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Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 LESÃO E MORTE CELULAR A lesão celular ocorre quando as células são submetidas a um estímulo estressante tão excessivamente que não são mais capazes de se adaptar (ou quando são expostas a agentes lesivos ou por anomalias intrínsecas); Esses estímulos lesivos afetam muitas vias metabólicas e organelas celulares, e isso pode fazer com que uma lesão reversível possa progredir para uma lesão irreversível e culminar em morte celular. LESÃO REVERSÍVEL Nesse tipo de lesão, nos estágios iniciais ou nas formas de lesão leve, as alterações morfológicas e funcionais são reversíveis se o estímulo nocivo for removido; Nesse estágio, embora já existam anomalias estruturais e funcionais significativas, a lesão ainda não avançou para um dano severo à membrana e dissolução nuclear. LESÃO IRREVERSÍVEL Com a persistência do estímulo lesivo, a lesão reversível progride e se torna irreversível e, com o tempo, a célula não pode mais se recuperar e morre; Existem 2 tipos de morte celular: a necrose e apoptose, que diferem uma da outra em suas morfologias, mecanismos e papéis na fisiologia e na doença; A) Necrose: quando o dano às membranas é acentuado, as enzimas dos lisossomos extravasam, entram no citoplasma e digerem a célula, resultando na necrose; Os conteúdos celulares também extravasam através da membrana plasmática lesada, iniciando uma reação inflamatória no hospedeiro. B) Apoptose: quando a célula é privada de fatores de crescimento ou quando o DNA celular ou proteínas são danificadas sem reparo, a célula se suicida por apoptose; A apoptose é caracterizada pela dissolução nuclear sem a perda da integridade da membrana. Além disso, a apoptose, em certos papéis fisiológicos, não desencadeia uma resposta inflamatória. Enquanto que a necrose representa sempre um processo patológico, a apoptose auxilia muitas funções normais e não está necessariamente associada à lesão celular patológica. OBS: A necrose é a principal via de morte celular em muitas lesões, como as que resultam de isquemia, exposição a toxinas, infecções e trauma. Lesões Celulares Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 CAUSAS DA LESÃO CELULAR As causas da lesão celular podem variar desde um trauma físico grosseiro, como em um acidente de automóvel, até um defeito de um único gene; A maioria dos estímulos nocivos pode ser agrupada nas seguintes categorias: PRIVAÇÃO DE OXIGÊNIO A hipóxia (deficiência de oxigênio) interfere na respiração oxidativa aeróbica e constitui uma causa comum e importante de lesão e morte celular; Hipóxia ≠ Isquemia (perda do suprimento sanguíneo devido ao impedimento do fluxo arterial ou à redução da drenagem venosa); OBS: A isquemia é a causa mais comum de hipóxia. AGENTES QUÍMICOS Existe uma gama de substâncias químicas que podem lesar as células, como: a) Venenos; b) Álcool; c) Inseticidas; d) Intoxicação por CO. Mesmo substâncias inócuas, como glicose, o sal e até mesmo a água, se absorvidas ou administradas em excesso, podem perturbar o ambiente osmótico, resultando em lesão e morte da célula. AGENTES INFECCIOSOS Vários agentes infecciosos podem causar lesões celulares, dentre eles temos: vírus, bactérias, protozoários, fungos e outros. REAÇÕES IMUNOLÓGICAS As reações imunes, além de proteger nosso organismo, também pode causar lesão à célula ou ao tecido (reações autoimunes e reações alérgicas). FATORES GENÉTICOS Os defeitos genéticos causam lesão celular por causa da deficiência de proteínas funcionais, que acabam disparando a morte celular quando são irreparáveis; Os polimorfismos (variações genéticas) podem influenciar na susceptibilidade das células a lesão por substâncias químicas e outras lesões ambientais. DESEQUILÍBRIOS NUTRICIONAIS É a principal causa de lesão celular; Deficiências nutricionais, por exemplo, proteico-calóricas e de vitaminas, assim como, o excesso nutricional, como a obesidade (que aumenta o risco da diabetes melito tipo 2), são causas importantes de morbidade e mortalidade. AGENTES FÍSICOS Traumas, temperaturas elevadas, radiação, choque elétrico e outros podem causar efeitos profundos nas células. ENVELHECIMENTO A senescência celular causa alterações nas habilidades replicativas e de reparo das células, o que leva à diminuição da capacidade de responder ao dano e, consequentemente, a morte das células. Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 MECANISMOS DA LESÃO CELULAR Alguns princípios gerais são importantes para a maioria das formas de lesão celular: 1) A resposta celular ao estímulo nocivo depende do tipo, da duração e da gravidade do estímulo; 2) As consequências de um estímulo nocivo dependem do tipo, estado, adaptabilidade e fenótipo genético da célula lesada; 3) A lesão celular resulta de alterações bioquímicas e funcionais em um ou mais dos vários componentes celulares essenciais. Sendo os alvos mais importantes dos estímulos nocivos: As mitocôndrias e sua habilidade em gerar ATP e ERO; Desequilíbrio na homeostasia do ca2+; Danos às membranas celulares (plasmática e lisossômica); Danos ao DNA e ao dobramento das proteínas. 4) As várias alterações bioquímicas podem ser disparadas por qualquer lesão nociva. A lesão celular ocorre por mecanismos distintos que envolvem: a) Redução da disponibilidade de oxigênio às células (Hipóxia e Anóxia); b) Radicais livres; c) Anormalidades em ácidos nucléicos (DNA e RNA) e proteínas; d) Resposta imunitária; e) Distúrbios metabólicos. HIPÓXIA E ANÓXIA - Hipóxia: Redução no fornecimento de O2; - Anóxia: Interrupção no fornecimento de O2; Diversas lesões produzem obstrução vascular que acaba reduzindo o fluxo sanguíneo (isquemia parcial, com hipóxia) ou causa sua interrupção (isquemia total, com anóxia) dependendo da intensidade e da duração do fenômeno e da suscetibilidade à privação de O2 e nutrientes, as células degeneram ou morrem; OBS: Agentes agressores que impedem a utilização de O2 na respiração celular provocam lesões semelhantes àquelas decorrentes da cessação de seu fornecimento por obstrução vascular. Quando surge a hipóxia, as células modificam seu metabolismo no sentido de se adaptar a essa condição se a capacidade adaptativa é ultrapassada, surgem lesões reversíveis ou irreversíveis; Frente a hipóxia, as células procuram se adaptar mediante a mudança na maneira de utilizar energia. Essa adaptação promove: A) Aceleração do processo da glicólise; B) Aumento da captação da glicose; C) Inibição da gliconeogênese e da síntese de ácidos graxos, de triglicerídeos e de esteroides. Lesões Reversíveis por Hipóxia: A redução na síntese de ATP, não compensada por produção de energia via glicólise no citosol, leva ao surgimento de várias alterações (degenerações), como: A) Redução de bombas eletrolíticas dependentes de ATP, o que leva à retenção de Na+ no citosol, aumento da osmolaridade e expansão isosmótica do citoplasma (início da lesão chamada degeneração hidrópica); Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 B) Alteração da permeabilidade a outros íons, especialmente ao Ca2+, que saem dos depósitos (R.E.L e mitocôndrias) e alcançam o citosol, ativando proteínas cinases Ca2+ calmodulina-dependentes, as quais promovem a desestruturação do citoesqueleto; C) A oferta excessiva de acetil-CoA às mitocôndrias com cadeia respiratória parcialmente inativada, provoca acúmulo dessa molécula, o que favorece a síntese de ácidos graxos, podendo levar ao acúmulo de triglicerídeos sob a forma de pequenas gotas no citosol (Esteatose) – o acúmulo de triglicerídeos só não é mais intenso na hipóxia,porque uma resposta adaptativa precoce a hipóxia é a redução de genes para a síntese de ácidos graxos. OBS: As alterações moleculares descritas até aqui são reversíveis e chamadas de degenerações quando a hipóxia é cessada, a célula recompõe a atividade metabólica, reajusta o equilíbrio hidroelétrico e volta ao aspecto normal. Lesões Irreversíveis por Hipóxia: Se a hipóxia persiste, as alterações que ela gera (perturbações eletrolíticas e na síntese de lipídios e proteínas) passam a agredir as membranas citoplasmáticas e de organelas, agravando progressivamente as condições da célula, fazendo com que a lesão torne-se irreversível e a célula morra; Até o aparecimento de lesões irreversíveis é possível observar algumas modificações: A) As membranas celulares se alteram devido à perda de moléculas estruturais e pela incapacidade de repor os componentes perdidos (perda da capacidade de reacilação de fosfolipídeos) o nível elevado de Ca 2+ no citosol ativa fosfolipases e aumenta a demolição dos lipídeos da membrana citoplasmática, que se torna mais fraca e passa a apresentar bolhas na superfície. OBS: Além da ativação das fosfolipases, o aumento de Ca2+ citosólico ativa: proteases (que clivam proteínas da membrana e do citoesqueleto), endonucleases (que fragmentam cromatina e DNA) e as trifosfatases de adenosina (ATPases). B) As membranas formam figuras em bainha de mielina, por demolição de partes das membranas do retículo endoplasmático; C) As modificações na membrana das mitocôndrias leva a expansão da matriz interna e o desaparecimento de cristas floculares, a lesão mitocondrial leva à abertura de poros permitindo a saída de íons, resultando em redução do potencial de membrana e consequente da fosforilação oxidativa; OBS: Se a alteração na permeabilidade mitocondrial se torna irreversível, cessam a atividade de ATPase e a síntese de ATP (essa alteração representa o ponto de não retorno). Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 D) Os lisossomos se tornam tumefeitos e perdem a capacidade de conter suas hidrolases, que são liberadas no citoplasma e iniciam a autólise (digestão dos componentes celulares que permite evidenciar que a célula morreu). A lesão irreversível causada por hipóxia/anóxia mais grave é a necrose. A hipóxia moderada pode levar a apoptose em vez de induzir degeneração e/ou necrose, por causa do citocromo C e de outras proteínas mitocondriais ativadoras de caspases pelo aumento da permeabilidade mitocondrial. RADICAIS LIVRES Os radicais livres são moléculas que apresentam um elétron não emparelhado no orbital externo, o que as torna, geralmente, muito reativas com outras moléculas (como lipídios, proteínas e ácidos nucleicos); Os radicais livres surgem quando os elétrons do último orbital de um átomo ficam desemparelhados por ganho ou perda de um deles (reações de oxidorredução); O oxigênio molecular (O2) é a principal fonte de radicais livres nas células (ERO); Diversas agressões produzem lesões por liberar radicais livres: A) Substâncias químicas produzem radicais livres quando são metabolizadas nas células; B) Radiações ionizantes geram radicais livres ionizando a água; C) A fumaça do cigarro e alguns elementos oxidativos também contém radicais reativos. Nas células, a principal fonte de radicais livres é a mitocôndria, oriundos dos processos oxidativos da respiração; OBS: Além da mitocôndria, também são formados no citosol, lisossomos, RE e membranas, pela ação de enzimas como o citocromo P-450 e xantina oxidade. Os principais radicais livres são derivados do oxigênio (ERO): Ânion Superóxido (O2°) e Íon Hidroxila (OH°). O Óxido Nítrico (NO) também pode agir como radical livre (que pode reagir com o O2° para formar o Peroxinitrito, que também participa da lesão celular). Além do oxigênio, o Peróxido de Hidrogênio (H2O2) é oxidante e fonte importante de radicais livres. Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 Os radicais livres produzem lesões celulares porque reagem com as proteínas, lipídios e ácidos nucleicos. Então, as espécies reativas do oxigênio causam lesão celular através de três principais reações: A) Peroxidação Lipídica das Membranas: a peroxidação em cadeia que ocorre quando um radical livre reage com lipídeos de membrana provoca uma lesão celular pela modificação estrutural das membranas celulares (a reação é autocatalítica, a molécula atacada torna-se ativa e forma uma cadeia de reações); B) Ligação Cruzada e Outras Alterações das Proteínas: a lesão celular pode surgir também pela modificação da conformação de proteínas inativando-a ou induzindo a sua degradação em proteossomos; C) Lesões do DNA: quando interage com o DNA podem formar adutos e causar quebras na molécula, favorecendo mutações. As células também desenvolveram vários mecanismos para a remoção de radicais livres (mecanismos antioxidantes) e, desse modo, minimizar a lesão. São alguns deles: a) Superóxido Dismutases (SODs) degrada O2 °; b) Glutationa Peroxidases (GSH) degrada H2O2; c) Catalase degrada H2O2; d) Antioxidantes Endógenos ou Exógenos (ex: vitaminas E, A, C e o β-caroteno) podem bloquear a formação de radicais livres ou removê-los (uma vez já formados). Até o momento, não há evidências que doses maciças de antioxidantes na dieta possam prevenir lesões por radicais livres. Tudo indica, no entanto, que a ingestão regular de antioxidantes naturais é benéfica e está associada a menor risco de doenças degenerativas, como aterosclerose. ALTERAÇÕES NO DNA E PROTEÍNAS Por cumprirem funções tão essenciais às células, defeitos na quantidade e/ou na função de proteínas resultam em agressões variadas, como estresse oxidativo e por modificações na expressão gênica; Dessa forma, alterações na quantidade ou na qualidade de proteínas são causas frequentes e importantes de lesões e doenças, como: a) Deficiências de uma enzima leva ao acúmulo do seu substrato, o que resulta em doenças de depósitos (ex. glicogenoses); b) Anormalidades em proteínas contráteis provocam doenças musculares; c) Defeitos em proteínas estruturais causam vários efeitos, inclusive morte do indivíduo; d) Alterações na expressão de proteínas do ciclo celular podem resultar em neoplasias. RESPOSTA IMUNITÁRIA A resposta imunológica é o mecanismo de defesa mais importante que o organismo tem contra agentes infecciosos, além disso, ela Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 também faz parte do processo de reparo de lesões causadas pelos mais diferentes agentes agressores; Como a resposta imunológica é capaz de destruir ou eliminar agentes vivos, ela é também causa muito comum de lesões e doenças, pois pode agredir células e tecidos normais; Nas inflamações crônicas, como observado na tuberculose, a resposta imunológica contribui para a destruição tecidual e progressão da doença; Uma ou outra forma de agressão pode ocorrer quando existe falhas nos mecanismos de tolerância imunológica e as células do sistema imune reconhecem antígenos próprios como estranhos, desencadeando uma resposta lesiva contra essas células. MORFOLOGIA DA LESÃO CELULAR Todos os estresses e influências nocivas exercem seus efeitos, primeiro, em nível molecular ou bioquímico; A função celular pode ser perdida antes que ocorra a morte celular, e as alterações morfológicas na lesão (ou morte) celular surgem posteriormente; Os desarranjos celulares da lesão reversível podem ser reparados e, se o estímulo cessa, a célula retorna à sua normalidade. Entretanto, a lesão persistente ou excessiva faz com que as células passem do “ponto de não retorno” e progridam para uma lesão irreversível e mortecelular; Embora não existam correlações morfológicas ou bioquímicas definitivas dessa irreversibilidade, dois fenômenos caracterizam essa irreversibilidade: a) A incapacidade de reverter a disfunção mitocondrial; b) Profundos distúrbios na função da membrana (plasmática e lisossômica). Os diferentes estímulos nocivos induzem a morte por necrose ou por apoptose. LESÃO REVERSÍVEL As duas principais características morfológicas da lesão celular reversível são: a) Tumefação Celular; b) Degeneração Gordurosa. A tumefação celular é resultado da falência das bombas de íons dependentes de ATP na membrana plasmática, levando a uma incapacidade de manter a homeostasia iônica e líquida; A degeneração gordurosa se manifesta pelo surgimento de vacúolos lipídicos, grandes ou pequenos, no citoplasma. OBS: Em algumas situações, lesões potencialmente nocivas induzem alterações específicas nas organelas celulares, como na hipertrofia do retículo endoplasmático liso em resposta a agente químicos. MORFOLOGIA DA NECROSE A necrose é o tipo de morte celular que está associado à: a) Perda da integridade da membrana; b) Extravasamento do conteúdo celular. Os conteúdos celulares que escapam sempre iniciam uma reação local no indivíduo, conhecida como inflamação Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 (eliminar as células mortas e iniciar o processo de reparo subsequente); As enzimas responsáveis pela digestão da célula são derivadas dos lisossomos da própria célula que está morrendo ou dos lisossomos dos leucócitos que são recrutados como parte da reação inflamatória às células mortas. Necrose significa morte celular ocorrida em organismo vivo e seguida de autólise. Quando a agressão é suficiente para interromper as funções vitais, os lisossomos perdem a capacidade de conter as hidrolases no seu interior e estas saem para o citoplasma, são ativadas pela alta concentração de Ca2+ no citoplasma e iniciam a autólise. É a partir da ação dessas enzimas que dependem as alterações morfológicas observadas após a morte celular. Após a necrose são liberadas alarminas que são reconhecidas em receptores celulares e desencadeiam a reação inflamatória; - A necrose é caracterizada por alterações no citoplasma e no núcleo das células lesadas: ALTERAÇÕES MICROSCÓPICAS Muitos agentes lesivos podem produzir necrose. O aspecto macroscópico da morte celular varia de acordo com a causa que a provocou. Ao microscópio, as alterações morfológicas só podem ser observadas depois de algum tempo decorrido da morte, pois eles são resultado da autólise. O tempo decorrido para que estas alterações sejam visíveis dependerá do tipo de lesão; Os principais achados microscópicos são: Alterações Citoplasmáticas: Aumento da eosinofilia (células com citoplasma rosa, corante eosina), devido a desnaturação das proteínas citoplasmáticas que se ligam a eosina, à perda do RNA citopasmático (gera perda de basofilia, coloração azul do corante hematoxilina). Alterações Nucleares: As alterações nucleares são todas causadas pela degradação da cromatina e DNA; A) Picnose: retração e adensamento do núcleo, com perda da individualidade dos grânulos de cromatina. Aumento da basofilia; B) Cariorrexe: fragmentação e dispersão do núcleo no citoplasma; C) Cariólise: coloração nuclear pálida e fraca, provavelmente devido à atividade da desoxirribonucleases (DNase), que promove a digestão da cromatina. PADRÕES DE NECROSE NECROSE POR COAGULAÇÃO: Esse tipo de necrose é visto quando há uma isquemia ou hipóxia em qualquer tecido (exceto o tecido cerebral, que desenvolverá uma necrose por liquefação – por ser rico em lipídios, que não sofrem coagulação); A necrose de coagulação é determinada pela desnaturação da maioria das proteínas celulares (inclusive autolíticas) devido à queda acentuada do pH celular durante o processo de lesão por hipóxia ou isquemia; Com isso, o citoplasma celular se torna bastante eosinofílico e como a maioria das enzimas autolíticas foram desnaturadas, a célula não é destruída e a morfologia do tecido é mantida por alguns dias até a digestão e remoção necrótico por leucócitos. Outra característica importante da necrose de coagulação é a perda do contorno celular das células (Cariólise, ou perda de basofilia nuclear) devido à quebra inespecífica do Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 DNA (provavelmente pela ação de uma DNase lisossômica) Pode haver também, no mesmo tecido necrótico, células com núcleo muito condensado e basofílico (núcleo picnótico) ou células com núcleo picnótico e fragmentado (cariorréxis); Resumindo, neste tipo de necrose temos: a) Manutenção da morfologia geral do tecido; b) Perda da nitidez dos elementos nucleares das células; c) Algumas células apresentando núcleo picnótico, ou seja, núcleos extremamente condensados e fortemente corados por hematoxilina (fortemente basófilos); d) Alguns núcleos picnótico fragmentados, tomando um aspecto granular. NECROSE GOMOSA Trata-se de uma variedade de necrose por coagulação na qual o tecido necrosado assume aspecto compacto e elástico como borracha (Goma), ou fluido e viscoso como a goma-arábica; é encontrada na sífilis tardia. NECROSE DE LIQUEFAÇÃO Essa necrose está associada à infecção por agentes biológicos (principalmente bactérias) a um tecido, ou no caso específico da lesão por isquemia ou hipóxia no tecido cerebral (fenômeno ainda não muito bem compreendido); Em tecidos infectados, forma-se um processo inflamatório devido ao recrutamento de leucócitos para neutralizar os micro- organismos. Neste caso pode haver lesão e morte celular mediada por toxinas bacterianas ou fúngicas ou então devido ao processo inflamatório, e como o tecido inflamado é rico em leucócitos as células mortas são rapidamente fagocitadas e digeridas. Em todo caso a digestão do tecido necrótico resultará na formação de uma massa residual amorfa, composta por pus limitado a uma região geralmente cavitária (abscesso); Resumindo, neste tipo de necrose temos: a) Completa destruição da morfologia do tecido; b) Transformação do tecido em uma massa amorfa (por isso liquefação). NECROSE CASEOSA O tecido necrótico adquire um aspecto morfológico macroscópico semelhante ao queijo, como indica a própria etimologia da palavra; As áreas de caseificação se apresentam: a) Macroscopicamente: Como massas circunscritas, amarelas, secas e friáveis; b) Microscopicamente: A principal característica é a transformação das células necróticas em uma massa homogênea, acidófila, contendo núcleos picnóticos e, principalmente na periferia, núcleos fragmentados (Cariorrexe) as células perdem totalmente os seus contornos e os detalhes estruturais. Esse tipo de necrose é comum na tuberculose, mas pode ocorrer em outras Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 doenças, como a paracoccidiodomicose e em algumas infecções fúngicas. NECROSE FIBRINÓIDE Refere-se a uma alteração dos vasos sanguíneos lesados, nos quais o exsudato e o acúmulo de proteínas plasmáticas fazem com que a parede se core intensamente com eosina Neste tipo, o tecido adquire um aspecto hialino, acidófilo, semelhante a fibrina. ESTEATONECROSE OU NECROSE GORDUROSA Também denominada necrose enzimática do tecido adiposo, é uma forma de necrose que compromete adipócitos; Trata-se da necrose encontrada tipicamente na pancreatite aguda necro- hemorrágica, que resulta do extravasamento de enzimas ácinos pancreáticos destruídos; Por ação de lipases sobre os triglicerídeos, os ácidos graxos liberados sofrem processo de saponificação pois reagem com sais alcalinos (Ca2+), originandodepósitos esbranquiçados ou machas com aspecto mascroscópico de pingo de vela. OBS: Os próprios ácidos graxos e as enzimas pancreáticas são lesivos às células vizinhas intactas, favorecendo a disseminação da necrose. APOPTOSE A apoptose é a via de morte celular programada e controlada intracelularmente, através da ativação de enzimas que degradam o DNA nuclear e as proteínas citoplasmáticas; A membrana celular permanece intacta (o que difere bastante das situações de necrose), com alteração estrutural para que a célula seja reconhecida como um alvo fagocitário; OBS: A célula é eliminada rapidamente, de maneira que não dá tempo de o seu conteúdo extravasar, evitando processos inflamatórios, como na necrose. A apoptose acontece tanto em eventos patológicos como em eventos fisiológicos; São exemplos de apoptose fisiológica: a) Morte de células nos processos embrionários; b) Involução dependente de hormônios (adultos); c) Eliminação de linfócitos auto-reativos danosos; Gleyson de Souza Lima Odontologia – 2019.2 d) Eliminação celular em populações celulares em proliferação. A apoptose patológica ocorre principalmente: a) Na presença de vírus; b) Estímulos nocivos (radiação e drogas citotóxicas anticancerosas); c) Atrofia patológica dos órgãos e tumores. A degradação intracelular de proteínas ocorre por meio de enzimas denominadas caspases, outrora inativas essas enzimas clivam muitas proteínas nucleares vitais e do citoesqueleto, além de ativarem DNases; A apoptose pode acontecer: (1) Após a privação de fatores de crescimento; (2) Mediada por danos ao DNA; (3) Induzida pela família de receptores do Fator de Necrose Tumoral (TNF) ou mediada pelo linfócito T citotóxico. MORFOLOGIA DA APOPTOSE Morfologicamente, as células apoptóticas apresentam: A) Encolhimento celular (citoplasma denso e organelas mais agrupadas); B) Condensação da cromatina (a cromatina se agrega na periferia do núcleo, em massas densas de várias formas e tamanhos o próprio núcleo pode se romper em dois ou mais fragmentos); C) Formação de bolhas citoplasmáticas; D) Formação de corpos apoptóticos. Posteriormente, ocorre a fagocitose das células ou corpos apoptóticos por macrófagos, principalmente Com isso, as células saudáveis migram e proliferam. VIAS APOPTÓTICAS A apoptose pode ocorrer por duas vias, uma Intrínseca e outra Extrínseca; VIA INTRÍNSECA OU MITOCONDRIAL A via intrínseca ou mitocondrial ocorre quando há retirada de fatores de crescimento ou de hormônios, ou quando acontece lesão ao DNA (por radiação, toxinas ou radicais livres); Essa via é regulada por membros da família Bcl-2, ativando moléculas pró- apoptóticas, como o citocromo C. Além disso, há a participação do gene supressor p53; Tudo isso culmina na ativação das caspases iniciadoras e efetoras, levando às alterações celulares e à morte. VIA EXTRÍNSECA A via extrínseca acontece por meio da interação receptor-ligante, como, por exemplo, o Faz e o receptor de TNF; Isso ativa uma cascata de proteínas adaptadoras, que também culminará na ativação das caspases. OBS: A apoptose e necrose podem ocorrer simultaneamente e compartilhar mecanismos e características. REFERÊNCIAS FILHO, G. S. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. KUMAR, V. et. al. Robbins patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
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