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Saúde Mental João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ Transtornos do humor: depressão unipolar e transtorno afetivo bipolar DEPRESSÃO Tristeza versus depressão • Tristeza faz parte da experiência normal, durante tempos de adversidade • O humor deprimido é um componente de muitas síndromes psiquiátricas e também encontrado em doenças físicas (Síndrome de Cushing, hipotireoidismo, câncer de cabeça de pâncreas) • Do ponto de vista clínico, a depressão é uma doença incapacitante e, diferente da tristeza, não pode ser controlada pelo paciente sozinho Síndrome depressiva: de acordo com a CID-10 e o DSM-5, estão agrupadas em alguns diagnósticos principais: • Episódio depressivo (CID-10 → F32): leve, moderado, grave com/sem sintomas psicóticos o Critérios diagnósticos (CID-10) ▪ Categoria A (mais importantes) → humor deprimido, perda de interesse e prazer (anedonia), energia reduzida e atividade diminuída ▪ Categoria B → concentração reduzida, autoestima e confiança reduzidas, ideias de culpa e indignidade, pensamentos pessimistas, ideias de automutilação, sono perturbado, diminuição do apetite ▪ Episódio depressivo leve → pelo menos dois A e pelo menos dois B ▪ Episódio depressivo moderado → pelo menos dois A e pelo menos três B ▪ Episódio depressivo grave: todos os três A e pelo menos quatro B ▪ De acordo com o DSM-5, os critérios A são somente humor deprimido e anedonia, sendo necessário pelo menos um → nem sempre a depressão cursa com humor deprimido (pode ser só anedonia com sintomas cognitivos) • Transtorno depressivo recorrente (quando a pessoa já teve pelo menos 3) • Transtorno depressivo persistente (distimia) • Depressão atípica • Episódio depressivo dentro do transtorno bipolar Características gerais da clínica • Humor deprimido o Não melhora em circunstância em que sentimentos comuns de tristeza seriam aliviados o Os pacientes às vezes falam de uma nuvem negra em todas as atividades mentais. Alguns podem esconder essa mudança de humor, pelo menos por um curto período. o Na maior parte das vezes (depressão típica), o humor é pior no momento em que se acorda, tendendo a melhorar ao longo do dia → variação diurna do humor • Cognição depressiva o São os pensamentos negativos, que muitas vezes têm a ver com inutilidade, pessimismo e culpa. • Anedonia o Impossibilidade de sentir prazer, mesmo com coisas em que antes se conseguia • Energia reduzida Saúde Mental João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ • Bradipsiquismo • Sintomas biológicos (melancólicos/vegetativos) o Distúrbios do sono (geralmente insônia terminal/despertar precoce → e quanto mais cedo se acorda, parece que o sofrimento aumenta) o Perda de apetite e de peso o Sintomas físicos (constipação, perda de libido, amenorreia) Variantes clínicas • Depressão psicótica o Os delírios costumam ser congruentes com o humor, sendo os temas mais comuns inutilidade, culpa, problemas de saúde e pobreza. o Alguns pacientes experimentam delírios e alucinações incongruentes com o humor (como grandeza). A presença desses sintomas parece piorar o prognóstico o Sempre que há sintoma psicótico → diagnóstico diferencial para esquizofrenia • Depressão agitada o Agitação psicomotora proeminente o Mais comum em pacientes idosos o Sempre importante descartar causas orgânicas, principalmente em pacientes idosos • Depressão retardada/estupor depressivo o Pode evoluir para o estupor depressivo (estupor não tem ↓nível de consciência, enquanto torpor tem) o Depois que os pacientes se recuperam, eles tendem a recordar quase todos os acontecimentos ocorridos durante o estupor • Depressão atípica o Geralmente são transtornos mais brandos o Humor costuma ser mais reativo a eventos positivos o Costuma acontecer de comer e dormir demais, fadiga extrema e peso nos membros, ansiedade acentuada • Transtorno depressivo persistente (distimia) o Distimia = mau humor, mas atualmente designa um subtipo de depressão (Transtorno Persistente do Humor (F34.1 na CID-10) o Mau humor constante e persistente, dificuldade nos relacionamentos, baixa autoestima, elevado senso de autocrítica, personalidade irritadiça, tendência ao negativismo e pessimismo, temperamento difícil, inércia e letargia o Pelo DSM-5, é necessário que o humor deprimido na maior parte do dia, na maioria dos dias (indicado pelo relato subjetivo ou observação de outros) persista por um período mínimo de 2 anos. o As pessoas distímicas podem ter agudizações (episódios sobrepostos, depressão dupla) Epidemiologia • Prevalência ao longo de 12 meses de 2-5% • Idade de início é aos 27 anos em média • Acometimento maior em mulheres que homens (2:1) • Acomete mais desempregados e divorciados Saúde Mental João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ Etiologia • A predisposição tem importante contribuição genética (risco em um parente de 1º grau aumentado em cerca de 3x). Estima-se que o componente genético represente cerca de 40% da susceptibilidade para depressão unipolar e 70% para transtorno bipolar. • Estudos neuroquímicos e de neuroimagem combinados com a identificação de genes de vulnerabilidade à doença e a pesquisa sobre a interação entre cérebro e meio ambiente são a melhor estratégia para entender a neurobiologia dos transtornos do humor • Teoria da monoamina: sugere que a depressão se deve a uma anormalidade em um ou mais sistemas neurotransmissores de monoamina o Três transmissores identificados (serotonina, noradrenalina e dopamina) o As monoamina desempenham papel importante na mediação das respostas adaptativas a eventos estressantes → depressão pode ser encarada como uma falha nessas respostas • Personalidade: ansiedade pré-mórbida (como é a forma da pessoa de lidar com as situações da vida antes do episódio depressivo), necessidade de aprovação, neuroticismo (introspecção) • Ambiente: privação de afeto na infância, abuso sexual, história de agressão Variações transculturais • Em todos os países, principalmente na APS, tende a ser subdiagnosticada • Tristeza, desânimo, ansiedade e falta de energia são comuns na maior parte das culturas • Em países em que os transtornos mentais são mais estigmatizados (pessoas verbalizam menos) há tendência de maior somatização (manifestação por sintomas somáticos) Diagnóstico diferencial: tristeza, transtorno de ajustamento (luto etc.), transtornos ansiosos, esquizofrenia, demência (pseudodemência em idosos é uma síndrome depressiva que faz muita alteração de cognição), e outras doenças orgânicas TDAH Neuroimagem • Nos transtornos depressivos (doença grave e crônica, não tratada ao longo da vida) o Alargamento lateral dos ventrículos o Diminuição do volume do hipocampo o Diminuição do volume dos núcleos da base o Diminuição do volume da substância cinzenta nas regiões anteriores (lobo frontal, orbitofrontal e giro do cíngulo) o Risco aumentado para demência Tratamento • Antidepressivos, estabilizadores de humor, antipsicóticos, ECT e psicoterapia podem ser recursos • Antidepressivos o Não há diferença na eficácia das diferenças classes, mas sim no perfil de efeitos colaterais o Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) são o padrão ouro o Venlafaxina (classe dos duais, recaptação de serotonina e noradrenalina) aparenta ser mais eficaz em depressão grave, porém é menos segura em casos de overdose. o Qual o melhor antidepressivo? ▪ Interação medicamentosa (anti-inflamatório e anticoagulantes não podem ser usados com inibidores da recaptação de serotonina) ▪ História de resposta familiar prévia ▪ Resultado positivo prévio (tratamento de episódio prévio com sucesso)▪ Doença concomitante Saúde Mental João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ ▪ Perfil de efeitos colaterais ▪ Custo • Lítio e antipsicóticos (principalmente aripiprazol, quetiapina e risperidona) podem ser usados para potencializar o tratamento dos antidepressivos, mesmo em depressões unipolares não psicóticas • Eletroconvulsoterapia (ECT) indicada para depressões graves, principalmente quando há perda ponderal, alterações de sono, hipoatividade cinética e delírios. o As principais indicações são retardo psicomotor (pessoa muito lentificada, estupor depressivo), depressão psicótica e quando há ideação suicida o A eficácia não é superior à combinação de antidepressivo + antipsicótico, só tem uma ação mais rápida • Quando um episódio depressivo não é adequadamente tratado → pior prognóstico a longo prazo o Recaída: paciente deprimido, com melhora dos sintomas com início do tratamento, mas logo após há uma piora o Recorrência: pessoa que tratou um episódio depressivo, e após um tempo tem um outro episódio. Curso e prognóstico • Metade dos casos ocorre antes dos 21 anos • 25% dos pacientes ficam deprimidos por mais de um ano. 10-20% dos casos cronificam • 80% dos pacientes apresentarão outro episódio ao longo da vida. O intervalo entre os episódios se torna progressivamente mais curto • Risco de suicídio em pacientes com depressão é 15x maior que na população geral • Fatores de mau prognóstico o Remissão parcial dos sintomas o Idade precoce de início o Falta de suporte social o Saúde debilitada o Transtorno de abuso de substâncias comórbido o Transtorno de personalidade comórbido
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