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UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA CAMPUS ANCHIETA CURSO DE PSICOLOGIA 10,0 Muito bom! ELENA COLINA RA D852817 VITÓRIA GOMES RA N461373 TEORIA PSICANALÍTICA Análise do Filme Agustine SÃO PAULO 2021 ELENA COLINA RA D852817 VITÓRIA GOMES RA N461373 TEORIA PSICANALÍTICA Análise do Filme Agustine SÃO PAULO Trabalho apresentado para fins avaliativos para disciplina de Teoria Psicanalítica, presente no curso de Psicologia, sob orientação do Profº Valter Perea. 2021 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................4 2. CHARCOT ................................................................................................................................5 3. SINOPSE ..................................................................................................................................6 4. ANÁLISE DO FILME ..................................................................................................................7 5. CONCLUSÃO ..........................................................................................................................15 6. REFERÊNCIAS ........................................................................................................................16 4 1. INTRODUÇÃO Ao longo do tempo, grandes autores, médicos, neurologistas e psiquiatras se dedicaram ao estudo da histeria, sua origem e sintomas, desenvolvendo avanços significativos para compreensão das crises. Do grego “Hystéra”, que significa útero, a doença era entendida na Grécia antiga de acordo com Belintani (2003), sendo de origem uterina, logo diretamente ligada à mulher. O médico Hipócatres acreditava que pela falta de relações sexuais, o útero dessecava, fazendo com que em busca de umidade ele comprimisse outros órgãos gerando então os sintomas histéricos, como falta ar e vômitos. Durante a Idade Média sob a influência da igreja, a histeria passa a ser vista como pecaminosa pelo seu teor sexual e fruto de possessões demoníacas, involuntárias e simulatórias. Sob essas condições as mulheres eram consideradas bruxas ou possuídas. Já na segunda metade do século XIX, o neurologista Francês Charcot, a partir de estudos clínicos com o uso da hipnose para fundamento de suas hipóteses, julgava a histeria como uma neurose, causada por um trauma de ordem genital e que podia acometer tanto homens quanto mulheres. Hoje em conformidade com o Manual de Transtornos Mentais e de Comportamento (CID-10), a histeria está inserida na categoria de transtornos neuróticos e na subcategoria transtornos dissociativos. Ela é caracterizada pela transformação da ansiedade que passa a se manifestar em estado físico. Entre os variados sintomas estão a falta de ar, a ansiedade, perda parcial ou completa da integração normal entre as memórias do passado, desmaio, crises de identidade, paralisias, comprometimento dos movimentos, alucinações e problemas na fala. No presente trabalho, iremos analisar à luz da teoria psicanalítica o filme Augustine dirigido por Alice Winocour , que relata a história do famoso neurologista Charcot com sua paciente histérica Augustine. A obra possui grande importância, uma vez que mostra a relação entre ambos e o desenrolar da psicanálise enquanto seus primórdios. 5 2. CHARCOT Jean-Martin Charcot (1825 á 1893) foi um renomado neurologista e professor parisiense. Filho de Simon Pierre e Jeanne-Georgette Saussier, era o mais velho de quatro irmãos. Em 1862 ingressou no Hospital de Salpêtrière e desde o final do século XIX, passou a se dedicar ao estudo da histeria. Ele teorizava que a doença era um distúrbio fisiológico hereditário que prejudicava determinadas áreas do cérebro, mas também que fatores ambientais, como estresse, poderiam desencadear os sintomas. Charcot teve considerável influência sobre o jovem Sigmund Freud, que seria posteriormente o grande pai da psicanálise enquanto ciência e método. As pesquisas e estudos sobre a histeria chamaram grande atenção de Freud, mudando de forma quantitativa o rumo do até então estudante de medicina. Através de demonstrações públicas de pacientes histéricos, Charcot desenvolveu sua teoria e método de trabalho, utilizando a hipnose e o registro fotográfico durante suas investigações. 6 3. SINOPSE O filme Augustine, produzido em 2013 e dirigido por Alice Winocour, conta a história da relação entre o neurologista Dr. Jean-Martin Charcot e a sua paciente histérica Augustine, no Hospital Salpêtrière, em Paris. A obra se ambientaliza em 1885. Nesse período, o professor Charcot, estudava incansavelmente a histeria, uma doença misteriosa que pouco se tinha conhecimento até então. Devido a esse desconhecimento, a doença era configurada como possessões demoníacas ou fingimento em busca de atenção, fazendo com que as pacientes histéricas fossem muitas vezes negligenciadas pelos médicos e deixadas de lado por serem “transgressoras” das leis da ciência. Foi então, no Hospital de Pitié - Salpêtriere onde Charcot conheceu Augustine, de 19 anos, que foi internada após um ataque histérico enquanto trabalhava. A jovem se encontrava até então com uma paralisia em um de seus olhos e após uma nova crise no hospital, passa a ser objeto central de estudo do professor. Augustine acreditava que o Dr. Charcot poderia curá-la, enquanto ele acreditava que com ela alcançaria grandes conhecimentos em seus estudos. Vale ressaltar que a diretora Alice Winocour incluiu também no decorrer do filme, testemunhos de pacientes que relataram diretamente para a câmera o que pensavam e sentiam durante uma crise histérica. A inserção desses depoimentos está incluída no roteiro como se fossem consultas com as pacientes de Salpêtrière. 7 4. ANÁLISE DO FILME O filme se inicia em Paris, no final do século XIX. A apresentação da personagem Augustine é feita logo na primeira cena, enquanto serve um jantar festivo na casa em que trabalha. Durante o evento, a personagem recebe alguns olhares tendenciosos dos homens à mesa, começa a passar mal, vai à cozinha e quando volta à sala de jantar, tem uma crise histérica. Após voltar a consciência percebe que possuía um de seus olhos paralisado. Nessa cena, podemos ver a participação das instâncias que formam a psique humana ID, Ego e o Superego. Essas instâncias são frutos da segunda tópica do aparelho psíquico proposta por Sigmund Freud em seu livro O ego e o ID (1923). O ID representa os desejos e pulsões mais primitivos, se baseando no princípio do prazer; o ego se apresenta como mediador entre o id e o superego, sendo regido pelo princípio da realidade; e por fim o superego representa os valores morais. (FREUD,1923). Após perceber os olhares que recebia dos senhores presentes, Augustine com sua inocência sexual e seus fortes princípios morais, evita a qualquer forma que o conteúdo sexual (considerado por ela penoso) lhe venha à consciência, gerando uma angústia que se transforma posteriormente em um sintoma (a paralisia no olho). Após este episódio, Augustine é acompanhada por uma amiga até o consultório médico. Lá responde algumas questões sobre sua vida. A jovem informa que teve nove irmãos, sendo que três morreram, em suas palavras porque eram muito pequenos; conta também que trabalha como empregada doméstica desde seus 14 anos para a família da casa onde a crise ocorreu. O médico informa que ela terá de ser internada, o que a surpreende pois não esperava isso e não havia se preparado. É levada quase imediatamente para o Hospital de Pitié- Salpêtriere, local onde Charcot trabalhava e realizava seus estudos. Após alguns dias na instituição, ela pôde observar o Doutor realizando rápidas avaliações em algumas pacientes e pouco tempo depois, acabou tendo uma crisena presença de Charcot. Desde então o médico passou a ter interesse no caso 8 da jovem, marcando consultas periódicas a fim de estudá-la e a apresentar em suas palestras. Poderíamos relacionar mais uma vez, esta nova crise de Augustine as suas questões morais quanto a sua sexualidade. Antes da cena, a jovem observava Charcot com certo louvor e o recalcar de uma possível atração pelo doutor acabou por provocar a crise. Esta inferência pode ser feita se comparado neste momento as motivações de seu primeiro desequilíbrio no trabalho. Para verificar se a jovem não possuía nenhuma deficiência mental e, assim, puder ser apresentada para os estudantes nas aulas públicas que ocorriam no hospital, Charcot fez um exame na paciente, pedindo que esta respondesse os meses e dias da semana. Em seguida, Augustine se mostra decepcionada, pois ele a ignora quanto a pergunta se o mesmo poderia curá-la de suas paralisias. Durante a obra, é possível observar algumas características de descaso do médico em relação aos seus pacientes, uma vez que em diversas cenas, Charcot não demonstrava uma preocupação pela cura efetiva. O que nos é mostrado, é a postura do médico em não dialogar com as personagens femininas que o rodeiam: tanto sua paciente, que se torna apenas seu objeto de estudo, quanto sua companheira, a qual não dá atenção e que encerra suas ideias com um elogio à sua beleza, dando-lhe pouca ou nenhuma atenção. A esposa de Charcot, uma mulher burguesa, é pouco apresentada no filme. Ela aparece somente nas cenas em que o neurologista volta para casa. Sua primeira aparição se dá com a personagem tocando piano à mesa com Charcot, contando- lhe sobre as notícias dos jornais e lhe dando alguns conselhos. É nos mostrado também, que Augustine possui uma grande ignorância sobre seu corpo, nos revelando também uma inocência de sua sexualidade. Por várias vezes, a jovem demonstrou não compreender os comentários feitos pelo médico. Um exemplo é quando Charcot diz que a menstruação dela nunca havia decido e a mesma sequer sabia o que era. E mesmo após perguntar sobre ao 9 Doutor é novamente ignorada, ressaltando então o descaso demonstrado para com ela. Inferimos ainda aqui, que por conta de tal desconhecimento, Augustine rejeitava fortemente seus pensamentos eróticos. Na primeira apresentação da jovem para os estudantes, Charcot inicia a exposição destacando o desafio de desmembrar a histeria, justamente pela doença não apresentar nenhuma lesão orgânica no corpo dos pacientes. O neurologista discorre sobre o uso da hipnose para controlar e tornar mais visível os sintomas. Segue o diálogo de Charcot com seus alunos: “A paciente que vão ver hoje se chama Augustine. Augustine tem 19 anos. Ela tem ataques histéricos já faz meses e apresenta todos os sintomas do que chamamos histeria ovariana. Podem notar, em primeiro lugar, a paralisia do olho direito. É um belo exemplo de piscar de olhos histéricos. É uma paralisia permanente. Mesmo com os sintomas presentes durante vários dias não encontramos nenhuma lesão orgânica. Em todas as histéricas, essa paciente desafia as leis da anatomia. Nós vamos hipnotizar Augustine. E durante a hipnose, vamos reproduzir esse ataque como ele acontece no estado natural, para identificá-lo e observá-lo melhor e classificar os sintomas dele. O senhor Verdan, aqui presente, vai fotografar tudo” (Augustine, 2013) Justamente pela falta de uma lesão no corpo orgânico, é que se fez surgir os mecanismos do interrogatório e da hipnose para que dessa forma, o médico conseguisse observar os sintomas. Para Foucault (2006), as apresentações também faziam com que a histeria tivesse um “corpo institucional”. Um dos protocolos experimentais e clínicos do neurologista, era o uso da hipnose para provocar o ataque das mulheres diante de uma plateia de estudiosos da academia enquanto as crises eram fotografadas pela equipe do médico. Nesse sentido, enfatiza-se a violação do corpo feminino e os padrões de feminilidade fortalecidos durante o século XIX. O recurso da fotografia atuava então quase como uma materialização da histeria, mais especificamente de seus sintomas, capturando- a e lhe dando veracidade. 10 Em seu livro “A Invenção da histeria”, o filósofo Didi-Huberman (2015) declara que em todos os momentos a histeria foi uma dor forçada como um espetáculo. Analisando os arquivos da equipe que trabalhou com Charcot em Salpêtrière, Huberman destaca que o método experimental se efetivou por uma observação “provocada” pela hipnose, ou seja, por uma arte de obter fatos e um saber que colocava os corpos histéricos a trabalhar. Ainda durante a apresentação, após Augustine ser hipnotizada, se desencadeia a crise histérica. Porém, os movimentos deste ataque são diferentes dos que ela havia apresentado. É possível depreender destes novos movimentos como uma satisfação do desejo, se assemelhando ao ato sexual, uma vez que Augustine toca com frequência a região da pélvis e pelo fato de que seus gritos se assemelham á gemidos. Posteriormente a apresentação, em um outro momento do filme, Charcot leva sua paciente ao seu consultório, onde mostra a ela sua macaca de estimação, Zibidi. Ele solta o animal e os dois passam a brincar com ela; logo em seguida, Charcot ordena que a jovem se retire e prende novamente a macaca. Nessa cena é possível observar a semelhança entre o tratamento de Charcot com Augustine e Zibidi, podendo relacionar tal comportamento do médico por enxergar em ambas a natureza feminina como frágil e submissa. Augustine estava no Hospital de Salpêtriere, quando teve um sonho importante, no qual junto de outra jovem foram decepar o pescoço de uma galinha. Após ter dado a machadada no animal, ela se impressiona com o sangue e desmaia. Ao acordar, percebe que sua paralisia no olho cessou, porém agora se encontra com uma de suas mãos, em um formato semelhante a de um gancho. Podemos relacionar o sangue da cabeça da galinha com a menstruação que Augustine nunca teve, ressaltado pelo fato de que poucas cenas após o sonho, a menstruação da jovem de 19 anos finalmente desceu. Os sonhos são para Sigmund Freud (1900), a realização de desejos recalcados, o que nos leva a inferir o desejo 11 de Augustine em iniciar sua vida e seu desenvolvimento sexual. Segue a descrição de Charcot sobre o caso: “A paralisia foi para a esquerda, delimitada por uma linha perfeita, como se traçada por um mestre. A mão esquerda está paralisada como um gancho, insensível ao frio e ao quente. O relógio fica inaudível próximo ao ouvido esquerdo. Mas ela escuta a dez cm do ouvido direito. A temperatura vaginal é constante, sem variação. Augustine só vê o vermelho com o olho esquerdo. Com o da direita, ela vê todas as cores, menos a violeta. A narina esquerda não tem olfato e a da direita é quase normal. O açúcar, o sal e a pimenta não são distinguidos. [...] Augustine é ativa, inteligente, afetuosa, sensível. A figura masculina a agrada. Ela gosta de se exibir, é o desejo que sente. Ela é graciosa e é cuidadosa com a aparência. Sempre arruma seus cabelos volumosos, variando os penteados. Ela adora fita de cores vivas” (Augustine, 2013) Chegando ao cerne do filme, podemos reparar que o acompanhamento dado a Augustine por Charcot, proporcionou aos dois uma relação de desejo. Aqui podemos introduzir os conceitos de transferência e contratransferência propostos posteriormente por Freud: (...) após pequeno lapso de tempo, não podemos deixar de constatar que esses pacientes se comportam de maneira muito peculiar com relação a nós. Acreditávamos, para dizer a verdade, que havíamos colocado em termos racionais, completamente, a situação existente entre nós e os pacientes, de modo que esta pudesse ser visualizada de imediato como se fora uma soma aritmética; não obstante, a despeito de tudo isso, algo parece infiltrar-sefurtivamente, algo que não foi levado em conta em nossa soma. Essa novidade inesperada assume muitas formas (...) Constatamos, pois, que o paciente, que deveria não desejar outra coisa senão encontrar uma saída para seus penosos conflitos, desenvolve especial interesse pela pessoa do médico. (1916-1917 a, p.512) Segundo os estudos de Sigmund Freud, quando o paciente enxerga no terapeuta uma figura importante e afetiva em sua vida, estamos tratando da chamada transferência. Este processo é muito importante pois é uma parte essencial no trabalho da análise. 12 Freud (1912), na Dinâmica da Transferência difere a resistência e a cooperação como dois fatores elementares do paciente. Ele discrimina então estes em uma "transferência positiva sublimada” e uma "transferência negativa e erótica (que alimenta a resistência)”. No início do tratamento, a transferência positiva do paciente para com o profissional, facilita o processo terapêutico. Já a chamada contratransferência, é delineada inicialmente por Freud (1910/2006b), como um fenômeno que surge no resultado da influência que o paciente exerce sobre os sentimentos inconscientes do profissional. Entretanto, este processo é visto pelo psicanalista como um obstáculo ao processo terapêutico. Freud (1910/2006b, p. 150) disse: "nenhum psicanalista avança além do quanto permitem seus próprios complexos e resistências internas". Ou seja, se faz necessário que o terapeuta obtenha controle sobre a contratransferência, a fim de estabelecer a relação adequada com o paciente, sem interferências. Quanto à transferência erótica, Freud a define como uma "inclinação amorosa" que, diferentemente da positiva, acaba por se tornar intensa, revelando sua origem localizada em uma necessidade sexual. Esta ótica pode ser observada no relacionamento entre Charcot e Augustine. Pela parte do Doutor, podemos ver a expressão desse desejo quando em uma das noites, ele á visita enquanto a mesma dormia em seu quarto; na cena, ele descobre os seios da paciente, fazendo com que a jovem ainda dormindo faça um movimento brusco, que assusta Charcot e o faz sair correndo do quarto e voltar para sua casa. Tal relação transferencial, para DidiHuberman (2015) contribuiu para que as pacientes internadas em Salpêtrière não renunciassem a doença e se submetessem à obediência ao poder médico. “Ou você me seduz ou eu a considero uma incurável, e nesse caso, para sempre, você não mais será exibida, mas escondida no escuro”. (DIDI-HUBERMAN, 2015, p.234). Com a narrativa já se encaminhando para o final do filme, Augustine se mostra desapontada com o tratamento feito por Charcot, visto que ela ainda não havia atingido sua cura. Levada para mais um de seus exames, onde é amarrada e 13 deitada, a paciente reclama ao doutor que não deveria expô-la daquela maneira diante de todos. No dia da grande apresentação para os alunos da faculdade, Augustine e Charcot andam por um jardim. Ele se mostra um pouco preocupado com a posição agora assumida pela jovem, chegando a questioná-la sobre seu silêncio; ela responde dizendo que o médico nunca a escuta, se referindo ao seu constante descaso a suas perguntas. Enquanto estava sendo preparada pelas auxiliares de Charcot para a grande apresentação, Augustine decide fugir por conta de toda sua insatisfação. Porém, quando estava pelos jardins da instituição, cai de uma escadaria e desmaia. Ao acordar, ainda sozinha e desorientada, percebe que a sua paralisia da mão havia desaparecido. Augustine estava curada. Encontrada por uma das auxiliares, é levada de volta à apresentação. Charcot dá início à aula, enquanto isso a jovem tenta simular no espelho a forma como estava paralisado o braço. Augustine entra na sala e Charcot a apresenta para o público, fazendo uma breve descrição sobre o caso e dizendo que seu assistente irá hipnotizá-la. Bourneville se aproxima para realizar tal feito, mas Augustine não se submete e não fixa o olhar no espelho em sua frente. Charcot assume o lugar de Bourneville e mesmo assim ela permanece resistindo. Olhando fixamente para o médico, ela movimenta os dedos do braço que deveriam estar paralisado e diz: “Estou curada”. Charcot a encarou incrédulo, virou para seus estudantes e anunciou que as experiências com animais quando são feitas em público não saem tão boas quanto no laboratório. Essa fala, reforça mais uma vez a postura de Charcot em tratar suas pacientes tal como trata sua própria macaca de estimação Zibidi. Bourneville interrompe Charcot e pede para que veja que Augustine começava a se mexer e ao voltar para ela viu que estava tendo início a uma crise. O ataque estava sendo forjado pela personagem e tem seu ápice quando, com as 14 duas mãos, Augustine rasga o decote do seu vestido, deixando à mostra seus seios. Assim que acaba, Charcot pede que a levem para o seu consultório e que Bourneville converse com os estudantes. O médico vai até Augustine e ao se encontrarem concretizam seus desejos eróticos na realização do ato sexual. Após isto, a jovem se retira e Bourneville chama o Doutor de volta à apresentação. Chegando então a última cena do filme, ilustrada pela fuga de Augustine da instituição enquanto Charcot a observa de longe e não consegue alcançá-la. 15 5. CONCLUSÃO A partir da análise do filme “Augustine” sob a luz dos conteúdos estudados neste semestre na matéria de Teoria Psicanalítica, conseguimos observar o início dos estudos da histeria, pelo Doutor Jean Charcot, estudos esses que levaram posteriormente a criação da Psicanálise por Sigmund Freud. Ressaltamos neste trabalho a partir de cenas do filme, o pouco conhecimento que se tinha na época a respeito das histerias, sendo as pacientes histéricas subjugadas por sua condição. Ainda pontuamos neste documento, a transferência erótica que ocorreu na relação do Doutor Charcot com sua paciente Augustine, levando até mesmo a consumação da relação sexual entre os dois no final do filme. Conseguimos ainda trazer à luz cenas do filme, os conceitos das instâncias psíquicas de Freud e da teoria dos sonhos. 16 6. REFERÊNCIAS AUGUSTINE. Direção: Alice Winocour. [S. l.: s. n.], 2013. Disponível em: GLOBOPLAY. Acesso em: 26 abr. 2021 BELINTANI, Giovani. Histeria. Psic, São Paulo , v. 4, n. 2, p. 56-69, dez. 2003 . D i s p o n í v e l e m < h t t p : / / p e p s i c . b v s a l u d . o r g / s c i e l o . p h p ? script=sci_arttext&pid=S1676-73142003000200008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 27 abr. 2021. DIDI-HUBERMAN, G. Invenção da histeria: Charcot e a iconografia fotográfica da Salpêtrière. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015. Acesso em: 27 abr. 2021. FOUCAULT, Michel. O Poder Psiquiátrico. São Paulo: Martins Fontes, 2006. Acesso em: 27 abr. 2021. Freud, S. (1912b) Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1976, 145-159. (Edição Standard Brasileira, Vol. XII. Acesso em: 28 abr. 2021. Freud, S. (1913) Sobre o início do tratamento (Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise I). Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1976, pp. 161-187. (Edição Standard Brasileira, Vol. XII. Acesso em: 28 abr. 2021. Freud, S. 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