Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ESTUDO DIRIGIDO: LESÃO CELULAR 1. Quais são os possíveis agentes agressores que provocam lesões? R: As lesões podem ser desencadeadas por causas bastante diversas. A priori, essas causas são divididas em: exógenas, isso é, causada por agentes do meio ambiente, ou endógenas, proveniente do próprio organismo. As causas exógenas são representadas por: agentes físicos como força mecânica (trauma), radiações, variações de temperatura e alterações da pressão atmosférica; agentes químicos que compreendem uma grande variedade de tóxicos, como defensivos agrícolas, poluentes ambientais, contaminantes alimentares e muitas outras substâncias, incluindo medicamentos e drogas ilícitas; agentes biológicos como micoplasmas, riquétsias, vírus, bactérias, protozoários e metazoários; e distúrbios da nutrição que envolvem tanto a deficiência como o excesso de nutrientes. As causas endógenas estão relacionadas com o patrimônio genético, os mecanismos de defesa do organismo contra agressões e os fatores emocionais. Vale ressaltar que, no desencadeamento de lesões e doenças, deve-se considerar a forte interação entre os ambientes físico (causas físicas, químicas e biológicas), social (condições de vida) e endógeno (do próprio indivíduo, como perfil genético e psiquismo). 2. Descreva os mecanismos adaptativos e de lesão que ocorrem durante o processo de redução de oxigênio. R: As células buscam alterar seu metabolismo com a finalidade de adaptar-se mediante mudança na utilização da energia, de modo que o ATP seja consumido em atividades de bombas iônicas e em sínteses celulares, estimulando: (1) aceleração da glicólise, (2) aumento da captação de glicose; (3) inibição da glicogênese e da síntese de ácidos graxos, de triglicerídeos e de esteroides. Os fatores reguladores de transcrição gênica, como o HIF-1 age como indutor para elevar a resistência à limitação de oxigênio em tecidos submetidos a isquemia transitória, principalmente no aumento da capacidade antioxidante e antiapoptótica. A ligação de moléculas como: adenosina, opioides, PGE, endotelina, noradrenalina e TNF- α a seus receptores ativa rotas intracelulares induzindo membros da família das MAP cinases, as quais estimulam fatores de transcrição ativadores de genes que contribuem para a sobrevivência de células e inibem a apoptose. As lesões por hipóxia podem ser reversíveis ou irreversíveis. As lesões reversíveis são assim chamadas, pois cessando a agressão, a célula volta ao seu aspecto normal, retomando suas atividades metabólicas, e devido a diminuição na produção de ATP não compensada por produção de energia via glicólise no citosol, surgem modificações como: (1) redução de bombas eletrolíticas dependentes de ATP, que beneficia a retenção de sódio (Na+) no citosol, aumentando a osmolaridade e por conseguinte à expansão isosmótica do citoplasma, iniciando a lesão chamada de degeneração hidrópica, que é um acúmulo de água dentro da célula. (2) Modificação da permeabilidade de outros íons como o cálcio (Ca++) que ativam proteínas cinases Ca+ calmodulina-dependentes, conduzindo ao desarranjo no citoesqueleto. (3) Abundância de Acetil-CoA às mitocôndrias com cadeia respiratória parcialmente inativada promove o acúmulo deste, o que beneficia a produção de ácidos graxos, podendo induzir ao acúmulo de triglicerídeos sob a forma de pequenas gotas no citosol (esteatoses). Logo, as alterações moleculares reversíveis são genericamente chamadas de degenerações. Porém se a agressão persiste, as perturbações eletrolíticas e a síntese de proteínas e lipídios passam a agredir as membranas citoplasmáticas e de organelas, prejudicando as condições da célula, de modo que essas modificações se tornam irreversíveis e culmine na morte celular. O acúmulo de Ca2+ no citoplasma ativa fosfolipases e estimular a destruição dos lipídios da membrana citoplasmática, alterando também a polimerização e a associação de proteínas dos filamentos intermediários, assim como a ativação de proteases Ca++ calmodulina-dependentes. A lesão irreversível causada por hipóxia/anóxia mais grave é a necrose. 3. Descreva como ocorre a formação de radicais livres após o processo de lesão celular. R: Os radicais livres são moléculas que apresentam um elétron não emparelhado no orbital externo, o que as torna, geralmente, muito reativas com outras moléculas, incluindo lipídeos, proteínas e ácidos nucleicos. Eles podem ser formandos após um processo de lesão celular como acontece em tecidos que passam por um longo período de isquemia. Observou-se que, quando esses tecidos são reoxigenados (reperfusão), eles sofrem um agravamento da lesão, pois há a formação de radicais livres a partir das primeiras moléculas de O2 que chegam aos tecidos após a recuperação do fluxo sanguíneo. Durante a hipóxia, quando a célula sofre uma lesão, há a produção e liberação de algumas enzimas, entre elas a xantina oxidase que atua como uma facilitadora na produção de radicais livres, transformando O2 em superóxido, do qual se originam outros radicais capazes de peroxidar membranas e produzir lesões irreversíveis. Essas observações podem ser confirmadas pois o uso de inibidores da xantina oxidase como o alopurinol, e de enzimas que catalisam a dismutação do superóxido em H2O2 e O2 como a superóxido dismutase, foram capazes de impedir o aparecimento de lesão de reperfusão após isquemia experimental. 4. Vários agentes podem levar ao surgimento de uma lesão celular, porém, cada um pode provocar danos diferentes à célula. Sabendo disso, descreva quais as alterações os agentes agressores abaixo podem provocar na célula após uma lesão: a. Variações de temperatura (baixas e altas temperaturas): R: As lesões causadas pela ação do frio estão intimamente relacionadas com a velocidade em que acontece a redução da temperatura, proporcionando a adequação às variações de temperatura ambiente. Mediante a isto, quando um membro do corpo humano é submetido a baixas temperaturas por muito tempo, apresenta: (1) vasoconstrição, oligoemia, hipóxia e lesões degenerativas em consequência da limitação do fornecimento de oxigênio. (2) lesão endotelial, causada pela diminuição de oxigênio, que promove a permeabilidade vascular e provoca edema. (3) caso o resfriamento permaneça, a vasoconstrição se intensifica, a anóxia se agrava e surge necrose na extremidade do membro atingido. (4) Com a elevação da intensidade do frio, é perdido o controle nervoso da vasomotricidade, instalando-se vasodilatação arteriolar e venular, com isso surgem hiperemia e adição da quantidade de sangue no leito capilar e nas vênulas, causando aumento da hipóxia. (5) Ocorrendo o congelamento da água intracelular, conduz ao mecanismo de morte celular. A ação local de altas temperaturas origina lesões chamadas de queimaduras, cuja gravidade está associada à extensão e profundidade da lesão, surgindo por meio de vários mecanismos: (1) liberação de histamina de mastócitos, a qual produz vasodilatação e ampliação da permeabilidade vascular (edema); (2) liberação da substância P de terminações nervosas aferentes; (3) ativação das calicreínas plasmática e tecidual, com geração de bradicinina, que intensifica a vasodilatação e o edema; (4) lesão direta da parede vascular, que pode aumentar o edema, ocasionando hemorragia e levar à trombose de pequenos vasos, resultando em isquemia e necrose; (5) ação direta sobre as células, acarretando em degenerações hidrópica quando a temperatura ultrapassa 52 ºC que é justificado pelo crescimento do consumo de ATP, que estimula as reações enzimáticas, sem que ocorra o aumento proporcional do fornecimento de oxigênio, e caso ocorra um aumento da temperatura acima de 55ºC, culmina em morte celular em função da desnaturação de proteínas e de alterações intensas nas atividades metabólicas. b. Radiações: R: As lesões provocadaspor radiações ionizantes ocorrem por meio de dois mecanismos: (1) ação direta sobre as macromoléculas em que pode acontecer quebras, novas ligações e ionização de radicais, descaracterizando a função dessas moléculas, ou (2) ação indireta, formando radicais livres a partir da ionização da água. Os tecidos que possuem intensa atividade mitótica, são os mais sensíveis à radiação, sendo os primeiros a apresentarem modificações após a agressão. As lesões actínicas são alterações produzidas pela radiação, e o seu surgimento está associado a dosagem e tempo de exposição, podendo ser classificada como aguda (imediata), crônica e tardia. Na fase aguda são encontradas lesões degenerativas, que vão desde degeneração hidrópica até necrose. E tratando-se de células com intensa atividade mitótica, ocorre a inibição da propagação e o surgimento de mitoses anormais, além do mais, é frequente que células com núcleos pleomórficos resultantes de aneuploidia e poliploidia. Ocorrendo também a vasodilatação e tumefação de células endoteliais e fibrose que podem culminar em necrose, além do crescimento da permeabilidade vascular (edema), rompimento da parede, hemorragia, formação de trombos e lesões resultante de obstrução do vaso. Na fase tardia, os vasos apresentam uma multiplicação endotelial e fibrose hialina da parede, com diminuição da luz, e dilatações vasculares podem durar por um longo período. Verifica-se uma migração de fagócitos (neutrófilos e macrófagos) que eliminam células mortas e dão início aos estímulos para a cicatrização. Quando acontece do corpo receber por inteiro irradiação, pode ocorrer desde pequenas alterações funcionais até uma doença mais grave, seguido de óbito. Os raios UVB possuem ação melanogênica, induzem a pigmentação, e são responsáveis pelo fenômeno de fotossensibilização, e ocasionam lesões proliferativas, incluindo neoplasias (carcinomas, melanomas). Os raios UVA provocam degeneração em células da epiderme e modificações no seu DNA, o que pode culminar em lesões proliferativas benignas (ceratose actínicas) ou de malignidade (epitelioma basocelular, carcinoma de células escamosas e melanomas). c. Poluentes do ar: R: A irritação produzida por gases e partículas levam a um aumento na secreção de muco e na velocidade dos batimentos ciliares. Em seguida, tem-se um crescimento das células basais e surge estímulo para diferenciação de células mucosas, que assumem a posição de células ciliadas no revestimento epitelial, dificultando a eliminação de muco e de partículas nele retidas. Também afetam na diferenciação das células da camada basal, que passam a originar células ciliadas com deficiência na maturação dos cílios, tornando-as ineficientes na sua atividade motora, e posteriormente, surge metaplasia escamosa do epitélio brônquico. Todas essas alterações reduzem a capacidade de eliminação de contaminantes do ar, favorecendo infecções respiratórias, além de agravar outras doenças, como a asma. A toxicidade do monóxido de carbono (CO) provoca hipóxia tecidual sistêmica que provoca lesões degenerativas, edema e hemorragias por lesão endotelial. A toxicidade do dióxido de enxofre (SO2) produz broncoconstrição, reduzindo a função respiratória. Com o do ozônio (O2) irrita as vias respiratórias, podendo causar edema pulmonar grave, assim como óxido nitroso (NO) caso inalado em altas concentrações. As poeiras, que contaminam o ar, quando inaladas, podem provocar lesões pulmonares denominadas pneumoconioses. d. Etanol R: A ação lesiva do álcool depende sobretudo dos seus metabólitos: (1) formação do acetaldeído (pela ADH) e sua oxidação pela acetaldeído desidrogenase (ALDH), é consumido NAPD e gerado NADPH, e a NAPD é indispensável para a oxidação de ácidos graxos e para a conversão do lactato em piruvato, e com a sua redução, origina esteatose e acidose lática. (2) via microssomal e por ação da CYP2E1, são gerados radicais livres, que causam peroxidação de lipídeos de membranas e desestruturação destas, com vários efeitos; (3) o acetaldeído pode formar adutos com proteínas ou DNA, causando anormalidades proteicas variadas, causando um desarranjo de suas funções e, possivelmente, neoplasias. As principais modificações hepáticas no alcoolismo são esteatose, apoptose, necrose, reação inflamatória e fibrose. Além de lesões hepáticas, o consumo de etanol gera lesões no sistema nervoso, no coração, trato digestivo, distúrbios nutricionais, síndrome alcoólica fetal e aumento do risco de alguns cânceres. Como as células destes órgãos não possuem ADH, conclui-se que as lesões estejam associadas a outros mecanismos, como a ação lesiva de ésteres etílicos formados pelo etanol com ácidos graxos e do acetaldeído circulante formado do metabolismo do etanol. e. Vírus R: Os vírus podem causar lesões por ação direta ou indireta. Por ação direta, o vírus penetra nas células e pode causar: (1) infecção abortiva, em que o vírus não consegue replicar, deste modo não causa lesão grave; (2) infecção persistente, com síntese contínua e eliminação do vírus, produzindo a infecção lenta ou arrastada, com lesões celulares cumulativas que tem expressão clínica tardia; (3) infecção latente, o vírus incorpora ao genoma do hospedeiro e permanece até ser estimulado a entrar em atividade, pode não causar lesão imediata, mas pode levar a transformação celular tardia; (4) infecção lítica, na qual o vírus prolifera e causa a morte da célula hospedeira. Além da decomposição da célula hospedeira, o efeito citopático direto do vírus pode se manifestar também pelo aparecimento de outras lesões, como: (1) fusão de células formando sincícios, fenômeno comum em certas infecções virais do sistema respiratório e em hepatites virais; (2) alterações no citoesqueleto celular, em virtude de modificações em microfilamentos e microtúbulos, as quais se manifestam em cílios, como acontece em infecções respiratórias; (3) acúmulo de partículas virais completas ou incompletas, formando corpúsculos de inclusão no citoplasma ou núcleo; (4) vacuolização de células epiteliais, chamada de coilocitose; (5) indução de apoptose. Por ação indireta, os vírus produzem lesões sobretudo por mecanismos imunitários. A lise das células infectadas se faz por: (1) linfócitos T citotóxicos, que reconhecem epítopos via MHC I; (2) linfócitos Th1, os quais liberam fatores citotóxicos (linfotoxina ou TNF-β) ou estimuladores de macrófagos, que, uma vez ativados, também liberam fatores citotóxicos para a célula infectada. (3) células NK, as quais matam células infectadas que reduziram ou anularam a expressão de MHC I; (4) anticorpos, que destroem a célula infectada por ativar o sistema complemento ou por promover citotoxicidade mediada por células dependentes de anticorpos (ADCC). A destruição da célula infectada é indispensável para erradicar a infecção, já que os anticorpos só podem neutralizar os vírus. E em muitas viroses, a lesão celular depende essencialmente de agressão imunitária, que podem induzir a formação de trombos que obstruem os vasos, e os imunocomplexos são responsáveis por agravamento da lesão, e a formação de imunocomplexos circulantes pode levar ainda à sua deposição em tecidos, onde produzem lesões inflamatórias.
Compartilhar