí a importância de as ciências serem 
livres o suficiente para que o conhecimento possa ser desenvolvimento. 
No caso do legado cristão, como muitos clérigos (padres, bispos, sacerdotes etc) 
eram analfabetos, a igreja se viu na necessidade de realizar investimentos na educação de 
seus lideres religiosos, fosse em escolas ou universidades. Tanto que, no Concílio de 
Roma, em 465 d.C., proibiu-se a ordenação de pessoas analfabetas. Logo, os monastérios 
começam a se incumbir da responsabilidade em alfabetizar seus religiosos para que seus 
ordenamentos fossem realizados. Por isso que muitos mosteiros passaram a ser 
associados não apenas a lugares de fé como também a lugares de estudos. 
 
 
25 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
5.1. Escolas no período medieval 
A preocupação principal dos mosteiros, enquanto ‘escolas de fé’ era com a educação 
moral dos religiosos ali presentes. A questão da alfabetização passou a ser consequência 
dos estudos religiosos e morais ali existentes. 
Quatro escolas se fizeram presentes no período medieval, são elas6: 
Escolas paroquiais 
As primeiras remontam ao século II. Limitavam-se à formação 
de eclesiásticos, sendo o ensino ministrado por qualquer 
sacerdote encarregado de uma paróquia, que recebia em sua 
própria casa os jovens rapazes. À medida que a nova religião se 
desenvolvia, passava-se das casas privadas às primeiras igrejas 
nas quais o altar substitui a tribuna. O ensino era reduzido aos 
salmos, às lições das Escrituras, seguindo uma educação 
estritamente cristã. 
Escolas monásticas 
Visavam inicialmente, apenas à formação de futuros monges. 
Funcionando de início apenas em regime de internato, estas 
escolas abriram mais tarde escolas externas com o propósito da 
formação de leigos cultos (filhos dos Reis e os servidores 
também). O programa de ensino era de início, muito elementar - 
aprender a ler, escrever, conhecer a bíblia (se possível de cor), 
canto e um pouco de aritmética – foi-se enriquecendo de forma 
a incluir o ensino do latim, gramática, retórica e dialética. 
Escolas palatinas 
Carlos Magno fundou ainda, junto da sua corte e no seu próprio 
palácio, a chamada Escola Palatina. Para apoio do seu plano de 
desenvolvimento escolar, Carlos Magno chamou o monge inglês 
Alcuíno. É sob a sua inspiração que, a partir do ano 787, foram 
emanados o decreto capitular para a organização das escolas. 
Estes incluíam as sete artes liberais, repartidas no trivium e no 
quadrivium. O trivium abraçava as disciplinas formais: 
gramática, retórica, dialéctica, esta última desenvolvendo-se, 
mais tarde, na filosofia; o quadrivium abraçava as disciplinas 
reais: aritmética, geometria, astronomia, música, e, mais tarde, 
a medicina. 
Escolas catedrais 
As escolas catedrais (escolas urbanas), saídas das antigas 
escolas monásticas (que alargaram o âmbito dos seus estudos), 
tomaram a dianteira em relação às escolas dos mosteiros. 
Instituídas no século XI por determinação do Concilio de Roma 
 
6 Disponíve l em ht tps: / /www.pedagogia.com.br/histor ia/medieval2.php acesso 15 mar. 
2023 
https://www.pedagogia.com.br/historia/medieval2.php26 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
(1079), passam, a partir do século XII (Concilio de Latrão, 1179), 
a ser mantidas através da criação de benefícios para a 
remuneração dos mestres, prosperando nesse mesmo século. A 
atividade intelectual abre-se ao exterior, ainda que de forma 
lenta, absorvendo elementos das culturas judaica, árabe e 
persa, redescobrindo os autores clássicos, como Aristóteles e, 
em menor escala, Platão. 
 
5.2. Surgimento das universidades7 
O aparecimento das universidades na Europa Cristã por volta dos séculos XII e XIII 
está entre os principais acontecimentos da Idade Média. As universidades da Idade Média 
tornaram-se as mais significativas instituições educacionais e intelectuais desde a época 
clássica, período em que se destacaram o liceu de Atenas e outras instituições notórias. O 
que caracterizou as universidades na Idade Média foi a forma de organização, bem como 
a liberdade para o estudo de temas diversos, universais, como o próprio nome sugere. 
 
Como criações eclesiásticas, isto é, que nasceram de iniciativa da Igreja Católica, as 
universidades, de certo modo, originaram-se como extensões dos colégios episcopais, nos 
quais os jovens estudantes aprendiam o domínio das sete artes liberais, que eram a base 
da educação da Idade Média. No entanto, as universidades só começaram a destacar-se 
como um sistema de educação e investigação mais complexo que os colégios episcopais 
por volta do século XIII. Inclusive, data desse século a carta encíclica Parens scientiarum, 
do Papa Gregório IX, que legitimou a universidade enquanto instituição eclesiástica. 
 
Data também do século XIII o triunfo do pensamento escolástico medieval, que 
permeava os estudos mais avançados das universidades em todas as suas áreas de 
investigação, desde o direito canônico e a medicina até à teologia, astronomia, lógica e 
retórica. A organização das universidades estava orientada pelo corpo eclesiástico. Sendo 
assim, seus fundamentos intelectuais, como obras fundamentais e os eixos programáticos 
de estudos, bem como seus professores, integravam a própria estrutura da Igreja. Como 
expõe a historiadora Regine Pernoud, em sua obra ‘Luz sobre a Idade Média’: 
 
7 Este texto foi extraído integralmente de FERNANDES, Cláudio. "Univers idades na Idade 
Média"; Brasi l Escola. Disponível em: 
ht tps: / /brasi lescola.uol.com.br/h istor ia/universidades -na-idade-media.htm. Acesso em 15 
de março de 2023. 
 
 
27 Islamismo E Cristianismo Medieval 
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[…] Criada pelo Papado, a Universidade tem um caráter inteiramente eclesiástico: 
os professores pertencem todos à Igreja, e as duas grandes ordens que ilustram, 
no século XIII, Franciscana e Dominicana, vão lá, em breve cobrir-se de glória, com 
um S. Boaventura e um S. Tomás de Aquino; os alunos, mesmo aqueles que não 
se destinam ao sacerdócio, são chamados clérigos, e alguns deles usam a tonsura 
– o que não quer dizer que aí apenas se ensine a teologia, uma vez que seu 
programa comporta todas as grandes disciplinas científicas e filosóficas, da 
gramática à dialética, passando pela música e pela geometria. (PERNOUD, 1996, 
p. 98) 
 
O graduando da universidade medieval era chamado de artista, remetendo à ideia 
de que quem domina as artes liberais. As primeiras universidades comumente citadas são 
as de Paris (França), Bolonha (Itália), Oxford e Cambridge (Inglaterra). A universidade de 
Paris destacou-se no século XIII pelos estudos avançados em teologia e artes, enquanto 
Bolonha, na mesma época, desenvolveu altos estudos em direito. 
 
O método de estudo e discussão escolástico, a disputatio, era o principal método 
empregado nos debates de estudos avançados nas universidades medievais. A Suma 
Teológica, escrita por São Tomás de Aquino, está completamente ancorada nesse método. 
Outros campos de estudo que se destacaram foram o da filosofia natural (geralmente 
ancorada na metafísica e na física de Aristóteles), da música e da astrologia. 
 
5.3. Cristianismo e ciência8 
A Igreja que desconsidera a ciência pratica péssima teologia, está afastada da mais 
autêntica tradição cristã e ofende diretamente o Criador. 
 
No que se refere à teologia, as mais antigas manifestações do pensamento teológico 
cristão já se colocam a favor de uma integração entre a fé e a razão. No século 2, Justino 
Mártir (100-165), por exemplo, afirmou que “tudo o que de verdade se disse pertence a nós, 
os cristãos” (Segunda Apologia, XIII). Com isso, ele quis dizer que os resultados da reflexão 
racional – venham de onde vierem – contribuem para aproximar o cristão do objetivo tão 
almejado de conhecer os mistérios da criação divina. 
 
8 O texto em questão fo i extraído parcialmente do Jornal da USP , d isponível em 
ht tps: / / jornal.usp.br/art igos/ cr ist ianismo-e-ciencia-da- integracao-entre-razao-e-fe-ao-
obscurant ismo/ acesso 15 mar. 2023 
https://jornal.usp.br/artigos/cristianismo-e-ciencia-da-integracao-entre-razao-e-fe-ao-obscurantismo/
https://jornal.usp.br/artigos/cristianismo-e-ciencia-da-integracao-entre-razao-e-fe-ao-obscurantismo/
 
 
28 Islamismo E Cristianismo Medieval 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
A profunda visão de Santo Agostinho (354-430) – o maior teólogo da Antiguidade 
cristã – sobre a colaboração entre fé e razão está resumida na famosa frase do Sermão 43: 
“Entende para que creias, crê para que entendas”. 
 
É certo que o cristianismo produziu também um pensador como Tertuliano (160-220), 
que via na razão um inimigo, combatia a filosofia grega e condenava as artes e os 
espetáculos. Mas essa concepção sempre foi minoritária ao longo da trajetória da Igreja – 
com exceção de alguns momentos na história –, e Tertuliano chegou a ser chamado 
de haereticus pelo maior teólogo medieval, Tomás de Aquino (1225-1274), justamente 
porque atribuía aos demônios e ao paganismo aquilo que, fundamentalmente, tem origem 
divina. 
 
Tomás de Aquino foi o teólogo que mais longe levou a reflexão sobre a conciliação 
entre a razão e a fé, que, para ele, jamais poderiam estar em contradição, uma vez que 
ambas são dádivas da graça de Deus. Ele afirma que a fé é um modo de conhecimento, 
mas inferior ao tipo de conhecimento que há na scientia, pois esta “conduz o intelecto ao 
um pela visão e intelecção dos primeiros princípios” (Suma Teológica, parte I, questão 12, 
artigo 13, ad 3, tradução de Jonathas Ramos de Castro). Surpreendentemente para nós 
hoje, quando ciência e teologia se distanciaram tanto, o conhecimento científico leva a 
Deus, de acordo com Tomás de Aquino. 
 
Diante das duas tendências radicais opostas com que se defrontou em sua época – 
o movimento bíblico das ordens mendicantes e a investigação puramente racional do 
mundo natural, impulsionada pelo aristotelismo então recém-redescoberto –, Tomás de 
Aquino não faz opção por uma dessas duas possibilidades extremas, mas “escolhe” ambas, 
pois “compreende e demonstra a união, ou ainda, a necessidade da associação do que 
aparentemente excluía uma à outra”, como afirma o filósofo alemão Josef Pieper (1904-
1997), um dos maiores especialistas em Tomás de Aquino do século 20, no capítulo 3 
de Thomas von Aquin. Leben und Werk. 
 
Essa teologia aberta à razão e à cultura orientou a formação de uma tradição que 
deu grandes contribuições à civilização ocidental. O monasticismo cristão, nascido no 
século 3 nos desertos do Egito, inicialmente como um movimento de protesto contra o 
“mundanismo” infiltrado nos círculos cristãos, em relativamente pouco tempo se modificou 
e se tornou o principal agente cultural do Ocidente, responsável pelo surgimento de alguns 
 
 
29 Islamismo E Cristianismo Medieval 
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dos maiores eruditos da história, como o teólogo, historiador, escritor e tradutorJerônimo 
(347-420). 
 
No século 6, Cassiodoro (496-575) fundou o mosteiro de Vivarium, na atual região 
da Calábria, na Itália, que introduziu uma novidade entre os monges – o estudo e a cópia 
de obras clássicas, de autores cristãos e não cristãos. A novidade foi adotada pelos 
mosteiros beneditinos, que se espalharam por toda a Europa e consolidaram o trabalho de 
preservação dos textos antigos. Graças a esse movimento, as obras da Antiguidade grega 
e latina estão disponíveis hoje, como um dos principais legados dos monges copistas. Estes 
eram intelectualmente tão abertos que não colocaram restrições em sua atividade: 
copiaram desde os textos sagrados dos Evangelhos e o pensamento pré-cristão do filósofo 
grego Platão (427-347 antes de Cristo) até as obscenidades do dramaturgo romano Plauto 
(230-180 antes de Cristo). 
 
Embora não se conheça com clareza a origem do monasticismo cristão na Irlanda, 
o certo é que aquela ilha do mar do Norte – conhecida como insula sanctorum et 
doctorum (“ilha dos santos e doutores”) – se tornou um poderoso centro de cultura, que 
através de seus monges itinerantes irradiou o conhecimento para amplas regiões da 
Europa. Entre os longevos resultados da atuação desse centro está a obra do teólogo e 
historiador Beda (673-735), famoso por seu trabalho de cristianização dos povos anglo-
saxões, que em razão da sua vasta sabedoria e erudição recebeu o título de “Venerável”. 
 
Também originário do norte europeu era o monge e educador Alcuíno (735-804), 
admirado como o homem mais sábio da sua época. Conselheiro de Carlos Magno (742-
814), ele liderou a fundação de escolas por todo o reino dos francos e, com isso, se tornou 
um dos principais artífices do chamado “Renascimento Carolíngio”. 
 
No ramo protestante do cristianismo, surgido com a Reforma Religiosa do século 16, 
a postura em relação à ciência não foi diferente. Num ensaio publicado em 2018, o 
professor José Antônio Lucas Guimarães demonstrou que o teólogo francês João Calvino 
(1509-1564), um dos grandes líderes daquele movimento, estimulou uma orientação 
intelectual que está na base da ciência moderna – diferente do que supõem pensadores 
como Bertrand Russell (1872-1970) e Thomas Kuhn (1922-1996), para quem o reformador 
seria um adversário intransigente do pensamento científico. Já o pesquisador Vitor Albiero, 
numa tese de doutorado na área de História da Ciência defendida na Pontifícia 
 
 
30 Islamismo E Cristianismo Medieval 
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Universidade Católica (PUC) de São Paulo em 2016, revelou que a célebre Royal Society 
– uma das primeiras e mais influentes sociedades científicas da história, fundada em 
Londres no século 17 – teve como precursor o Office of Address for Communications, 
instituição criada por cristãos protestantes, entre eles o educador Jan Amos Comenius 
(1592-1670). 
 
É possível citar várias outras personalidades da história do cristianismo que 
associaram a teologia com a ciência e a cultura, como as monjas alemãs Rosvita de 
Gandersheim, que viveu no século 10 e foi responsável pela reintrodução do teatro no 
Ocidente, e Hildegarde von Bingen (1098-1179), poetisa, compositora e autora de tratados 
de teologia, medicina e botânica. 
 
Que os cristãos ofendem o Criador quando, em desacordo com seus antepassados, 
rejeitam a ciência é fácil demonstrar. O célebre prólogo do Evangelho de João, referindo-se 
a Cristo, afirma (a tradução é minha): “Todas as coisas surgiram através dele, e sem ele 
nem uma surgiu”. 
 
Ou seja, segundo o evangelista João, tudo o que existe tem origem divina. Isso inclui 
o mar, o céu, a terra, as pessoas, os animais, as plantas, o amor, a esperança, a alegria, o 
bom humor, as artes e a ciência. A capacidade dos cientistas de investigar o mundo natural 
– e, em consequência, criar medicamentos e produtos para uso da sociedade – pode ser 
vista, assim, como um ato da bondade de Deus, que tem por fim o benefício da humanidade. 
 
É claro que a ciência possui um caráter provisório, e está sujeita a ser “falseada” por 
novos dados surgidos com o aprofundamento das pesquisas, como explicou o filósofo 
austríaco Karl Popper (1902-1994). Mas algumas descobertas são definitivas, como a idade 
do Universo, calculada em pelo menos 13,7 bilhões de anos – e não em 6 mil anos –, a 
circunferência da Terra, a eficácia das vacinas e o fato de que remédios produzidos para 
combater protozoários são inócuos contra vírus. 
 
Atualmente, no Brasil, as Igrejas – com as exceções de praxe – parecem ter 
esquecido a mais elevada teologia cristã praticada ao longo dos séculos e desprezado a 
longa tradição de estudos e de apreço pela ciência, da mesma forma como ocorreu em 
determinados períodos da história, em que líderes religiosos se desvirtuaram desse 
caminho e promoveram aberrações como a condenação de Giordano Bruno (1548-1600), 
 
 
31 Islamismo E Cristianismo Medieval 
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a atuação do “grande inquisidor” Tomás de Torquemada (1420-1498) e o julgamento do 
matemático italiano Galileu Galilei (1564-1642). 
 
 
 
 
32 Islamismo E Cristianismo Medieval 
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6. ARTE E ARQUITETURA 
Objetivo 
Evidenciar o importante legado artístico-cultural deixado tanto pelos povos islâmicos 
como pelos povos cristãos, em suas artes e arquiteturas. 
 
Introdução 
Com o interesse em evidenciar dois aspectos bastante importantes e os legados 
deixados por ambas as religiões e povos, findaremos a disciplina apresentando a arte 
islâmica e a arte cristã, mais precisamente a arte bizantina. Ambas, com suas riquezas, 
peculiaridades e semelhanças, serão de grande importância para que possamos perceber 
como a influência entre povos é algo marcante nestas. 
 
Para isso, busco trazer junto a vocês, a importância da promoção do respeito, da 
solidariedade e ajuda mútua na construção de um mundo mais humano, possível e positivo. 
Não obstante, farei este exercício a partir das artes. Pois estas, para além de suas 
condições de contemplação, permitem-nos a criticidade, o olhar analítico e a construção de 
problemas outros não antes pensados. 
Por fim, agradeço, de antemão, toda atenção e troca de conhecimentos que tivemos 
ao longo desta disciplina e tenho certeza de que ela nos possibilitou maior amplitude 
intelectual, mesmo que, para isso, tivemos que nos deparar com problemas incômodos 
nestas duas religiões. 
Afinal, conforme pudemos perceber, ambos os povos e religiões têm mais 
similaridades do que dissemelhanças, mais pontos em comum do que divergentes, mais 
condições da construção de pontes que as unem do que muros que muros que as afastam. 
Acredito ainda que será justamente a partir da arte que teremos condições de 
compreendermos a importância do outro e de si. 
 
 
 
33 Islamismo E Cristianismo Medieval 
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6.1. Islâmica9 
6.1.1. A arte 
 A arte islâmica engloba a literatura, a música, a dança, o teatro e as artes visuais de 
uma ampla população do Oriente Médio que adotou o Islamismo. Nela percebe-se a 
influência das civilizações pré-islâmicas, dos povos conquistados e de dinastias ligadas à 
questão religiosa. Foi assim que as cúpulas bizantinas coroaram suas mesquitas, e os 
esplêndidos tapetes persas, combinados com os coloridos mosaicos, as decoraram. Por 
todos os domínios islâmicos difundiu-se uma produção artística marcada pelas ideias 
religiosas, imateriais – os conceitos de infinito, eternidade, menosprezo da vida material, 
desejo de transcendência – e pelas concepções do Profeta. 
Uma rica diversidade de estilos e o uso de técnicas eficazes marcaram as artes 
visuais islâmicas, essencialmente decorativas e coloridas. Os arabescos eram utilizados 
tanto na arquitetura quanto na decoração de objetos. A produção de cerâmicas, vidros, a 
ilustraçãode manuscritos e o artesanato de madeira ou metal também foram muito 
importantes na cultura islâmica. A cerâmica é uma das primeiras artes decorativas 
muçulmanas, principalmente a decoração da louça de barro em esmalte, uma das mais 
admiráveis contribuições do Islã para esta arte. A ilustração de manuscritos é igualmente 
muito reverenciada nos países árabes, especialmente a pintura em miniatura. Da mesma 
forma a caligrafia teve seu papel de destaque como motivo decorativo, uma vez que a 
palavra escrita é considerada pelos muçulmanos como uma revelação divina. A pintura 
islâmica é expressa por meio de afrescos e miniaturas. Infelizmente, poucas pinturas 
sobreviveram ao tempo em bom estado. 
As artes visuais islâmicas estão geralmente desprovidas de expressões figurativas, 
constituídas em grande parte por elementos geométricos e arabescos – esmerados 
entrelaçamentos de figuras geométricas, folhas, plantas, homens e animais, elaborados à 
maneira árabe. Mas também é possível encontrar diversas expressões de imagens animais 
e humanas, que prevalecem especialmente em contextos profanos. O que o Alcorão 
condena, na verdade, é o culto de imagens. A partir do século IX, porém, tem início uma 
fase de censura das formas figuradas, atribuída por alguns pesquisadores à influência de 
 
9 Este texto foi integra lmente extraído de 
ht tps: / /www.est i losarquitetonicos.com.br/arquitetura - islamica/ acesso 15 mar. 2023 
https://www.estilosarquitetonicos.com.br/arquitetura-islamica/
 
 
34 Islamismo E Cristianismo Medieval 
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judeus convertidos ao islamismo. Deste momento em diante, representar um ser concreto 
é usurpar o poder divino, que detém o monopólio da criação. 
Os tapetes e tecidos desempenharam um papel essencial na cultura islâmica. Na 
época em que prevaleceu o nomadismo, as tendas eram decoradas com estas peças. À 
medida que os muçulmanos se tornaram sedentários, sedas, brocados e tapetes ganharam 
status de decoração em palácios e castelos, bem como nas mesquitas, nas quais os crentes 
ajoelham-se sobre tapetes, pois não devem ficar em contato com a terra. Arquitetura 
Islâmica 
 
6.1.2. arquitetura 
Se expressa através da construção de mesquitas, madrasas (escolas religiosas), 
locais de retiro espiritual e túmulos, aqui chamados de mausoléus. As técnicas variam de 
acordo com as fases históricas e os territórios onde se desenvolvem. No centro do mundo 
árabe as mesquitas seguem todas o mesmo padrão: um átrio e uma sala para orações, 
mas possuem decoração e formas diversificadas. No Irã utilizam-se amplamente o tijolo e 
o que se chama de iwans, formas específicas, e o arco persa. Já na Península Ibérica há 
uma opção por uma arquitetura colorida, enquanto na Turquia a influência bizantina 
manifesta-se através da presença de grandes cúpulas nas mesquitas. 
As mesquitas (locais de oração) foram 
construídas entre os séculos VI e VIII, 
seguindo o modelo da casa de Maomé em 
Medina: uma planta quadrangular, com um 
pátio voltado para o sul e duas galerias com 
teto de palha e colunas de tronco de palmeira. 
 
A área de oração era coberta, enquanto no pátio estavam as fontes para as abluções. 
A casa de Maomé era local de reuniões para oração, centro político, hospital e refúgio para 
os mais pobres. Essas funções foram herdadas por mesquitas e alguns edifícios públicos. 
No entanto, a arquitetura sagrada não manteve a simplicidade e a rusticidade dos 
materiais da casa do profeta, sendo exemplo disso as obras dos primeiros califas: Basora 
e Kufa, no Iraque, a Cúpula da Rocha (ou do Rochedo), em Jerusalém, e a Grande Mesquita 
de Damasco. Contudo, persistiu a preocupação com a preservação de certas formas 
geométricas, como o quadrado e o cubo. O geômetra era tão importante quanto o arquiteto. 
 
 
35 Islamismo E Cristianismo Medieval 
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Na realidade, era ele quem realmente projetava o edifício, enquanto o arquiteto controlava 
sua realização. Tudo era estruturado a partir da geometria, já que até a língua árabe é 
numérica e os edifícios e seus ornamentos eram a tradução arquitetônica das fórmulas e 
números de caráter místico, segundo sua doutrina. 
 
A cúpula ou teto de pendentes, herdado da cultura 
bizantina, permitiu cobrir o quadrado com um 
círculo, sendo um dos sistemas mais utilizados na 
construção de mesquitas, embora não tenha 
existido um modelo comum. As numerosas 
variações locais, devido a grande extensão dessa 
cultura, fizeram que suas manifestações se 
aos estilos locais mantendo a distribuição dos ambientes, mas nem sempre conservando 
sua forma. As mesquitas transferiram depois parte de suas funções aos edifícios públicos. 
 
As residências dos emires constituíram uma arquitetura de segunda classe em 
relação às mesquitas. Seus palácios eram planejados num estilo semelhante, pensados 
como um microcosmo e constituíam o hábitat privativo do governante. Exemplo disso é o 
Alhambra, em Granada. De planta quadrangular e cercado de muralhas sólidas, o palácio 
tinha aspecto de fortaleza, embora se comunicasse com a mesquita por meio de pátios e 
jardins. O aposento mais importante era o diwan ou sala do trono. 
Outra das construções mais originais e representativas do Islã foi o minarete, uma 
espécie de torre cilíndrica ou octogonal situada no exterior da mesquita a uma altura 
significativa, para que a voz do almuadem ou muezim pudesse chegar até todos os fiéis, 
convidando-os à oração. Sua posição no núcleo urbano era sempre privilegiada. A Giralda, 
em Sevilha, é um exemplo dos minaretes da arte andaluza. 
Outras construções representativas 
foram os mausoléus ou monumentos 
funerários, semelhantes às mesquitas na 
forma, mas destinados a abrigar os restos 
mortais de santos, mártires e até mesmo 
um grande amor, como é o caso do Taj 
Mahal, na Índia. 
 
 
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Erguido pelo imperador Shah Jahan, foi construído em memória de sua esposa 
favorita, Aryumand Banu Begam, a quem chamava de Mumtaz Mahal (A joia do palácio). 
Ela morreu após dar à luz o 14º filho, sendo o Taj Mahal construído sobre seu túmulo, junto 
ao rio Yamuna. 
6.2. Bizantina10 
O cristianismo não foi a única preocupação para o Império Romano nos primeiros 
séculos de nossa era. Por volta do século IV, começou a invasão dos povos bárbaros e que 
levou Constantino a transferir a capital do império para Bizâncio, cidade grega, depois 
batizada por Constantinopla, no ano 330. A mudança da capital foi um golpe de misericórdia 
para a já enfraquecida Roma, facilitou a formação dos Reinos Bárbaros e possibilitou o 
aparecimento da arte bizantina. 
 
Esta zona oriental, que já apresentava características diferentes durante o período 
paleocristão, evoluciona de maneira independente desde os finais do século V. Graças à 
localização de Constantinopla, a arte bizantina sofreu influências de Roma, Grécia e do 
Oriente. A união de alguns elementos dessas culturas formou um estilo novo, rico tanto na 
técnica como na cor. 
 
A arte bizantina está dirigida pela religião. Ao clero cabia, além das suas funções, 
organizar também as artes, tornando os artistas meros executores. O regime era teocrático 
e o imperador possuía poderes administrativos e espirituais, ele era o representante de 
Deus, tanto que se convencionou representá-lo com uma auréola sobre a cabeça, e, não 
raro encontrar um mosaico onde esteja juntamente com a esposa, ladeando a Virgem Maria 
e o Menino Jesus. 
 
6.2.1. A Arquitetura 
Na evolução da arquitetura e da arte bizantina podem-se distinguir três períodos, 
cada um dos quais inclui uma “idade de ouro”. O primeiro é propriamente uma continuação 
do paleocristão e tem seu momento mais representativo no reinado do imperador Justiniano 
(527-565). A partirda luta iconoclasta na primeira metade do século VIII quebra-se a 
continuidade, e com o restabelecimento do culto às imagens pelo concílio de 842 passa-se 
 
10 Este texto foi integralmente extraído de 
ht tps: / /www.histor iadasartes.com/nomundo/arte -medieval/arte-bizant ina/ acesso 15 mar. 
2023 
https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-medieval/arte-bizantina/
 
 
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a uma segunda “idade de ouro”, que é a mais acentuadamente bizantina. A terceira virá 
depois da tomada de Constantinopla pelos cruzados em 1204, e tem grande interesse pela 
difusão das formas bizantinas até o Norte (Rússia) e Ocidente. A conquista de 
Constantinopla pelos turcos em 1453 porá ponto final a uma arte já em crise. 
 
Com o imperador Justianiano 
empreenderam-se as mais famosas 
construções da arquitetura bizantina. As 
paredes são de tijolo, por vezes revestido 
exteriormente por lajes de pedra com 
relevos, e interiormente ocultam a sua 
pobreza com a policroma decoração de 
mosaico, mais tarde substituído pela pintura. 
 
 
Como suporte emprega-se a coluna, com dois tipos de capitéis: o primeiro derivado 
do coríntio caracteriza-se pelas suas folhas espinhosas de acanto, distribuídas em duas 
filas de oito, e nele conseguem-se efeitos profundos de claro-escuro ao empregar-se tanto 
o cinzel como o trépano; o segundo, mais simples, é denominado capitel impósito, que 
parece ter uma origem sassânida, em forma de tronco de cone revestido, cuja superfície se 
cobre nos edifícios mais ricos de uma decoração vegetal contínua e uniforme com cinzel e 
trépano em dois planos. Tende a desaparecer o ábaco, substituído por um corpo em forma 
de tronco de pirâmide invertida (cimácio). Mas o mais característico deste período é o 
emprego da abóboda como cobertura. Os tipos de abóbodas mais utilizadas são as de 
berço e aresta e, fundamentalmente, a cúpula, cuja construção se vê facilitada pelo 
emprego do tijolo como material de construção. 
 
Há vários exemplos arquitetônicos bizantinos como a igreja dos Santos Sérgio e 
Baco, igreja de São Vital, em Ravena, Catedral Dourado em Antioquia, catedral de Bosra e 
a de São João de Esra, igreja de Santa Irene ou de Santa Paz (532), no entanto, 
destacamos uma obra-prima : a magnífica igreja de Santa Sofia. 
 
 
38 Islamismo E Cristianismo Medieval 
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A Igreja de Santa Sofia, dedicada a segunda 
pessoa da Santíssima Trindade – como 
Sabedoria Divina – foi construída entre 532 e 
537 pelos arquitetos Antêmio de Tralles e 
Isidoro de Mileto, sob vigilância direta de 
Justiniano. De planta retangular, é dominada 
pela grande cúpula central, de 31 m de 
diâmetro e 55 m de altura, sobre perxinas. 
A parte inferior do casquete da cúpula está perfurada por uma série de janelas que 
se situam entre os arcos de reforço dispostos radialmente, de forma que a impressionante 
luminosidade dos vãos anula o efeito visual dos maciços a parece que flutua no ar. Desta 
maneira, impõem-se uma estética baseada na valorização do espaço segundo o eixo 
longitudinal dos pés à cabeceira do templo. Do lado da abside e do átrio contrabalaçam-se 
as grandes forças da cúpula mediante duas grandes éxedras ou quartos de esfera que, por 
sua vez se equilibram com outras menores, e aos lados por dois grossos apoios unidos 
através de riquíssimas arcadas com colunas verde antigo, pórfiro vermelho e mármore 
branco. Tal método tornou a cúpula extremamente elevada, sugerindo, por associação à 
abóbada celeste, sentimentos de universalidade e poder absoluto. Para aligeirar o peso de 
tão imensa cobertura, construiu-se com ânforas de argila. Rodas, de reduzido peso 
específico, incrustadas umas nas outras formando círculos concêntricos. Poucos anos após 
sua construção, a majestosa cúpula desmoronou como consequência do terremoto, mas 
foi de novo levantada, com a mesma técnica e traçado, reforçando os apoios laterais, em 
558 sob a direção de Isidoro de Mileto. Ainda em 989, de novo danificada, foi preciso a 
intervenção de um arquiteto armênio. 
A surpreendente grandiosidade do espaço criado em Santa Sofia, como, em seu 
tempo, a riqueza cromática dos altares, mosaicos e materiais, nos quais a simbólica luz 
reverbera como dando razão à afirmação de que “o que é radiante vem de dentro”, 
justificam a exclamação de Justianiano ao vê-la acabada: “Glória a Deus que me julgou 
digno de executar esta obra! Venci-te Salomão!” 
Embora, a igreja tenha perdido a maior parte da decoração original de ouro e prata, 
mosaicos e afrescos, há uma beleza natural na sua magnificência espacial e nos jogos de 
sombra e luz, um claro-escuro admirável quando os raios de sol penetram e iluminam o seu 
interior. 
Na etapa da segunda “idade de ouro”, que se inicia a meados do século IX, mantém-
se o tipo de basílica com cúpula, mas predominam as de plano central e os modelos de 
 
 
39 Islamismo E Cristianismo Medieval 
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reduzidas dimensões. O tipo mais frequente é o de cruz grega inscrita num quadrado, com 
abóbodas de berço nos quatro braços da cruz. 
 
Em Veneza, onde se conserva o 
edifício mais belo e mais famoso deste 
período: a igreja de São Marcos, iniciada em 
1063 e terminada em 1095. Foi construída 
segundo o modelo da dos Santos Apóstolos 
de Constantinopla, com a novidade de 
acrescentar aos pés um amplo pórtico com 
várias cúpulas. 
 
 
No Norte da Rússia, onde tradicionalmente se empregava a madeira como material 
de construção, a influência bizantina fez-se notar nos edifícios em pedra e tijolo. O centro 
introdutor da mesma situa-se em Kiev, onde se fundiram as influências bizantina, armênia 
e georgiana. 
 
A este respeito, é significativa a semelhança da planta da igreja de Santa Sofia de 
Kiev (1017-73) com a igreja de Movk, no Cáucaso: quadrada, com cinco naves que 
terminam em cinco absides, sem equivalente entre os edifícios da capital bizantina. 
 
Mais ao Norte, em Novgorod, nota-se mais a influência bizantina, ao mesmo tempo 
em que não se pode ignorar a exercida pelo românico germânico, especialmente na região 
de Vladimir. Estes aspectos são essenciais para a compreensão da originalidade da arte 
russa. Temos como exemplos, de meados do século XI, a Santa Sofia de Novgorod e a 
catedral de Assunção de Vladimir. 
 
As novidades da terceira “idade de ouro” dizem respeito fundamentalmente à 
decoração. O tipo de planta mais difundido continua a ser o de cruz grega. O mais 
característico, no entanto, é a acentuação das diferenças provinciais e, em especial, a 
perda por parte de Constantinopla de seu papel de dirigente. Dentre outras, podemos citar 
as igrejas búlgaras de Preslav, Pliska e Ochrida, as romenas de Voronet, Dealu e Suceara, 
na Rússia, a catedral do Trânsito da Virgem, de 1326 e a da Natividade. 
 
 
 
40 Islamismo E Cristianismo Medieval 
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A arte bizantina não se extinguiu em 1453, pois, durante a segunda metade do século 
XV e boa parte do século XVI, a arte daquelas regiões onde ainda florescia a ortodoxia 
grega permaneceu dentro da arte bizantina. E essa arte extravasou em muito os limites 
territoriais do império, penetrando, por exemplo, nos países eslavos. 
 
6.2.2. A pintura 
A tábua com os Santos Sérgio e Baco que, procedente do convento de Santa 
Catarina no Sinaí, se conserva agora no museu de Kiev, é um dos exemplos mais felizes 
chegados até nós. Praticamente indiferenciados, aparecem de frente como imagens 
simétricas instaladas num espaço sem atmosfera. 
 
 
De qualidade pictórico superior, também mais 
humano, é o São Pedro do mesmo convento 
bastante detalhado. Nele, as tendências ao 
esquematismo e a linearidade do ícone de Kiev 
veem-se temperadas por uma realização 
infinitamente mais

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