Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Maria Luiza Sena – Med XIV FASA TRICOMONÍASE É uma infecção causada pelo protozoário Trichomonas vaginalis no trato geniturinário da mulher e do homem. É uma doença de transmissão essencialmente sexual, classificada como clássica IST curável, em que um parasita colônica vagina e uretra. A transmissão vertical durante o parto é possível, podendo persistir por 1 ano (WILLIAMS). ❖ Trichomonas vaginalis -> protozoário flagelado (grande mobilidade), anaeróbio facultativo e essencialmente parasita de seres humanos. É ovoide, pouco maior que um leucócito e menor do que uma célula epitelial vaginal. Podem habitar as glândulas parauretrais dos homens e das mulheres. O pH ótimo para o protozoário é de 6,5-7,5 e ele pode provocar um forte desequilíbrio na flora vaginal normal. Sua atividade provoca forte resposta inflamatória, causando os sintomas de edema inflamatório e hiperemia de vasos da mucosa. No colo do útero, podem ocorrer hemorragias puntiformes devido à dilatação dos vasos, caracterizando o específico achado do “colo em morango”. EPIDEMIOLOGIA Tricomoníase é a IST não viral mais comum no mundo (FREBASGO). De acordo com a OMS, existem aproximadamente 170 milhões de casos reportados anualmente em pessoas entre 15-49 anos, a maioria (92%) em mulheres de países em desenvolvimento. A infecção é assintomática e observada em até 50% das mulheres e na maioria de seus parceiros sexuais masculinos. Sob o aspecto epidemiológico, as infecções por Trichomonas vaginalis estão comumente associadas a outras DST e, por essa razão, são um dos marcadores do comportamento sexual de alto risco. ❖ Trichomonas vaginalis é importante cofator na transmissão e aquisição do HIV. Brasil -> estudos referem prevalência que varia de 2,6-20% no sexo feminino. A estimativa é de 4,3 milhões de casos por ano. Os homens, por geralmente apresentarem menos sintomas do que as mulheres, servem como vetores assintomáticos da infecção. Apesar de a infeção ser disseminada, a tricomoníase é condição negligenciada, mesmo podendo levar a importantes sequelas, recebendo pouca atenção nos sistemas de saúde pública. FATORES DE RISCO Há alguma evidência de uma associação ao resultado da gravidez: ❖ Baixo peso ao nascer. ❖ Parto prematuro. ❖ Sepse materna pós-parto. Além disso, como a maioria das doenças sexualmente transmissíveis, os fatores de risco relacionados à tricomoníase são: ❖ Baixo nível socioeconômico. ❖ Prostituição. ❖ Relação sexual sem preservativo. ❖ Promiscuidade. ❖ Abuso de álcool e drogas. ❖ Idade. FISIOPATOLOGIA Admite-se que, após a inoculação do Trichomonas vaginalis na vagina, a sintomatologia ocorra em 1-2 semanas, mas isso dependerá da quantidade do inóculo, virulência do parasita e imunidade local. A resposta imune celular ao Trichomonas vaginalis pode ser agressiva, com inflamação da mucosa da vagina e exocérvice em mulheres e da uretra em homens. Ocorre intensa infiltração de leucócitos, incluindo os da linhagem TCD4, que são alvo do HIV. Mulheres -> ao penetrar na vagina, o parasita cobre-se com as proteínas do hospedeiro, o que permite a evasão dos mecanismos de defesa locais; além disso, possui a capacidade de sobreviver no meio vaginal ácido, hostil, durante muito tempo. APG 29 - CORRIMENTO VAGINAL/URETRAL Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ❖ O parasita permanece fortemente ligado às células da mucosa vaginal. Além da vagina e exocérvice, pode acometer a uretra, bexiga, glândulas de Skenne e Bartholin e endocérvice. Após a infecção, o parasita raramente é eliminado, podendo permanecer indefinidamente no trato genital. ❖ O impacto da infecção durante a gravidez não está totalmente determinado, mas estudos têm demonstrado correlação com prematuridade. ❖ A infecção do trato genital feminino pelo protozoário não induz imunidade duradoura, sendo comuns as infecções recorrentes. Homem -> infecta a uretra inferior, podendo atingir a próstata, vesícula seminal e epidídimo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os homens são portadores de T. vaginalis na uretra e na próstata e são assintomáticos, embora 10-25% das mulheres também não tenham sintoma. Os sintomas classicamente descritos na infecção são corrimento geralmente profuso, amarelado ou amarelo-esverdeado, frequentemente acompanhado de ardor genital, sensação de queimação, disúria e dispareunia. Em muitos casos, há edema e eritema da mucosa afetada, algumas vezes com prurido e irritação. Algumas mulheres desenvolvem pequenas áreas hemorrágicas no colo do útero, que também são conhecidas como manchas de morango. Os sintomas acentuam-se no período pós-menstrual devido à elevação do pH vaginal e à aquisição de ferro da Hb pelo parasita, o que aumenta sua virulência. COMPLICAÇÕES Essa doença é um fator de risco para transmissão do HIV e é contagiosa nos homens e nas mulheres. Nas mulheres, a infecção aumenta os riscos de infertilidade tubária e doença inflamatória pélvica (DIP) atípica e está associada às complicações como nascimento prematuro nas gestantes. Trichomonas aderem facilmente às mucosas e podem atuar como vetores para disseminação de outros microrganismos, transportando patógenos ligados à sua superfície até as tubas uterinas. Nos homens, a tricomoníase é uma causa comum de uretrite não gonocócica e um fator de risco para infertilidade. DIAGNÓSTICO EXAME GINECOLÓGICO O período de incubação do T. vaginalis varia de 3 dias a 4 semanas. Com a tricomoníase, a vulva pode estar eritematosa, edemaciada e escoriada. A vagina elimina leucorreia e hemorragias subepiteliais ou “manchas vermelhas” podem ser observadas na vagina e no colo uterino. Se a colpocitologia oncológica referir a presença de T. vaginalis, idealmente se deve convocar a paciente para confirmação da presença do parasita. Se o teste for positivo, são tomadas as decisões para o tratamento. ❖ Nem sempre isso é possível; nesse caso, fica a critério do profissional ministrar o tratamento mesmo sem a confirmação; por tratar-se de doença negligenciada e disseminada, tal conduta seria aceitável na opinião de alguns profissionais. ❖ O Papanicolaou não é considerado teste diagnóstico devido à baixa sensibilidade. MICROSCOPIA Costuma ser diagnosticada com a identificação microscópica de parasitas em um preparado salino da secreção. Os tricomonas são protozoários anaeróbios com flagelo anterior e, portanto, móveis. ❖ Os tricomonas tornam-se menos móveis com o frio, e as lâminas devem ser observadas em 20 minutos. ❖ O exame direto do preparado salino é altamente específico, ainda que a sensibilidade não seja tão alta (60 a 70%). pH VAGINAL A medida do pH vaginal revela valores acima de 4,5 e o teste das aminas (whiff test) pode ser positivo devido à presença de germes anaeróbios associados à VB. ❖ Teste das Aminas -> é feito com a adição de hidróxido de potássio a 10% na secreção coletada do fundo de saco vaginal, com aparecimento imediato de odor desagradável. BACTERIOSCOPIA A FRESCO É o método mais utilizado para diagnóstico, por ser prático e barato. Coloca-se em uma lâmina de vidro uma gota de conteúdo vaginal e uma gota de solução salina e observando-se ao microscópio. O parasita é identificado pela movimentação pendular. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA negatividade do exame a fresco. NAAT - TESTE DE AMPLIFICAÇÃO DO ÁCIDO NUCLEICO É altamente sensível, detectando 5x mais o parasita do que o exame a fresco. GONORRÉIA IST de notificação compulsória causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae. A infecção ocorre por contato sexual e é necessário o tratamento simultâneo de parceiros sexuais atuais e recentes. A infecção endocervical é assintomática em até 50% dos casos, o sintoma mais comum é corrimento vaginal alterado, e menos frequente é a queixa dedor abdominal. O gonococo é um diplococo Gram-negativo piogênico (formador de pus). Em fase bem inicial, os gonococos podem também ser encontrados extracelularmente. São sensíveis à maioria dos antissépticos, morrendo facilmente fora do seu habitat. Os seres humanos são os únicos hospedeiros naturais do N. gonorrhoeae. O microrganismo prolifera mais facilmente em epitélios quentes secretores de muco. A porta de entrada pode ser o sistema geniturinário, olhos, orofaringe, região anorretal ou a pele. A transmissão geralmente ocorre por relações sexuais, exceto nos casos de transmissão perinatal. A autoinoculação do microrganismo nas conjuntivas pode ocorrer. ❖ RN de mães infectadas podem adquirir a infecção durante sua passagem pelo canal de parto e estão sujeitos a desenvolver conjuntivite gonocócica, que pode causar cegueira se não for tratada adequadamente. EPIDEMIOLOGIA A gonorreia apresenta prevalência muito menor que a Chlamydia, porém atinge cerca de 1-2% da população feminina (FREBASGO). A gonorreia é uma IST, permanecendo como um problema de saúde pública em todo o mundo. Embora nos últimos anos tenha ocorrido declínio na incidência da gonorreia, permanece como causa significante de morbidade nas nações em desenvolvimento. A gonorreia é a 2ª mais frequente IST causada por bactérias, provocando importante morbidade. A OMS estimou 78 milhões de novos casos no mundo em 2012 (15-49 anos). No Brasil, ocorrem mais de 1,5 milhão de novos casos por ano. FATORES DE RISCO ❖ Idade (pessoas mais jovens). ❖ Presença de novos parceiros sexuais. ❖ Relacionamento com um parceiro sexual que tem múltiplos parceiros simultâneos. ❖ Múltiplos parceiros sexuais. ❖ Diagnóstico prévio de gonorreia. ❖ Ter outras IST. FISIOPATOLOGIA Etapas da patogênese da Neisseria gonorrhoeae: Adesão -> N. gonorrhoeae adere às células das mucosas, mediadas pelo Pili (responsável pela adesão às células e transferência de material genético e aquisição de resistências aos antimicrobianos), OPA (proteínas de adesão da bactéria à célula) e outras proteínas de superfície. Invasão -> os microrganismos são pinocitados por células que os transportam da mucosa ao espaço subepitelial. Endotoxina (LOS) -> prejudica a motilidade ciliar e contribui para a destruição das células ciliares. ❖ Desencadeia intensa resposta inflamatória, com liberação de TNFα, responsável pelo recrutamento de leucócitos, inflamação e aparecimento dos sintomas. Um grande mecanismo de patogenicidade dos Gram (-) é a produção de endotoxinas, que está presente na parede dos LOS, bloqueia anticorpos e vai mediar a maioria das manifestações clínicas. LOS -> dano celular e invasão da submucosa por neutrófilos, formação de abscessos e exsudação de material purulento. Disseminação do gonococo -> devido à incapacidade dos anticorpos e à falha do sistema. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A gonorreia pode se apresentar na forma de vaginite ou de cervicite. Em geral, as mulheres descrevem uma secreção vaginal profusa sem odor, não irritante e de cor branco-amarelada. Os gonococos também podem infectar as glândulas de Bartholin e Skene e a uretra, e ascender para o endométrio e tubas uterinas (infecção no trato reprodutivo superior). Os sinais inflamatórios mais importantes são: ❖ Exsudato purulento/mucopurulento endocervical visível no canal endocervical ou em uma amostra de swab endocervical (“cervicite mucopurulenta”). ❖ Sangramento endocervical facilmente induzido pela passagem suave de um cotonete/escovinha através do orifício endocervical. Um ou ambos sinais podem estar presentes. O colo fica edemaciado e aumenta seu volume, ficando com aspecto congesto. Os sintomas podem ocorrer ou piorar durante ou pouco depois das menstruações, porque a bactéria é um diplococo intracelular que prolifera no sangue menstrual, mas não consegue sobreviver muito tempo fora do corpo humano. COMPLICAÇÕES As infecções gonocócicas podem resultar em várias síndromes clínicas específicas: Oftalmia gonocócica -> complicação rara. Pode resultar do contato direto ou de autoinoculação em indivíduos com gonorreia anogenital. Manifesta-se com conjuntivite purulenta aguda, que pode ulcerar a córnea. Gonorreia urogenital em homens -> secreção uretral purulenta e disúria. O exame físico revela exsudato uretral purulento. Às vezes, observa-se eritema do meato uretral. Gonorreia do sistema genital inferior (mulheres) -> corrimento vaginal anormal. Sangramento vaginal anormal. Pode provocar disúria. DIP -> dor na parte inferior do abdome, de intensidade variável e com frequência leve. Em geral, é bilateral, ocorrendo dias a semanas antes da apresentação clínica e pode ser exacerbada pelo coito. Pode ter sangramento vaginal anormal, febre, calafrios, anorexia, uretrite e proctite. Infecção retal -> comum em mulheres e HSH. Manifesta-se por prurido anal, corrimento mucopurulento, dor, tenesmo e sangramento. Infecção faríngea -> resulta da exposição orogenital. Raros casos podem exibir faringite exsudativa e linfadenopatia cervical. Geralmente tem resolução espontânea. DIAGNÓSTICO O diagnóstico se baseia na história de exposição sexual e nos sintomas referidos e pode ser confirmado pela demonstração do microrganismo por coloração com Gram ou cultura. Diagnóstico laboratorial: ❖ Esfregaço cervical ou uretral corado por técnica de Gram: observam-se diplococos gram-negativos intracitoplasmáticos (em leucócitos), mas não qualifica o diagnóstico, sendo necessária a confirmação. ❖ Cultura em meio de Thayer-Martin, ❖ Captura híbrida para gonococo. ❖ PCR para gonococo. MICROSCOPIA É positiva quando são observados neutrófilos polimorfonucleares com diplococos Gram-negativos intracelulares de morfologia típica. Os esfregaços uretrais com coloração de Gram têm sensibilidade de 90-98% no diagnóstico de uretrite gonocócica sintomática em homens e especificidade >95%. Entretanto, a coloração de Gram tem sensibilidade de apenas 50% na infecção cervical ou retal e na gonorreia uretral assintomática. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA CULTURA O isolamento de N. gonorrhoeae por cultura, em geral com meios seletivos contendo antibióticos, é a base histórica do diagnóstico de gonorreia. É importante na vigilância da resistência a agentes antimicrobianos e contextos clínicos selecionados. NAAT - TESTE DE AMPLIFICAÇÃO DO ÁCIDO NUCLEICO Nos EUA, os NAATs suplantaram a cultura como exame laboratorial dominante utilizado no diagnóstico da gonorreia na maioria das situações. Os NAATs aprovados pela FDA incluem: ❖ Reação em cadeia da polimerase. ❖ Amplificação mediada por transcrição. ❖ Deslocamento de fita de DNA. As vantagens dos NAATs incluem aumento da sensibilidade em comparação com a cultura, particularmente nas infecções extragenitais, a capacidade de examinar amostras de urina e swabs vaginais obtidos pela própria paciente e o fato de que a maioria dos NAATs é agora comercializada como ensaios de combinação, possibilitando testagem simultânea para N. gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis . A principal desvantagem dos NAATs é a incapacidade de efetuar um teste de sensibilidade aos agentes antimicrobianos. MYCOPLASMA Os micoplasmas e os ureaplasmas são bactérias cuja maioria das espécies é considerada apenas comensal para o ser humano. Entretanto, o Ureaplasma urealyticum e o Mycoplasma hominis são conceituados como micoplasmas genitais patogênicos e são considerados também germes oportunistas, por causarem infecção em populações suscetíveis, principalmente em imunodeprimidos. Esses patógenos estão associados a infecções urogenitais em humanos e a infecções respiratórias ou sistêmicas em neonatos. Os micoplasmas podem ser encontrados em até 8%-41% em mulheres assintomáticassexualmente ativas. Estão claramente relacionados à atividade sexual e aos hormônios sexuais. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ❖ Dispareunia (dor genital durante a relação sexual), disúria, polaciúria, infecção urinária e genital. ❖ Corrimento vaginal não é característico. DIAGNÓSTICO EXAME CLÍNICO ❖ Descarga uretral de material com características purulentas. ❖ Graus variados de cervicite. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ❖ Exame bacterioscópico citológico (método de Leishman), direcionado às células cervicais e vaginais. ❖ Cultura -> apesar de trabalhosa, é bastante factível. ❖ Biologia molecular (PCR). CANDIDÍASE A candidíase vulvovaginal é extremamente importante pelos sintomas, que podem ser muito desagradáveis, por facilitar a aquisição/transmissão de outras IST’s, inclusive o HIV, por comprometer a sexualidade e outros aspectos da vida da mulher, afetando negativamente a qualidade de vida. As espécies de Candida residem normalmente nos tratos gastrintestinal e geniturinário e na pele. Como colonizadoras, as espécies de Candida não causam infecção, a não ser que haja algum defeito nos mecanismos de defesa do hospedeiro ou que fatores exógenos, como uso de antibióticos ou ruptura e/ou maceração da pele, tenham perturbado a ecologia da microbiota normal. Candida albicans é a espécie mais prevalente, responsável por 85% a 95% dos casos; Candida glabrata e Candida tropicalis estão associadas a 5-10% dos casos; outras espécies como Candida krusei, Candida parapsilosis e Candida guilliermondii são raramente identificadas. A transmissão pode ser sexual, e vários estudos relatam associação entre candidíase e sexo oral. EPIDEMIOLOGIA Estima-se que 75% das mulheres tenham pelo menos um episódio de candidíase vulvovaginal (CVV) durante a vida. Quase 45% das mulheres terão dois ou mais episódios. Poucas têm infecção recorrente, crônica. Brasil -> não existem dados epidemiológicos sobre a candidíase. Já foram identificadas mais de 400 cepas de cândida. Embora a espécie Candida albicans seja a mais importante causadora de candidíase, a incidência de não-albicans tem crescido de maneira importante nos últimos anos. FATORES DE RISCO ❖ Uso de antibióticos. ❖ Gravidez. ❖ DM. Gravidez e DM estão associadas à diminuição qualitativa da imunidade celular, acarretando maior incidência de candidíase. CLASSIFICAÇÃO A CVV pode ser classificada em complicada e não complicada: “Complicada” -> refere-se a candidíase recorrente/severa ou por espécies não albicans ou em mulheres com DM (condições que comprometem o sistema imune – ex.: infecção por HIV), debilitadas ou recebendo imunossupressores. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA “Não complicada” -> candidíase que se apresenta em episódios esporádicos/infrequentes, de intensidade leve/moderada, cujo agente etiológico é a Candida albicans e ocorre em mulheres não imunocomprometidas. FISIOPATOLOGIA Quando o sistema imune não consegue inibir a proliferação dos fungos, ocorre a passagem do estado saprófita para o patogênico, com consequente aparecimento de sinais e sintomas. O modo habitual de infecção por Candida consiste em sua saída de seu nicho normal para entrada na corrente sanguínea ou outros tecidos; em geral, a fonte é o sistema digestório. A 1ª defesa do hospedeiro em resposta a esse evento consiste em fagocitose e destruição por neutrófilos, monócitos e macrófagos. ❖ Os monócitos inflamatórios que expressam o receptor de quimiocinas (CCR2) nos tecidos desempenham um papel antifúngico essencial, particularmente nas primeiras 48hs após a infecção. A fagocitose é intensificada na presença de anticorpos anti- Candida específicos e complemento. Vários mecanismos diferentes operam no interior de neutrófilos e dos macrófagos, possibilitando a destruição das leveduras. Quando Candida tem acesso à corrente sanguínea, a regra consiste em disseminação hematogênica da levedura. ❖ A biopsia dos órgãos afetados revela múltiplos microabscessos compostos de neutrófilos, leveduras em brotamento e, com frequência, hifas ou pseudo-hifas. Com o decorrer do tempo, as lesões apresentam uma resposta neutrofílica e granulomatosa mista. A imunidade das células T constitui uma importante defesa do hospedeiro contra a infecção por Candida nas superfícies mucosas. A ubiquitina ligase, Casitas B linfoma B (CBLB), um ativador de células T e indutor da diferenciação dessas células, é crucial para restringir a magnitude da resposta imune inata contra a infecção por C. albicans, porém ao mesmo tempo confere proteção subótima ao hospedeiro. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Caracteriza-se por prurido, de intensidade variável, acompanhado por corrimento geralmente esbranquiçado (fluido ou com aspecto de “leite talhado”). Dependendo da intensidade do processo inflamatório, pode haver queixa de desconforto, dor, disúria e dispareunia. Exame Ginecológico -> é frequente observar hiperemia vulvar, edema e fissuras. O exame especular mostra hiperemia da mucosa vaginal e conteúdo vaginal esbranquiçado, em quantidade escassa, moderada ou abundante, de aspecto espesso ou flocular, aderido ou não às paredes vaginais. O pH vaginal encontra-se geralmente abaixo de 4,5. O Teste das Aminas (whiff test) é negativo na candidíase. DIAGNÓSTICO O diagnóstico clínico deve sempre ser confirmado pela presença de fungos, que pode ser realizada por meio de: EXAME A FRESCO Realizado colocando-se em uma lâmina de vidro uma gota de conteúdo vaginal e uma gota de soro fisiológico ou hidróxido de potássio a 10% e observando-se ao microscópio a presença de hifas ou esporos. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA BACTERIOSCOPIA Realizado com coloração pelo método de Gram. CULTURA EM MEIOS ESPECÍFICOS Permite a identificação do fungo, sua espécie e eventual realização do antifungigrama, recomendável nos casos recorrentes. CLAMÍDIA As clamídias são bactérias intracelulares obrigatórias que causam uma variedade de doenças em seres humanos e em animais e muita morbidade. Os agentes etiológicos mais comuns são a Chlamydia trachomatis, a C. psittaci e a C. pneumoniae. A clamídia, além de ser transmitida por meio do contato sexual, pode ter transmissão vertical. C. trachomatis possui 18 sorovares imunologicamente definidos: ❖ A, B, Ba e C causam a doença ocular tracoma. ❖ D a K causam infecções sexualmente transmissíveis (IST) localizadas nas superfícies das mucosas. ❖ L1, L2 e L3 causam doenças sexualmente transmissíveis que levam à doença invasiva nos linfonodos (linfogranuloma venéreo). EPIDEMIOLOGIA A C. trachomatis é a 2ª espécie mais prevalente entre as DSTs nos Estados Unidos, e sua maior prevalência está entre os jovens com menos de 25 anos. Uma vez que muitas pessoas com esses organismos são assintomáticas, recomenda-se rastreamento anual nas mulheres sexualmente ativas com idade 25 anos e naquelas consideradas de risco. A infecção por CT é a mais comum IST causada por bactéria em todo o mundo, superando a infecção gonocócica e a sífilis. A infecção é seguramente a mais frequente na população feminina (variando de 2-30%), com alto grau de morbidade e potencial de complicação (de trabalho de parto prematuro, endometrite puerperal, DIP aguda, esterilidade conjugal e dor pélvica crônica). FATORES DE RISCO ❖ Novo parceiro sexual. ❖ Mais de um parceiro sexual nos 3 meses anteriores. ❖ História de infecção por C. trachomatis ou outra IST. ❖ Uso inconsistente de preservativo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O C. trachomatis causa infecção do epitélio colunar e, assim, os sintomas refletem a infecção de glândulas ectocervicais, com resultante descarga mucopurulenta ou secreções ectocervicais. ❖ 70% dos casos são assintomáticos. As manifestações incluem colo edemaciado (volume aumentado), hiperemiado,com mucorreia (eventualmente purulenta), friável (sangra fácil ao toque). Acentuação do ectrópio (mácula rubra), dor no ato sexual e à mobilização do colo uterino ao exame ginecológico. Em casos de uretrite, algumas mulheres podem se queixam de sintomas típicos de ITU, como aumento da frequência urinária e disúria. DIAGNÓSTICO A análise microscópica das secreções em preparado salino em geral revela 20 ou mais leucócitos por campo microscópico. Como exames mais específicos, cultura, NAAT e ensaio imunoenzimático (Elisa) estão disponíveis para amostras ectocervicais. ❖ A alternativa mais utilizada é um teste combinado para gonococo e clamídia. IST por C. trachomatis são mais bem identificadas em amostras genitais usando testes de amplificação de ácido nucleico (NAATs) porque esses testes são mais sensíveis do que a cultura de células e as exigências de manipulação da amostra são menos estritas. ❖ Os NAATs para infecção genital podem ser feitos utilizando- se amostras obtidas de forma não invasiva, tais como urina ou secreções vaginais obtidas pelo paciente ou pelo médico. VULVOVAGINITE AGENTE SINTOMA pH MICROSCOPIA TESTE DAS AMINAS TRATAMENTO Vaginose Bacteriana Bactérias anaeróbias Odor fétido >4,5 Clue cells + Metronidazol Tricomoníase Trichomonas vaginalis Inflamação, corrimento amarelado, ardor >4,5 Protozoário flagelado + Metronidazol Candidíase Candida sp Prurido e corrimento grumoso <4,5 Pseudohifas - Fluconazol https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-oftalmol%C3%B3gicos/doen%C3%A7as-da-conjuntiva-e-esclera/tracoma Maria Luiza Sena – Med XIV FASA GARDNERELLA A vaginose bacteriana (VB) é uma alteração da flora bacteriana vaginal normal que acarreta a diminuição do número de lactobacilos produtores de peróxido de hidrogênio e o supercrescimento de bactérias predominantemente anaeróbicas principalmente Gardnerella vaginalis. Os agentes etiológicos mais frequentes são Gardnerella, Atopobium, Prevotella, Megasphaera, Leptotrichia, Sneatia, Bifidobacterium, Dialister, Clostridium e Mycoplasmas. EPIDEMIOLOGIA A vaginose bacteriana é uma afecção extremamente prevalente. Estimativas mundiais de prevalência variam de 10-30%. Estudo realizado nos Estados Unidos, no período de 2001 a 2004, com amostra nacional representativa de 3.739 mulheres mostrou prevalência de 29,2% em mulheres americanas na faixa etária de 14 a 49 anos. Brasil -> dependendo da população estudada, a afecção é responsável por até 40% dos casos de queixas vaginais. FISIOPATOLOGIA Não se sabe que fator desencadeia o distúrbio da flora vaginal normal. Supõe-se, no entanto, que haja influência da alcalinização repetida da vagina, decorrente de coitos frequentes ou do uso de duchas vaginais. Após o desaparecimento dos lactobacilos normais produtores de peróxido de hidrogênio, é difícil restabelecer a flora vaginal normal, e a recorrência de VB é comum. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro clínico caracteriza-se por corrimento de intensidade variável, acompanhado de odor vaginal fétido (caracterizado frequentemente como “odor de peixe” ou amoniacal). Por vezes, a paciente refere apenas o odor, estando o corrimento ausente. ❖ O odor fétido piora com o intercurso sexual desprotegido e durante a menstruação, devido à volatização de aminas aromáticas (putrescina, cadaverina, dimetilamina) resultantes do metabolismo das bactérias anaeróbias pela alcalinidade do sêmen ou do sangue menstrual. COMPLICAÇÕES Mulheres com VB estão sob maior risco de DIP, DIP pós-aborto, infecções pós-operatórias da cúpula vaginal após histerectomia e anormalidades da citologia cervical. Gestantes com VB correm risco de ruptura prematura das membranas, trabalho de parto e parto pré-termo, corioamnionite e endometrite pós-cesariana. DIAGNÓSTICO Na anamnese avaliar práticas sexuais e fatores de risco, DUM, práticas de higiene vaginal e uso de medicamentos tópicos ou sistêmicos e/ou outros agentes irritantes locais. ❖ Além disso, avaliar o fluxo vaginal (consistência e alterações no odor, presença de prurido ou irritação local). Ao exame ginecológico, o conteúdo vaginal apresenta-se homogêneo, em quantidade variável (geralmente escassa, mas pode ser moderada ou abundante) e com coloração geralmente esbranquiçada, branco-acinzentada ou amarelada. Para o diagnóstico, foram propostos alguns critérios, incluindo achados clínicos e laboratoriais ou apenas dados microbiológicos. Clue cell. Os critérios mais conhecidos e divulgados são os de Amsel e os de Nugent -> os critérios propostos por Amsel requerem 3 dos 4 itens a seguir: Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ❖ Corrimento vaginal branco-acinzentado homogêneo aderente às paredes vaginais. ❖ Medida do pH vaginal maior do que 4,5. ❖ Teste das aminas (whiff test) positivo, ou seja, desprendimento de odor fétido após a adição de KOH 10% a uma gota de conteúdo vaginal, presença de “células-chave” (“clue cells”), que são células epiteliais recobertas por cocobacilos Gram variáveis na bacterioscopia. O escore de Nugent baseia-se em elementos avaliados na bacterioscopia com coloração pelo método de Gram, particularmente os morfotipos de Lactobacillus, de Gardnerella vaginalis e de Mobiluncus sp. O resultado da avaliação é traduzido em escores, assim considerados: ❖ Escore de 0-3 -> padrão normal; ❖ Escore de 4-5 -> flora vaginal intermediária; ❖ Escore de 7-10 -> vaginose bacteriana. Outros testes incluem o AFFIRM VP III -> é um teste de hibridização para altas concentrações de Gardnerella vaginalis, e o OSOM BV Blue test (Sekisui Diagnostics, Framingham, MA) -> detecta a enzima sialidase ativada presente no fluido vaginal de mulheres com VB; ambos são úteis e têm boa efetividade quando comparados ao Gram. PCR tem sido utilizada para detecção de microrganismos associados à VB apenas para pesquisas. Cultura para Gardnerella vaginalis não é recomendada para o diagnóstico.
Compartilhar