Buscar

Análise do Filme Agustine sob a luz da Psicanálise

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Continue navegando


Prévia do material em texto

UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA 
CAMPUS ANCHIETA 
CURSO DE PSICOLOGIA 
10,0 
Muito bom! 
ELENA COLINA RA D852817 
VITÓRIA GOMES RA N461373 
TEORIA PSICANALÍTICA 
Análise do Filme Agustine 
SÃO PAULO 
2021 
ELENA COLINA RA D852817 
VITÓRIA GOMES RA N461373 
TEORIA PSICANALÍTICA 
Análise do Filme Agustine 
 
SÃO PAULO 
Trabalho apresentado para fins 
avaliativos para disciplina de Teoria 
Psicanalítica, presente no curso de 
Psicologia, sob orientação do Profº 
Valter Perea.
2021 
 SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................4
2. CHARCOT ................................................................................................................................5
3. SINOPSE ..................................................................................................................................6
4. ANÁLISE DO FILME ..................................................................................................................7
5. CONCLUSÃO ..........................................................................................................................15
6. REFERÊNCIAS ........................................................................................................................16
 4
1. INTRODUÇÃO 
Ao longo do tempo, grandes autores, médicos, neurologistas e psiquiatras 
se dedicaram ao estudo da histeria, sua origem e sintomas, desenvolvendo avanços 
significativos para compreensão das crises. Do grego “Hystéra”, que significa útero, 
a doença era entendida na Grécia antiga de acordo com Belintani (2003), sendo de 
origem uterina, logo diretamente ligada à mulher. O médico Hipócatres acreditava 
que pela falta de relações sexuais, o útero dessecava, fazendo com que em busca 
de umidade ele comprimisse outros órgãos gerando então os sintomas histéricos, 
como falta ar e vômitos. 
Durante a Idade Média sob a influência da igreja, a histeria passa a ser vista 
como pecaminosa pelo seu teor sexual e fruto de possessões demoníacas, 
involuntárias e simulatórias. Sob essas condições as mulheres eram consideradas 
bruxas ou possuídas. Já na segunda metade do século XIX, o neurologista Francês 
Charcot, a partir de estudos clínicos com o uso da hipnose para fundamento de suas 
hipóteses, julgava a histeria como uma neurose, causada por um trauma de ordem 
genital e que podia acometer tanto homens quanto mulheres. 
Hoje em conformidade com o Manual de Transtornos Mentais e de 
Comportamento (CID-10), a histeria está inserida na categoria de transtornos 
neuróticos e na subcategoria transtornos dissociativos. Ela é caracterizada pela 
transformação da ansiedade que passa a se manifestar em estado físico. Entre os 
variados sintomas estão a falta de ar, a ansiedade, perda parcial ou completa da 
integração normal entre as memórias do passado, desmaio, crises de identidade, 
paralisias, comprometimento dos movimentos, alucinações e problemas na fala. 
No presente trabalho, iremos analisar à luz da teoria psicanalítica o filme 
Augustine dirigido por Alice Winocour , que relata a história do famoso neurologista 
Charcot com sua paciente histérica Augustine. A obra possui grande importância, 
uma vez que mostra a relação entre ambos e o desenrolar da psicanálise enquanto 
seus primórdios. 
 
 5
2. CHARCOT 
Jean-Martin Charcot (1825 á 1893) foi um renomado neurologista e 
professor parisiense. Filho de Simon Pierre e Jeanne-Georgette Saussier, era o mais 
velho de quatro irmãos. Em 1862 ingressou no Hospital de Salpêtrière e desde o 
final do século XIX, passou a se dedicar ao estudo da histeria. Ele teorizava que a 
doença era um distúrbio fisiológico hereditário que prejudicava determinadas áreas 
do cérebro, mas também que fatores ambientais, como estresse, poderiam 
desencadear os sintomas. 
Charcot teve considerável influência sobre o jovem Sigmund Freud, que 
seria posteriormente o grande pai da psicanálise enquanto ciência e método. As 
pesquisas e estudos sobre a histeria chamaram grande atenção de Freud, mudando 
de forma quantitativa o rumo do até então estudante de medicina. 
Através de demonstrações públicas de pacientes histéricos, Charcot 
desenvolveu sua teoria e método de trabalho, utilizando a hipnose e o registro 
fotográfico durante suas investigações. 
 
 
 
 6
3. SINOPSE 
O filme Augustine, produzido em 2013 e dirigido por Alice Winocour, conta a 
história da relação entre o neurologista Dr. Jean-Martin Charcot e a sua paciente 
histérica Augustine, no Hospital Salpêtrière, em Paris. 
A obra se ambientaliza em 1885. Nesse período, o professor Charcot, 
estudava incansavelmente a histeria, uma doença misteriosa que pouco se tinha 
conhecimento até então. Devido a esse desconhecimento, a doença era configurada 
como possessões demoníacas ou fingimento em busca de atenção, fazendo com 
que as pacientes histéricas fossem muitas vezes negligenciadas pelos médicos e 
deixadas de lado por serem “transgressoras” das leis da ciência. 
Foi então, no Hospital de Pitié - Salpêtriere onde Charcot conheceu 
Augustine, de 19 anos, que foi internada após um ataque histérico enquanto 
trabalhava. A jovem se encontrava até então com uma paralisia em um de seus 
olhos e após uma nova crise no hospital, passa a ser objeto central de estudo do 
professor. Augustine acreditava que o Dr. Charcot poderia curá-la, enquanto ele 
acreditava que com ela alcançaria grandes conhecimentos em seus estudos. 
Vale ressaltar que a diretora Alice Winocour incluiu também no decorrer do 
filme, testemunhos de pacientes que relataram diretamente para a câmera o que 
pensavam e sentiam durante uma crise histérica. A inserção desses depoimentos 
está incluída no roteiro como se fossem consultas com as pacientes de Salpêtrière. 
 
 7
4. ANÁLISE DO FILME 
 
O filme se inicia em Paris, no final do século XIX. A apresentação da 
personagem Augustine é feita logo na primeira cena, enquanto serve um jantar 
festivo na casa em que trabalha. Durante o evento, a personagem recebe alguns 
olhares tendenciosos dos homens à mesa, começa a passar mal, vai à cozinha e 
quando volta à sala de jantar, tem uma crise histérica. Após voltar a consciência 
percebe que possuía um de seus olhos paralisado. 
Nessa cena, podemos ver a participação das instâncias que formam a 
psique humana ID, Ego e o Superego. Essas instâncias são frutos da segunda 
tópica do aparelho psíquico proposta por Sigmund Freud em seu livro O ego e o ID 
(1923). O ID representa os desejos e pulsões mais primitivos, se baseando no 
princípio do prazer; o ego se apresenta como mediador entre o id e o superego, 
sendo regido pelo princípio da realidade; e por fim o superego representa os valores 
morais. (FREUD,1923). Após perceber os olhares que recebia dos senhores 
presentes, Augustine com sua inocência sexual e seus fortes princípios morais, evita 
a qualquer forma que o conteúdo sexual (considerado por ela penoso) lhe venha à 
consciência, gerando uma angústia que se transforma posteriormente em um 
sintoma (a paralisia no olho). 
Após este episódio, Augustine é acompanhada por uma amiga até o 
consultório médico. Lá responde algumas questões sobre sua vida. A jovem informa 
que teve nove irmãos, sendo que três morreram, em suas palavras porque eram 
muito pequenos; conta também que trabalha como empregada doméstica desde 
seus 14 anos para a família da casa onde a crise ocorreu. O médico informa que ela 
terá de ser internada, o que a surpreende pois não esperava isso e não havia se 
preparado. É levada quase imediatamente para o Hospital de Pitié- Salpêtriere, local 
onde Charcot trabalhava e realizava seus estudos. 
Após alguns dias na instituição, ela pôde observar o Doutor realizando 
rápidas avaliações em algumas pacientes e pouco tempo depois, acabou tendo uma 
crisena presença de Charcot. Desde então o médico passou a ter interesse no caso 
 8
da jovem, marcando consultas periódicas a fim de estudá-la e a apresentar em suas 
palestras. 
Poderíamos relacionar mais uma vez, esta nova crise de Augustine as suas 
questões morais quanto a sua sexualidade. Antes da cena, a jovem observava 
Charcot com certo louvor e o recalcar de uma possível atração pelo doutor acabou 
por provocar a crise. Esta inferência pode ser feita se comparado neste momento as 
motivações de seu primeiro desequilíbrio no trabalho. 
Para verificar se a jovem não possuía nenhuma deficiência mental e, assim, 
puder ser apresentada para os estudantes nas aulas públicas que ocorriam no 
hospital, Charcot fez um exame na paciente, pedindo que esta respondesse os 
meses e dias da semana. Em seguida, Augustine se mostra decepcionada, pois ele 
a ignora quanto a pergunta se o mesmo poderia curá-la de suas paralisias. 
Durante a obra, é possível observar algumas características de descaso do 
médico em relação aos seus pacientes, uma vez que em diversas cenas, Charcot 
não demonstrava uma preocupação pela cura efetiva. O que nos é mostrado, é a 
postura do médico em não dialogar com as personagens femininas que o rodeiam: 
tanto sua paciente, que se torna apenas seu objeto de estudo, quanto sua 
companheira, a qual não dá atenção e que encerra suas ideias com um elogio à sua 
beleza, dando-lhe pouca ou nenhuma atenção. 
A esposa de Charcot, uma mulher burguesa, é pouco apresentada no filme. 
Ela aparece somente nas cenas em que o neurologista volta para casa. Sua primeira 
aparição se dá com a personagem tocando piano à mesa com Charcot, contando-
lhe sobre as notícias dos jornais e lhe dando alguns conselhos. 
É nos mostrado também, que Augustine possui uma grande ignorância 
sobre seu corpo, nos revelando também uma inocência de sua sexualidade. Por 
várias vezes, a jovem demonstrou não compreender os comentários feitos pelo 
médico. Um exemplo é quando Charcot diz que a menstruação dela nunca havia 
decido e a mesma sequer sabia o que era. E mesmo após perguntar sobre ao 
 9
Doutor é novamente ignorada, ressaltando então o descaso demonstrado para com 
ela. Inferimos ainda aqui, que por conta de tal desconhecimento, Augustine rejeitava 
fortemente seus pensamentos eróticos. 
Na primeira apresentação da jovem para os estudantes, Charcot inicia a 
exposição destacando o desafio de desmembrar a histeria, justamente pela doença 
não apresentar nenhuma lesão orgânica no corpo dos pacientes. O neurologista 
discorre sobre o uso da hipnose para controlar e tornar mais visível os sintomas. 
Segue o diálogo de Charcot com seus alunos: 
“A paciente que vão ver hoje se chama Augustine. Augustine tem 19 anos. 
Ela tem ataques histéricos já faz meses e apresenta todos os sintomas do 
que chamamos histeria ovariana. Podem notar, em primeiro lugar, a 
paralisia do olho direito. É um belo exemplo de piscar de olhos histéricos. É 
uma paralisia permanente. Mesmo com os sintomas presentes durante 
vários dias não encontramos nenhuma lesão orgânica. Em todas as 
histéricas, essa paciente desafia as leis da anatomia. Nós vamos hipnotizar 
Augustine. E durante a hipnose, vamos reproduzir esse ataque como ele 
acontece no estado natural, para identificá-lo e observá-lo melhor e 
classificar os sintomas dele. O senhor Verdan, aqui presente, vai fotografar 
tudo” (Augustine, 2013) 
 
Justamente pela falta de uma lesão no corpo orgânico, é que se fez surgir 
os mecanismos do interrogatório e da hipnose para que dessa forma, o médico 
conseguisse observar os sintomas. Para Foucault (2006), as apresentações também 
faziam com que a histeria tivesse um “corpo institucional”. 
 
 Um dos protocolos experimentais e clínicos do neurologista, era o uso da 
hipnose para provocar o ataque das mulheres diante de uma plateia de estudiosos 
da academia enquanto as crises eram fotografadas pela equipe do médico. Nesse 
sentido, enfatiza-se a violação do corpo feminino e os padrões de feminilidade 
fortalecidos durante o século XIX. O recurso da fotografia atuava então quase como 
uma materialização da histeria, mais especificamente de seus sintomas, capturando-
a e lhe dando veracidade. 
 10
Em seu livro “A Invenção da histeria”, o filósofo Didi-Huberman (2015) 
declara que em todos os momentos a histeria foi uma dor forçada como um 
espetáculo. Analisando os arquivos da equipe que trabalhou com Charcot em 
Salpêtrière, Huberman destaca que o método experimental se efetivou por uma 
observação “provocada” pela hipnose, ou seja, por uma arte de obter fatos e um 
saber que colocava os corpos histéricos a trabalhar. 
Ainda durante a apresentação, após Augustine ser hipnotizada, se 
desencadeia a crise histérica. Porém, os movimentos deste ataque são diferentes 
dos que ela havia apresentado. É possível depreender destes novos movimentos 
como uma satisfação do desejo, se assemelhando ao ato sexual, uma vez que 
Augustine toca com frequência a região da pélvis e pelo fato de que seus gritos se 
assemelham á gemidos. 
Posteriormente a apresentação, em um outro momento do filme, Charcot 
leva sua paciente ao seu consultório, onde mostra a ela sua macaca de estimação, 
Zibidi. Ele solta o animal e os dois passam a brincar com ela; logo em seguida, 
Charcot ordena que a jovem se retire e prende novamente a macaca. Nessa cena é 
possível observar a semelhança entre o tratamento de Charcot com Augustine e 
Zibidi, podendo relacionar tal comportamento do médico por enxergar em ambas a 
natureza feminina como frágil e submissa. 
 
Augustine estava no Hospital de Salpêtriere, quando teve um sonho 
importante, no qual junto de outra jovem foram decepar o pescoço de uma galinha. 
Após ter dado a machadada no animal, ela se impressiona com o sangue e 
desmaia. Ao acordar, percebe que sua paralisia no olho cessou, porém agora se 
encontra com uma de suas mãos, em um formato semelhante a de um gancho. 
 
Podemos relacionar o sangue da cabeça da galinha com a menstruação que 
Augustine nunca teve, ressaltado pelo fato de que poucas cenas após o sonho, a 
menstruação da jovem de 19 anos finalmente desceu. Os sonhos são para Sigmund 
Freud (1900), a realização de desejos recalcados, o que nos leva a inferir o desejo 
 11
de Augustine em iniciar sua vida e seu desenvolvimento sexual. Segue a descrição 
de Charcot sobre o caso: 
“A paralisia foi para a esquerda, delimitada por uma linha perfeita, como se 
traçada por um mestre. A mão esquerda está paralisada como um gancho, 
insensível ao frio e ao quente. O relógio fica inaudível próximo ao ouvido 
esquerdo. Mas ela escuta a dez cm do ouvido direito. A temperatura vaginal 
é constante, sem variação. Augustine só vê o vermelho com o olho 
esquerdo. Com o da direita, ela vê todas as cores, menos a violeta. A narina 
esquerda não tem olfato e a da direita é quase normal. O açúcar, o sal e a 
pimenta não são distinguidos. [...] Augustine é ativa, inteligente, afetuosa, 
sensível. A figura masculina a agrada. Ela gosta de se exibir, é o desejo que 
sente. Ela é graciosa e é cuidadosa com a aparência. Sempre arruma seus 
cabelos volumosos, variando os penteados. Ela adora fita de cores vivas” 
(Augustine, 2013) 
 
Chegando ao cerne do filme, podemos reparar que o acompanhamento 
dado a Augustine por Charcot, proporcionou aos dois uma relação de desejo. Aqui 
podemos introduzir os conceitos de transferência e contratransferência propostos 
posteriormente por Freud: 
(...) após pequeno lapso de tempo, não podemos deixar de constatar que 
esses pacientes se comportam de maneira muito peculiar com relação a nós. 
Acreditávamos, para dizer a verdade, que havíamos colocado em termos 
racionais, completamente, a situação existente entre nós e os pacientes, de 
modo que esta pudesse ser visualizada de imediato como se fora uma soma 
aritmética; não obstante, a despeito de tudo isso, algo parece infiltrar-sefurtivamente, algo que não foi levado em conta em nossa soma. Essa 
novidade inesperada assume muitas formas (...) Constatamos, pois, que o 
paciente, que deveria não desejar outra coisa senão encontrar uma saída 
para seus penosos conflitos, desenvolve especial interesse pela pessoa do 
médico. (1916-1917 a, p.512) 
Segundo os estudos de Sigmund Freud, quando o paciente enxerga no 
terapeuta uma figura importante e afetiva em sua vida, estamos tratando da 
chamada transferência. Este processo é muito importante pois é uma parte 
essencial no trabalho da análise. 
 12
 Freud (1912), na Dinâmica da Transferência difere a resistência e a 
cooperação como dois fatores elementares do paciente. Ele discrimina então estes 
em uma "transferência positiva sublimada” e uma "transferência negativa e erótica 
(que alimenta a resistência)”. No início do tratamento, a transferência positiva do 
paciente para com o profissional, facilita o processo terapêutico. 
Já a chamada contratransferência, é delineada inicialmente por Freud 
(1910/2006b), como um fenômeno que surge no resultado da influência que o 
paciente exerce sobre os sentimentos inconscientes do profissional. Entretanto, este 
processo é visto pelo psicanalista como um obstáculo ao processo terapêutico. 
Freud (1910/2006b, p. 150) disse: "nenhum psicanalista avança além do quanto 
permitem seus próprios complexos e resistências internas". Ou seja, se faz 
necessário que o terapeuta obtenha controle sobre a contratransferência, a fim de 
estabelecer a relação adequada com o paciente, sem interferências. 
Quanto à transferência erótica, Freud a define como uma "inclinação 
amorosa" que, diferentemente da positiva, acaba por se tornar intensa, revelando 
sua origem localizada em uma necessidade sexual. Esta ótica pode ser observada 
no relacionamento entre Charcot e Augustine. Pela parte do Doutor, podemos ver a 
expressão desse desejo quando em uma das noites, ele á visita enquanto a mesma 
dormia em seu quarto; na cena, ele descobre os seios da paciente, fazendo com que 
a jovem ainda dormindo faça um movimento brusco, que assusta Charcot e o faz 
sair correndo do quarto e voltar para sua casa. 
 
Tal relação transferencial, para DidiHuberman (2015) contribuiu para que as 
pacientes internadas em Salpêtrière não renunciassem a doença e se submetessem 
à obediência ao poder médico. “Ou você me seduz ou eu a considero uma incurável, 
e nesse caso, para sempre, você não mais será exibida, mas escondida no escuro”. 
(DIDI-HUBERMAN, 2015, p.234). 
 
Com a narrativa já se encaminhando para o final do filme, Augustine se 
mostra desapontada com o tratamento feito por Charcot, visto que ela ainda não 
havia atingido sua cura. Levada para mais um de seus exames, onde é amarrada e 
 13
deitada, a paciente reclama ao doutor que não deveria expô-la daquela maneira 
diante de todos. 
No dia da grande apresentação para os alunos da faculdade, Augustine e 
Charcot andam por um jardim. Ele se mostra um pouco preocupado com a posição 
agora assumida pela jovem, chegando a questioná-la sobre seu silêncio; ela 
responde dizendo que o médico nunca a escuta, se referindo ao seu constante 
descaso a suas perguntas. 
 
Enquanto estava sendo preparada pelas auxiliares de Charcot para a grande 
apresentação, Augustine decide fugir por conta de toda sua insatisfação. Porém, 
quando estava pelos jardins da instituição, cai de uma escadaria e desmaia. Ao 
acordar, ainda sozinha e desorientada, percebe que a sua paralisia da mão havia 
desaparecido. Augustine estava curada. 
 
Encontrada por uma das auxiliares, é levada de volta à apresentação. 
Charcot dá início à aula, enquanto isso a jovem tenta simular no espelho a forma 
como estava paralisado o braço. Augustine entra na sala e Charcot a apresenta 
para o público, fazendo uma breve descrição sobre o caso e dizendo que seu 
assistente irá hipnotizá-la. Bourneville se aproxima para realizar tal feito, mas 
Augustine não se submete e não fixa o olhar no espelho em sua frente. Charcot 
assume o lugar de Bourneville e mesmo assim ela permanece resistindo. 
 
Olhando fixamente para o médico, ela movimenta os dedos do braço que 
deveriam estar paralisado e diz: “Estou curada”. Charcot a encarou incrédulo, virou 
para seus estudantes e anunciou que as experiências com animais quando são 
feitas em público não saem tão boas quanto no laboratório. Essa fala, reforça mais 
uma vez a postura de Charcot em tratar suas pacientes tal como trata sua própria 
macaca de estimação Zibidi. 
Bourneville interrompe Charcot e pede para que veja que Augustine 
começava a se mexer e ao voltar para ela viu que estava tendo início a uma crise. O 
ataque estava sendo forjado pela personagem e tem seu ápice quando, com as 
 14
duas mãos, Augustine rasga o decote do seu vestido, deixando à mostra seus seios. 
Assim que acaba, Charcot pede que a levem para o seu consultório e que 
Bourneville converse com os estudantes. 
 O médico vai até Augustine e ao se encontrarem concretizam seus desejos 
eróticos na realização do ato sexual. Após isto, a jovem se retira e Bourneville 
chama o Doutor de volta à apresentação. Chegando então a última cena do filme, 
ilustrada pela fuga de Augustine da instituição enquanto Charcot a observa de longe 
e não consegue alcançá-la. 
 
 15
5. CONCLUSÃO 
A partir da análise do filme “Augustine” sob a luz dos conteúdos estudados 
neste semestre na matéria de Teoria Psicanalítica, conseguimos observar o início 
dos estudos da histeria, pelo Doutor Jean Charcot, estudos esses que levaram 
posteriormente a criação da Psicanálise por Sigmund Freud. 
Ressaltamos neste trabalho a partir de cenas do filme, o pouco 
conhecimento que se tinha na época a respeito das histerias, sendo as pacientes 
histéricas subjugadas por sua condição. Ainda pontuamos neste documento, a 
transferência erótica que ocorreu na relação do Doutor Charcot com sua paciente 
Augustine, levando até mesmo a consumação da relação sexual entre os dois no 
final do filme. 
Conseguimos ainda trazer à luz cenas do filme, os conceitos das instâncias 
psíquicas de Freud e da teoria dos sonhos. 
 
 16
 
6. REFERÊNCIAS 
AUGUSTINE. Direção: Alice Winocour. [S. l.: s. n.], 2013. Disponível em: 
GLOBOPLAY. Acesso em: 26 abr. 2021 
BELINTANI, Giovani. Histeria. Psic, São Paulo , v. 4, n. 2, p. 56-69, dez. 2003 . 
D i s p o n í v e l e m < h t t p : / / p e p s i c . b v s a l u d . o r g / s c i e l o . p h p ?
script=sci_arttext&pid=S1676-73142003000200008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 
27 abr. 2021. 
DIDI-HUBERMAN, G. Invenção da histeria: Charcot e a iconografia fotográfica 
da Salpêtrière. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015. Acesso em: 27 abr. 2021. 
FOUCAULT, Michel. O Poder Psiquiátrico. São Paulo: Martins Fontes, 2006. 
Acesso em: 27 abr. 2021. 
Freud, S. (1912b) Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. 
Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1976, 145-159. (Edição Standard 
Brasileira, Vol. XII. Acesso em: 28 abr. 2021. 
Freud, S. (1913) Sobre o início do tratamento (Novas recomendações sobre a 
técnica da psicanálise I). Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1976, pp. 
161-187. (Edição Standard Brasileira, Vol. XII. Acesso em: 28 abr. 2021. 
Freud, S. (1915) Observações sobre o amor transferencial (Novas 
recomendações sobre a técnica da psicanálise III). Obras Completas. Rio de 
 17
Janeiro: Imago, 1976, 205-223. (Edição Standard Brasileira, Vol XII. Acesso em: 27 
abr. 2021. 
Freud, S. (1916-1917a) Conferências introdutórias sobre psicanálise. 
Conferência XXVII: Transferencia. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1976, 
503-521. (Edição Standard Brasileira, Vol XVI. Acesso em: 28 abr. 2021. 
FREUD. A interpretação dos Sonhos. 1900. Acesso em: 27 abr. 2021. 
ZAMBELLI, Cássio Koshevnikoff et al . Sobre o conceito de contratransferência 
em Freud, Ferenczi e Heimann. Psicol. clin., Riode Janeiro , v. 25, n. 1, p. 
179-195, jun. 2013. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0103-56652013000100012&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 
28 abr. 2021.
	INTRODUÇÃO
	CHARCOT
	SINOPSE
	ANÁLISE DO FILME
	CONCLUSÃO
	REFERÊNCIAS