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GINEAD Comportamento e Personalidade Unidade 1 GINEAD METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO Unidade 1 - Ciência e conhecimento científi co Unidade 1 Ciência e conhecimento científi co Unidade 1 Ciência e conhecimento científi co Todos os direitos reservados. Prezado(a) aluno(a), este material de estudo é para seu uso pessoal, sendo vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, venda, compartilhamento e distribuição. 3 GINEAD Habilidades • Compreender a importância da produção científica para a ciência. Descritores de desempenho • Conhecer conceito, classificação e divisão da ciência. • Identificar os diferentes tipos de conhecimento. • Compreender as relações entre cada um desses modelos de conhe- cimento e a produção científica. 4 GINEAD Apresentação da unidade O objetivo desta unidade é familiarizá-lo com os diversos tipos de conhecimentos que circulam na sociedade. Os conhecimentos, por apresentarem diferentes naturezas, não podem ser classificados em melhores ou piores, o que existe é uma adequação para o meio em que eles circulam. Você não pode utilizar uma linguagem informal, ou seja, aquela que você utiliza em um ambiente descontraído, para apresentar um trabalho científico, pois na Academia o interlocutor é outro, e é onde circula o conhecimento social. Você deve estar se perguntando: como saber utilizar as linguagens de cada meio de circulação social? É justamente sobre isso que vamos tratar. Veremos os diversos tipos de conhecimentos que a humanidade acumulou e suas características. 1.1 Conceito de ciência Inicialmente, vamos contextualizar o cenário em que os procedimentos científicos nasceram. Podemos remontar as origens do pensamento científico até a Grécia Antiga, no entanto, a ciência, tal como a entendemos hoje, só vai adquirir seus contornos durante o Renascimento. Mas, a ciência renascentista era uma ciência voltada para os fatos naturais, assim, articular ciência com sociedade é algo bem recente. Até o século XIX, a Filosofia era a disciplina que buscava entender as questões naturais, sociais e humanas, mas ela não conseguia, por si só, explicar alguns problemas como miséria, desigualdade social, conflitos de classe etc. Os pesquisadores dessa época não possuíam instrumentais metodológicos para abordar tais assuntos cientificamente. Cabe destacar que a evolução humana teve significativa contribuição do método construído pelos pensadores desde o século XV, passando por René Descartes, Francis Bacon e Galileu Galilei, buscando o conhecimento das ciências naturais, até o século XIX com Comte e Durkheim. Esses renomados pensadores dedicaram suas vidas a explicar as aspirações sociais humanas por meio de métodos das ciências naturais para as sociais. Feita essa contextualização, seguimos nossos estudos com o seguinte questionamento de Labort (1988, p. 23): "o que é ciência?”. Ele mesmo fornece a resposta refletindo no sentido de que, quando o homem do paleolítico encontrou um mamute, percebeu imediatamente que não podia enfrentá-lo. Fugiu correndo e, na incoerência aterrorizada da corrida, caiu e feriu o joelho em um sílex. Compreendeu que o sílex era mais duro do que o joelho. Ora, o homem é o único animal que reuniu essas diversas experiências para formular uma hipótese de trabalho, uma hipótese que verificará experimentalmente. Essa foi, sem dúvida, uma atividade científica. 5 GINEAD Naturalmente, esse fato que o autor reporta como “ciência” não é exatamente essa ciência sobre a qual nos referimos hoje. Atenção Ciência é o conjunto de teorias que tendem a explicar uma determinada realidade e cujas conclusões podem ser repetidas. Assim, as disciplinas de Sociologia, História, Geografia etc. podem ser entendidas como ciência porque abrigam uma série de teorias que se propõem a explicar determinada realidade, seguindo dada metodologia e cujas conclusões podem ser generalizadas. A Metodologia Científica insere-se nesse contexto: também é uma ciência, não por possuir em seu título a palavra “científica”, mas porque engloba várias teorias e possui um sistema próprio de proceder (metodologia), cujas conclusões podem ser generalizadas e aplicadas em outras ciências e, também, em sua vida. Figura 1.1: Metodologia Científica Fonte: Plataforma Deduca (2018). Evidentemente que o homem paleolítico não tinha consciência do que estava fazendo: ele realizava suas ações seguindo seus instintos para sobreviver. No entanto, no momento em que age e começa a pensar no “porquê” faz algo, esse homem ancestral passa a elaborar teorias: passa, portanto, a construir ciência. 6 GINEAD Figura 1.2: O salto do conhecimento Fonte: Plataforma Deduca (2018). Reflita Teoria é toda lei, valor, fundamento e condicionantes que um pesquisador elabora para explicar um fenômeno em particular. É por meio dessa e de outras regras, capazes de explicar determinado fenômeno social ou natural, que se constitui uma ciência. Então, podemos entender que a teoria é um tipo de engrenagem capaz de articular relações do cotidiano abstratamente, ou seja, é a teoria que retira da realidade o objeto e o transforma em representação. As ciências podem ser divididas por áreas, é o que veremos a seguir. 1.2 Classificação e divisão de ciência Segundo Mattar (2014), as ciências são classificadas, pelo menos, a partir de seus aspectos básicos e nos seus métodos científicos, porém, esta não é uma atividade simples. Grosso modo, as ciências podem ser divididas em exatas, biológicas e humanas. Vejamos algumas características de cada uma. • Ciências exatas: são todas aquelas que têm a Matemática como funda- mento. Assim, a Matemática, a Física, a Astronomia, as ciências da compu- tação e as engenharias podem ser classificadas como exatas. 7 GINEAD • Ciências biológicas: são aquelas que têm como base o estudo dos seres vivos em seus aspectos biológicos. São exemplos de biológicas a Medici- na, a Odontologia, a Educação Física, a Agronomia, a Fisioterapia e a Fo- noaudiologia. • Ciências humanas: desenvolvem, em seus estudos, um ótica sociológica do ser humano. A Filosofia, a Sociologia, as Letras, a Pedagogia, a Admi- nistração, a Contabilidade e o Direito são exemplos de cursos na área de ciências humanas. Vejamos, a seguir, um pouco mais sobre o conceito de conhecimento. 1.3 Considerações sobre o conhecimento Você já parou para tentar definir o que é conhecimento? Pode até pensar que é simples e estar dizendo para si mesmo que conhecimento é tudo aquilo que alguém sabe. Entretanto, definir o que é conhecimento é uma tarefa muito complexa. Primeiramente, pode-se dizer que o conhecimento transita por diferentes áreas e espaços de aprendizagem, sendo que: Conhecer é atividade especificamente humana. Ultrapassa o mero 'dar-se conta de', e sig- nifica a apreensão, a interpretação. Conhecer supõe a presença de sujeitos; um objeto que suscita sua atenção compreensiva; o uso de instrumentos de apreensão; um trabalho de debruçar-se sobre. Como fruto desse trabalho, ao conhecer, cria-se uma representação do conhecido - que já não é mais o objeto, mas uma construção do sujeito. O conhecimento produz, assim, modelos de apreensão - que por sua vez vão instruir conhecimentos futu- ros. (FRANÇA et al., 2011, p. 140). Em segundo lugar, é importante entender que o conhecimento não é, e nem pode ser, somente individual. Diz-se isso porque ninguém sabe tudo sobre determinado assunto. Cada um sabe um pouco sobre algo, e esse pouco individual se junta para formar um conhecimento ainda maior. O conhecimento que a sociedade tem hoje dos diversos setores que a formam foi algo construído com o tempo. Lembre-se de que nosso antepassado pré-histórico foi desenvolvendo as tecnologias aos poucos, pois, no início, nem o fogo ele sabia acender. Este foi um dos primeiros conhecimentos fundamentais para o desenvolvimento da humanidade. Nessecontexto, hoje, a humanidade domina uma gama tão grande de conhecimento que estes foram sendo divididos em setores. Veja que o conhecimento de um padre ou de um pastor é totalmente diferente do conhecimento de um médico. Para curar uma 8 GINEAD doença, por exemplo, o médico vai pedir exames, receitar uma medicação, já o padre ou o pastor pode realizar uma oração em benefício da cura do doente. Qual deles é o melhor conhecimento? Nenhum, pois não há juízo de valor para isso. Nos dois casos, pressupõe-se que tanto o médico quanto o pastor ou o padre sejam estudiosos de suas áreas de conhecimento. O diferencial entre uma área e outra é a linguagem e a metodologia aplicadas por quem constrói o conhecimento. Assim, quando o estudioso vai a fundo em seus estudos, ele pode ser considerado um pesquisador. Figura 1.3: Pesquisador Fonte: Plataforma Deduca (2018). Mas o que faz o pesquisador? Se você respondeu “pesquisa”, tem toda a razão, porém, agora cabe outra pergunta: como e o que se pesquisa? Perceba, portanto, que para esta disciplina o mais importante são as perguntas que fazemos para desvendar determinados mistérios. Isto porque esses questionamentos constituem a base das atividades do pesquisador e percorrerão toda a sua linha de investigação. A isto chamamos de Método, e às suas respostas chamamos de Conhecimento Científico. Além disso, esse conhecimento produzido, a partir das respostas alcançadas pelas perguntas, conforme observam França et al. (2011), surge para o pesquisador como representações da realidade. É um conhecimento construído sobre um conhecimento anterior, ampliando os horizontes dos saberes e produzindo novas perguntas que culminarão em novos conhecimentos. Diante desse contexto, observe que a construção do conhecimento, seja para entender a regra de um jogo desportivo ou uma complexa organização social, ocorre a partir da inquietude, curiosidade e proatividade de quem investiga. Curiosidade Você sabia que o conhecimento é resultado das dúvidas daquele que estuda determinado assunto? 9 GINEAD Sendo assim, o conhecimento aparece como: [...] a abertura para o mundo, a cristalização (ou enquadramento) do mundo. Conhecer significa voltar-se para a realidade, deixar falar o nosso objeto; mas conhecer significa também apreender o mundo através de esquemas já conhecidos, identificar no novo a permanência de algo já existente ou reconhecível. O predomínio de uma ou outra dessas tendências tem efeitos negativos, e é através de seu equilíbrio que se pode alcançar o co- nhecimento ao mesmo tempo atento ao novo e enriquecido pelas experiências cognitivas anteriores. (FRANÇA et al., 2011, p. 43). Perceba, portanto, que em todos os tempos históricos a humanidade sempre construiu conhecimento, seja de uma forma ou de outra, como colocam Bastos e Keller (2000, p. 54): A história humana é a história das lutas pelo conhecimento da natureza para interpretá-la e para dominá-la. Cada geração recebe um mundo interpretado por gerações anteriores. Esta história está constituída por interpretações místicas, proféticas, filosóficas, cientí- ficas, enfim, por ideologias. Cada indivíduo que vem ao mundo já o encontra pensado, pronto: regras morais estabelecidas, sociedade organizada, religiões estruturadas, leis co- dificadas, classificações preparadas. No entanto, tal estruturação do mundo não justifica a alguém se sentir dispensado de repensar este mundo, porque caso contrário tem-se o lugar comum, a mediocridade e, o que é pior, a alienação. Cervo e Bervian (2010) lembram que, por meio do conhecimento, o homem entra em várias áreas da realidade, porém, é preciso ressaltar que a própria realidade apresenta natureza diferenciada. Por isso, o conhecimento humano foi classificado em níveis, ou tipos. São eles: o senso comum, o conhecimento teológico, o conhecimento artístico, o conhecimento filosófico e o conhecimento científico. Se você se tornar um estudioso da área e for aprofundar seus conhecimentos para além do que for apresentado aqui, verá que pode haver modificações na classificação dos níveis de conhecimento. Mattar (2014) comenta que a divisão tradicional dos níveis de conhecimento mostra-se a partir de um exame mais apurado e muito frágil, pois o conhecimento artistístico também pode ser um nível de conhecimento, ao passo que o conhecimento mitológico pode ser agregado ao conhecimento teológico. Neste material, adotamos a abordagem proposta por Mezzaroba e Monteiro (2017), Cervo e Bervian (2010) e Lakatos e Marconi (2009), que não apresentam o conhecimento artístico, mas o conhecimento mitológico. 10 GINEAD Figura 1.4: A arte como conhecimento Fonte: Plataforma Deduca (2018). Veja, a seguir, os tipos de conhecimento e suas características. 1.3.1 O senso comum O senso comum é um tipo de conhecimento que recebe vários nomes, como: bom senso, conhecimento popular, conhecimento empírico, conhecimento espontâneo e conhecimento vulgar. Você já deve ter ouvido coisas do tipo: não passe debaixo da escada porque dá azar; mulher que teve filho só lava o cabelo depois do resguardo. Enfim, você pode ter ouvido essas coisas e muito mais, mas já leu algum estudo científico comprovando que passar por debaixo da escada dá azar? Ou que lavar o cabelo depois de ter um bebê pode levar a mãe à morte? Certamente não, pois esses conhecimentos não têm fundamentos científicos, são coisas que as pessoas falam. Porém fique atento, pois, muitas vezes, o senso comum pode estar certo. Certamente, durante sua infância, alguém avisou você para não colocar o dedo na tomada elétrica, pois esta dá choque. É muito provável que tenha sido alertado sobre isso, pois alguém já teve a experiência de levar um choque quando colocou o dedo ou um objeto na tomada. Daí vem o nome empirismo. Mezzaroba e Monteiro (2017) lembram que o senso comum é resultado de informações trocadas entre as pessoas com o passar do tempo; são conhecimentos que passam por gerações, sendo adaptados e assimilados pela cultura popular. Esse conhecimento é acessível a qualquer pessoa, pois o indivíduo não precisa ser especialista no assunto para repassar esse tipo de conhecimento. 11 GINEAD No entanto, a fragilidade desse tipo de conhecimento consiste no fato de ele ser destituído de teor crítico. Simplesmente é aceito do jeito que é enunciado. Lembre-se de que o conhecimento desse tipo pode gerar preconceitos ou ser transformado em verdades absolutas. Essa forma de construção do conhecimento não é científica, não é filosófica, e tem a particularidade de, muitas vezes, estar isenta de argumentações. O senso comum atende às necessidades imediatas da sociedade, e todos nós possuímos conhecimentos de senso comum. Quais são os seus? É importante destacar que os conhecimentos de senso comum são usados, também, para resolver problemas do cotidiano. Contudo, trata-se de um conhecimento limitado, posto que "[...] não é sistemático, nem eficiente, e não permite identificar conhecimentos complexos ou relações abstratas" (GRESSLER, 2003, p. 27). Para Lakatos e Marconi (2009, p. 18, grifo nosso) o senso comum "[...] não se distingue do conhecimento científico nem pela veracidade, nem pela natureza do objeto conhecido: o que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do 'conhecer’". Todavia, recebe pejorativamente a denominação de conhecimento vulgar ou popular. Para Petrin (2014), senso comum é: [...] aquele tipo de conhecimento que se estende a todos os indivíduos e vem, inclusive, sem que percebamos, como uma herança genética de geração em geração. Isso é usa- do diariamente mesmo que a gente não se dê conta, em atividades comuns como por exemplo o uso das ervas para confecção de chás e cura de doenças. Nós simplesmente confiamos, mesmo sem nos perguntar porque funcionam, apenas acreditando em tudo que ouvimos a respeito, principalmente dos mais velhos. (PETRIN, 2014, s.p.). O senso comum também é capazde produzir aquilo que as ciências chamam de dogmas. Mezzaroba e Monteiro (2017) definem dogmas como algo que se aceita como verdade, sem a presença de questionamentos, e trazem como exemplo de dogma as ações dos terroristas islâmicos, que carregam bombas e sacrificam sua vida para matar pessoas que não aderem à sua religião. Portanto, o modo de se combater o dogmatismo é a atitude crítica. Conversar, debater, pesquisar sobre ideologias e crenças é um modo salutar de combater as intolerâncias que o dogma pode acarretar. 12 GINEAD Figura 1.5: Racismo como dogma Fonte: Plataforma Deduca (2018). Vejamos agora outro nível de conhecimento: o mitológico. 1.3.2 Conhecimento mitológico O conhecimento mitológico também é conhecido como conhecimento mítico, e está relacionado com a palavra mito. Certamente, você já deve ter ouvido algum mito. As civilizações antigas, como os egípcios, os gregos e os romanos, utilizavam muito esse recurso. Mesmo os indígenas têm essa cultura dos mitos. Mezzaroba e Monteiro (2017) lembram que o conhecimento mítico desempenhava na Antiguidade o mesmo papel da ciência, da Teologia e da Filosofia, até que essas áreas se estruturaram e se tornaram campos de estudo. Um exemplo de mito é a explicação do nascimento do sol. Acreditavam os romanos que, todo dia, o deus Apolo atravessava o céu com o sol em sua carruagem. Nos dias nublados ou chuvosos, Apolo estava ocupado fazendo outras coisas, como relatou Pousadoux (1998). Veja o que Mezzaroba e Monteiro (2017, p. 27) falam sobre o conhecimento mitológico: Você, com certeza, já pôde perceber que o conhecimento mítico é um modo lúdico, ingê- nuo, fantasioso, anterior a toda reflexão, e não crítico de buscar explicações para fatos desconhecidos pelo homem. Isso é assim porque o mito se apresenta como uma verdade instituída, que dispensa a apresentação de provas para ser aceito. 13 GINEAD O conhecimento mitológico aproxima-se muito do conhecimento teológico, que será visto na sequência. Além disso, alguns autores não os separam, pois tratam os mitos e religiões como se tivessem a mesma origem. O mito também está relacionado com os personagens de histórias, que salvam a humanidade de algum mal. Mezzaroba e Monteiro (2017) alertam que um mito pode ser criado. Veja, por exemplo, o que Hitler significou para a história da Alemanha: o “salvador” daquela pátria. Quem estudou o mínimo de História sabe o que essa figura causou de males para a Europa na Segunda Guerra Mundial. Por esse motivo, é preciso estar atento, mesmo hoje em dia, para que os mitos criados pela mídia não confundam nosso senso crítico. Perceba também a distância que existe entre o conhecimento mítico e o conhecimento científico, afinal, o segundo é racional e trabalha com aquilo que pode ser experimentado, discutido e comprovado. Vamos dar sequência ao nosso estudo sobre os níveis do conhecimento, agora enfatizando o conhecimento teológico. 1.3.3 Conhecimento teológico Esse tipo de conhecimento tem como fundamento a religião e a fé. O princípio que orienta esse conhecimento é o de que não é necessário ver para crer. Mezzaroba e Monteiro (2017) lembram que esse conhecimento pressupõe a existência de forças que estão além da capacidade de explicação do homem, são instâncias divinas e criadoras de tudo o que existe. O conhecimento religioso ou teológico parte do princípio de que as verdades tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em revelações da divindade, do sobrenatural. Ademais, o conhecimento religioso apoia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas e pode ser visto como: • valorativo: atribui o conceito de certo e de errado; • inspiracional: dadas pela divindade, e, por esse motivo, tais verdades são consideradas indiscutíveis; • infalível e exato: por ter origem divina; • não verificado: não pode ser comprovado e depende da aceitação de uma atitude de fé perante um conhecimento revelado.Vejamos, na sequência, uma explicação para o conhecimento filosófico. 14 GINEAD 1.3.4 Conhecimento filosófico Mattar (2014) argumenta que um dos grandes patrimônios da Filosofia é a sua própria história, que teve início na Grécia Antiga. De acordo com o autor, é a partir da Filosofia que nasce a própria ciência, logo, os dois níveis de conhecimento (filosófico e científico) relacionam-se pelo rigor, que se traduz pela presença do método e pela busca da verdade. Entretanto, a Filosofia encontra-se sempre à procura do que é mais geral, interessando- se pela formulação de uma concepção unificada e unificante do universo. Para tanto, procura responder às grandes indagações do espírito humano, buscando até leis mais universais que englobem e harmonizem as conclusões da ciência. O conhecimento filosófico pode ser caracterizado como: • valorativo: seu ponto de partida consiste em hipóteses filosóficas que ba- seiam-se na experiência, e não na experimentação; • não verificável: os enunciados das hipóteses filosóficas não podem ser confirmados nem refutados, eles são longamente discutidos; • racional: consiste em um conjunto de enunciados logicamente correlacio- nados; • sistemático: suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coe- rente da realidade estudada, em uma tentativa de compreendê-la em sua totalidade; • infalível e exato: suas hipóteses e postulados não são submetidos a expe- rimentações. Para Cervo e Bervian (2010), a principal tarefa da Filosofia é a reflexão sobre os fatos e problemas que cercam o ser humano, sempre na tentativa de compreender, problematizar, porém, com a intenção de resolvê-los. Na sequência, vamos estudar outro tipo de conhecimento muito importante para estudantes de todos os níveis de ensino. 1.3.5 Conhecimento científico Talvez os maiores pontos de convergência entre o conhecimento filosófico e o científico é a presença do método e a racionalidade, fato que a ciência herdou da Filosofia, visto que a primeira é posterior à segunda. Mezzaroba e Monteiro (2017, p. 42) descrevem que: 15 GINEAD O conhecimento científico propriamente dito é uma conquista tardia da humanidade. Foi entre os séculos XVI e XVII, com a revolução científica deflagrada por Copérnico, Bacon, Galileu, Descartes e outros pensadores, que a Ciência conquistou campo próprio de inves- tigação e de reflexão. Daquele momento em diante, ela passou a utilizar métodos próprios de pesquisa, separando-se, então, definitivamente do conhecimento filosófico. O desenvolvimento da ciência a partir do século XVI foi tão expressivo que o homem começou a estudar e entender profundamente os objetos, fatos e coisas existentes no mundo, de modo que ele se tornou capaz de prever acontecimentos e melhorar a vida da sociedade em diversos setores, tais como saúde, transporte e educação. Importante também compreender que o conhecimento sobre determinado assunto sempre pode ser revisitado, pois a tecnologia permite que novos fatos sejam descobertos. Na Biologia, por exemplo, os primeiros estudos sobre as células não apontaram a existência de organelas celulares. Com o advento de microscópios mais modernos, descobriu-se a existência das organelas celulares e a intrincada arquitetura dessas minúsculas estruturas. Podemos elencar algumas características do conhecimento científico: • factual: estuda ocorrências, fatos e tudo aquilo que é real; • sistemático: seu conjunto de saberes é organizado sistematicamente, for- mando um sistema de ideias (teoria), e não conhecimentos dispersos e desconexos; • verificável: as hipóteses que explicam os fenômenos podem ou não ser comprovadas; • falível: em virtude de não ser definitivo e estar em constante redescoberta. O conhecimento científico é largamente utilizado na faculdade, pois tudo que é apresentado para o estudante deve vir de fontes confiáveis. O conhecimento científico, portanto, pauta-se na reflexão crítica sobre determinadoobjeto, e suas conclusões são resultados de um processo que envolve: exploração e descoberta, hipóteses (ideias explicativas), análise pelos pares (outros pesquisadores) e conclusões (benefícios e resultados). 16 GINEAD Figura 1.6: O ciclo do conhecimento científico Fonte: Elaborada pelas autoras (2018). No item a seguir, veremos a relação do conhecimento científico com a vida acadêmica. 1.4 O conhecimento científico e as produções acadêmicas É com o conhecimento científico que você, aluno, vai lidar durante todo o seu percurso acadêmico. Durante o seu curso serão apresentadas as bases científicas que fundamentam sua futura profissão; também durante seus estudos, você será orientado no sentido de compreender e aplicar os métodos e técnicas de pesquisa da sua área, o que culminará com a escrita de artigos ou do seu Trabalho de Conclusão de Curso. Porém, o pensamento científico vai acompanhá-lo durante toda a sua vida profissional, pois é através do pensamento organizado, direcionado e lógico que você vai resolver os desafios que toda profissão apresenta. O caminho da pesquisa é extremamente organizado, e a própria comunidade científica trata de fazer essa organização através de normas e orientações para a escrita dos trabalhos acadêmicos e consequente exposição do conhecimento aprendido e desenvolvido. Findamos, neste momento, o estudo da primeira unidade. Vejamos, na sequência, uma síntese. 17 GINEAD Síntese Abordamos, nesta unidade, alguns conceitos importantes: • Estudamos o conceito de conhecimento. • Vimos que o conhecimento que a humanidade acumulou é tão grande que foi dividido em áreas. • Aprendemos que o conhecimento pode ser dividido em senso comum, mi- tológico, religioso, filosófico e científico, porém, se você pesquisar mais, poderá encontrar outras divisões. • Entendemos que na Academia também se estuda o conhecimento filosófi- co, mas o científico é amplamente utilizado nos cursos superiores. Saiba mais Consulte a obra “O que é ciência, afinal?”, de Alan Chalmers, publicado pela Editora Brasiliense. Vale a pena ler para entender um pouco mais sobre o assunto, acesse o link https://www.academia.edu/3792173/a_f_chalmers_o_que_e_ciencia_afinal https://www.academia.edu/3792173/a_f_chalmers_o_que_e_ciencia_afinal 18 GINEAD Referências BASTOS, C.; KELLER, V. Aprendendo a aprender: introdução à metodologia científica. Petrópolis: Vozes, 2000. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Makron Books do Brasil, 2010. FRANÇA, J. L. et al. Manual para normalização de publicações técnico-científicas. 8. ed. rev. e aum. Belo Horizonte: UFMG, 2011. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Metodologia do trabalho científico. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2009. MATTAR, J. Metodologia científica na era da informática. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. MEZZAROBA, O.; MONTEIRO, C. S. Manual de metodologia da pesquisa em direito. São Paulo: Saraiva, 2017. PETRIN, N. Conhecimento científico. São Paulo: Estudo Prático, 2014.
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